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Onde Mora O Coração?

Prólogo

" Minha vida é como um livro, cada dia é uma página, a cada hora um novo texto , a cada minuto uma palavra, e neste segundo um sim ou não pode mudar minha história " - Elan Klever

...Conrado de Alcântara Passos- 47...

...Elisa de Alcântara Passos- 45 anos....

- NÃO! - acordo desesperada de um pesadelo terrível, um sonho tão horrível que abalou todas as minhas estruturas, uma angústia me domina, como se algo fosse escapar das minhas mãos.

Olho pela janela do meu quarto, enquanto enxugo o suor que foi responsável pelo estrago dos meus lençóis . Quem poderia imaginar que uma tarde de sono seria tão aterrorizante? De muito deixar terrível o sono , só sei que foi ruim, muito ruim .

Verifico o relógio em cima da minha mesa de cabeceira rosa, da minha cama de casal e constato quanto dormir, eram pra ser apenas alguns minutos de descanso. O relógio marca 16:15 e então resolvo levantar, tomo um belo banho pra livrar-me do suor, sinto a água fria bater em meu rosto e lembranças do meu sonho vêem a tona, como curtos flashbacks.

- Esqueça isso Julia. - ordeno a mim mesma.

Saio do banho e separo uma calça moletom, estampa militar e uma blusa preta, o tempo está frio e o céu se arma pra uma rigorosa chuva, ouso dizer que o clima não está nada agradável, uma áurea bem mórbida. Um arrepio percorre meu corpo, mas ignoro, só pode ser o frio.

Termino de vestir a roupa quando escuto leves batidas na porta e logo minha mãe entra com seu sorriso costumeiro.

- Posso entrar?

- Uai, cê já entrou. - rimos da maneira que falo e ela se aproxima.

- Meu amor, eu e seu pai vamos jantar fora hoje, vamos com a gente. - ela pede.

- Não mãe, não tô muito afim, fora que já falei pra falei pra dona Gleice que ia na casa dela hoje, ela fez bolinho de queijo. - digo animada.

Dona Gleice e nossa vizinha viúva, não teve filho e por esse motivo é bastante sozinha, não tem muitas amizades além de mim, por isso costumo ir na casa dela todo final de tarde para conversarmos sobre o capítulo anterior de cada novela, a considero uma vó pra mim.

- Então tá, eu vou me arrumar agora, porque se não você já sabe, seu pai começa a reclamar e desisti de ir. - ela fala radiante, eu tenho que dizer, nunca vi minha mãe tão iluminada.

- Eu também já vou, só tenho que achar meu celular.

- Já estou indo, tchau minha pérola. - ela me dá um beijo na testa e sai.

-MÃE! - grito quase que involuntariamente, não sei o que houve, só preciso disso.

- Te amo mamãe. - lhe abraço forte e ela me olha com ternura me dando outro beijo na testa.

- Eu também filha, te amo muito, mais que a mim mesma, quero que seja feliz, muito feliz. - ela sai e eu procuro o meu celular pra sair também.

- Por que cê se esconde tanto? - resmungo enquanto procuro entre o emaranhado de roupas espalhadas pelo quarto, assim que o encontro eu saio do quarto e avisto meu pai sentado no sofá, impaciente, olhando o relógio.

- Elisa, o restaurante é longe, daqui a pouco escurece, tem como adiantar? - fala impaciente.

- Ai homi, deixa de me atazanar, vou demorar só mais um pouco. - ela responde estressada.

Dou risada com a cena e após admirar mais um pouco da situação eu vou até meu pai e lhe dou um abraço. Sempre os admirei ,meu pai é meu herói, minha mãe sempre vai ser para mim um modelo a ser seguido, quando eu tiver meus filhos, ela vai ser a pessoa que vai me ajudar a criá-los e a orientá-los , sempre estará aqui pra mim assim como estarei pra ela. Tá! Eu sei que só tenho 16 anos e tá muito cedo para pensar nisso, mas não custa sonhar.

