O telefone toca, e assim que Rebeca atende, o telefone é desligado. Assim tem sido há exatamente dois meses. Há dois meses, ela não sabe mais o que é dormi em paz, viver em paz, já que carrega uma única pessoa nos seus pensamentos: Thalisson! Ou melhor, Baruc.
Sentada no sofá de casa, sem ao menos saber o que fazer, ela percebe a porta se abrindo, e uma mulher de cabelos loiros passa pela porta.
— Oi! Eu vou fazer a sua segurança hoje. Está tudo bem?
— Oi, Eva! — Rebeca sorri. — Estou levando como dá. E, você?
— Estou bem. Mas, me conta... o que aconteceu? Tá assim por causa do Baruc, não é?
— Sim... eu fico preocupada com ele lá dentro, sabe? Mesmo sabendo que ele conhece muitas pessoas, e é muito respeitado, ainda temo pela vida dele. Sem contar, que os policiais não gostam nadinha dele, vão pesar muitas coisas sob ele. Eu fico muito preocupada. Eu sei que eu não tenho esse direito, porque o que temos é somente uma dívida, onde eu vou pagar e acabou. Mas, poxa...
— Dívida?! — Eva ergue a sobrancelha.
— Eu falei dívida?!
— Sim. Disse com todas as letras. O que que tá pegando?!
— Eu não disse nada disso...
— Sim, você disse. Por que não me conta logo o que acontece de verdade entre vocês dois? Dá para notar que rola um sentimento de fato, mas eu sei que tem alguma coisa a mais.
— Enfim... tudo bem. Eu vou contar, mas só vou contar, porque eu estou prestes a enlouquecer.
— Sou toda ouvidos. Sabe que esse papo não vai sair daqui.
— Como você sabe, eu me mudei para o Rio de Janeiro, mas eu me mudei depois que a minha irmã mais velha começou a se meter em muitas confusões, começou a se envolver em muitas dívidas, sendo até mesmo ameaçada de morte. Então, nós nos mudamos para cá, mas ela não parou com as confusões, porque acabou fazendo amizade com uma vizinha daqui do condomínio, e acabaram indo para um baile funk lá no Chapadão. Desse baile funk, ela começou a se envolver com alguns vapores e umas meninas de lá, e só foi usando drogas, criando dívidas, confusões, até que ela acabou se atolando em muitas dívidas com o Baruc, e ele veio cobrar. Eu estava trabalhando nesse dia, eu quando cheguei, o Baruc estava apontando uma arma para a cabeça dela, pronto para poder atirar. Nesse momento, eu não soube fazer outra coisa, a não ser implorar pela vida dela. Eu tinha algum dinheiro juntado, porque eu queria muito poder voltar lá pra Pernambuco e vê a minha tia, que cuidou de nós com tanto amor. Esse dinheirinho além eu usar para ir vê-lá, era também para que eu pudesse dar um pouco a ela, sabe? Mas, eu tive que dar esse dinheiro para o Baruc, para garantir que ele não matasse a minha irmã. Depois disso, conversamos sobre formas de pagamento, e no fim, acabamos chegando a um acordo. Ele me fez a proposta para que eu engravidasse dele por um contrato, onde ele quitaria a dívida, e me daria uma determinada quantia. Ele precisa de um filho, já que o pai dele vive cobrando um, e o bebê é o que nos ligará para todo sempre.
— Então, o que existe entre vocês, é um acordo, onde você irá engravidar do Baruc e ele quita a dívida?
— Exatamente! Mas, eu acabei criando sentimentos por ele. Ele é carinhos comigo, é amoroso, me dá atenção. Nós não temos nada, mas temos algo lindo, forte, intenso... eu nem sei explicar. Somente sei sentir.
Eva dá um sorriso, e abraça Rebeca. As duas passam alguns minutos assim em silêncio, até que um vapor acaba entrando...
— Rebeca, eu preciso que você venha comigo.
— Para onde?!
