É o casamento de Esther Richards. Ela não está nem um pouco animada com isso, mas tenta ao máximo colocar um sorriso no rosto, já que não pode e não quer decepcionar a sua família adotiva, que sorri ainda mais que ela e são sutis em cumprimentar convidados, esboçando sempre sorrisos bem satisfeitos, como se esse casamento fosse algo que eles estivessem esperando por muito tempo.
E eles estavam realmente esperando por isso.
Já faz um tempo que a família Richards está babando ovos da família Ancelotti, buscando casar a irmã de Chad Ancelotti, a renomada modelo internacional: Charlotte Kristal Ancelotti. Talvez a mulher mais superficial que já pisou na face da terra, mas eles queriam a todo custo casar o amado (e biológico) filho Bryant Richards com a mulher, mas nada saiu como o planejado, já que, por ser maior de idade e não acatar tão facilmente a vontade dos pais, a mulher assinou um contrato milionário com uma grande equipe automobilística, competidora em campeonatos de fórmula um.
Charlotte se tornou a garota propaganda da Scuderia Ferrari e pouco tempo depois disso, assumiu um relacionamento com um dos pilotos da equipe, o que, obviamente, deixou a família Richards furiosa. Eles queriam, a todo custo, casar algum de seus filhos com um membro da família em questão, mas como já não restavam mais opções, optaram por induzir (ou obrigar) a sua filha adotiva, Esther, uma garota simples e humilde que veio de um orfanato que ao menos sabe o nome a casar-se com Chad Victor Ancelotti, um grande empresário de 31 anos que, após um acidente, se tornou cego.
Após o acidente de Chad, em 2013, ele se tornou amargo com as pessoas ao redor, se isolando de tudo e de todos, até mesmo da superficialidade de sua família, que depois da deficiência do filho, já não o via mais com os mesmos olhos e optaram por continuar escondendo-o de todos para não sofrerem a vergonha de ter um filho inválido no seu meio.
Como Chad não encontrou mais nenhuma pretendente depois do seu acidente, sua família aceitou de bom grado casá-lo com Esther, que também passava muito longe de todos os padrões da família, mas eles não estavam se importando muito com isso, já que o filho, logicamente, não a veria. Eles só queriam alguma "idiota" que pudesse cuidar de Chad enquanto eles faziam diversas viagens e compras luxuosas, despreocupadamente, sem se importar com Chad e sua atual condição.
Boatos sobre ele começaram a surgir poucos meses depois do seu acidente, quando, em uma reportagem feita por um jornal popular na atualidade — que comenta especificamente sobre fofocas do meio artístico — falava sobre a aparência de Chad, quando os jornalistas diziam que, "fontes próximas" da família Ancelotti afirmavam que a aparência do filho mais velho de Albert Ancelotti e Jana Ancelotti havia se desfigurado com o acidente, quando ele acabou sendo atingido por diversos cacos de vidro que se estilhaçaram depois do impacto sofrido pelo veículo.
Essas notícias nunca foram desmentidas, então as pessoas concluíram que o sumiço de Chad se deu realmente pelo fato de ele estar desfigurado. Desde então, o homem não sai de casa a não ser para caminhar um pouco pelo jardim, dentro dos muros de sua casa, (por vezes, acompanhado de um guia contratado por sua mãe). Ele não se importa muito com o que os outros pensam, sempre foi assim. Se importa mesmo é com a forma que a sua família está agindo mediante a sua deficiência, não se importando nem um pouco com a sua saúde.
No começo, ele ficava triste e decepcionado pelo comportamento de sua família. Afinal, por um bom tempo, ele viveu por todos eles. Não tinha vida, só queria agradar aos seus pais e lhes dar orgulho, já que a sua irmã não seguiu os passos que seu pai pretendia para ela. Chad tentava tapar o buraco que a decisão de Charlotte causou no coração de sua mãe, mas agora, ele percebe que foi tudo em vão e que só perdeu o seu precioso tempo tentando agradar pessoas que ele ao menos têm contato hoje em dia. É quase como se tivessem se tornado estranhos. Somado a isso, ele também sente raiva por ter sido tão estúpido.
