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Sol A Sol

Prólogo

No turbulento ano de 1999, na serena Barra da Tijuca, as paredes de uma pequena casa guardavam segredos tão profundos quanto os mistérios que ecoavam na tela da televisão. Enquanto a novela "Força de um Desejo" iluminava a sala, Joana, uma jovem deslumbrada se via refletida em um vestido de noiva, seu coração pulsando com a promessa do amor eterno. Enquanto sua mãe, Teresa, segurava em mãos trêmulas um contrato que poderia desvendar os alicerces de suas vidas. Entre o brilho hipnotizante da televisão e a tensão palpável que pairava no ar, a decisão de Teresa se tornava uma encruzilhada entre o dever e o desejo, entre a segurança e a incerteza. Enquanto Joana experimentava o vestido de noiva em frente ao espelho e com os olhos brilhando ao olhar o tecido branco através do reflexo.

— Você parece uma princesa, Joana —, comentou Teresa, sua mãe, com um sorriso nostálgico, observando-a atentamente. — Mas lembre-se, um vestido bonito não é tudo. É o que está dentro da pessoa que importa.

— Eu sei, mãe —, respondeu Joana, suspirou, ajustando a saia do vestido com um gesto nervoso, seus olhos encontrando os de Teresa no reflexo. — Mas às vezes parece que o mundo lá fora está me puxando em tantas direções diferentes. Como vou saber qual caminho seguir?

— É por isso que tenho algo para você, Joana —, disse Teresa, que se aproximou, segurando os papéis com um brilho de esperança nos olhos, estendendo os papéis na direção da filha. — Olhe, são os planos para o futuro. Nos anos 2000, tenho certeza de que coisas maravilhosas estão reservadas para nós.

— O que é isso, mãe? — Joana perguntou, com os papéis nas mãos, o coração batendo mais rápido de excitação e expectativa do que estava por vir, examinando os documentos com curiosidade.

— É uma oportunidade, Joana —, explicou Teresa, que sorriu, um brilho de orgulho em seu olhar. — Um novo começo, um caminho para o sucesso e a felicidade que tanto desejamos. Com isso, podemos construir o futuro dos nossos sonhos juntas.

— Eu estarei ao seu lado, mãe —, disse Joana, segurou a mão de sua mãe com ternura, com determinação. — Seja qual for o caminho que escolhermos, estarei aqui para apoiá-la.

— E quanto a Tomás? — Teresa perguntou, com um sorriso, sentindo-se emocionada pela demonstração de amor e apoio de sua filha, referindo-se ao noivo de Joana. — Ele vai entender?

— Tomás está se formando em breve —, explicou Joana sorriso, assentiu, um brilho nos olhos ao mencionar o nome de seu amado. — Ele está ansioso para começar nossa vida juntos e está disposto a ajudar no que for preciso. Podemos enfrentar qualquer desafio juntos, mãe.

Mãe e filha compartilhavam esse momento de união e determinação, a televisão continuava a transmitir as melodias dramáticas da novela, enquanto o destino aguardava pacientemente, pronto para revelar os desafios e triunfos que aguardavam Joana, Teresa e Tomás em sua jornada adiante.

A atmosfera na festa de despedida de solteiro de Tomás estava elétrica, com risadas ecoando pelo ar e copos brindando ao futuro do noivo. Tomás, cercado por amigos animados, sentia uma mistura de empolgação e nervosismo pela próxima etapa de sua vida. Enquanto o relógio se aproximava da virada dos anos 2000, uma figura familiar adentrou a sala. Era Vitória, a melhor amiga de Joana, a noiva. Seu sorriso radiante contrastava com a expressão de surpresa de Tomás.

— Vitória! O que você está fazendo aqui? — Tomás perguntou, perplexo.

— Eu não poderia perder a chance de dar uma espiadinha na festa do século, não é mesmo? Além disso, eu trouxe uma surpresa especial para você, Tomás — diz Vitória, sorrindo, seus olhos brilhando com uma mistura de mistério e empolgação. Em seguida pegou algo de trás das costas e estendeu para Tomás. Era uma carta, com o selo de Joana no envelope. — Joana me pediu para entregar isso pessoalmente a você —, Vitória explicou, com um brilho travesso nos olhos. — Ela disse que é para abrir no momento certo.

Tomás pegou a carta com mãos trêmulas, sentindo o peso do momento. O barulho da festa ao seu redor parecia desvanecer, substituído pela batida acelerada do seu coração. Ele sentiu a ansiedade pulsar dentro de si enquanto segurava a carta em suas mãos. Mas antes que pudesse desvendar seu conteúdo, Vitória interveio, sua mão delicada interrompendo o movimento de Tomás.

— Deixe isso de lado, Tomás —, ela disse com um sorriso travesso nos lábios. — Hoje é o seu dia, vamos celebrar sua despedida de solteiro como nunca!

Tomás hesitou por um momento, seu olhar alternando entre a carta e o rosto radiante de Vitória. E então ele depositou a carta com cuidado sobre a mesa de centro, com um sorriso aliviado, Tomás se juntou aos seus amigos, prontos para uma noite de diversão e lembranças. Enquanto ele se entregava ao presente, Vitória aproveitou o momento de distração para agir. Com um movimento rápido e determinado, ela pegou a carta da mesa e se afastou sorrateiramente em direção a uma lixeira próxima e rasgou a carta em mil pedaços, sem hesitação, ela jogou os pedaços na lixeira. Com a missão cumprida, ela voltou para o centro da festa, seu sorriso radiante escondendo o segredo que acabou de destruir.

Horas depois. Vitória vislumbrou Tomás, já envolto pelo efeito do álcool, ela se aproximou dele, sentindo a pulsação da música invadir seus sentidos. Sem hesitação, ela o conduziu para a pista de dança, onde seus corpos começaram a mover-se em sincronia. Com um movimento ousado, ela capturou os lábios de Tomás em um beijo roubado. Tomás correspondeu com ardor, entregando-se ao momento como se não houvesse amanhã. Os dois se entregavam ao calor daquele momento, o mundo ao seu redor desapareceu, deixando apenas a promessa de um momento intenso.

...(...)...

No dia seguinte, Teresa colocava sua assinatura nos papéis que delineavam seu destino, um visitante inesperado adentrou a sala, seus olhos brilhavam com a certeza do inevitável, sua presença preenchendo o ambiente com uma eletricidade palpável.

— Ah, vejo que está prestes a dar um grande passo, Teresa —, disse ele, sua voz suave ecoando como um sussurro de destinos entrelaçados.

— Sim, é um momento importante para mim. Estou pronta para assumir esse desafio.

O homem assentiu com a sabedoria de quem já viu os ecos do futuro se desdobrarem diante de seus olhos, colocando os papéis sobre a mesa com reverência antes de estender a mão para cumprimentá-la.

