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BLOOD

Fugitiva

    Pés descalços no meio dessa mata, penumbra sombria há dias devido ao clima e nem sinal da minha presa. Roupa rasgada, manchas de sangue seco por toda parte, meus belos cabelos ensebados desse grude nojento e vagando sem rumo, me parece que a pista que eu seguia esfriou.

    Já se passaram três dias, meu estomago deve estar com as paredes coladas de tanta fome e não bebo nada a não ser por aquela poça d’água suja de um dia atrás, a sede e fome estão me deixando louca que eu poderia morder as árvores.

    Olho para trás e ainda consigo ver o clarão daquele incêndio. Olhos trêmulos e vermelhos, rosto molhado das lágrimas que escorriam por ele quando penso em todos que perdi em uma única noite, minha falha é inaceitável, como uma Alfa como eu pude deixar isso acontecer? Justo eu, fui enganada e passada para trás, eu vou até o inferno se for preciso para descobrir quem fez isso!

    Esse lugar é cheio de declives perigosos, alguns galhos quebrados e essas marcas no solo me dizem que alguém passou por aqui, farejo o aroma de um mel muito peculiar, um fabricado apenas em minha alcateia, ninguém além dos Duch fazia isso, finalmente um pouco de sorte, é hora de começar a vingança.

    Em poucos segundos meu corpo começa a mudar, ganhando pelos no corpo e encolhendo a um ser quadrupede, era minha forma de Lupus deixando minhas roupas para trás, corro o mais rápido que posso sedenta de justiça. Quando percebo já estou muito próximo de um Jipe Wrangler todo conversível, tunado, pelo jeito e lotado de coisas de aromas nostálgicos e três homens apenas, dirigiam lentamente pela trilha nesta escuridão e estão sem faróis.

    - Esses tesouros nos deixarão ricos!

    - Sem sombra de dúvidas, estamos com a vida ganha, o que me diz Lucas?

    - Não gosto desse lugar, vamos depressa, pra todo canto que olho me sinto observado.

    - Medroso! Aquele bairro de periferia já era, ninguém nem vai dar falta daquele lugar, vão até agradecer. -        - Estávamos no local certo e na hora certa, aposto a minha parte dos tesouros que chegaremos em segurança em casa, aliás, temos armas, quem vai ser doido para nos desafiar?

    Não consigo escutar mais nem um segundo daquela conversa desrespeitosa, começo a avançar freneticamente e quando me notam, já me transformei num Hispo grande e mordi o pescoço do primeiro, dilacerei as entranhas do segundo com minhas garras e antes de  derrubar o terceiro e me sentar em cima dele, rasguei a lateral do Jipe e destruí o reservatório de combustível, não tem como escapar.

    O homem tinha olhos de incredulidade, provavelmente não sabia da minha existência e não estava envolvido no ataque, até parecia desistir da vida, comecei a mudar novamente, a forma de Glabro o deixa mais amedrontado, apesar de estar mais parecida com uma humana e estar nua, só havia medo em seus olhos.

    - Eu quero o nome de alguém, ou clã, ou matilha que fez isso, AGORA!

    Literalmente molhando as calças e gritando de puro pavor, não é pra menos, com minha voz nada amigável e minha aparência, o homem temia por sua vida e tremia muito.

    - E.e.ee.eu, sou só uuuu..u.um aproveitador u…u….um, um ladrão! Mas escutei o nnn..n.nn.no…me en…quan….

    - DIGA LOGO!

    - Ah! Nobre, Caeté!

    Agora tenho um nome, ótimo, após matar este último ladrão, pulo no Jipe e encontro ouro, braceletes, anéis, pedraria de todo tipo em um colar, dinheiro em espécie e alguns tecidos e trajes usados em alguns ritos da minha alcateia além de lençóis velhos na cor vinho e preto. Prefiro enrolar os lençóis em meu corpo para não chamar atenção com roupas tradicionais, ao menos pareço uma moradora de rua com estes trapos e não a Alfa de uma matilha, também vesti o colar e coloquei os demais tesouros em uma mochila pequena e vazia que encontrei aqui.

    Caminho em minha forma humana agora, vai demorar mais, mas é melhor para não chamar atenção agora, respiro fundo e olho para cima, estou cansada, mas isso não irá ficar assim, terei minha vingança.