Como não tem saído de casa, ele também não se deu o trabalho de fazer isso no dia de seu casamento. Não estava feliz, então nem se levantou da cama para ao menos escovar os dentes. Chad sabia que hoje seria o seu casamento, mas não deu bola para isso, pois sabia que seus pais estavam o empurrando para uma qualquer só para se ver livre dele de uma vez por todas. Inconscientemente, ele se sentiu negligenciado por saber que seus próprios pais estavam o dando de bandeja para alguém que ao menos conheciam.
Por isso mesmo ele não fez nada de mais. Não aparou a barba, não mandou cortarem o seu cabelo e nem tomou banho.
O casamento não aconteceria numa igreja ou qualquer coisa do tipo, apenas em casa, com alguns familiares. Entretanto, Chad também não aceitou que ocorresse dessa forma e só o que houve foi uma pequena cerimônia em seu quarto, onde ele assinou o papel de seu casamento, mas não quis nenhum contato com a sua esposa. Por sinal, a sua primeira esposa, e ele se sente ridículo por estar casando com quem não conhece.
Chad sempre levou o casamento a sério, por isso não queria se casar tão cedo. Ele negou algumas garotas durante toda a sua vida, pois tinha aquele sentimento de que um dia iria encontrar o amor de sua vida e se recusava a perder tempo com casos fúteis e que não o levariam a qualquer lugar.
Claro que ninguém sabia desse seu pensamento, porque por fora ele se mostrava ser completamente diferente. Mas gostava muito desse seu lado misterioso.
É irônico pensar que, depois de escolher tanto, acabou casado com uma mulher que nunca viu e não sabe se vai se dar bem. Ele sente como se houvesse um buraco em seu estômago, porque tem certeza de que sua esposa é só mais uma sanguessuga que se submeteu a casar-se com ele por causa de dinheiro. Afinal, quem se casaria com um monstro como ele? Ninguém nunca o viu depois do acidente, mas todos juravam que ele havia se tornado um horror.
── Filho, por favor... Se levante, sua esposa está te esperando. Ela quer te ver. ── Jana falou suavemente, escondendo a felicidade que reina em seu peito e o alívio também.
Chad suspirou e virou para o outro lado da cama, o contrário da direção onde sua mãe parecia estar. Ele estava com o corpo doendo de passar a noite e quase o dia inteiro deitado, mas não daria o gosto a todos esses infelizes. Ele não queria lidar com a falsidade das pessoas ao seu redor, só queria ficar um tempo sozinho. ── Me deixe em paz. ── disse simplesmente, e o sorriso de Jana murchou instantaneamente.
── Filho...
── Por favor, vá embora. ── continuou pedindo, rígido e Jana não viu outra alternativa a não ser dar esse espaço ao seu filho, pois ele claramente não queria ver ninguém. O pior de tudo, é que Jana não sentiu nem um pingo de arrependimento pelo que fez, nem sentiu que Chad estava diferente pelo modo como estava sendo tratado.
Para ela tudo aparentava estar bem, mas só aparentava.
Todavia, ele prometeu para si mesmo que não daria sossego à sua esposa. A atormentaria até que ela fosse embora e lhe deixasse sozinho, mofando em seu quarto como tem sido há anos. Mas ele ainda prefere isso a viver ao lado de quem não ama e não conhece.
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── Esther Richards ──
Tenho um nó em minha garganta e um enjôo chato por perceber a falsidade dos meus pais e dos pais do meu agora marido. Eles agem como se o nosso casamento tivesse sido algo planejado por nós dois e, depois de muito esforço, posto em prática. Não sei como podem existir pessoas que agem desse jeito... Por dinheiro. Porque os meus pais me colocaram nessa situação por causa do dinheiro prometido pelos pais de Chad, e os pais dele também se beneficiaram com esse casamento, já que agora não vão mais precisar cuidar e se responsabilizar pelos cuidados extras do filho.
Literalmente, jogaram tudo no meu colo sem se importar em como eu faria para me virar com esse homem que ao menos conheço.
