Dan tem 19 anos, mede 1,65 de altura, pesa 55 quilos, sua pele é
bronzeada, especialmente por pegar sol o dia inteiro, seus olhos são
amarelos, as vezes pendem para o esverdeado, seus cabelos são
castanhos e bem curtos.
As roupas dela são
sempre as mesmas: calça jeans masculina, top, regata e camisa social
manga longa por cima, botinas e chapéu.
Mora na fazenda
desde sempre, esta fica à 20 km da cidade Palmeiras, aonde ia todos
os dias de transporte escolar durante o período de estudo
obrigatório. Por estar sempre cansada, era constantemente passada em
conselhos de classe, graças ao seu comportamento taciturno e
insociável não arrumava encrencas e isso a fazia cair nas graças
do conselho escolar.
Já fazem quase 2
anos que completou o ensino médio e tem se dedicado exclusivamente
aos trabalhos na fazenda, no último ano tem sido extremamente
exaustivo pois estão renovando as pastagens e ela passa boa parte do
dia no trator de gradear.
Além desse
trabalho, ela vai todas as tardes até o seu vizinho, João, um homem
idoso de 61 anos, que mora sozinho e fabrica queijo. Ela o ajuda a
apartar as vacas e em troca, recebia uma pagamento mensal com o qual
supria suas necessidades básicas.
Quando o dia
finalmente acabava, no silencio do seu quarto, Dan escrevia um
diário.
Diário
Olá, já tem 2
dias que não escrevo. Eu não estava em condições, sabe? Como
escrevi da última vez, chegou o aniversário da minha mãe mais uma
vez.
E mais uma vez
ele perdeu o controle, estava tão irado que nem consegui contar as
chibatadas dessa vez, acho que apaguei lá pela décima.
Ainda dói
bastante e mal tenho conseguido dormir ou trabalhar direito, quanto
menos teria ânimo para escrever, mas é o que me acalma
Eu gostaria de
ser menos covarde, sei que já escrevi isso muitas vezes, mas
realmente me angustia muito ser covarde assim. Entendo que meu pai
não consegue conviver com a dor da perda, mas já não tenho
resistência para aguentar viver.
Não é só pelas
surras que ganho, na verdade, apesar de doer bastante, elas são o
meu consolo, que me desvia a atenção da minha dor maior: a dor de
ter matado a minha mãe.
Dan não pôde continuar a escrever e guardou seu diário antes de dormir
envolvida entre lágrimas e soluços.
O seu quarto é simples, tem um armário pequeno e muito antigo, com as
gavetas pendendo e uma cama de solteiro com um velho colchão que
deve estar alí desde que ela nasceu.
O dia seguinte é sábado e, como de costume, Dan se pôs de pé as 5
horas da manhã.
- Para onde vai?
- Oi pai, vou trabalhar.
Seu pai a abordou quando ela passava pela cozinha.
- Não vai não! Vamos a Palmeiras.
- Por que… precisa de mim?
Perguntou trêmula.
- Para dirigir! Para que mais seria?
Dan se tocou de que se tratava da festa de vaquejada que estava
acontecendo na cidade. Seu pai sempre extravasava na bebida e, como
certa vez acabou se acidentando e perdendo uma caminhonete nova,
passou a levar Dan para dirigir. Ela aprendeu a dirigir os tratores
sozinha e então João a ensinou a dirigir carros também, mas não
tem carteira de habilitação.
Dan retornou para o quarto a procura de uma roupa menos “surrada’
para acompanhar o seu pai.
Otilo chegou a sua nova fazenda há 1 mês e poucas vezes esteve em
Palmeiras. Por ser uma cidade de pouco mais de 6 mil habitantes,
poucos dos seus assuntos poderiam ser resolvidos alí, o que o
impelia a tratar seus assuntos em Pontília, há mais de 80km de
distância e com cerca de 200 mil habitantes.
