Sou Daniel Armstrong, tenho 30 anos, atualmente moro na França, mas sou Brasileiro. Moro sozinho em um apartamento, minha mãe convivia comigo. Porém, infelizmente ela faleceu em um acidente de carro, após uma briga com meu pai Edward Armstrong. Minha mãe surpreendeu meu pai em um ato de traição com a minha tia, irmã da minha mãe. E nisso minha própria tia ficou grávida, e teve um filho de meu pai, que é meu irmão e primo ao mesmo tempo. Vai entender essa enrolada.
Meu pai que ainda está vivo, e que era um grande CEO rico, e uma presa fácil para as mulheres que amam o dinheiro e a vaidade, passou todos os seus bens pra mim e meu irmão Andrei Armstrong.
Alguns anos se passaram, e Andrei conheceu Adriana na empresa, e casou - se com ela. Andrei achou por bem viajar de volta para o Brasil, a esposa estava grávida, e queria ter seu bebê perto da família dela.
Hoje faz dois dias que Andrei saiu para sua ilha particular, em companhia da esposa. Assim que eles saíram, uma grande tempestade formou - se, e desde então, não voltaram e não tivemos notícias deles.
Estou sentado em minha mesa de escritório na empresa, lendo novamente a notícia postada dois dias atrás:
"Uma forte tempestade que iniciou - se pela manhã desta quarta-feira, atingiu várias casas de moradores. A notícia que temos é que 150 pessoas morreram soterradas, e outras 50 pessoas estão desaparecidas, contando também com o empresário Andrei Armstrong e a esposa Andreia Armstrong, que também estava em sua companhia. Amigos e conhecidos nos deram a informação de que o casal teria ido passar férias na ilha particular da família, e quando a tempestade começou, o iate do casal já estava em alto mar. A família....”
Com um movimento rápido dos meus dedos, tirei aquela notícia desagradável, eu não queria ter que ler tudo aquilo novamente. Fiquei ali no meu escritório por mais alguns segundos, e então surgiu-me a ideia de viajar novamente para o Brasil. Afinal, eu teria que saber sobre meu sobrinho de 4 anos, que ficou em companhia da Babá. Eu, como parte da família, não poderia deixar as coisas ficarem da forma que está.
Peguei meu celular, fiz algumas ligações importantes, inclusive, liguei para uma equipe especializada de buscas. Não vou ficar aqui de braços cruzados, esperando que essa tempestade acabe com nossa família de um dia pro outro.
Fechei meu notebook, peguei as chaves e deixei o celular cair dentro do bolso da calça.
Caminhei a passos largos até o elevador. Antes mesmo que eu pudesse apertar o botão para descer, Leila me chama:
— Senhor Armstrong, o senhor terá uma reunião com os contadores, daqui a uma hora. — me avisou segurando a agenda em mãos.
Soltei a respiração pesada e a olhei. — Pode adiar essa reunião Leila, tenho coisas mais importantes a serem feitas. — me virei para entrar no elevador.
— Mas senhor, avisaram que teria que ser hoje, o senhor Ferrari disse que teria que viajar hoje à noite. — disse parada em minha frente.
— Leila... — falei entre dentes. — Adia a reunião, para depois que o senhor Ferrari chegar da viagem dele, ok? Tenho muitas coisas pra serem resolvidas ainda hoje, e eu não posso adiar. — conclui entrando no elevador.
O elevador fechou as portas, e eu agradeci, porque mesmo eu falando para Leila adiar a reunião, a mulher parecia não entender minha linguagem.
Já na garagem, entrei em meu carro e segui para casa. Antes de viajar, eu queria saber o estado de saúde do senhor Edward, meu pai.
Após a notícia que saiu nos jornais e sites de internet, o senhor Edward passou mal, sofreu um ataque cardíaco, e tivemos que levá - lo ao hospital. Como tenho trabalhado bastante, contratei um cuidador para lhe fazer companhia, e ajudá - lo no que for preciso.
Quando sai da mansão, fui diretamente pro meu apartamento, arrumei minhas malas e viajei para o Brasil. Assim que coloquei os pés no solo, faltou pouco para eu derreter por conta do sol quente. No mesmo instante desejei retornar para França.
— Calor dos infernos. — comentei fazendo as pessoas olharem pra mim.
Meu segurança pessoal me acompanhou até o carro que estava à minha espera na saída do Aeroporto.
Entrei sem me importar com os falatórios que me rodeavam.
— Essas pessoas do Brasil nunca vão deixar essas manias deles hahahahah. — comentei gargalhando, fazendo meu segurança rir. — povo curioso e falador. — digo ajeitando meu terno social.
O carro seguiu pela estrada, algumas horas haviam se passado. Na verdade nem me importo com a hora, estava dentro do carro mexendo no meu notebook. Onde estou, estou trabalhando, não paro. A vida é assim, ela não para nenhum momento.
— Enrique, você não voltará à França hoje, ficará comigo até levar meu sobrinho comigo. — comentei com meu chofer sem olhá - lo.
— Sim senhor, como quiser. — respondeu ele.
Assim que cheguei na mansão, me sentei no sofá, e ali fiquei há mais de uma hora, no mais tardar, não vi a hora passar por estar em um lugar bem confortável.
— Senhor Armstrong. — falou Renata chegando próxima a mim, com uma bandeja de comida. — Não gostaria de merendar alguma coisa? — Ofereceu-me.
— Infelizmente não posso me dar ao luxo de perder mais tempo Renata. — falei, checando o horário no meu relógio de pulso. — Me leve até meu sobrinho. — exige, negando qualquer pedido que me fizesse atrasar ainda mais.
