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O DONO DE MIM

Capítulo 1

Xavier Bulgare 30 anos, vulgo Venom, dono do complexo do chapadão, frio e sádico não acredita no amor e fez do morro seu inferno particular.

*Xavier Bulgare

Sentado em meu escritório na boca termino de fazer a contabilidade dos livros caixa aqui do chapadão, a noite foi longa, mais um baile em que a nata da sociedade carioca cola na favela com intuito de se divertir, Não eu não falei errado, quando disse a nata quis me referir aos ricos esnobes que brotam todos os dias na minha área para acher a cara de cocaína, estou distraído com a papelada quando um dos vapores entra, olho para ele e a expressão séria em meu rosto é mais que o suficiente para ele saber que não gostei nem um pouco do fato de ter invado a porra do meu escritório.

— Salve chefia.

Abaixa a cabeça olhando para o rádio em sua mão.

— O GB mandou avisar que tá no mirante, um dos gambé veio buscar a grana e tá querendo subir.

Ainda em silêncio sinalizo para o menor vazar, abro a gaveta tirando dela minha semi automática carregada colocando na cintura, a verdade é que essa merda tá começando a virar bagunça desde que deixamos de mandar para o inferno esses cachorros do governo e começamos a fazer negócios com eles, nunca estão satisfeitos com o que damos, sempre querem mais e o único motivo para não terem terminado com esse fiasco de acordo é o fato de que me ter como aliado é muito melhor do que como inimigo, Subo na moto em direção ao mirante, na realidade aquilo deixou de ser um observatório a algum tempo, era bonito tá ligado, lembro do meu velho me levando lá quando moleque, hoje é a base de comando do tráfico, o lugar em que meus fogueteiros e vapores se reúnem para fazer a segurança, Desço da moto e no exato momento que me vê Leonel se afasta do grupo de vapores que o rodeia, GB passa as mãos pelos cabelos, anda em direção a ele com uma mochila nas mãos.

— Pega logo cara, se tu quer sair vivo do morro pega a grana e dá no pé.

Fala tentando colocar juízo na cabeça do policial corrupto diante dele.

— Eu já disse.

Ele grita como se quisesse que eu ouvisse.

— Não quero essa mixaria, os valores mudaram.

Paro diante deles, GB me olha sabendo exatamente o que vai acontecer.

— Chefia.

Fala com olhos cravados em mim, dá um passo para trás jogando a mochila.

— Vamos lá.

Olho para Leonel tirando a arma da minha cintura.

— Estava falando alguma coisa mas de onde eu estava não ouvi.

Aponto a arma bem no meio de sua testa e ele se encolhe.

— Tá se achando macho pra c@ralho seu filho da put@ mais nesse inferno só tem um rei e ele é louco e egoísta ao ponto de não dar a mínima para o que você quer.

Leonel engole seco, toda marra de policialzinho valente desapareceu como em um passe de mágica.

— Eu só cumpro ordens Venom, você sabe que o Marcone é quem dá as cartas.

— Não jogo cartas.

Me encara em silêncio.

— Se o seu patrão tem algo a dizer sabe exatamente onde me encontrar, vem ao meu morro, senta comigo no meu escritório e dependendo do que ele tem a me oferecer eu repenso nosso acordo, por enquanto o valor continua o mesmo, estou pagando mais que o justo pelo serviço de merda que ele tem feito.

Jogo a mochila e ele agarra, sai tropeçando nos próprios pés sem olhar para trás.

— Achei que ia mandar o cara prós braços do capeta Venom.

GB faz graça acedendo um cigarro.

— Eu vou.

faço o mesmo e ele me olha.

— Preciso desse imbecil e do babaca do Marcone vivos para o corre de amanhã tá ligado? a polícia não pode atrapalhar a invasão a casa dos russos, é um esquema importante Gutenberg, não vou permitir que haja furos.

Ele assente.

— O contato na mansão já deu a fita que precisávamos? O horário da troca de seguranças na guarita e o itinerário da pirralha?

— Não, O pato tá todo enrolado, chegou uma prima da garota ontem a noite e pelo que ele falou as duas não se desgrudam, talvez a gente tenha que trazer duas e não uma como o planejado.

Olho contrariado para GB, não gosto nem um pouco de ter meus planos frustrados por contratempos idiotas, o fato dele ser o único amigo que eu tenho é o que está salvando a pele do vacilão que ele protege.

— Vamos dar um jeito chefe, esse sequestro já é fita ganha.

Subo na moto enquanto ele e os vapores me encaram.

— É bom mesmo mermão, sabe que eu não perdou falhas, ou trazemos aquela garota para o morro amanhã ou seu primo pato vai arranjar a grana de um outro jeito, doze milhões lembra?

Ele assente.

— Foi o que ele disse que ela valia, arranco o coro dele se vacilar.

Gutemberg Frigari 25 anos, mais conhecido como GB, braço direito de Xavier e sub chefe do Complexo do Chapadão.

Capítulo 2

Kaya Chinaider

— Senhorita kaya.

