Pelas ruas escuras de São Paulo, Graziela caminha sozinha, após mais uma noite trabalhando como garçonete num barzinho.

Então, ela acaba vendo um carro parando próximo a ela. Porém, ela não sente medo, pois reconhece o carro. Se trata de Samuel, o seu namorado. Graziela acabou aceitando namorar com Samuel após muita insistência do homem, que sempre está cuidando bem dela, se importando, dando á ela toda a atenção que falta dos seus pais.

Graziela é filha de um casal conhecido na cidade onde moram. Os seus pais são empresários, e possuem uma pequena loja na cidade.

— Boa noite, querida! — Samuel desce do carro, e abre a porta do carro.

— Boa noite! — Graziela sorri, e entra no carro.

— Por que não me ligou avisando que sairia mais cedo do trabalho? Eu poderia vim lhe buscar, meu amor.

— Eu não queria lhe incomodar, Sam. Está tudo bem! — Ela sorri e ele lhe dá um selinho e um beijo na testa.

— Eu quero falar com os seus pais hoje, para lhe pedir em casamento.

— Em casamento?

— Sim. Já namoramos há alguns meses, e você sabe que o meu sonho é me casar com você. Lhe levar até o altar, e lhe fazer minha esposa, para que todos saibam que eu tenho uma mulher maravilhosa ao meu lado!

Graziela dá um sorriso, e durante todo o trajeto, ela segue pensando nas palavras de Samuel. Graziela cresceu num lar sem amor, sem carinho, sem afeto, vendo tudo ser dado apenas para a sua irmã mais velha, que para os seus pais, sempre foi um exemplo.

Mesmo que se pareçam muito, Dalila é mais velha que Graziela dois anos, além de Graziela ser uma mulher determinada, independente, que batalha pelo o que deseja. Já Dalila, é uma mulher ambiciosa, gananciosa, que joga sujo somente para conseguir o que quer.

Durante o trajeto, Graziela se pergunta se o que é está fazendo é o correto, já que ela não ama Samuel, e somente está nesse relacionamento com ele para suprir a falta de carinho, de amor, que sempre foi lhe dado somente por uma funcionária da casa, que sempre a cuidou com muito carinho.

Em casa...

Dalila desce as escadas aos berros, enquanto a sua mãe desce logo atrás, tentando alcançar a filha, que se permanece completamente irredutível.

— Dalila, escuta o seu pai! Isso será para o bem da nossa família, minha filha! Se o seu pai for morto por esse bandido, todo mundo saberá que o seu pai estava envolvido com a milíci, além de todos os negócios sujos que ele se envolve! Não se esqueça que é desses negócios que nossos luxos são bancados!

— Mãe, eu NÃO VOU ME CASAR COM ESSE MALDITO TRAFICANTE! Mamãe, esse homem dever ser rídiculo, todo coberto de tatuagens, além de ser um brutamontes que vai colecionar suas putas, me espancar, me forçar a ter sexo com ele, e eu não quero essa vida pra mim! A minha vida nunca foi numa comunidade! EU NÃO NASCI PARA MORAR NUMA FAVELA! Porque ele não deu a Graziela em casamento? Ela sim se dará muito bem como favelada, porque vive se metendo em brigas de rua por diversão.

— Filha, você sabe bem que a Graziela nunca aceitará se passar por você. A sua irmã logo vai contar tudo e acabar com todos os nossos planos. Sem contar que, ela vai se casar com o Samuel.

— Eu que deveria se casar com Samuel! O Samuel é bonito, bilionário, e com toda a certeza vai me dar a vida de princesa que eu mereço. Se existisse uma maneira de eu me casar com o Samuel e aquela sonsa se casar com o maldito traficante...

Ela olha para a sua mãe que dá um sorriso de lado, como quem acabou de ter uma ideia brilhante. Danilo desce as escadas e vê a filha e a esposa sentadas, e estranha a calma delas.

— E, aí? O que resolveram? — Ele cruza os braços.

— Amor, eu estava aqui pensando... Por que não casamos a Graziela com o traficante? Sim, porque a Graziela tem um jeito mais maloqueiro, é acostumada com as ruas e vai sair muito bem com o traficante.

— Fico maluca, Graça? De onde tirou essa idéia maluca?! Tu conhece a sua filha. Aquela imprestável colocaria tudo a perder, assim que abrisse aquela maldita boca! Ela gritaria aos quatro cantos do mundo, que ela não é a Dalila, e sim, a Graziela.