Sua esposa havia partido há quase um ano e isso o arrancou do chão de
forma tortuosa. Quase perdeu o juízo de tanto sofrimento, mas
conseguiu reerguer a cabeça após longos seis meses de luto e agora
estava mergulhado de cabeça nos negócios.
Ouviu dizer que estava tendo uma festa na cidade, mas isso não chama a sua
atenção, nada pode tirar o seu foco do trabalho, exceto a tristeza
no rosto do seu filho. Otto tem se mantido forte durante todo esse
tempo, mas seus olhos são pura tristeza e isso tem incomodado
bastante Otilo, mas como nunca foi um pai extremoso, o máximo que
conseguiu fazer pelo filho foi mergulhá-lo junto nos negócios.
-
Otto, vamos à cidade agora.
Otto ergue os olhos surpreso. Eram 7 da manhã e mal havia chegado ao
escritório da fazenda.
- Vamos à Pontília? Por que não avisou antes?
- Não vamos à Pontília, e sim à Palmeiras.
Otilo já estava na porta do escritório quando Otto se levantou e o seguiu
sem entender. Otilo passou algumas instruções às secretárias e
saíram em direção a casa, aproximadamente 800 metros de distância.
- O que vamos fazer lá, pai?
- Eu soube que está tendo uma festa de vaquejada lá, fiquei curioso
em conhecer.
- Nesse caso, não precisa de mim. Tenho muito trabalho a fazer.
- Negativo, não irei sozinho.
A esperança de Otilo é que seu filho encontre alguma diversão nessa
festa, mas Otto não se sente nada empolgado .
Otilo tem 42 anos e é um dos maiores agricultores do Brasil. Herdou os
negócios de seu pai e com inteligência e determinação triplicou o
patrimônio da família em 20 anos de trabalho. Casou- se aos 20 com
o amor da sua vida e viveu ao seu lado por 21 anos, tiveram seu filho
Otto, que hoje tem 18 anos e então dua amada teve um tipo raro e
agressivo de câncer e acabou morrendo após longos 2 anos tratando.
Ele tem pele branca, 1,80 de altura, cabelos negros, com alguns fios
grisalhos, barba bem cuidada, olhos verdes, corpo bem definido.
A previsão é de vários eventos ao longo do dia, incluindo cavalgada
e até corrida de cavalos. Dan adora cavalos, mas seu pai nunca a
deixou cavalgar nessas festas. Agora estavam chegando à arena e
Artur estacionava no desembarcador todo pomposo com seu cavalo quarto
e milha. Dan retira os arreios, tão pomposos quanto o cavalo e
acompanha seu pai até o local designado para o seu animal. Em
seguida ela retorna à caminhonete para estacioná-la num lugar
correto.
- Olá, bom dia meu jovem.
Dan ouve um homem atrás dela, mas não se importa e segue adiante
prestes a alcançar a caminhonete quando é segurada pelo ombro. Num
movimento rápido ela segura o punho e antes que alguém pudesse
piscar já estava com o braço do homem torcido em suas costas quase
ajoelhando diante dela.
Otto se apressa em socorrer seu pai e prende o pescoço dela num mata
leão. Surpresa, ela solta Otilo e busca se livrar de Otto.
- Solte ela, imediatamente!
A voz de João era grave e cheia de significado quando se aproximou dos
três.
- Ela?
Otilo se recompôs e olhou para a figura na sua frente. Pelas roupas só
imaginou ser um menino, mas agora, olhando em seu rosto, de fato tem
traços femininos. E nada de medo ou tensão.
-O que está havendo aqui? Quem são vocês e o que fazem com ela?
João estava assustador, mas não intimidou Otilo.
- Peço perdão, houve um equívoco aqui, não queremos fazer nenhum
mal à garota.
Se justificou Otilo de olhos nela.
- Vocês não são daqui.
João analisou suas roupas caras e bem passadas.
- O que querem?
- Eu me chamo Otilo e este é o meu filho, Otto. Acabamos de comprar
algumas terras nas proximidades.