— Eu não tenho dúvidas de que você está pronta. Seu trabalho duro e sua determinação falam por si só.

— Obrigada! Significa muito para mim ouvir isso —, murmurou Teresa, apertou a mão dele com firmeza, sentindo uma corrente de energia vibrante passar por ela, alimentando sua confiança recém-descoberta, os olhos fixos nos dele como se estivessem tentando decifrar o enigma de seu próprio destino.

O homem sorri, um sorriso enigmático que sugere um conhecimento além do alcance humano, recuando para permitir que Teresa completasse as assinaturas que selariam seu destino.

— Lembre-se, Teresa, o sucesso não vem sem desafios. Mas com sua determinação e habilidade, estou confiante de que você alcançará grandes coisas.

Teresa assentiu e agradeceu ao homem antes que ele fosse embora. Em seguida, Teresa se dirigia ao quarto de sua filha, Joana. A luz do sol filtrava pelas cortinas, pintando o quarto com tons dourados. Ao entrar, encontrou Joana sentada em sua escrivaninha, absorta em seus próprios pensamentos.

— Joana, querida —, chamou Teresa, sua voz carregada de emoção contida.

— O que foi, mãe? — perguntou Joana, virou-se, seus olhos brilhando com curiosidade e uma faísca de expectativa.

— O futuro já começou para nós, minha querida — Teresa se aproximou e sentou-se ao lado dela, envolvendo-a em um abraço caloroso. — O futuro para nós é um passo em frente para um novo começo.

— Isso é incrível, mãe! — Joana começou, um sorriso radiante se formando em seus lábios enquanto ela retribuía o abraço de sua mãe. — Eu mal posso esperar para ver o que está por vir.

— Lembre-se, querida, o futuro é algo que nós construímos com nossas próprias mãos, com determinação e coragem

— Eu sei, mãe. — Joana assentiu, seus olhos refletindo uma determinação igual à de sua mãe. — E estou pronta para enfrentar qualquer desafio que vier em nosso caminho.

...(...)...

Alguns dias depois... Teresa encontrou Joana em seu quarto, vestida com seu deslumbrante vestido de noiva, admirando-se no espelho com uma mistura de nervosismo e êxtase. O tecido fluía ao seu redor como um véu de sonhos tecido em seda. Com o coração transbordando de emoção, Teresa se aproximou lentamente, observando sua filha com uma mistura de orgulho e nostalgia.

— Oh minha filha, você está muito linda!

— Obrigada, mãe!

— Está pronta para o grande dia, minha querida?

— Sim, mãe. — Joana virou-se para encarar sua mãe, um brilho de emoção nos olhos. Seu sorriso irradiava uma mistura de felicidade e antecipação. — Estou pronta, mãe... mal posso esperar para começar esta nova jornada ao lado do amor da minha vida.

— Você está deslumbrante, Joana. — Teresa envolveu Joana em um abraço reconfortante, e continuou. — Este é o começo de um capítulo maravilhoso em sua vida. Aproveite cada momento.

— Eu vou sim, mãe... e obrigada por estar sempre ao meu lado, me apoiando em todos os momentos importantes.

Com um último olhar de carinho, mãe e filha se encararam, compartilhando um momento de conexão que transcendeu as palavras.

Enquanto isso. Na pequena igreja, Tomás aguardava ansiosamente a chegada de sua futura esposa, Joana, ao pé do altar. De repente, seu mundo parou quando Vitória, surgiu diante dele, seus olhos se arregalaram em choque quando ela parou em sua frente, segurando algo em suas mãos trêmulas.

— Tomás, precisamos conversar —, Vitória começou, sua voz carregada de emoção contida. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Vitória revelou a notícia que abalou seu mundo em sua essência. — Estou grávida, Tomás... grávida de você! Fiz um teste de gravidez e deu positivo.

— Isso... é... é... isso é verdade? — perguntou Tomás, ao olhar para o teste de gravidez em estado de choque, incapaz de acreditar no que estava vendo. — Isso não pode estar acontecendo, você não pode estar grávida de mim, foi apenas uma noite

— Sim, Tomás. — Vitória assentiu, lágrimas brilhando em seus olhos. — Eu não sabia como te contar, mas eu precisava que você soubesse. Pra mim foi mais que uma noite, foi um momento mágico e lindo. Me perdi com você e você foi meu primeiro homem.

— Mas como... como isso aconteceu? — o choque se espalhou por todo o corpo de Tomás, seu coração acelerou, uma enxurrada de emoções conflitantes inundando. — Eu não tô acreditando!

— Foi durante a sua despedida de solteiro antes de você se casar com a Joana... —, Vitória respirou fundo, tentando controlar suas próprias emoções enquanto explicava. — Eu não queria te contar antes, mas não posso mais esconder a verdade.

Tomás sentiu um turbilhão de sentimentos dentro de si, sua mente girando com a enormidade das consequências dessa revelação. A cerimônia continuava a se desenrolar ao seu redor.

Enquanto isso, do lado de fora, Joana desce do carro, os primeiros pingos de chuva começam a cair. Seu vestido de noiva, antes imaculado e radiante, agora está sendo molhado pelas gotas de água da chuva. Com o coração apertado de expectativa, Joana avança em direção à entrada da igreja, seu olhar fixo na porta. Mas então, ela vê algo que a faz congelar no lugar, seus olhos se arregalam em choque e horror. Lá, saindo da igreja de mãos dadas, Tomás e Vitória. A chuva cai implacavelmente, envolvendo Joana, que se aproxima lentamente de Tomás e Vitória enquanto luta para processar o que está vendo.

— O quê?... o que está acontecendo? Porque vocês estão de mão dadas?

— Joana — começou Tomás, mas sua voz soava distante e impessoal. — Isso é o melhor para todos nós. Me desculpe, Joana. Eu não vou mais me casar com você.

— Mas... o que vocês estão fazendo?

— Estamos apaixonados, minha amiga... e agora vamos ficar juntos. Não foi culpa de ninguém que nos apaixonamos

— Como vocês puderam fazer isso comigo? Meu noivo… e minha melhor amiga? — o som dos trovões ecoando. As lágrimas misturadas à chuva no rosto de Joana. — Tomás! Meu amor, não... não me abandona, por favor, não.

A chuva caía forte, Tomás evitou olhar nos olhos dela, virou o rosto, puxou Vitória pela mão e começou a se afastar. Joana observava, sem fôlego, enquanto caminhavam juntos em direção de um carro. Em seguida, Joana joga o buquê no chão com força, fazendo-o cair em uma poça d’água. Joana passa a mão na barriga em desespero. Então, ela cai de joelhos, rasgando seu vestido de noiva com raiva. A agonia toma conta do rosto de Joana. Ela de joelhos em frente à igreja, o vestido rasgado encharcado e colado ao seu corpo. As lágrimas se misturavam à chuva, indistinguíveis no rosto já molhado.

