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Caminho Do Coração

Capítulo Um

Malu

A vida já foi muito dura comigo, hoje estou conseguindo melhorar, não digo que esteja tudo maravilhoso, mas está melhor que antes.

Abro a geladeira só encontro um resto de pizza da noite passada, minha barriga dá sinal de que estar desesperada por alguma coisa, não tem outro jeito, vai pizza gelada mesmo.

O que ganhei esse mês só deu para pagar o aluguel, melhor ter onde morar do que ir parar outra vez na rua.

Se falta o que comer, nem sei o que falar das minhas roupas, acredito que elas já têm vida própria de tanto que as uso.

Você deve estar pensando que eu só reclamo de tudo não é? Mas irei te contar minha história e como cheguei aonde estou.

Hoje acordei antes do despertador, que me acorda todos os dias às 5:00 horas da manhã.

Me arrumo depressa, preciso correr se não chego atrasada, já que vou pedalando para o trabalho.

Trabalho em um restaurante perto do quartinho onde moro, quase não consigo pagar o aluguel do mesmo, é pequeno, mas é o que minha situação financeira permite.

No restaurante faço de tudo, desde cozinhar à varrer, já que é um espaço pequeno que fica próximo a rodovia e é basicamente onde pessoas que estão viajando param para comer algo, ir ao banheiro e descansar um pouco.

Tomo banho e corro para me vestir, visto uma camiseta preta, uma calça jeans e calço meu all star azul.

Pego minha bike e vou pedalando para mais um dia na minha longa e cansativa jornada de trabalho.

— Bom dia Carol. –Carol é a outra moça que trabalha comigo e minha melhor amiga, aliás, ela é mais que uma amiga, posso dizer que é minha irmã.

— Bom dia Malu. –ela me responde.

— Bom dia dona Lúcia. –ela é a dona.

— Bom dia Malu. Você pode ir adiantando os cafés e os leites, daqui a pouco já começam a chegar os primeiros clientes.

— Sim pode deixar.

Entro na cozinha e Carol fica organizando as meses e tudo mais que precisa estar feito para o bom atendimento dos clientes.

Como passam muitos clientes no período da manhã precisamos ter bastante cafés prontos para não faltar. Aqui o café é feito de forma muito simples, no coador de pano, o leite é comprado diretamente de uma fazenda aqui próximo e só é preciso ferver e pôr nada garrafas térmicas.

Esse é um restaurante daqueles de beira de estrada, para ser mais específica é típico do interior, aqui servimos tapioca, cuscuz, e mais um par de coisas encontradas na região nordeste do Brasil.

Por aqui passam pessoas de todos os Estados, que se aventuram a viajar de carro por esse país tão bonito que é o nosso, passam por aqui também caminhoneiros de todos os lugares desse Brasil e também de fora dele.

Já vi e conversei com muita gente, uns muito simples e agradáveis, outros nem tanto, mas a vida é assim, temos uma infinidade de pessoas e cada uma delas tem uma personalidade única.

Irei contar minha história e tudo que já vivi nessa minha não tão longa vida, já sofri muito, comi o pão que o diabo amassou, as vezes nem o pão que o diabo amassou eu tinha para comer.

Mas sempre levei dentro do meu coração que um dia tudo iria mudar, e de fato mudou, mas isso é história para outro capítulo

Capítulo Dois

Me virei praticamente sozinha a vida inteira, meu pai deixou minha mãe quando eu tinha poucos meses de vida, e ela precisava trabalhar para poder me sustentar foi então que me deixou com minha vó e viajou para capital.

Lá arrumou emprego como empregada doméstica na casa de umas pessoas muito boas que a acolheram muito bem, só que ela não tinha muitas folgas, era apenas no final de semana e ficava muito caro viajar para nossa cidade.

A via somente em suas férias e nas festas do final de ano, era a maior felicidade do mundo tê-la perto de mim. Não que não gostasse de ficar com minha vó, pois ela era muito bondosa comigo.

Os anos foram se passando e minha mãe vinha cada vez menos me ver. Recebia apenas ligações no celular que a mesma havia me dado para nos comunicarmos.

Em uma de suas ligações me falou que estava namorando um homem muito bom e que estavam planejando morar juntos, confesso que falei para ela que estava feliz, mas no fundo só eu sabia a tristeza que me consumia por dentro, se ela já não tinha tempo para mim antes imagina só agora.

Quando fiz quinze anos ela não veio me ver, mas me mandou muitos presentes, inclusive um computador e muitas roupas. No mesmo dia me ligou para me dar parabéns e saber se havia gostado dos presentes e também para me dizer que estava grávida e muito feliz.

Me senti mais rejeitada ainda, pois ela agora teria a família que sempre sonhou.

Minha vó sempre me consolava dizendo que minha mãe me amava e que não ficava muito comigo pois precisava trabalhar para pagar meus estudos e tudo que eu precisasse, mas não é só disso que se vive, eu precisava mesmo era dela, de um carinho, de um abraço.

Passado alguns meses meu irmão nasceu, cheio de saúde só que ela não estava muito bem, aconteceram muitas complicações no parto o que acabou levando ela entrar em coma, e infelizmente um mês depois veio a falecer e eu só pude ver minha mãe novamente morta dentro de um caixão.

Não pude conhecer meu irmão já que ele ficou com o pai e só mandaram o corpo da minha mãe para nós.

Minha vó como sempre foi minha fortaleza, nem parecia que acabara de perder uma filha, me deu forças e me consolou como pôde, sempre ressaltando que estava ao meu lado e que não me deixaria sozinha jamais.

