Após algumas horas, o doutor Daniel soube pelas enfermeiras que o paciente do acidente de carro havia acordado. Os profissionais logo trataram de saber como ele estava, já que o mesmo precisou fazer uma pequena e rápida cirurgia na perna, onde sofreu poucas fraturas.
— Olá, eu sou o doutor Daniel. O senhor sofreu um acidente de carro há algumas horas, consegue se lembrar do que aconteceu? — perguntou o mesmo, definitivamente fazendo apenas o seu trabalho, mas ao mesmo tempo queria ajudar sua amiga.
...Doutor Daniel - Amigo de Syara...
— N-não, não consigo me lembrar de nada — respondeu, sua voz estava um pouco falha, mas nada que não pudesse ser entendido.
— Tudo bem, o senhor sofreu uma lesão na cabeça, e poucas fraturas na perna. Pela gravidade da situação, provavelmente vai demorar um pouco até que consiga se recuperar. Neste caso, consegue me dizer o seu nome para que possamos entrar em contato com sua família?
— Da… Da… Damian? — O mesmo franziu o cenho, suas memórias estavam um pouco confusas, ele não sabia distinguir o que era real ou apenas imaginação.
— Muito bem, Damian. Por acaso o senhor consegue se lembrar de sua família? Algum contato de alguém responsável? — Daniel finalizou o check-up, constatando que era apenas perda de memória temporária. O que não era tão ruim, pois sua situação poderia ser mais grave.
— Eu não sei, eu não me lembro. — Damian franziu o cenho novamente, estava sentindo dor de cabeça, na verdade, seu corpo inteiro estava dolorido.
— Vai demorar um pouco até que consiga se lembrar, neste caso o senhor precisa ficar internado por pelo menos algumas semanas. Faremos mais alguns exames para constatar a perda de memória temporária.
Damian balançou a cabeça, confirmando. Ele foi medicado mais uma vez com a permissão do doutor Daniel, já que agora sabia pelo paciente o que ele estava sentindo. E após deixar o quarto do paciente, o mesmo encontrou Syara encostada na parede, esperando pacientemente por sua deixa.
— Syara? O que está fazendo? Você deveria estar em repouso. — Quase dando um sermão, Daniel aproximou-se da mesma, levando-a consigo até o quarto onde ela estava anteriormente.
...Syara Martin...
— Não vou conseguir repousar enquanto não souber nada daquele homem, ele está bem? — Tamanha era a preocupação de Syara, ela nunca havia se preocupado tanto com alguém em sua vida, e isso a estava corroendo por dentro.
— Ele está bem, não se preocupe. Ele acordou e disse que se chama Damian, mas não consegue se lembrar da família. Suspeito que esteja com perda de memória temporária. — Bastou dizer as últimas palavras para Syara se desesperar, ela não esperava que a situação fosse tão grave assim. — Você está bem?
— Estou, estou sim. Obrigada, Daniel. Não sei o que faria sem você, espero que possa recompensá-lo algum dia. — Syara o abraçou, ele era a única pessoa pelo qual poderia contar, era seu porto seguro em momentos de tempestade como este.
— Você sabe que pode contar comigo sempre, mas se quiser realmente me recompensar, pode ir andando até o seu quarto. — O mesmo riu, fazendo-a se sentir um pouco melhor.
Syara permaneceu em seu quarto por um longo tempo, pelo menos até a manhã seguinte, quando estava se sentindo um pouco melhor. Ela esperava que a família do homem viesse até ela, e a mesma estava disposta a ouvir muitas acusações e o quanto teria que se responsabilizar. Mas nada.
Ninguém apareceu no quarto, apenas algumas enfermeiras e uma mulher que fora deixar seu café da manhã. Daniel também não apareceu, mas prometeu que iria visitá-la para averiguar sua situação. Syara pensou até mesmo em sair um pouco, talvez visitar Damian, mas ainda não estava se sentindo confiante o suficiente para isso.
Enquanto esperava por mais notícias, ela ficou a pensar no que aconteceu no dia anterior. Ela queria apenas começar uma vida nova em um novo lugar, onde pudesse encontrar um bom emprego e quem sabe, um bom lugar para morar. Mas com tudo isso que aconteceu, agora isso seria impossível.
