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Como Amor E Alma

Prólogo

...** Nota da autora.**...

...Gostaria de começar me desculpando pelos erros na ortografia que provavelmente irão ocorrer ao longo da estória, pode ser que algo passe despercebido por mim, então fique à vontade para interagir ou até mesmo me corrigir nos comentários e assim que possível vou corrigir o texto também....

...... Está estória é uma ficção, alguns nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da minha imaginação e qualquer semelhança com a realidade é coincidência....

...As imagens utilizadas serão retiradas da internet e apenas uso como referência por características físicas similares aos personagens que idealizei, então a aparência de cada personagem fica a critério de vocês e das suas imaginações....

...No decorrer da narrativa pode conter conteúdos com temáticas sensíveis para alguns leitores, cena sexual explícita e palavras de baixo calão....

...Recomendado para maiores de 18 anos....

...Boa Leitura!...

...Por Andriéli Machado...

...****************...

...(Caterina Savóia)...

...(Eros Arvenitis)...

Começa........

...*Caterina*...

Olho o relógio e solto um enorme bocejo, estou totalmente acabada e sem dormir a aproximadamente 60 horas.

O meu estoque de café acabou, os meus olhos parecem estar com areia, tenho medo de tomar mais energético, pois já estou taquicardia, mas definitivamente não posso dormir.

Observo as pilhas e pilhas de relatórios financeiros das filiais do exterior, mais pilhas e pilhas de projetos prontos faltando apenas a análise financeira para saírem do papel e só de lembrar que eles precisam ser revisados meticulosamente, tenho vontade de morrer.

Tudo isso e um prazo muito, realmente, muito curto.

— Estou completamente ferrada, céus, eu preciso de férias. —

Resmungo sozinha, já no meu limite.

Sentada num sofá lindo e nada confortável, com o notebook no colo, mal consigo distinguir as letras miúdas que estão na tela.

Tive que fazer um escritório improvisado no terceiro quarto do meu apartamento porque o escritório que tenho aqui, está completamente destruído depois de uma grande infiltração nada comum para um lugar luxuoso como esse.

Eu adoraria não precisar de um escritório em casa, mas nem nos meus sonhos mais felizes eu conseguiria fazer tudo o que preciso somente nas minhas horas de trabalho na empresa.

— Desgraçado, isso nem mesmo faz parte do meu trabalho. —

Xingo novamente para o nada.

O desgraçado em questão é nada mais e nada menos que o meu querido chefe, chefe este que simplesmente esqueceu as suas obrigações com a empresa deixando todo o trabalho sob a minha responsabilidade.

Palavras dele "Sabe que só confio em você"

Mas a pergunta que não quer calar é....

E o maldito homem, onde está?

Bem, provavelmente o meu chefe está caído em alguma vala de Manhattan em coma alcoólico.

Óbvio que nem sempre foi assim, sei dizer exatamente como Eros Arvenitis foi de um dos Ceos mais bem pagos das Américas, para um bêbado abusado.

O presidente bêbado que também considero meu melhor amigo, só nem tanto nesse momento, é a prova viva de que Deus tem os seus favoritos, mas nem mesmo os favoritos se salvam do destino quando ele quer pregar uma peça.

Eros Arvenitis é lindo, simplesmente a própria versão humana do deus grego ao qual o seu nome pertence.

Deus Eros.....O seu Nicolau me falou sobre ele, Deus Eros, filho de Afrodite, Deus da paixão, do amor e do erotismo, na mitologia romana também conhecido como cupido.

Eros Arvenitis sem dúvidas merece o nome que tem, o próprio cupido que ele deveria homenagear com esse nome poderia ficar com ciúmes, pois, o homem roubou a beleza do universo para sí.

Claro que essa não é sua única qualidade, apesar de ser a que mais chama atenção das pessoas normalmente.

Eros é um dos homens mais inteligentes que já conheci e posso dizer que conheço muitas pessoas inteligentes.

Ele também é educado, bem-humorado, gentil, criativo, honesto, atencioso, até um tempo atrás ele era super discreto e pateticamente engomadinho, entre outras mil qualidades que no momento, eu odeio.

Ele é tudo isso sem contar o fator que para mim, é irrelevante, mas com certeza é importante para os outros.

Fora a sua beleza, Eros é ''apenas'' um dos homens mais ricos e bem conceituados dos Estados Unidos.

Eu entrei nessa loucura de empresa ainda na época do Nicolau, seu pai, confesso que eu era muito feliz sendo funcionária dele, já com Eros é bem diferente, vivemos uma relação de amor e ódio, só que o sentimento de ódio as vezes domina tanto, que o amor é imperceptível.