Eu só tenho 23 anos. Não pretendia me casar agora, na verdade, queria mesmo era cursar alguma faculdade, fazer algo que gosto antes de me submeter a um casamento. Eu não tenho nada, meus pais nunca se deram o trabalho de me dar ao menos um veículo para que eu pudesse me deslocar para a escola em que eu estudei, quando fazia um curso de francês. Eles nunca gostaram de mim, não sei nem porque se dispuseram a me adotar, se tivessem me deixado lá eu poderia estar com outras pessoas que, provavelmente, me tratariam melhor e me amariam.
Eles nunca me amaram de verdade, e eu demorei muito tempo para perceber isso, já que achava que era filha legítima quando era criança. Nunca entendi o porquê de ter sido adotada por eles, mas uma vez, há muitos anos atrás, Bryant me disse que só fui adotada pois, na época, sua mãe estava tentando engravidar de uma menina mas como não estava conseguindo (ela sempre sofria abortos espontâneos) Paul, o seu marido, me adotou para tentar fazê-la feliz, achando que uma filha adotiva seria suficiente para ela.
Obviamente, Mariah não aceitou a ideia muito bem e não gostou dessa decisão tomada pelo seu marido. Entretanto, ele já não me podia devolver e para fazer isso, de acordo com o regimento do orfanato, ele precisaria pagar uma multa altíssima caso não cedesse provas concretas do porquê estar me devolvendo. Digamos que, arrepender-se da adoção não é lá um motivo válido para devolver uma criança para o orfanato de onde foi tirada.
Pela rejeição que sofri, Paul começou a não gostar de mim também e assim, nasceu o rancor profundo que a família Richards tem ao meu respeito. Por isso mesmo me entregaram facilmente para uma família de ricaços que negligenciam o próprio filho deficiente visual e não tem pena dele quanto a isso. Se eles fazem tamanha atrocidade com o próprio filho, imagina o que farão comigo? Realmente, uma maldade sem tamanho, mas o que a "minha família" está visando nessa união, é só o dinheiro que estão recebendo para eu continuar casada com aquele que eu acabei de descobrir se chamar Chad Victor.
Não sei quem ele é, e não sabia ao menos o seu nome. Só descobri porque chequei no papel que estou assinando, concordando em ser a sua esposa. ── Está com medo, querida? ── Jana, a minha "sogra", perguntou fingindo uma preocupação e cordialidade que eu sei bem que ela não tem. Para mim, ela nem deveria ser chamada de mãe. Fiquei em silêncio, e como nada saiu da minha boca, ela sorriu e olhou para meus pais, que estavam bem atrás de mim e aí eu senti um beliscão na pele sensível do meu braço, e depois notei que foi Bryant quem fez isso
── O gato comeu a sua língua, querida irmã? ── perguntou ele, num tom ameaçador e levemente debochado. Ergui uma sobrancelha.
── Ah, não se preocupe Bryant! Ela só está um pouco tímida, com medo... Mas isso é normal no começo. ── Jana explicou e eu me surpreendi pela forma como ela parece ser uma ótima e simpática mulher, mas só aparenta mesmo. Infelizmente. ── Chad é um ótimo homem, ele não dá trabalho. Vocês vão se acostumar um com o outro.
── Sim, eu tenho certeza. ── falei baixo, pois meu "irmão" continuava me beliscando, agredindo o meu braço. Ficou dolorido! ── Me desculpe, Sra. Ancelotti. Só estou me sentindo um pouco indisposta. ── menti e a velha acenou, como se não acreditasse nas minhas desculpas mas também não iria perder tempo me fazendo qualquer pergunta.
── Está tudo bem, querida. Vou te mostrar o quarto do meu filho assim que ficarmos a sós, sei que está sem graça com a presença dos seus pais aqui. ── não olhei para os que estavam atrás de mim, mas sabia que ficaram sem graça pela forma como o clima mudou drasticamente após esse comentário ── Me espere aqui. Meu marido está esperando seus pais no escritório dele. Por favor, me acompanhem! ── Jana ainda soou bem educada, mas eu sei que ela já não aguenta a presença dos Richards em sua casa.
É uma mulher rígida, mas mantém a "classe" e "elegância".