E o pior de tudo isso, era saber que agora tinha que se responsabilizar por aquele homem que sequer conhecia. No momento do acidente, ela perdeu a direção quando notou que seu carro estava sem freios, mas não conseguiu desviar do outro carro, o que causou uma grande tragédia. E antes que a ambulância chegasse, ela conseguiu resgatar o homem antes que o carro dele simplesmente explodisse.
O que seria dela se aquele homem tivesse morrido? Syara acreditava que por tê-lo salvado antes das chamas tomarem conta do veículo, ele poderia ter algum tipo de piedade. Mas na realidade em que vivia, isso também seria impossível.
— Syara? No que está pensando? — Daniel tocou seu ombro, fazendo-a se assustar repentinamente.
— Ah, que susto! Desculpe, eu não vi você entrando. — A mesma suspirou entristecida, mas não se deixou abalar por muito tempo. — Alguma novidade?
— Sim, os policiais estão aqui para que você faça um depoimento. Eu sei que isso pode parecer assustador, mas eu estou aqui por você. — Daniel tentou convencê-la de que tudo ficaria bem, e ela não acreditou que seria tão fácil. — Sei que vai sair dessa.
Enquanto Syara permaneceu no quarto juntamente com alguns policiais, Daniel esperava pacientemente durante as consultas que também fazia em alguns pacientes. Afinal, era o seu trabalho, não poderia abandonar quando outras pessoas também precisavam dele.
Após alguns longos minutos, os policiais se retiraram, e Daniel não perdeu tempo. Syara estava sentada na cama, cabisbaixa. Ela nunca se sentiu tão fraca em sua vida, mas acreditava que alguém estava ajudando-a no céu.
— E então? O que eles disseram? — perguntou Daniel, ele também estava aflito, não poderia negar.
— Está tudo bem. Eles disseram que Damian não me culpou pelo acidente, e também expliquei a situação em que meu carro se encontrava, eles farão uma averiguação. O importante é que não vou ser presa.
Syara sorriu, animada.
— Estou muito feliz por você, eu sabia que conseguiria passar por isso. — O mesmo segurou em sua mão com delicadeza, acariciando-a como se estivesse bastante aliviado. — Ah, antes que eu me esqueça… Damian pediu para falar com você.
— O quê? Eu deveria imaginar… — Ela mordiscou o lábio, estava ansiosa por isso. — Eu posso ir agora? Quanto antes melhor, não acha?
— Se você estiver bem com isso, então sim. — Ele confirmou, levando-a consigo até o quarto onde Damian estava internado. — Os resultados dos exames dele foram positivos, não houve qualquer dano ao cérebro. Mas ele continua sem lembrar de muitas coisas, aliás, de quase nada.
Syara bateu na porta levemente, mas não teve resposta. Ela bateu mais uma vez, e então adentrou. Damian parecia estar dormindo, e pelo estado em que ele se encontrava, ela se sentiu ainda mais culpada. A mesma sentou-se em uma poltrona ao lado, na expectativa de que ele acordasse logo, afinal, não queria incomodá-lo.
Após meia-hora, o mesmo se mexeu naquela cama um pouco desconfortável, virando-se para o lado onde Syara o esperava sentada na poltrona. Quando ele abriu os olhos, assustou-se levemente, e percebendo que ela estava dormindo, começou a observá-la silenciosamente.
Por um momento, ele ficou confuso.
Ela não poderia ser alguém da sua família, já que estava com alguns arranhões pelo rosto e braços. Então constatou que ela poderia ser a mulher que causou seu acidente, de acordo com o que o médico e os policiais disseram. Além disso, ele não deixou de admirar sua beleza, seus cabelos ruivos e seu rosto gentil, ela que parecia tão simples e inocente, não deixava de transbordar uma paz que ele não sabia explicar. Sentia-se hipnotizado, até demais.
Damian engoliu em seco quando Syara abriu os olhos repentinamente, percebendo que ele a observava com uma expressão duvidosa. O mesmo limpou a garganta e virou o rosto para o outro lado, na expectativa de evitar essa situação vergonhosa.
Por outro lado, Syara se ajeitou na poltrona em que estava sentada, e não conseguiu formular uma frase ou alguma palavra para dizer a ele. Aliás, sentiu-se tão intimidada com aquele olhar que até esqueceu o que veio fazer ali. Mas essa situação não poderia continuar assim, ela precisava conversar com ele.
