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Amarrados ( Segundo Livro Dos Dois Filhos De Kalel)

O outro lado da história de Niger et Albus

Oi, tudo bem? Então, esse livro aqui é autônomo, mas se você quiser saber mais sugiro ler primeiro Predestinados pra conhecer melhor sobre o primeiro filho de Kalel. Boa leitura! ♥️

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Olá, eu me chamo Aestas* e vim contar pra você como o outro filho de Kalel entrou em sua vida naquela noite chuvosa. Vim dizer também como um jovem alegre, destemido e sem tempo para compromissos se viu completamente envolvido por aquela a qual se viu amarrado. Vocês podem chamar de destino, predestinação, amor ou seja lá o que for. Já eu chamo de "Era assim que tinha que ser." Afinal de contas tudo é exatamente como tem que ser, e nem tudo que parece é!

Então se você me permitir, vou fazer o mesmo que Sidereum fez: vou puxar uma cadeira e me sentar ao seu lado, pra te contar tim tim por tim tim sobre essa outra parte da história de Niger et Albus.

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Vaticano, vinte e sete anos atrás.

A mulher jovem gritava com as dores no parto. O suor escorria por sua pele e ela sabia que não ia ser fácil colocar essa criança no mundo.

Olhou pra sua prima e ela disse:

- Vamos Julietta, falta pouco, você consegue.

Já estavam naquilo há horas, mas simplesmente a criança não saía. Não havia ajuda, o parto estava sendo feito de maneira escondida. Diferentemente de Niger, Albus viria ao mundo em uma casa simples e sem luxos. A criança era fruto de um escândalo, um religioso jovem havia cedido aos desejos da carne e se deixado levar com a bela jovem de cabelos claros e olhos azuis.

- Eu não aguento mais Henriqueta.

O choro era evidente, a dor aguda e Julietta sabia que não sairia viva dessa noite. Tudo que queria era pôr o filho no mundo e segura-lo pelo menos uma vez em seus braços. Estava convencida de que era um menino. Havia sonhado duas luas atrás com uma criança loira de olhos iguais aos seus.

Fez um esforço, naquele que era o movimento indicativo de que junto com a nova vida que colocava no mundo, a sua também se esvairia. Henriqueta colocou a criança sobre o peito da prima e a mulher no limiar da vida beijou a cabeça do fruto do seu ventre, para logo em seguida desfalecer sendo vencida pelo cansaço e o parto dificil. Heriqueta enrolou a criança depois de limpa-la de maneira rápida e mal feita e colocou em um cesto de vime. Olhou para o bebê inocente sentindo-se impotente e tentando saber o que faria com ele agora.

Foi quando ouviu uma voz masculina falando:

- Leve ele até o casarão antigo no final da rua. Bata a campainha e vá embora.

Henriqueta olhou de um lado para o outro e depois de constatar que não havia ninguém ali além da prima já morta, ela e o bebê, soube que era uma providência Divina. Se enrolou em uma capa e protegeu ao máximo o pequeno da chuva forte que caía do lado de fora da pequena casa de funcionários onde elas moravam.

Andou pela rua e fez como fora instruída, mergulhando na densa escuridão chuvosa, deixando aos cuidados do destino o pequeno ser inocente que agora dormia.

Voltou pra casa e enquanto preparava a prima para o descanso eterno, disse:

- Não se preocupe, Julietta, ele vai ficar bem.

********

Albus foi acolhido como filho por aquele que era rei. Colocado na linha direta de sucessão do trono cumprindo o papel para o qual foi separado e chamado desde o ventre da sua mãe. Não nasceu na mesma noite que Niger por um acaso, não existem acasos quando se trata dos Greco. Foi colocado alí naquele cesto de vime envernizado com um propósito claro como água.

Apresentados juntos ao Conselho, quando já era manhã alta, Niger et Albus estavam ali ligados para sempre em um compromisso perante Deus e os homens.

Não havia como fugir ou recuar.

Aliás, nunca há quando se já tem um destino completamente traçado.

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Tempo presente.

