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Meu Meritíssimo Vol. 1

Prólogo

...Prólogo:...

Suas mãos tocavam suavemente o corpo momentaneamente inerte da menina sobre a cama. Um olhar diabólico emanava de dentro da alma e invadia seus olhos de forma agressiva e brilhante. Prendia dentro de si uma mente cheia de imaginações psicóticas que não pretendia mais prender dentro de si, o monstro queria escapar de sua antiga jaula. Foram anos imaginando coisas abomináveis e pecaminosas com sua enteada que conheceu quando tinha apenas três anos, ainda assim sentiu um desejo descomunal e descontrolador pela garota dos olhos castanho-esverdeados e cabelos extremamente ruivos. Sua mãe, Rose, esteve presente em todos os tipos de atividades que ambos tinham juntos e nunca lhes deu a chance de ficarem sozinhos, mesmo que a atividade fosse apenas assistir a um filme, mas não seria mais assim a partir daquele momento. Por não ser o pai biológico dela, Rose não se sentia segura em deixá-la sozinha com o padrasto que sempre dizia ser o pai de coração de Ana que o adorava e venerava com todas as suas forças, era como o pai que nunca teve, até então. Sua mão gélida tocou o cobertor, retirando cautelosamente do corpo de Anastasia, na intenção de deixar que permanecesse em seu sono.

O homem frio e perverso que, por anos ficou oprimido dentro de alguém que se finjia "bom moço" estava prestes a ser revelado de uma vez por todas. Rose emergencialmente havia os deixado sozinhos, tendo uma viagem de urgente para atender em outro estado. Uma viagem a trabalho. Era alguém importante na cidade, dona de várias lojas de grife espalhadas pelo país. Foi por este motivo que se aproximou e se casou com a mãe da menina, o homem estava falindo e viu em Rose a chave de se manter financeiramente, seu interesse era apenas este. Observava o corpo da adolescente ali em sua frente, ela tinha quatorze anos quando aconteceu pela primeira vez. A pequena Ana vestia apenas uma camisola de tecido fino e sedoso, seus cabelos longos estavam espalhados pela cama e uma das mãos da garota estava bem próxima de seu rosto. A inocência claramente transparecia em seu rosto de menina. Suas mãos tocaram a coxa da menina com malicia, que abriu os olhos com dificuldade devido o sono, ao sentir dedos frios colidirem com sua pele. Olhou imediatamente na direção da presença que sentiu em pé ao lado da cama, vendo seu padrasto. Sentiu-se desconfortável, mesmo não conseguindo imaginar nada do que viria a seguir, afinal, confiava cegamente no homem que a viu crescer.

- Kaloey? Por que está aqui?

Perguntou se sentando, curiosa para o que ele tinha a dizer-lhe. Sua mãe se agradaria de ver o homem sozinho no quarto com sua filha, pensou.

- Shh... Fica quietinha, querida.- Respondeu, alisando os cabelos ruivos da garota.

Ana o encarava confusa, sem entender o real motivo de sua aparição ali. A noite já havia chegado e ele já deveria estar dormindo em sua cama, mas decidiu estar ali, queria fazer mal a pequena. A adolescente inocentemente pensou que Kaloey teria algo importante a dizer-lhe, porém em seu interior, era alertada de que algo nada bom estava prestes a acontecer, que sua vida iria mudar naquela mesma noite, mas não imaginava o que aquele homem seria capaz de fazer, não sabia o quão doentia era a mente dele. Ultimamente Kaloey a estava olhando estranho, ter acordado com o mesmo homem a tocando foi apenas a confirmação de que Kaloey não era quem pensava ser.

Sentiu um calafrio subir pela sua espinha e o medo a invadiu com toda força, sem piedade. Ele nunca havia feito isso, sequer ousou entrar em seu quarto sem permissão ou tocou seu corpo enquanto dormia, muito menos em sua coxa. Apenas a claridade da lua que atravessava a janela iluminava o quarto e mesmo a luminosidade sendo baixa, conseguia ver o olhar sombrio que o homem passava ao olhar para a menina. Se sentiu extremamente incômoda com a presença em seu quarto e desejou que logo fosse embora dali, mas Kaloey parecia estar atordoado, ao mesmo tempo confiante do que estaria prestes a fazer. Ana se levantou indo até a porta, segurou a maçaneta e a forçou, certificando-se de que a porta estava trancada. Seus gestos foram observados pelo homem ainda inerte perto de sua cama. Seu padrasto havia trancado a porta, algo que a garota nunca teve permissão de fazer, pelo fato de que Rose sempre vinha ao cômodo velar seu sono algumas vezes durante a noite, mas havia se esquecido de que agora a ruiva mais velha havia saído.

- Abra a porta.- Pediu cautelosamente enquanto virava para o psicopata em sua frente. Ele apenas sorriu, fazendo um outro calafrio lhe atingir.- Cadê minha mãe? Ela não vai gostar de ver a porta trancada.

Sua tentativa de afastar cautelosamente o perigo de si era completamente em vão. Kaloey tirou a chave de seu bolso e a encarou ao mesmo tempo que um sorriso brotava em seus lábios, trazendo em sua mente, pensamentos de muito pouco tempo antes de adentrar aquele quarto. Havia a imaginado de várias maneiras, entregue a ele e o que mais lhe agradava era ver o medo em seu olhar. Guardou o objeto de volta em seu jeans que não havia tirado desde que chegou do aeroporto, no fim da tarde.

- Ela viajou de última hora e finalmente nos deixou sozinhos. Isso significa que vou ter alguém do meu lado para substituí-la em minhas noites... Carentes.- riu diabolicamente.

Sua personalidade mudava repentinamente, tudo resultado de uma doença mental que possuía, Kaloey além de ser psicopata, também carregava um complexo de superioridade dentro de si. Caminhava lentamente até a menina que já estava com os olhos lacrimejantes e havia compreendido tudo o que iria se passar por ali. Lera histórias como esta em livros de suspense, mas nunca imaginou vivenciar momentos tao devastadores e destruidores como este. Anastasia se viu sem saída e desesperada, queria sair dali a qualquer custo, correr em qualquer direção a fim de receber ajuda. Ela deu mais um passo para trás, sentindo a parede gelada colidir-se com suas costas, o som de seus passos eram aterrorizantes e ecoavam nos ouvidos da menina. Uma lágrima solitária já descia por seu rosto angelical, passou a odiar-se por não ter ido com sua mãe na viagem, por ter confiado em um homem que pensou ser como seu pai. Não acreditava que iria passar por aquela situação, pensou que Kaloey gostava dela como uma filha e sinceramente o amou como um pai, o amou inocentemente, agora estava tudo muito claro. Uma mente doentia, oprimida por anos agora executava o que tanto desejou. Estando já a poucos centímetros de distância, sem muito esforço, estendeu seu braço e tocou com o polegar a bochecha da menina. Ana sentiu coisas horríveis com seu toque, desejava apenas sair dali e pensava em uma maneira de escapar. Ele desceu por seu pescoço lentamente e quando estava bem próximo ao seio esquerdo, ela tentou se proteger, tentou golpeá-lo, mas foi segurada pelo braço fortemente e jogada no chão com muita facilidade, como se fosse apenas um papel. Ela então, desesperadamente começou gritar por ajuda, no entanto sabia que ninguém a ouviria de fato, pois sua casa era muito afastada de todas as outras. Ainda assim Anastasia tinha esperança de que alguém ia passar na rua de frente a sua casa.