— Bom… dia? Eu sou a Syara. E o senhor deve ser Damian… — Um pouco receosa, ela conseguiu pensar em algo útil a dizer, já que era a primeira vez que se encontram após o acidente.
— Sim, o que você quer? — perguntou, ríspido. Mas logo Damian arrependeu-se por falar dessa forma, e então olhou para ela na expectativa de que ela não tenha se incomodado com isso.
— Eu soube que o senhor preferiu não abrir uma queixa contra mim, então… eu vim agradecer. — Ela levantou-se e sorriu para ele, que por um momento esqueceu do que ela tinha dito. — De qualquer forma, estou em dívida com o senhor. O que eu posso fazer para compensar o prejuízo?
— Você quer mesmo me compensar? — Ele perguntou, e após vê-la balançar a cabeça confirmando, ele pensou por um curto momento. — Tudo bem, você pode me compensar cuidando de mim.
— O quê? — Syara arregalou os olhos, ela não soube o que responder de imediato, aquele era um pedido que sequer sabia que poderia cumprir.
— Quero que cuide de mim, eu não tenho família. Não sei para onde eu estava indo, ou o que iria fazer, resumindo, perdi a memória. Você é a única que pode se responsabilizar por mim, pelo menos por enquanto.
Damian esperou por uma resposta, aliás, por uma confirmação dela. O mesmo não permitiria que ela negasse isso, afinal, descobriu que a mesma tinha causado o acidente, então ela não tinha motivos para recusar isso, mesmo que quisesse.
— Então? Não vai me dizer nada? — Damian olhou para ela fixamente, de alguma forma, ele estava causando arrepios na mesma pelo tom autoritário. — Eu posso mudar de ideia em relação ao meu depoimento, se assim desejar.
— Não! Eu aceito! — Temendo o seu futuro, Syara concordou com o seu pedido sem pestanejar, ela não queria parar na cadeia ou pagar alguma indenização, pois isso custaria sua casa e bens que ela mal tinha, principalmente sua reputação caso viesse a precisar de um emprego futuramente.
...…...
Algum dias se passaram desde então, Damian ficou no hospital até se sentir melhor e fora de perigo. Syara ficou ao seu lado para ajudá-lo no que fosse preciso, afinal, tinha prometido que cuidaria dele até o mesmo se recuperar por completo.
Daniel não gostou muito da decisão que ambos tomaram, pois isso envolvia muitas coisas, principalmente a atenção dela. Damian era um desconhecido, então estava bastante preocupado com a segurança de sua melhor amiga. Mas ele não pôde impedi-los, ela era uma adulta e sabia o que estava fazendo. Por outro lado, também não queria que ela fosse para a prisão, pois sabia de suas condições financeiras caso optasse por pagar a indenização.
De qualquer forma, Daniel prometeu que sempre iria ajudá-la em tudo que precisasse, com a desculpa de que iria ver o estado do paciente sempre que possível. Obviamente, Damian não gostou muito disso, pois sentia-se vigiado por pensarem que ele faria algum mal a Syara.
Na verdade, Damian sentia-se perdido com o estado em que se encontrava, estava com medo por não saber que caminho seguir já que não se lembrava de nada, muito menos de sua própria família. A única coisa que ele sabia era o próprio nome, mas isso não era suficiente para ajudá-lo. Por sorte, conheceu Syara, e mesmo que estivesse praticamente forçando-a a cuidar dele, o mesmo sentia-se ansioso por isso.
Durante os dias que ela cuidou dele, Damian começou a simpatizar com sua simplicidade, admirando-a em segredo pelo esforço que ela fazia. E quando ela recebeu alta, quase não o deixou sozinho, voltava para casa apenas quando necessário. Mas dessa vez, foi a vez dele receber alta para retomar sua vida.
— O que está esperando? — Damian perguntou percebendo que Syara estava imóvel após ouvi-lo dizer que ambos iriam para casa naquele momento. — Vamos logo para casa.
Assim como Damian, ela se acostumou com sua presença, e agora ele não era mais um desconhecido que era obrigada a cuidar. Poderia dizer que agora eles eram conhecidos próximos, mas não era para tanto, afinal, não se sentia totalmente confortável. E ouvi-lo dizer que agora ela precisava levá-lo para sua casa era demais para entender.
