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Tetraplégico Não Morto.

Capítulo 1. Evento

O Porsche vermelho parou rente ao meio fio da calçada e o astro dos games desceu. Pisou no tapete vermelho de braços com sua acompanhante, que trajava um vestido dourado fosco, de lantejoulas e costas nuas. Os flashes pipocaram e eles sorriram para as diversas câmeras focadas neles.

Entraram e pararam à frente dos fotógrafos, para mais fotos. À distância, Rener avistou seus maiores concorrentes, dois irmãos que estavam sempre vestidos de mangás de seus games. Se precisasse os reconhecer na rua, não conseguiria, se estivessem vestidos com roupas normais. 

Por insistência dos fotógrafos, ficaram lado a lado para a foto, mas só os pares de sócios. Sua acompanhante fez uma cara azeda e se juntou à acompanhante de Soren, seu sócio.

— O que a gente não faz pelos negócios. — comentou Soren, dando um sorriso forçado.

Rener era bem mais alegre e disposto para esses eventos e adorava encontrar pessoas que entendiam o que ele falava.

— Sorria, Soren, divirta-se. A festa é para nós, vencemos.

— Isso é porque você é o projetista, não tem que lidar com os investidores e comerciantes.

Renner franziu a testa, achando estranha a reclamação de seu melhor amigo e percebeu que a irmã de seu concorrente, também notou. Olhou para ela e sorriu, ela estava engraçada, vestida em um vestido curto de saia de babados e com dois coques, um de cada lado da cabeça, que eram azuis.

— Por quê vocês sempre aparecem vestidos de personagens?

— É bom para os negócios e também para nossa segurança  — respondeu ela com uma voz doce de menina.

— Legal. Não incomoda?

— Por quê incomodaria?

— Sei lá, nunca usei um.

— Venha logo, Íris! — chamou seu irmão, se retirando do local das fotos.

— Tchau. — falou baixinho em meu ouvido: — gostei do seu jogo.

— Tchau Íris, também gostei de você…

Caiu em si que admirava a garota, quando sua acompanhante o pegou pelo braço, para tirá-lo dali. A noite passou correndo e ele fez muitos contatos, ao contrário do que seu sócio vivia dizendo, foi ele quem conseguiu vários associados.

Notou que enquanto ele trabalhava, seu sócio se embebedava, sempre olhando ao redor, desconfiado. Achou estranho e como estava rodando o salão, conversando com todos, Soren não notou que ele o observava e foi a um canto, para conversar na sombra, com o concorrente vestido de mangá.

Logo iniciaram às apresentações e como ele era o homenageado da noite, seria o último a se apresentar. Foram cinco apresentações, antes da sua e ele preferiu assistir de pé, atrás de todas as mesas e uma figurinha, oculta por trás dele, lhe falou:

— Não se espante, você foi traído, aliás, nós fomos, mas estou deixando meu irmão sozinho e não me importo com o que ele está fazendo.

— Eu já pressentia algo assim, Soren está muito nervoso e provavelmente tentará fugir.

— Acho que você precisa ficar atento, não se descuide, vigie. Foi um prazer te conhecer, tchau.

— Pra mim também, tchau.

Rener assistiu a apresentação do novo game de seu adversário e era quase idêntica ao seu novo lançamento, que fariam naquela noite, mas ele mudou tudo, sem falar com seu sócio e seria um susto para Soren. Todos aplaudiram e ele foi anunciado:

— Agora, com vocês, os homenageados da noite, das empresas Gamer luxos, Rener Peres e Soren Gunar.

Os aplausos ecoaram e ele foi em direção ao palco, procurando por Soren, que sumiu depois da apresentação. Mandou um dos seus seguranças o seguirem e subiu sozinho ao palco, foi até melhor seu sócio não estar, pois passou a perna nele primeiro e com categoria. 

— Boa noite, pessoal, parabenizo meus caros colegas pelas ótimas apresentações e quero lhes apresentar algo completamente diferente, na área de jogos de combate, é o combatente IA.

O programa de de inteligência artificial, que responde automaticamente aos ataques de quem está jogando e muda o jogo conforme as estratégias dos oponentes, sem programação estática e igual para cada fase, criou comoção entre os presentes.

— Finalizando, este é um projeto totalmente pessoal e estará disponível a nível internacional em 15 dias, mas todos os presentes receberão uma amostra dele, ao passarem pela saída do evento, boa noite e obrigado.

Alguém levantou a mão e começou a perguntar, as luzes focaram, também, nele e Rener viu que era seu adversário número 1.

— Seu sócio concordou com isso?

— Como já disse, esse é um projeto totalmente pessoal, assim como todos os projetos da Game Luxor, foi criado por mim, mas é independente da empresa.

