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Sol A Sol

Prólogo

No turbulento ano de 1999, na serena Barra da Tijuca, as paredes de uma pequena casa guardavam segredos tão profundos quanto os mistérios que ecoavam na tela da televisão. Enquanto a novela "Força de um Desejo" iluminava a sala, Joana, uma jovem deslumbrada se via refletida em um vestido de noiva, seu coração pulsando com a promessa do amor eterno. Enquanto sua mãe, Teresa, segurava em mãos trêmulas um contrato que poderia desvendar os alicerces de suas vidas. Entre o brilho hipnotizante da televisão e a tensão palpável que pairava no ar, a decisão de Teresa se tornava uma encruzilhada entre o dever e o desejo, entre a segurança e a incerteza. Enquanto Joana experimentava o vestido de noiva em frente ao espelho e com os olhos brilhando ao olhar o tecido branco através do reflexo.

— Você parece uma princesa, Joana —, comentou Teresa, sua mãe, com um sorriso nostálgico, observando-a atentamente. — Mas lembre-se, um vestido bonito não é tudo. É o que está dentro da pessoa que importa.

— Eu sei, mãe —, respondeu Joana, suspirou, ajustando a saia do vestido com um gesto nervoso, seus olhos encontrando os de Teresa no reflexo. — Mas às vezes parece que o mundo lá fora está me puxando em tantas direções diferentes. Como vou saber qual caminho seguir?

— É por isso que tenho algo para você, Joana —, disse Teresa, que se aproximou, segurando os papéis com um brilho de esperança nos olhos, estendendo os papéis na direção da filha. — Olhe, são os planos para o futuro. Nos anos 2000, tenho certeza de que coisas maravilhosas estão reservadas para nós.

— O que é isso, mãe? — Joana perguntou, com os papéis nas mãos, o coração batendo mais rápido de excitação e expectativa do que estava por vir, examinando os documentos com curiosidade.

— É uma oportunidade, Joana —, explicou Teresa, que sorriu, um brilho de orgulho em seu olhar. — Um novo começo, um caminho para o sucesso e a felicidade que tanto desejamos. Com isso, podemos construir o futuro dos nossos sonhos juntas.

— Eu estarei ao seu lado, mãe —, disse Joana, segurou a mão de sua mãe com ternura, com determinação. — Seja qual for o caminho que escolhermos, estarei aqui para apoiá-la.

— E quanto a Tomás? — Teresa perguntou, com um sorriso, sentindo-se emocionada pela demonstração de amor e apoio de sua filha, referindo-se ao noivo de Joana. — Ele vai entender?

— Tomás está se formando em breve —, explicou Joana sorriso, assentiu, um brilho nos olhos ao mencionar o nome de seu amado. — Ele está ansioso para começar nossa vida juntos e está disposto a ajudar no que for preciso. Podemos enfrentar qualquer desafio juntos, mãe.

Mãe e filha compartilhavam esse momento de união e determinação, a televisão continuava a transmitir as melodias dramáticas da novela, enquanto o destino aguardava pacientemente, pronto para revelar os desafios e triunfos que aguardavam Joana, Teresa e Tomás em sua jornada adiante.

...{...} ...

A atmosfera na festa de despedida de solteiro de Tomás estava elétrica, com risadas ecoando pelo ar e copos brindando ao futuro do noivo. Tomás, cercado por amigos animados, sentia uma mistura de empolgação e nervosismo pela próxima etapa de sua vida. Enquanto o relógio se aproximava da virada dos anos 2000, uma figura familiar adentrou a sala. Era Vitória, a melhor amiga da noiva. Seu sorriso radiante contrastava com a expressão de surpresa de Tomás.

— Vitória! O que você está fazendo aqui? — Tomás perguntou, perplexo.

— Eu não poderia perder a chance de dar uma espiadinha na festa do século, não é mesmo? Além disso, eu trouxe uma surpresa especial para você — diz Vitória, riu, seus olhos brilhando com uma mistura de mistério e empolgação.

Curiosidade misturada com antecipação tomou conta de Tomás e dos amigos ao redor. O que Vitória estaria tramando? Com um gesto teatral, Vitória pegou algo de trás das costas e estendeu para Tomás. Era uma carta, com o selo de Joana no envelope.

— Joana me pediu para entregar isso pessoalmente a você —, Vitória explicou, com um brilho travesso nos olhos. — Ela disse que é para abrir no momento certo.

Tomás pegou a carta com mãos trêmulas, sentindo o peso do momento. Enquanto ele rasgava o envelope, o barulho da festa ao seu redor parecia desvanecer, substituído pela batida acelerada do seu coração.

O conteúdo da carta de Joana permaneceu um mistério para todos, exceto para Vitória. A surpresa dela marcou o início de uma noite inesquecível, repleta de risos, memórias e a promessa de um novo capítulo emocionante na vida de Tomás e Joana.

Ele sentiu a ansiedade pulsar dentro de si enquanto segurava a carta em suas mãos. Era como se o destino estivesse contido naquele envelope. Mas antes que pudesse desvendar seu conteúdo, Vitória interveio, sua mão delicada interrompendo o movimento de Tomás.

— Deixe isso de lado, Tomás —, ela disse com um sorriso travesso nos lábios. — Hoje é o seu dia, vamos celebrar sua despedida de solteiro como nunca!

Tomás hesitou por um momento, seu olhar alternando entre a carta e o rosto radiante de Vitória.

Mas então, o contágio da alegria de Vitória o envolveu, e ele decidiu que ela estava certa. Ele depositou a carta com cuidado sobre a mesa de centro, como se estivesse temporariamente adiando um mistério intrigante.

Com um sorriso aliviado, Tomás se juntou aos seus amigos, prontos para uma noite de diversão e lembranças. A carta aguardaria pacientemente seu momento, enquanto Tomás se entregava ao presente, cercado pela energia contagiante de seus companheiros. O que o destino reservava para ele teria que esperar mais um pouco.

Ele estava imerso na alegria de sua despedida de solteiro, Vitória aproveitou o momento de distração para agir. Com um movimento rápido e determinado, ela pegou a carta da mesa e se afastou sorrateiramente em direção a uma lixeira próxima.

Com mãos ágeis, ela rasgou a carta em mil pedaços, cada pedaço representando um segredo que poderia ameaçar sua felicidade futura com Tomás. Sem hesitação, ela os deixou cair na lixeira, onde se misturaram com outros detritos, perdendo-se para sempre. O coração de Vitória estava acelerado, mas ela sabia que era a coisa certa a fazer. Nada poderia comprometer o amor que ela e Tomás compartilhavam.

Com a missão cumprida, ela voltou para junto dos amigos, seu sorriso radiante escondendo o segredo que acabara de destruir. O destino deles estava seguro em suas mãos.

Vitória vislumbrou Tomás, já envolto pelo efeito do álcool, com uma mistura de fascínio e desejo. Determinada, ela se aproximou dele, sentindo a pulsação da música invadir seus sentidos.

Sem hesitação, ela o conduziu para a pista de dança, onde seus corpos começaram a mover-se em sincronia. Enquanto dançavam, Vitória percebeu a oportunidade perfeita se desenrolando diante dela.

Com um movimento ousado, ela capturou os lábios de Tomás em um beijo roubado, mergulhando-os em um redemoinho de paixão e adrenalina.

O beijo desencadeou uma reação avassaladora. Tomás correspondeu com ardor, entregando-se ao momento como se não houvesse amanhã.