Nesse momento Artur se aproximou do grupo.
- Então o senhor é o agricultor que vai investir em lavouras por
aqui!
Os olhos de Artur brilhavam. É um negócio novo por aqui e ele quer
muito fazer parte, mesmo não tendo ideia de por onde começar.
- Isso mesmo.
Respondeu Otilo. Havia visto Artur de longe quando chegou com Dan, então sabia
que estavam juntos.
-Pai, vamos embora.
Otto estava no seu limite, não era de seu costume conversar com
desconhecidos e aquele momento tenso o deixou bastante nervoso.
Otilo o ignorou.
-Eu sou o Artur, é um prazer te conhecer!
Artur se apresentou rapidamente.
-Como acabei de dizer a eles, me chamo Otilo. É um prazer te conhecer
também, artur.
Alguém questiona porque a caminhonete de Artur ainda não foi retirada do
desembarcador e Dan aproveita a oportunidade para sair de perto
destes homens desagradáveis.
No entanto, quando retorna, percebe que se pai ainda está com os dois e
estão em uma mesa.
- Pai, já estacionei. Precisa de alguma coisa?
Perguntou acreditando que seria dispensada e poderia ir dar uma olhada nos
cavalos.
- Sente-se conosco, Dan. - Convidou Otilo.
Quando ouviu o seu nome na boca do desconhecido sentiu raiva. Aguardou seu
pai mandá-la sair de perto.
- Sente-se Dan.
Contrariando suas expectativas, seu pai a fez sentar.
Artur falava eloquentemente sobre seus anseios de entrar para a agricultura
e de como estava contente que esse ramo finalmente começou a ganhar
desataque na região.
A mesa era pra quatro pessoas e Dan estava de frente para Otilo, embora
mantivesse seus olhos baixos, podia sentir os olhares dele.
-Eu dizia ao seu pai, Dan, que quando avistei vocês chegarem com o
quarto de milha, fiquei muito impressionado, gosto muito de cavalos.
Por isso a abordei.
- Ah…
Dan viu nos olhos do seu pai que um ah era pouco a se dizer .
-Eu também gosto bastante de cavalos.
-É mesmo?
Otilo se inclinou para frente, contente com uma abertura pra introduzir
algum diálogo com a moça.
-Ela gosta bastante mesmo, monta desde muito pequena.
Respondeu Artur.
- E que tipo de esporte pratica com cavalos, Dan?
Otilo estava levemente irritado. Queria ouvir a voz firme, porém fina de
Dan e não o seu pai.
- Trabalho.
Ela respondeu sem nenhuma emoção. Como assim, que esporte? Dan não
conhecia nenhum esporte que não fosse o trabalho.
Pelo resto do dia, Artur entreteve Otilo, pensando ter caído em suas
graças, enquanto Dan era seu objeto de estudos constante. Para ter
mais tempo com Otilo e ainda assim o impressionar, colocou Dan para
cavalgar em seu cavalo, o que foi uma surpresa imensa para ela, nunca
pode sequer passar a perna nesse cavalo, o único cavalo de raça de
seu pai.
No fim do dia, Artur tinha uma visita agendada à fazenda de Otilo.
Para Artur não foi difícil perceber o interesse de Otilo em Dan, ainda
mais quando ele insistiu em que Dan fosse junto nessa visita, mas não
era um preço significativo para Artur se isso significasse um bom
negócio.
Dan, por outro lado, não fazia ideia do que se passava e findou o dia
como se nada demais tivesse acontecido, a não ser…
Diário
Olá diário.
Hoje ele me levou para a vaquejada e aconteceu algo inesperado: me
deixou montar no seu cavalo exclusivo. Não sei o que foi isso, mas
foi bom participar da cavalgada.
Dia seguinte na casa de Otilo, durante o café da manhã, Otto expõe
sua frustração.
- Pai, não pode estar falando sério sobre fazer negócios com o Artur, sabemos muito
bem que ele não tem nada a nos oferecer.