Seus cabelos grudavam na testa e nas bochechas, e ela mal conseguia ver através do véu de água que caía de seus cílios. O som da porta do carro fechando ecoou como um sino de despedida, marcando o fim de tudo que Joana conhecia e amava. Enquanto o carro se afastava, Joana ficou ali, ainda de joelhos, sentindo o peso esmagador da traição e do abandono. A chuva continuou a cair, lavando as lágrimas e a dor. Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, Joana se levantou e começou a andar, deixando para trás o que restava de seu vestido rasgado e da vida que ela conhecia.

...{...}...

Horas depois... Joana estava no quarto, o vestido de noiva, agora um símbolo de promessas quebradas. Sua mente girava em torno da traição dupla. As lágrimas escorriam pelo seu rosto, misturando-se ao tecido branco que caía ao chão. Então, a porta se abriu silenciosamente. Um homem entrou, seus olhos refletindo a empatia e a determinação que contrastavam com a tristeza de Joana. Ele não hesitou; aproximou-se dela com passos firmes, mas suaves, como se não quisesse assustá-la.

— Joana — sua voz era baixa e suave, mas carregada de uma firmeza inabalável. — Sei que este é o momento mais difícil da sua vida. Sei o que aconteceu e entendo sua dor.

Joana olhou para ele, surpresa e desconfiada, ainda segurando um pedaço do vestido rasgado. Antes que pudesse dizer algo, ele continuou.

— Quero fazer uma proposta. Sei que parece estranho, mas quero que se case comigo. Venha morar comigo no interior de Cerro Corá. Lá, você terá um lugar seguro e tranquilo para recomeçar. Eu sei que parece insano. Mas acredite, estou aqui para te ajudar. Prometo que cuidarei de você e do seu filho.

Ao ouvir a palavra "filho", Joana instintivamente colocou a mão na barriga. Em seguida, ela olhou lentamente para ele e respondeu

— Aceito!...

O homem sorriu, um sorriso que continha a promessa de um novo começo. Depois, ele estendeu a mão, e Joana a pegou, sentindo um pequeno lampejo de esperança.

Capítulo 01: 21 anos depois...

...Vinte e Um anos depois......

No pequeno e tranquilo município de Cerro Corá, no interior do Rio Grande do Norte, onde o vento soprava suavemente entre as árvores e as ruas de paralelepípedos contavam histórias antigas, uma manhã de sábado trazia consigo a agitação típica do fim de semana. Na rua principal, conhecida como Rua das Flores, o movimento era discreto, mas a energia no ar indicava que algo diferente estava para acontecer. Na acolhedora cozinha da casa de Joana, os primeiros raios de sol espreitavam pelas janelas, anunciando o início de um dia especial. Sua filha Marina entrou na cozinha com um sorriso radiante, envolvendo sua mãe em um caloroso abraço. 

— Bom dia, mãe! Hoje é um grande dia para nós — saudou Marina, seu entusiasmo transbordando. 

Joana, ocupada coando café, sorriu para a filha e colocou a garrafa sobre a mesa antes de voltar o olhar para ela. 

— Eu sei que hoje é um dia de festa, mas ainda temos muitas coisas para fazer, e seu irmão ainda está dormindo — respondeu Joana, com um sorriso afetuoso. 

Sem hesitação, Marina se prontificou a chamar o irmão, mas, antes que pudesse sair da cozinha, Joana segurou seu braço suavemente. 

— Minha filha, já que hoje é o casamento do seu irmão, tire um tempo para conhecer alguns rapazes. Quero ver você feliz — sugeriu Joana, com uma expressão séria. 

— Eu já sou feliz... — disse Marina, sorrindo discretamente e desviando o olhar. 

— Ah, não precisa disfarçar, querida. Você nunca namorou? Nunca se interessou por ninguém? Nunca beijou? — questionou Joana, com um tom maternal. 

Marina, então, começou a aplaudir, seu sorriso amplo preenchendo a cozinha. 

— Mãe, no dia em que eu me apaixonar e eventualmente casar, esse dia chegará. Mas, até lá, não preciso de ninguém — declarou com convicção antes de beijar o rosto da mãe e sair da cozinha, deixando Joana reflexiva sobre as palavras da filha. 

O sol começava a esgueirar-se pelas cortinas do quarto de Miguel naquela tranquila manhã. Marina, sua irmã, irrompeu no quarto com uma mistura de energia e entusiasmo, puxando o lençol da cama com vigor. 

— Está na hora de acordar! Você está super atrasado! — gritou ela, interrompendo o sono de Miguel. 

Ainda sonolento, Miguel saltou da cama em um frenesi repentino, seus olhos varrendo o quarto em pânico. 

— Meu Deus do céu, perdi o meu casamento! E agora?! — exclamou, a voz carregada de desespero. 

Um riso caloroso escapou dos lábios de Marina enquanto ela se postava diante dele. 

— Calma, meu irmão — disse ela, sorrindo. — Ainda é muito cedo, há tempo de sobra. Eu só disse isso para você se levantar rápido. 

Agora mais desperto, Miguel não conseguiu conter um sorriso diante da brincadeira da irmã. 

— Hahaha, nossa, como você é engraçada — debochou, fingindo indignação. — Estou morrendo de rir... 

Marina retribuiu o sorriso, os olhos brilhando de alegria. 

— Bem, eu faço o que posso — disse ela. — Agora estou indo para a casa da minha futura cunhada. Vou ajudá-la a se arrumar. 

O sorriso de Miguel se alargou enquanto ele olhava para o teto, tomado por uma profunda gratidão. 

— Hoje é o meu dia — murmurou, um brilho de emoção nos olhos. — Vou me casar com a mulher que amo. 

Em um gesto de afeto, Marina e Miguel se abraçaram calorosamente. 

— De verdade, desejo tudo de bom e do melhor para sua nova vida! — disse Marina, os olhos refletindo sua sincera felicidade pelo irmão. 

— Muito obrigado, minha irmã — respondeu Miguel, o coração transbordando de gratidão. 

Enquanto Marina saía do quarto, Miguel pegou seu smoking com um sorriso radiante. Diante do espelho, contemplou sua imagem com uma sensação de expectativa e promessa. 

Rio de Janeiro: Imagine uma cidade vibrante onde montanhas verdejantes encontram praias de areia dourada. O sol brilha intensamente no céu azul, refletindo nas águas cristalinas do oceano. A cidade está sempre agitada com atividades, com carros passando pelas ruas movimentadas e pessoas passeando pelos calçadões. Montanhas famosas como o Pão de Açúcar e o Corcovado, com sua estátua do Cristo Redentor, dominam a paisagem, oferecendo vistas de tirar o fôlego. Escondida na parte sul do Rio de Janeiro entre as árvores altas de um bairro de luxo, fica a majestosa Mansão Linhares. 