Em meio à vertigem do desejo mútuo, seus corpos deslizaram para o chão, envolvidos em um abraço apaixonado que transcendeu qualquer lógica ou racionalidade.

Os dois se entregavam ao calor daquele momento, o mundo ao seu redor desapareceu, deixando apenas a promessa de uma paixão intensa e arrebatadora que desafiaria todas as convenções.

Enquanto Teresa colocava sua assinatura nos papéis que delineavam seu destino, um visitante inesperado adentrou a sala, carregando uma aura de mistério e uma pasta repleta de promessas.

Seus olhos brilhavam com a certeza do inevitável, sua presença preenchendo o ambiente com uma eletricidade palpável.

— Ah, vejo que está prestes a dar um grande passo, Teresa —, disse ele, sua voz suave ecoando como um sussurro de destinos entrelaçados.

Teresa ergueu o olhar, seu coração batendo no compasso de uma dança desconhecida entre nervosismo e excitação.

— Sim, é um momento importante para mim. Estou pronta para assumir esse desafio.

O homem assentiu com a sabedoria de quem já viu os ecos do futuro se desdobrarem diante de seus olhos, colocando os papéis sobre a mesa com reverência antes de estender a mão para cumprimentá-la.

— Eu não tenho dúvidas de que você está pronta. Seu trabalho duro e sua determinação falam por si só.

— Obrigada. Significa muito para mim ouvir isso —, murmurou Teresa, apertou a mão dele com firmeza, sentindo uma corrente de energia vibrante passar por ela, alimentando sua confiança recém-descoberta, os olhos fixos nos dele como se estivessem tentando decifrar o enigma de seu próprio destino.

O homem sorriu, um sorriso enigmático que sugeria um conhecimento além do alcance humano, recuando para permitir que Teresa completasse as assinaturas que selariam seu destino.

Ela colocava sua assinatura final nos documentos, ele continuou a falar, suas palavras fluindo como uma correnteza de sabedoria ancestral, envolvendo-a em um abraço invisível de apoio e orientação.

— Lembre-se, Teresa, o sucesso não vem sem desafios. Mas com sua determinação e habilidade, estou confiante de que você alcançará grandes coisas.

Teresa assentiu, sentindo uma nova determinação florescer dentro dela como uma flor desabrochando sob a luz do sol da manhã.

Com os papéis assinados e a promessa de um futuro brilhante à sua frente, ela sabia que estava pronta para enfrentar qualquer adversidade que o destino lançasse em seu caminho.

Em seguida, Teresa sentiu um sorriso se formar em seus lábios enquanto se dirigia ao quarto de sua filha, Joana.

A luz do sol filtrava pelas cortinas, pintando o quarto com tons dourados de esperança e possibilidade. Ao entrar, encontrou Joana sentada em sua escrivaninha, absorta em seus próprios pensamentos.

— Joana, querida —, chamou Teresa, sua voz carregada de emoção contida.

— O que foi, mãe? — perguntou Joana, virou-se, seus olhos brilhando com curiosidade e uma faísca de expectativa.

— O futuro já começou para nós, minha querida — Teresa se aproximou e sentou-se ao lado dela, envolvendo-a em um abraço caloroso. — O futuro para nós é um passo em frente para um novo começo.

Os olhos de Joana se iluminaram com a notícia, um sorriso radiante se formando em seus lábios enquanto ela retribuía o abraço de sua mãe.

— Isso é incrível, mãe! Eu mal posso esperar para ver o que está por vir.

— Lembre-se, querida, o futuro é algo que nós construímos com nossas próprias mãos, com determinação e coragem —

— Eu sei, mãe. — Joana assentiu, seus olhos refletindo uma determinação igual à de sua mãe. — E estou pronta para enfrentar qualquer desafio que vier em nosso caminho.

Unidas pelo laço inquebrável do amor e da determinação, mãe e filha enfrentariam juntas as incertezas e os desafios que o futuro reservava, prontas para construir um destino brilhante e cheio de promessas para sua família.

...{...} ...

Após alguns dias, Teresa encontrou Joana em seu quarto, vestida com seu deslumbrante vestido de noiva, admirando-se no espelho com uma mistura de nervosismo e êxtase.

O tecido fluía ao redor dela como um véu de sonhos tecidos em seda. Com um coração transbordando de emoção, Teresa se aproximou lentamente, observando sua filha com um misto de orgulho e nostalgia.

— Está pronta para o grande dia, minha querida?

— Sim, mãe. — Joana virou-se para encarar sua mãe, um brilho de emoção nos olhos. Seu sorriso irradiava uma mistura de felicidade e antecipação. — Estou pronta. Mal posso esperar para começar esta nova jornada ao lado do amor da minha vida.

Teresa envolveu Joana em um abraço reconfortante, sentindo as batidas aceleradas do coração de sua filha.

— Você está deslumbrante, Joana. Este é o começo de um capítulo maravilhoso em sua vida. Aproveite cada momento.

— Eu vou, mãe. — Joana, seus olhos brilhando com determinação. — E obrigada por estar sempre ao meu lado, me apoiando em todos os momentos importantes.

Com um último olhar de carinho, mãe e filha se encararam, compartilhando um momento de conexão que transcendeu as palavras.

Joana se preparava para embarcar em sua jornada rumo ao amor e à felicidade, Teresa sabia que seu vínculo como mãe e filha seria para sempre uma âncora inabalável em meio às marés da vida.

Na pequena igreja, Tomás aguardava ansiosamente a chegada de sua futura esposa, Joana, ao pé do altar.

Seu coração batia descompassado, transbordando de emoção e antecipação pelo momento que estava prestes a acontecer.

Cada segundo parecia uma eternidade, e cada batida de seu coração era um eco do amor que sentia por Joana.

De repente, seu mundo parou quando Vitória, uma figura inesperada, surgiu diante dele, interrompendo seus pensamentos e fazendo sua respiração prender na garganta.

Seus olhos se arregalaram em choque quando ela parou em sua frente, segurando algo em suas mãos trêmulas.

— Tomás, precisamos conversar —, disse Vitória, sua voz carregada de emoção contida.

Tomás tentou processar a cena diante dele, sua mente lutando para compreender o que estava acontecendo. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, Vitória revelou a notícia que abalou seu mundo em sua essência.

— Estou grávida, Tomás —, murmurou ela, estendendo-lhe um exame de gravidez como prova irrefutável de suas palavras.

O choque se espalhou por todo o corpo de Tomás, deixando-o atordoado e incapaz de articular uma resposta coerente. Seu coração acelerou, uma enxurrada de emoções conflitantes inundando sua mente enquanto ele tentava assimilar a magnitude do que acabara de ouvir.

— Isso... Isso é verdade? — perguntou Tomás, ao olhar para o teste de gravidez em estado de choque, incapaz de acreditar no que estava vendo. — Isso não pode estar acontecendo, você não pode estar grávida de mim, foi apenas uma noite.

— Sim, Tomás. — Vitória assentiu, lágrimas brilhando em seus olhos. — Eu não sabia como te contar, mas eu precisava que você soubesse. Pra mim foi mais que uma noite, foi um momento mágico e lindo. Me perdi com você e você foi meu primeiro homem.

— Mas como... como isso aconteceu? — a surpresa se transformou em uma mistura de medo e incerteza enquanto Tomás tentava processar a situação. — Eu não tô acreditando!

— Foi durante a sua despedida de solteiro antes de você se casar com a Joana... —, Vitória respirou fundo, tentando controlar suas próprias emoções enquanto explicava. — Eu não queria te contar antes, mas não posso mais esconder a verdade.