— Não sabe o quanto esperei por esse momento.— Disse ele.

— Se não abrir a madeira porta, eu vou gritar!

Kaloey seguiu rapidamente em sua direção e lhe pegou pelo pescoço fazendo-a se calar sendo sufocada por sua força, levantando facilmente a menina e a arremessando na cama.

- Socorro!!!- Berrava sem saber mais o que fazer.- Solte-me!

- Cale-se, vadia!- Proferiu subindo por cima de seu corpo franzino e lhe desferiu um tapa no rosto, divertindo-se com seu sofrimento.- Hoje você é totalmente minha, belezinha.

Aproximou-se de seu pescoço o chupando, beijando e mordendo violentamente, não se importando com seus protestos. Não estava nem um pouco preocupado se iria machucar a menina, só o que queria era satisfazer seus desejos doentis e nogentos. Ela, por sua vez, tentava em vão sair debaixo daquele corpo nojento e nostálgico que a levava aos piores sentimentos, gritava por ajuda, se debatia, mas nada parecia se resolver. Era muito mais forte do que conseguia escapar, o empurrava com todas as forças, mas não era suficiente. Foi então que o sentiu colocando suas mãos por baixo das roupas e não demorou muito até sua camisola e sua roupa íntima estarem rasgadas. Ana se sentiu mais que desesperada, estava prestes a perder sua virgindade a força, ele iria arrancar a inocência de uma garota que o considerou a vida inteira como um pai. Sentia desespero, vulnerabilidade, suas forças não eram suficientes, agora pensou em morrer. Sentir suas sujas mãos em seu corpo, rosto e em seus cabelos lhe dava nojo, desespero e dor. Ele também se despiu. Já sem sua roupa, penetrou na menina com tanta força que era audível um berro de dor. O homem ria da situação, sentia prazer em machucar, em aumentar a velocidade de suas investidas enquanto a machucava. Era apenas uma menina, apenas uma adolescente de quatorze anos que ainda não tinha aprendido muitas coisas sobre a vida. Alguém que viveu cercada do amor de sua mãe ao ponto de não ver maldade nas pessoas.

- Cale sua boca, hein!- Dizia sarcástico.- Não vai contar nada pra sua mamãezinha ou eu mato vocês duas, sua bastardinha.

Nada respondeu, sentia desespero, queria apenas que tudo acabasse. A voz já rouca da menina não havia feito efeito, não fora suficiente para a salvar da pior situação de sua vida. Desejava estar junto de sua mae naquele momento, ou que ao menos estivesse morta, que sua vida acabasse, seria melhor que sentir-se tao destruída quanto estava sentia. A física dor em seu corpo franzino era imensa, porém demasiadamente insuficiente perto do que seu coração transbordava, uma dor que não tinha explicação. Fechou seus olhos e pediu, pediu com todas as suas forças que tudo simplesmente desaparecesse, que tudo não passasse de um sonho, de uma alucinação. Seu coração estava desolado, sem vida, sem esperanças, sabia que era tudo real, isso era claro, mas só queria que sua vida fosse acabada ali, naquele momento. Pediu a forças celestiais que tirassem sua vida ou que a fizesse desaparecer, instantaneamente se esquecendo do pior episódio de sua vida. Quando terminou o cruel ato, a deixou chorando na cama e se levantou, nú e com um ar de superior. A menina já não tinha mais forças para nada senão chorar, o sangue pelos lençóis o fez se sentir ainda mais vitorioso. Uma mente doentia, uma atitude abominável, de alguém que não merecia uma virtude chamada vida. Sorriu diabolicamente para a menina que se sentia assustada, então se aproximou novamente e passou a mão em seus cabelos, ela tentou esquivar-se de seus toques, mas ele puxou seus cabelos novamente com brutalidade. Amedrontada enquanto aquelas mãos grandes e fortes agarravam firmemente seus cabelos, Ana não se moveu. Kaloey sorria, com ar de vitória, como se o que acabou de fazer fosse algo bom e era, pelo menos na cabeça doente dele. Ela fechou os olhos desejando que quando os abrisse, seu agressor sexual não estivesse mais ali, sua pele rejeitava qualquer tipo de toque vindos do monstro em sua frente.

- Pela manhã quero essa bagunça toda arrumada, sua mãe não pode ver esses lençóis cheios de sangue. - Cheirou os cabelos da menina, em seguida, soltando-os com brutalidade.- E trate de colocar um sorriso nessa sua carinha, porque se Rose apenas desconfiar do que aconteceu aqui, você já sabe muito bem o que pode acontecer.- se levantou e pegou suas coisas.- Boa noite, Anastasia.

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Alguns meses depois:

A menina chegou da escola e entrou na casa quase chorando mais uma vez, cada canto daquele lugar lhe trazia as memórias mais nojentas e horríveis desde que seu padrasto decidiu tocar em seu corpo, há alguns meses. Depois daquilo, o homem unha fazendo suas barbáries com frequência. Adentrar aquele lugar lhe trazia tanto medo que só de encarar o ambiente já sentia uma imensa vontade de chorar. Deixou sua mochila sobre o sofá na sala e correu para a cozinha em silêncio, desejando que sua mãe já tivesse chegado e estivesse preparando a refeição. A noite anterior foi a pior de sua vida, foi severamente ameaçada de que se contasse a sua mãe, ambas seriam punidas, mas estava disposta a abrir o jogo mesmo assim, talvez as ameaças dele não seriam reais. Talvez Rose tivesse a solução que Anastasia precisava para se livrar finalmente das garras de seu padrasto e ter uma vida feliz novamente, era só isso que queria. Ela sabia que jamais voltaria a ser cem por cento a menina feliz e livre de traumas que era antes, mas pelo menos seria livre de Kaloey. Antes de entrar, parou no corredor e limpou suas lágrimas que involuntariamente caiam de seu rosto. Suspirou escutando o canto de sua mãe e sorriu, o perigo já não mais estaria por perto, sentia segurança na presença da ruiva mais velha. Adentrou a cozinha e a abraçou fortemente enquanto estava de costas. Quando a soltou sua mãe se virou para a filha e a abraçou novamente, sentia-se segura para contar-lhe sobre tudo o que estava se passando na casa.

- Oi, filha!- Rose sorriu.- Uma noite longe e você já sentiu saudades?

Não queria perder o foco do assunto, portanto ignorou o comentário da mãe e começou:

- Mamãe. Eu tenho uma coisa muito importante para te cont...

- Que bom que a família está novamente reunida, não é?

Kaloey adentrou a cozinha ficando bem atrás da garota. Anastasia pulou de susto ao ouvir uma voz grossa e masculina atrás de ambas, se virou, vendo-o entrar pela cozinha com o mesmo olhar da noite anterior.

— Que bom que veio para o almoço, querido.

Rose foi até seu marido, recebendo-o com o abraço e o beijo de sempre. Ana apenas suspirou, sentido o medo a invadir mais uma vez. Enquanto abraçava sua mulher, o homem encarou a garota com um sorriso perverso no rosto.

— Senti que quero acompanhá-las hoje. E então, o que tem de especial para hoje? Estou faminto!

O olhar de alguém que era doente, mas que compriria tudo o que anteriormente prometera, era assim que Kaloey a encarava. Sorriu para a menina que desviou bruscamente o olhar, não poderia mais contar sobre nada do que aconteceu. Não tinha coragem de arriscar a vida de sua mãe, foi então que decidiu guardar para sempre consigo aquele segredo. Foi a pior decisão que já havia tomado em toda a sua vida e talvez perceberia tarde. Abaixou o olhar.