É noite. Lua nova no céu brilhando em seu ápice. A criança fruto do pecado agora é um homem feito, anda com uma bengala de madeira nobre e cabeça de prata, assoviando e avisando que o juiz e carrasco chegou portando a morte. Pula um dos corpos ensanguentados no chão e se direciona até a cozinha.

- Ah, eu já havia me esquecido completamente de você, Madox.

Está falando com o homem amarrado na cadeira. É um traficante de pedras preciosas, que possui uma extensa cadeia de prostíbulos pela Europa com uma ampla rede de escravas s*xuais.

Angelus, como é conhecida a morte inteiramente vestida de branco, se senta e serve um pouco de vinho. Pegou o homem durante o jantar.

- Adoro Chatêau Baret. Você tem bom gosto pra vinhos, mas para seguranças é péssimo. Trinta e dois homens na casa e todos eles estão mortos. Que coisa!

Madox não esboça reação. Sabe que não adianta. Foi alertado sobre os filhos de Kalel e sabia que qualquer um dos dois podia lhe fazer uma visita a qualquer momento. O reforço na segurança, que obviamente não valeu de nada, foi justamente por isso.

Vê a morte bebendo o vinho calmamente e depois que a última gota da taça é seca, ouve o seguinte:

- *Bom senhor Madox, é de meu conhecimento que o senhor tem muitos negócios ilícitos, mas o que mais te dá dinheiro é exploração s*xual. Procede*?

A morte espera pela resposta do homem, mas ela não vem.

- Bom, quem cala consente.

A morte se levanta e bate a bengala uma vez no chão enquanto pensa sobre qual sentença vai aplicar no réu.

Enquanto a idéia se forma em sua mente, ele bate uma segunda vez a madeira no chão de mármore cinza.

O desespero invade Madox e ele finalmente começa a perceber o quão rápido seu fim está próximo.

- Já sei!

Não tem tempo de dizer nada. Madox grita.

- Por favor Angelus, tende piedade da minha alma.

A morte ri com escárnio.

- Eu não sei se você sabe, mas eu só cumpro ordens...

Aponta o dedo esquerdo pra cima e diz:

-... é com Ele que você tem que se resolver. O máximo que posso fazer é uma encomenda de alma. Sugiro que quando estiver em Sua presença você se humilhe de verdade e peça perdão. Ele é mais do que bondoso e misericordioso, eu, não.

Angelus deixa a bengala em cima da mesa depois de bater uma terceira vez no chão e desabotoa o terno impecavelmente branco, que por incrível que pareça não possui gota alguma de sangue ou qualquer outra sujeira.

- *Você foi julgado e condenado por mim a ser emasculado e d*captado*.

Desacopla a cabeça da bengala e deixa o homem ver a adaga que porta escondida. Angelus empurra com a perna direita a cadeira e faz Madox entrar em desespero quando corta a calça que o homem veste.

Escuta a encomenda de alma enquanto tem seu membro arrancado e sua vida vai embora de seu corpo quando sente o fio do corte passando por seu pescoço.

Angelus se veste, limpa a adaga e depois anda pela casa enorme conferindo se não resta nenhum vivo. Na mão direita a cabeça que acabou de arr*ncar segurada pelos cabelos já que precisa despachar essa encomenda.

💭Fico impressionado em como você é discreto. Um verdadeiro ninja!💭

Angelus solta uma risada alta vendo o tom que o homem que habita o corpo usa. É puro sarcasmo. E enquanto percebe um se movimentando de maneira arrastada pra sair da casa, pega a adaga de novo.

- É lógico que não sou um ninja, sou um anjo.

Enfia a faca nas costas do homem e depois limpa na roupa dele mesmo. Saca o celular e liga pra alguém.

📲🔊*- Dário? Quanto tempo meu amigo!

O homem do outro lado da linha sabe imediatamente que não está falando com o homem. Foi chamado pelo nome de serviço.

📲🔊 - Qual o tamanho do estrago dessa vez, Angelus?

