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Meu Maior Inimigo Dormia Na Minha Cama

A arte do abandono

Fiquei no banheiro olhando para o teste sem acreditar. Deveria ser um erro. Como eu poderia estar grávida? Não faz sentido. Eu me cuidei. Não esqueço a pílula nenhuma vez sequer. Como isso pode acontecer?

— Vida, cheguei! Onde você está? — Draco gritou da sala. — Vim mais cedo para casa, você disse que não estava se sentindo bem. Fiquei preocupado. Já comeu?

Como vou explicar isso para Draco? Eu nem sequer sei se ele quer filhos, nunca falamos sobre isso. Mesmo que já tenha alguns anos que estamos morando juntos, ainda assim, não falamos sobre esse assunto. Estou no auge da minha carreira como atriz, um bebê não estava nos meus planos, disso eu tenho certeza.

— Vida, você está no banheiro? Está tudo bem? — Draco bateu na porta. — Se você não responder, irei arrombar.

— Que? Não! Irei sair. Calma. — Respondi. Draco com toda certeza destruiria a porta sem piscar. Ele não costuma ser um exemplo de paciência.

— Você se sente bem? — Draco perguntou ao me ver sair do banheiro completamente pálida, ainda não tinha digerido a informação. — Vida! Você está pálida! Devo chamar um médico? Melhor, posso pedir para um dos meus funcionários para te levar para o hospital. Ligo para Bruna te acompanhar lá.

Nossa relação funcionava em segredo, mesmo morando juntos todo esse tempo. Ele é um deputado conservador e eu uma atriz de novela bastante conhecida pela mídia. A mídia causaria um escândalo, ainda mais ao saber que estávamos morando juntos. Por essa razão, evitamos até mesmo sairmos juntos. Compramos um apartamento ao lado do outro, para despistar nossa relação. Depois unimos os dois. Transformando em um super apartamento. Como é um prédio de luxo, apenas dois apartamentos por andar, poucas pessoas têm acesso. E ainda temos cuidado em colocar as correspondências em endereços diferentes e entrando por portas diferentes, parece loucura, mas com passar dos anos, me acostumei. Não vou mentir que me incomoda um pouco tudo isso, mas foi ideia do Draco para evitar a perseguição da mídia e afetar a nossa imagem pública.

— Estou grávida. — Eu sei. Fui direto ao ponto, mas vamos admitir, o exame não escolheu as palavras e me deu a resposta desse jeito. Era muito justo fazer o mesmo com ele, certo? E definitivamente, eu não conseguiria explicar de outra forma.

— Laura, você está brincando, né? Que piada sem graça. — Draco sentou na cama tirando os sapato sem nem olhar para mim. Estava claramente irritado.

— Não estou brincando. — Coloquei o teste em cima do criado mudo. Ele olhou para ao exame e depois para mim.

— Me diz que você está brincando! — Draco levantou gritando, segurou meus ombros e me balançou.

— Hey! Não me grite. Eu também não estava esperando por isso, nem por isso estou fazendo um escândalo. — Respondi tentando me livrar das suas mãos que estavam agarradas no meu ombro, mas ele era muito mais forte que eu.

— Você não pode estar grávida. Você me disse várias vezes que estava tomando os remédios. Como isso aconteceu? — Draco continuava a gritar. Ele estava totalmente fora de si.

— Também não sei o que aconteceu, eu estava me sentindo enjoada quando fui para gravação da novela. Bruna desconfiou e me pediu para fazer o exame quando chegasse em casa. Comprou o exame quando veio me deixar. Fiz e deu positivo. E pode me soltar? Você está me machucando! — Eu também estava chocada, mas não ajudava em nada a forma com que ele estava agindo.

— Você só pode estar de brincadeira. Você fez isso de propósito, né? Queria engravidar de um político famoso, ter um bebê e ter a vida feita. Quase me deixei enganar por essa cara inocente que você tem. — Draco me empurrou no chão com tudo.

— Porque diabos eu faria isso? Uma criança agora apenas atrapalharia minha carreira. E definitivamente, eu não preciso de você para me bancar. Nunca precisei. Sabe muito bem disso. Quando precisei de algo seu? — Gritei me sentindo julgada. Como ele pode pensar algo assim depois de tanto tempo juntos?