— Meu amorzinho... senta aqui, que eu vou lhe explicar todo meu plano...

Mesmo não concordando com a esposa, Danilo se senta, e começa a ouvi-lá com atenção. Conforme ele vai ouvindo a esposa, o seu semblante muda, passando agora a gostar da proposta.

Sem imaginar o que está para lhe acontecer, Graziela chega em casa juntamente com Samuel, que abre a porta do carro para ela descer, sob o olhar de inveja e ódio de Dalila, que observa tudo da janela.

Os dois entram em casa, e Samuel cumprimenta a família.

— Boa noite! — Ele sorri.

— Boa noite, caro genro. — Danilo responde.

— Como vai, querido? — Graça pergunta.

— Vou bem, e a senhora?

— Muito bem, graças á Deus! Sente-se, por favor. Pode ficar á vontade...

— Obrigado. — Samuel se senta ao lado de Graziela, segurando carinhosamente a mão da moça.

— Deseja algo para beber? — Danilo oferece.

— Não, senhor. Eu vim aqui para conversar com vocês a respeito do meu futuro com a Graziela. Como sabem, nós estamos juntos a dez meses, e decidimos que está na hora de darmos um próximo passo na nossa relação, e é por isso que eu vim aqui pedir a mão da Graziela em casamento. Eu primeto que cuidarei muito bem dela. Sempre respeitando, dando carinho, e oferendo além do meu amor, cumplicidade e lealdade, a vida de rainha que ela merece.

Ele sorri, olhando para a moça, que retribui o sorriso.

— Será uma grande honra! — Danilo sorri. — Confiarei a ti o meu bem mais preciso! Cuida bem dela, ok?

Danilo sorri, dando um aperto de mão no rapaz. Mas, nesse momento, algo faz com que Graziela se arrepie dos pés a cabeça, como se pressentisse que algo muito ruim a espera.

Os raios de sol invadem o quarto de Magnus, que coloca os braços no rosto para tentar abrir os olhos.

— Bom dia, filho! — A mulher puxa o cobertor.

— Bom dia, mãe! — Ele puxa o cobertor de volta.

— Magnus! Vem, vamos levantar, porque está na hora de você ir para a boca. O seu pai já foi pra lá, e só está lhe esperando para agilizarem as últimas coisas para o seu casamento.

— Sério? Vocês ainda insistem nessa sandice?

— O homem se senta, e esfrega o rosto, e olha para mãe.

— Não é sandice, Magnus! Você precisa se casar, meu filho. Você merece uma boa esposa, que possa caminhar o seu lado. Não vai ser um bicho de sete cabeças, meu querido! A maior prova disso, é o meu casamento com o seu pai. Você era muito novo na época para se recordar da minha chegada na vida de vocês, mas o amor entre mim e o seu pai foi nascendo com o tempo. E, sei que com essa tua esposa será a mesma coisa!

— A diferença é que eu não acredito mais no amor, mãe! — Ele cruza os braços, e olha com o seu semblante sério de sempre.

Magnus é um homem de quase dois metros de altura, que apesar de ter um bom coração com aqueles que merecem, ele é um homem frio, calculista e marcado pelo passado.

— Isso não importa, meu querido. Por mais que não acredite agora, eu sei que esse casamento lhe fará muito bem.

— Como pode ter tanta certeza, mãe?!

— Mãe sabe, meu querido. Uma mãe sempre sente!

Ela acaricia o rosto do filho, e ele dá um sorriso de lado. Magnus é bem respeitado onde ele chega. Todos conhecem sua fama: o homem que dizimou a sua família materna biológica, sem piedade alguma. Além de traficante, Magnus também é herdeiro de um Cartel mexicano, do qual o seu pai ainda toma conta.

Alguns minutos depois, ele desce as escadas, e dando um beijo na testa da sua mãe, ele coloca a sua pistola na na cintura, juntamente com o seu radinho e vai para a boca. Assim que ele entra, ele ouve gemidos diversos vindo de uma repartição da boca, e assim que ele abre a porta, ele vê uma mulher comais cinco vapores.

— Magnus?! — A mulher se senta na mesa.

— Nem se incomodem com minha presença. Podem continuar.

— Tu não vai fazer nada? — Ela questiona.

— Por que eu faria? — Ele responde seco, sem eboçar reação alguma e fecha a porta.