Quase nunca precisa se preocupar em limpar o serviço de Legio, mas o irmão é espalhafatoso. Geralmente Niger dá jeito sozinho com fogo e gasolina, mas Albus sempre faz um grande espectáculo, são evidências demais. Dário possui uma empresa de faxina, é ele quem limpa os rastros da irmandade, tem funcionários em várias partes do mundo.

📲🔊 - Bom, é um estrago a minha altura.

📲🔊 - Hum, então é sangue pra todo lado.

Angelus fornece o endereço.

📲🔊 - Meu pessoal chega aí em trinta minutos.

******

Depois de tudo limpo Angelus faz uma transação bancária.

- Os velhos de batina vão adorar mais esse gasto.

Tira a bengala de baixo do braço e se encaminha pra fora da casa, voltando a assoviar enquanto contempla a lua alta no céu.

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Aestas: Brisa de verão.

Algo que selou o destino deles pra sempre

Omsk, Rússia. Dez anos atrás.

Yussef Sarvetinenko é um homem ligado à muitas coisas ilícitas. Ele fornece documentos falsos de toda espécie para o mundo do crime e é bastante procurado pela máfia.

Sarvetinenko é casado e possui uma filha de dez anos de idade. Yuliya é uma graça e uma menina bem esperta.

Era uma noite normal quando Yussef colocou a filha pra dormir depois de contar uma história. Desceu as escadas e se encaminhou ao seu escritório em casa pra cuidar de uns assuntos antes de ir se deitar com sua mulher.

- Boa noite, Sarvetinenko.

O russo levou um pequeno susto ouvindo e vendo o homem vestido em um terno acetinado e cinza. Sentiu seu coração acelerado.

Já ouviu falar da figura sombria que visita sempre os piores homens possíveis na calada da noite. Só não pensou que fosse classificado como tal pra receber Kalel em sua casa.

Pensou imediatamente na filha e na mulher.

- Por favor, não faça nada de mal com elas lá em cima. Comigo você pode fazer o que quiser.

Kalel se aproxima com um sorriso de canto nos lábios.

- Não se preocupe, eu vim pra propor um acordo. Você não é um homem tão perverso assim que mereça ouvir uma encomenda de alma, Yussef. Mas pode ser muito útil pra mim e os meus interesses. Eu quero informações.

Sarvetinenko desabou na cadeira sentindo o alívio percorrer seu corpo. Não vai deixar só as duas coisas mais preciosas que tem em sua vida. Mas a preocupação também é contínua dentro de si.

- Não sei se isso é uma boa idéia, Kalel. Estarei colocando em risco a vida da minha mulher e da minha filha.

Kalel pôs as mãos nos bolsos da calça e encarou o homem por alguns instantes.

- Chega um momento na vida em que temos que fazer boas escolhas, Yussef. Você está tendo a oportunidade de fazer uma diferente agora, não a desperdice. Eu sei que você não quer sua filha crescendo cercada por esse mundo horroroso no qual você está atolado até o pescoço.

Yussef passou as mãos no rosto e nos cabelos olhando pra cima. Era verdade que tinha vontade de largar essas coisas todas e seguir por um rumo diferente. Entrou nessa vida fora da lei por não ter tido escolha quando mais novo. Estava cansado de ver a mãe se matando de trabalhar pra criar ele e os dois irmãos mais novos enquanto o pai vivia por aí enchendo a cara. A única alternativa que viu foi se enfiar no mundo do crime e começar a ser um homem bancando a casa. Era isso ou continuar naquela vida miserável e sem oportunidades.

Mas ele não queria isso pra Yuliya. Não queria a filha cercada de maldade e muito menos na mira de alguma aliança duvidosa entre ele e outro criminoso. Era bem capaz de que em um momento e outro uma aliança de casamento fosse proposta e por mais que ele fosse um homem útil e muito procurado, ainda era um peixe pequeno. Não teria forças o suficiente pra rivalizar e não aceitar um casamento da filha com qualquer herdeiro dessa merda toda.

Kalel viu o homem pensando e considerando sobre tudo o que ouviu.

- Eu prometo que vou proteger você e sua família custe o que custar. Só me ajude.