A propriedade é cercada por altos portões de ferro forjado cobertos de hera que se abrem para uma calçada de pedra branca ladeada por jardins meticulosamente cuidados. Construída em estilo colonial, a mansão tem uma fachada imponente com colunas brancas e uma escadaria de mármore que leva à entrada principal. O interior é igualmente impressionante, com tetos altos adornados com lustres de cristal, móveis antigos de madeira escura e tapeçarias luxuosas. Vitória Linhares, inquieta, percorria a sala com o celular grudado ao ouvido. 

— Por que ele não atende esse celular?! — murmurava nervosamente. 

Nesse instante, Tomás desceu as escadas, o semblante sério denunciando sua preocupação. 

— Mais uma vez você está tentando ligar para o seu amado filho, e ele não atende... — disse ele, observando Vitória. 

— Só quero desejar feliz aniversário para ele, só isso — respondeu Vitória, nervosa. 

— Vitória, não precisa ficar assim. Você sabe muito bem que, todo ano, João Victor comemora o aniversário nos Estados Unidos — disse Tomás, tentando acalmá-la. 

— Eu não estou nervosa, estou no controle! Só quero ligar para ele e desejar feliz aniversário, como faço todos os anos — defendeu-se Vitória, determinada. 

— Pois, se ele atender, diga a Victor que crie juízo na cabeça. Ele já vai fazer 30 anos e ainda vive como se fosse um adolescente — comentou Tomás, em tom preocupado. 

— Victor pode ter a idade que for, mas continua sendo meu filhinho de sempre — disse Vitória. Em um acesso de raiva, apontou o dedo para o rosto de Tomás. 

— Só lembrando que Victor também é meu filho — rebateu Tomás, mantendo a seriedade. 

Vitória então se aproximou do marido, tentando amenizar a tensão entre eles. 

— Ai, amor, desculpa... Eu não queria falar desse jeito. Ele é o nosso único filho. 

— Sim! Mas João Victor não é mais criança nem adolescente... Agora ele é um homem — disse Tomás, finalmente cedendo a um sorriso. 

A lembrança do aniversário distante do filho ainda pairava sobre eles. Tomás se despediu, pronto para enfrentar o dia de trabalho na fábrica, e abraçou Vitória, deixando um beijo em seu rosto. Sozinha na sala, Vitória se deixou cair no sofá, o olhar perdido no porta-retrato de João Victor. Ali, encontrava conforto e lembranças de um tempo mais simples, quando o aniversário do filho era comemorado em família, sem distâncias nem obrigações da vida adulta. 

Horas depois... Vitória, uma mulher de beleza marcante, observava-se no espelho de seu luxuoso quarto na mansão da família, enquanto penteava seus longos cabelos. O silêncio foi quebrado pela entrada repentina de sua irmã, Stella. 

— Eu liguei para você e você não atendeu, então vim até aqui — anunciou Stella, encontrando o olhar de Vitória no espelho. 

Sem perder tempo, Vitória se sentou na cama, encarando Stella com uma mistura de desconfiança e impaciência. 

— Isso é só mais uma desculpa para você aparecer na minha mansão? Fala logo, o que você quer? 

— Nossa... só porque você tem mais dinheiro do que eu, precisa me tratar assim? Afinal, sou sua irmã e mereço respeito. 

— Tá bom! —, Vitória suspirou, tentando controlar a irritação. — Minha querida irmã. A que devo a honra da sua visita? 

A tensão no quarto aumentou quando Stella se aproximou e sentou-se na cama ao lado de Vitória. 

— Hoje falei com meu filho, Eloy... e ele me disse que o Victor vai comemorar o aniversário em uma boate. 

— Sempre a mesma coisa. Todo ano, Victor faz aniversário bem longe de mim. 

— Isso pode mudar... é só você contar a verdade para o João Victor. 

Vitória ficou em silêncio por um instante. De repente, levantou-se da cama, apontando o dedo para o rosto de Stella, sentindo a raiva crescer dentro dela. 

— Escuta aqui! Não se intrometa na minha vida. Da minha família cuido eu. 

— Sim, mas eu acho... — tentou dizer Stella, sem recuar. 

— Você não acha nada! — interrompeu Vitória, sua voz agora um grito de desafio. — Você tem o seu filho, e eu tenho o meu. 

O confronto entre as duas irmãs atingiu seu ápice quando Stella também se levantou da cama, enfrentando Vitória com firmeza. 

— Vitória, eu sou sua irmã e quero o seu bem... e o bem da sua família. Mas João Victor precisa saber a verdade. 

Em um raro momento de vulnerabilidade, Vitória se calou. Seu rosto expressava medo e confusão. Lentamente, ela se aproximou de Stella e a abraçou, reconhecendo a gravidade das palavras da irmã — e os segredos que ameaçavam separá-las. 

O sol do Rio de Janeiro pintava o flat de um casal: Pedro e Isaacs com tons dourados, enquanto Pedro se refugiava nas páginas de um livro, mergulhado em pensamentos. O silêncio era quebrado apenas pelo suave virar das páginas, até que Isaacs entrou na sala com um sorriso radiante, iluminando ainda mais o ambiente. 

— Pedro — começou Isaacs, sua voz transbordando alegria —, hoje à noite é o nosso aniversário de casamento. 

— É claro que sei — respondeu Pedro que ergueu os olhos do livro, seu rosto se suavizando em um sorriso sincero, com um tom brincalhão. — Já faz quatro anos que eu aturo você... 

— Então... — Isaacs riu e continuou animado. — Fiz uma reserva no melhor restaurante do Rio para nós dois jantarmos esta noite. 

Pedro levantou-se do sofá e envolveu Isaacs em um abraço caloroso, seus olhos brilhando com gratidão. 

— Você é incrível. O melhor companheiro do mundo. Te amo. 

— Eu também te amo — respondeu Isaacs, sua voz carregada de ternura. — Então se prepare, porque hoje à noite teremos um momento especial, só para nós dois. 

Ainda abraçados, Pedro e Isaacs compartilharam um instante de cumplicidade, deixando que a expectativa de uma noite inesquecível aquecesse seus corações. 

Enquanto isso, no tranquilo entardecer da Califórnia, nos chalés à beira-mar, Eloy, primo de João Victor, mergulhava no brilho azulado de seu notebook quando João Victor adentrou o quarto, irradiando um sorriso contagiante. 

— Você já pode me declarar o cara! — exclamou Victor, transbordando alegria. 

— Por que eu deveria fazer isso? — perguntou Eloy, confuso. 

— Simples, primo — respondeu Victor, radiante. — Consegui alugar uma das melhores boates dos EUA, só para nós dois e um mar de garotas! Sensacional! 

Eloy, impressionado, ergueu-se da cama para encarar Victor. 

