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Romeu E Julieta No Morro

Fazer o bem, que mal tem?

Parecia um dia como qualquer outro, o sol fazia morada no centro do céu, estava perto do meio-dia. A rua completamente vazia, como costumava ser. Todos evitavam circular naquela área por sua proximidade com o morro. Entretanto, um furgão preto entrou em alta velocidade na rua. Dentro dele, uma pequena discussão acontecia.

— Mano, isso é errado. Não deveríamos fazer isso. O cara vai acabar morto. Será mo B.O. — Italo disse olhando para o homem amarrado inconsciente dentro do furgão.

— Cala boca. O chefe mataria a gente só de saber que hesitamos por um segundo. Minha mãe me mataria se eu fosse morto. Só joga ele para fora do carro quando eu der o sinal. — Wagner dirigia o carro em alta velocidade.

— Isso vai dar merda. Na moral. — Ítalo olhava atento pela janela. Ele odiou o plano desde o início.

— Fala menos. Joga logo ele para fora. Temos que agradecer a Deus que tudo saiu como planejamos. Joga logo! — Wagner gritou.

Italo ainda pensou duas vezes antes de jogar o homem do carro, mas sabia que Wagner estava certo. O seu chefe não aceitava erros. Apenas mataria todos os envolvidos. A fama de ser impiedoso combinava muito com sua personalidade.

Sem escolha, Italo abriu a porta do furgão com dificuldade, devido a velocidade que estava o veículo. Mesmo receoso, jogou o homem sem camisa e amarrado de dentro do carro. Fazendo ele bater no chão algumas vezes, antes de rolar até os pés de três meninas que conversavam na calçada. O barulho chamou atenção das três, que gritaram assustadas, mas o carro partiu rápido demais para conseguissem ao menos ver a placa.

— Ele está morto? Credo!— Janaína perguntou se afastando do homem que estava pálido.

— Que desperdício. Ele é muito gostoso para morrer. Que injustiça. Ligamos para quem para buscar o corpo? — Viviane fazia careta pelo desperdício.

— Vocês duas são horríveis — Julia disse se aproximando do homem, verificando sua respiração e pulsação. Aquele rosto parecia familiar para ela. — Ele ainda está vivo. Janaína, liga para Vinícius, pede para ele vir buscar a gente aqui na pista. Precisamos ajudar esse homem.

— Você está louca? Não sabe nem quem é ele. Que ideia absurda é essa? E sabe que ninguém sem autorização pode subir no morro. — Viviane alertou, mas Janaína já estava ligando. Conhecia Júlia a tempo suficiente para saber que ela só faz o que quer.

— Eu estou dando autorização. Duvido um pouco alguém questionar a filha do dono do morro. Todos tem amor à vida. — Júlia argumentou enquanto buscava nos bolsos do homem por uma carteira para o identificar. Queria saber seu nome. A semelhança dele com uma pessoa querida para ela, a incomodava um pouco. Mesmo sabendo que era impossível, queria ver o nome para ter certeza.

— Pedro está descendo. Será que foi roubado? Sequestrado?— Janaína olhava para o homem com receio.

— Ele está sem celular, também não achei os documentos. Pode ter sido roubado ou sequestrado. Não tem muitas marcas no corpo, alguns arranhões e um corte na cabeça. — Julia olhava para ele, cada vez mais confusa com aquela semelhança assustadora.

— Caramba! Julia matou alguém? Eu sabia. Era só questão de tempo. Vou te ajudar a ocultar o corpo não, tá louca? Minha mãe sonha em me ver formado. — Vinícius falou ao parar o carro próximo a calçada e ver o homem inconsciente deitado em uma poça de sangue no chão.

— Se eu for matar alguém, será você. Agora deixa de barulho e me ajuda a levar ele para minha casa. — Júlia disse enquanto mandava uma mensagem para a médica da família.

— Sabe que seu pai vai matar ele muito mais rápido do que ele morreria aqui na rua, certo? Seu pai quase me mata sempre que me encontra na porta da sua casa. — Vinícius alertou.

— Deixa de barulho. Coloca logo ele no carro. Meu pai vai chegar apenas a noite e minha mãe está ajudando minha tia que teve bebê. Não tem ninguém em casa agora. Vou ajudar ele, quando acordar, mando embora. — Júlia explicou abrindo a porta traseira do carro e entrando no veículo.