— Eu não sabia que precisava levá-lo para minha casa, não me prepararei para isso. — Ela sorriu, mas ao mesmo tempo estava preocupada com tudo isso.
— Porque? Para onde acha que vou neste estado? Não conheço mais ninguém confiável além de você. — Por um momento, Damian cogitou que ela iria abandoná-lo à própria sorte e desistisse do acordo que fizeram. Afinal, ele entendia a situação mais do que alguém poderia imaginar. — Com o que está preocupada? Por acaso tem namorado? É casada? Sua família é contra isso?
— O quê? Não! — Syara balançou as mãos, negando todas as suposições. — Não é nada disso, estou apenas preocupada… — Ela suspirou, virando-se de costas para ele como se quisesse desviar do assunto.
— Com o quê? Céus! Eu estou usando cadeira de rodas, não sei ao menos quem eu sou ou de onde venho, o que acha que eu iria fazer? — Sentindo-se ofendido, Damian cruzou os braços como uma criança, estava totalmente chateado. — Não precisa continuar com isso, se não quiser. Não era minha intenção forçá-la a cuidar de mim em troca de sua liberdade. Eu não iria acusá-la de nada, de qualquer forma.
Syara ficou em silêncio, surpresa com o que acabou de ouvir. Neste caso, ela lembrou-se dos dias que passou cuidando dele. Para ela, o mesmo não parecia ser uma pessoa ruim. No entanto, ela apenas imaginou algo assim, pois Daniel a alertou disso. Não era como se a mesma fosse tão ingênua para não pensar sobre isso, mas conhecendo-o melhor, tinha certeza que não faria mal levá-lo para sua casa por um tempo.
— Está bem, então vamos para casa. — Com um sorriso meigo no rosto, ela aproximou-se e começou a empurrar a cadeira de rodas em direção a saída.
— Não quero. — Damian interviu, continuava chateado com ela por quase dizer que ele poderia fazer algum mal a ela caso o levasse para sua casa. Para ele, apesar de ambos não se conhecerem tão bem, isso era uma grande ofensa.
— É mesmo? Então devo deixá-lo aqui à própria sorte? Se me lembro bem, o senhor comentou que não iria me acusar de nada, então… — Syara o deixou para trás para ver sua reação, e em tão pouco tempo ele começou a segui-la pelo corredor. É claro que ele não iria ficar sozinho.
Quando adentraram no elevador, Syara ficou em silêncio. Ela não tinha mais nada a dizer, exceto que em seus pensamentos muitas coisas estavam preocupando-a. Pensar que agora iria conviver com um homem desconhecido a fazia quase delirar, ela não esperava por isso. Tudo que menos queria era parar na prisão, mas ela tinha que pensar pelo lado bom, agora não ficaria mais sozinha naquela casa onde a única pessoa que se importa com ela como filha lhe acolheu, e que tinha falecido recentemente.
Após pagar o taxista, Syara aproximou-se de Damian enquanto o mesmo observava o apartamento onde ela morava. A aparência não era muito agradável, parecia um local abandonado e que estava em ruínas. O mesmo engoliu em seco, imaginando o quanto aquela mulher era desprovida de uma boa vida.
— Eu sei, é horrível — Syara disse após um suspiro, ela não tinha vergonha de onde morava, mas sabia que não era um local muito agradável de se ver. — Mas não desanime, é apenas por um tempo. Logo o senhor vai se recuperar e voltará para sua vida.
— Estou cansado, essa cadeira também não é nada confortável. — Damian cortou o assunto, pois sequer sabia onde vivia antes do acidente. Então para ele era como se estivesse sendo encurralado em um momento tão crítico.
Apesar de tudo, Damian entendia muito bem o que Syara estava passando. O medo de conviver com um estranho não passava despercebido para ele, pois o mesmo se sentia da mesma forma. Sem memórias e uma família, era como se estivesse em um labirinto cercado por pessoas que também poderiam lhe fazer mal. No entanto, ele confiava em Syara, de alguma forma.
— Que ótimo! Consertaram o elevador! — Syara abriu um enorme sorriso após ver o aviso ao lado do elevador que Damian cogitou ser perigoso e duvidoso.
— Syara! O que está fazendo aqui? — Uma senhora de meia idade acenou enquanto aproximava-se da mesma, estava bastante surpresa com sua aparição, já que tinha acabado de retornar de viagem e lembrava-se perfeitamente de que a jovem tinha mencionado que iria se mudar.