— Uau... Você se superou desta vez. 

Mas, antes que pudessem continuar a conversa, Eloy pegou o celular de Victor e o entregou a ele, com uma expressão séria. 

— Sua mãe ligou várias vezes. Seria melhor você retornar as chamadas. 

— Hoje não. — Victor, indiferente, atirou o celular ao chão. — Não quero falar com ninguém. Hoje é meu aniversário, e eu só quero aproveitar ao máximo. Vamos nos preparar para a noite! 

Assim que Victor saiu, deixando Eloy sozinho no quarto, uma mistura de sentimentos o invadiu. Sentado na cama, cerrando os punhos, ele murmurou para si mesmo: 

— Sempre esbanjando dinheiro à toa, enquanto eu permaneço na sombra dele... 

Com um impulso de raiva contida, Eloy agarrou um travesseiro e desferiu golpes violentos nele, repetindo as palavras "Vivendo na sombra" incessantemente, enquanto a noite na Califórnia preparava o cenário para uma celebração repleta de desafios e descobertas. 

Logo após, Eloy estava lá, contemplando a paisagem pela janela da sala de estar do chalé. O clima ameno contrastava com a tensão que pairava no ar. Victor se aproximou silenciosamente por trás dele. 

— Está escurecendo rápido, cara. Você não vai se arrumar? — disse Victor, impaciente. 

Em seguida, Eloy virou-se lentamente, seu rosto carregando uma expressão séria. 

— Você tem visita... é a sua ex. 

Victor franziu a testa, perplexo. 

— Do que você está falando? 

Antes que Eloy pudesse responder, a atmosfera do chalé mudou abruptamente. A porta se abriu, e Analú irrompeu no ambiente. Seu sorriso era tão deslumbrante quanto o sol que se punha lá fora. 

— E aí, rapazes? Acabei de chegar — anunciou, com uma aura de confiança. 

Os olhares trocados entre Victor e Eloy capturavam a tensão no ar. Victor fixou os olhos em Analú, visivelmente surpreso. 

— O que você está fazendo aqui? — perguntou, sua voz carregando uma mistura de confusão e irritação. 

— Ué! —, Analú apenas riu levemente, sem se abalar. — Eu vim pessoalmente entregar seu presente de aniversário. 

— Então entregue e vá embora. — Victor disse, mantendo a expressão fechada. 

— Calma, querido... só você pode ver e abrir esse presente. — Analú aproximou-se e pegou suavemente a mão dele. — Quero que venha comigo agora mesmo. 

— Espere um minuto. — Eloy, desconfiado, interveio. — Você não pode se atrasar para o clube. 

— Tudo bem. — Victor hesitou por um instante, mas logo assentiu. — Vá na frente, eu te alcanço depois. 

Eloy permaneceu imóvel, observando pela janela enquanto Analú e Victor saíam de mãos dadas, desaparecendo no carro rumo a um destino incerto. 

O sol escaldante de Natal brilhava através das cortinas do quarto de Miguel, enquanto ele se arrumava para o grande dia. Diante do espelho, seu reflexo revelava uma mistura de emoções, e seu rosto tenso denunciava a ansiedade que sentia. De repente, a porta se abriu suavemente, e a figura reconfortante de Joana, sua mãe, entrou no quarto. Seus olhos brilharam ao ver o filho trajando um smoking impecável. 

— Você está radiante, meu querido. Está pronto para o seu grande dia? — disse ela, com um sorriso amoroso. 

Miguel retribuiu o sorriso, mas um lampejo de nervosismo cruzou seu olhar enquanto levava a mão ao estômago. 

— Obrigado, mãe. Mas confesso que estou um pouco nervoso. É normal sentir esse frio na barriga antes do casamento? 

— Claro que sim, querido. — Joana riu suavemente e pousou a mão no ombro do filho, num gesto de conforto. — Todo mundo fica nervoso no dia do casamento. Mas não se preocupe, você está pronto para esse momento. 

Mãe e filho se abraçaram, e, de repente, uma rajada de vento sacudiu as cortinas, trazendo consigo uma nuvem de areia. Joana olhou para a janela, surpresa, enquanto a areia invadia o quarto. 

— Meu Deus, que ventania é essa?! 

Miguel correu até a janela e a fechou com firmeza, tentando bloquear a entrada do vendaval. 

— É só uma tempestade de areia passageira, mãe. Não se preocupe, logo vai passar. 

Joana assentiu, ainda um pouco relutante, e os dois saíram do quarto rumo ao grande evento. No entanto, mal haviam cruzado a porta quando, num estrondo, a janela se abriu novamente, permitindo que o vento carregado de areia tomasse o quarto mais uma vez. Lá fora, a tempestade rugia, como se o destino tivesse outros planos para Miguel naquele dia especial. 

Enquanto, o sol brilhava sobre a pequena cidade de Cerro Corá, enquanto os sinos da igreja ecoavam pelo ar tranquilo. Júlia, radiante em seu vestido de noiva, desceu do carro em frente à antiga igreja, ansiosa para começar sua nova vida ao lado de seu amado. No entanto, uma cena desoladora a aguardava. 

— Mas o que está acontecendo? Por que ninguém está dentro da igreja? — exclamou Júlia, perplexa ao perceber a ausência dos convidados. 

— Depois que te ajudei a se arrumar, fui até a igreja e me disseram que está desmoronando... — revelou Marina, seu tom carregado de preocupação. 

— Não, isso não pode estar acontecendo! A igreja não pode cair no dia do meu casamento! — ela protestou, seu coração disparado. Uma mistura de surpresa e desespero tomou conta dela. Recusando-se a acreditar na terrível notícia. 

— Eu sinto muito, Júlia, mas é perigoso. Disseram que a estrutura está comprometida. Ninguém pode entrar — lamentou Marina, compartilhando a triste realidade. 

Mas Júlia se recusava a aceitar. Determinada a seguir com seus planos, ela balançou a cabeça, tentando afastar o medo. 

— Essa igreja está de pé há mais de 50 anos, e vai continuar firme! 

Antes que Marina pudesse impedi-la, Júlia correu em direção à entrada. Assim que passou pela porta, um estrondo ensurdecedor tomou conta do local. O edifício antigo desabou em questão de segundos. Gritos de horror ecoaram quando os destroços tomaram o lugar do que antes era um santuário de fé. Marina, imóvel por um instante, teve o coração tomado pelo pavor. 

— Meu Deus, cadê a Júlia?! A igreja desabou! — gritou ela, correndo em direção aos escombros. 

O que deveria ser um dia de celebração transformou-se em tragédia. Entre a poeira e o concreto retorcido, Marina observava o que restava da igreja. Com as mãos na cabeça, ela clamava por ajuda, seu desespero ressoando pelas ruas vazias de Cerro Corá. 

— Socorro! Alguém ajuda! Júlia está lá dentro! 