— Seus planos só perdem para os do cebolinha. Desde pequena nunca acaba bem suas ideias. — Vinícius falou, mas mesmo assim estava colocando o homem no carro como Júlia havia pedido.

— Ajudar o próximo nunca pode ser algo ruim. Não podemos simplesmente ignorar alguém nessa situação. Não sei do futuro, mas se algo assim acontecesse comigo, iria querer alguém para me ajudar — Júlia colocou a cabeça do desconhecido em seu colo. Sujando toda sua roupa de sangue. — Vamos logo. A cabeça dele está sangrando muito.

— Se algo assim acontecesse com você, seu pai teria matado todos antes mesmo de tocarem em um fio do seu cabelo. — Vinícius disse entrando no carro. — Vocês duas não vem?

— Eu tenho um lugar para ir. Janaína vai com vocês. — Viviane atendeu o celular — Oi? Que? Tá achando que eu sou delivery, se quiser comer, venha me pegar.

— Deixa ela. Vamos. Se esse não vier buscar ela, tenho certeza que haverá uma lista telefônica de opções para ela. — Janaína brincou entrando no carro.

Vinícius deu a partida no carro, logo estava subindo o morro, receoso com medo de ser parado e não saber explicar o que era aquele homem sangrando no seu carro. Quando finalmente sentia o alivio por já estarem dentro do morro, um homem surge com uma metralhadora batendo no vidro do carro. Fazendo Janaína gritar de susto.

— O que merda vocês estão aprontando desse vez? Quem é esse? Vocês mataram ele? Júlia! — Faísca gritava batendo no vidro do carro irritado.

Júlia pode ser assustadora

— Hey! Faísca, tudo bom? — Júlia falou com um sorriso depois de baixar o vidro traseiro do carro. Na mesma hora que ouviu a voz que saia de dentro do veículo, Faísca baixou a arma.

— O que você está fazendo com esse homem no seu colo? — Faísca tentava disfarçar o incômodo com a cena.

— Ah! Esse é Henrique! Estuda comigo. Estávamos conversando sobre um trabalho e ele meio que caiu, perdeu a consciência. Não podia deixar ele desse jeito. Então subi com ele, chamei a médica da família e ela vai dar uns pontos na cabeça dele. Assim que acorda, mando ele ralar pé. — Julia explicou com um sorriso que desarmava Faísca completamente.

— Seu pai vai odiar essa história. — Faísca tentou se recompor, enquanto a alertava.

— Por favor, guarde segredo para mim? Prometo que não vou demorar com ele. Eu ia me sentir mal se algo ruim acontecesse com esse garoto. Ele só estava tentando me ajudar com um trabalho da faculdade. Por favor, Faísca — Júlia pediu segurando a mão dele que se apoiava no vidro.

— Ahhh! Você sempre faz isso. Tá tá tá. Eu não vi nada, mas se a ronda pegar, se vira. Sei de nada. Nem me mete nessa. Anda logo antes que alguém veja isso. Não vou gostar de ouvir boatos com seu nome. — Faísca disse batendo no carro.

— Obrigada! — Júlia gritou quando o carro já andava.

— Tome cuidado. — Faísca disse fazendo sinal que estava de olho nela. Júlia apenas sorriu de volta.

— Faísca amolece fácil quando se trata da Júlia. E a sem futuro ainda usa isso ao seu favor. — Janaína brincou.

— A danada não apenas é filha do dono do morro, como também, tem o braço direito do seu pai arriado, os quatro pneus e o estepe por ela. — Vinícius entrou na brincadeira.

— Mais assustador é o dom dela de inventar uma mentira estruturada tão rápido assim. Em questão de segundos a mulher consegue uma história perfeita, até eu mesma acreditei. E eu tava lá quando ele foi arremessado do carro sem piedade. Uma coisa era certa, não queriam esse homem vivo e muito menos o trabalho de enterrar seu corpo — Janaína sempre se surpreendia com a velocidade que a amiga reagia às situações.

— O que você fala não é importante, mas como fala. Se passar confiança em sua história, ao contar ela, todos vão acreditar. Se hesitar, será pega no pulo. A primeira pessoa que tem que acreditar na história é você mesma — Júlia disse enquanto notava o homem cada vez mais fraco nas suas pernas — A respiração dele está ficando mais fraca. Se ele morrer lá em casa, meu pai vai dar a carne dele para os cachorros comerem, tenho certeza.