- Sentem-se vocês dois, vou colocar a comida a mesa! Temos macarronada hoje!— Mencionou animada.

- Eu sabia que não me arrependeria de vir!

Ela obedeceu sua mãe e se sentou, Kaloey sentou-se de frente para a menina, não tirava os olhos da mesma que se sentia aterrorizada com seu olhar, era como se a lembrasse constantemente do que poderia fazer se seu segredo fosse revelado. Sorria a todo momento mantendo a farsa, Rose terminou de colocar as coisas na mesa da cozinha e se sentou também com um sorriso deslumbrante no rosto, sentia-se empolgada em saber como fora o primeiro momento de ambos juntos.

- E como foi a noite aqui?

- Foi ótima meu amor.- Colocou a mão sobre a de sua esposa na mesa.- Sua filha e eu fizemos atividades e brincadeiras bem... Divertidas. Não é, Ana?

Encarou-o furiosamente, sentindo um ódio reprimido dentro de si. As lembranças invadiram forçadamente sua memória. A menina forçou-se a focar na pergunta, não podia demonstrar fragilidade diante da mãe que perceberia tudo imediatamente. Apenas concordou com a cabeça.

- Bom, então se divertiram sem mim.- Rose foi a primeira a se servir.- Filha, o que você tinha de tão importante para me contar?

Anastasia encarou a mãe com os olhos levemente arregalados, depois se voltou para o padrasto, que inclinou a cabeça para o lado antes de reforçar a pergunta da esposa.

- É, Ana. Diga-nos.

- Não é nada, mamãe. Só... Coisas de escola.

- Espero que não seja sobre suas notas caírem novamente, mocinha. Você é uma garota muito inteligente, mas ultimamente tem andado muito desapercebida. Se continuar, te levarei em um psicólogo.

- Eu posso ajudar Ana nos estudos, meu amor. Tenho mais tempo em casa do que você, então acho que seria uma boa ideia.

- É claro, querido, uma ótima ideia. Mas mudando de assunto.— Ela apertou a mão do marido.— Ana, eu... Quero dizer, nós temos uma surpresa para você!— Sorriu largamente, tirando algo do bolso e dando para a menina.

— O que é isso?

Perguntou Ana, olhando para um pequeno palito com dois pequenos bastões cor-de-rosa desenhados no meio. Juntou as sobrancelhas.

— Estamos grávidos!

Acompanhante a preço de Sangue

Atenção: Se você chegou até aqui, obrigado, mas tenho que avisá-lo que este livro contem violência, então se não gosta deste tipo de conteúdo, sugiro não continuar. De qualquer forma, seja bem-vindo! Boa leitura.

...

     Uma espécie de organização clandestina fora montada para fazer o que a justiça não era capaz. Era, na verdade, uma facção contra estupradores e outros tipos de criminosos que se localizava na grande e pacata Rosenfeld, que atualmente estava mais que agitada em busca desta tal facção, chamada os Justiceiros. Anastasia era uma Justiceira por opção, amava agir e não ficar apenas dentro do lugar onde se reuniam alguns dos que podiam ser vistos, vendo papeladas ou dando ordens e por isso, neste momento estava se arrumando para mais uma ação. Era a suposta acompanhante de luxo de um suspeito. Este, estava entre os maiores e mais conhecidos da cidade, mas não passava de um pedófilo. Tinha a ficha completa de sua próxima vítima e o faria não passar desta noite com vida. Jhofrey McFarland era investigado pelo FBI por crimes como estupros e abusos contra garotinhas entre sete e nove anos, também fazia filmagens de suas vítimas, provas que foram capturadas pelos justiceiros por um hacker que entrou no sistema de seu computador através de um bate papo. Para a polícia este caso havia sido arquivado, pois não conseguiram as provas suficientes. Provas estas, foram adquiridas pela facção e a total investigação estava nas mãos dos Justiceiros. Um ano inteiro de investigações até que descobriram a real história, ele realmente fazia todas as barbaridades indicadas na ficha com crianças de orfanatos e abrigos. Jhofrey era esperto, mas não era mais que eles. Ao contrário da polícia, os justiceiros não os levava para um confinamento mofado com grades e uma cama de cimento, os justiceiros os mandavam diretamente para o inferno e era o que iria fazer naquela noite com Jhofrey.

Ana era uma suposta acompanhante de luxo nesta noite em um evento importante, afinal, Jhofrey, além de criminoso, era um deputado federal muito poderoso. Olhou pela última vez no espelho. A aparência deveria estar a frente, considerando que Jhofrey era um poderoso deputado e o grande evento tinha a finalidade de fazer homens adquirir mais poder e exibir seus "troféus" do lado, o que a deixou um pouco apreensiva, também haveriam grandes juízes ali e Anastasia era procurada. Estaria arriscando-se muito colocando-se totalmente em público, mas era seu trabalho. Trajava um vestido vermelho com um decote não tão exagerado, entretanto uma fenda um tanto ousada na perna. Batom vinho, maquiagem marcante a deixando com um rosto e corpo extremamente sensuais. Qualquer homem que a olhasse sentiria um extremo desejo de tê-la em sua cama naquela noite. Essa era a parte que mais odiava. Não gostava de olhares masculinos voltados para si, abominava chamar a atenção de todos os usuais olhares lascivos. Ao contrário de outras justiceiras, Anastasia Stellenboschs nunca levou suas vítimas para a cama. Assim que os conhecia dava um jeito de marcar um encontro com a vítima, de preferência noturno e era ali que executava o plano sem antes ter contato sexual, por este motivo era conhecida como Anjo Negro. Anjo porque segundo as justiceiras "resistia" a tentação e Negro por não ter piedade. Colocou em seu pescoço um colar de pequenos diamantes e brincos em conjunto para decorar sua transformação. Estava uma mulher completamente diferente do que costumava ser, mas não lhe importava, queria ser invisível, se fosse possível. Sabia que este era um evento muito importante e invisibilidade não era uma opção. Por fim, colocou um salto alto da cor dourada e detalhes em branco e ficou esperando pelo homem em sua suposta casa. Não demorou muito até a chegada de Jhofrey que buzinou anunciando sua chegada. Ligou o microfone que se localizava no colar e instalou um broche em seu vestido, continha uma câmera. Em seu ouvido havia um ponto para escutar o que seu parceiro diria.

— Anjo negro para o setor.— Testou.— Justiceiro Anjo Negro na escuta.— Foi até a janela, vendo-o já parado lá fora a conversar com um motorista.— O alvo chegou. Setor na escuta?

— Setor um, disponível. Estou tendo uma visão do alvo através da câmera instalada no exterior da casa, siga em frente com o plano, mas com cuidado, ele tem seguranças à sua disposição.

— Você sabe que já lidei com isso.

— Certo. Apenas... Tome cuidado.