Trabalhar com Eros tem sido ainda mais exaustivo que com o seu pai, nós definitivamente não temos uma boa relação no momento, apesar de eu ainda ver ele como meu melhor amigo.

Nossas brigas mais o adicional de trabalho excessivo me mantém a um fio muito fino de perder a sanidade.

MAS EU POSSO RECLAMAR? CLARO QUE NÃO.

O meu carro lindo e novíssimo com apenas algumas semanas de uso e o apartamento dúplex em uns dos prédios residênciais caros de Manhattan são dois dos motivo de eu fazer isso sorrindo.

Fora é claro, meu salário gordinho e os diversos planos, comissões e facilidades que meu ótimo trabalho me dá.

Como eu consegui tudo isso? Bem, eu mal saberia dizer, talvez uma série de coincidências, pessoas boas e muito esforço da minha parte.

Meu celular toca e eu acabo dando um salto com surpresa, percebo então o tempo que perdi divagando em meus pensamentos, olho o relógio, são 3 da manhã, meu "maravilhoso" chefe esta me ligando e já sei que não pode ser nada de bom, eu atendo cansada.

— Você me ligou minha pequena Alma?—

Ele fala pausadamente de uma forma muito arrastada e bem humorada.

— Senhor Arvenitis, eu liguei no período da tarde para discutir sobre alguns documentos. —

Tento ser o mais formal possível, dar liberdade para Eros é um caminho sem volta.

Ele geme como se as minhas palavras o causassem dor.

Eros era muito equilibrado emocionalmente e também sempre foi super profissional, ele me chamar de pequena Alma e me ligar durante a madrugada só pode significar que ele está mais uma vez, bêbado.

Tem sido recorrente nos últimos meses.

— Não fale comigo tão formalmente, meu pai é o senhor Arvenitis, me chame pelo meu nome ou talvez Dionísio, além de Eros, ele é o único Deus que me representa.— Ele fala um pouco alegre de mais e finaliza com um soluço.

Penso um pouco para tentar entender o que ele quer dizer.

— Aaaaaa sim, lembrei, Dionísio era o Deus da festa, do vinho e prazer, não é mesmo? —

Pergunto rindo da situação, Eros perdeu totalmente a noção.

— Eeeeeeee —

Ele fala tão alto que preciso afastar o celular do ouvido.

— Você fez a lição de casa direitinho.—

— Seu pai me deu muitas aulas sobre a mitologia grega —

Não sei porque, mas ainda me prestei a explicar.

— Me diga então o que meu nome significa "mikrí theá" — ele termina a frase dizendo "pequena deusa" em grego.

Respondo ríspida em grego também.

— simaínei na éfchesai me pollí agápi — significa "desejar com muito amor".

Por que diabos eu ainda respondo ele?

Escuto Eros bater palmas do outro lado da ligação animadamente.

— Adorável, simplesmente perfeito, mas você sabe que o meu nome basicamente deu origem as palavras erótico e erotismo, não é? Você é sempre tão romântica que faz questão de esquecer que eu não sou apenas amor, mas também a mais pura luxúria. —

Ele diz isso em um sussurro que melaria meio país de calcinhas, mas não a minha.

— Estou feliz da mesma forma, parece que a minha Italiana preferida está simpatizando com a cultura vizinha. —

Perco a paciência tão rápido quanto a ganhei.

— Já chega seu Stronzo, o que você quer a essa hora?— Falo um pouco rosnando, totalmente alterada.

Ele soluça entre uma gargalhada.

— Não me chame de babaca em italiano, eu conheço bem o idioma e também sou o seu chefe, me respeita garota, uhuuuum.... Acredita quê perdi a minha carteira? —

A última parte ele diz num sussurro, como se não quisesse que eu escutasse de fato.

Reviro os olhos exausta.

De novo não, seu grego cretino dos infernos.

— Venha me buscar, já mandei minha localização. — Ele exige, isso realmente não foi um pedido.

Tento não perder a linha fina de sanidade que resta e respiro fundo antes de responder.

— Eu estou sem dormir a três noites trabalhando por nós dois, são quase quatro da manhã Eros, eu definitivamente não vou te buscar seja lá qual for o buraco em que está enfiado. —

Concluo a frase com bem menos calma do que quando comecei.

— Eu mal consigo ficar com os meus olhos abertos e você se tornou um alcoólatra que me da muito trabalho, não vou mais passar a mão sobre a sua cabeça, me esquece. —

Tento não gritar, mas eu estou gritando.

Paro de falar esperando sua resposta certamente sarcástica e escuto ele roncando.

— Eros? ...EROS? ... Seu imbecil filho da mãe, não acredito que dormiu. — Grito indignada, já imaginando o estado que ele se encontra.

Droga.