Naquele momento aceitou a proposta da morte e daquele dia em diante era a ponte que Kalel precisava para acessar os mais perversos.

*********

Omsk, Rússia. Tempo presente.

Dez anos se passaram desde que Youssef aceitou ajudar Kalel. Infelizmente há mais ou menos um ano atrás o bem mais precioso que possui entrou na mira de um homem frio e cruel.

Victor Gonzáles é um mexicano que trabalha com cartéis de droga e tem um esquema de prostituição fortíssimo. Herdou os negócios do pai Mariano Gonzáles e colocou os olhos em Yuliya quando ela ainda tinha somente dezessete. Se manteve afastado porque o pai respeitava a vontade de Youssef em não envolver a filha em coisas desse tipo, mas desde que Mariano morreu ele passou a cobiçar e insistir veementemente que Youssef cedesse a mão de sua filha em casamento.

Veio até Omsk pra tratar de alguns negócios e aproveitou para visitar Sarvetinenko com o intuito de ver sua filha.

Assim que o russo olha pela janela, se vira para Yrina, sua mulher, e diz:

- Peça a Yuliya pra não sair do quarto por nada. Precisamos mantê-la segura até darmos um jeito nessa situação.

A mulher sobe as escadas pra dar a instrução pra filha enquanto Youssef se dirige ate a porta com um sorriso falso no rosto para atender ao visitante indesejado.

São muitos os negócios, é um cliente e tanto e muito violento. Não pode fazer nada que o desagrade porque os riscos de retaliação são reais.

- Como vai Victor? Prazer em recebe-lo na minha casa!

Victor abre os braços e cumprimenta Youssef já procurando com os olhos o objeto de desejo, mas não consegue ver Yuliya em lugar algum.

- Onde está sua filha, Youssef?

O pai engole em seco a raiva por perceber a cobiça do homem doze anos mais velho somente pelo jeito de falar.

- Está indisposta, passou o final de semana inteiro trancada no quarto. Mas vamos deixar isso de lado, vem comigo até meu escritório que nós vamos beber alguma coisa e conversar.

Depois de passar algumas horas sendo agradável com quem não queria, finalmente se vê livre do homem intragável.

Youssef pega o telefone e disca pra alguém que pode ajudar.

📲🔊 - Eu preciso te ver.

Ouve a resposta imediata.

📲🔊 - Embarco em dois dias.

********

Em outro ponto da cidade.

Victor chega na boate mal iluminada e com uma música sensual, na hora marcada pra se encontrar com um possível cliente.

Um homem interessado em trazer algumas garotas latinas pra cá e vender drogas na noite.

O mexicano se senta em um sofá de canto enquanto uma garota semi nua sobe no poli dance pra se exibir. Logo o dono da boate chega.

- Pensei que você ia chegar mais cedo.

Oferece um copo de bebida, que Victor pega enquanto responde.

- Fui cuidar de uns assuntos pessoais. Estou interessado em me casar com a filha de Sarvetinenko, fazer uma aliança com aquele russo que é tão bom de falsificação e que vai fazer meu dinheiro dobrar. Sem contar que a filha dele é uma baita de uma gostosinha e com toda certeza é virgem.

O dono da boate revira os olhos.

- Vai querer fazer uma aliança com aquele delator?

Victor deixa o copo e olha pra dançarina.

- Sai!

A garota se apressa em sair do poli e deixar os homens a sós no reservado.

- Que história é essa de delator?

- É isso mesmo. Corre entre os homens da noite que Youssef tem benefícios entregando os maiores clientes, mas ele não os entrega para a polícia, os entrega para algo pior: a morte.

Victor fica bravo, e muito.

Delatores no mundo em que vivem não são bem aceitos.

Vinha respeitando de certa forma o russo por toda a amizade que tinha com seu pai, mas o fato é que a demora dele para aceitar que sua filha se case o está já fazendo perder a paciência. Vai dar um jeito nessa situação e de quebra pegar o que quer sem precisar se enfiar em um compromisso.

- Quero que você chame pra mim meus homens lá do lado de fora.