De repente, Miguel e Joana surgiram, alarmados pelos gritos. Miguel olhou ao redor, atordoado, enquanto sua mãe permanecia em silêncio, o rosto tomado pela angústia. 

— O que está acontecendo?! Cadê a Júlia? — perguntou Miguel, a voz trêmula. 

— Meu irmão... — Marina virou-se para ele, os olhos inundados de lágrimas. — Eu sinto muito, mas a igreja desabou com a Júlia dentro. 

O choque se abateu sobre Miguel como uma lâmina cortante. Ele cambaleou para trás, balançando a cabeça em negação. 

— Não... não... isso não pode ser verdade! Minha Júlia não pode ter morrido! — gritou ele, o desespero tomando conta dele. 

Sem pensar, Miguel correu para os escombros, cavando freneticamente com as próprias mãos enquanto gritava o nome da noiva. 

— Meu filho... sinto muito. — Joana, com um nó na garganta, aproximou-se e segurou o braço do filho. — Eu sei que é difícil, mas assim você não vai encontrá-la... 

Miguel desabou em lágrimas, segurando a mãe com força. 

— Eu amo tanto a Júlia... Ela não merecia morrer assim... 

— Eu sei... Mas há coisas no destino que não podemos mudar — sussurrou Joana, acariciando os cabelos do filho, enquanto lutava para conter suas próprias lágrimas. 

Marina aproximou-se e, sem dizer uma palavra, envolveu os dois em um abraço apertado. O lamento da tragédia pairava sobre eles como uma sombra implacável.

Capítulo 02

Ao entrarem na sala da casa, Joana, Marina e Miguel foram surpreendidos por uma visão inesperada: Tereza, a matriarca da família, estava sentada no sofá. Sua postura era serena, mas seu olhar carregava um misto de surpresa e preocupação. Joana, sentindo a mistura de alegria e estranhamento, quebrou o silêncio. 

— Mãe? O que a senhora está fazendo aqui tão de repente? 

— Bem —, Tereza suspirou, sua voz carregada pelo peso dos acontecimentos, e continuou. — Vim para o casamento do meu neto, mas as notícias da tragédia me alcançaram, e eu decidi esperar por vocês aqui... — Seu olhar pousou em Miguel, que parecia carregar o luto em cada fibra de seu ser. — Meu querido, eu sinto muito pelo que aconteceu com sua noiva... 

Os olhos de Tereza estavam marejados. Miguel, tomado pela dor e gratidão, aproximou-se e a envolveu em um abraço silencioso, mas repleto de significado. 

— Obrigado, vó... de um casamento a um enterro, sua presença significa tudo. 

Após o abraço, ele baixou a cabeça e saiu da sala. Marina, com um beijo carinhoso no rosto da avó, ofereceu suas palavras de acolhimento. 

— Seja bem-vinda, vó. Vou deixar você e mamãe conversarem. Vou ficar com Miguel, ele não deve ficar sozinho agora. 

Com um último abraço, Marina seguiu os passos do irmão, deixando Joana e Tereza a sós. Joana, sentindo a tensão no ar, aproximou-se e sentou-se ao lado da mãe. 

— Mãe... agora que estamos só nós duas, pode me contar o que realmente a trouxe aqui? 

Tereza segurou a mão da filha com firmeza, seus olhos refletindo uma seriedade incomum, e começou 

— Minha filha, chegou o momento em que preciso de você e dos meus netos mais do que nunca. 

— Mãe, você sabe que estamos aqui para o que der e vier... mas o que está querendo dizer? — perguntou Joana, intrigada. 

A voz de Tereza baixou, quase num sussurro, como se quisesse retardar o peso da revelação. 

— Quero que você e os meninos venham morar comigo no Rio de Janeiro. 

— Mas por quê? — Joana franziu a testa, confusa. — O que aconteceu? 

Tereza respirou fundo antes de responder, como se cada palavra fosse uma luta interna. 

— Eu... eu... eu estou... morrendo, eu vou morrer!... 

A dor era evidente em sua voz. Naquele instante, o mundo de Joana pareceu desabar. A sala, antes cheia de vida, mergulhou em um silêncio ensurdecedor. O impacto daquelas palavras ressoou em seu coração, como um golpe inesperado do destino. Tereza, com a voz baixa e um olhar ansioso, finalmente rompeu o silêncio: 

— Então... qual é a sua resposta? 

Joana suspirou profundamente, seus olhos refletindo a batalha interna que travava. 

— Mãe, passamos a tarde inteira falando sobre isso... Eu preciso conversar com os meninos primeiro, ver se eles aceitam. 

Tereza soltou uma risada leve, balançando a cabeça com um sorriso confiante. 

— Ah, minha filha... Você sabe que eles vão aceitar. Quem não quer morar no Rio de Janeiro? O problema não são eles. É você. 

— Não é tão simples, mãe. Depois de tantos anos... voltar pro Rio vai ser difícil pra mim. 

Os olhos de Tereza suavizaram, cheios de ternura, mas sua voz carregava uma verdade inegável. 

— Minha filha... eu estou morrendo. E tudo o que eu quero é passar os últimos dias da minha vida com vocês. 

O coração de Joana apertou. Lágrimas discretas ameaçavam surgir, mas ela respirou fundo, buscando força. Então, segurou as mãos da mãe com firmeza e sorriu, seu olhar carregado de amor e decisão. 

— Mãezinha... pode ficar tranquila. Eu vou falar com os meninos. Vamos morar com a senhora no Rio. 

Tereza levou as mãos ao rosto, emocionada. Um sorriso radiante iluminou seu semblante, e ela puxou Joana para um abraço apertado. 

Enquanto isso, no quarto de Miguel, o ar estava pesado, carregado de tristeza e desesperança. A única iluminação vinha da luz fraca do corredor, projetando sombras pelo chão, que estava coberto de areia. Marina, entrou no quarto e parou de repente, surpresa com a cena. 

— Mas o que é isso? De onde saiu tanta areia? — perguntou, franzindo a testa. 

Seus olhos vagaram pelo quarto até encontrarem Miguel, encolhido num canto escuro, o olhar perdido, como se estivesse preso em outro mundo. Marina respirou fundo e caminhou até ele, sentando-se à sua frente. 

— Ei, não fica assim... levanta. Se anima um pouco. 

Miguel não a olhou. Apenas murmurou, a voz embargada: 

— Eu não tenho motivos para ser feliz... 

A dor naquelas palavras fez Marina apertar os lábios, determinada a não deixá-lo se afundar ainda mais. 

— Não diga isso, Miguel. Você ainda vai ser muito feliz, você só não consegue enxergar agora. 

— Olha ao meu redor. — Miguel soltou um riso seco, amargo, e apontou para o chão. — Só tem areia. É aqui que vai ser o meu túmulo... 

