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A Fuga Do Ceo

Descobrindo Segredos

— Você está ansioso — comentou Amely, observando o irmão se arrumar diante do espelho, estava mais focado em sua gravata, simples e moderna. — Na verdade, até demais.

— Você acha? Estou tão nervoso... E se ela não aparecer? — Damian suspirou, alternando entre sorrisos ansiosos e olhares apreensivos. Parecia que seu coração iria sair pela boca por tamanho nervosismo, afinal, era um dia muito importante.

— Não diga isso! Aquela família pode ser estranha, mas ela vai estar lá — garantiu Amely, tentando transmitir confiança. Apesar de ser tímida e a caçula da família, ela se esforçava para ser a irmã que Damian merecia, afinal, ele sempre fora o único que realmente se importava com ela.

— Se não fosse por você, eu não sei o que faria. Esperei por este momento tanto tempo… — Damian voltou a se encarar no espelho, o sorriso agora fixo. Sentia-se o noivo mais feliz do mundo e nada poderia estragar esse momento único para ele.

— Ainda não entendo por que a Anika demorou tanto pra aceitar o pedido. Vocês se conhecem desde a faculdade! — disse Amely, sem esconder uma pontada de desconfiança. Ela nunca fora fã da namorada do irmão, mas se esforçava para engolir isso, desde que ele estivesse feliz.

— Você sabe que casamento é algo sério. Não é uma decisão fácil — respondeu Damian, lembrando-se de como se torturou esperando aquela resposta. Agora isso pouco importava, estavam prestes a se casar finalmente.

— Eu sei, é só que… estou preocupada — Amely desviou o olhar, lutando contra a vontade de contar algo que descobrira, mas a felicidade do irmão a impediu. — Promete que vai me ligar depois?

A porta se abriu de repente, revelando Niamh — o melhor amigo de Damian e seu braço direito na empresa. Elegante, ele entrou sem um sorriso, o que chamou a atenção de Amely, que o examinou em silêncio. Algo parecia diferente, talvez um problema na empresa?

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Damian, notando o semblante carregado do amigo.

— Senhorita Amely, poderia nos dar um minuto? Prometo que não vou demorar — pediu Niamh, com toda educação. Ele era sempre assim.

Amely assentiu e saiu, silenciosa.

Assim que ficaram a sós, Damian quebrou o gelo:

— Vai me dizer que é problema na empresa? Francamente, nem no meu próprio casamento tenho descanso? — Tentou brincar, mas o humor de Niamh deixava claro que não era isso, mas desejava internamente que fosse.

— Senhor… Recebi este documento há pouco. Não tem remetente. Achei melhor checar antes de qualquer coisa. É sobre a família Zraa.

Ao ouvir o sobrenome, Damian parou de ajeitar o cabelo. Ficou imóvel, pior ainda, bastante preocupado. Não esperava ouvir aquele nome, muito menos no dia do seu tão sonhado casamento.

— Do que se trata? — perguntou, tentando esconder o nervosismo.

— É melhor o senhor ler. Mas, antes… lembra da investigação que me pediu para fazer, há dois anos? — Niamh o olhou nos olhos, sério.

Damian franziu a testa, tentando se lembrar. Foram tantas coisas desde então… Mas assim que se deu conta, sentiu um frio percorrer-lhe a espinha. Não agora. Não hoje. Isso não poderia ser possível.

Sentou-se no sofá, pegou o envelope das mãos de Niamh e respirou fundo antes de abrir. Por um instante, rezou em silêncio para que não fosse nada demais. Mas bastou uma olhada para sentir o chão sumir sob seus pés. Era realmente o que tanto temia.

— Senhor, tudo bem? — Niamh se aproximou, apreensivo. — Damian?

— Eu não quero continuar… — sussurrou Damian, com a voz embargada. Um nó se formou na garganta, lágrimas ameaçaram cair, mas ele respirou fundo e as conteve. Esse não era o momento ideal para lamentar, muito menos sentir-se fraco.

— O que eu faço? — encarou o amigo, impotente.

— O mais seguro é sair daqui. Agora — disse Niamh, decidido. — Se escolher se casar ou ficar nesta cidade, é questão de tempo até algo acontecer. Ainda não sabemos até onde essa família pode ir. Eles são imprevisíveis.