    Vou para o sul, minha intuição diz para seguir este caminho, preciso sair dessa mata e encontrar a estrada, dessa forma posso arrumar uma carona e chegar logo a cidade mais próxima.

Encontro Inesperado

    Escuto um som no meio da mata quando sou surpreendida por dois Lobisomens aparentemente bem  mais fracos, são Glabros, devem ser recém transformados de outra matilha. Talvez devem estar até perdidos, não creio que estejam envolvidos no ataque a minha matilha, pois nem usam aqueles mantos estranhos.

    Tenho quase certeza que devem pensar que sou apenas uma humana, vou mostrar a eles do que sou feita! Comecei a recuar lentamente para fingir estar com medo, mas por descuido tropeço em um buraco no solo coberto por folhagens e caio no chão, um deles aproveita o momento e rapidamente monta em cima de meu corpo me olhando profundamente como se me analisasse.

    Farejando um pouco ele arregala seus olhos amarelos como se me reconhecesse agora. Posso estar enganada agora, mas ele pode estar envolvido no incidente, isso é ótimo, poderei arrancar dele o que sabe.

    - Sei quem é você Igrain…

    Misteriosamente um vento fortíssimo chega e o Glabro começa a queimar, surpreendidos, tanto eu como o outro agressor paralisamos, isso tem cara de magia, foi quando um homem de cabelo curto chega.

    - Bestas imundas, “do vulcão mais quente e do calor mais intenso, fogo!”

    Aquilo foi rápido, antes de ser atingido pelo Glabro, ele fez aqueles gestos com suas mãos e conjurou um feito de fogo, porém que explodiu lançando o rapaz em cima de mim, fui comprimida por seu peso, mas que rapidamente ergueu seu corpo ficando de quatro apoios quando nossos olhos se atraíram um pelo outro.

    - Me desculpe! Você está bem?

    - Olhando atentamente, seus olhos verdes, lábios carnudos, eu não precisava ser salva, mas vou me fazer de vítima, ele pode me levar a algum lugar ou veículo, dessa forma chegarei mais rápido onde preciso, e até que é bonitinho.

    - Estou, obrigada, você é um… mago? O que fez ali?

    - Venha cá, te ajudo a levantar, é uma regra, eu não deveria me revelar, mas você seria assassinada por aqueles lobisomens, não foi mordida né?

    - Não fui não, estou bem, obrigada, sempre soube que essas coisas existiam, não era só das historinhas…

    - Agora você sabe que é real, venha, eu estou acampando sozinho aqui perto, estava meditando quando escutei rosnados deles, prontamente usei minha magia de vento para chegar mais rápido, ainda bem que vim, pude te ajudar… Qual seu nome?

    - Sarah, meu nome é Sarah, e o seu?

    - Rischter.

    - Nome diferente, como se tornou mago?

    Preciso desenterrar todas as informações que puder desse mago a fim de saber se será de grande ajuda, se estava envolvido no incêndio, ou se só irá me atrapalhar, mas não consigo analisar ele direito ainda.

    - Nasci em um clã de magos, eu sei que pode parecer loucura, mas existe, neste mundo globalizado deste século XXI, magos, lobisomens, vampiros e até elfos existem, a magia que usei era perigosa, mas era para salvar você.

Ele olha para mim e dá uma piscadinha dizendo isso, confesso que até que ele é atraente, após mais alguns minutos caminhando no meio da mata, finalmente alcançamos seu acampamento.

Rischter o Mago

    Três dias em acampamento solitário, dominar os elementos de vento e fogo não foram fáceis, agora o da terra está se mostrando bem mais difícil. Nasci sabendo o elemento das trevas, mas me recuso a usar alguma magia deste.

    Houve uma explosão mais ao noroeste daqui, seja o que for, espero que não tenha machucado ninguém, provavelmente os bombeiros já estão lidando com a situação.

    Retorno a minha meditação recitando alguns mantras da terra e começo a sentir o elemento, ótimo, estou pronto para fazer o contrato com este elemental, finalmente.

    Por alguns instantes eu me aprofundo dentro de mim e sinto o elemento, meus braços se aquecem e abro os olhos, com minha clarividência vejo os símbolos se formando nos membros, depois em meu tórax nu e abdome. O ritual está completo, posso iniciar o aprendizado e prática de encantos da terra, o terceiro elemento.