— Chegamos na sua casa. Quem é aquela mulher no portão? — Vinícius apontou para o portão que se abria com o sinal de Júlia para os seguranças da da janela do carro.

— É a nova médica que papai conseguiu para família. — Julia explicou.

— Ah! Então, ela é a mulher que dizem ser a amante do seu pai? Que sua mãe foi embora por conta dela? — Janaína perguntou surpresa ao notar que Júlia havia convidado logo alguém dos rumores para ajudar ela.

— Meu pai não trairia minha mãe. E ela apenas está com a irmã do meu pai. Minha tia teve complicações no parto quase ela e o bebê morreram. Como tia não está podendo se mover muito, minha mãe foi auxiliar ela nesses dias. As pessoas gostam de inventar fofoca. Vocês sabem disso. Só acredito naquilo que vejo. — Julia alertou a todos. O que deixava claro que ela não queria ouvir nunca mais sobre aquele boato.

— Julia, você sabe que onde tem fumaça tem fogo. A fofoca da sua mãe não estava certa, mas que ela não estava em casa era verdade. Não acha que esse mulher e seu pai... — Janaína alertou a amiga.

— Não é algo que eu devo me preocupar. Se minha mãe está despreocupada, não serei eu que irei criar confusão. E se tiver um fundo de verdade, tenho certeza que é ela que está dando em cima do meu pai. Só sei de uma coisa, se for isso, ela será morta pelo meu pai ou minha mãe. O tempo dirá, por enquanto, apenas preciso que ela cuide desse homem. — Júlia disse saindo do carro indo em direção à médica.

— Querida, fiquei tão feliz que você me ligou. O que precisa? — Deise cumprimentou Júlia, que fez careta na mesma hora.

— Querida? Me poupe. Se quiser dar para meu pai, não sou eu que você precisa bajular. Preciso que você ajude um amigo meu que se machucou ao me ajudar. — Júlia respondeu sem nem olhar para mulher e indo em direção à porta.

Deise seguiu ela calada, Janaína foi atrás, prestando atenção na mulher. Vinícius tentava carregar o homem com dificuldade, o desconhecido era bem maior que ele e muito mais forte. Mesmo assim, conseguiu colocar o homem deitado no sofá.

— Júlia é um pouco... — Janaína sussurrou para Vinícius.

— Assustadora? — Vinícius respondeu baixinho.

— Eu ia dizer intensa, mas assustadora também combina. — Janaína riu ao notar como a amiga olhava para médica com desprezo.

— Pode examinar ele? Faz um bom tempo que ele está inconsciente. — Júlia pediu para Deise.

— Farei isso, mas mesmo de longe vejo que bateu a cabeça. Talvez ele precise de muito mais do que um médico. — Deise disso ao se aproximar do garoto. — Ele não parece bem. o corte na cabeça dele é bem profundo.

Fala sério?

— Fala sério? Não precisei nem ir para faculdade de medicina para saber sobre isso. Não chamei você aqui para me dizer o óbvio. Chamei você para que pudesse fazer algo sobre isso, mas se você não conseguir, não terá qualquer utilidade para nós. Então pode sair do morro hoje mesmo. — Júlia olhava sério para Deise.

— Você é apenas uma criança. Não pode fazer isso. Mesmo sendo filha dele, você não tem o mesmo poder que ele. Não sabia? — Deise disse com um sorriso para Júlia que gargalhou com a ideia dela.

— Quer apostar? Se você não quiser ajudar ele, amanhã você está no pé do morro nua e careca. — Júlia ameaçou. Deise olhou para Vinícius e Janaína, como se buscasse confirmação sobre aquilo.

— Se eu fosse você, apenas salvava o cara. Melhor não irritar Júlia. Ela pode ser pior que o Dinamite — Vinícius alertou. Janaína puxou ele para sentar no sofá com ela. — O que foi?

— Calado. Deixa essa galinha ser depenada por Júlia. Quem mandou deixar ela de mau humor. Vamos ficar quietinho e aproveitar o show. — Janaína falou em um tom alto para Deise pudesse ouvir.