Quando os dois capangas chegam no reservado, Victor, sem saber, toma uma atitude que vai selar pra sempre o seu próprio destino, o de Yuliya e daquele que nasceu do pecado.

- Eu quero Youssef e a mulher mortos em no máximo vinte e quatro horas. Peguem Yuliya e a levem pra Mariachis, eu chego lá em uma semana.

**********

Boston, tempo presente.

Cesare acorda no meio da madrugada sendo incomodado por Kalel.

💭Youssef está morto junto com a mulher 💭

Ele se senta na cama e passa as mãos pelo rosto.

💭E Yulyia?💭

💭Ela precisa de ajuda. Foi levada para Tijuana, está sendo mantida em cativeiro💭

Cesare sabe que isso tudo é por culpa do trato que Sarvetinenko tinha com ele. Talvez até o pedido para que o fosse ver seria pra evitar algo desse tipo, mas ele acabou adiando por dois dias. Não consegue se perdoar.

Quando Kalel fala com ele, percebe que tudo já está encaminhado.

*💭*Você vai mandar Gideon. Ele vai te pedir dois dias pra ajeitar algumas coisas e você vai aceitar. Não se preocupe que eu vou garantir que nada demais aconteça com a moça 💭

********

Cesare chega na casa do filho às nove da manhã, o encontra mexendo com terra em um vaso. Está replantando uma orquídea Liem’s Paphiopedilum, enquanto conversa com ela de um jeito amável para que aceite a pega e floresça novamente.

Cesare sempre fica impressionado em como o filho sendo um homem tão alto e másculo, tem a mesma predileção que Isabel para as flores. Embora não tenham vínculos de sangue, ele herdou todo o talento dela pra isso.

O loiro de olhos azuis abre um sorriso para o pai.

- Diga que bons ventos o trazem, senhor Cesare. Veio puxar minha orelha porque sumi no feriado com aquele seu outro filho? Não vai me dizer que eu vou ter que me casar com alguma Maria mijona também.

O homem mais velho fecha a cara para o filho.

- Que mania horrorosa que você e seu irmão têm de ficar apelidando as pessoas. Já disse que não quero vocês chamando Lilibeth assim.

Gideon revira os olhos e Cesare continua.

- *Preciso de você pra uma outra questão. A filha de um parceiro meu foi questrada. Ele e a mulher foram ass*ssinados e ela agora é órfã, está nas mãos de um homem extremamente violento. Você vai ir lá e buscá-la pra mim*.

Gideon deixa de lado por um instante a planta e olha pro pai.

- Tenho uns assuntos pra resolver. Preciso de dois dias, acha que ela pode esperar?

Cesare até pensa em dizer não, mas se lembra das instruções de Kalel. Sabe que nada é por acaso, e que se os dois dias são necessários, é porque é assim que tem que ser.

- Tudo bem.

Gideon fica surpreso, achou que ele fosse dizer não e o obrigar a ir usando a autoridade de pai, mas ao invés disso recebeu uma resposta tranquila.

Ele acerta os detalhes com Cesare e depois volta a se concentrar na planta quando o pai vai embora.

Um homem completamente vestido de branco

Em algum lugar em Omsk. Tempo presente.

Yuliya se viu presa em um pequeno cômodo com uma cama de solteiro caindo aos pedaços. O cheiro do lugar é horrível. Cigarro e urina misturados em um ambiente que não recebe circulação de ar por muito tempo ao que parece.

Não entende o que está acontecendo e nem sabe onde estão seus pais. Sempre temeu algo desse tipo, o dia que fosse sequestrada e fosse usada como moeda de troca por algum desafeto de seu pai no mundo crime.

*💭*Só espero que ele não demore muito pra me buscar 💭

De repente ouve um barulho e a porta se abre revelando um homem estranho, usando calça e blazer. Ele fala em um inglês afetado, embora tenha traços latinos.

- Anda logo garota, nós temos que ir.

Yuliya trava.

- Ir pra onde?

O homem grande perde a paciência e entra no cubículo a pegando pelo braço esquerdo com força.