— Eu ainda não sei. Mas, só me ordenaram que lhe levasse para o lugar que seria indicado. São ordens do patrão.
— Do seu patrão?
— Sim.
— Vamos... eu vou com você.
Eva diz, e Rebeca acaba estranhando. Porém, ela aceita ir e descem pelo elevador ate a garagem. Lá, eles entram num carro, e saem.
Durante a viagem, Rebeca acaba sentindo um aperto grande no seu peito, mas tenta respirar fundo. Ela olha o tempo todo pelo lado oposto do vidro, mas continua em silêncio, somente rezando baixinho e pedindo para que aquela sensação ruim passasse.
Nesse exato momento, o carro acaba entrando numa rua bem escura, e Rebeca se dá conta de que eles já saíram da estrada e agora, estão indo para um lugar de mata. Ele se desespera, quando ela vê dois carros andando lado a lado com o deles, e assim que o farol do carro em frente ilumina na direção dos três carros, Rebeca olha para o lado, e vê um homem, com uma máscara assustadora de palhaço e entra em desespero.
Assim que a porta do carro se abre bem ao lado em que Rebeca está, alguém a puxa pelo braço, e ela sai do carro completamente desesperada, enquanto Eva acaba sendo rendida. Os vapores que estavam no carro em que elas estavam acabam descendo do carro, e o homem com a máscara de palhaço acaba dando um tapa na cara de Rebeca, que sente a sua visão turva, e acaba desmaiando.
Quando Rebeca abre os olhos com muita dificuldade, ela estava dentro de um casebre, que fede a sangue e morfo. Ela olha para os lados, até que se desespera ao ver Eva estirada no chão, com um tiro no abdômen. Ela tenta se arrastar até onde a moça está, mas acaba sendo arrastada pelos cabelos.
— Onde você pensa que vai, gatinha?! Vem cá! Agora nós dois vamos ter uma conversinha.
A voz grossa ecoa por todo o cômodo, fazendo com que Rebeca estremecesse dos pés a cabeça. Ela se treme de medo, e sente uma pontada no abdômen.
— Ah, ela já está aqui! Seja muito bem-vinda ao local onde passará os seus últimos dias de vida, sua püta! Você roubou o meu amor de mim, sabia? Eu poderia ter me casado com o Baruc. Ele poderia ser meu! Mas, ele me deixou. Sabe o que existia entre o Baruc e eu? Bom... eu vou te contar. Ou melhor, eu vou te mostrar...
A mulher dá play num vídeo, e Rebeca arregala os olhos e começa a chorar, principalmente após ver a data que todos os vídeos foram gravados. Ela se sente sem forças, com uma grande dor no abdômen, e sente algo escorrendo pela suas pernas e tudo o que ela ouve antes de apagar, são tiros e uma voz no fundo...
— Que porra é essa?! — O homem grita.
— Baruc tá vindo, porra!
— O que? Não era para ele estar preso?
— Era! Era, mas parece que o filho da puta fugiu. Ele descobriu o que estávamos fazendo, e descobriu onde nós estamos. Esse é o nosso fim. O homem tá louco, com sangue nos olhos!
— Pelo amor de Deus! Olha o que você fez, Thalia! Pra que eu fui te ouvir, caralhø?! Agora o Baruc vai me matar, vai matar a você, vai matar a todo mundo!
— Pode ir parando, Escorpião. Você entrou nessa, porque gostou da Rebeca! Você gostou dela, e quis ter ela pra você. Então, não reclama.
Nesse momento, a porta do local vai ao chão, e Baruc entra. Ele estava de colete, e com um fuzil na mão. Escorpião acaba atirando diversas vezes na direção de Baruc, que parecia não se abalar com os tiros. Baruc segue com sangue nos olhos, e retribui os tiros, e acaba acertando as pernas de escorpião, fazendo ele cair de joelhos.
— Seu filho da putå! Eu vou te matar! Seu desgraçado! Eu vou acabar com a sua raça!