- Na verdade ele tem algo do meu interesse sim, ainda não sei se vou investir, mas quero
analisar de perto.
- Não to acreditando que está se referindo aquela tal de Dan, só pode estar
enlouquecendo.
- Tenha mais respeito, Otto.
- Desculpe pai, mas o senhor não está raciocinando direito, viu a cara dela? Talvez até
seja menor de idade.
- Claro que não é.
- Como pode estar tão seguro disso?
- Não a viu dirigindo?
- Nossa pai! Olha o buraco aonde estamos, aqui qualquer um pode dirigir, não existem
regras de trânsito.
Otilo preferiu não discutir, mas estava certo que ela não era menor. Toda aquela
firmeza em seus olhos e em sua voz, não poderiam ser de uma
adolescente.
No fim do dia, como de costume, Dan foi até João para apartar as vacas com ele.
- Boa tarde seu João.
- Boa tarde Dan.
Fizeram todo o trabalho em silêncio, João não é muito de conversar, preferia
ouvir, Dan em geral falava muito com ele, seu único amigo com quem
poderia falar sem se sentir constrangida.
- Está muito calada hoje, Dan.
Ela sempre fica assim quando está com dores, ainda tinha hematomas da surra recente.
- Acho que estou fadigada velhote.
- Da festa de ontem?
- Rum, ontem foi um dos dias mais fáceis da minha vida. Estou cansada é de hoje,
trabalhei na grade o dia inteiro.
- Almoçou?
- Sim.
Mentiu. Seu pai, com bastante frequência a deixava sem almoço, por isso era tão magra.
- Não está com cara de quem comeu direito. Vamos entrar, tem comida.
- Não posso, se eu demorar, meu pai vai ficar chateado.
- Espere um instante.
João entrou rapidamente em sua cozinha e voltou com dois misto-quentes
embrulhados para ela.
- Obrigada velhote.
- Dan…
João não é muito bom com as palavras, especialmente quando quer falar sério.
- Senhor?
- Você sabe que pode contar comigo pra qualquer coisa, não é mesmo?
- Sim, senhor e sou muito agradecida.
Sorriu grata.
- Eu sei que seu pai não a trata como você merece, mas sei também da sua dependência
emocional, por isso não interfiro, mas se quiser por um fim a isso, basta me dizer.
Dan sorriu novamente, mas seu coração estava apertado e doía bastante. Seus olhos ficaram inundados. Não é a primeira vez que João lhe oferece ajuda, mas como nas demais vezes, ela apenas se vira e segue seu caminho de volta para casa.
João gostaria de
ter falado sobre Otilo também, mas com o semblante triste de Dan ele
perdeu as forças. Ele estava bastante intrigado com o que viu
durante todo aquele dia, como Otilo estava sempre de olho em Dan e
puxando conversa com ela. Artur, sendo o pai que é, não a
protegeria de nada que pudesse fazê-la mal.
Dona Carmem, a
falecida esposa de João era o porto seguro de Dan, tudo que ela sabe
sobre o universo feminino, aprendeu com ela, mas dona Carmem os
deixou há mais de três anos.
A semana passa,
intensa como sempre e logo chega a sexta-feira.
- Estou indo em
Palmeiras buscar a Ávila.
Artur avisa logo
pela manhã quando Dan se organizava para ir trabalhar.
- Quer que eu faça
o almoço, pai?
- Como se tu
soubesse cozinhar alguma coisa. Deixa que eu almoço por lá mesmo
com ela.
De fato, Dan não
sabe cozinhar nada. Ela sempre trabalhou duro lado a lado com seu pai
nas tarefas da fazenda, o máximo que ela faz em casa é limpar e
lavar.
Assim que seu pai
sai, Dan corre em seu quarto e pega seu diário. Quando a irmã está
em casa ela o esconde no celeiro, por medo de ter seus pensamentos
revelados, mas antes de guardar, escreve algumas palavras.