Esse é o meu último ano na escola, sou bastante adiantada e por ter terminado a escola cedo, meus pais decidiram pagar uma faculdade para mim, pretendo fazer administração, começar a trabalhar logo, depois quero me mudar, seguir a minha própria vida, ter a minha Independência. Meus pais me disseram que iam me dar um carro no meu aniversário de 18, daqui a um ano e quatro meses, eles disseram também, que esse ano no meu aniversário iremos viajar e eu mal posso esperar por isso.

- O que foi princesa? - meu pai pergunta e logo volto à realidade.

- Nada papai, só acho melhor o senhor não reclamar tanto, conhece a mamãe.

- Você está coberta de razão. - belisca minha bochecha. - Vai aonde?

- Na vizinha, dona Gleice fez bolinho de queijo.

- Hum, que delícia, então vá lá, não podemos deixar dona Gleice esperando.

- Tchau papai. - lhe dou um beijo.

- Tchau filha, vá com Deus.

Estou prestes a sair, quando sinto uma rajada de vento e um arrepio estranho percorre toda minha espinha sinto uma extrema necessidade de dar mais um abraço em meu pai, volto na mesma hora e assim faço, o aperto mais forte que consigo e ao finalizar esse abraço uma vontade de nunca sair dele me domina.

- Te amo pai.

- Também te amo minha princesinha. - me levanto pra sair quando meu pai me chama, ele está estranho, talvez tenha sentido o mesmo que eu, seu olha está choroso. - Quero que me prometa, quero que você seja feliz, não se culpe jamais pelos erros dos outros, você é uma princesa, te criei pra se rainha, não aceite menos que isso, papai nunca vai te abandonar. - me manda um um beijo e então eu finalmente saio de casa, atravesso a rua e sinto que naquele momento eu não sou mais a mesma, algo se quebrou e eu nem mesmo sei o que.

Capítulo 1

Julia 🏡

- Então filha, está gostoso? - Dona Gleice fala apreensiva enquanto provo os bolinhos.

- A senhora não tem ideia, gostoso é pouco , tá divino. - ela solta um suspiro aliviado e se encosta na cadeira..

Dona Gleice leva a jarra de suco pra guardar na geladeira enquanto eu como despreocupada, o tempo está cada vez mais hostil, a qualquer momento cairá uma verdadeira tempestade, o que me preocupa bastante.

- Sentiu isso? - ela me olha confusa e eu levanto após um arrepio percorrer todo meu corpo, de uma estremidade a outra.

- O que filha? Não senti nada demais. - ela volta a tricotar e eu me aproximo da janela e olho minha casa, meus pais já devem ter saído.

- Nada não, deixa pra lá, foi só um vento frio. - assim que termino de falar, a forte chuva que a tempo ameaçava cair se inicia, pancadas de trovões são audíveis e eu me assusto a cada uma delas.

- Melhor fechar a janela, já está tarde e vai molhar tudo aqui dentro, a chuva só piora. - ela fala.

Faço o que me pede, afinal de contas já são quase 18:00. Fico um pouco nervosa com esses arrepios que me perseguem durante toda a tarde e os sinto intensificar a medida que a chuva chega em seu ápice.

- Já fechei a janela, vou lá dentro pegar um pouco de água. A senhora quer?

- Não filha, pode ir beber sua água.

Sigo até a cozinha e pego uma garrafa na geladeira, encho um copo com a mesma e levo-o até a boca, quando sinto uma forte pontada no peito, derrubo o recipiente de vidro no chão, um nó se forma na minha garganta, uma repentina vontade de chorar, engulo seco e noto uma lágrima quente descer pelo meu olho esquerdo.

- Tudo bem aí, Julia? - pergunta preocupada no momento em que enxugo o molhado em minha bochecha.

- Tudo, só quebrei um copo, pode deixar que eu limpo.

- Se preocupe não, querida. - pego a vassoura pra limpar toda a bagunça, após juntar os cacos, pego a pá e os jogo no lixeiro, guardo tudo em seus devidos lugares e me sento em uma cadeira próxima a janela, estou inquieta e pra me acalmar eu resolvo ler um pouco de um livro no celular.