Desligo o celular e respiro fundo, lembra quando eu falei sobre termos uma relação de amor e ódio?

Pois é, nessas horas preocupantes o amor fala mais alto.

Me levanto apavorada, imaginando que o pior já possa estar acontecendo com o infeliz, não tive tempo de trocar de roupa por uma mais confortável quando cheguei do trabalho, então saio de casa como estou.

Corro para a sala, pego a chave do meu carro e quando estou pronta para sair, as luzes se acendem.

— Filha? — Minha mãe fala, me olhando assustada.

DROOOOOGA, eu tinha esquecido completamente que minha mãe estava passando uns dias aqui comigo para não ficar sozinha, já que minha tia que mora com ela foi ao Brasil a passeia.

— Mãe....—

Tento falar, mas realmente não sei o que dizer, minha voz sai falha como uma criancinha sendo pega fazendo algo errado.

— O que houve? É madrugada, por que não está dormindo?— Ela pergunta com certa preocupação.

— Eros precisa de mim mammina.—

Respondo o mínimo possível e de uma forma doce, apelando para o típico mamãe em italiano, pois sei que ela ficará assustada se souber o estado dele, o infeliz é quase um filho para ela.

— De novo? Mas ele está bem? Mio dio proteggi il mio ragazzo. —

Ela começa a rezar em voz alta antes mesmo de saber o que está acontecendo.

— Eros está melhor que nós duas juntas, ele só precisa de mim, sabe, em típicos momentos inoportunos como agora. —

— Menos mal, mas ele está ficando acostumado a correr para você sempre que algo acontece. —

Ela diz já mudando de preocupada para levemente irritada, minha mãe é tão sem paciência quanto eu.

A última vez que a minha mãe passou a noite aqui, ele ligou de madrugada como hoje e eu tive que sair correndo também e pelo mesmo motivo... Sua bebedeira e falta de noção.

Ela tem razão quando a falta de limites dele e eu concordo, mas é o Eros e quando o assunto é ele, eu dificilmente digo não.

— Você não pode ser o bote salva-vidas dele para sempre, está piorando com o tempo. —

Ela fala como se pudesse ler meus pensamentos.

Ela também esta certa sobre isso, mas continua sendo o Eros, o meu melhor amigo babacä.

— Eu sei mãe, vou resolver isso, prometo, mas agora preciso ir. —

Respondo meio envergonhada por saber que ela está certa e por saber que eu estou agindo como uma tonta.

— Pegue um táxi, você nem descansou, dirigir a essa hora é perigoso. —

Nisso a minha mãe também está certa, porém um táxi a essa hora será impossível de encontrar, além de absurdamente caro, não que isso seja um problema, mas Eros Arvenitis dentro de um carro qualquer, completamente alcoolizado no meio da madrugada junto com a sua diretora de finanças.....Bem, isso é uma ótima capa para os sites de fofocas.

Ele já tem sido alvo dos tabloides a meses, preciso tentar preservá-lo, pelo bem da empresa e também da família Arvenitis.

— Eu vou e volto rápido, prometo mammina.—

— Filha, espera...tenho um pressentimento ruim....não vai.—

Dou um beijo na testa dela e saio correndo ignorando o que ela ia falar, pois sei que acharia uma forma de me segurar em casa e eu preciso ser rápida.

Vou para a garagem do prédio, pego o meu carro e saio cantando pneu.

Ligo para o Eros três vezes, ele não atende, sigo a sua localização pelo GPS, começo a ficar realmente preocupada.

Felizmente a chuva que caia agora a pouco cessou, mas a pista está muito escorregadia então reduzo.

Eros está há 20 minutos daqui, dirijo sem ter certeza se consigo chegar, pois, nem a música alta me mantém alerta, estou exausta e quando percebo que estou prestes a cochilar.... paro com o carro.

— Farabutto! — Grito um palavrão para o nada.

Ligo para ele mais duas vezes sem sucesso, a chuva retorna com força, então percebo que seja lá onde ele estiver, eu não estou em condições de chegar.

Pego meu celular e ligo para única pessoa que me vem a mente.

Diácono atende e fala ainda sonolento — Caterina? Aconteceu algo? Que horas são? — Escuto um grande bocejo.

— Desculpa ligar essa hora, mas é urgente, seu irmão dormiu bêbado em algum bar da cidade, eu estou no caminho para encontrá-lo, mas Diácono, não consigo dirigir com essa chuva, também estou com sono, tenho medo de apagar no caminho. —

Diácono chinga Eros em grego de tantas formas e tão rápido, que mal sei distinguir o que ele diz.

— Eros perdeu completamente a cabeça, Caterina onde você está? Vou te buscar agora. —

Ele fala preocupado comigo, pelo barulho que eu escuto, ele já está de pé e se arrumando.