Diário
A minha irmã está
vindo passar o final de semana com a gente, eu nem sabia, mas tudo
bem. Amanhã seria o dia de visitar a fazenda daqueles homens com
quem meu pai conversou durante a vaquejada e eu, sinceramente não
estou com vontade de ir. Agora que Ávila está chegando, meu pai
deve desfazer os planos.
Até breve, diário.
Na hora do almoço,
Dan cozinhou meia dúzia de ovos e comeu, dessa forma conseguiria
trabalhar melhor o resto da tarde, tinha dois rodízios de gado para
fazer e sozinha ficava mais difícil.
Ávila é um pouco
mais alta que Dan, e assim como seu pai, tem pele clara, seus cabelos
são negros e alisados quimicamente. Seus olhos são castanhos, como
seu pai. Ela usa roupas muito justas e está sempre maquiada e
perfumada.
Chegou em casa,
espalhafatosa como sempre. Entrou em sua suíte estilo princesa e já
foi olhando por toda volta para ter certeza de que sua irmã não
violou seu espaço.
- Fiquei muito feliz
que conseguiu vir esse fim de semana filha.
- Ah pai, eu não
perderia a chance de visitar um fazendeiro rico, né? Já estou ansiosa para conhecer a propriedade, ouvi dizer que lá tem até
piscina, já trouxe biquíni e tudo o mais.
- Deve ser bonito mesmo por lá. Quer comer alguma coisa?
- Não pai, me deixa quieta no meu quarto, to morta de cansada.
Ávila empurra seu pai para fora e fecha a porta. Se esparrama em sua cama fazendo mil
planos em sua cabeça para esse fim de semana.
Quando Dan retornou
da casa de João e soltou seu cavalo na pastagem já estava perto de
escurecer.
- Cheguei pai.
Anunciou-se logo que
colocou os pés no batente da porta da cozinha. Tirou suas botinas
pesadas e escorou na parede lateral antes de entrar. Seu pai estava cozinhando o jantar.
- Demorou demais hoje.
Artur reclamou sem direcionar os olhos para ela.
- Perdão, eu demorei demais no rodízio.
- E aí Dan!
- Ávila.
Dan adentrou a
cozinha e lançou seu olhar de desprezo a sua irmã, porém com um
sorriso debochado.
- Continua dando pro velho João? Quando ele vai cansar de você?
Dan sentiu seu rosto arder de vergonha, como Ávila podia se tornar cada dia mais baixa ao
ponto de falar isso na frente do seu pai?
- Precisa de alguma coisa, pai?
- Eu preciso que você lave o meu banheiro.
Ávila tomou a frente.
- Mas eu lavei dois dias atrás.
Retrucou Dan.
- Por isso que está cheio de poeira.
As mãos de Dan estavam doendo após ter sido necessário usar o laço em alguns
novilhos teimosos durante o rodízio de pasto, mas sabia que
contender com Ávila deixaria tudo pior.
- Está bem.
Ávila ainda teve o
prazer de empurrá-la quando as duas cruzaram.
- Pai, a que horas
sairemos amanhã?
- Seria bem cedo,
mas você não acorda filha!
- Nada disso, pra ir
nessa visita eu faço qualquer coisa.
- Até mesmo acordar
as 5 e meia?
- Até mesmo isso
paizinho.
Após terminar sua tarefa e tomar banho, Dan não sabia se era seguro sair do quarto, mas estava faminta e precisava arriscar encontrar um pouco de comida nas panelas.
Chegou na cozinha, seu pai e sua irmã estavam se servindo, parou por 2 segundos e então
resolveu pegar um prato e se juntar a eles.
Ávila sinalizou para o seu pai, porém Artur sabia muito bem que Dan, por mais difícil que fosse crer nisso, era a razão dessa visita acontecer,
não seria inteligente deixá-la dormir com fome e chegar lá no dia seguinte dando vexame.