Dito isso, Ana foi até o sofá onde sua pequena bolsa fora anteriormente jogada, colocou-a em seu ombro, prestes a sair. Era uma pequena bolsa vermelha com uma alça na cor dourada, ali continha a seringa já com o veneno que deveria usar e sua arma, para o caso de tudo fugir do planejado. Também escondia uma faca em sua cinta liga na perna esquerda onde não havia uma fenda, essa cinta liga era adaptada para a faca. No cabelo, um acessório que guardava um pequeno canivete. Estava preparada para enfrentar qualquer desafio, caso estivesse se sentindo ameaçada, cumpriria a missão e fugiria. Caminhou até a porta, sentindo um arrepio se alastrar por toda a espinha, como se algo diferente fosse acontecer naquela noite, algo ruim. Afastou logo seus pensamentos ruins e abriu a porta. Jhofrey a esperava encostado do lado de fora do carro com um longo sorriso em seu rosto, surpreendera-se com a beleza da ruiva. Sentiu nojo, uma vontade imensa de matá-lo ali mesmo, era como se visse nele seu padrasto. Anastasia via Kaley em todos os homens que olhava, odiava ver seus sorrisos lascivos, suas olhadelas, suas existências. De qualquer maneira, o homem lembrava Kaley até em sua forma de a olhar, Anastasia sentia-se novamente vulnerável, como se as noites tão horríveis fossem voltar a acontecer, mas disfarçou e decidiu continuar com o plano. Setor via sua apreensão através das câmeras, ele também estava desconfiado. Também sentiu como se naquela noite fossem acontecer coisas diferentes, mas tinham que seguir com o plano.

— Caminhe até ele.— Incentivou.— Tudo estará bem, Anjo Negro.

Assim fez, caminhou até Jhofrey com um pequeno sorriso em seus lábios. Eles se cumprimentaram com um beijo na bochecha e logo estavam no carro, em direção ao tal evento. Durante o caminho conversaram sobre coisas aleatórias e o homem ao seu lado só se sentia mais atraído por uma mulher que aparentava ser tão inocente e alheia às outras, ela respondia apenas o necessário. Sua falsa timidez dava o ar de mistério que todos os homens gostam em uma mulher, não foi diferente com este. Imaginava como seria sua noite, mas no pensamento da mulher, adivinhava que o homem um pouco mais velho não passaria daquela noite. Ao perceber que recebia olhadas indevidas, a mulher apenas olhou pela janela, tentando distrair sua mente. No dia em que se conheceram, há três dias atrás, apresentou-se para ele como Diana, era protocolo em todos os casos não revelar seu verdadeiro nome para o caso de algo dar errado, mesmo que fossem capturados, atrasando assim o sistema. Os justiceiros já se arriscavam de mais revelando seus rostos para as vítimas, por isso tudo tinha de sair perfeitamente bem e segundo o planejado. Logo chegaram ao local da festa, onde vários jornalistas esperavam os multimilionários, juízes e políticos chegarem para serem entrevistados e saírem na mídia com suas belas acompanhantes. Era por isso que estava sendo investigada, para o FBI — eles não sabiam ainda seu verdadeiro nome, fora excluído todos os dados dos justiceiros do sistema, mas eles tinham algumas informações da mulher —, Anastasia era além de uma simples acompanhante de alguns multimilionários com quem já foi raramente vista. Quase todos morreram na mesma noite que saíram com ela. Decidiu não arriscar ser vista mais uma vez. Virou-se para Jhofrey.

— Não tem como entrarmos por um lugar onde não tenham muitos jornalistas e paparazzis?— perguntou com voz meiga.

Não era isso o que o homem havia planejado com a equipe do FBI, mas a mulher o convenceu com sua meiga e doce voz.

— Tem sim.— Acenou para o motorista.— Vá pela entrada lateral.

O carro acelerou mais uma vez e foi até uma porta onde não tinha ninguém além dos seguranças do próprio lugar, que aliás haviam mais seguranças que o normal. Dimitry (Setor Um) sentia-se preocupado com a ruiva, por provavelmente estar entrando em uma armadilha dos investigadores, contudo era praticamente impossível abortar. Pediu que a missão fosse seguida, disse haver mais três justiceiros lá dentro para analisar tudo como sempre e lhe dar cobertura. Ambos não sabiam que Ana, na realidade ficaria sozinha nesta missão. Os outros justiceiros poderiam ser pegos a qualquer momento, estavam na mira dos agentes. A comunicação entre Dimitry e os outros havia sido cortada, não nada a ela para não lhe preocupar. Pensou que poderiam apenas estar com um problema na comunicação, apesar de ser avançada em tecnologia. Ana desceu do carro e foi em direção a emboscada que haviam armado, sentindo um certo pressentimento, mas dizia dentro de si não sentir medo. Seguiu pelo jardim até o tapete vermelho, e continuou a caminhar indo de encontro ao enorme lugar. Logo adentraram o hall onde o homem que os recebeu os levou até o salão de festas e os conduziu até a maior mesa. Jhofrey não largava seu braço, queria mostrar para todos seu "troféu", Ana era uma mulher muito bonita e se sentiria muito feliz por mostrar a todos o que conquistou. Em segundos, os olhares estavam voltados para a linda acompanhante do político, sentiu seu estômago embrulhar e sua cabeça girar, a sensação de desespero voltou como em todas as noites que foi tocada contra sua vontade na adolescência. Os olhares lascivos dos homens ao seu redor lhe fazia se sentir como aquela garotinha frágil de alguns anos atrás, o ratinho de estimação de Kaloey. Dentro de si, chorava e gritava em uma crise descontrolada de medo, mas por fora sorria para todos enquanto seguia para a mesa com Jhofrey. Anastasia não sabia que apenas uma pessoa além de Dimitry percebeu seu incômodo, alguém que conseguia ler qualquer pessoa através de seus olhos. Dimitry a todo tempo lhe confortava dizendo que tudo estava bem, que o plano ia correr tranquilamente segundo o usual. Ele era o único além dela mesma que sabia o que aconteceu em seu passado e apesar de não o conhecer pessoalmente, ambos eram muito amigos. A organização dos justiceiros não era uma organização específica, não era um covil, apenas uma facção formada por pessoas que trabalhavam secretamente e recebiam suas recompensas por cada trabalho. Obviamente tinha uma central, como a cabeça da máfia, onde eles investigavam e de lá saiam os maiores planejamentos. Para não arriscar uma possível queda da facção, era importante não manter contato com os planejadores além do que já tinham, até mesmo investidores não tinham muito contato com os planejadores. No meio de tantas pessoas se sentia mal, que nada iria ficar bem depois daquela noite, mas estava disposta a dar sua vida por aquela missão se fosse necessário, só para salvar as prováveis próximas crianças que sofreriam com estupros e abusos tendo suas vidas marcadas para sempre. Não permitiria que mais ninguém tivesse um buraco negro no coração, ou que se culpasse por um estupro. As mulheres presentes possuíam carrancas horríveis em seus rostos diante de Anastasia. Os homens a desejavam​ e Jhofrey se sentia como um campeão de uma luta de MMA, praticamente todos os olhos foram voltados aos dois. Seus olhos percorreram por todo o local, fazendo uma varredura em todos, alguns eram suspeitos para a mulher, quando parou em um certo par de olhos azuis. Paralisou por um momento, Jhofrey a chamou disfarçadamente ao perceber seu transe, mas era como se ninguém mais estivesse presente, apenas os dois. Dimitry também a chamava pelo ponto, mas por um momento também não o escutou, sentiu uma vontade imensa de correr para fora diante do olhar mais intimidador que já viu, ao mesmo tempo que queria correr em sua direção. Era misterioso e ao mesmo tempo amedrontador, uma pessoa impossível de se ler apenas pelo olhar, isso intrigou Anastasia. Respirou fundo e voltou a si.