— Não seja ridícula. Esse filho nem deve ser meu. Você deve dormir com aquele verme jornalista ou sei lá quem. Não importa. Eu não quero essa criança. — Draco disse. Me levantei na força do ódio, bati com toda força que eu tinha na cara dele. Minha mão tremia.

— O que você acha que está fazendo? Que tipo de pessoa acha que eu sou? Primeiro fala que sou uma oportunista, agora que infiel? Depois de todos esses anos juntos, é isso que pensa de mim? Você querendo ou não essa criança é sua. — Sentia meu corpo todo tremendo. As lágrimas caiam sem eu nem notar. Como alguém que mora debaixo do mesmo teto que eu, depois de tantos anos, pensa em mim dessa forma?

— Você está na Disney? Acha mesmo que vou assumir essa criança? Assumir nosso relacionamento em público? Está sonhando, Laura. Eu sou um político de respeito. Não posso ser ligado a uma atriz qualquer. Você é exatamente o que não preciso na minha imagem agora. Se essa criança for realmente minha, faça o aborto. Se você recusar, quero que saia desse apartamento. Se quiser, até pago o aborto, você pode fazer isso fora do país. Ninguém vai nem notar. Se quiser manter o que temos, tire isso. — Draco disse antes de colocar os sapatos, ouvi apenas a porta batendo com força.

Escorreguei na parede sem forças, sentei no chão, agarrei meus joelhos e chorei como se o mundo tivesse acabando. Draco não era nada do que eu pensei. Jurava que ele era o homem da minha vida, um príncipe. Tudo fazia parte apenas na minha ilusão? Foi ideia dele namorar, morar juntos. O que passa na cabeça desse homem?

Estava chorando ainda, mergulhada nos meus pensamentos quando ouvi alguém chamando na porta. Senti um alívio. Draco deve ter repensado e percebido o seu erro, certo? Será que agiu assim no susto? Sim, ele não era esse tipo de pessoa. Ele me amava. Não iria jogar tantos anos pela janela.

Spoiler! Eu estava completamente enganada. Draco era o grande vilão da minha vida, mas o herói que me salvaria e ajudaria com a me erguer, a minha vingança, estava mais perto do que eu imaginaria.

Você é maior que isso

Levantei animada e esperançosa. Não queria que todo aquele tempo que passamos juntos acabasse ali. Se aquilo acontecesse, Draco teria sido a maior decepção da minha vida. Meu mundo caiu assim que abri a porta. Me joguei no chão chorando. Estava mesmo tudo acabado? O que eu vou fazer?

— Olha, já fiz muitas mulheres chorarem, mas não acho que seja o motivo aqui. É a tristeza de me ver ou de não ser quem você queria que fosse? — Raul era meu melhor amigo. Conheci ele assim que iniciei minha carreira como atriz. Sempre esteve presente na minha vida.

Não conseguia parar de chorar. Eu soluçava desesperadamente, o nó na minha garganta era enorme. Raul não perguntou mais nada. Apenas me pegou nos braços, me colocou no sofá com a cabeça em seu colo. Chorei até dormir com Raul acariciando minha cabeça sem dizer uma palavra. Ele ficou apenas ali.

Acordei no outro dia, ele não estava mais. Deve ter ido trabalhar. Na mesa havia um café da manhã com tudo que eu gostava e um bilhete deixado por ele

" Você é uma mulher foda. É muito maior do que pensa. Força, Laura. Você não está sozinha.

Do cara mais lindo e gostoso do mundo, Raul.

Ps: Depois te passo o valor do seu café da manhã. Tu só gosta de coisa cara. "

— Definitivamente, você é o melhor. Deve ter passado horas comprando cada coisa que gosto. Já que são de lojas diferentes. Você está sempre me salvando. Ficou do meu lado a noite inteira e não perguntou nada. — Pensei em voz alta. Raul é assim. Sempre me estendeu a mão quando eu estou no chão.

Raul estava certo. Eu não posso baixar a cabeça. Vou me arrumar, maquiar e trabalhar. Depois penso como farei com todo esse caos que minha vida está. Talvez consiga conversar com Dracco quando voltar do trabalho. Antes de sair, mandei uma mensagem para Raul.