Assim que a porta é fechada, os gemidos voltam a ser ouvidos, mas Magnus nem se abala. Ele segue o seu caminho, e chega até a sala principal, mas ela está vazia. Ele então de senta na sua mesa, e o seu pai então entra.

— Filho, que bom lhe encontrar aqui. Achei que eu fosse lhe encontrar na festa que está rolando do lado de fora, e nem por isso quis entrar.

— Sei. — Ele dá um sorriso de lado e indo até o frigobar, ele pega uma garrafa de água e dá alguns goles. — O que tem para falar comigo?

— Filho, eu estava agilizando alguns documentos para o seu casamento. Ele será feito por um juíz de minha confiança, porque eu não tenho a menor confiança naquele miliciano filho da püta.

— Pai, eu ainda não entendi o motivo de eu ter que me casar com uma filha desse homem. Por que eu? Por que não o Patrick? Ele se daria melhor com isso do que eu. O senhor sabe como eu sou. Conhece o meu jeito de ser.

— Justamente por isso que você foi escolhido, meu filho. Eu conheço bem o seu caráter, sei que cuidará da sua esposa e zelarará por ela, mesmo que não exista amor entre vocês. Mesmo sendo um casamento por um acordo, essa moça não tem culpa de nada. O que eu não desejo para a sua irmã, eu não desejarei pars a filha dos outros! Não tempos outra alternativa, a não ser esse casamento, mas não farei de qualquer maneira, a casando com um irresponsável, como o teu irmão. E, ainda acredito que ela vai quebrar essa pedra que existe aí no lugar do seu coração. Você é a minha cópia perfeita, filho! E, a Safira mudou isso em mim, assim que ela apareceu na minha vida.

Magnus somente observa as palavras do pai, e sabia que no fundo, o seu pai tem razão. Ele acena com a cabeça em afirmação, e o seu pai pega uns papéis e o entrega.

— Esse será o contrato de casamento.

Magnus pega o contrato e começa ler. Assim que ele termina de ler todas as cláusulas, ele olha para o pai e respira fundo.

— Tudo bem. Eu estou de acordo!

— Ótimo, meu filho. A sua futura esposa chegará hoje a noite.

— Hum...

— A sua mãe alega que será o casamento que vai parar o Complexo da Penha. — Ele dá risada.

— Do jeito que ela é, eu não dúvido.

Em São Paulo...

No dia seguinte, Graziela abre os olhos lentamente, enquanto sente a sua cabeça girando. Assim que tenta se mexer, ela nota que os seus braços e pés estão imbolizados com uma fita. Da noite passada, a moça só lembra do momento em que ela se despediu de Samuel, após o show de falsidade da família, tomou um suco e foi dormi.

Ao olhar para o seu corpo, ela nota que está com as roupas da sua irmã, e nesse exato momento, o seu pai entra na companhia de Graça e Dalila. Graziela nota que Dalila além de estar usando as suas roupas, escureceu o cabelo e o aumentou um pouco mais.

— O que significa isso?! Por que eu estou amordaçada e usando as roupas da Dalila? Que brincadeira é essa?!

— Não é uma brincadeira, querida filha! — Danilo se aproxima. — Você vai se casar no lugar da sua irmã, com o filho de um homem com quem tenho um acordo. Você vai assumir a identidade da sua irmã, e vai fazer tudo isso de bico calado.

— O quê? Ficaram loucos? NUNCA! Eu NUNCA vou me passar pela Dalila. Ouviram bem?

Danilo dá um tapa no rosto de Graziela, fazendo com que um fio de sangue escorra pelo canto da boca da moça.

— ESCUTA AQUI — ele puxa ela pelos cabelos — você vai SE PASSAR PELA SUA IRMÃ, PORQUE EU SOU O SEU PAI! Você vai fazer o que eu quiser, minha querida. Caso continue se negando, quem pagará muito caro, é a pessoa que você ama!

Ela dá play nas gravações, e Graziela arregala os olhos ao ver a sua antiga babá dormindo tranquilamente no sofá da sua casa, que está cercada por homens fortemente armados. Uma das câmera externas mostram um snaiper com a cabeça de Mariah na mira, para o desespero de Graziela.

Mariah foi babá de Graziela por muitos anos, mas para a moça, Mariah foi muito além disso. O único carinho, cuidado e proteção que ela conhece, veio da sua babá. Desde muito cedo, Graziela recebeu o desprezo dos seus pais, que sempre deram amor somente a Dalila, deixando bem claro a preferência pela primogênita.