- Sairemos as 6
horas, esteja pronta Dan.
Artur a avisou antes
de sair da cozinha com Ávila e deixar Dan com a louça para lavar.
- Sim senhor pai,
tenha uma boa noite.
Dan foi a primeira a chegar a caminhonete na manhã seguinte. Ainda faltavam 10 minutos para as 6 horas, pouco depois Ávila e seu pai chegaram, cada um trazia um mochila consigo.
- É pra levar roupas, pai?
Ele não respondeu e rapidamente pegaram a estrada.
Não passava de 30km de uma fazenda a outra e logo estavam na frente do casarão de Otilo.
Ele havia enviado uma equipe de construtores para edificar um casarão antes de vir com seu filho.
Uma casa comprida com dois telhados no estilo antigo, cercado por varandas cobertas. Em uma lateral havia uma área de lazer com piscina e churrasqueira. Essa parte da casa é murada para maior privacidade.
- Bom dia meus convidados, sejam muito bem-vindos!
Otilo se adiantou em cumprimentar os recém chegados.
Artur foi o primeiro a apertar sua mão, seguido por Ávila, a qual o pai fez questão de apresentar.
- Está é minha filha Ávila, ela mora na capital e faz faculdade de contabilidade.
- Ciências contábeis, pai.
Ávila o corrige sem pensar duas vezes.
Dan se aproxima com sua expressão neutra, causadora de tanta curiosidade Otilo.
- Como vai Dan?
Estende a mão para ela. Dan retribuí, mas se arrepende ao sentir seu aperto. Sua mão está mesmo machucada. A luva que usou ontem estava com o furo e por isso a corda escorregou mais fácil e acabou machucando a ponto de criar uma bolha como fosse queimadura.
- Algum problema com sua mão?
Otilo consegue ver sua expressão de dor, além de sentir a aspereza em sua mão. instintivamente leva a outra mão a dela e a abre com certo esforço, ela não quer mostrar.
- O que foi, filha?
Artur se aproxima demonstrando interesse.
- É só uma bolha, nada demais.
Além da bolha, podia se notar o vermelho cruzando sua mão.
- Qual a programação para hoje?
Perguntou Ávila.
- Também quero saber!
Dan fingiu interesse ao notar ali uma oportunidade de desviar a atenção de si mesma.
- Vamos tomar café da manhã e depois vamos conhecer a fazenda.
Responde Otilo.
A mesa foi apresentada na varanda. Uma merda redonda enorme e cheia dos mais variados bolos, pães, frutas, sucos, leite, café. Enfim, um café da manhã de novela.
Ávila de mostra deslumbrada com tudo, assim como sei pai. Dan também está impressionada, mas não expõe nenhum sentimento em seu semblante.
- Está tudo muito lindo, sei Otilo. Não precisava de esforçar tanto para nós receber.
Diz Ávila.
- Não é esforço algum, sentem-se.
Ela o observa sentar e senta ao seu lado. Artur faz o mesmo e senta do outro lado.
Dan se vê sem jeito. Sabe que precisa tirar seu chapéu para se sentar a mesa, mas seu cabelo está todo despenteado e ressecado.
- O que foi Dan? Por quê não se senta?
Otilo perguntou gentilmente.
Dan se apressou, tirou o chapéu e colocou ao pé da cadeira que escolheu para sentar-se ao lado de Ávila.
- Que cabelo horrível!
Sua irmã sussurrou para ela.
Dan não tem o hábito de comer pela manhã e mesmo com tantas coisas gostosas à frente, precisou se esforçar muito para comer um pedaço de bolo de milho.
Artur e Ávila falavam o tempo todo com Otilo, este procurava manter a paciência, embora irritado por não poder prestar atenção apenas em Dan.
No instante em que conseguiu ficar nela novamente, notou seu rosto vermelho e os olhos marejando.
- Dan, o que está havendo?!
Otilo se pós de pé depressa.