—Diana?— Chamou Jhofrey pela milésima vez. Desviou seu olhar para o mesmo.— Está tudo bem? Você ficou pálida de repente, como se estivesse com medo.

— É... Estou.— Respondeu sucinta.

— Então vamos, querida.— Ele sorriu​ e se virou, voltaram a caminhar para a mesa onde aquele homem estava.

— Droga!— Dimitry disse ao conseguir ver um par de olhos azuis e tatuagens saltando do paletó mais caro da noite.— O reconhecimento facial me diz que é o Juiz Frederick Schumacher, se desejar abortamos a missão. Se deseja isso, é só pigarrear.

Ela não o fez, pelo contrário, continuou caminhando pelo salão até que chegou na grande mesa, recebendo olhares de todos os que estavam sentados. Jhofrey puxou a cadeira para sua acompanhante se sentar, orgulhoso de si mesmo, estava acompanhado da mulher mais bela. Se sentou ao seu lado e a apresentou como Diana Campbell, ambos recebendo um cumprimento abreviado da maioria. Então todos estavam conversando e o jantar foi seguidamente servido. Após terminarem, continuaram conversando sobre trabalho enquanto alguns foram dançar. Ana continuava calada, apenas observando o local, e constatando o que mais temia: não havia nenhum justiceiro ali para dar cobertura e também haviam agentes do FBI disfarçados por todos os lugares. Olhavam disfarçadamente em sua direção em certas horas, mas logo voltavam a seus disfarces. Por um momento o juiz Frederick tirou seus olhos penetrantes que a encaravam impertinentes, então começou passou a repará-lo. O homem tinha tatuagens em suas mãos, dedos e pescoço. Não podia ver mais detalhes, pois estava em um bom terno que cobria-lhe muito de seus desenhos na pele, mas era evidente que os desenhos passeavam por muito de seu corpo. Os cabelos eram quase loiros e sua pele bem branca, porém pequenas bolsas escuras em baixo dos olhos demostravam a dedicação extrema de tempo ao trabalho. Não era coincidência ser conhecido como o melhor juiz de Rosenfeld e não só de lá. Logo seus olhares novamente se cruzaram fazendo-a desviar imediatamente se virando para Jhofrey. O velho babão conversava com um ministro sentado ao seu lado, mas virou-se imediatamente ao toque feminino e delicado da mulher do lado oposto.

— Preciso de um pouco de ar, vou até a varanda.— Comentou baixo.

— Tudo bem, linda. Volte logo.

Ele sorriu e ela se levantou educadamente, pegou sua bolsa e passou a caminhar rapidamente até a varanda se perdendo em meio ao emaranhado de pessoas. Parou na varanda escondida atrás de umas cortinas grossas e brancas, que vinham do alto teto e paravam no chão. Observava a clara noite e se lembrou que foi em uma noite linda como esta que teve os piores acontecimentos de sua vida. A bela noite não a impediu de seu sofrimento. Tratou de afastar aqueles pensamentos da mente, não era momento de chorar e fraquejar "feito uma mocinha". Abriu sua bolsa, vendo os objetos necessários para fugir dali, mas voltou a fechar por medo de estar sendo vigiada.

— Setor Um!— Chamou ajeitando o ponto em sua orelha.— Setor Um, responde. Não vejo os justiceiros e tem agentes da polícia aqui. O que esta acontecendo?— Não havia resposta.— Setor?

Bufou irada. Agora nem mesmo Dimitry a respondia — a quem conhecia por Setor Um, que era o setor correspondente a sua área de trabalho e atendimento. A conexão foi cortada em algum momento, mas como poderiam interferir em uma tecnologia de conexão tão avançada? Algo estava errado. O que poderia estar acontecendo? Por que tinha tantos agentes da polícia ali? Não importa o que viesse, estava preparada. Colocou as mãos na barra da sacada e respirou fundo, fechando os olhos e tentando pensar no que fazer. Foi quando sentiu um perfume se alastrar pelo ambiente, não estava sozinha e praguejou a si mesma por não ter olhado para trás antes de falar. Havia cometido uma grave falha. Ana tinha a companhia mais misteriosa da noite aproximando-se cada vez mais. O homem por sua vez, encarava a mulher de costas, ouviu a tentativa de conexão satisfeito. O plano de a encurralar estava dando certo.

— Ele não vai te responder, Diana. Se é que esse é mesmo o seu verdadeiro nome...

Um sussurro em seu ouvido trouxe-lhe grande arrepio na espinha. Virou-se abruptamente dando de cara com o mesmo par de olhos azuis bem próximos de seu rosto, um frio indecifrável percorreu sua espinha e se sentiu completamente vulnerável diante de olhos tão penetrantes e impenetráveis. Indecifravelmente não sentia nojo ou desconfortável diante de Frederick, apenas intrigada. Por que não sentia o mesmo que com todos os homens? Por que aquele olhar não a deixava com nojo, repugnância ou qualquer outro tipo de sentimento? Ele a olhava como se quisesse desvendar seu grande mistério, curioso para saber qual era a dor carregada dentro dela, emitida em seus olhos. Viu nela uma inocência e sabia que esse jeito era apenas uma capa, disfarce com a finalidade de se esconder. Assentiu concordando com o que dissera, mesmo não tendo entendido seu dito, completamente embriagada por certo par de olhos azuis. Desviou-se do juiz e caminhou de volta para o evento, voltando para Jhofrey que bebia uma taça de vinho. Aquela presença intrigava-a.

— Quero sair daqui. Agora.— Disse firme.

Interrompeu a conversa dele com o mesmo senhor. Disfarçando, sorriu para a bela moca, surpreendido com a firmeza de uma mulher aparentemente frágil e delicada.

— Espere, ainda temos que ver o leilão.

— Eu disse agora.— Insistiu, ignorando olhares.— Me sinto mal.

— Tudo bem,— Bufou.— venha comigo.

Ele se levantou, despedindo-se do velho que apostava todas as suas forças que seria a cobaia para o deixar ainda mais imponente. A guiou aparentemente pelo mesmo caminho que vieram. Tudo parecia normal e apesar de ainda estar intrigada com o Juiz e sem conexão com Dimitry, acreditava que tudo correria bem. Tão ligada aos pensamentos e alheia a tudo, a moça não reparou quando viraram para o lado oposto de onde tinha ido. Caminharam por mais um tempo até que Jhofrey parou de frente a uma porta e a abriu, dando passagem para a mulher e seguiu atrás, entrando em um cômodo escuro. A luz foi ligada. Droga! Pensou. Entrou em uma sala onde os outros justiceiros estavam algemados e amordaçados, suplicando com o olhar por piedade. A mulher sentiu o sangue subir e um medo lhe invadiu, havia mordido a isca, não ouvindo seus sentimentos e seguindo em frente com a missão. Olhou para um canto da sala, Frederick já estava lá, fitando-a com um olhar neutro e sentando tranquilamente.

Como chegou tão rápido?

— Ops...

Jhofrey comentou sorrindo, enquanto se sentia vitorioso, ele apenas a faz voltar a si. Voltou-se para os justiceiros e todos tinham olhares​ de derrota, foram descobertos e pegos. Sabia que tinham famílias os esperando, ela não, ela não tinha nada. Começou a pensar em algo que os livrasse e apenas uma coisa veio em sua mente, então, com agilidade pegou o acessório de seu cabelo e o colocou no pescoço de Jhofrey, fazendo o homem ficar em sua frente, enquanto apertava o canivete em seu pescoço. Frederick se levantou mantendo o contato visual com ela e um copo em mãos. Homens anteriormente apontando armas para os justiceiros amarrados, agora apontavam suas armas na direção da mulher, a fim de disparar assim que vissem qualquer movimento brusco.