Ouço a voz de uma das empregadas ecoar pelo quarto, são seis da manhã e por mais que eu queira não posso continuar dormindo, nessa casa tenho uma rotina a ser seguida, acordo todas as manhãs para minha aula de hipismo, as nove começam às lições de piano e antes do almoço mais umas das entediantes aulas de inglês, uma dama deve ser culta, e tudo isso nunca é o suficiente apesar da minha fluência em outros sete idiomas, uma garota da alta sociedade deve ter mais que um rosto bonito e uma conta bancária atraente, é o que papai sempre diz para tentar me convencer que o que faço todos os dias não passa de perca de tempo, tudo que eu queria era viajar o mundo, conhecer os mais renomados museus e teatros e ser mais que um rostinho bonito nos jantares e eventos da sociedade, ajudar em causas sociais e ser mais altruísta nunca foi o meu foco, não é interessante ou excitante como uma tarde de compras nos shoppings de Londres, na realidade nunca gostei de me misturar demais com pessoas que não são da minha classe, talvez algo incomum para as garotas da minha idade, papai não acha bobagem, diz que cada um tem o seu lugar em uma hierarquia, sou a herdeira de um dos maiores impérios de exportação na Rússia e ao lado do meu irmão Ryan irei assumir a empresa, não sei o motivo de termos nos mudado para o Brasil, não gosto desse lugar, tanto papai quanto meu irmão vivem viajando e sou eu quem acabou sozinha e entediada em um país de terceiro mundo que mal conheço.

Kaya Chinaider 18 anos, filha caçula de um dos empresários mais ricos da Rússia, mimada, inteligente e herdeira de um grande império.

Me levanto da cama andado até o banheiro, tomo uma ducha rápida e escolho no closet umas das roupas para aula de hoje, é sempre o mesmo uniforme apertado e desconfortável que odeio somente as cores alternam entre sem graça e ridiculamente cafona, Desço as escadas com os equipamento nas mãos, antes que chegue a sala um dos funcionários os toma para si.

— Senhorita.

Se inclina como em uma reverência, acho tudo tão exagerado e bobo, apesar de gostar de como isso me remete a realeza, arfo indo até a mesa de café da manhã, Lesly toma um suco de cor estranha do que acredito ser mais uma de suas dietas radicais, é magra de dar inveja apesar de não ser por meios inteiramente saudáveis, minha prima é uma das modelos mais requisitadas da Europa e mesmo assim é dona da autoestima mais baixa que já vi em minha vida, a seletividade alimentar que adquiriu com isso tem preocupado toda família.

Lesly Chinaider 20 anos, prima e melhor amiga de Kaya

— Acordada tão cedo?

Beijo seu rosto me sentando ao seu lado à mesa.

— Pensei em correr um pouco.

Ela diz levando o copo à boca.

— Não parece empolgada com a aula, se não gosta porque continua?

— Tente convencer o senhor Jeremiah Chinaider, é um homem irredutível Lesly, eu desisti de argumentar.

Mordo uma torrada saindo em seguida, o dia foi tão entediante quanto achei que seria, depois de horas andando de um lado para outro em clubes e escolas pela cidade chego novamente em casa, estou exausta, praticamente me arrasto pelas escadas quando minha prima caminha até mim.

— Achei que não fosse dormir em casa.

Segura nas mãos uma enorme vasilha de pipoca.

— Deus, diga que está planejando uma noite das meninas, preciso de uma boa notícia para hoje.

Ela sorri.

— Eu escolho o filme, o último era chato, você não tem bom gosto.

Sai indo em direção a sala enorme de cinema, corro para o meu quarto, tomo um banho e escolho um pijama confortável, a essa hora da noite os funcionários já foram dormir e somente a governanta fica na mansão, os quartos dos funcionários fica na parte baixa da propriedade então tanto eu quanto lesly temos privacidade para andar confortavelmente pela casa, me jogo no sofá trazendo para mim a vasilha de pipoca, lesly escolhe uma série legal, Assistimos Bridgerton por algumas horas quando eu ouço um barulho alto vindo da porta da frente,me assunto me sentando depressa, lesly já dorme e está agarrada a um travesseiro.

— Ei, lesly.

Chaqualho seu corpo mas ela não se mexe, me levanto calçando minhas sandálias, ando pela casa em silêncio, o lugar está escuro.

— Quem está aí?

Pergunto sem receber de volta qualquer resposta.

— É só coisa da sua cabeça, não seja boba.

Digo para mim mesma me repreendendo por minha mania de perseguição, ser filha de um cão de guarda atento e super protetor te torna alguém cuidadosa ao extremo, me viro voltando novamente para sala de TV quando meu corpo é agarrado por trás, minha boca é tapada e sou arrancada do chão, grito após morder forte seja lá quem está nas sombras.

— Faça isso novamente é arrancarei dente por dente dessa boquinha delícia.

Ele aperta minha bochecha, sua voz é rouca como nunca ouvi em minha vida, olho desesperada para a enorme montanha de músculos a minha frente, penso em gritar mais alto, mas só ai me dou conta, a casa foi invadida por um grupo grande de homens armados.