— Você acha mesmo que… ela seria capaz? — A pergunta soou mais como uma súplica, ele não diria acreditar que a mulher que tanto amou poderia destrui-lo tão facilmente, friamente.

— Se fosse só ela, seria fácil. Mas não é. Estamos falando de algo grande demais para enfrentar de frente agora. É perigoso ficar por perto. Não podemos confiar em ninguém.

Damian jogou os papéis no chão, enterrou o rosto nas mãos e respirou fundo, tentando encontrar algum senso nessa confusão. Ele não queria fugir, desejava enfrentar isso de frente, mas era arriscado demais.

— E minha família? E Amely? Eu não posso abandoná-los.

— Vai protegê-los mais estando longe — disse Niamh, firme. — Aqui, eles se tornam alvo junto com você. Afinal, não sabemos ainda com total certeza sobre o que estamos lidando.

Damian respirou fundo. Levantou-se, decidido, e caminhou até o closet.

— O que está fazendo? — perguntou Niamh, sem acreditar.

— A única coisa que posso fazer agora. Vou sumir. Para um lugar onde ninguém me encontre. É o mínimo até conseguir deixá-los vulneráveis. — Começou a jogar algumas roupas numa mala pequena, não precisava de muitas coisas. — Não conte a ninguém. Principalmente à Amely. Quero que pensem que fugi. Só isso.

— Entendido — disse Niamh, já pegando o celular para providenciar tudo. — Vou chamar o carro agora.

— Cuide de tudo. Meu pai saberá segurar a empresa durante minha ausência. Eu tento manter contato. Também preciso de tempo pra descobrir como arrancar a verdade de Anika. — Damian parou por um segundo, olhando em volta. Cada canto daquele apartamento era uma lembrança, tudo agora ficaria para trás.

Quando Niamh voltou com o carro, Damian respirou fundo. Pediu a Amely, por mensagem, que fosse direto para a igreja. Mesmo relutante, ela obedeceu. Ela ainda não sabia o que estava acontecendo.

Antes de entrar no carro, Damian se virou para o amigo.

— Se acontecer qualquer coisa, me avisa. Cuide de tudo. E… — Fez uma pausa, com um sorriso cansado. — Ainda quero viver pra ver minha irmã se casar com você.

— O quê? Como… — Niamh corou levemente, mas não disse mais nada. Não havia tempo suficiente para isso.

Damian entrou no carro, levando apenas a pequena mala. Viu o amigo ficando para trás pelo retrovisor, junto com a vida que deixava para trás. Perguntava-se se era o certo a se fazer, mas não tinha muitas escolhas.

Algumas horas depois, distante o bastante para se sentir a salvo, seu celular tocou. Era Amely. A garganta apertou. Ele sabia que, naquele momento, todos deviam acreditar que ele estava apenas atrasado — ou que tinha mesmo fugido.

Sem coragem para ouvir a voz da irmã, pegou o celular e o arremessou pela janela. Era sua forma de dizer que não havia mais volta. Pelo menos por enquanto.

Estava tão perdido nos próprios pensamentos que não percebeu o carro vindo em alta velocidade, completamente fora de controle em sua direção.

Deixada para trás

A igreja estava cheia. Convidados murmuravam entre si, ansiosos para testemunhar o casamento do poderoso Damian Lynn com a encantadora Anika Zraa — uma união que, aos olhos de todos, seria o evento do ano. Mas, longe dali, Anika ajeitava o véu diante de um grande espelho, enquanto a mãe a observava com um sorriso falso.

— Estou tão ansiosa… Será que ele vai gostar? O vestido ficou perfeito! Não é? — Anika perguntou, tentando disfarçar o nervosismo. Seus dedos tremiam quando tocavam o tecido delicado do vestido feito sob medida.

— Gostar? — Magna Zraa ergueu uma sobrancelha, largada no sofá do camarim. — Vai mesmo fingir que se importa com tudo isso? Já esqueceu por que está fazendo isso? Não me diga que…

— Eu não esqueci — rebateu Anika, firme. — Mas não preciso ouvir esse tom. Não é só por dinheiro. Eu… até que gosto dele.

Magna soltou uma risada curta e sem humor.

— Amar um homem nunca pagou as contas, querida. Lembre-se: você promete amor, ele promete fortuna. E no fim, todos saem ganhando… vivos ou mortos. É assim que a vida funciona.