— Eu estou bem, vou esperar a chuva passar e voltar para casa, apenas busque seu irmão, estou muito preocupada. —

Digo isso quase implorando, estou enlouquecendo com a ideia de qualquer coisa ruim acontecer com Eros.

— Eros que se exploda, ele tem procurado por isso, vou buscar você agora. —

— Por favor Diácono, se você não for, serei forçada a seguir viagem. —

Ele rosna de raiva.

— Me manda a droga da localização, Cate. —

Eu agradeço, mas antes que eu consiga desligar e mandar a localização do Eros percebo luzes vindo na direção do meu carro.

Tudo acontece rápido de mais, ouso um grito forte que percebo tardiamente estar saindo de mim.

um enorme caminhão derrapa na pista e vem com toda a velocidade ao meu encontro, eu sinto o impacto forte, barulho de vidro quebrando, uma sensação de congelamento subindo por minhas pernas, uma dor alucinante na minha cabeça e durmo.

Capítulo 1

...*Caterina*...

...8 anos atrás.........

Observo o meu rosto no espelho e abro um sorriso enorme, finalmente terminei o meu tratamento odontológico e o detestável aparelho metálico cheio de borrachinhas foi para o lixo, só de pensar no quanto vamos economizar agora, me dá vontade de chorar, sem falar que para uma menina de 16 anos como eu, aquela coisa feia não ajudava, a contenção para que os dentes permaneçam alinhados é muito mais econômica e discreta, não precisarei fazer manutenções regulares, serão centenas de dólares que irão sobrar mensalmente.

Começo a fazer os cálculos na minha agenda surrada.

Anoto o valor do aluguel, eletricidade, água, aquecimento, manutenção geral do apartamento, valor gasto em alimentação, produtos de higiene e limpeza para o mês, contas como farmácia, medicamentos, valor das consultas com os médicos particulares, transporte, as parcelas exorbitantes de empréstimos e a fatura do cartão de crédito.

Céus, mesmo com a redução no valor do dentista esse mês não sobrará quase nada.

Vou pé por pé do meu quarto até a sala, os meus pais estão fazendo mais um aniversário de casamento hoje, juntei algumas economias, comprei pizza, refrigerante e uma caixa de bombom para eles, depois fui para o meu quarto mesmo com os dois insistindo em passar a noite em família.

Agora estou escondida no corredor assistindo os dois dançarem apaixonadamente uma música clássica italiana, o meu pai olha para minha mãe com tanta ternura, os olhos da minha mãe brilham completamente apaixonada e como a manteiga derretida que sou, estou chorando com a cena mais linda de todas.

Eles se amam muito, mesmo após 16 anos juntos e uma vida extremamente difícil.

Essa cena seria o momento épico de um filme clichê, se não fosse pelo fato deles estarem dançando sem sair do lugar, apenas embalando os seus troncos com calma.

O meu pai vive sob uma cadeira de rodas, com muita ajuda ele consegue ficar de pé por um determinado tempo, mas não muito.

O fato dele estar se esforçando tanto para estar dançando abraçado na minha mãe, junto ao fato dela também estar sustentando metade do peso dele com os braços, para mim, faz com que esse momento se torne ainda mais lindo e especial.

Um sempre fez tudo pelo outro, quando o meu pai começou a adoecer as coisas mudaram, mas o amor, carinho, dedicação e parceria deles, só aumentou.

Os meus pais são minha referência, a história de amor mais linda que já vi, não há livro de romance que se compare presenciar esse cuidado diariamente, eles são minha maior inspiração para vida e todos os tipos de reações que estabeleço.

A minha mãe se chama Anna e ela é estadunidense, se apaixonou perdidamente pelo meu pai em uma viagem de passeio para a Sicília.

Meu pai chamado Antônio, era um homem simples de família tradicional italiana, acostumado a trabalhar nas videiras desde muito jovem, nunca foi apegado a bens materiais e riquezas.

Anna o conheceu na cidade de Palermo, era época de vindima, o período do término da colheita das uvas e o início da produção do vinho, todos os anos a vindima é celebrada com enormes festas e foi em uma dessas festas que os dois se conheceram.

Jovens e apaixonados, meus pais aproveitaram todos os dias que a minha mãe passou na Itália, mas ela voltou para os Estados Unidos com um presente inesperado..............Eu.

Os meus avós maternos a abandonaram assim que souberam da gravidez, a minha mãe vinha de uma enorme e rica família, cuja ela faz questão até os dias de hoje de não ter contato.

A sua irmã mais velha, tia Luiza, foi a única que a apoiou, ajudou a encontrar o meu pai e contar sobre a gravidez, ele ficou muito feliz e não pensou duas vezes em largar tudo para vir morar com ela.