Laura: Obrigada. Você é mesmo o melhor. Que tal um cinema mais tarde? Preciso relaxar um pouco.

Raul: Só se for no cinema que paga meia hoje. Sou rico como você não. E você estará bem mesma? Posso ir para sua casa com um pote de sorvete e te assistir chorar vendo um filme dramático. É até mais barato.

Laura: Não, eu não vou parar a minha vida. Eu sou maior do que isso, certo?

Raul: Não sei exatamente o que é isso, mas é sim.

Laura: Não se preocupe, já chorei tudo que tinha para chorar. Mais tarde eu tento resolver. Todo mundo mais calmo, será mais fácil conversar. E se der tudo errado, você como meu herói, deve aparecer com um pote de sorvete.

Raul: Pensa assim. Se tu chorar, vai ficar desempregada. Aí tudo vai chegar em dobro. Acho melhor guardar suas lágrimas para um momento mais propício.

Laura: Você é terrível, mas está certo. Vou deixar para chorar em casa com um pote de sorvete, ouvindo sorriso maroto e cantando até enlouquecer os vizinhos.

Raul: Você nasceu para ser atriz mesmo quanto drama. Tenho que sair para uma entrevista. Me liga se precisar de alguma coisa.

Laura: Bom trabalho.

Raul era um jornalista famoso, ele costuma fazer a parte política regional e nacional para um dos maiores veículos de comunicação da cidade.. O que fez com que Draco o odiasse ainda mais. Sempre falando que Raul era um aproveitador e mentiroso, mas sempre achei que era ciúmes da nossa amizade. Raul deixava claro que não gostava de Draco, que ele não era quem eu pensava, mas não iria se meter nos meus b.o.

Finalmente cheguei ao set de filmagens, o Uber parecia vir em câmera lenta. Logo que entrei, pude ver que Bruna, minha empresária, de longe, ela estava uma pilha de nervos quando se aproximou de mim. Eu estava atrasada. A gravações já haviam começado.

— Você está atrasada. Vamos direto para o camarim. Mudaram a ordem das gravações por seu atraso. — Bruna disse me puxando para o camarim.

— Sim, senhora. — falei rindo.

Bruna era aquele tipo de pessoa super pilhada com tudo, organizada, responsável. Uma assistente perfeita para o desastre de pessoa que eu sou. Basicamente, ela organiza minha vida, eu bagunço e Raul resolve os meus b.o

— Você chorou a noite toda? Seus olhos estão vermelhos. Aconteceu alguma coisa? — Bruna perguntou realmente preocupada enquanto eu trocava de roupa. Aliás, Bruna só armazena na mente dela aquilo que acha de uma importância enorme. Ou seja, não lembra de ter me dado um exame de gravidez.

— Estou grávida. — Falei com a voz bem baixa. Não queria que ninguém ouvisse. Se aquilo vazasse seria meu fim.

— O quê????? — Bruna gritou. Um mar de pessoas entrou no camarim. — Desculpa. Foi um susto. Um dos botões da roupa dela soltou. Vou ajeitar agora. Podem chamar as maquiadoras para mim.

Benção ou Maldição

Todos saíram comentando sobre a gritaria. Já não gostavam de Bruna, achavam ela antipática e excêntrica, para não dizer exagerada. Ela não era nada disso, apenas era focada no trabalho e não gostava de fingir simpatia com pessoas que não conhecia ou tinha intimidade. Mesmo assim, tenho toda certeza que a conversa do almoço será sobre ela novamente.

— Como assim você está grávida?! Você não pode ficar grávida. Você está fazendo uma novela. Tenho certeza que te dei todos os dias seu anticoncepcional na hora certa. Tenho um alarme para isso. Sabe que no seu contrato deixa claro que não pode fazer mudanças no corpo, isso quer dizer de uma forma gentil que você não pode engravidar. Diz que você está brincado com minha cara — Bruna sussurrou nervosa com a situação. Entendo ela. Minha carreira está em jogo e o emprego dela também.