Anika desviou o olhar, tentando ignorar a pontada de desconforto que sentia toda vez que a mãe falava assim. Não poderia negar que ela estava certa, mas ouvir essas coisas a deixava um pouco desconfortável. Afinal, era seu casamento, como poderia não se sentir ao menos um pouco ansiosa?

— Eu sei o que estou fazendo. — Passou um batom, um vermelho que combinava com sua personalidade, e então respirou fundo. — Preciso mantê-lo tranquilo até o último segundo.

Antes que Magna pudesse responder, a porta se abriu abruptamente. O senhor Thomas Zraa, entrou com os punhos fechados, no rosto uma máscara de fúria contida perante sua única filha.

— O que aconteceu? — Magna levantou-se num salto. O tom calmo sumira por vê-lo dessa maneira.

Thomas não respondeu. Marchou até Anika e, sem aviso prévio, acertou-lhe um tapa que ecoou pelo quarto. O estalo fez o coração de Anika disparar, assim como seu corpo quase tropeçar — ela levou a mão à face, os olhos arregalados por tamanha violência. Seu pai nunca fez isso antes.

— O que pensa que está fazendo?! — Magna gritou, tentando afastá-lo com suas próprias mãos. Tão fraca que sequer conseguiu movê-lo do lugar.

— Você me enganou! — Thomas rugiu para a filha. — O que disse a ele, hein?! Diga!

— Eu não fiz nada! — Anika se defendeu, sentindo o rosto latejar. — Pai, por favor…

— Ele sumiu! — Thomas girou para encará-las friamente, a respiração pesada, voz carregada de ódio . — O maldito sumiu! Você estragou tudo!

— O quê? — Anika cambaleou, apoiando-se na penteadeira. — Não… isso não pode…

— Vi a família dele cochichando no saguão! — Thomas estava vermelho de raiva, não sabia mais onde descontar sua fúria senão na própria filha. — Se ele tivesse mudado de ideia, teríamos dado um jeito depois. Mas agora… agora ele sumiu antes de assinar qualquer papel!

Magna se colocou entre os dois, apertando o braço do marido para chamar sua atenção.

— Baixe a voz, Thomas! Quer que escutem lá fora? — sussurrou entre dentes, perplexa, mas ao mesmo tempo convicta. — Se alguém ouvir, acabou tudo.

Thomas respirou fundo, mas tremia. Olhou para a filha, quase cuspindo veneno contra ela.

— Se isso for culpa sua… — ameaçou.

— Eu juro! — Anika sussurrou, a voz embargada. Pegou o celular com os dedos trêmulos, discou para Damian como uma tentativa de resolver aquela situação — fora de área. De novo. E de novo. Nada.

Magna respirou fundo, buscando manter o controle da situação. Já não poderiam fazer mais nada no momento, apenas o óbvio.

— Chega. — A voz dela soou fria como aço. — Agora, você vai engolir as lágrimas e fingir que não sabe de nada. Quando nos trouxerem a notícia, apenas chore. Lamente. E, acima de tudo, silêncio. Você me entendeu?

Anika assentiu, respirando fundo para conter o tremor.

Um leve toque na porta os fez engolirem o medo. O pai de Damian entrou, acompanhado da mãe. Os olhares deles diziam tudo.

— Senhor Zraa, senhora Zraa… sinto muito. — A senhora Lynn segurava as mãos de Anika como apoio emocional. — Damian… fugiu. Ele não apareceu na igreja, não atendeu ligações. Infelizmente ninguém sabe onde está.

Por um segundo, o rosto de Anika ficou pálido. Mas, então, ela deixou que lágrimas escorressem, uma a uma. A mãe aproximou-se, abraçou-a. Thomas mordeu a língua, reprimindo a raiva. Magna, atrás de todos, forçou um soluço discreto. Precisavam fingir.

— Não… não pode ser… — Anika sussurrou, soterrada por braços que a confortavam. — Por que ele faria isso comigo? Eu não entendo… ele disse que me amava.

Amely, do lado de fora, observava a cena pela fresta da porta. Sentia o estômago embrulhar — algo estava errado. Seu irmão jamais faria isso. Ele realmente amava Anika — ou, pelo menos, sempre disse que sim.

Atrás dela, Koen, o irmão mais velho, cruzou os braços.

— Ele fugiu. Quem diria… — murmurou no ouvido dela de forma brincalhona. — Talvez eu tenha uma chance, afinal.