— Não é assim que vai conseguir escapar, justiceira.— Disse Frederick.

— Não tenho nada a perder, Meritíssimo.— Enfatizou o apelido atribuído ao mesmo.— Não quero escapar.

Em sua mente, só o que queria era libertar os outros. Não se importava com seu destino a partir daquele momento, desde que estivessem livres.

— O que você quer?

Parou bem em sua frente. Ela estava na mira de tantas armas, mas não sentia medo. Só queria que Jhofrey pagasse por tudo o que fez e que seus companheiros de trabalho, que arriscaram suas vidas fossem para longe daquela armadilha.

— Deixe os três irem e não os machuque.

— Vocês já foram descobertos, não há escapatória.— Frederick insistiu.

— Tem que haver, pelo menos para eles. E se eu souber que me enganou, mato você e esse estuprador aqui.— Apertou mais o objeto cortante contra o pescoço do homem.

Ele parecia pensar na "proposta" de Ana. Olhou para os três ajoelhados e amordaçados com olhares suplicantes, mas ao mesmo tempo duros. A mulher parecia desesperada, mas quase não demonstrava. Algemados e amordaçados. Suspirou, voltando-se para a Justiceira com Jhofrey desesperado sob seu poder. A ruiva era bem habilidosa, tinha medo de seu amigo pagar por isso.

— Soltem-nos.

Ordenou para os policiais dentro do ambiente e assim fizeram após olharem uns para os outros, confusos, mas não era seu trabalho questionar ou desacatar as ordens de um juiz. Logo os três justiceiros já não estavam na sala, foram-se sem olhar para trás, na tentativa de fugir o mais rápido possível. Anastasia sabia que não sairia dali do jeito que entrou, mas também não deixaria mais crianças sofrerem, então decidiu executar a missão até o fim. Sem medo de que as armas apontadas para sua cabeça seguidamente disparassem, a mulher agiu, deixando todos surpresos e abismados. Rapidamente passou a faca em seu pescoço, esguichando o sangue em quem estava ao redor e deixou o corpo de Jhofrey cair de joelhos. Em seguida, deixou o objeto seguir o corpo de Jhofrey ao chão, levando as mãos na cabeça, enquanto sorria. Os homens continuavam com as armas apontadas para ela, esperando uma só ordem, mas antes que pudessem matar a assassina, Frederick fez sinal para não atirar. Depois disso uns homens a imobilizaram e algemaram suas mãos.

— O que você fez?— Frederick gritou, logo se virando para o amigo no chão.— Jhofrey?— Disse ao homem agonizando no chão.— Aguenta, cara!

— Ele tinha que morrer.— Ana disse baixo, impedindo-o de se ajoelhar para alcançar o amigo.

Fitou-a com indignação e de seus olhos pareciam sair chamas de fogo. Instintivamente uma das mãos de Frederick foram parar no pescoço da mulher, mas retirou depois de um tempo, tentando manter a calma para não se igualar. Isso sequer a abalou. Ajoelhou-se na altura de seu amigo. Mediu os batimentos cardíacos do homem no chão e constatou que já não estava mais vivo. O desespero e a culpa atingiam o Juiz, sabendo que nada disso teria acontecido se não tivesse escolhido Jhofrey para ser cobaia de uma mulher tão perigosa. A raiva também aguçava seu interior, quase o cegando, então se levantou pegando em seu pescoço novamente. Ana o encarou sem abaixar a cabeça, com um semblante um tanto vitorioso e aliviado. Pensava que este sera apenas mais um que não faria mais mal a nenhuma criança. Ela não tinha medo de homens e muito menos da morte.

— Sua...— Forçou-se a calar.— Ele era meu melhor amigo!

— Lugar de estuprador de criancinhas é a sete palmos da terra.— Sorriu.

— Não tínhamos provas suficientes!— Alterou-se.— O FBI ainda o investigava.

— Mas nós tínhamos. Sempre estamos a frente de vocês e do FBI.

Não queria mais ouvir sua voz ou ver seu rosto, controlava-se para não perder a paciência. Soltou o pescoço de Ana, evitando a olhar.

— Levem essa mulher daqui. Já sabem para onde ela deve ir.

Eles acataram as ordens, levando-a imediatamente da sala. Frederick ficou ali, parado olhando para o nada. Respirou fundo se abaixando e olhando para o corpo de Jhofrey que já formava uma poça de sangue em volta. No meio, apenas o corpo inerte do homem, com os olhos exageradamente abertos. Tocou seu ombro, sentindo os olhos embassar. Parou para pensar naquela noite e em como pôde permitir aquela mulher se aproximar de seu amigo. Como não pensou nas consequências? Ele era investigado pelo FBI por crimes de estupro e abusos a crianças, mas não estava comprovado o que realmente fizera. Frederick não poderia acreditar, Jhofrey tinha uma filha de apenas seis meses e a mãe morreu no parto. Essa menina não tinha família, não tinha onde ficar, não lhe restara nada além da família da parte materna que Frederick sabia que a rejeitaria, então prometeu a si mesmo que cuidaria dela como se fosse sua filha.

Levantou-se dali com as mãos cheias de sangue e a mente pesada, seus pensamentos são levados até aquela mulher com o vestido sensual. Realmente foi capaz de prender seus olhares, o fez de bobo e depois executou seu plano inicial com perfeição. Algo naquela mulher lhe chamou a atenção, porém junto com a assassina, forte e fria, havia uma extrema fraqueza. Uma menina que talvez sofreu muito e agora estava atrás de grandes barreiras, protegendo a si mesma de possíveis monstros. Protegia-se à sua maneira. Afastou aqueles pensamentos e continuou caminhando pelos corredores, havia acabado de perder seu amigo. Não sabia exatamente o que fazer com "Diana", mas iria pagar judicialmente pelo que fez.

Presídio

Caminhando pelos corredores do presídio Anastasia podia sentir o que sua presença causava entre as detentas, algumas delas não gostaram de ter que receber uma novata, enquanto que outras que já ouviram falar dela, limitavam-se a encarar de longe. Os olhares tortuosos e incomodados não parecia ser um problema para a garota de sorriso curto, seus pensamentos a respeito delas não era nada agradável, Anastasia não costumava agir contra mulheres, mas seria capaz de se proteger, se necessário. Não tinha mais controle sobre suas ações, sua sede era apenas de sangue, tornara-se tão ruim quanto a pessoa que a destruiu. Algumas vaiavam sua chegada, outras soltavam comentários do que pretendiam fazer com a recém chegada, mas nada a fazia se sentir abalada. Não importava o que diziam ou pensavam a seu respeito, garantir sua liberdade era o que pretendia fazer assim que seu plano estivesse concretizado, ou se alguém de seu bando a viesse libertar antes disso. Sabia que fariam dela uma cobaia, uma isca para alcançar o resto da facção e se preparava mentalmente para os dias que se seguiriam. Não fosse o maldito juiz, Ana estaria mandando outro mal caráter para o inferno. Não era bom o fato de ter lhe chamado atenção, colocando-se como obstáculo para a mulher, pois ela estava disposta a superar todos os obstáculos postos ao deu redor.

Capturou a pessoa errada, mas terá sua punição por tal e vai ser breve, assim que me ver livre deste lugar nojento e imundo onde estou.