- Você não precisa saber, só precisa ir!

*********

Tijuana, México. Tempo presente.

Yuliya foi colocada em um avião e quando começou a dar trabalho foi dopada. Mais uma vez acorda em um quarto, só que esse não é um cubículo fedorento, é um quarto grande e com uma cama enorme e confortável forrada com lençóis vermelhos. Yuliya observa tudo e vê uma mesa de canto e um poli dance em frente a um espelho. O lugar parece com um quarto de bordél, embora ela não saiba disso. Nunca esteve em um na vida.

Anda até às cortinas e quando abre nota que a parede não tem janelas. A refrigeração do quarto é feita por um ar condicionado.

Ela se senta na cama olhando pra frente e tenta processar o que está acontecendo. Mais uma vez é interrompida por alguém abrindo a porta.

É outro cara, usando um terno cafona e mal cortado em um tom de verde abacate. Ele traz uma bandeja de comida com uma garrafa de água e tem o mesmo sotaque afetado do outro.

- Vamos lá, muchacha. Coma! Victor quer você bem e forte.

Yuliya nega com a cabeça e diz:

- Não quero comida alguma. Quero meus pais!

Ouve uma risada horrível do homem e consegue perceber que ele tem um dente de ouro no lugar do canino direito.

- Seus pais não vão chegar aqui pra te pegar. Você é do Victor agora.

Já ouviu esse nome, conhece um homem latino que se chama assim.

💭Será que foi Gonzáles que mandou me buscar?💭

Ela estremece lembrando do homem aterrorizante que vai na casa dela de vez em quando. Sempre a cobiçando demais com os olhos e com uma expressão de quem só pensa em coisas perversas.

Continua se negando a comer, até que o homem sai e a deixa sozinha.

************

Yuliya dormiu e quando acorda tem fome, não sabe se estão em um novo dia, nem faz ideia de que horas sejam. Ela procura a bandeja e destampa o prato que deixa ver um sanduíche natural. Depois de comer ela se levanta da cadeira e anda pelo quarto.

Empurra uma pequena porta no canto esquerdo e descobre um banheiro bem organizado e limpo. Tem uma toalha embalada em um plástico, sabonete ainda na própria embalagem, shampoo, condicionador, escova e pasta de dente novos.

Decide tomar um banho rápido pra não correr o risco de ser pega de surpresa. Só depois que molha o corpo é que lembra que não vai ter roupas limpas por aqui.

Já está quase usando as mesmas que estava vestindo quando ouve uma voz feminina.

- Señorita Sarvetinenko.

Yuliya é muito bem educada e fala alguns idiomas.

Sai do banheiro enrolada na toalha e vê uma garota simples usando um vestido largo e tranças nos cabelos.

- Soy yo misma.*

A moça estende uma sacola e Yuliya pega abrindo e vendo que tem um vestido fresco, lingerie e um par de chinelos de borracha pretos.

- Son nuevos. Juárez te lo entregó.**

A moça se vira pra ir embora, é quando Yuliya segura em seu braço direito.

- Cuál es tu nombre?***

A moça responde que se chama Rosalía.

- Rosalía, dónde estoy? Y qué día es hoy?****

Rosalía olha pra um lado e para o outro antes de responder de maneira baixa:

- Hoy es domingo. Estás en Tijuana, más precisamente en la discoteca Mariachis. El propietario es el Sr. Víctor Gonzáles.*****

Rosalía se vai deixando Yuliya atônita e sem conseguir acreditar que já se passaram três dias desde que viu seus pais pela última vez. Está muito longe de casa e sabe que Victor provavelmente quer lhe fazer mal.

********

Já é mais tarde quando o homem cafona vem mais uma vez trazendo comida. Está usando um terno rosa salmão e ela deduz que já se passou um dia desde que chegou aqui.

- Hum, vejo que o vestido que mandei Rosalía trazer serviu direitinho.

Então ele é Jurez.

Ela fica calada, não vai interagir com o homem, mas para o seu azar ele quer interagir com ela. Se aproxima e Yuliya tenta se trancar no banheiro mas não consegue fazer isso a tempo. O homem a segura com força e a joga contra a parede.