Dan levou as duas mãos à boca e se afastou da mesa. Seu pai a mataria se deixasse seu vômito cair, por isso tentava engolir de volta.
Otilo não sabia que ela já tinha vomitado e a levou rapidamente para o banheiro mais próximo.
Para infelicidade de Dan, não conseguiu engolir nem conseguiu chegar a tempo ao banheiro.
Otilo mantinha a mão nas suas costas para dar apoio enquanto ela vomitava ainda mais até ficar bem fraca.
- Desculpe, senhor.
Pediu com dificuldade.
- Está tudo bem. Estamos perto do banheiro, vamos.
Otilo a levou a um banheiro externo mesmo, devido a urgência.
Essa situação o deixou preocupado.
Porque ela vomitou? Não estaria grávida, estaria? Não! Isso não é uma novela!
Otilo pensava agoniado do lado de fora do banheiro.
Artur apareceu alguns minutos depois.
- Onde está a Dan? O que aconteceu?
- Ela está aí dentro.
Otilo indicou o banheiro. não sabia porque, mas não via em Artur uma preocupação genuína com Dan.
Ela saiu no mesmo instante, com o rosto lavado e muito pálido.
- O que aconteceu, Dan?
- Acho que foi a viagem, pai.
Otilo assistiu a mentira de olhos fixos em Dan. embora suas emoções fossem difíceis de decifrar, ele é perito em mentiras. Isso o deixa possesso de raiva.
E se sua teoria estiver certa?
Não! Tem algo especial nela.
- Artur, pode voltar pra mesa, retornamos em um minuto.
Artur não ousou questionar, a voz de Otilo nesse momento era imperiosa.
- Dan, porque vomitou?
Otilo suavizou a voz ao interroga-la .
- Eu acabei de dizer o motivo, senhor.
- O seu rosto é muito difícil de decifrar, Dan, e isso me incomoda bastante, mas felizmente você não sabe esconder quando mente.
- Não sei do que está falando.
- Me diga a verdade.
- Não quero!
- Quero a verdade!
Seu tom de tornou mais ríspido. Mentiras o deixavam assim.
- Eu não tenho hábito de comer pela manhã.
Dan confessou, certa de que ele não acreditaria, mas seria sua última palavra. Virou-se de costas e retornou para a mesa. A caminho, notou que uma funciona já estava limpando sua sujeira.
No primeiro período do dia, os quatro percorreram a sede da fazenda a pé .
Além do casarão, havia algo tipo uma vila, com uma avenida larga e casinhas de um lado e de outro. Nessa vila ficava o escritório da fazenda.
- Eu passo boa parte do dia aqui dentro.
Contava Otilo. Na sua sala haviam duas mesas, uma para ele e outra para Otto. Este já estava lá trabalhando e não se deu ao trabalho de esconder sua aversão a presença dos visitantes. Otto estava 20kg acima do peso e isso foi o suficiente para Ávila não se interessar. Seus olhos já estavam fixos no seu objetivo: Otilo.
Na recepção do escritório trabalham duas mulheres, uma jovem e uma mulher na casa dos 30 anos. No final da avenida, de um lado havia um campo de futebol com arquibancadas, do outro uma pista de corrida de cavalos. Essa pista dava nos estábulos que ficavam mais adiante.
- O senhor tem cavalos aqui?
Dan perguntou assim que notou a pista.
- Sim. apenas três. Acabaram de chegar ontem mesmo.
Dan não disse mais nada, então ele propôs :
- Quer conhecer os cavalos?
- Não. Podemos seguir conforme o senhor planejou.
- Não seja grossa, Dan!
Artur a repreendeu. Ele estava louco para conhecer os animais. Ele tem apenas um cavalo de raça o qual lhe deixou bastante endividado.
Acabaram caminhando um pouco mais até os estábulos.
Artur e Ávila ficam embasbacados com a beleza dos animais e sua imponência.
- O que achou, Dan?