— Olá, senhora Jú! — Ela sorriu em resposta, era bom vê-la naquele momento, mas sabia que ela lhe encheria de perguntas após ver um homem estranho aos seus olhos ao seu lado. — Bem, estou de volta.
Juliet era uma senhora bastante educada, estava no auge dos cinquenta anos e era viúva, além de dona da maioria dos apartamentos no local, e que alugava para algumas pessoas para conseguir alguma renda todos os meses, exceto o que Syara morava, já que pertencia somente a ela.
— Algo aconteceu? E quem é esse rapaz bonito? É seu namorado? — perguntou Ju, visivelmente curiosa e encantada com o homem na cadeira de rodas, mas sequer percebeu a última parte, estava mais atenta à beleza do mesmo.
— Não, é um amigo distante — respondeu de forma descontraída, não seria legal dizer a verdade quando poderiam julgar sem ao menos conhecê-lo. — Nos encontramos por acaso em um acidente, sorte a nossa que não foi nada grave.
— Como assim? Você também estava envolvida? Se machucou muito? — A senhora Jú a tocou em quase todo o seu corpo como quem quisesse averiguar sua situação, mas se confirmou ao saber que ela estava bem. — Como isso aconteceu?
— Foi culpa minha, meu carro estava com problemas nos freios, então não consegui evitar o acidente. — Syara se sentiu um pouco abalada por lembrar disso, então Damian decidiu investir nesse assunto.
— Mas estamos bem agora. A única coisa boa desse acidente foi o nosso encontro, eu não esperava encontrá-la depois de muito tempo. — Damian sorriu, chamando a atenção da senhora que ficou ainda mais encantada com sua gentileza. — Estou feliz em poder conviver com ela, pelo menos até eu me recuperar.
— E quem sabe se tornem um belo casal, não é mesmo? — Juliet deu uma piscadela para ambos, fazendo-os rir por seu comentário, afinal acreditavam que isso jamais aconteceria. — Enfim, aproveitei meu retorno para mandar consertar o elevador, agora ficará mais fácil para vocês.
— Sim, muito obrigada senhora Jú. Agora precisamos subir, estamos exaustos. — Eles se despediram amigavelmente e adentraram no elevador, que causou um certo medo em Damian, mas ele estava apenas exagerando.
Quando Syara abriu a porta do seu apartamento, ela o convidou para entrar e se sentir em casa. Damian observou tudo atentamente, era um local grande para uma pessoa, era arejado e confortável. Tudo estava perfeitamente organizado, limpo e a simplicidade o encantou.
— Onde irei dormir? Aqui tem dois quartos? — perguntou Damian visivelmente animado.
— Sim, meu quarto é na primeira porta à esquerda, há um outro quarto no final do corredor mas está inutilizável. — disse enquanto observava atentamente a porta que estava muito bem trancada, mas que fazia seu coração doer apenas por pensar que alguma vez ele já foi ocupado por alguém, mas logo se voltou para Damian. — Você dormirá no sofá.
No momento exato em que ela pronunciou a palavra sofá, Damian arregalou os olhos desacreditado. Piscou algumas vezes para ter certeza se aquilo era real, então deu um leve risada, imaginando que aquilo era brincadeira.
— O que foi? Estou falando sério, mas não é só isso. Você irá cozinhar sua própria comida, irá limpar o que sujar e lavar suas próprias roupas. Por fim, tomar banho sozinho. — Syara enfatizou a palavra lembrando-se do que quase passou no hospital, quando o ajudou com praticamente tudo.
Por sorte, Daniel conseguiu a ajuda de um enfermeiro que ajudava os pacientes mais necessitados nos banhos, então Syara se livrou disso antes que Damian recebesse alta. E agora que não tinha mais enfermeiro, ele tinha que se virar sozinho.
— Tudo bem, eu posso fazer tudo isso sozinho. Mas dormir no sofá é maldade, não acha que vou congelar aqui? — Damian fingiu estar magoado, seu semblante parecia de um cachorrinho abandonado.