Depois que fiquei sozinha, olhei em volta me surpreendendo de verdade pela magnitude dessa casa, que, por sinal, pertence ao Chad. Pelo que eu entendi, ele já não mora com seus pais, mas a mansão deles fica no mesmo condomínio, então a locomoção deles dentro do bairro irritantemente luxuoso se dá por meio de quadriciclos mais atualizados e super bem construídos, que são pilotados pelos funcionários dos Ancelotti. Por sinal, nem um deles dirige uma palavra a ninguém, são sérios e formais, formais até demais.
Fiquei parada ali no meio da sala, sem nem me mexer. Estava bem desconfortável, não conseguia nem respirar direito pela tensão que sentia, além da vontade massacrante que estou sentindo de chorar. ── Ei. ── ouvi uma voz feminina rígida, soando um pouco mais ao longe e me virei na direção da mesma, vendo na entrada de um outro cômodo da casa uma mulher, de aparentemente 38, 39 anos, mas estava bem vestida. Pela roupa que está usando, eu julgo que seja uma funcionária da mansão também. ── Você é a Esther Richards?
── Sou. ── respondi extremamente sem graça pela forma como ela parece estar me acusando com o olhar, mas creio que deva ser apenas impressão minha, já que estou me sentindo mal aqui. ── Por quê?
── O Sr. Ancelotti está lhe chamando. ── falou apenas isso e se virou, me dando as costas ── Me acompanhe. ── e ela nem disse "por favor", então esse pedido não soou bem como um pedido e sim como uma ordem.
Não falei nada, mas a segui por entre os corredores da casa, me surpreendendo novamente pela forma como tudo parece se encaixar aqui. Essa casa foi minimamente detalhada e planejada, o piso é de porcelanato acetinado branco e brilha tanto, creio que isso deva dar muito trabalho para limpar. ── Por aqui, senhora. ── quando chegamos, ela apontou para uma enorme porta e não deu nem um passo, mais como se eu tivesse que entrar ali dentro e me virar com o... O meu...
Ah, droga.
── Oh... Eu... ── tentei buscar palavras, alguma desculpa para não entrar ali e ficar de frente ao meu marido e lidar com a sua aparência agora, esta que tanto julgam e dizem estar terrivelmente horrível.
Eu não quero acabar me assustando e o ofendendo, pois sei que sua autoestima não deve estar das melhores depois de tudo o que aconteceu, mas não consegui. Eu não consegui pensar em nada tão convincente para usar com essa mulher, até porque ela me olha de um jeito ameaçador, como se soubesse o que estou pensando e não me desse nenhuma alternativa a não ser entrar. ── Tudo bem. Obrigada.
── Ele está no aguardo. ── foi em questão de segundos que a mulher simplesmente desapareceu e me deixou sozinha. Então, sem qualquer escapatória, eu bati na porta e não ouvi uma só palavra. Não ouvi nada, e logo testei a maçaneta, percebendo estar destrancada.
Engoli a seco e entrei no quarto, me assustando com o ambiente escuro, sem nem um tipo de iluminação. Espremi os olhos e tentei ver alguma coisa, mas não conseguia. Já comecei a me assustar, até que ouvi uma respiração pesada e logo em seguida, as persianas das janelas se abriram e eu pude vislumbrar o quarto maravilhoso em que estava.
Havia uma enorme cama, com cobertores aparentemente grossos e travesseiros fofinhos. Um lustre incrível pendurado no teto, mas não estava aceso, então a luz ambiente era pelo fato de estar dia mesmo. Além do mais, as paredes do quarto são feitas de vidro, então consigo ter uma visão periférica do jardim, mas não vejo o solo, então creio que, pela localização, ninguém vá ver o que acontece aqui dentro. Parece mais uma cobertura, uma cobertura incrivelmente bela e que eu provavelmente, não sairia se fosse minha.
Um pouco mais a frente, consegui ver a silhueta de Chad. Ele está de costas para mim, direcionado ao jardim. Não virou em nenhum momento e eu agradeci por isso. Oh, como agradeci. ── Srta. Richards. ── ele disse o meu sobrenome de maneira baixa, firme e rouca, o que me arrepiou dos pés à cabeça.