Tomás sentiu um turbilhão de sentimentos dentro de si, sua mente girando com a enormidade das consequências dessa revelação.

A cerimônia continuava a se desenrolar ao seu redor, ele sabia que estava diante de uma decisão que iria moldar o destino não apenas dele, mas de todos os envolvidos.

Enquanto Joana desce do carro, os primeiros pingos de chuva começam a cair, rapidamente se transformando em uma tempestade furiosa que parece refletir o tumulto de emoções dentro dela. Seu vestido de noiva, antes imaculado e radiante, agora está manchado pela chuva, as gotas de água deslizando por ele como lágrimas silenciosas.

Com o coração apertado de expectativa, Joana avança em direção à entrada da igreja, seu olhar fixo no portal que representa o início de uma nova vida ao lado do homem que ama. Mas então, como se o céu estivesse chorando em consonância com sua própria angústia, ela vê algo que a faz congelar no lugar.

Seus olhos se arregalam em choque e horror quando ela testemunha o que parece ser seu pior pesadelo se desdobrando diante dela.

Lá, saindo da igreja de mãos dadas, estão Tomás e Vitória, uma imagem que parece cortar através dela como uma lâmina afiada. A chuva cai implacável, envolvendo Joana em uma cortina de tristeza e desespero enquanto ela luta para processar o que está vendo.

Seu coração se parte em mil pedaços, o som dos trovões ecoando como o lamento de sua própria alma. Com lágrimas misturadas à chuva em seu rosto, Joana se aproxima lentamente de Tomás e Vitória, sua voz tremendo com uma mistura de choque e dor

— O quê?... o que está acontecendo? Por que vocês está fazendo isto comigo?.

A chuva caía pesadamente, cada gota como um pequeno martelo que batia contra o chão e a pele de Joana. Ela estava de joelhos em frente à igreja, o vestido rasgado encharcado e colado ao seu corpo. As lágrimas se misturavam à chuva, indistinguíveis no rosto já molhado. Seus cabelos grudavam na testa e nas bochechas, e ela mal conseguia ver através do véu de água que caía de seus cílios.

Vitória e Tomás estavam parados à sua frente, protegidos por um guarda-chuva. O contraste entre eles e Joana era dolorosamente evidente: eles estavam secos, com expressões de indiferença ou, talvez, de alguma relutância, enquanto ela estava encharcada e destroçada.

— Joana — começou Tomás, mas sua voz soava distante e impessoal. — Isso é o melhor para todos nós.

Vitória, ao lado dele, apenas balançou a cabeça em concordância, seus olhos frios fixos em Joana.

Joana não disse nada. Não havia mais palavras para expressar a profundidade de sua dor. Em vez disso, ela permaneceu ajoelhada, olhando fixamente para o chão enlameado.

Tomás e Vitória trocaram um último olhar antes de se voltarem e entrarem no carro. O som da porta do carro se fechando ecoou como um sino de despedida, marcando o fim de tudo o que Joana conhecia e amava.

Enquanto o carro se afastava, Joana ficou ali, ainda de joelhos, sentindo o peso esmagador da traição e do abandono. A chuva continuava a cair, mas agora ela parecia mais um bálsamo, lavando as lágrimas e a dor, embora não pudesse apagar as cicatrizes profundas que ficariam.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, Joana se levantou. Ela sabia que não podia ficar ali para sempre. Havia uma nova vida esperando por ela, longe daquela igreja, longe do Rio de Janeiro, e longe de todos os fantasmas de seu passado.

Com passos trôpegos, Joana começou a andar, deixando para trás o que restava de seu vestido rasgado e a vida que conhecera. Cada passo era uma pequena vitória contra a dor, uma afirmação de sua determinação de seguir em frente. Ela não olhou para trás. O futuro a chamava, e Joana estava pronta para responder.

...{...} ...

Joana estava no quarto, o véu do desespero envolvendo cada pensamento, cada suspiro. O vestido de noiva, agora um símbolo de promessas quebradas, parecia apertar mais a cada segundo que passava. Sua mente girava em torno da traição dupla que a esmagara: o noivo a abandonara e sua melhor amiga, Vitória, a traíra. Em um acesso de raiva e tristeza, Joana começou a rasgar o vestido, pedaço por pedaço, como se cada fragmento arrancado pudesse aliviar um pouco a dor que sentia.

As lágrimas escorriam pelo seu rosto, misturando-se ao tecido branco que caía ao chão. O quarto, que antes fora um santuário de sonhos e esperanças, agora parecia um campo de batalha. A cada rasgo, um grito silencioso de dor ecoava em seu peito.

Então, a porta se abriu silenciosamente. Um homem entrou, seus olhos refletindo a empatia e a determinação que contrastavam com a tristeza de Joana. Ele não hesitou; aproximou-se dela com passos firmes, mas suaves, como se não quisesse assustá-la.

— Joana — sua voz era baixa e suave, mas carregada de uma firmeza inabalável. — Sei que este é o momento mais difícil da sua vida. Sei o que aconteceu e entendo sua dor.

Joana olhou para ele, surpresa e desconfiada, ainda segurando um pedaço do vestido rasgado. Antes que pudesse dizer algo, ele continuou.

— Quero fazer uma proposta. Sei que parece estranho, mas quero que se case comigo. Venha morar comigo no interior de Cerro Corá. Lá, você terá um lugar seguro e tranquilo para recomeçar.

A surpresa deu lugar à incredulidade nos olhos de Joana. Quem era esse homem e por que ele estava oferecendo algo tão radical?

— Eu sei que parece insano — ele disse, lendo seus pensamentos. — Mas acredite, estou aqui para te ajudar. Prometo que cuidarei de você e do seu filho.

Ao ouvir a palavra "filho", Joana instintivamente colocou a mão sobre o ventre. Ela sabia que não podia continuar ali, em meio às ruínas de suas esperanças e sob o olhar de uma cidade que testemunhara sua queda.

Com um suspiro profundo, Joana ergueu os olhos para o homem. Não tinha escolha. Seu coração estava partido, mas ela sabia que precisava seguir em frente, não só por si mesma, mas pela criança que carregava.

— Aceito — sua voz saiu quase como um sussurro, mas cheia de uma nova determinação.

O homem sorriu, um sorriso que trazia consigo a promessa de um novo começo. Ele estendeu a mão, e Joana a segurou, sentindo um pequeno lampejo de esperança.

Dias depois, Joana deixou o Rio de Janeiro. A jornada para Cerro Corá era longa, mas cada quilômetro afastava um pouco mais a dor do passado. Ao chegarem, a paisagem do interior se desdobrava diante dela como um quadro pintado à mão — verdejantes colinas, rios tranquilos e um céu azul infinito.

Naquela nova terra, Joana encontrou não apenas um refúgio, mas também a força para recomeçar. Com o tempo, ela descobriu que poderia ser feliz novamente, mesmo que de uma maneira diferente do que imaginara. A criança que crescia dentro dela seria um símbolo de seu renascimento, uma nova esperança em meio à adversidade.

E assim, Joana começou sua nova vida, longe das traições do passado, abraçando o futuro com coragem e determinação.