— Não seja dramático, aqui não é tão frio assim. Em todo caso, eu tenho lençóis suficientes. — Syara quase caiu em seu jogo, mas logo se recompôs. Ela não poderia deixá-lo dormir em seu quarto quando sequer o conhecia, mesmo que seu estado a deixasse com pena. — Enfim, na geladeira tem comida, você pode aquecer no microondas. O banheiro fica em frente ao meu quarto.
— Espera, você vai sair? — Damian ficou preocupado, logo engoliu em seco imaginando o que poderia acontecer se ficasse sozinho.
— Sim, preciso voltar ao trabalho. — Ela suspirou, sentindo-se cansada antes mesmo de voltar a rotina. — Voltarei antes do anoitecer, cuide de tudo por aqui. E deixe a porta trancada, não abra para ninguém além da senhora Jú ou meu amigo Daniel.
Syara pegou sua bolsa e seu celular, estava prestes a sair quando lembrou-se de algo importante. Damian apenas observava seus movimentos, sabia que nada poderia fazer para impedi-la de sair e deixá-lo para trás. Ela retornou após pegar uma caixa no armário da cozinha, e o deixou sobre a mesa de centro, próximo ao sofá.
— Se sentir alguma dor, aqui tem remédios. — Ela olhou para ele como se quisesse dizer algo, mas apenas lembrou-se de algo importante que sempre fazia, então disse: — Cada remédio tem escrito para que serve, enfim… Eu vou indo.
Syara o deixou antes que ele a impedisse, pois o mesmo parecia uma criança indefesa que necessitava de sua atenção. A mesma desceu até o térreo, e então caminhou em direção a cada da senhora Jú, que já estava de saída também.
— Senhora Jú! — chamou, e tão logo a mesma sorriu para ela, aproximando-se.
— Olá, minha querida. Já está indo trabalhar? — perguntou, recebendo um sim como resposta. — Posso ajudá-la com alguma coisa? Eu sei que há preocupação nesses olhinhos.
— É que eu vou deixar Damian em casa, já que ele não pode vir comigo. A senhora poderia passar lá mais tarde para vê-lo? — perguntou ela, receosa. Ela sabia que poderia confiar em Juliet com essa situação, mas ainda assim sentia-se nervosa em pedir esse favor.
— É claro! Será um prazer, vou aproveitar e fazer um lanchinho para ele, estou indo às compras agora. Quer vir comigo? — perguntou a senhora animada.
— Ah, eu não quero incomodar. — Syara sorriu, envergonhada.
— Não vai ser incômodo nenhum, venha! — Juliet a puxou para que a mesma a seguisse até o seu carro. — A cafeteria é bem perto do mercado, seria injusto não lhe dar uma carona.
Ambas as duas entraram no carro e tão logo a senhora deu partida. O local onde moravam era um pouco afastado da pequena cidade, um carro era essencial em momentos como este. Mas agora que Syara não estava mais com o seu carro, tão cedo não o mandaria para o concerto, pois sabia que isso lhe tiraria um grande dinheiro.
— Desculpe perguntar, mas como minha menina está? Não estou me referindo ao acidente, você sabe o que quero dizer. — Juliet deu uma rápida olhada em Syara, constatando que ela tinha entendido sua pergunta.
— Eu acho que agora posso dizer que estou conseguindo seguir em frente. Mesmo que minha mudança tenha dado errado, acredito que tudo tem o seu tempo. — ela respondeu, olhando para a vista que tanto admirava. — Eu pensava que deixando aquele lugar para trás iria me sentir melhor, mas depois do acidente, percebi que não posso me desfazer de algo que foi importante para mim.
— Minha menina está tão crescida, estou orgulhosa de você. Eu tenho certeza que você vai superar a perda. A vida é assim, afinal. Mesmo que não estejamos preparados para perder alguém, as lembranças que ficam são as que nos fazem ser mais fortes — disse Juliet com um sorriso meigo e acolhedor. — Quanto a sua mudança, acredito que o momento certo chegará.
— Obrigada, a senhora tem sido como uma mãe para mim, assim como ela foi. — Assim que chegaram no destino, Juliet estacionou o carro próximo a cafeteria onde Syara trabalha. — Nunca vou me esquecer quando me acolheram quando mais precisei.
— Sempre estarei por perto caso precise de mim, e não fique com vergonha de pedir ajuda. — Juliet a abraçou, dando leves tapinhas em suas costas. — Tenho certeza que minha irmã está muito orgulhosa de você, onde quer que ela esteja.
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