Anna cursava faculdade de gastronomia em Harvard, Antônio fez questão que ela continuasse com os seus estudos e usou toda a sua reserva de dinheiro para isso, ele conseguiu emprego na época e assim, os dois seguiram as suas vidas aqui.

A minha mãe não conseguiu continuar na faculdade depois do meu nascimento, então eles se mudaram com o dinheiro que sobrou na busca de trabalho e oportunidades melhores, o meu pai não tinha concluído seus estudos na Itália então todos os trabalhos que ele conseguia nessa época exigiam muito do seu corpo, minha tia Luiza ajudou sempre como pode, nunca faltou nada na nossa casa, principalmente afeto.

Fui criada falando os dois idiomas, aprendendo ambas culturas, mesmo sem conhecer a Itália.

Sempre estudei em boa escola, tive tudo o que precisei e quis, com muito esforço dos dois, mas quando fiz os meus 13 anos, meu pai adoeceu e os nossos dias se tornaram mais difíceis.

Uma forte infecção na coluna o deixou de cama, meu pai era daqueles homens que só ia ao médico quando estava no limite, por isso, foi muito difícil reverter o caso.

Na época eu não entendia direito o problema que ele tinha, vi a minha mãe trabalhar pelos dois e se exaurir, vi o meu pai chorar escondido por não conseguir trabalhar e ajudar com as contas.

As coisas não chegaram a faltar, mesmo assim eu não medi esforços para tentar ajudar, a dor deles era minha, sempre foi e eu queria ser o que eles eram para mim...... Segurança.

Aprendi tudo na cozinha com a minha mãe, fiz o que pude, mesmo com os dois sendo contra.

Eu nunca precisei ter grandes responsabilidades com dinheiro, eles sempre me proporcionavam o melhor que podiam e queriam que eu fosse focada apenas nos meus estudos, mas eu bati o pé, queria ajudar, o meu pai precisava de remédios caros e tratamento para ficar bom, então eles aceitaram a minha ajuda depois de muita insistência.

O meu pai mesmo em uma cadeira de rodas, me ensinou tudo o que sabia sobre sobremesas e salgados italianos, aparentemente, a minha ''nonna'' (avó) era uma ótima cozinheira e tudo foi passado para mim por ele.

A minha mãe sendo quase uma chefe formada, cozinhava com a gente e também trabalhava em um restaurante, meu pai e eu durante as tardes saíamos para rua vendendo cada guloseima que preparavamos, até mesmo na escola eu fazia um bom dinheiro com isso, na verdade, ainda faço.

Essa era a nossa renda, minha mãe e o meu pai faziam questão que eu estudasse, mas minha mentalidade sempre foi conseguir dinheiro e ajudar a minha família, isso me fez virar uma maluca por números, um pouco gananciosa e também muquirana.

Sempre tivemos o principal....Amor.....fui cercada de muito amor desde sempre, mesmo com todas as dificuldades.

Eu tinha o sonho e objetivo de ver o meu pai saindo daquela cadeira, mas em menos de um ano o seu estado só piorou.

O problema não era mais só a sua coluna, percebemos que a infecção não podia deixá-lo por tantos meses daquela forma e com muito esforço, pagamos todos os médicos e exames que ele precisava.

Então a bomba veio uma semana antes dos meus 14 anos.

Esclerose Lateral Amiotrófica foram as palavras do médico, uma doença degenerativa do sistema nervoso, que acarreta paralisia motora progressiva e irreversível.

Os neurônios se desgastam ou morrem e não conseguem mandar mensagens aos músculos.

O estágio do meu pai era avançado, prefiro não relembrar essa época de desespero, ele sentia dores insuportáveis ao caminhar e usava a cadeira de rodas por ordem médica até então, ele movimentava todo o corpo, caminhava em casa com ajuda das muletas, mas aos poucos as pernas ficaram mais fracas e ele já não conseguia dar mais de três ou quatro passos, começou a afetar os dedos das mãos e foi dai para pior sem o tratamento caro, que obviamente, não tínhamos condições de pagar.

Nós três aprendemos a lidar com a doença, amor e paciência sempre são o melhor remédio para tudo.

Passamos anos difíceis, com pouco dinheiro, como agora, onde contei alguns trocados para eles terem uma noite legal comendo uma pizza, mas cada segundo vivendo com dificuldades vale a pena porque estamos juntos.

...****************...

Me formei com honras e em primeiro lugar na escola com apenas 16 anos, dois anos antes que todos os meus colegas, melhor aluna, melhores notas, tudo para orgulhar eles dois e poder dar a eles conforto no futuro.

Os meus pais choraram ao ver eu me formar, eu chorei de felicidade por tê-los aqui comigo.