— Fiz o teste que você me deu e o resultado foi positivo. Estou com dois meses de gravidez. Se minha barriga não crescer tanto, devo acabar a novela antes que apareça. Eu espero. Apenas vamos guardar segredo por um tempo. É a melhor escolha para essa situação inesperada. Não sei como, mas o remédio falhou em algum momento. — Não tinha parado para pensar nos detalhes sobre essa gravidez, mas definitivamente, minha personagem não iria engravidar. Estava absurdamente fora do roteiro. Isso seria caótico. E criaria um problema para minha imagem. Atriz, abandonada, mãe solo? Ou não, talvez Draco volte para casa.

— Meu Deus! Isso é uma loucura. Posso tentar encontrar uma clínica, para você abortar. — Bruna sugeriu olhando para o celular. Eu coloquei a mão impedindo que ela continuasse.

— Não. Acredito fielmente que tudo tem uma razão para acontecer. E esse bebê é uma benção, como tudo que já aconteceu na minha vida. Por mais que eu não entendesse no momento. — Não pensei em momento algum em aborto. Minha mãe me criou na igreja, algo que aprendi é que a vida é preciosa.

— Você é completamente maluca. E o pai, o que disse de tudo isso? — Bruna odiava Draco. Na verdade, todas minhas amigas e o Raul se sentiam dessa forma.

— Não quero falar sobre isso. Se eu começar a chorar agora, não vou parar mais e isso vai criar ainda mais fofoca. — Expliquei. Bruna concordou. As maquiadoras chegaram logo e terminaram minha caracterização. A parte boa é que elas conseguiram esconder totalmente meus olhos vermelhos.

As gravações aconteceram rapidamente, Bruna disse para o diretor que eu havia comido algo de errado no dia anterior e estava com uma infecção intestinal. Já estavam comentando isso nos sites de fofoca, que eu estava me sentindo mal no set, já rendendo especulações. Bruna então decidiu acabar a fofoca dessa forma. Explicou ao diretor que precisava ir ao médico. Então adiantaram todas as minhas cenas. Eu agradeci, estava com dificuldade de focar no trabalho, minha mente estava distante.

Para ser sincera, marquei o cinema com Raul porque não queria voltar para casa. Como sempre, escolhemos um cinema bem escondido, sempre que nos pegavam juntos era motivo de fofoca. E tudo que não precisava era ter que lidar com uma crise naquele momento.

— Você está horrível. Parece que foi atropelada. — Raul disse ao me aproximar dele, fiz careta, ele me abraçou batendo nas minhas costas.

— Não chuta cachorro morto, eu tô tentando me matar com a cabeça erguida. Que filme você comprou? — Perguntei.

— Você é a rica da história, esqueceu? — Raul perguntou.

— Eu sou rica, mas mesmo assim você sempre compra as coisas para mim. Agora deixe de enrolar, o que tu comprou? — Falei ajeitando meu cabelo, prendendo em um rabo de cavalo.

— Realmente, ando te mimando demais. Comprei o único drama que tinha. Achei que era o que você ia gostar. — Raul me entregou os ingressos.

Gosta do Raul por isso, mesmo que eu fosse uma atriz famosa, com a situação financeira melhor do que a dele, ainda assim, ele me trata da mesma forma que no dia que nós conhecemos. Com ele me sinto normal.

Basicamente, o filme era um drama daqueles, a mulher era traída, abandonada pelo marido que deixou ela pela amante. A mulher sofre o filme inteiro, para no final, encontrar o amor mais perto do que imaginava.

— Oh, mulher. Não sei porque você gosta tanto desses filmes, se acaba de chorar sempre que assiste. Não sei porque ainda faço o que tu queres. Tá bom. Para de chorar. — Raul disse me abraçando. Tive uma crise de riso.

— Você gosta de me mimar. Sou uma fofa, o que posso fazer? Obrigada! — Agradeci dando um beijo no rosto dele. Ele realmente me salvou nas últimas 24h.

O que eu não esperava, havia jornalistas na espreita, só notei com a luz do flash na minha cara. Antes que eu pudesse falar algo, Raul colocou o casaco na minha cabeça, cobrindo meu rosto e me puxou em direção ao estacionamento, mas infelizmente, já era tarde demais.

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