Sente medo.

Nunca teve interação íntima com o sexo masculino além dos beijos com um ou outro colega. Em parte por ter sido criada com muito pudor por Yrina, sua mãe, mas também por ser filha de quem é. Os garotos ficavam longe de Yuliya no colégio e na faculdade.

Está convencida de que vai ser viol*ntada, mas ouve o homem dizer:

- Uma pena que não posso ir até o fim com você. Victor me mataria. Mas sua beleza é muito diferente da beleza das garotas aqui.

Juarez força o vestido dela pra baixo e logo depois a lingerie. Yuliya grita por ajuda, mas tem a boca tampada de um jeito forte.

- Shhiiiu. Sem escândalo! Os outros podem querer vir, e não sei se vão se segurar como eu.

Ela pode sentir as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto o homem destampa sua boca e desce as mãos por seus s*ios. Ele aperta forte, de um jeito que dói e machuca. Yuliya sente que vai ficar com marcas.

- Seu dono vai demorar um pouco mais pra voltar, vai dar tempo de sair tudo.

Ela sente uma ânsia de vômito quando ele desce as mãos por seu corpo e toca seu s*xo por baixo da calcinha. Yuliya força em Juarez pra se afastar, mas não consegue rivalizar com ele.

- *Para de resistir, muchacha. Se você for boazinha e me fizer g*zar, eu te faço também. Existem muitos jeitos de matar a vontade sem tirar o seu lacre*.

Yuliya luta contra a vontade de vomitar e consegue pisar forte no pé esquerdo dele. Quando Juarez se afasta, ela grita:

- NUNCA MAIS ENCOSTE ESSAS MÃOS IMUNDAS EM MIM!

Ganha uma bofetada no rosto e sente o gosto do sangue na boca.

- *Sua v*gabunda! Eu vou encostar em você todas as vezes que eu quiser, quem manda aqui sou eu! Você vai aprender uma lição, vai ficar sem comida por uma semana*!

Juarez sai levando a bandeja de comida e deixando apenas a garrafa de água, enquanto Yuliya se deita encolhida na cama chorando de um jeito intenso e completamente traumatizada pelo que acabou de acontecer. Consegue ouvir a chuva forte que cai lá fora graças a tubulação do ar condicionado, os raios e trovões que ecoam lhe dão ainda mais medo.

********

Se passaram mais dois dias desde que Yuliya chegou até a Mariachis. Ela sabe disso porque Juarez veio duas vezes trazer água usando uma roupa diferente. Nessas duas vezes ele a tocou de maneira inapropriada de novo e a obrigou a toca-lo também sob a mira de uma arma.

Ele já veio hoje, então ela está um pouco mais aliviada sabendo que não vai voltar a vê-lo. Mas pro azar de Yuliya ele aparece de novo, com uma sacola nas mãos que contém uma lingerie indecente em um tom de magenta e uma caixa com um par de salto alto vulgar e meia pata.

- Anda! Veste ela pra mim e calça a sandália. Você vai enfeitar a mesa de jogo.

Yuliya se nega em um primeiro momento, mas Jaurez deixa ver o revólver preto na cintura em uma ameaça silenciosa e ela acaba cedendo.

Depois de se vestir sob o olhar depravado do homem que não permitiu nem que ela fosse ao banheiro, Yuliya sai sendo escoltada de perto. É a primeira vez que pisa fora do quarto e fica horrorizada vendo que se trata de um prostíbulo. São vários quartos e nas portas mulheres seminuas ou nuas fazendo poses sensuais enquanto homens andam pelos corredores escolhendo alguma. Ela pode ouvir uma música forte vindo de baixo, pois sente o chão tremer. Acabam descendo as escadas juntos e quando ela passa sendo segurada por Juarez pelo braço, pode sentir que alguns homens passam as mãos por seu corpo.

Yuliya fecha os olhos de um jeito forte contendo as lágrimas.