Todos esses anos eu estudei e segui sempre trabalhando, nunca parei, mesmo sendo uma adolescente, nada de formaturas, vestidos os gastos bobos, eu estava sempre vendendo os meus doces e salgados, fazendo algumas faxinas, ficando de babá, cuidando de animais domésticos e qualquer coisa que aparecesse, mesmo que escondida deles.

Não foi fácil, mas eu consegui ajudar.

Assim que me formei nos mudamos para Cambridge, essa foi a cidade onde nasci, a minha mãe foi chamada para trabalhar em uma das cantinas de Harvard, ela tinha muitos amigos professores da época em que estudou e assim que abriu uma vaga boa, a minha tia ligou e não foi difícil da minha mãe ser contratada, o salário era bom e tinha um plano de saúde que cobria parte dos medicamentos do meu pai.

Eu não tinha intenção nenhuma de entrar em qualquer faculdade, no máximo fazer um cursinho, eu precisava de um trabalho com urgência, mas meus pais me obrigaram a fazer todos os processos seletivos para diversas universidades incluindo Harvard.

E foi nesse meio tempo que conheci o meu atormentado melhor amigo, Eros Arvenitis.

Capítulo 2

...*Caterina*...

Assim que chegamos na cidade demoramos cerca de uma semana para nos organizarmos completamente, alugamos uma casa perto do campus que já vinha com mobília e duas semanas depois a minha mãe conseguiu um trabalho para mim em uma cafeteira que também era da universidade, eu chorei tanto de alegria que lembro de ir os primeiros dias com os olhos inchados para trabalhar, o meu pai ficou decidido que iria seguir vendendo os nossos salgados e doces sozinho e assim como disse, ele fez e deu muito certo.

Ele aprendeu a fazer quase tudo com as suas limitações, ele era incrível, de manhã cedinho acordava com nós duas e saía para vender os seus quitutes na rua em pontos estratégicos perto da universidade, ele foi ganhando clientela fixa rapidamente e ficou bem conhecido por todos como o tio do lanche.

Onde vivíamos antes muitas pessoas eram preconceituosas e também tinha as antigas colegas que tentavam fazer bullying comigo por conta do meu pai.

Nunca aceitei isso e nunca levei desaforos para casa, meu pai era tudo pra mim e eu o defendia com minha vida, não posso fingir que não dei trabalho, ele e minha mãe tiveram que ir algumas vezes na escola, mas depois da primeira turma de valentões levar alguns bons tapas na cara por me provocar, nunca mais tive problemas com isso, na escola todos sabiam que eu revidava e não precisava de muito, a minha língua também sempre foi tão afiada quanto uma lâmina, mas sinto que agora vou ter mais sossego aqui.

Na cafeteria onde trabalho foi que comecei a fazer amigos de verdade, sem tantos problemas financeiros e com a saúde do meu pai sendo tratada, consegui relaxar mais e aproveitar, agora sinto que a minha vida realmente começou e na minha segunda semana trabalhando conheci a minha melhor amiga Selene.

— Bom dia, eu quero um expresso duplo. —

 Ela me pede sem humor algum.

Eu arregalo os olhos, essa menina vem todos os dias aqui e sempre toma cappuccino com umas quatro colheres de açúcar, o ano letivo recém começou para os veteranos e ela já parece destruída.

Quando percebo minha falha mantendo uma expressão nada discreta, tento reverter com um sorriso morno.

Ela ri.

— Semana de revisão do ano anterior, preciso acordar e eu estou irreversivelmente ferrada, pois, as férias apagaram totalmente a minha memória, talvez o café seja meu veneno e consequentemente a minha fuga.—

 Ela fala com humor, mas suas olheiras escuras e fundas a entregam.

Acabo rindo.

— Tente não morrer aqui, eu preciso desse emprego. —

Essa foi a primeira conversa que tivemos e a partir daí nos tornamos boas amigas, falávamos por horas sempre que ela vinha ao café, na verdade, esse café era o lugar favorito da maioria dos alunos.

Dias depois lá estava ela como sempre reclamando.

— Eu vou morrer e não vou conseguir fazer esse cálculo. — Ela fala passando as mãos no cabelos, frustrada.

Eu faço a volta no balcão e olho para o seu caderno.

— Isso é Álgebra Linear. —

Falo como se não fosse nada.

Ela me olha chocada.

— Você sabe o que é isso? —

— É óbvio, pensei que quase todo mundo soubesse. — Respondo tranquila, enquanto ela faz uma cara de maluca.

— Óbvio? Menina eu estou morrendo aqui e você diz óbvio? Senta e me ajuda, eu tenho meia hora. — Ela fala quase gritando.