Capítulo 1

No pequeno e tranquilo município de Cerro Corá, uma pequena cidade do interior de Natal-RN, onde o vento soprava suavemente entre as árvores e as ruas de paralelepípedos contavam histórias antigas, uma manhã de sábado trazia consigo a agitação típica do final de semana. Na rua principal, conhecida pelos moradores como Rua das Flores, o movimento era discreto, mas a energia no ar indicava algo diferente para aquele dia. Joana acordou cedo, como de costume, na sua casa modesta próxima à praça central. O cheiro de café fresco invadiu seu quarto, trazendo consigo lembranças de sua avó, que sempre dizia que o café da manhã era a refeição mais importante do dia. Ela sorriu ao recordar as palavras sábias da velha senhora, enquanto se levantava e se preparava para enfrentar o dia.

Enquanto tomava seu café e observava pela janela a movimentação lá fora, Joana pensava nos planos para aquela tarde. A chegada do ônibus da cidade vizinha trazia consigo visitantes e turistas, e ela sabia que o movimento no seu pequeno snack bar aumentaria. Mas havia algo mais importante em sua mente naquele momento: o tão esperado dia em que sua filha Marina encontraria um namorado em breve naquele ano de 2020. Na acolhedora cozinha da casa de Joana, os primeiros raios de sol espreitavam pelas janelas, anunciando o início de um dia especial. Marina adentrou a cozinha com um sorriso radiante, envolvendo sua mãe em um caloroso abraço.

— Bom dia, mãe! Hoje é um grande dia para nós —, saudou Marina, seu entusiasmo transbordando.

Joana, ocupada coando café, sorriu para a filha e colocou a garrafa de café sobre a mesa antes de voltar seu olhar para Marina.

— Eu sei que hoje é um dia de festa, mas ainda temos muitas coisas para fazer, e seu irmão ainda está dormindo —, respondeu Joana, seu sorriso igualmente afetuoso.

Sem hesitação, Marina se prontificou a chamar seu irmão, mas antes que pudesse sair da cozinha, Joana segurou seu braço suavemente.

— Minha filha, já que hoje é o casamento do seu irmão, tire um tempo para conhecer alguns rapazes. Quero ver você feliz —, sugeriu Joana, com uma expressão séria.

— Eu já sou feliz... — diz Marina, sorriu discretamente e desviou o olhar, respondendo em voz baixa.

— Ah, não precisa disfarçar, querida. Você nunca namorou? Nunca se interessou por ninguém? Nunca beijou? —, questionou Joana, com um tom maternal.

Marina, então, começou a aplaudir, seu sorriso amplo preenchendo a cozinha.

— Mãe, no dia em que eu me apaixonar e eventualmente casar, esse dia chegará. Mas até lá, não preciso de ninguém —, declarou com convicção antes de beijar o rosto de Joana e sair da cozinha, deixando sua mãe reflexiva sobre as palavras de sua filha.

O sol começava a esgueirar-se pelas cortinas do quarto de Miguel na tranquila manhã. Marina, sua irmã, irrompeu no quarto com uma mistura de energia e entusiasmo, puxando o lençol da cama com vigor.

— Está na hora de acordar, você está super atrasado! — ela gritou, interrompendo o sono de Miguel.

Miguel, ainda sonolento, saltou da cama em um frenesi repentino, seus olhos varrendo o quarto em pânico.

— Meu Deus do céu, perdi o meu casamento, e agora?! — ele exclamou, sua voz carregada de desespero.

Um riso caloroso escapou dos lábios de Marina enquanto ela se postava diante dele.

— Calma, meu irmão —, disse ela, sorrindo. — Está muito cedo, há tempo de sobra. Eu só disse isso para você se levantar rapidamente.

Miguel, agora mais desperto, não conseguiu conter um sorriso diante da brincadeira de Marina.

— Hahaha, nossa, como você é engraçada —, ele debochou, fingindo indignação. — Estou morrendo de rir...

Marina retribuiu o sorriso, seus olhos brilhando com alegria.

— Bem, eu faço o que posso —, disse ela. — Agora, estou indo para a casa da minha futura cunhada. Vou ajudá-la a se arrumar.

O sorriso de Miguel se alargou enquanto ele olhava para o teto com uma sensação de profunda gratidão.

— Hoje é o meu dia —, murmurou ele, um brilho de emoção em seus olhos. — Eu vou me casar, com a mulher que eu amo.

Em um gesto de afeto, Marina e Miguel se abraçaram calorosamente.

— De verdade, eu desejo tudo do bom e do melhor para sua nova vida! —, disse Marina, seus olhos refletindo sua sincera felicidade pelo irmão.

— Muito obrigado, minha irmã —, respondeu Miguel, seu coração transbordando de gratidão.

Enquanto Marina saía do quarto, Miguel pegava seu smoking com um sorriso radiante. Diante do espelho, ele contemplava sua imagem com uma sensação de expectativa e promessa, pois sabia que este dia marcava o início de sua vida.

...{...}...

No calor do Rio de Janeiro, na imponente Mansão Linhares, Vitória, inquieta, percorria a sala com o celular grudado ao ouvido.

— Por que ele não atende esse celular! —, ela murmurava nervosamente.

Nesse instante, Tomás desceu as escadas, seu semblante sério denunciava sua preocupação.

— Mais uma vez você está tentando ligar para o seu amado filho e ele não está atendendo... —, disse ele, observando Vitória.

— Só o que eu quero é desejar feliz aniversário para ele, somente —, respondeu Vitória, nervosa.

— Vitória, não precisa ficar nervosa, você sabe muito bem que todo ano João Victor sempre faz o aniversário nos Estados Unidos — disse Tomás, tentando acalmá-la.

— Eu não estou nervosa, estou no controle, só o que eu quero é ligar para ele e desejar feliz aniversário, como todo ano eu faço —, defendeu-se Vitória, determinada.

— A pois, se ele atender diga para Victor que crie juízo na cabeça, porque ele já vai fazer 30 anos e vive como se fosse um adolescente —, comentou Tomás, com um tom de preocupação.

— Victor pode ter a idade que for, mas continua sendo meu filhinho de sempre — diz Vitória, em um acesso de raiva, apontou o dedo para o rosto de Tomás

— Só lembrando que Victor também é o meu filho —, rebateu Tomás, mantendo a seriedade.

Vitória, então, se aproximou de Tomás, buscando amenizar a tensão entre eles.

— Aí amor, Desculpa... eu não queria falar desse jeito, ele é o nosso único filho.

— Sim! Mas João Victor não é mais criança nem adolescente... agora é ele um homem — disse Tomás, finalmente cedendo a um sorriso, e concordou.

Mas a lembrança do aniversário distante do filho ainda pairava sobre eles. Tomás se despediu, pronto para enfrentar o dia de trabalho na fábrica, enquanto abraçava e beijava Vitória.

Sozinha na sala, Vitória se deixou cair no sofá, seu olhar perdido no porta-retrato de João Victor. Ali, ela encontrava conforto e lembranças de um tempo mais simples, onde o aniversário do filho era comemorado em família, longe das distâncias e das obrigações da vida adulta.

...{...}...

No tranquilo entardecer da Califórnia, nos chalés à beira-mar, Eloy, primo de João Victor, mergulhava no brilho azulado de seu notebook quando João Victor adentrou o quarto, irradiando um sorriso contagioso.

— Você já pode me declarar o cara! — exclamou Victor, com uma alegria efervescente.

— Por que eu deveria fazer isso? — perguntou Eloy, confuso.

— Simples, primo — respondeu Victor, radiante. — Consegui alugar uma das melhores boates dos EUA, só para nós dois e um mar de garotas! É sensacional!

Eloy, impressionado, ergueu-se da cama para ficar de frente para Victor.

— Uau... você se superou desta vez.

Mas antes que pudessem mergulhar mais fundo na conversa, Eloy entregou o celular de Victor, com uma expressão séria.