Alguns minutos depois, já distraída, sou trazida à realidade pelo barulho do telefone tocando, meu celular, meu pai está ligando, atendo sem pensar duas vezes.

Chamada On.

- Alô, oi papai. - um silêncio se estabelece do outro lado da linha.

- Julia de Alcântara? - uma voz desconhecida ecoa em meus ouvidos.

- Quem é você? Cadê meu pai? - pergunto em pânico e ele respira fundo.

- Julia, sou sargento Roberto, da 15° corporação de Minas Gerais, seus pais Conrado Alcântara e Elisa Alcântara se envolveram em um grave acidente na rodovia, o carro capotou devido a um poste que caiu com a ventania. - meu coração dispara, o bolo que senti mais cedo na minha garganta volta, meus olhos marejam, me sinto trêmula.

- Como eles estão? Eu quero vê-los, foram levados pra qual hospital? - pergunto ansiosa, meu coração está inquieto, talvez eu já soubesse o que estaria por vir, só não queria acreditar.

- Sinto informar, infelizmente... - ele faz uma pausa e alí eu pude entender, meu mundo desabou naquele instante, eu já não conseguia enxergar mais nada, as lágrimas tornaram minha visão embaçada. - Infelizmente eles não resistiram.

Caio com tudo no chão, Gleice vem até mim preocupada, perguntando o que aconteceu, mas eu não consigo falar, eu não quero falar, eu quero meus pais, eu quero eles aqui, eu perdi meu mundo, não sei o que fazer, estou perdida.

...

Henrique 🚔

Esse é basicamente meu primeiro dia como policial civil, depois de 6 anos fazendo faculdade de direito, estudando para concursos eu finalmente consegui passar, me tranferir pra o Rio de Janeiro, quero ficar bem distante da minha família, não tenho uma boa relação com grande parte deles, especialmente com meus pais.

- Henrique, seja bem vindo, essa será sua corporação, espero que se enturme e consiga progredir aqui. - Delegado Souza diz assim que termina de me apresentar pra equipe.

Ele se retira logo após me mostrar minha mesa e eu estou alí, ansioso pra meu primeiro trabalho.

- Ansioso? - uma mulher de cabelos ruivos, aparentemente 30 anos, fala comigo. - Prazer, Rubi. - ela estende a mão e eu a cumprimento.

- Um pouco. - digo respondendo sua pergunta. - E prazer. - ela sorri e olha pra trás averiguando se alguém escuta.

- Olha, cuidado, nem todos aqui são receptivos, eu mesma tenho um seleto grupo de colegas de trabalho, nos quais confio. - olho pra ela que sorri despretensiosamente.

- E por que está me dizendo isso? - pergunto.

- Fui com sua cara. - ela sorri. - Alí temos a Jéssica, 24 anos, tá aqui na corporação a 1 ano, Luan, 25 um bocó legal, tem 2 anos aqui e por fim o último integrante do meu seleto grupo, Anthony, 32 anos, o mais antigo aqui, tem mais tempo que eu, mas é o mais gente fina. - ela faz todas as apresentações.

-Legal. - digo meio sem saber o que falar.

- Na hora do almoço eles vêm falar com você, aviso logo, é de bom tom pagar almoço pra os veteranos. - ela bate em minhas costas logo se retira, eu em, doida.

Sigo a manhã bem calma, analisando alguns arquivos pra um caso pequeno, assim que o relógio batem 12 h, a doida de mais cedo e sua trupe muito louca param em frente a minha mesa, todos me olham esperando um pronunciamento meu, resolvo ver no que vai dar né, não vai matar passar uns minutinhos com eles.

- Bora almoçar? - levanto e todos se animam, me seguem até um restaurante próximo do prédio em que trabalhamos.

Após um tempo de almoço eu percebo que os julguei mal, eles realmente são legais e divertidos, voltamos pra o trabalho e assim que o expediente termina eu me despeço deles e sigo no meu carro até meu apartamento, moro em uma condomínio fechado, os requisitos pra entrar lá são altos, já que ele se destaca na incrível segurança, pensei nele justamente por causa do meu trabalho.i

Ligo a tv após pedir uma pizza e me atualizo sobre as notícias, meu telefone toca e vejo ser minha mãe, mas sinceramente, eu não tenho nenhuma vontade de atender, não quero brigar, meu pai com certeza vai estar lá, do lado dela, pra me recriminar.