— Veja bem, Graziela... — Graça paga o celular, e o aproxima de Graziela — Se você não cooperar, a sua doce e a amada Mariah vai pagar muito caro por tudo isso. A casa está cercada por homens fortemente armados, além de serem sanguinários e viris. Garanto que a Mariah não aguentaria uma festinha com mais de dez homens. — Eles gargalham. — É MELHOR VOCÊ SEGUIR TODAS AS NOSSA INSTRUÇÕES!

— Eu vou me casar com o gostoso do Samuel, porque eu mereço. Pode ficar com o traficante feio, bruto e coberto de tatuagens para você. — Dalila debocha.

— Por que vocês me odeiam tanto?! — Pergunta, com lágrima nos olhos.

— Porque, eu NUNCA quis ter você, garota. Eu sempre quis ter somente uma filha, que seria a garantia de uma vida boa. Eu menti sobre a paternidade da Dalila, matei o suposto pai dela, e consegui fazer com que herdasse a fortuna dele. Conheci um homem ainda mais rico que ele, e a intenção não era engravidar, e somente fazer sexo. Começamos a namorar, e eu consegui fazer com que ficassemos sem ter relações por um bom tempo, pois inventei que eu havia sido violentada sexualmente, e estava super traumatizada. Ele acreditou em tudo, mas eu acabei engravidando do Danilo, e eu até tentei lhe abortar, mas nunca dava certo. Então, decidi ter relações com o Dante, para faze-ló acreditar que ele era o pai do filho que eu estava esperando, e as datas não seriam um problema, pois mentiria, dizendo que você nasceu prematura. Só que, o Dante havia tentado ter filhos com a sua ex namorada, e ela nunca engravidou. Para estragar todos os meus planos, aquela desgraçada acabou engravidando de outro homem, e plantou a dúvida da paternidade na mente dele, já que ficou provado que o problema não era ele. Dante secretamente fez o teste de fertilidade, e descobriu a infertilidade. Eu até tentei questionar, dizendo que o teste estava errado, fiz o meu melhor teatro, jurando que eu não era uma mentirosa, mas, nada adiantou.Ele refez o teste mais três vezes em clínicas diferentes, e em todas três apontaram o mesmo resultado. Eu tive que fugir, tive que ir embora. Não era para você nascer! Se você não tivesse vindo, eu seria rica! Eu seria uma grande milionária, mas eu vou me livrar de ti. Você vai se casar com um homem frio, cruel, calculista, que vai fazer o que quiser contigo, e lhe matar quando sentir vontade, porque enjoou da sua cara! Espero que a sua morte seja lente e dolorosa, enquanto a sua irmã viverá uma vida de princesa ao lado do Samuel. Ela sim, merece uma vida de princesa!

Graziela segura firme, sem desabar no choro, por mais que esteja com vontade. Dentro do seu peito, ela súplica para que tudo seja muito melhor do que eles esperam, e que um dia, ela possa ver o karma para os três, que se dizem sangue do seu sangue.

Um homem alto e musculoso entra no quarto, a joga por cima dos seus ombros, e a leva até a garagem. A garagem tá casa é totalmente cercada, o que possibilita toda ação, sem que fosse testemunhada. Graziela então é colocada dentro do carro, e assim que Danilo se senta do seu lado, ele olha bem para a filha.

— Você agora irá para o seu novo lar, minha querida! Aproveite bem a viagem, e os seus últimos dias de vida. Não poderei ir ao seu funeral, pois será desovada em algum lugar como merece. Cuidado com o que fala, com os passos que dá, pois eu terei como saber de tudo. Morra sem abrir a maldita boca. Entendeu?! Até nunca mais.

Ele solta os braços dela, as pernas, as portas do carro são travadas, e o carro então segue, tendo como destino o aeroporto. Minutos após chegarem no aeroporto, eles descem embarcam no avião e ao seu lado está um homem, que trabalha para o seu pai. Ele será os olhos e ouvidos de Danilo.

Após uma hora de viagem, eles desembarcam na cidade maravilhosa, e um táxi os levam até a entrada do morro. Um vapor que já o esperavam os guiam pelo morro a dentro, e enquanto caminha pelo morro, várias perguntas se passam pela mente de Graziela.

Ela observa o morro, se perguntado se ali, a sua vida se findaria ou se iniciaria de verdade? Será que o homem que está destinado a ser seu marido, seria o seu algoz ou o seu recomeço, quebrando assim, todas as péssimas expectativas?!