— Não acha que está traindo seu sócio?

— Tem certeza que quer ir por esse caminho? Porque todos os meus projetos estão patenteados, inclusive o que você apresentou como seu, essa noite.

Todos os presentes se manifestaram e Rener viu uma mangazinha lhe dando um tchauzinho, do fundo do salão e se retirando do evento.

— Está me acusando de roubo?

— Não estou lhe acusando de nada, você que me acusou de estar traindo meu sócio, quando, claramente, está explícito, que foi ele que vendeu nosso projeto. Tanto que ele nem está aqui. Fique com esse projeto de presente para você, estou seguindo um novo rumo. Obrigada e boa noite, pessoal.

Ele se retirou rapidamente, antes que o oponente iniciasse outra discussão, pegou sua acompanhante, nada satisfeita, pelo braço e saíram. Dirigiu até um hotel 5 estrelas e subiram para a suíte master. Serviu champanhe a ela e deu morangos com chocolate em sua boca, despiu-a rapidamente e se fartou dela, boa parte da noite , até ela dormir de exaustão.

Dormiu um pouco, mas acordou assim que amanheceu, levantou-se e tomou um banho, tinha um compromisso logo cedo, iria esquiar nas águas tranquilas da costa de Miami. Saiu do hotel depois de deixar tudo pago, inclusive o desjejum e o transporte de sua acompanhante. Foi para a marina e entrou em sua lancha, cochilou na cabine, esperando terminar de amanhecer e o piloto chegar.  

O perfeito magnata vencedor, cuja preocupação era só com seus novos projetos, não parou para ver o rebuliço que causou na mídia, o seu novo projeto.

Capítulo 2. Atentado

Soren estava branco como papel, sentado em seu apartamento, de frente para a tela grande, onde revia a apresentação de seu ex-sócio, no noticiário das celebridades. Pois foi isso que entendeu do que Rener falou. Ao contrário do que planejaram, seu sócio fez uma apresentação solo e pelo que viu, era algo totalmente novo e muito rentável.

Fez umas pesquisas e não viu nada sobre uma nova firma, só muita especulação e a queda nas ações da Game Luxor. 

— Aquele infeliz me passou a perna. Só queria saber como ele soube que eu o trairia. Não foi naquele momento, pois tudo que planejou, levou tempo e aquele projeto de IA, não foi criado da noite para o dia. O cara é um gênio e eu fui um idiota em trai-lo. Agora, só tenho o fruto do roubo. Tô ferrado.

— Falando sozinho, amor?

Ele havia esquecido que Susan estava em casa. Ela era sua namorada a dois anos, era aeromoça e estava sempre viajando.

— Levei uma rasteira do meu sócio. Ele lançou um projeto inédito, solo.

— É um direito dele, já que tudo que vocês negociam é criado por ele.

— Mas somos sócios, ele não tinha esse direito.

— Por quê? Só porque você não vai ganhar nada com isso, não tira o direito dele.

— De que lado você está, afinal?

— Do justo. Sempre te disse que você se segurava muito em Rener. 

— Droga!

— Pare de reclamar, você ganhou muito dinheiro pegando carona com ele, agora cresça e invista em você.

Ele não falou nada, olhou a hora no relógio, desligou a tela e foi para a cozinha, tomar café com ela.

— Até quando você vai ficar? — perguntou ele, abraçando-a por trás.

— Até daqui a pouco, só vou tomar café, me arrumar e sair.

— Até quando será assim?

— Você está reclamando muito hoje.

— É, você está certa, quer saber, me enchi, não volta mais não, tá?

Ela parou um instante, olhou para ele e não disse nada. Tomou seu café, se arrumou e saiu com sua mala, depois de pegar todas as coisas que costumava deixar ali. Não disse adeus, apenas deixou suas chaves do apartamento na mesinha da entrada e se foi.

 Soren esperou e esperou, andando pelo apartamento. Finalmente seu novo sócio ligou:

— " E aí, parça, viu o que seu sócio fez ontem? "

— Sim, aquele descarado, manteve tudo na surdina.

— " Fica ligado e não se retire da parada, vá ao escritório e trabalhe normalmente, verifique os contratos e atas da empresa e veja se tem alguma cláusula sobre as criações dele, pode ser que haja uma brecha."

— Pelo que vi, ele amarrou muito bem amarrado, deve ter consultado os advogados, para me deixar totalmente de fora.

— " Tenho uma carta na manga, vamos esperar até o final do dia, as coisas vão mudar. "

— Com certeza…

Desligaram e Soren acendeu um cigarro e foi até a janela de vidro, que ocupava toda a parede e dava para ver o mar, ao longe.

— Com certeza, os ventos hão de mudar.