— Sua mãe ligou várias vezes. Seria melhor você retornar as chamadas.

Victor, ignorando as preocupações, atirou o celular ao chão.

— Não quero falar com ninguém. Hoje é meu aniversário e quero aproveitar ao máximo. Vamos nos preparar para a noite!

Assim que Victor partiu, deixando Eloy sozinho no quarto, uma mistura de sentimentos o invadiu. Sentado na cama, cerrando os punhos, ele murmurou para si mesmo.

— Sempre esbanjando dinheiro à toa, enquanto eu permaneço na sombra dele.

Com um impulso de raiva contida, Eloy agarrou um travesseiro e desferiu golpes violentos nele, repetindo as palavras "Vivendo na Sombra" incessantemente, enquanto a noite na Califórnia preparava o cenário para uma celebração repleta de desafios e descobertas.

...{...}...

O sol escaldante de Natal brilhava através das cortinas do quarto de Miguel, enquanto ele se arrumava para o grande dia. No canto do quarto, o reflexo do jovem no espelho revelava uma mistura de emoções em seu rosto tenso. De repente, a porta se abriu suavemente, e a figura reconfortante de Joana, sua mãe, entrou na sala. Seus olhos brilharam ao ver seu filho em seu smoking impecável.

— Você está radiante, meu querido. Está pronto para o seu grande dia? —, disse ela com um sorriso amoroso.

Miguel devolveu o sorriso, mas um lampejo de nervosismo passou por seus olhos quando ele colocou a mão sobre sua barriga tensa.

— Obrigado, mãe. Mas confesso que estou um pouco nervoso. É normal ter um friozinho na barriga antes do casamento?

Joana riu suavemente e colocou uma mão reconfortante no ombro de Miguel.

— Claro que sim, querido. Todo mundo fica nervoso no dia do casamento. Mas não se preocupe, você está pronto para isso.

Enquanto mãe e filho se abraçavam, uma súbita rajada de vento sacudiu as cortinas, trazendo consigo uma nuvem de areia do lado de fora.

Joana olhou para a janela com surpresa enquanto a areia invadia o quarto.

— Meu Deus, que ventania é essa?

Miguel rapidamente se aproximou da janela e a fechou com firmeza, tentando bloquear a entrada do vendaval.

— É só uma tempestade de areia passageira, mãe. Não se preocupe, logo passará.

Com um aceno de cabeça, Joana concordou relutantemente, e os dois saíram do quarto em direção ao grande evento. No entanto, mal tinham saído quando a janela se abriu novamente com uma força surpreendente, permitindo que o vento carregado de areia enchesse o quarto mais uma vez. Enquanto a tempestade rugia do lado de fora, parecia que o destino tinha outros planos para Miguel naquele dia especial.

O sol brilhava sobre a pequena cidade de Cerro Corá, enquanto os sinos da igreja ecoavam pelo ar tranquilo. Júlia, radiante em seu vestido de noiva, desceu do carro na frente da antiga igreja, ansiosa para começar sua nova vida ao lado de seu amado. No entanto, uma cena desoladora a aguardava do lado de fora.

— Mas o que está acontecendo? Por que ninguém está dentro da igreja? — exclamou Júlia, perplexa com a ausência de convidados.

— Depois que eu te ajudei a se arrumar, fui até a igreja e me disseram que está caindo... —, revelou Marina, com um tom sombrio.

Júlia sentiu o coração acelerar, uma mistura de surpresa e nervosismo se apoderando dela.

— Não, jamais! A igreja não pode cair no dia do meu casamento —, protestou ela, recusando-se a acreditar na terrível notícia.

— Eu sinto muito, mas a igreja está desmoronando, é muito arriscado para todos —, lamentou Marina, compartilhando a triste realidade.

Marina confirmou as suspeitas de Júlia. Determinada a seguir em frente com seus planos, Júlia negou a possibilidade de cancelar o casamento.

— Essa igreja está de pé há mais de 50 anos, e vai continuar em pé! —, afirmou ela, lutando contra o inevitável.

Mas a tragédia estava prestes a se abater sobre eles. Enquanto Júlia corria para dentro da igreja, determinada a desafiar as circunstâncias, a porta se fechou atrás dela e o edifício antigo desabou em um estrondo ensurdecedor. Gritos de desespero ecoaram enquanto os destroços caíam ao redor de Júlia, aprisionando-a em seu próprio pesadelo. Do lado de fora, Marina ficou horrorizada ao testemunhar a terrível cena.

— Meu Deus, cadê a Júlia? A igreja desabou! —, gritou ela, correndo em direção aos destroços em busca de sua amiga.

O que antes era um lugar sagrado de adoração agora se transformou em uma pilha de concreto retorcido, testemunhando a rápida e devastadora transformação de um dia que deveria ter sido de celebração em uma tragédia incompreensível. Marina encarava a igreja em ruínas, uma vez majestosa, agora reduzida a entulhos. Com as mãos na cabeça, ela gritava por socorro, o desespero ecoando pelas ruas vazias de Cerro Corá.

— Alguém ajuda! Cadê a Júlia?! — as lágrimas corriam pelo rosto de Marina, misturando-se ao pó que pairava no ar.

De repente, Miguel e Joana surgiram por trás dela. A expressão séria de Miguel denotava desconfiança. Marina virou-se para ele, olhos inundados de lágrimas.

— Do que você está falando, cadê a Júlia? — perguntou ele

— Meu irmão, eu sinto muito, mas a igreja desabou com a Júlia dentro

— Não, não, não... isso é mentira, minha Júlia não pode morrer! — gritou Miguel ao fica atordoado

Desesperado, Miguel correu para os escombros, cavando freneticamente enquanto chamava o nome de Júlia. Joana, com um nó na garganta, aproximou-se e segurou seu braço.

— Meu filho, sinto muito... eu sei que é um momento difícil, mas assim você não vai encontrá-la.

— Eu amo tanto a Júlia. Ela não merecia morrer assim — disse Miguel, em desaba em lágrimas, abraçando sua mãe com força

— Eu sei... mas há coisas no destino que não podemos mudar.

Joana acariciou os cabelos do filho, lutando para conter suas próprias lágrimas. Marina aproximou-se, envolvendo-os em um abraço coletivo, o lamento da tragédia pairando sobre eles como uma sombra implacável.

...{...}...

O sol do Rio de Janeiro pintava um flat de Pedro e Isaacs com tons dourados, enquanto Pedro se refugiava nas páginas de um livro, mergulhado em pensamentos. O silêncio era quebrado apenas pelo suave virar das páginas, até que Isaacs adentrou a sala com um sorriso radiante, iluminando ainda mais o ambiente.

— Pedro —, começou Isaacs, sua voz transbordando de alegria —, hoje à noite é o aniversário do nosso casamento.

Pedro ergueu os olhos do livro, seu rosto se suavizando em um sorriso sincero.

— É claro que sei —, respondeu, com um leve tom de brincadeira. — Já fazem 4 anos que eu aturo você...

— Então eu fiz uma reserva no melhor restaurante do Rio para nós dois jantarmos esta noite.

— Você é incrível —, disse Pedro ao se levantar do sofá e envolveu Isaacs em um abraço caloroso, seus olhos brilhando com gratidão. — É o melhor companheiro do mundo. Te amo.

— Eu também te amo —, declarou, sua voz carregada de ternura. — Então prepare-se, porque hoje à noite vamos ter uma noite especial, só para nós dois.