" Ventos fortes e chuva intensa deixam 10 mortos em Minas Gerais."

Desligo a tv e vou tentar dormir, o dia foi cansativo, mas muito gratificante, afinal de contas estou realizando um sonho.

Julia 🏡

A noite passada não foi nada fácil, chorei, me desesperei, agora só me restou a apatia, dona Gleice me ajudou, amparou e consolou enquanto eu me remoia em dor e sofrimento. O velório foi organizado pela funerária, no dia seguinte lá estava eu, em meio a dois caixões, nunca imaginei sentir tamanha dor, uma ferida que vai demorar muito pra cicatrizar.

Depois das orações que o padre proferiu, ele asperge água benta nos caixões, eu me despeço uma última vez, as lágrimas não caem mais, pois nem pra chorar tenho mais força, estou cansada, esgotada e abalada.

- Eu amo vocês, pra sempre. - o caixão é fechado e então todos seguimos até o cemitério, eles pouco demoram pra enterrar, após alguns minutos todos estão voltando pra suas casas, eu e dona Gleice andamos abraçadas, ela me apoia e logo seguimos até sua casa.

Tomo banho, visto uma roupa leve e me deito no sofá, não sinto fome, meu corpo todo está dormente, escuto uma batida na porta, que logo é aberta por minha avó postiça.

- Boa tarde, estou à procura de Julia de Alcântara, sou Lavínia Bastos, assistente social. - pareço não escutar, mas é que eu realmente não ligo.

- Ela não está muito bem senhora, não pode deixar pra outro dia? - pergunta dona Gleice, mas a mulher nega.

- Infelizmente não, a gente tem que agilizar o processo. - fico curiosa sobre o que se trata e me levanto.

- O que aconteceu? - pergunto indiferente.

- Você não tem avós vivos aqui, também não tem nenhum parente, caso não fosse encontrado você iria pra um abrigo temporário, a menos que alguém se responsabilizasse por você, porém foi encontrado um parente, seu primo, Gustavo Passos, ele mora no Rio de Janeiro e já tem idade suficiente pra sua tutela. - mas um baque me atinge.

- Não, não vou sair da minha cidade, não vou abandonar meus pais, muito menos a dona Gleice. - falo de maneira autoritária.

- Infelizmente, não posso fazer nada, você terá que ir, a justiça já determinou, já comunicamos a ele, o mesmo deu entrada na papelada. - meu peito aperta, não me sinto preparada pra isso.

- Quando terei que ir? - pergunto.

- O mais rápido possível, precisamos que ajeite tudo, seu primo já entrou com o processo de venda da casa, seus pais deixaram dinheiro pra você, essa dinheiro ficará na tutela dele até você completar 18 anos. - seguro o choro que quer se derramar, olho pra dona Gleice, que tenta me apoiar com o olhar.

A assistente social se retira, me deixando mergulhada em minha melancolia, a despedida será o mais difícil, minhas amigas, meus colegas de classe, todos me farão falta.

- Estarei sempre aqui por você, vai dar tudo certo, você pode falar comigo todos os dias, pode falar com a Priscila também, não pense que tudo acabou. - ela me abraça.

Naquela noite Priscila esteve lá na casa de Gleice, a mãe dela deixou ela dormir lá, contei da viagem, choramos e aproveitamos pra nos despedir, sentirei falta dessa doida, sempre esteve comigo em todos os momentos e se tornou minha melhor amiga, agora seremos obrigada a nos separar. Eu nunca imaginei que isso aconteceria comigo, mas minha vida virou de cabeça pra baixo e eu não sei se tenho estômago pra aguentar.