O impulso contra o ombro direito a fez sair de seus pensamentos e quase ir de encontro ao chão, seguido de risos nada silenciosos remetentes não só das detentas, como das carcerárias que a acompanhavam até sua cela. Com algemas ligadas com correntes em suas mãos e pés, a mulher se via quase vulnerável diante das pessoas ao seu redor, mas suas habilidades não lhe deixaram assim completamente. Anastasia pensava que em breve estaria junto de algumas detentas, dividindo a cela e imaginava o que teria de fazer para se proteger. Pessoas consideradas por ela inúteis, sentiam-se superiores à novata, pessoas mais perigosas. A ameaçavam, zombavam. Sorriu de lado pensando que seria uma boa ideia se divertir à sua maneira com algumas internas. Consideraria ótimo ver sangue entre os corredores abandonados pela limpeza, não passavam de um lugar imundo, não faria diferença haver sangue. Observava as atitudes de cada uma das detentas, as fraquezas de algumas eram evidentes. Considerada por si mesma, experiente, Ana sabia como adquirir respeito e seria exemplificando a todos o que faria com quem se colocasse em seu caminho.

Logo chegaram no final do corredor, uma das carcerárias fez sinal para a câmera acima da porta de sua cela para ser aberta. As portas do presídio eram abertas por botões localizados na sala das câmeras. Um modo de reduzir as fugas, mas não cem por cento eficaz e talvez também não seria para Ana. Ao colocar o primeiro pé na entrada da minúscula sala branca, uma das mulheres a empurrou com toda sua força. Ao ter noção do que a queda lhe fizera, virou-se para encarar a loura, culpada pela queda. Gravou o rosto da mulher, colocando-a na lista dos pretendia dar um fim. Como anteriormente falado, Ana havia perdido o poder sobre seu lado negro. Com a queda, acabou colidindo o queixo contra o piso queimado por ainda estar de algemas, foi inevitável não se machucar, mas estava longe de demonstrar dor ou fraqueza, logo sairia e ninguém mais seria capaz de a recapturar. Levantou-se encarando a carcerária com um sorriso fraco lateral, pôde sentir o tremor da loura em resposta de sua frieza, em seguida, retomando a postura firme. Ambas as funcionárias sentiam medo de estar em sua presença, mas era necessário em suas mentes, impor respeito. Assim que tiraram suas algemas, as portas foram fechadas, deixando Ana com pensamentos maquiavélicos, dentro.

***.***.***

O juiz esteve em sua cela mais cedo, dizendo coisas que vindas de outra pessoas, não a abalaria, mas pela primeira vez sentiu acontecer. O homem que tanto a intrigava e intimidava, mas que também a irritava, proferiu palavras que fizeram-na se sentir mal pela primeira vez. Fechou os punhos sentindo a ira tomar conta de si. Como poderia se sentir mal por meras palavras? Ana se sentia intrigada, mas ao mesmo tempo irritada por não ter conseguido reagir a tais palavras. Frederick poderia ser sua destruição, mas não se deixaria quebrar, antes o quebraria. Quando finalmente conseguiu proferir palavras, lembrando-o de seu direito de ter um advogado, simplesmente a ignorou, como se fosse alguém a quem não importasse dar qualquer atenção. Sentiu-se como um lixo diante do Juiz implacável. Frederick Schumacher a irritou muito demasiadamente, fazendo-a ponderar descobrir seu ponto fraco e investir pesado. Esse homem a literalmente incomodava, jurou que um dia ainda o mataria com suas próprias mãos assim como pretendia matar Kaloey. Ana ainda não conhecia o que o destino resolveu lhe reservar, a vida poderia ser ilegível inicialmente.

— Ô princesinha!— Olhou para a presença atrás porta.— Olha a comidinha aqui, ó.

A loura fez sinal para que a pessoa que comandava as câmeras abrisse a porta e imediatamente um sorriso se alargou por seus lábios rosados. Era ela, a mulher que a empurrou e a fez cair anteriormente. Pretendia dar um susto para obter seu respeito. Anastasia não se moveu um só segundo enquanto as grades enferrujadas iam automaticamente para o lado, dando passagem para a funcionária. Ela entrou e as portas se fecharam novamente fazendo-as encarar uma a outra. A loura tremeu, ambas não esperavam por isso. Colocou a comida sobre o chão e a olhou novamente, aproximando-se. Ana fitava-a sem desviar o olhar, sentada, imaginando-se saltar dentro de segundos de sua cama feita de cimento e com um fino colchão e agarrando o pescoço da outra. O sorriso maquiavélico em seu rosto deixava a loira em alerta, tentando esconder o medo.

— Você é surda? Não está vendo que eu trouxe comida, cabelo de fogo?

Desviou o olhar, suas ações não passavam de estratégia para o início de uma "brincadeira" demoníaca. A outra mulher evidentemente mordeu a isca, se sentindo ofendida com o modo de estar sendo ignorada e puxou bruscamente o braço da ruiva, a fazendo levantar e a encarar como igual. Muito bem! Pensou Ana. Encaravam-se como iguais, era isso o que queria, ou não. A ruiva inesperadamente pendeu a cabeça para a frente colidindo com a da loira, a fazendo largar o braço da presidiária, cambaleando para trás. Anastasia aproveitou esse momento para agarrar os cabelos da nuca da mulher, virando-a e batendo seu rosto contra a parede. A soltou e a loira se virou tentando pegar o cassetete preso em sua cintura, mas o foco no objeto fora a deixa para depositar um soco na boca do estômago, a fazendo se encurvar e perder as forças após soltar um gemido de dor. Sem ar com tamanha força que usou para desferir os golpes, ela com certeza ficaria com marcas no outro dia. Abriu um grande sorriso, por fim, dando uma joelhada em seu estômago e a fazendo cair literalmente no chão, de joelhos.

Sua mente doentia em ação não a deixava estar satisfeita com a mulher completamente sob seu poder. Abaixou-se ficando à sua altura. A carcerária não sentia mais fôlego diante de tantos golpes em lugares tão específicos. A sanidade mental da ruiva tornara-se inexistente, estava cega. Agarrou novamente os fios de seus cabelos louros pela nuca fazendo-a encarar. Era um olhar como um pedido de misericórdia, isso a animou ainda mais a fim de ver suas dores. Ana a considerava muito fraca para ser uma oponente, o que a obrigou a se conter mantendo um sorriso sarcástico nos lábios. Inutilmente suplicava por misericórdia com seu olhar. Ana sabia que em pouco tempo iria recuperar seu fôlego, ela não poderia se deixar ser denunciada ou isso poderia prejudicar sua futura fuga, sua tão desejada fuga deste local. Nunca esteve em uma cadeia antes e era pior que imaginava, um lugar infernal, onde até a solidão que admirava se tornou seu pesadelo. Foi colocada na cela mais suja e fedida, tudo isso para satisfazer a ilusão do juiz de pensar que estaria pagando pelo que cometeu contra seu amigo criminoso. Estava sozinha na última cela do corredor por ser considerada a detenta mais perigosa pelo diretor do presídio. Não fazia diferença, era apenas mais um lugar que demonstrava o quão sujos e corruptos eram os homens da lei que encobriam o feito sujo de alguém por ser um importante deputado federal. Dimitry tinha um plano para tirar a sociedade dessa miséria chamada de justiça, essa situação precária que todos estavam obrigatoriamente submetidos, logo estariam sob uma direção muito melhor, assim que neutralizassem os vagabundos da lei. Para isso, tinha que ter a ruiva ao seu lado e enquanto a mulher se via trancada, ele, do lado de fora planejava como a faria sair.