Eu rio e olho o movimento, estou trabalhando sozinha essa manhã e não tem mais nenhum cliente.

Eu sento e explico para ela tudo que eu sei sobre o conteúdo, Selene só falta beijar meus pés ao sair do café.

— Eu te amoooo, eu te amoooo.— Ela sai gritando e saltitando.

Fico rindo sozinha.

...****************...

Duas semanas passou desde que os veteranos voltaram as aulas, agora é época de receber os novos alunos e como me inscrevi atrasada, eu precisaria conseguir a vaga de alguém que desistiu, então veio os resultados e eu passei para a última etapa da entrevista em Harvard, a vaga poderia ser minha e claro, eu só conseguiria porque todos conheciam a minha mãe e logo me conheceram também, sei que muitos dos reitores me ajudaram para entrar na seleção.

O meu pai e a minha mãe choraram como crianças quando viram o que dizia na carta que recebi, me obrigando a fazer o teste final ao qual eu passei em primeiro lugar.

Percebi que não deveria ter feito os testes quando os dois me sentaram no sofá implorando para que eu entrasse, já que ligaram avisando que minha vaga tinha surgido após uma desistência.

— Impossível, não temos esse dinheiro. — Tento manter o tom o mais neutro possível.

O meu pai começa o textão antes da minha mãe.

— Se não por você, faça por mim, sempre sonhei em te proporcionar uma boa formação, finalmente podemos te dar isso e você se esforçou tanto a vida inteira, sou um homem doente Caterina, isso não vai mudar, mas você tem uma vida inteira pela frente e...—

Eu levanto a mão o interrompendo, nada de mais empréstimos ou mais dívidas, nós já estamos enforcados em contas, muitas contas, mesmo com as minhas notas, com todos os descontos e possibilidades que professores, conselheiros e até o reitor conseguiu, o orçamento não chegava nem perto de bater.

— Não termine, por favor.—

Digo com tom de voz neutro, essa será uma conversa difícil.

Respiro fundo para conseguir continuar.

— Não façam isso comigo, vocês dois sabem melhor que qualquer um, eu sempre me esforcei por vocês, agora chega, me permitam viver como eu quero, a minha prioridade é estarmos bem, juntos e principalmente você papai, eu preciso de você com saúde. —

— Se quer o meu bem faça o que peço, eu não vou sair dessa cadeira minha filha, nem com o melhor tratamento do mundo, só posso viver os meus sonhos através de você, te proporcionar algo é tudo que desejo, já me culpo o suficiente por não ter te dado uma juventude melhor.—

Respiro fundo já em lágrimas, não consigo lidar com isso, meu pai desmonta todas às minhas defesas.

— Eu...eu...P-preciso de ar.— Sussurro, já sem condições de falar qualquer outra coisa.

Viro as costas e saio de casa, é a terceira discussão que eu tenho com o meu pai sobre a faculdade e dessa vez ele pegou pesado.

Ele quer interromper a fisioterapia, tirar um grande empréstimo, cancelar o acompanhamento médico e todo o tratamento para pagar a minha faculdade, pensei que a minha mãe me apoiaria, mas ela ficou do lado dele.

Sai de casa chorando, tudo o que quero é poder manter o tratamento dele, vivemos com dificuldades mesmo com os nossos trabalhos árduos porque a saúde dele sempre será nossa prioridade.

Como pode os dois pensarem que eu conseguirei estudar com ele definhando por minha culpa?

Me sento em um banco no parque próximo a minha casa, fico chorando e olhando a noite por mais tempo que esperava, percebi ser tarde da noite, quando só a escuridão estava presente.

Quando estou prestes a levantar para ir embora, escuto alguém.

— Eiii, você não é a Cate, amiga da minha irmã? —

Grita uma voz masculina que reconheço quase de imediato.

Forço o meu olhar para a escuridão, sob uma árvore a alguns metros de mim, Eros Arvenitis está sentado no chão com suas costas encostadas no tronco e seu caderno de desenho em mãos.

— Você é o Eros, certo? Irmão gêmeo da Selene.—

Ele assente com a cabeça, levanta do chão e caminha até onde eu estou.

— Sua irmã me falou sobre você, te vejo todos os dias na cafeteria, você sempre pede café gelado sem açúcar. — Digo mais nervosa que o habitual.

— Exato. — Ele dá um sorriso fraco.

Eros senta ao meu lado e observa o céu, acabo fazendo o mesmo, ficamos assim em silêncio durante minutos até ele finalmente falar.

— Desculpe dizer isso, mas eu vi você chorando, estou a bastante tempo te observando. —

Me viro para ele incrédula, por que diabos ele estava me olhando?