Juarez a leva até uma parte reservada, é uma sala com uma mesa redonda e grande com sete homens em volta. Seis deles são latinos, mas um em específico chama a atenção dela imediatamente. O sétimo homem não se parece em nada com os homens aqui. É loiro, de olhos azuis com um brilho vitral, está inteiramente vestido de branco e tem um jeito mortal.

Observa Yuliya atentamente e ela consegue perceber que ele é o único da roda que não desce os olhos por seu corpo. Os outros a cobiçam como um pedaço de carne exposto. Mas afinal, é o que ela é essa noite.

- Fica ali no canto, muchacha. Você vai nos servir essa noite.

Juarez empurra Yuliya pra um canto e ela fica de cabeça baixa. De vez em quando levanta o olhar, e pode perceber que o homem de branco a observa também. Sempre no mesmo momento em que ela o faz.

Yuliya serve os homens com cerveja e comida por um tempo, observando que o homem diferente é o único que não come e bebe, até que eles começam a conversar.

Um homem grande e barbudo diz:

- E então, gringo? Qual a sua proposta pra nós?

O homem loiro abre um sorriso lindo e enorme.

- A morte.

Os homens em volta da mesa riem, de um jeito exagerado até, e se dão conta de que não conseguem parar. Não há dor alguma, mas eles sabem que não estão em seu estado normal.

- A natureza é algo extraordinário, não é meus amigos? Como pode um peixe tão pequeno como o blenio possuir uma toxina paralisante tão potente como a que tem?

O homem vestido de branco se levanta colocando no chão a bengala de mogno com a cabeça de prata que usa.

- A propósito, não é "gringo", eu sou Angelus e vim essa noite pra encomendar as suas almas.

Yuliya treme de medo. Teme que seja morta aqui por esse homem completamente estranho. Muito longe de casa e dos próprios pais.

Ela começa a chorar, até que chama a atenção da morte.

- Não se preocupe, Yuliya, eu vim pra cuidar de você. Me diga, qual deles foi o responsável por essas marcas em você?

Em completa obediência ela aponta o dedo pra Juarez.

Angelus se vira para o homem.

- O que você fez com ela, seu porco imundo?

Juarez não tem força é nem domínio sobre os músculos para se mover. Ele apenas consegue falar. Sente o corpo relaxado ao extremo, embora sua mente esteja tensa e tomada de medo.

- Só a toquei e fiz com que me tocasse. Não fui até o final, ela é propriedade de Victor.

Angelus observa Yuliya. Pela primeira vez seu olhar desce por seu corpo registrando as marcas roxas que estão além do rosto da garota jovem.

- Você está mentindo pra mim, Juarez. Você agrediu fisicamente essa garota, além de a ter m*lestado. Eu te condeno a ser emasculado. E aos demais eu condeno a serem d*golados.

Yuliya sente o desespero tomar conta quando entende que o homem na frente dela é extremamente perigoso. Com certeza mais do que os homens ali presentes e todos os quais o pai conhece.

Angelus se vira e mexe em uma bolsa. Ele pega uma capa branca e longa e estende pra ela.

- Vista-se. Você vai me esperar do lado de fora.

Ela pega a roupa e se cobre, saindo do cômodo e esperando pelo homem estranho que chegou para salva-la. Não demora e Yuliya ouve os gritos agonizantes atrás da porta. Não sabe o que está acontecendo, mas tem a certeza de que o único homem a cruzar a porta atrás de sí, vivo, será o que vem completamente vestido de branco.

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*Soy yo misma: Sou eu mesma.

**Son nuevos. Juárez te lo entregó: São novos. Juarez mandou te entregar.

*** Cuál és tu nombre?: Qual é o seu nome?

**** Rosalía, dónde estoy? Y qué día es hoy?: Rosalía, onde estou? E que dia é hoje?

***** Hoy es domingo. Estás en Tijuana, más precisamente en la discoteca Mariachis. El propietario es el Sr. Víctor Gonzáles: Hoje é domingo. Está em Tijuana, mais precisamente na boate Mariachis. O proprietário é o senhor Victor Gonzáles.

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