Isaacs retribuiu o abraço, seu coração transbordando de amor. Envolvidos nos braços um do outro, Pedro e Isaacs compartilharam um momento de amor e cumplicidade, ansiosos pelo que a noite reservava para eles.

A Vitória Linhares, uma mulher de beleza marcante, observava-se no espelho do seu luxuoso quarto na mansão da família no Rio de Janeiro, enquanto penteava seus longos cabelos. O silêncio foi quebrado pela entrada repentina de sua irmã, Stella.

— Eu liguei para você e não atendesse, então eu vim até aqui —, anunciou Stella, encontrando o olhar de Vitória no espelho.

Sem perder tempo, Vitória se sentou na cama, encarando Stella com uma mistura de desconfiança e impaciência.

— É mais uma das suas desculpas para você vir na minha mansão... fala o que você quer?

— Nossa, só porque você tem mais dinheiro do que eu, precisa me tratar assim? Afinal, eu sou sua irmã e mereço respeito.

— Tá bom, minha querida irmã. O que eu devo à honra da sua visita?. — disse ela, com um suspiro, tentou controlar sua irritação.

A tensão no quarto aumentou quando Stella se aproximou e se sentou na cama ao lado de Vitória.

— Hoje falei com meu filho, Eloy... e ele me disse que o Victor vai fazer o aniversário em uma boate.

— É sempre assim todo ano. Victor faz aniversário bem longe de mim.

— Isso pode mudar... é só você falar a verdade para o João Victor.

Stella tentou trazer alguma esperança. De repente, Vitória se levantou da cama, apontando o dedo para o rosto de Stella com raiva fervendo dentro dela.

— Olha aqui! Não se intrometa na minha vida. Deixe que da minha família cuido eu.

— Sim, mas eu acho... — diz Stella que não recuou, enfrentando a irmã com firmeza.

— Você não acha nada... você tem o seu filho e eu tenho o meu — disse Vitória a interrompeu, sua voz agora um grito de desafio.

O confronto entre as duas irmãs atingiu seu ápice quando Stella se levantou da cama, colocando-se diante de Vitória com determinação.

— Vitória, eu sou sua irmã e quero o seu bem e o bem da sua família, mas João Victor tem que saber a verdade.

Em um momento de vulnerabilidade, Vitória se calou, seu rosto expressando medo e confusão. Ela se aproximou de Stella e a abraçou, reconhecendo a gravidade das palavras de sua irmã e os segredos que ameaçavam separá-las.

...{...}...

O sol poente tingia o céu californiano com tons de laranja e rosa enquanto Eloy contemplava a paisagem pela janela do chalé. O clima ameno contrastava com a tensão que pairava no ar. Victor se aproximou silenciosamente por trás dele.

— Já está escurecendo rápido, cara. Você não vai se arrumar? — Victor quebrou o silêncio, sua voz carregada de impaciência.

Eloy virou-se para encará-lo, uma expressão séria adornando seu rosto.

— Você tem visita... é a sua ex!

Victor franziu a testa, perplexo.

— Do que você está falando?

Num piscar de olhos, a atmosfera da sala mudou quando Analú irrompeu pela porta. Seu sorriso era tão deslumbrante quanto o sol se pondo lá fora.

— E aí, rapazes, acabei de chegar — ela anunciou sua presença com uma aura de confiança.

Os olhares trocados entre Victor e Eloy capturavam a tensão no ar. Victor fixou seu olhar em Analú, visivelmente surpreso.

— O que você está fazendo aqui? — sua voz carregava uma mistura de confusão e irritação.

Analú apenas riu levemente, seu sorriso radiante.

— Ué, eu vim pessoalmente entregar o seu presente de aniversário.

A seriedade nos olhos de Victor era palpável.

— Então entrega logo e sai daqui

— Calma, querido, só você pode ver e abrir o presente. — Analú aproximou-se, pegando suavemente na mão dele. — Eu quero que você venha comigo agora mesmo!

— Espere um minuto, você não pode se atrasar para o clube. — Disse Eloy, colocando a mão no ombro de Victor.

— Tudo bem, você pode ir em frente, eu o alcançarei em breve — diz Victor, que hesitou por um momento, mas depois assentiu.

Assim, Analú e Victor saíram da sala, mãos dadas, deixando Eloy observando pela janela enquanto eles partiam no carro, rumo a um destino incerto.

Capítulo 2

Era uma tarde típica em Cerro Corá, onde o sol se despedia com um brilho dourado, banhando a casa de Joana com uma luz suave. Joana, Marina e Miguel haviam acabado de chegar em casa, e ao entrarem na sala, foram recebidos por uma visão inesperada: Tereza, a matriarca da família, estava sentada no sofá, sua postura transmitia uma calma que contrastava com a surpresa em seus olhos. Joana, com uma mistura de alegria e surpresa, quebrou o silêncio.

— Mãe, o que a senhora está fazendo aqui tão de repente?

— Eu vim para o casamento do meu neto, mas as notícias da tragédia me alcançaram, e eu decidi esperar por vocês aqui... — Respondeu Tereza, com uma voz que carregava o peso do mundo.

Seu olhar carregado de tristeza foi direcionado a Miguel, que parecia carregar o luto em cada parte de seu ser.

Tereza, com os olhos marejados, continuou.

— Meu querido, eu sinto muito pelo que aconteceu com sua noiva...

Miguel, movido por um impulso de gratidão e dor, aproximou-se e envolveu sua avó em um abraço que dizia mais do que palavras poderiam expressar.

— Obrigado, vó, por estar aqui... de um casamento a um enterro, sua presença significa tudo.

Após o abraço, Miguel baixou a cabeça e saiu da sala. Marina, com um beijo carinhoso no rosto de Tereza, ofereceu suas palavras de boas-vindas.

— Seja bem-vinda, vó. Vou deixar você e mamãe conversarem. Vou ficar com Miguel, ele não deve ficar sozinho neste momento.

Com um último abraço, Marina seguiu os passos de Miguel, deixando Joana e Tereza a sós. Joana, sentindo a tensão no ar, aproximou-se e sentou-se ao lado de sua mãe.

— Mãe, agora que estamos só nós duas, pode me contar o que realmente a trouxe aqui?

Tereza segurou a mão de Joana com firmeza, seus olhos fixos transmitiam uma seriedade incomum.

— Minha filha, chegou o momento em que preciso de você e dos meus netos mais do que nunca.

— Mãe, você sabe que estamos aqui para o que der e vier, mas o que está querendo dizer? — perguntou Joana confusa.

— Eu quero que você e os meninos venham morar comigo no Rio de Janeiro. — Mantendo a voz baixa, Tereza respondeu.

— Mas por quê? O que aconteceu? — Joana, completamente surpresa, indagou

— Eu estou... morrendo. — Diz Tereza, com uma voz que mal conseguia esconder a dor, revelou a verdade.

Naquele instante, o mundo de Joana pareceu desabar. A sala, antes cheia de vida, foi tomada por um silêncio ensurdecedor, enquanto a verdade daquelas palavras se assentava em seu coração.

Enquanto isso, um carro deslizou suavemente até parar ao lado do restaurante no Riode Janeiro. A porta se abriu, revelando Pedro e Isaacs, cujos olhares se alternaram entre o restaurante e um ao outro, carregados de expectativa e ansiedade.

— Que lugar chique —, comentou Pedro, seu tom de voz misturando surpresa e preocupação. — Será que vamos conseguir pagar a conta?

— Não se preocupe, amor. Venho economizando desde a semana passada... — disse Isaacs, um sorriso discreto dançou nos lábios de Isaacs.