— So-so...

— Shii...— Colocou delicadamente o dedo sobre seus lábios.— Não querida.— Sorriu.— Se contar a alguém o que aconteceu aqui, você morre, entendeu? Não tente contar, pois eu saberei e vou mandar meus infiltrados atrás de você.

— Eu vou...

— Você não vai nada, entendeu agora?— Puxou mais seus cabelos com firmeza.— Fique quieta e não conte isso a mais ninguém, ou irá se arrepender! Agora levante e finja que nada aconteceu. Segue teu caminho!

A loura arregalou os olhos, o medo da mulher era evidente. Assim que a ruiva se afastou, fez como se lhe havia ordenado, levantando-se mesmo com dificuldade. Apareceu na porta e logo a mesma foi aberta dando-lhe passagem. A mulher praticamente correu dali sem nem mesmo olhar para trás, a dor não era um obstaculo para se afastar de uma assassina. Sua vida era mais importante, não iria arriscar perto de uma psicopata. Para Anastasia mais uma missão havia sido cumprida, impondo o devido respeito de uma vez por todas. Olhou para a marmita ao chão considerou-a uma comida mal feita, decidindo não comer e por um instante imaginou se poderia estar envenenada. Persistia em tentar ser uma daquelas pessoas boazinhas que pensam nas tantas pessoas que não tem o que comer só para forçar seu apetite a voltar à tona, mas não foi isso o que a incentivou desta vez. Isso literalmente não funcionou, Ana não se considerava uma pessoa boa. Com o tempo se tornou fria, calculista e ruim, como algumas pessoas que conheceu. Não admitia ser como seu padrasto, satisfazia-se por dizer ser alguém que evitava estupros cortando o mal pela raiz. Fazia o que nunca lhe fizeram.

Deitou-se sobre o colchão extremamente fino, a falta de luxos não era algo a que estava acostumada, parecia estar sobre o chão. Ao menos a noite não estava de todo fria, contribuindo para um melhor conforto. O colchão fino não a incomodava o suficiente, limitava-se a pensar em como poderia se vingar do juiz Schumacher. Fechou os olhos. Nada além dos malditos olhos azuis percorriam seus pensamentos, o homem rondava a mente de Anastasia de uma forma incontrolável. Logo o sono invadiu seu corpo, fazendo-a se entregar aos rotineiros pesadelos.

Narração em primeira pessoa:

Estou dentro de uma casa velha e abafada, está muito escuro para conseguir reconhecer o local, mas ainda consigo sentir a parede de madeira úmida contra minha mão esquerda atrás de meu corpo. Não está totalmente escuro, ainda assim é dificultoso ver um palmo à frente. Sinto muito medo, é desesperador saber que estou sozinha aqui, mas não sei como vim parar neste lugar. Começo a caminhar em direção a uma porta sentindo meus pés colidirem com o piso frio e liso, tenho a sensação de que a qualquer momento bichos subirão pelos pés descalços. Sinto o medo percorrer cada veia existente em meu corpo, cada célula se põe em alerta, sou apenas uma criança em meio a tudo isso. Abro e olho para o que está adiante da porta. Vejo um muito longo corredor me esperando, continuo caminhando, não sei o que vou encontrar, mas espero que nada de muito assustador esteja me esperando. Em minha mão direita seguro com força meu ursinho de pelúcia, o qual ganhei a pouco tempo, mas já o tenho como o melhor de todos, meus pensamentos estão vazios, ocos, como nada. Ouço passos. Fecho os olhos e paro no meio do corredor, desejando que tudo não passe de um sonho, um horrível sonho que me trás sensações que não queria jamais voltar a ter dentro de mim, desperta meus piores medos. Mais passos. Sinto tudo piorar, meus medos aumentam e as lágrimas começam a cair de meus olhos. Abro novamente os olhos e continuo o meu percurso, tudo aqui é assustador. Não vejo muita coisa, vez ou outra tropeçando em meus próprios pés. Um súbito arrepio percorreu a espinha.

— Eu vou te encontrar!

Disse uma voz masculina na qual conheço muito bem e odeio tanto quanto minha própria existência. É a voz fria de Kaloey. É inevitável não sentir medo diante de seus passos, indicando uma aproximação, tento ser forte todas as vezes, mas é inútil. Não consigo vencer. Um toque, em meu ombro e tudo muda. Deixei meu ursinho cair no chão e mais um arrepio horrível na espinha, como em todas as vezes que... Oh não! Ele me tocou de uma forma tão ruim, abusou de mim tantas vezes, não posso ficar aqui. Tentei fugir, eu gritei, tentei correr, eu chorei. Oh meu Deus, como odeio esse homem! Seus braços me rodearam e mesmo gritando e me debatendo era impossível ser solta, Kaloey entrou em um dos quartos comigo em seus braços e senti outro arrepio. As memórias repassavam por minha cabeça a todo momento, foi quando o monstro me jogou contra uma cama com violência. Olhei em sua direção, estava com o seu sorriso maldoso e desabotoando suas calças.

Lágrimas caiam por meus olhos, mas parecia não o afetar, minha voz e corpo não me obedeciam. Sou apenas uma criança, apenas uma criancinha! Como ele pode estar fazendo isso comigo? Não, por favor! Fechei os olhos sentindo uma pontada de dor em meu peito. A pessoa que me conquistou a confiança e me tratou como uma filha, não consigo entender seus motivos. A culpa é minha? Será que lhe dei a entender que queria ser tocada? Seus toques faziam-me ter náuseas. Eu chorei tanto. Então repentinamente tudo cessou, simplesmente cessou. Abri os olhos me deparando com os olhos azuis mais intimidadores que já vi e por um momento não sentia mais medo, era reconfortante. Estava por cima de mim, no lugar onde aquele monstro estava, mas não me tocava. Cada braço seu se posicionou em do meu rosto. Minha respiração ainda estava ofegante, Frederick sorriu. Um sorriso encantador e capaz de me fazer ficar desarmada por completo, por um momento pude ver através de seus olhos uma pessoa muito diferente da que mostrou ser anteriormente. Alguém além daquele juiz irritante e intimidador, que me fazia sentir confortável. Um sorriso que me faz ter paz. Era encantadora a forma como me olhava, seu jeito de sorrir. Tudo nele era encantador.

— Vai ficar tudo bem agora.

Estendeu a mão em minha direção. Olhei para sua mão e sem hesitação peguei a mesma, delicadamente me puxou em sua direção e me abraçou em um gesto protetor. Estava tudo bem. Através daquele abraço, pude sentir como se estivesse me mostrando que nada mais iria me machucar, que nada mais iria fazer-me mal algum. Era assim que me sentia ao ter seus olhos em mim. Protegida. Fechei os olhos sentindo seus braços, era uma criança protegida por Frederick, uma pessoa que era capaz de ir até o fim do mundo por mim. Estava tudo bem. Ele via através de olhos frios a criança desprotegida e amedrontada que existia dentro de mim. Uma criança meiga e doce que só precisava despertar e ver que tudo estava bem, não era mais necessário fugir, se esconder. Chorar. Sorri. Aquela foi a primeira vez que sonhei com ele. Foi a primeira vez que vi o que ele via em mim. Me vi através de seus olhos. Estava tudo bem.

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