    Rosnados e sons de bípedes correndo quebram minha concentração me fazendo ficar de pé num piscar de olhos. Lobisomens, passaram perto e me ignoraram, fico grato por isso, não estava preparado, mas devem estar atrás de alguém, preciso fazer algo. Coloco minha camiseta, bota e manto de mago.

    Respiro fundo, estico meus braços para frente cruzando meus punhos fechados, fecho os olhos e me concentro.

    “Ventus directus.” Abro as mãos e os braços, sinto os ventos e analiso por onde os lobisomens passam e se direcionam tenho ideia de onde possam estar agora, com isso localizei dois lobisomens incrivelmente rápidos a um quilômetro daqui, “Ventus force!” Convoco uma grande ventania unidirecional para o local indicado e começo a correr empurrado pelo elemento.

    Está na hora de testar a magia do fogo recém-adquirida, mesmo antes de chegar ao local começo a conjurá-la.

    “Do vulcão mais profundo e do fogo mais quente” - preciso fazer o símbolo do fogo e estender a mão dizendo o nome do elemento… “Fogo”

    Sinto um grande calor no peito percorrer meu ombro até chegar na palma e pular na direção de meu alvo. No instante que o fogo sai me sinto um pouco abatido, essa magia Arcana com base na energia da natureza é difícil fazer, por isso misturei com minha energia no final, dessa forma fica mais forte, no entanto, eu seria incapaz de fazer muitas outras vezes, seria perigo para minha vida.

    Um lobisomem está em chamas, agora é a vez do outro. Olho firme na direção dele e minha visão falha por um instante.

    - Bestas imundas, “do vulcão mais profundo e do fogo mais quente, fogo!”

    Droga, errei o final do símbolo, espero que ajude em algo. O calor foi maior e sinto a energia presa na minha palma, isso vai explodir aqui.

    Sou arremessado, isso parece aqueles contos de criança, cai em cima da mulher que eu desejava salvar, caramba, ela é linda, incrivelmente linda, pele branca e levemente bronzeada, olhos de mel, boca semi aberta e lábios delicados e rosas…

    - Me desculpe! Você está bem?

    - Estou, obrigada, você é um… mago? O que fez ali?

    Já mostrei o que sei fazer, além disso, ela viu lobisomens, não tem como desmentir algo assim, terei de revelar a verdade para ela, já sei posso levar ela a meu acampamento também.

    - Venha cá, te ajudo a levantar, é uma regra, eu não deveria me revelar, mas você seria assassinada por aqueles lobisomens, não foi mordida né?

    - Não fui não, estou bem, obrigada, sempre soube que essas coisas existiam, não era só das historinhas…

    Uau, acho que estou apaixonado por sua beleza, até parece uma escultura grega ela vira para um lado e para o outro e, não tem como não observar seus contornou através deste manto preto iluminado pelo fogo.

    - Agora você sabe que é real, venha, eu estou acampando sozinho aqui perto, estava meditando quando escutei rosnados de lobisomem, prontamente usei minha magia de vento para chegar mais rápido, ainda bem que vim, pude te ajudar… Qual seu nome?

    - Sarah, meu nome é Sarah, e o seu?

    - Rischter.

    - Nome diferente, como se tornou mago?

    Vou ter que me abrir, dessa forma ganharei sua confiança, já é um começo, depois descubro mais sobre ela.

    Nasci em um clã de magos, eu sei pode que pode parecer loucura, mas existe, neste mundo globalizado deste século XXI, magos, lobisomens, vampiros e até elfos existem, a magia que usei era perigosa, mas era para salvar você.

    Andamos mais um pouco e chegamos, a fogueira continua acesa, porém, o ensopado de batatas está fervendo e com elas derretidas.

    - Temos um ensopado, era para ser de batatas, mas está mais para ensopado de purê, ha, ha, ha, com carne de lebre, ao menos temos o que comer Sarah.

    - O cheiro está atraente.

    Sirvo a comida e seguimos conversando sentados em troncos, um de cada lado da fogueira. Eu removi meu manto de mago e permaneço com minha regata. O olhar de Sarah é bem atraente o que me deixa um pouco sem jeito.

    - O que você fazia ali?

    - Estava perdida, meu lar ficou em chamas, consegui escapar com vida por pouco, porém fui a única sobrevivente, estou há alguns dias vagando e dormindo por estas matas, estava realmente faminta também, sua comida me salvou, está deliciosa.

    - Pegue o quanto quiser.

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