Marina sentiu um aperto no peito, mas não cedeu à tristeza. Em vez disso, lembrou-se das palavras do pai. 

— Ei, você lembra do que o papai sempre dizia pra gente? 

Miguel levantou os olhos lentamente para ela. 

— Sim... 

— Então diz. Quero ouvir de você. 

Ele respirou fundo antes de repetir, com a voz ainda tomada pela dor: 

— A hora mais escura da vida... é a que vem antes do sol nascer. Com os raios do sol, a escuridão desaparece... 

— Exatamente. — Marina sorriu, assentindo. — E essa escuridão que você está sentindo agora... vai passar. 

O olhar de Miguel vacilou. Por um momento, ele pareceu resistir. Mas então, algo dentro dele cedeu. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ele abraçou Marina com força, deixando finalmente o sofrimento escapar. 

A noite quente do Rio de Janeiro pulsava ao redor do restaurante movimentado. Enquanto alguns clientes esperavam suas mesas, outros vivenciavam momentos inesperados. Um carro deslizou suavemente até parar ao lado de um sofisticado restaurante. A porta se abriu, e Pedro e Isaacs saíram, trocando olhares carregados de expectativa e um toque de ansiedade. 

— Que lugar chique... — murmurou Pedro, seu tom de voz misturando surpresa e apreensão. — Será que vamos conseguir pagar a conta? 

Isaacs riu de leve, um brilho divertido nos olhos. 

— Não se preocupe, amor. Venho economizando desde a semana passada... 

— Tem certeza disso? Isaacs 

— Absoluta. — Isaacs segurou sua mão com firmeza, entrelaçando os dedos. — Esta noite é especial para nós. 

Ao fundo, a melodia suave de Amor Vem Cá, de Armandinho, começou a tocar no rádio do carro, criando a trilha sonora perfeita para o momento. Eles trocaram um último olhar antes de seguir para o restaurante, prontos para viver uma noite inesquecível. Neste momento, ao lado do carro, uma jovem chamada Nicole emergiu da escuridão segurando um bebê nos braços. Seus olhos, carregados de tristeza e determinação, fitaram o céu por um instante antes de murmurar: 

— Está na hora... isso precisa acontecer. 

Com um suspiro profundo, abaixou o olhar para a criança e depositou um beijo suave em sua testa, como se buscasse forças naquele gesto. Em seguida, abriu a porta traseira do carro e acomodou o bebê com delicadeza, fechando-a logo depois. Encostada na lataria, deixou que as lágrimas caíssem silenciosas, observando seu filho através da janela, como se soubesse que aquele momento era uma despedida. Nicole, agora com os olhos marejados, deu um último olhar para o bebê e, com um gesto trêmulo, depositou um envelope no banco do passageiro antes de desaparecer na multidão, levando consigo um rastro de tristeza e mistério. 

Nesse instante, Pedro e Isaacs saíram do restaurante, envolvidos em uma discussão leve sobre a reserva perdida. Isaacs estava claramente irritado, enquanto Pedro tentava aliviar o clima. 

— Eu não acredito! Perdemos a reserva por causa de CINCO minutos! — resmungou Isaacs, cruzando os braços. 

— Amor, relaxa. — Pedro segurou um riso contido, tentando acalmá-lo. — Vamos pra casa, pedimos comida chinesa e assistimos a um filme. Vai ser bem melhor. 

— Tá bom... — Isaacs bufou, mas logo cedeu, esboçando um pequeno sorriso. — Acho que gostei da ideia. 

Eles entraram no carro, mas, assim que Pedro se acomodou, seu coração disparou ao olhar para o banco traseiro. 

— Meu Deus... tem uma criança no nosso carro! 

A surpresa tomou conta do ambiente. Atordoado, Pedro pegou o bebê nos braços, enquanto Isaacs saiu rapidamente do carro para olhar ao redor, vasculhando o estacionamento. O peso do mistério parecia aumentar a cada segundo. Isaacs voltou, ainda mais confuso, e disse 

— De onde essa criança saiu?! 

— E você acha que eu vou saber! — respondeu Pedro num tom sério, igualmente desnorteado. 

— Nossa, que explicação incrível! Muito útil! 

— Agora não é hora de brigar! — Pedro revirou os olhos, tentando conter a impaciência. — Precisamos sair daqui, agora. 

— O quê?! E levar o bebê com a gente?! 

Em seguida, Pedro respirou fundo, ajustando a criança nos braços. 

— A gente resolve isso depois. Primeiro, vamos pra casa. 

Depois de um momento de hesitação, Isaacs suspirou, ligou o carro e acelerou, deixando para trás o mistério da criança inesperada e dando início a uma noite que prometia mudar suas vidas para sempre. 

Enquanto Pedro e Isaacs chegavam ao flat. O cansaço pesava em seus corpos, mas nada se comparava ao turbilhão de emoções que os dominava. Sobre a cama, repousava o pequeno bebê que mudaria suas vidas para sempre. Pedro ajeitou a criança com cuidado, enquanto Isaacs cruzava os braços, inquieto. 

— O que a gente vai fazer? — murmurou Isaacs, com um olhar aflito. 

— Não sei... — Pedro suspirou, passando a mão pelos cabelos. — Mas agora, só nos resta cuidar dele. 

— Cuidar?! — Isaacs soltou uma risada nervosa. — Pedro, nós mal conseguimos cuidar de nós mesmos. Como vamos criar um bebê? A melhor opção é entregá-lo à polícia. 

Pedro virou-se para ele, surpreso com a firmeza da resposta. 

— Não podemos simplesmente largá-lo assim. 

— E por que não? — Isaacs arqueou a sobrancelha. 

Pedro respirou fundo, escolhendo as palavras com cautela. 

— E se um dia os pais quiserem ele de volta? Se estiver conosco, podemos garantir que estará bem. 

Isaacs o encarou por um longo momento, o peso da realidade caindo sobre eles. 

— Pedro... A sociedade já julga a gente por sermos casados e gays. Você sabe que, se ficarmos com essa criança, o preconceito vai ser ainda pior. 

Pedro abaixou os olhos por um instante, antes de encará-lo novamente com firmeza. 

— Eu sei. E sei que não vai ser fácil. Mas quero fazer o certo. E, acima de tudo, quero que você confie em mim. 

Isaacs suspirou profundamente. Seu olhar suavizou-se, e um pequeno sorriso surgiu em seus lábios. 

— Eu confio em você, meu amor. 

Pedro sorriu de volta, aliviado. Ele puxou Isaacs para um abraço apertado, e, juntos, voltaram seus olhares para o bebê adormecido. Aquela criança chegou sem aviso, sem explicação. Mas, no fundo, talvez ela tivesse vindo para ensinar a eles o verdadeiro significado do amor e da família. 

...(...)...