Na casa de Ivan, ele dava inúmeros telefonemas, fechando negócio e desmembrando sua irmã Íris, de todos eles. Aproveitou que ela saiu para mergulhar, que era seu passatempo preferido e fez tudo que precisava sem sua intromissão.

— Estou pronto para um vôo solo, como fez Renner e minha irmãzinha ficará de fora, chega de andar com uma mangá de pirralha, ao meu lado 

— " Tudo bem, então, mas não é Íris que finaliza seus projetos? "

— Nada que outro não possa fazer. Eu a mantive só por causa da minha mãe, que pediu para eu cuidar dela até a maioridade. Agora ela já é maior e pode se virar sozinha.

— " Ela tem condições financeiras para isso?"

— Claro que sim, além dos 5% das ações, tem a herança da mamãe.

O advogado do outro lado da linha soltou uma gargalhada.

— " Você é um canalha, Ivan, deu só 5% da empresa para sua principal cooperadora? Fala sério! "

— Ela é muito bobinha, não entende nada de negócios, acostumou a viver na minha dependência e sempre lhe dei uma boa mesada. Não tenho culpa se ela não entendia o que estava assinando.

— " Tá certo, então, até segunda, vou descansar um pouco, agora. Experimenta fazer isso também. "

— Vá se catar…tchau.

Desligou o telefone e resolveu dar uma volta na praia e ver umas bundinhas saradas.

*

Rener estava em seus esquis, deslizando sobre a água, fazendo suas manobras. Estavam distantes da praia, para não correrem o risco de atropelar alguém. Amava aquela sensação de liberdade e o exercício, que fortalecia seus músculos, depois do desgaste da noite passada.

O dia estava lindo e onde estava, não dava para ser assediado pela infinidade de telefonemas que devem estar fazendo para ele. Queria ser uma mosquinha, para ver a cara de Soren. Na verdade, não, pois se quisesse mesmo, assistiria de camarote através de sua espiã.

Susan era amiga dos dois desde a faculdade, mas começou a namorar com Soren e descobriu os roubos que o namorado fazia e não achou justo Renner não saber e contou a ele, que pediu que instalasse um espião no apartamento do sócio. Um pequeno drone, que mudava de lugar, como um inseto.

Estava curtindo o passeio, vendo a Orla arborizada, as praias cheias e as mansões no alto dos penhascos, até que ouviu um disparo, seu piloto tombou sobre o volante e a lancha desgovernou. Ouviu outros tiros, se abaixou, mas sentiu que foi atingido atrás do pescoço.

A lancha foi em direção a orla de penhascos e pedras e bateu, explodindo. Ele soltou a corda que o puxava e afundou devagar, desnorteado, sem sentir os movimentos do corpo, quase desmaiando. Conforme afundava, não concatenava bem os pensamentos, viu se perder tudo que planejou, pois sentiu que estava a morrer. Não percebeu a sombra de alguém que nadava na sua direção, podendo ser um assassino ou um anjo da guarda.

Perdeu a consciência, ficando no mais completo breu.

Capítulo 3. Resgate

O caso passou em todas as redes de televisão e mídias sociais. Helicópteros sobrevoaram a área, bombeiros apagaram o fogo e depois de recolherem o corpo carbonizado, os investigadores chegaram para fazer a perícia do local. Mergulhadores procuraram o que caiu do esqui que Renner usava e isso levou várias horas.

Renner não viu quem o salvou, nem como foi tirado da água e agora estava no hospital. Passaram-se dois dias, até que conseguiu acordar e demorou a perceber onde estava. Uma técnica desconhecida, estava examinando seus olhos, quando ele recuperou a lucidez e ela chamou o médico, que rapidamente se aproximou, de fininho, pela porta, sem que ninguém notasse.

— Senhor Peres, olá, está me ouvindo, pisca se estiver — ele piscou — ótimo. Eu sou o Dr. Carmelo, neurologista. O senhor levou um tiro que pegou a vértebra três de sua coluna vertebral e afetou sua medula. Estamos estabilizando seu corpo à sua nova realidade. Esta é a melhor e mais especializada Clínica  em deficiência neurológica acidental.

A cabeça de Renner dava voltas e aos poucos, foi lembrando o que aconteceu. Não escutava mais o que o médico dizia, fechou os olhos, tentando absorver a notícia ruim que recebeu: estava tetraplégico. Como podia ter sofrido um atentado, em um momento de relaxamento. Lembrou que mataram seu piloto, que é casado e tem três filhos.

Lágrimas começaram a transbordar de seus olhos e ele tentou controlar para não se sufocar com aquele respirador em sua boca. Lembrou que assim que a lancha diminuiu a velocidade e seu esqui não queria mais flutuar, começaram os disparos.