Só que o pra sempre, sempre acaba e os dias dela também chegaram ao fim, dois anos depois da morte da minha mãe ela também se foi e eu fiquei completamente sozinha com apenas dezessete anos.

Fui morar na casa de uma tia, irmã da minha mãe, já que nunca conheci meu pai e nenhum de meus parentes por parte dele.

Só que na casa dela as coisas não eram muito fáceis para mim, virei praticamente empregada, fazia de tudo, lavava, passava, limpava, cozinhava e ainda cuidava dos filhos dela, sem contar as diversas humilhações pelas quais eu passava só para poder ter onde dormir e o que comer.

Mal consegui terminar o ensino médio pois ela não queria me liberar nem pra estudar, mas por tanto implorar ela deixou que eu fosse à escola.

Terminei o ensino médio e quis buscar um rumo para minha vida, mas minha tia não deixou, disse que eu não teria capacidade de me virar sozinha e me manteve assim por mais dois anos.

Aos dezenove anos nunca havia ido à uma festa, nem sequer um namorado eu tinha, mas sem falsa modéstia era muito bonita e sentia muitos olhares sobre mim, inclusive do marido dela.

Certa vez cheguei em casa após deixar meus primos na escola e o encontrei sozinho em casa.

Ele veio com um papinho mole de que eu era muito bonita, que era um desperdício eu estar sozinha e que se eu quisesse ele me mostrava o que era bom, mas por sorte minha tia chegou na hora e ficou me olhando torto como se eu tivesse culpa de algo.

Isso se repetiu por muitos e muitos dias, até que certa vez ele tentou me agarrar e me levar até o quarto, fiquei com muito medo pois jamais havia feito aquilo ou sequer estado com um homem, e se fosse para estar com alguém não seria com ele.

Me recusei e ele bateu no meu rosto com muita força que cheguei a sentir gosto de sangue na boca, me chamou dos piores palavrões possíveis e me prometeu que isso não iria ficar assim e que eu saberia o que era bom.

Minha tia me viu machucada mas não perguntou como havia acontecido, e assim se seguiu os dias, até que em um certo deles ele tentou me violentar, mas por sorte ela chegou bem na hora e o impediu.

Fiquei muito agradecida e acreditei que ela ficaria ao meu lado, mas ao contrário do que pensei, disse para eu ir embora, colocou toda culpa em mim dizendo que eu com certeza havia dado em cima do marido dela, me chamou dos piores palavrões possíveis e disse que nunca mais queria olhar na minha cara.

E assim aprendi como me virar sozinha, mas isso é uma história para outro capítulo.

Capítulo Três

Passaram-se cinco anos desde o acontecido na casa de minha tia, nesse tempo tive poucas notícias sobre deles, do fundo do coração espero que ela esteja bem, pois apesar de tudo não desejo seu mal e nem que seja infeliz.

Mas a julgar o caráter do marido dela não dá para esperar muita coisa.

O que me faz mais falta são as crianças penso muito nelas, as amo muito, e não gostaria que nada acontecesse a elas, espero que aquele doente não seja capaz de fazer nada contra as filhas, eles têm três filhos juntos, duas meninas e um menino.

Vez ou outra me pego pensando tudo que me aconteceu e todos os dias de terror que passei naquela casa.

Justamente hoje essas memórias nada agradáveis invadem minha mente, talvez por hoje ser aniversário de morte de minha avó.

Confesso que amo muito mais a minha avó do que minha mãe, sei que ela sempre me deu tudo que eu precisava enquanto estava viva, mas minha avó nunca deixou de me dá carinho, me apoiar e estar comigo em todos os momentos.

Sua partida me deixou devastada, se ela estivesse aqui não teria passado por nada do que passei, além de tudo eu tinha muito amor e carinho, ela era minha melhor amiga, minha companheira para todas as horas.

Os dias na casa de minha tia foram muito difíceis, mas ser expulsa sem ter para onde ir foi a gota d'água para mim.

Sem emprego, sem dinheiro, sem família, me vi sozinha na rua, apenas com umas poucas roupas.

Lembro de ter sentado no banco da praça e ter chorado muito abraçada a minha mochila. Até que uma moça sentou ao meu lado e falou comigo.

Carol

— O que você tem? Dia difícil?

— Vida difícil, se fosse só o dia.

— Me chamo Carolina, e de vida difícil eu entendo, moro aqui mesmo na rua. –a olhei e vi uma pessoa sofrida, mas também vi um brilho no olhar e uma força que jamais havia visto em ninguém.

— Como assim?

— Moro aqui mesmo, a noite coloco o papelão alí embaixo. –disse apontando para a entrada de uma loja. — Não sou só eu, tem também meus amigos, aqui na rua somos como irmãos, se um tem pode ter certeza que todos têm também, dividimos tudo.

— Vocês têm lugar para mais uma?

— Claro, sempre tem lugar, posso dividir meu papelão e meu cobertor com você.

— Muito obrigada.

— Você já comeu?

— Pior que não.

— Vem você chegou a tempo pra sopa, tem um pessoal da igreja que trás sopa toda noite. –disse me segurando pela mão.

Essa menina me ensinou a mais valiosa lição, não precisa de muito para ajudar alguém, ela sem nem me conhecer e com tão pouco se dispôs a me ajudar, assim sem segundas intenções e sem esperar nada em troca.

Nunca encontrei alguém com tamanha bondade em minha vida, claro que com excessão de minha avó.

Se todas as pessoas fossem como elas pode ter certeza que o mundo seria um lugar melhor para se viver.

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