A noite era fresca e tranquila nas movimentadas ruas da Califórnia. Bianca e Erick caminhavam de mãos dadas, aproveitando o ar suave que trazia consigo o perfume das flores noturnas. A luz da lua filtrava-se pelas folhas das árvores, lançando sombras delicadas no asfalto. Bianca sorria enquanto acariciava a barriga, sentindo o pequeno ser que crescia dentro dela se mexer. 

— Amor, senti nosso bebê de novo... — murmurou ela, com os olhos brilhando de felicidade. 

Erick parou, um sorriso radiante iluminando seu rosto. Ele pousou a mão sobre a barriga dela e sentiu o leve movimento sob sua palma. 

— Nossa, ela está tão ativa esta noite... Mal posso esperar para segurá-la nos meus braços. 

— Ainda temos mais um tempinho, meu amor. — Bianca acariciou o rosto dele com ternura. — Hoje completamos oito meses com a nossa pequena... 

Antes que Erick pudesse responder, o som insistente do celular rompeu a tranquilidade do momento. Ele suspirou, tirou o aparelho do bolso e atendeu a ligação. Bianca, sorrindo, soltou delicadamente sua mão e deu um passo à frente para atravessar a rua. 

Foi quando tudo aconteceu. 

Um carro surgiu do nada, em alta velocidade. Os faróis ofuscaram a visão de Bianca por um segundo, e então veio o impacto brutal. O corpo dela foi lançado no ar antes de atingir o asfalto com força. O telefone escorregou dos dedos de Erick. O tempo pareceu desacelerar enquanto o som do motor sumia na distância, sem que o motorista sequer diminuísse a velocidade. 

— NÃO! BIANCA! — Erick gritou, correndo até ela. 

Ele caiu de joelhos ao lado do corpo inerte da esposa, as mãos trêmulas procurando desesperadamente um sinal de vida. 

— Amor, por favor, fala comigo... Meu Deus, não... 

O coração de Erick batia freneticamente, e as lágrimas começaram a escorrer sem controle. O medo apertou sua garganta, enquanto ele alternava o olhar entre Bianca e o vazio da rua, onde o carro desaparecera na escuridão. O silêncio foi quebrado pelo som das sirenes ao longe. Um som que trazia uma mistura de esperança e desespero. Erick ergueu os olhos para o céu estrelado, sua mente implorando por um milagre. 

Horas depois... o chalé alugado, a música da boate ainda ecoava ao longe, mas dentro da sala, João Victor estava sozinho, sentado no sofá, com as mãos entrelaçadas e o olhar perdido. A expressão séria denunciava sua perturbação. Eloy entrou apressado, franzindo a testa ao ver o amigo naquele estado. 

— Victor, onde você estava? Te procurei na boate inteira! Cara, é o seu aniversário, você devia estar lá curtindo. O que tá pegando? 

Antes que Victor pudesse responder, Analú entrou na sala com os olhos arregalados e a respiração acelerada. 

— Ele atropelou uma mulher... — soltou de uma vez, a voz trêmula. 

Eloy virou-se para ela, o sangue gelando nas veias. 

— O quê? Como assim? 

— Foi no caminho pra boate. A mulher apareceu do nada... e ele não parou. — Analú engoliu seco, desviando o olhar. 

Victor levantou-se num salto, o rosto tomado pelo desespero. 

— Eu não queria machucar ninguém! Pelo amor de Deus, me ajuda! O que eu faço?! 

— Agora? — Analú suspirou, cruzando os braços. — Agora não tem mais nada que você possa fazer... 

Victor passou as mãos pelos cabelos, andando de um lado para o outro. 

— Estou ferrado... Muito ferrado... 

Eloy estreitou os olhos, pensando rápido. Então, com a voz firme, declarou: 

— Não se você sair daqui agora. Você vai voltar pro Brasil. Hoje. 

— Como assim? — João Victor parou abruptamente. — E o que eu digo pros meus pais? 

— Inventa qualquer coisa. Diz que passou mal, que se cansou da viagem, qualquer desculpa. Mas você pega o primeiro voo e some daqui. 

Victor assentiu, sem ter outra escolha. Correu para o quarto para arrumar as malas. Enquanto isso, Eloy e Analú permaneceram na sala. Ele virou-se para ela, seu olhar carregado de intenção. 

— Precisamos dar um jeito no carro. 

Analú arregalou os olhos. 

— O quê?! Por que eu?! 

Em seguida, Eloy cruzou os braços, um sorriso discreto surgindo no canto dos lábios. 

— Porque agora você é cúmplice. 

O silêncio pairou entre os dois. Analú hesitou por um segundo, mas, enfim, estendeu a chave do carro para Eloy. Ele pegou a chave, virou-se e esboçou um sorriso contido. 

...(...)...

No dia seguinte, o amanhecer tingia o céu do Rio de Janeiro com tons dourados, e os primeiros raios de sol se infiltravam pelas cortinas da casa de Nicole. Sentada no sofá, ela tamborilava os dedos sobre a perna, a ansiedade formando um nó em sua garganta. Passos firmes ecoaram no corredor. Nicole levantou os olhos no exato momento em que Vicente entrou na sala. Seu olhar carregava um misto de impaciência e fúria contida. 

— Por que você não estava no portão do presídio me esperando? — Sua voz cortou o silêncio, carregada de expectativa e frustração. 

Nicole engoliu em seco antes de responder, tentando manter a calma. 

— Eu… eu estava ocupada, não pude ir. 

A justificativa só pareceu inflamar ainda mais a raiva de Vicente. 

— "Ocupada"? — Ele riu, sarcástico. — Eu passei anos naquela cela, contando os dias pra sair, e você não teve tempo pra me esperar?! 

Nicole respirou fundo, seus dedos se retorcendo no colo. Ela sabia que esse momento chegaria, mas não esperava que fosse tão difícil. 

— Vicente… eu... eu engravidei. Tive um filho seu. 

O silêncio que se seguiu foi sufocante. Vicente ficou paralisado por um instante, os olhos arregalados. Mas logo sua expressão se fechou em fúria. De repente, ele avançou. O tapa veio rápido e violento, estalando contra o rosto de Nicole. A dor queimou sua pele, mas o que a feriu mais foi a incredulidade no olhar dele. Antes que pudesse reagir, Vicente agarrou seus cabelos com força, puxando-a para perto. 

— Como você ficou grávida, sua vagabunda?! Eu estava preso! Para de mentir pra mim! — Ele gritou, sua voz reverberando pelas paredes. 

Nicole prendeu a respiração, os olhos marejados. Mas não disse nada. Não implorou. Não tentou se justificar. Apenas encarou Vicente, sua expressão endurecida. A sala, iluminada pela luz suave da manhã, tornou-se palco de um confronto brutal. Entre segredos e verdades amargas, Nicole sabia que nada mais seria como antes.

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