Otilo observava o rosto de Dan, a procura de alguma emoção, um deslumbre ou mesmo insatisfação. Ela olhava os animais à distância já que seu pai e irmã tomavam toda a cena.
- São... Bem fortes.
- Ainda vamos caminhar mais? Estou cansada.
Reclamou Ávila.
- Acho que vimos tudo por aqui, agora vamos visitar o local onde estamos montando os secadores.
- É muito longe, Otilo?
Ávila queria demonstrar intimidade e já o chamava pelo nome com sua voz manhosa.
- Sim, mas iremos de carro.
Fizeram caminho de volta para casa. Otilo aproveitou para puxar conversa com Dan mais uma vez.
- Você tem um cavalo, Dan?
- Sim, ganhei de presente dos meus vizinhos quando fiz 12 anos.
- E qual sua idade agora?
- 19.
- Hum, está com ele há bastante tempo. Devem ter um laço muito forte.
- Sim, temos.
- Gostaria de conhecê-lo.
- Não vale a pena.
- Porquê?
- Ele não é sangue puro com os seus. É mestiço.
- Por isso acha que seu cavalo não tem valor?
- Para mim ele vale muito.
Dan conseguia ver pelo canto do olho a frustração de Ávila. Afastou-se de Otilo e foi para junto do seu pai. Dessa forma, Ávila teria sua esperada abertura para ficar perto de Otilo.
- Pai, eu preciso acompanhar vocês nesse passeio?
Dan perguntou discretamente.
- Não, a menos que Otilo a chame.
- Está bem.
-Otilo, é verdade que você tem uma piscina aqui?
Ávila perguntou animada.
- Sim. Você gosta?
- Muito!
- Pode ficar a vontade para usá-la.
- Obrigada. você é muito gentil.
Ávila colocou sua mão no ombro de Otilo na tentativa de despertar algo nele.
- Pai, não irei com vocês ao secador. Estou cansada e prefiro dar um mergulho na piscina.
Ávila avisou seu pai assim que chegaram. Otilo havia entrado em casa e eles aguardavam na entrada.
- Tem certeza filha? Vamos de carro, não vai se cansar.
- Não quero ir.
- Achei que estava mais interessada no velho...
Artur sussurrou para ela.
- Não tem muito o que fazer com tanta gente ao redor, se ao menos fossemos dormir aqui.
- Deixe comigo.
Tramaram aos sussurros e Dan não podia deixar de se perguntar o que sua irmã viu em Otilo.
também se perguntava se seria uma boa ideia ficar com sua irmã, mas já havia dito ao seu pai que ficaria. A menos que...
- Desculpem a demora.
Pediu Otilo retornando do interior da casa com uma vasilha de plástico e uma caneca.
- Dan, eu trouxe esse lanche para você comer no caminho, como não conseguiu comer mais cedo, deve estar com fome agora e podemos acabar demorando.
- Eu não...
Dan ia recusar, mas os olhos do seu pai a encontraram, dando-lhe firmeza.
- Obrigada.
- Ávila, fique a vontade na piscina, já avisei as meninas da casa.
- Está bem Otilo, obrigada.
forçou um sorriso, mas estava odiando ver a atenção dirigida à sua irmã. Que valor ela tem para ser tratada assim?
Dan se ajeitou no banco de trás da caminhonete e se lembrou de João, o único que lhe fazia lanches fora de horário. Ele parecia sempre ter algo pronto para ela.
já eram quase 10 da manhã e ela estava mesmo com fome. Abriu a vasilha e encontrou dois mistos quente.
"Será que seu João está aqui?! "
Deu um meio sorriso antes de morder seu lanche. A caneca tinha café com leite e estava quentinho.
Artur falava muito, fazia inúmeras perguntas sobre a agricultura e Otilo respondia vagamente.
Desde que viu o meio sorriso de Dan através do retrovisor se perguntava se haveria chance de ver outra vez, pena que estava dirigindo e dando atenção ao Artur ao mesmo tempo.
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