── Sou eu. ── falei no mesmo tom que o dele, tentando não soar tão nervosa, para não lhe dar esse gostinho de vitória sobre mim.
── Temos muito o que conversar.
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Então, o que eu deveria pensar sobre isso? Fiquei tensa, mas respirei fundo. Uma, duas, três vezes, sentindo o ar entrando em meus pulmões, meus batimentos cardíacos não davam trégua. Estavam seriamente desregulados, mas estou com medo do que possa acontecer quando ele se virar, não quero fazer nada que possa me arrepender depois.
── Claro, eu... Acho que devemos sim. ── ele se mexeu como se quisesse se virar na minha direção, mas não fez isso.
── O que você quer falar para mim? ── ele devolveu a pergunta quase no mesmo instante, com uma pitada de curiosidade.
Como vou falar para ele o que eu tenho em mente? Não seria de todo agradável, eu não acho que esse seja o momento. ── Você pode começar falando primeiro. Estou disposta a ouvir. ── ele riu baixo, como se estivesse me levando na brincadeira.
── Está mesmo disposta a me ouvir, Richards? ── indagou, irônico e ácido ── Ou será que você está aqui por dinheiro? ── continuou perguntando (ou me acusando) e deu uma pequena pausa, como se esperasse pela minha resposta mas não esperou eu nem abrir a boca para falar um "a" ── A propósito, quanto os meus pais lhe pagaram para você vir aqui e dar uma de cuidadora de um cego?
── Eu...
── Não te conheço, senhorita, mas te acho extremamente estúpida. Você se dispôs a se privar de viver uma vida boa para viver uma mentira, com um homem cego e inválido. ── mais um riso sem humor saiu da boca dele e eu enruguei as minhas sobrancelhas, me sentindo ofendida com esse comentário. Ele nem me conhece, como pode falar isso? ── O dinheiro que você recebeu vai fazer valer a pena a vida que você vai viver?
── Você não pode falar isso, não sabe o que está dizendo. ── me atrevi a refutá-lo, já começando a me irritar com esse idiota ── Você nem me conhece!
── Você também não me conhece, mas está aqui. Você acabou de se casar comigo. Eu tenho direito de falar o que eu quiser. ── ele foi rude e eu dei alguns passos em sua direção, mas parei quando a sua voz se tornou mais alta ── Não chegue perto de mim.
── Chad, você não-
── Me diga quanto você recebeu para estar aqui agora.
── Eu não ganhei nada para estar aqui. Eu fui obrigada a me casar com você, não ache que estou orgulhosa por qualquer coisa! ── cuspi as palavras e percebi o corpo dele ficando tenso. Estava usando uma camisa de mangas preta, então eu consegui notar seus músculos tensionados.
── Eu não acredito em você, Esther. Não adianta fingir que está aqui por obrigação, você é maior de idade. Ninguém pode te obrigar a qualquer coisa. ── ele continuou me acusando e parecia irredutível quanto a essa crença. Ele parece ter muita certeza do que está dizendo! Não o conheço, mas fiquei magoada pela forma como ele parecia revoltado e irritado ao jogar inverdades na minha cara.
Por um lado, talvez eu o entenda. Eu sei como ele está se sentindo, sei que se sente como um objeto nas mãos de sua família, mas eu me sinto da mesma forma! Sei que não é igual, já que ele é deficiente, passa por problemas diariamente mas eu não tenho culpa. Então, eu creio que agora não seja o melhor momento para arranjar briga, e nem refutar seus argumentos, já que ele parece bem revoltado e tem razão em se sentir assim.
Não estou no meu lugar de fala aqui, e acho que entendo ele. Chad está sofrendo e tem razão em se sentir irritado, mas eu não tenho culpa e se ele continuar me acusando, eu vou acabar surtando com ele. Não estou afim de ser como um saco de batatas, onde ele desconta todas as suas frustrações. ── Tudo bem, Chad. Não vou tentar me defender, pense o que você bem quiser.
── Não vai se defender? Acha que merece? ── ele continuou debochando ── Você é mais patética do que eu estava imaginando, garota.