Capítulo 2

Julia 🏡

Os dias se passaram e aos poucos eu me sinto menos pior, pra melhorar vai precisar de mais tempo, pois como dizem, o tempo cura tudo, amanhã eu me despeço de tudo que tenho e que um dia já tive, viajo pra o Rio, vou morar com um estranho, um primo que nunca vi, não sabia nem que existia.

- Como está se sentindo com isso? - Pri pergunta enquanto me ajuda a empacotar meus pertences.

- Mais conformada, porém não estou contente. - ela me abraça.

- Promete pra mim que você vai mandar mensagem todo dia, que vamos passar horas conversando, falando dos gatinhos que vai conhecer por lá? - sorrio com seu comentário.

- Prometo.

Depois de tudo organizado, eu minha melhor amiga vamos até a sala e colocamos algo na tv, assistimos alguma série qualquer e ficamos conversando e aproveitando a última noite que iremos passar juntas, sentirei muita saudade.

...

No dia seguinte a assistente social vem me buscar na casa de Dona Gleice, me despeço dela, da Priscila, de alguns amigos que vieram me ver, coloco minhas coisas no porta malas e sigo rumo ao aeroporto. Assim que despachamos as malas eu embarco no avião, um assistente de lá do Rio de Janeiro me esperará pra levar até a casa do meu primo.

Me acomodo no banco, coloco o fone no ouvido e acabo pegando no sono, afinal de contas ontem eu não dormi quase nada. 1h e 45 min depois estamos aterrissando em solo carioca, saio do avião, pego minhas malas e vou até o portão de desembarque, assim que me aproximo avisto um homem segurando uma plaquinha com meu nome, me aproximo dele que me cumprimenta e me ajuda com as malas.

- Olá, sou Augusto, sou encarregado de te levar até a casa do seu primo. - seguimos até um táxi que nos espera do lado de fora e ele coloca as malas no porta malas e entra ao meu lado no carro.

O caminho todo é feito em silêncio, sinto um enorme incômodo em estar passando por tudo isso, eu só espero que tudo corra bem.

- Você já foi matriculada em uma escola. - diz quebrando o silêncio.

Permaneço sem responder e dentro de alguns minutos me vejo estacionando em frente a um enorme casarão bastante antigo, não imaginei que tinha um primo e que esse primo tinha uma propriedade tão enorme.

O assistente social sai do carro, retira minhas malas e me conduz até a porta, ele toca a campainha e alguns minutos depois um homem aparece, ele é forte e tem uma enorme cabelo preso em cocó em cima da cabeça.

...Gustavo Passos - 30 anos....

- Julia? - ele pergunta enquanto me encara, ignorando completamente a presença do cara ao meu lado. - Julinha. - ele me abraça com força, o que sinceramente eu não entendo, não temos esse tipo de laço afetivo.

- Oi. - se afasta de mim me olhando de cima abaixo.

- Você cresceu pirralha, tá quase uma mulher. Entrem. - ele diz pegando as malas da mão de Augusto e assim fazemos.

Todos sentamos em um sofá na sala, Augusto analisa todo o ambiente e me olha perguntando com o olhar o que achei, sinalizo que está tudo bem.

- Senhor Gustavo, sou Augusto, assistente social, estou responsável por averiguar as condições em que a menina viverá, virei semanalmente visitá-los, ela já foi matrículada na escola, precisa estudar. - Gustavo assente e garante que cuidará de mim da melhor maneira possível.

- Pode ficar tranquilo, a Julinha será bem tratada. - ele bagunça meu cabelo como se eu fosse uma pirralha.

- Então está tudo certo, sábado estarei por aqui, tome meu número Julia, qualquer coisa é só me ligar. - ele me entrega um cartão, se levanta e vai embora.

Assim que eu e Gustavo ficamos sozinhos, ele se levanta e estende a mão, sinalizando para que algo seja entregue.

- O papel. - permaneço parada, sem entender nada - O papel com o número dele. - ele insiste.

- Por que está me pedindo isso? - o afronto,mas algo me diz que ele é capaz de tudo pra acabar com quem o ameace, então resolvo colaborar.

- Não gostei do jeito que ele te olhava, esse cara tá com segundas intenções, falei que ia te proteger, pequena. - neste exato momento, um arrepio percorre toda minha espinha, o jeito que ele fala, parece ameaçador.