Notando que poderia ser realmente perigoso ir de encontro aquilo que Júlia dizia, a médica começou a examinar o homem. Verificou seus sinais. Logo começou a limpar e pontear o corte da cabeça do desconhecido, com ajuda de uma seringa de anestesia. Demorou um tempo, mas finalmente terminou os pontos. Por fim, aplicou uma outra medicação venosa. e se afastou do paciente.

— Pronto. Ele deve acordar logo. O ideal era levar ele para fazer uma tomografia, mas podemos esperar cerca de meia hora para que acorde. — Deise explicou. Sabendo que não havia nada disso no morro, seria necessário descer e buscar o hospital mais próximo.

— Pode ir embora. Se ele não acordar em quarenta minutos, acho melhor você correr o mais longe possível desse morro. — Júlia ameaçou. Mesmo que não acreditasse nos boatos, odiava a ideia de alguém tentando atrapalhar o relacionamento dos seus pais. Não era a primeira e nem séria a última, mas todas elas tem o mesmo fim. — Vini, leva ele para meu quarto. Pode colocar ele na minha cama.

— Eu te ajudo. — Janaína disse levantando junto com Vinícius.

— Quer que eu te mostre onde é a porta da rua ou você já sabe? De qualquer forma, também já mandei um pix como pagamento. Não tem mais nada o que ver aqui. Já pode ir. — Júlia abriu a porta olhando sério para Deise.

— Sabe que eu não fiz nada, certo? — Deise estava ciente dos boatos que circulavam e imaginou que poderia ser essa a razão da atitude áspera de Júlia.

— Eu sei, meu pai nunca trocaria a deusa que é minha mãe por uma piranha. Ele tem bom gosto. Não gosto de você, por saber qual era sua real intenção, ela funcionando ou não. Pessoas como você me dão asco. Agora pode ir embora? — Júlia falou com um tom mais forte. Fazendo Deise se arrepiar e sair correndo daquela casa o mais rápido possível.

— Me lembre de nunca me tornar sua inimiga. Você irritada me assusta. — Janaína fez careta enquanto descia as escadas. Havia ajudado Vinícius a subir com o desconhecido para o quarto de Júlia.

— Só não me irritar. Não sou fã de confusão, mas se eu, se segura. — Julia brincou.

— Qual das histórias vai ser aquela que você usará para seu pai quando ele vier perguntar porque você colocou um cara para dentro de casa? Tenho certeza que ele já sabe. Não deve demorar para aparecer. — Janaína perguntou. Havia percebido que as histórias que a amiga tinha contato eram diferentes.

— As duas. Uma completa a outra. Elas não se contradizem.— Júlia explicou subindo as escadas.

— Para onde você vai? — Janaína perguntou confusa com sua amiga subindo as escadas.

— Tomar um banho, minhas roupas estão ensopadas de sangue. E deixar vocês dois se pegarem escondidos. Um dia vocês tomam vergonha na cara e se assumem. — Julia disse piscando o olho para Janaína, mas acabou esbarrando em Vinícius que descia as escadas.

— Você não conhece o cara e vai tomar banho com ele no seu quarto, você enlouqueceu? — Vinícius alertou.

— Se ele acordar e querer aprontar para meu lado, tenho total certeza que ele vai se arrepender totalmente disso. — Júlia não estava nenhum pouco preocupada com essa possibilidade.

— Sabe que ele é maior do que eu, deve ser quatro vezes mais forte que você. Não acha que está confiando demais no treinamento do seu pai? — Vinícius tinha um pouco de receio da confiança excessiva de Júlia.

— Ele com toda certeza deve ter, mas eu tenho uma arma. Nada que um chute no saco e um tiro na cabeça não resolva. Se salvei, também posso matar. Ia morrer de qualquer jeito. — Júlia disse subindo as escadas ignorando o aviso do amigo.

— O que faremos? — Vinícius perguntou para Janaína.

— Uhn... o pai dela está fora, a mãe também. Ela vai demorar no mínimo meia hora para tomar banho e o homem está inconsciente. Que tal bagunçar o lençol do quarto de visita? — Janaína sugeriu puxando a mão de Vinícius até o quarto.

— Estava falando em relação a Júlia... Mas que seja. Qualquer coisa ela grita. — Vinícius mudou de ideia ao ver Janaína tirando a blusa.

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