Amely se virou, furiosa.

— Koen! Nem pense em brincar com isso! — o repreendeu.

— Então me explica — ele rebateu, sério agora. — Olha bem pra eles. Não parece tudo encenado? Esse choro dela… Toda essa lamentação… angústia e dor.

Amely o silenciou com um olhar, mas por dentro, a dúvida corroía. O coração martelava em sua garganta — Damian estava em perigo. Ela sentia isso.

Enquanto isso, quilômetros dali, Damian acordava num leito de hospital, os olhos piscando sob a claridade cruel. A dor era latejante — perpassava-lhe o peito, o ombro, as costelas, praticamente tudo. Ele tentou se mexer, mas um gemido de dor escapou. Sua visão estava um pouco embaçada, sequer conseguia entender o que estava acontecendo consigo.

Damian fechou os olhos, lutando contra a confusão. Sua mente latejava. E agora? Onde estava? O que estava acontecendo? E como veio a estar neste estado deprimente?

Do outro lado do vidro, o médico geral Daniel o observava em silêncio. Sabia que, quando seu paciente acordasse por completo, perguntas viriam como uma avalanche, sem piedade. Principalmente quando soubesse o que causou seu acidente, e estava preocupado com isso.

Lá fora, a noite caía. Tão silenciosa e, com ela, a certeza: para Damian, voltar atrás não era mais uma opção, seu estado já não lhe permitia tamanho luxo. E Anika, mesmo traída em seu próprio jogo, ainda não estava disposta a perder.

Perda de Memória

Horas depois, já era madrugada quando o doutor Daniel soube que o paciente acidentado, aquele homem misterioso, finalmente havia acordado completamente. Ele percorreu o corredor do hospital com passos silenciosos, tentando ordenar as perguntas que faria — e as respostas que temia ouvir.

Damian estava semi-sentado, com o olhar perdido no teto branco e sem graça. O curativo na testa contrastava com o lençol impecável. Quando Daniel entrou, ele piscou devagar, como se precisasse de um tempo para focar no rosto à sua frente. Parecia que tudo era novo naquele momento.

— Boa noite. — Daniel disse em tom calmo, estudando sua reação pacientemente. — Sou o doutor Daniel. Você sofreu um acidente de carro algumas horas atrás. Consegue se lembrar do que aconteceu?

Damian apertou os olhos, franzindo o cenho. Um leve tremor percorreu seu maxilar.

— A-acidente? Eu… — Sua voz saiu arranhada, como se fosse a primeira palavra que dizia em anos. — Não… não consigo… Nada faz sentido.

Daniel suspirou, anotando mentalmente o estado do paciente. Pegou uma caneta do bolso e a bateu de leve no prontuário.

— Tudo bem. Você sofreu um trauma na cabeça. — Sua voz era calma, porém direta. — Isso pode afetar suas memórias por um tempo. Consegue me dizer seu nome completo? Família? Endereço? Qualquer coisa que consegue se lembrar?

Damian engoliu em seco, o peito subindo e descendo em uma respiração curta. Se esforçava para lembrar de algo, sem sucesso. E mais uma vez, outra vez. Nada. Tentou uma última vez, seu nome.

— Dami… Damian — murmurou, como se provasse o gosto do próprio nome. — É só isso… Não lembro de mais nada. Tem algo errado na minha cabeça?

Daniel colocou uma mão em seu ombro, solidário.

— Tecnicamente, sim — sorriu de leve, para confortá-lo. — Mas nada irreversível. Você teve algumas fraturas na perna, precisou de uma cirurgia rápida, mas o maior impacto foi na cabeça. É provável que as memórias voltem aos poucos. Vou cuidar para que fique confortável enquanto isso. Não se preocupe, vai melhorar logo, apenas tenha paciência.

Damian olhou ao redor, como se buscasse pistas na cortina, nos aparelhos. Mas tudo parecia estranho demais. A única coisa familiar era a dor que latejava por todo o corpo.

Quando Daniel saiu do quarto, Syara estava encostada no corredor, abraçando os próprios braços. Os olhos vermelhos, a respiração curta. Estava tão preocupada que sequer se importava consigo mesma.

— Syara, deveria estar em repouso — ele disse, num tom mais brando que repreensivo.