── Olha aqui, seu-
── Mas enfim, você não veio aqui para tentar me dar desculpas do porquê estar na minha casa agora, agindo como se fosse a minha esposa. Só queria te dizer que não quero nenhum tipo de contato com você, e se a minha mãe te disse algo sobre cuidar de mim, peço, gentilmente, que desconsidere. Não preciso de você, já estou bem com o Jackson, ele cuida bem de mim. É um ótimo cuidador, além de ter formação nisso. E você? O que tem? ── eu fiquei em silêncio, só digerindo as suas palavras. Me senti ofendida obviamente, até porque sou um ser humano e ele está fazendo questão de pisar nos meus sentimentos, me humilhar. E o que ele ganha fazendo isso? Não sei ao certo. ── Ah, já sei. Você é graduada, pós-graduada e bacharel em sugar o dinheiro de quem trabalhou duro para conseguí-lo, não é?
Acho inacreditável a forma como ele nem me conhece e já me destilou todo o seu veneno (ou parte dele). O choro se tornou uma extrema necessidade, então eu suspirei fundo, tentando me controlar. Não posso me submeter a chorar na frente dele, ele não pode saber que suas palavras me atingiram tão negativamente, porque eu sei que sua intenção é exatamente essa. ── Acho que eu já sei o porquê de terem te jogado nessa casa e você estar mofando sozinho aqui. ── falei simplesmente isso e lhe dei as costas, sem nem esperar qualquer resposta e deixei aquele quarto.
Ainda o ouvi me chamando (ele gritou por mim), mas ignorei e quando saí do cômodo, dei de cara com a mãe dele. Já me preparei para mais uma enxurrada de acusações desconexas, mas tudo o que ela fez foi sorrir. ── Que bom que você já está se dando bem com ele, Esther. Sabia que ia adorá-lo! ── eu quase ri pela forma como essa frase soou absurda e incoveniente. Será que ela sabe que o filho dela me odeia? Com certeza ouviu a nossa discussão e só está falando isso para me provocar, me infernizar ainda mais.
── É, eu com certeza estou adorando ele. ── respondi no mesmo tom que o dela, e por mais incrível que pareça, Jana pareceu acreditar em mim! Ou isso, ou ela é completamente cínica e sem noção. Uma bela atriz. ── Mas então, o que queria me falar?
── Ah, claro, isso... ── ela pensou por um segundo, e logo pareceu lembrar-se de algo ── Venha comigo, vou lhe passar algumas informações super importantes, creio que seja bom saber. ── fomos caminhando para longe do quarto de Chad e eu agradeci por isso, principalmente quando aquela tensão foi saindo de mim.
── Escuta, Jana... Seu filho não quer meus cuidados, ele-
── Como não? Claro que ele quer. Só precisa se acostumar com você, tenho certeza que ele vai te adorar, Esther. Você é uma mulher... Uma mulher incrível. ── eu senti que o seu tom para falar isso não foi nem um porcento sincero. O que já era de se esperar. ── Só precisa ter um pouco mais de paciência com o meu filho, logo mais ele se acostuma com a sua presença e aí vocês poderão viver melhor. ── pela sua frase, eu tenho quase certeza que ela ouviu a minha discussão com Chad.
Começamos muito mal, e eu não queria que isso tivesse acontecido, mas não poderia evitar. Não era bem a minha intenção jogar na cara dele que é sozinho, mas não poderia deixá-lo falar comigo daquele jeito. Poxa, eu tenho sentimentos! Achei mesmo que ele tinha me chamado para conversar civilizadamente, mas inesperadamente veio despejando todos os seus problemas em mim, como se eu fosse a grande causadora deles.
Isso é muito injusto comigo. Ele não me deu nem a chance de me explicar, falar algo em minha defesa. Um homem insuportável! Minhas primeiras impressões sobre ele são as piores possíveis. ── Se você está dizendo, Jana... Eu acredito. ── tive que mentir, já que não tem muito o que fazer sobre isso. Até porque não posso simplesmente ir embora.
Meus pais poderiam me matar caso eu fizesse isso. Então, talvez eu deva aceitar a minha condição, e pelo menos torcer para que Chad um dia me dê a chance de explicar tudo.
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