Baruc pisa na barriga de Escorpião, e começa a lhe dar vários chutes em seguida. Nesse momento, ele vê Rebeca no chão descordada e corre até ela, a pegando nos seus braços. Ele nota o sangramento entre as suas pernas e entra em completo desespero. Ele a leva para um hospital, onde somente foragidos da polícia são levados e ela é levada para receber atendimento, enquanto o homem começa a andar de um lado para o outro, passando as mãos no cabelo.
— Patrão, o senhor tem que se acalmar!
— Como eu vou me acalmar, se ela está nesse estado? Isso é tudo culpa minha. Se eu não tivesse colocado ela nessa situação, nada disso teria acontecido. Eu fui egoísta, Caco. Eu fui egoísta. Queria porque queria realizar o desejo do meu coroa, e coloquei ela nessa, quando eu poderia ter somente aceitado a proposta dela.
Algumas horas mais tarde a médica sai da sala, e caminha na direção deles.
— Como ela está, doutora?!
— Agora eles estão bem.
— Eles?
— Sim. Não sabiam que ela está grávida? A paciente está gestante de nove semanas, e 2 dias. Ou seja, dois meses, uma semana e dois dias.
— Eu vou ser pai? É isso?
— Sim, chefe. Meus parabéns! — A médica sorri.
Maadara abraça o patrão, que sorri alegremente, e a médica olha para eles com uma certa preocupação, que é notada pelos dois.
— Existe alguma coisa errada, doutora?
— Infelizmente sim, chefe. A paciente deu entrada com um sangramento muito forte, e durante os exames, descobrimos um hematoma causado por um sangramento entre a placenta e o útero, devido ao descolamento do óvulo fecundado na parede do útero. Esse fator, é o que chamamos de hematoma subcoriônico ou rotrocoriônico, ou descolamento ovular. Na maioria dos casos, o descolamento ovular não causa sintomas, já que desaparece ao longo da gestação, mas algumas mulheres podem apresentar cólicas abdominais e sangramento. O tratamento é adequado previnir complicações, como nascimento prematuro e aborto. O descolamento ovular ainda não possui causas muito bem definidas, no entanto acredita-se que pode acontecer devido à realização excessiva de atividade física ou às alterações hormonais comuns durante a gravidez. O tratamento para descolamento ovular já foi iniciado o mais rápido possível, já para evitar complicações graves como aborto ou descolamento da placenta, por exemplo. Geralmente, o descolamento ovular diminui e acaba desaparecendo com repouso, ingestão de cerca de 2 litros de água por dia, restrição de contato íntimo e a ingestão de um remédio hormonal com progesterona, chamado de Utrogestan. É indicado também que ela não fique muito tempo de pé, preferindo ficar sentada ou deitada com as pernas elevadas, além de evitar fazer esforços.
— Tudo bem, doutora. Eu posso vê-lá?
— Claro. Me acompanhe, por favor.
Baruc👇🏻
Baruc é levado até o quarto onde Rebeca está, juntamente com mais duas mulheres que também estão internadas lá. Elas são esposa de vapores e também estão sendo procuradas. Todos olham com curiosidade por ter o dono do morro ali, e sem dizer nada, ele se senta ao lado da cama onde Rebeca está, e fica segurando a sua mão.
As pessoas seguem curiosas, mas por conhecerem bem o traficante, todos ficam em silêncio. Com algum tempo depois, Rebeca abre lentamente os olhos por conta da claridade, que dificulta o movimento. Assim que ela olha para o lado, ela vê Baruc ao seu lado, segurando a sua mão e dá um sorriso fraco para o homem, que sorri para ela.
— Oi, meu bem! Que bom que acordou. Vai ficar tudo bem, tá? Vocês vão ficar bem.
— Nós? — Ela olha confusa.
— Sim, minha branquinha.
Ele coloca a mão na barriga dela, acaricindo a o ventre dela com um sorriso, e enxuga uma lágrima solitária, que escorre no rosto de Rebeca.