- Vamos, vou te levar a seu quarto. - ele diz, pega minhas malas e eu o sigo, subo as escadas e logo entro em um quarto simples, ele entra comigo, deixa as malas no chão e ameaça se retirar do local.

- Obrigada. - meu primo senta ao meu lado na cama e passa o braço em volta de mim.

- Não há de que, mas agora é a hora de passar as regrinhas da casa. Bom, você não vai morar, nem comer de graça, vai fazer as tarefas da casa, todos os dias, vai pra escola, volta pra casa e se tranca no quarto, não quero você zanzando pela casa a noite, se isso acontecer eu não me responsabilizo pelo seu fim, a casa a noite está sempre cheia, tranque o quarto e não saia mais. Você entendeu? - ele pergunta de forma intimidadora e eu rapidamente assinto.

Gustavo se levanta, sai, bate a porta com força e me deixa sozinha no quarto, levanto pra poder analisar bem o ambiente, um quarto arejado, levemente espaçoso, não é igual a meu quarto em Minas, mas é melhor que nada.

Pego meu telefone e coloco pra carregar, mas antes disso mando uma mensagem pra Pri, avisando que cheguei, que estou bem, ela manda beijos, diz que está com saudades e que a noite vamos fazer ligação.

...

São 19:00 da noite, amanhã será meu primeiro dia de aula, Gustavo trouxe uma mochila vinho e uns cadernos, lápis e algumas canetas, parece até que ele se esforçou pra comprar isso tudo, o que eu duvido muito, inclusive até uma garrafa de água veio dentro da bolsa.

Arrumo tudo da melhor maneira possível e vou tomar banho pra dormir, ao entrar no chuveiro eu permito-me relaxar, a água fria cai em meu corpo, lavo meus cabelos, amanhã eles estarão limpos pra meu primeiro dia, assim que termino o banho eu me enrolo em uma toalha e volto pra o quarto.

- Oi! - levo um susto ao me deparar com meu primo sentado na cama, ele ignora o fato ter entrado no meu quarto sem bater, o fato de eu estar de toalha e simplesmente me ordena.- Uns amigos estão vindo pra cá, não saia do quarto. - ele se levanta e sai do quarto sem olhar pra trás, vou imediatamente até a porta a trancando e então me permito respirar.

Logo escuto barulhos na parte de baixo, uma música alta é colocada no lugar, mas não me atrevo a olhar, converso um pouco com Pri, conto como estou me sentindo e depois desligo e tento dormir, afinal, amanhã é meu primeiro dia em uma nova escola.

Henrique 🚔

Depois de quase uma semana trabalhando nessa corporação, eu posso dizer que estou gostando? Talvez seja cedo, mas eu digo mesmo assim, estou gostando, já me enturmei com algumas poucas pessoas, não fui com a cara de algumas e criei uma rotina.

Ontem falei com minha mãe, ela disse que quer vir ao Rio conhecer minha casa, mas sinceramente, não faço questão, ela só vem tentar fazer minha cabeça a seguir os planos do meu pai. "Filho, você tem que colocar a cabeça no lugar, isso não é pra você", por que pra eles o que é pra mim é ser um engravatado numa sala com ar condicionado, fazendo o que eu não gosto.

Termino de guardar a carga de canabis apreendida nessa madrugada e termino meu turno, hoje foi plantão e me encontro largando do trabalho exatamente as 06:00 da manhã.

- Cansado? - Rubi pergunta.

- Um pouco, vou pra casa dormir. - ela guarda uma pasta no fichário e vem até mim.

- A galera tá marcando de sair hoje, vamos num barzinho, temos o dia todo pra aproveitar. Bora? - penso seriamente se é isso que quero, levando em consideração que toda minha vida social ficou em Sampa, eu preciso realmente me distrair.

- Fechado, que horas é pra tá lá.

- As 19:00, mando a localização. - bato o ponto, pego meu carro na garagem e sigo até meu apartamento, estou cansado e tudo que preciso agora é dormir.

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