— Tem certeza disso? — Pedro franziu a testa levemente.

— Absoluta. Esta noite é especial para nós. — Isaacs respondeu, seu sorriso se ampliando.

Ao fundo, a música "Amor Vem Cá" de Armandinho começou a tocar no som do carro, criando uma trilha sonora para o momento. Trocando olhares repletos de amor, eles entrelaçaram as mãos e adentraram o restaurante, prontos para uma noite memorável.

Enquanto isso, ao lado do carro, Nicole emergiu segurando um bebê nos braços. Seus olhos, mesclando tristeza e determinação, fitaram o céu por um instante antes de ela murmurar:

— Está na hora. Isso precisa acontecer.

Nicole abaixou o olhar para o bebê em seus braços e depositou um beijo suave em sua testa, como se buscasse forças e conforto naquele gesto. Em seguida, com um misto de pesar e resignação, ela abriu a porta traseira do carro e acomodou o bebê no banco, fechando-a com cuidado. Encostada na porta aberta, Nicole deixou as lágrimas caírem enquanto observava seu filho através da janela, como se soubesse que aquele era um momento de despedida difícil de enfrentar.

Era uma noite quente no Rio de Janeiro, e o movimento no restaurante do lado de fora era evidente. Enquanto alguns clientes aguardavam pacientemente suas mesas, outros vivenciavam momentos inesperados. Nicole, uma jovem mulher de olhos marejados, lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto enquanto ela olhava para seu bebê no banco traseiro. Com um gesto trêmulo, ela colocou uma carta no banco do passageiro e partiu, deixando para trás um rastro de tristeza e mistério.

Nesse instante, Pedro e Isaacs saíram do restaurante, envoltos em uma discussão leve por causa da reserva perdida. Isaacs estava visivelmente chateado pela pequena contrariedade, enquanto Pedro tentava acalmar os ânimos.

— Eu não acredito nisso, só porquê atrasamos 5 minutos perdemos a reserva! — exclamou Isaacs, sua frustração evidente.

— Amor, não precisa ficar assim —, disse Pedro, tentando acalmar a situação. —Vamos para casa, pedimos uma comida chinesa e assistimos um filme. Será ótimo.

— Tá bom, vamos fazer isso mesmo. — Diz Isaacs ao sorri para Pedro, concordando com a ideia.

Eles entraram no carro, e Pedro, ao olhar para o banco traseiro, teve um susto.

— Meu Deus, tem uma criança no nosso carro!

Surpreso e confuso, Pedro pegou o bebê nos braços enquanto Isaacs saiu do carro para olhar ao redor. Uma sensação estranha pairava no ar, e Isaacs voltou para dentro do carro, perguntando.

— De onde essa criança saiu?!

— E você acha que eu vou saber! — respondeu Pedro de forma séria, ainda atordoado.

— Nossa, que explicação lógica que você tem! —, debochou Isaacs, aumentando a tensão.

— O que você queria que eu falasse?! Agora não é hora de brigarmos. Vamos para casa agora mesmo! — disse Pedro que respirou fundo, tentando manter a calma.

— O quê? E levar o bebê com a gente? — diz Isaacs, que ficou ainda mais surpreso.

— Precisamos ir embora. Quando a gente chegar em casa, conversamos —, insistiu Pedro, pedindo compreensão.

Isaacs, depois de respirar fundo, ligou o carro e começou a dirigir, deixando para trás o mistério da criança no carro e dando início a uma noite que prometia revelações e surpresas inesperadas.

A noite em Cerro Corá estava repleta de sentimentos conflitantes na casa da família de Joana. Enquanto a cidade brilhava com luzes festivas e o ar estava impregnado com o aroma de comidas deliciosas, dentro da casa de Joana e Tereza, havia uma tensão silenciosa. Joana e Tereza estavam sentadas no sofá da sala, as luzes da árvore de Natal iluminando levemente seus rostos. Tereza, com a voz baixa e um olhar cheio de expectativas, rompeu o silêncio com uma pergunta que pairava no ar há horas.

— Então, qual é a sua resposta?! — Tereza perguntou, sua expressão ansiosa.

Joana suspirou, seus olhos refletindo a luta interna que estava enfrentando.

— Mãe, a gente passou a tarde inteira falando sobre isso. Primeiro, eu tenho que falar com os meus filhos para ver se eles aceitam...

Uma pequena risada escapou dos lábios de Tereza, seu sorriso indicando uma confiança tranquila.

— Com certeza eles vão aceitar, mas é você que não quer ir —, ela disse, pontuando com um gesto enfático.

Joana balançou a cabeça, seus olhos encontrando os de Tereza.

— Não é isso, mãe. Depois de tanto tempo, voltar para o Rio vai ser difícil para mim...

Os olhos de Tereza se encheram de ternura e uma determinação tranquila.

— Minha filha... Eu estou morrendo, e eu quero passar os meus últimos dias da minha vida ao lado da minha família.

Um sorriso suave apareceu no rosto de Joana, seus olhos brilhando com amor e resolução.

— Mãezinha, pode ficar tranquila, eu vou falar com os meus filhos e nós vamos morar com a senhora no Rio

Tereza não conseguiu conter a felicidade que transbordava em seu coração. Um sorriso radiante iluminou seu rosto enquanto ela olhava para Joana. Neste Natal, entre as luzes cintilantes e os presentes sob a árvore, uma decisão importante foi tomada, unindo ainda mais uma mãe e sua filha em amor e cuidado mútuos.

No quarto de Miguel, porém, a atmosfera era carregada de tristeza e desesperança. Marina, sua irmã mais nova, adentrou o quarto e foi surpreendida pelo chão coberto de areia.

— Mas o que é isso? De onde saiu tanta areia? —, questionou Marina, perplexa.

Seus olhos encontraram um canto escuro da parede onde Miguel estava sentado, mergulhado em sua própria melancolia. Marina aproximou-se e se sentou em frente a ele.

— Ei, não fica assim, se levanta, e se anima... —, disse Marina, tentando trazer um pouco de ânimo para o irmão.

— Não tenho motivos para ser feliz! — murmurou Miguel, com a voz carregada de tristeza.

Determinada a levantar o ânimo de Miguel, Marina falou com seriedade.

— Deixe de falar isso... Você ainda vai ser muito feliz.

— Olhe ao seu redor, no chão do meu quarto só tem areia, é aqui que vai ser o meu túmulo — Miguel desabafou ao olhar para o chão coberto de areia 

— Ei Miguel, você lembra das palavras sábias do nosso pai. — Marina perguntou a Miguel se ele ainda se recordava delas. Ele assentiu, indicando que sim.

— Quando a gente ficava decepcionado com alguma coisa, ele chegava e falava o quê... —, provocou Marina.

— A hora mais escura da vida é a que vem antes do sol nascer, com os raios do sol, a escuridão desaparece. — Diz Miguel, com um tom triste, completou a frase.

Marina sorriu, sabendo que aquela pequena mensagem que seu pai criara para eles seria uma fonte constante de esperança, mesmo nos momentos mais sombrios. Nesse momento de conexão fraternal, Miguel abraçou Marina com força, deixando as lágrimas finalmente fluírem. Ali, naquela noite, a luz da esperança começava a brilhar além da escuridão que envolvia Miguel, guiando-o rumo a um novo amanhecer.

...{...}...