— Conseguimos? — Ela pergunta, com um sorriso.
— Sim, meu anjo. Nós conseguimos!
Ele dá um beijo na testa de Rebeca, e nesse momento a médica entra, juntamente com um médico.
— Olá, Rebeca! Como está se sentindo?
— Um pouco melhor, doutora.
— Fico feliz. Bom, imagino que já saiba sobre o pacotinho de amor que temos a caminho, e agora, terá que ter muito cuidado para que o bebê de vocês venha ao mundo forte e muito saudável. Como eu já expliquei para o papai, você teve um sangramento entre a placenta e o útero. O descolamento do óvulo fecundado na parede do útero causa esse sangramento, e ele é comum durante a gestação. Na maioria dos casos, o organismo da própria gestante vai absorvendo esse hematoma, sem apresentar nenhum sintoma. Mas, algumas mãezinhas podem apresentar dor abdominal e sangramento. O tratamento é feito com muito repouso, muita hidratação e também, o uso de um remédio hormonal com progesterona, além de evitar contato íntimo e esforços físicos. É necessário que tome muito cuidado, e faça tudo corretamente, para que assim, possamos evitar um aborto espontâneo, além de um parto prematuro. Com todos os cuidados, o bebê virá no tempo indicado, além de muito forte e saudável. Outra coisa muito importante, é que siga direitinho o pré-natal, fazendo todos os exames. É bem possível que você seja encaminhada para o pré-natal de alto risco, que é onde a mamãe e o bebê são acompanhados com mais frequência pelo médico responsável pela gestação. Se você for morar no morro a partir de agora, esse aqui é o doutor Renan, e ele será o responsável pelo seu acompanhamento.
O médico dá um sorriso fraco e acena em afirmação, sendo retribuído por Rebeca, que em seguida olha para Baruc e ergue discretamente a sobrancelha. Conhecendo bem o homem, sabe que ele ameaçou o pobre médico somente com o olhar, e nega com a cabeça.
— Você está liberada para ir para casa. Tome todos os cuidados, e procure o posto de saúde para dar início ao pré-natal.
A médica sorri e junto com o médico, eles saem da sala. Uma enfermeira vem tirar o acesso do braço de Rebeca, e assim que ela termina, Rebeca deixa o hospital nos braços de Baruc e seguem em direção ao morro.
Assim que chegam, Baruc desce do carro e pega Rebeca nos seus braços. Sob o olhar atento dos moradores, que a essa hora já sabem tudo o que aconteceu, Rebeca é levada para dentro de casa, e colocada no quarto.
— Pronto, meu bem. Agora tá melhor? Quer comer alguma coisa? Descansa, tá bom? Se cuida. Depois conversamos.
— Sim, está melhor. Eu não quero comer nada, obrigada... eu só preciso descansar um pouquinho.
Rebeca dá um sorriso fraco, e dando um beijo na testa da moça, Baruc a deixa sozinha no quarto e desce para a sala, onde ele se senta e manda mensagem para os seus vapores de confiança, que logo chegam.
— Alguma novidade do que aconteceu?
— Temos, patrão. A primeira, é que quem estava com a Rebeca e o Escorpião naquele lugar foram duas pessoas que o senhor conhece bem.
— Duas pessoas que eu conheço bem? Quem são essas pessoas, Ragnar?
— A primeira delas, é a Thalia. A Thalia foi a pessoa que ajudou o Escorpião a fazer a negociação com os vapores que levaram ela para aquele lugar. E, a segunda pessoa, infelizmente, não sabemos onde ela está, assim como a primeira, e mais misterioso que isso, é o fato de que quem faria a segurança da Rebeca, seria a Luluzinha. Mas, a Luluzinha nunca chegou no condomínio da Rebeca. E, quem estava lá no lugar da Luluzinha, que acompanhou a Rebeca até aquele lugar, e que também estava no casebre, foi outra.
— Quem?!
— A Eva!
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