— Quero te dar algo. — Ele diz repentinamente e eu fico mais confusa do que já estava.

Ele destaca uma folha do seu caderno e me entrega, observo o desenho que aparenta ser alguém que caiu na água ou está se afogando.

— É lindo. — Falo assim que termino de observar a arte com atenção.

— Desenhei você, esse é o meu último desenho na verdade e ele é seu, um presente.— Ele diz com a sua voz um pouco trêmula.

Olho para ele confusa.

— Último? —

— Sim. —

— Por quê? —

— Vou largar o curso de artes visuais, não pretendo mais desenhar. — Ele diz em um sussurro.

— Mas... — Começo, mas me calo.

Melhor não falar, não sou ninguém para discutir sobre o futuro de outra pessoa e ele definitivamente, não me deve satisfação.

— Me conte o que me faz te ver se afogando e eu contarei porque também me sinto assim. —

Ele quer saber sobre mim, o motivo de eu estar triste, ele quer que eu desabafe para também desabafar.

Respiro fundo, por algum motivo falar com ele me parece certo, afinal ele não é um completo estranho, mal não vai fazer.

Digo sem rodeios.

— Eu passei em Harvard.—

Ele sorri genuinamente.

— Isso é incrível, parabéns, parece que vamos nos ver com mais frequência.—

— Sendo sincera, isso é terrível.— Fasso uma careta.

Ele fica surpreso e eu explico.

— Meus pais sonham com isso, mas nem de longe temos condições para que eu entre em qualquer universidade, quanto mais Harvard. —

Ele fica pensando por um tempo.

— Seu pai é o seu Antônio, certo? O tio do lanche. — Ele diz me deixando surpresa.

— Sim, de onde conhece ele?—

— Compro sfogliatella dele quase todas as manhãs antes da faculdade, sei de você por minha irmã ser uma tagarela, ela esta animada com a nova amiga, mas seu pai também adora expressar todo o amor que tem por você, às vezes, até acabo me atrasando ouvindo as histórias dele.—

— Ceús, que vergonha.—

Digo totalmente ruborizada.

— Nesse caso se conhece ele, você deve saber que eu não posso...—

Ele me interrompe.

— Ele te ama, seu pai quer o melhor para você, não fique assim, é só...Amor e cuidado. —

Acabo deixando as lágrimas voltarem, Eros me observa atentamente.

— Quando vejo os seus problemas, os meus parecem minúsculos.— Declara sem humor.

— É a primeira vez que falo com você e você já sabe muito sobre mim, comece a falar ou vou ficar ofendida. — Digo em meio as lágrimas com um bico exagerado, na verdade só quero mudar de assunto.

Ele ri e começa a falar.

— Meu pai tem planos para o meu futuro, ser um artista não está neles, eu tenho tentado lutar, mas é inevitável, vou começar nos cursos que ele quer em uma semana, junto com os novatos.

— Qual curso? — Indago.

— Ciências contábeis, administração e Recursos Humanos. — Responde com tristeza.

Ceús é muita coisa.

— São ótimos cursos.— Comento tentando animá-lo um pouco.

— Você faria? — Ele pergunta de uma forma humorada.

— Claro que sim, é um leque de possibilidades, mas minha prioridade seriam ciências contábeis, gosto de trabalhar com números.—

Respondo de imediato, pois não tenho dúvidas sobre o curso que seguiria se tivesse a possibilidade.

— Faria mesmo essa droga por amor? — Ele pergunta indignado.

— Ninguém faz finanças por amor, mas é o mais fácil para conseguir um emprego bom, ainda mais sendo formado em Harvard, seria minha primeira opção por conveniência.—

— Entendo... E se você conseguisse uma bolsa? —

Penso por um tempo antes de responder.

— Eu ainda preciso de um trabalho, não posso viver a custa dos meus pais por 4 anos, simplesmente não é uma possibilidade com o meu pai tão doente. —

— E eu tendo todas as possibilidades na mão, sem querer qualquer uma delas. —

Ele ri de si mesmo e continua.

— Eu não posso ser um artista, você não pode continuar só trabalhando como deseja sem decepcionar eles, parece que o mais fácil é deixar as coisas acontecerem.—

— Tem várias formas de conseguir uma bolsa de estudos, mesmo que não seja integral, tente fazer do modo deles, se não der certo, você tentou.—

Eros me aconselha com um sorriso cheio de esperança.

— Os seus pais merecem a chance de te ver ser alguém, eles te amam, nada além disso importa e também, se você for minha colega, talvez eu não corte os pulsos até o fim do ano. —

Eros da um beijo no meu rosto, vira as costas e vai embora, me deixando sozinha e pensativa.

Observo o seu desenho.

É lindo.

Parece que eu realmente estou me afogando...

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