— Anda.

Ele me agarra pelo braço, Faz com que eu caminhe até o sofá onde Lesly já chora sendo amarrada por um dos capangas.

— Senta.

Ele ordena.

— Elas não entendem chefe, não falam nosso idioma.

Um dos homens se aproxima do grandalhão que me abordou, Ele parece ser o líder, me olha com uma expressão desconfiada assim que o rapaz termina de falar, o fato de seus rostos não estarem cobertos é o que me assusta, papai sempre diz que covardes cobrem o rosto é que a ausência de medo é perigosa.

— Onde estão os seguranças?

O líder pergunta e o Jovem a frente dele faz um sinal estranho, desliza o polegar pelo pescoço como se fosse uma faca.

— Ponham elas no carro.

Ele ordena, eu e Lesly somos amordaçadas e levadas para o veículo, a mansão está silenciosa como se estivesse completamente vazia, isso acende um medo agoniante em mim, o que será de nós? para onde esses homens estão nos levando?

Capítulo 3

* Kaya Chinaider

Tanto eu quanto Lesly estamos amarradas no banco de trás de um carro, meus olhos estão vendados e minhas mãos imobilizadas com abraçadeiras de plástico, Posso ouvir o choro da minha prima, é uma garota sensível e certamente está em pânico, um barulho alto de música toca do lado de fora, o carro para e uma voz rouca escoa.

— Salve patrão.

Um homem diz em tom respeitoso, mal consigo escutar o que estão falando.

— Peçam para arrumar o galpão, vamos levar as duas vagabun*das para lá.

Essa voz é a mesma do homem que me rendeu na mansão, O carro volta a andar e quando para o silêncio toma conta, sou arrancada do banco de trás do carro, e posso ouvir os gritos de Lesly, está desesperada repetindo insistentemente uma oração em russo que mal consigo entender.

— Cale a boca.

Um dos homens que nos acompanham a estapeia fazendo que caia ao chão, isso parece ter irritado alguém já que um barulho alto de algo se quebrando soa logo depois, um dos bandidos cai aos meus pés.

— Faça isso de novo e arranco sua cabeça, ninguém tem permissão para tocar nas garotas, estão ouvindo?

Ele grita alto, mesmo vendada sinto sua presença diante de mim, está parado na minha frente sua respiração ofegante como a de um animal selvagem, seu perfume amadeirado é forte e parece impregnado em minha pele, Suas mãos tocam o tecido que cobre meus olhos arrancando bruscamente.

— Podemos fazer isso do jeito fácil ou difícil loirinha.

Desliza o polegar pela lateral do meu rosto, é um homem enorme, tem boa aparência e traços bem desenhados que o tornariam atraente se não fosse a situação.

— Vamos começar com uma apresentação cordial e educada, não somos dois neandertais.

Permaneço em silêncio, um jovem magro e alto se aproxima, toca seu braço recebendo de volta sua atenção, não parece estranho mas do onde o conheço?

— Está esquecendo que ela não fala nossa língua patrão, a garota é russa.

O grandalhão assustador olha para ele de forma intimidadora, o rapaz se afasta tropeçando nos próprios pés, quase cai para trás.

— O meu amigo pato ali acha que você não fala meu idioma, eu no entanto sou um pouco mais esperto, todas as vezes que falo alguma coisa esse rostinho lindo ganha uma expressão diferente.

Estreito o olhar como se não compreendesse, ele sorri.

— Matem a outra garota.

Ele grita.

— Não.

Eu digo e ele ergue uma das mãos.

— Olhem só quem aprendeu a falar nossa língua.

Gargalha de uma forma assustadora, se aproxima do meu rosto sussurrando em meu ouvido.

— Vamos começar de novo Kaya.

Um arrepio percorre minha pele fazendo que eu me trema por completo.

— Sou Venom, o dono do morro e seu dono de agora em diante.

— O que quer da gente?

— Olha que pronuncia maravilhosa pato, para quem não falava ou entendia uma única palavra do que estávamos dizendo.

Debocha, um rapaz tão tatuado quanto ele se aproxima, sussurra algo e seu olhar se estreita em minha direção.

— Seu pai é corajoso.

Ele se afasta com as mãos nos bolsos.

— Deve ser alguém bem influente para reunir um exército tão rápido e vir até meu morro.

Caminha em direção a porta.

— Espero que ele não se importe em perder alguns homens, meus vapores vão acabar com eles.

Sai nos deixando sozinhas, as portas do galpão se fecham e o escuro invade o lugar, corro para Lesly que me abraça, sua boca está machucada, e ela soluça de tanto chorar.

— Calma.

Peço em súplica.

— Vai ficar tudo bem, papai irá nos salvar.

Digo tentando consola-la mas nesse momento nem eu estou acreditando nas minhas próprias palavras, o homem que acaba de sair por aquela porta grita a perigo de um jeito maligno e certamente não será fácil nos tirar dele, ao lado de Layla me deito em um colchão encardido no chão, a noite será longa e certamente é só o começo do inferno que nos aguarda.

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