Mataram o piloto, para conseguir acertar ele.

" Tentaram me matar."

Ele apagou novamente e demorou mais três dias para acordar e mais uma vez o médico veio lhe falar:

— Senhor Peres, operamos o senhor e retiramos os fragmentos que estavam próximos à coluna, mas o local ainda está cicatrizando e precisamos esperar para tentar verificar o que realmente está causando a paralisia. Mas temos uma boa notícia: os seus órgãos, da cintura para cima, estão funcionando sozinhos e por isso retiramos o respirador.

— Obrigado, doutor. Se estou entendendo, há uma esperança.

— Sim, nós tentaremos tudo que estiver ao nosso alcance, só peço que tenha paciência. Tem duas pessoas insistindo em lhe ver, o senhor quer que libere as visitas?

— Quem são?

— A jovem que o salvou, se não fosse ela, teria morrido e o seu sócio.

— Libera só a jovem, quero agradecer a ela, embora não sei pra quê, já que não posso fazer nada.

— Não veja por esse lado, senhor.

— E como quer que eu veja, alguem atirou em mim, querendo me matar e só conseguiu me impbilizar e deixar prontinho para ele terminar o serviço. 

— Temos seguranças na entrada do hospital e aí fora, guardando seu quarto.

— Eu não morri, mas minha vida acabou, pois eu  uhan   trabalho com    mãos, uhan    braços e cabeça,   me cof  movimento muito e agora não poderei fazer mais nada então  cof  cof cof

— Respire, senhor, não pode falar tão rápido.

Rener achou melhor calar e não falar mais nada.

— Vou autorizar a jovem mergulhadora a te visitar. Dê tempo ao tempo, você ficará abismado com tudo que ainda pode fazer. 

O médico saiu e Rener ficou remoendo seus sentimentos de raiva, revolta e injustiça. Ver um futuro estava difícil, ainda mais sabendo que quem quis matá-lo, podia tentar novamente.  

Deve ter dormido, pois levou um susto com alguém batendo na porta e entrando. Seu leito ficava de frente para a porta e pode ver a jovem que entrou. Era baixa, magra, cabelos compridos, lisos e escuros, pele branca e nariz arrebitado. Parecia uma bonequinha, mas não tinha cara de adolescente 

— Oi, Rener, como está?

— Oi, foi você?

— Sim, fui eu. Não posso passar muito tempo aqui, por isso vou falar rápido. Você corre risco aqui, por isso preparei um lugar para você ficar, com home Care e onde ninguém saberá onde está, você só tem que autorizar e te levarei.

— É a primeira coisa coerente que ouço. Quem é você?

— Viu como dá para confiar nos mangás, você não me reconheceu. Sou eu, a Íris.

 

— Iris, da Game is it?

— Sim, é uma longa história, mas pra resumir, assim como você foi relaxar esquiando, eu fui mergulhar e estava próxima e vi os tiros, as balas entravam na água e eu me protegi nas pedras, foi quando vi você caindo e os tiros pararam, corri e levei você para a superfície, antes que se afogasse. Depois foi uma correria, os tiros e a explosão, trouxeram a polícia e os bombeiros, foi tudo muito rápido. 

— Obrigada. Você é a pessoa mais perto de ter minha confiança no momento, se quisesse me matar, teria me deixado morrer, então, aceito sua oferta, dinheiro não é problema 

— Tudo bem, vou cuidar de tudo para te tirar daqui o mais rápido possível.

— Mais uma vez, obrigada, você está salvando minha vida, de novo.

Ela sorriu e ele lembrou daquelas covinhas e achou-a linda.

— Desculpe perguntar, mas quantos anos você tem?

— 21, já sou de maior, tio! — brincou ela.

— Melhor assim, eu tenho 30, então estamos bem.

— Claro, tio! — falou ela com jeito coquete.

— Não me provoque, não posso cof  falar muito.

Ela sorriu, deu um tchauzinho e se foi e ele ficou sorrindo e sonhando, talvez as coisas não fossem tão ruins assim. Pela primeira vez na vida, tinha uma pessoa cuidando dele por vontade própria. Alguém tentou matá-lo e só conseguia pensar em  duas pessoas: Soren e Ivan e a irmã de Ivan o salvou, realmente, era uma incoerência.

Ainda iria demorar a ficar bem, usava uma contenção no pescoço e não conseguia mexer o restante do corpo. Às vezes, sentia um formigamento nas pernas, mas era só. Lembrou dos vídeos de superação de pessoas que se viam com a vida mudada do dia pra noite, como ele e do que faziam e o tempo que demoravam para se estabilizar.

Agora era a vez dele e para incentivar, surgiu uma jovem doce que lhe dava esperança para seguir em frente. 

 

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