A noite era suave e fresca nas ruas movimentadas da Califórnia, EUA, enquanto Bianca e Erick desfrutavam de uma caminhada relaxante. Os raios da lua brincavam nas folhas das árvores, e o vento suave acariciava seus rostos. Bianca sorria enquanto acariciava sua barriga, sentindo os movimentos alegres do bebê que se aninhava ali. Quando chegaram ao cruzamento da rua, ela segurou a mão de Erick e olhou amorosamente para ele.

— Amor, senti nosso bebê se mexer novamente —, murmurou ela, seus olhos brilhando de felicidade.

Erick, com um sorriso radiante, colocou a mão sobre a barriga de Bianca e sentiu o pequeno milagre se mover.

— É incrível como ela está ativa esta noite. Mal posso esperar para segurá-la em meus braços —, disse ele, seus olhos cheios de ternura.

Bianca acariciou o rosto de Erick com carinho.

— Ainda temos alguns meses pela frente, meu amor. Hoje marca o oitavo mês de nossa jornada juntos com nossa pequena.

Enquanto eles conversavam, o celular de Erick começou a tocar, interrompendo o momento de cumplicidade. Distraído, ele atendeu a ligação, enquanto Bianca, sorrindo, decidiu atravessar a rua. Foi então que o destino cruel decidiu interferir, em um instante que mudaria suas vidas para sempre.

Um carro em alta velocidade surgiu do nada, atingindo Bianca com força e a jogando no chão com violência. O grito de horror de Erick cortou o ar quando ele viu sua amada no chão, ferida e inconsciente. O motorista do carro, uma figura indistinta na escuridão, não parou para prestar socorro, deixando Erick em um mar de desespero e choque.

— Não, não pode ser! Bianca, minha vida, acorde — Erick gritou, correndo para junto dela e ajoelhando-se ao seu lado. Suas mãos tremiam enquanto ele tentava sentir o pulso dela, sua mente girando em pânico e dor.

As lágrimas escorriam pelo rosto de Erick, uma mistura de tristeza, raiva e impotência. Ele olhou para cima, para o céu estrelado, em busca de alguma resposta, enquanto o som distante das sirenes se aproximava, trazendo consigo uma mistura de esperança e temor.

A noite na Califórnia estava agitada, mas para Eloy e seus amigos, a festa de aniversário de Victor estava longe de ser uma comemoração tranquila. Ao entrar na sala do chalé, Eloy encontrou Victor sozinho, perdido em seus pensamentos. Sua expressão séria revelava preocupação e confusão.

— Victor, onde você estava? Procurei por você na boate inteira. É o seu aniversário, cara, você deveria estar lá. O que está acontecendo? — Eloy perguntou, sua voz carregada de seriedade.

Nesse momento, Analú entrou na sala, seu rosto espantado denunciando que algo sério tinha acontecido.

— O Victor atropelou uma mulher —, ela exclamou, ficando ao lado de Eloy.

— Como assim atropelou uma mulher? — a gravidade da situação começava a se manifestar.

Analú explicou rapidamente o que aconteceu enquanto eles estavam a caminho da boate. Victor, nervoso, levantou-se do sofá e encarou Eloy.

— Por favor, me ajuda. Eu não sei o que fazer, não queria machucar ninguém —, ele implorou.

Mas Analú interveio, dizendo que não havia mais nada a fazer naquele momento. Victor, cada vez mais tenso, murmurou.

— Estou ferrado, estou muito ferrado.

— Não está não. Você vai voltar para o Brasil agora mesmo. — Disse Eloy ao tomar uma decisão rápida e direta.

Victor, preocupado com as consequências, perguntou como faria para explicar aos pais.

— Inventa qualquer coisa, mas você vai voltar ainda hoje —, respondeu Eloy, determinado.

Enquanto Victor corria para arrumar suas malas, Eloy e Analú ficaram na sala. Eloy olhou para ela e disse em voz baixa.

— Precisamos dar um jeito no carro.

— Por que eu? — perguntou Analú ao ficou surpresa.

— Porque você é cúmplice do Victor. — Eloy explicou com seriedade.

Com isso, Analú entregou a chave do carro a Eloy, que virou o rosto e sorriu discretamente, ciente dos desafios que ainda estavam por vir.

A noite caía sobre o Rio de Janeiro, pintando o céu de tons alaranjados enquanto Pedro e Isaacs retornavam ao seu flat. O cansaço da jornada pesava em seus ombros, mas havia algo mais, algo que mudaria suas vidas para sempre. Ao adentrarem o quarto, depositaram o pequeno ser na cama macia. Seus olhares se encontraram, refletindo a perplexidade diante daquela responsabilidade inesperada.

— O que faremos com essa criança? —, questionou Isaacs, seu tom carregado de incerteza.

— Não sei ao certo, mas agora só nos resta cuidar dele. — respondeu Pedro, com um misto de determinação e apreensão.

— Não podemos cuidar de um bebê. A melhor opção seria entregá-lo à polícia. — Uma risada forçada escapou dos lábios de Isaacs, denotando sua angústia.

A surpresa se estampou no rosto de Pedro.

— Não, não podemos simplesmente entregá-lo assim.

— Por que não? —, indagou Isaacs, sério.

— Porque e se um dia o pai ou a mãe quiserem o filho de volta? É melhor que ele fique conosco —, explicou Pedro, sua voz carregada de convicção.

Isaacs fitou Pedro intensamente, seus olhos revelando a preocupação que o consumia.

— A sociedade já é preconceituosa conosco por sermos gays e casados. Imagine agora com uma criança!

— Eu sei que o preconceito é uma realidade que não podemos ignorar. Só peço que confie em mim. — Pedro disse, suspirou, consciente das dificuldades que viriam.

— Está bem, meu amor. Vou confiar em você. — Um sorriso terno se desenhou nos lábios de Isaacs.

Em um abraço que transbordava amor e incerteza, eles voltaram seus olhares para o bebê adormecido, cuja presença transformara suas vidas de maneira inesperada, mas também promissora.

...{...}...

A noite cedeu lugar ao alvorecer, e os primeiros raios de sol esgueiraram-se pelas cortinas da casa de Nicole, no Rio de Janeiro. Sentada na sala, Nicole aguardava, o coração pulsando rápido em antecipação. Passos ecoaram no corredor, anunciando a chegada de Vicente. Ele adentrou a sala com uma expressão séria, fitando Nicole intensamente.

— Por que você não estava me esperando no portão do presídio? — Vicente questionou, sua voz carregada de expectativa e um toque de reprovação.

— Eu estava muito ocupada e não pude ir... — Respondeu Nicole, visivelmente tensa.

Mas a resposta não foi suficiente para acalmar a ira de Vicente.

— Mas era pra ter ido me esperar... Enfim, estou de novo na rua! — sua voz carregada de ressentimento.

— Eu acabei engravidando e tive um filho seu! — Nicole murmurou de cabeça baixa, quase inaudível

O silêncio se fez presente por um instante, um silêncio carregado de tensão e emoções não ditas. Vicente, atordoado com a revelação, avançou abruptamente em direção a Nicole, desferindo-lhe um tapa cruel que ecoou pela sala. Em seguida, ele agarrou seus cabelos com violência.

— Como você ficou grávida, sua vagabunda!!!? Eu estava preso!!! Para de mentir... — Vicente gritou, sua voz ecoando com uma mistura de incredulidade e raiva.

Nicole, com o olhar paralisado, permaneceu em silêncio, as palavras presas na garganta diante da brutalidade da reação de Vicente. A dor das palavras não ditas pairava no ar, enquanto o sol continuava a iluminar a sala, testemunha silenciosa de segredos e verdades amargas.

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