— Eu não posso dormir enquanto ele estiver ali, sozinho… — a voz dela saiu num fio. — Ele acordou? Está bem? Por favor, não me dê más notícias.

Daniel se aproximou, abaixando-se até o nível dela. Segurou-lhe as mãos para tentar acalmá-la.

— Ele acordou. Disse que se chama Damian, mas não se lembra de quase nada. É amnésia temporária. — Observou Syara arregalar os olhos, tomada por um misto de culpa e alívio. — Ei, escuta… Você salvou a vida dele. Não esqueça disso.

Ela respirou fundo, como se ainda não acreditasse.

— Salvei… mas também causei o acidente — murmurou, os olhos fixos em um ponto qualquer na parede, lembrava-se perfeitamente daquela cena. — Se eu tivesse revisado o maldito carro… Eu o vi quase queimando vivo, Daniel. Isso…

Ele apertou as mãos dela.

— Se não fosse você, ele estaria morto agora. — Soltou-a, indicando o caminho. — Agora volte para o quarto. Amanhã conversamos com a polícia, tudo ficará bem. Eu prometo.

Na manhã seguinte, Syara acordou ainda sem forças para enfrentar o mundo. Enquanto empurrava o café da manhã para o canto da bandeja, ouvia vozes abafadas no corredor. Daniel entrou, trazendo o cheiro de café fresco e preocupação nos olhos.

— Temos visita — anunciou, sentando-se na beira da cama. — A polícia quer ouvir você. É só rotina. Não se preocupe demais, vai ficar tudo bem.

Syara respirou fundo, tentando conter o tremor nas mãos. Durante o depoimento, repetiu pela centésima vez como o carro falhou, como perdeu o controle, como arrastou Damian para fora antes que o fogo o engolisse. Os policiais ouviram, anotaram, perguntaram de novo — e saíram. Simples assim.

Quando a porta se fechou, Daniel apareceu de novo, um sorriso contido no canto dos lábios. Ele estava certo, não havia com o que se preocupar. Ambos estavam bem, era isso que importava.

— Você fez o que precisava fazer. Está limpa, Syara.

Ela sorriu, mas seus olhos carregavam sombras.

— E ele? Vai me denunciar? O que vou fazer se isso acontecer? Eu…

— Não. Ele não se lembra nem da própria vida — Daniel suspirou, fitando o corredor, como se temesse ser ouvido. — E mais: ele pediu para falar com você.

Syara estacou, apertando os lábios.

— Ele pediu… por mim?

— Vai ver ele quer te agradecer por não deixá-lo virar cinzas. — O tom de Daniel era leve, mas Syara sentiu um arrepio percorrer-lhe a nuca. Ela não imaginava que isso realmente aconteceria, claro, pensou sobre isso inúmeras vezes, mas agora era real.

Minutos depois, Syara entrou no quarto de Damian, batendo de leve na porta. Nenhuma resposta. O som suave da máquina de monitoramento preenchia o ambiente. Ele parecia dormir — o rosto sereno, as pálpebras pesadas. Ela sentou-se na poltrona ao lado, envolvendo os joelhos com os braços, sem coragem de acordá-lo.

Quando Damian abriu os olhos, não entendeu o que viu primeiro: o teto pálido, o cheiro de hospital ou a silhueta feminina à sua frente. Ela dormia encolhida na poltrona, o rosto ainda marcado por arranhões. Era ela… a mulher que causou seu acidente, mas que o salvou também.

Ele a observou em silêncio. Algo naquela presença lhe causava um incômodo familiar — ou seria um alívio? Talvez ambos. Não fazia ideia de quem ela era, mas… não sentia medo. Sentia-se tão confortável que parecia estar em casa, mesmo que não se lembrasse de como realmente era.

No fundo de seus pensamentos confusos, uma pergunta se formou: quem é ela… e por que parecia que precisava dela mais do que deveria? Havia muito mais perguntas, todas sem respostas, nada fazia sentido.

Damian ergueu uma mão, fraca e levemente machucada, tentando chamar por ela — mas o movimento a despertou antes que dissesse qualquer palavra.

Quando Syara abriu os olhos, encontrou o olhar dele preso ao seu. E, por um segundo, esqueceu que eram estranhos presos na mesma tragédia.

Ali, naquele instante, uma nova história começava — silenciosa, delicada e tão perigosa quanto tudo que Damian esquecera.

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