— Claro. — Renata colocou a bandeja sobre uma mesinha de madeira, ao lado do sofá e caminhou até o quarto, eu a segui até lá.
O quarto de meu sobrinho Arthur era bem decorado, paredes pintadas de azul, alguns desenhos de nuvens davam um ar de beleza ao quarto grande, ali havia vários brinquedos em prateleiras de madeira rústica, e cortinas brancas com azul. Olhei para aquele pequeno humano, deitado em sua cama em forma de carro de corrida, que dormia calmamente, feito um anjinho.
Me aproximei da cama, Arthur abriu os olhinhos azuis e me olhou, logo ficou agitado, seu rosto minúsculo se retorceu, como se estivesse bem estressado e irritado.
Fiquei observando seu jeitinho tão inocente, tão pequeno e já longe dos pais. Nunca passei por essa situação em minha vida, porém só vim passar essa dor quando perdi minha mãe e quando também fiquei separado do meu pai, mas ele não fazia tanta falta assim, porque nunca se fez presente em minha vida.
Meu irmão sempre teve um carinho enorme pelo filho, ele o venerava. Não sei porque é o único filho deles, mas eu fiquei admirado por esse amor que ele tinha por Arthur. Nosso pai nunca fez isso por nós dois. Me senti inadequado para cuidar de Arthur, eu peço a Deus que meu irmão seja encontrado logo para criar seu filho, eu não queria ter uma responsabilidade tão grande em minhas costas, não quero criar uma criança, não tenho tempo nem para mim.
Sou seletivo na minha vida, procuro sempre opções. Sou um solteiro convicto do que quero, e essa forma de ter filhos e casar no futuro não está em meus planos de vida. Amo minha vida tranquila, não precisava eu acabar com ela dessa forma.
— Arrume ele Renata, quero levá-lo o quanto antes. — pedi me levantando dali. — Ah! Fale pra babá dele vir falar comigo, por favor! — pedi, achei estranho não vê-la por perto, porque sempre estava cuidando de Arthur em tudo.
— Sim senhor. — disse pegando Arthur no colo.
Laura, a segunda governanta da casa, adentrou o quarto, caminhou até mim e me abraçou com suavidade, beijando minha bochecha.
— Sinto muito por esse incidente Senhor, nós todos estamos tristes por essa tragédia.
— Tenho esperanças de que meu irmão será encontrado, Laura. A esperança é a última que morre. — falei. — O tempo lá fora está impedindo a equipe por uma busca completa, acho que eles estão muito devagar, mas tudo vai dar certo. — falei, e ela assentiu.
— Já é alguma coisa, não é? Estamos todos orando pelo retorno deles, e que estejam bem. — completou.
— Por isso, estou ansioso para retornar à França, algumas equipes que contratei são de lá, tenho sempre que estar em contato com a base deles, a equipe daqui tem me dado notícias muito vagas.
— Você está certo. — disse Laura, olhando para meu sobrinho, que parecia entender tudo que estava acontecendo, mas estava animado em ver um rosto familiar por ali.
Assim que Renata terminou de aprontar tudo, peguei Arthur no colo e deixei um beijo casto em sua bochecha rosada, já até me esqueci quando foi a época que peguei uma criança no colo.
— Obrigado por organizar tudo Renata, fico imensamente feliz por saber que durante esse tempo, ele esteve em boas mãos. — agradeci.
No momento em que eu coloco Arthur no chão, a mulher que há muitos anos não via, adentrou no quarto e me olhou com feições pálidas, deduzi que ela ficou assim por me ver ali. Nunca fui com a cara de Katrina, não que ela tenha me feito algo ruim, mas sempre tem aquelas pessoas que o santo não bate com o santo da outra pessoa?
Pela última vez que eu a vi, ela era mais magra e um pouco sem graça, agora parece que o tempo fez a proeza de deixá-la linda, com curvas perfeitas que adorei perder meus olhos.
— É bom ter um bom motivo para ter acordado Arthur. — a mulher de olhos azuis me encarou, cruzando os braços na altura do peito.
— Katina... — chamou Arthur, estendendo os bracinhos para a babá. Ela pegou meu sobrinho no colo enquanto o olhava com carinho.
— Tenho sim, e muitos motivos, motivo esse que me trouxe e vai me levar de volta também. — falei, vendo ela me olhar com olhos estreitos.— Agora dê ele pra mim. — tirei Arthur de seu colo, mas logo ele chorou, chamando pelo nome da mulher parada à minha frente, que parecia não se intimidar com meu modo de olhá-la.
— Tudo bem meu anjinho, babá Katina, tá aqui, não se preocupe, esse gigolô é seu titio. — comentou a Katrina, fazendo carinho nos cabelos loiros do pequeno.
— Gigolô? Que palavra é essa? Por isso continuo a dizer, que o Brasileiro não tem limites. — a desafiei.
— Não pense em falar mal de nós Brasileiros, não é só porque você mora na França, que deixará de ser um de nós, você nasceu aqui, então pode ir cortando essa. — comentou, a mulher estava irritada, tanto que as bochechas estavam vermelhas de raiva. E não sei porque, mas eu amei vê-la daquela forma. Algo me diz que terei muitas surpresas pela frente, viveremos sob o mesmo teto, vou tirar proveito disso.
— Renata!? — chamei a governanta, que veio logo me atender. — É essa mulher que deram como babá pro meu sobrinho? — perguntei provocando-a.
— Sim senhor, Katrina está conosco há mais de três anos, senhor e...
— Tudo bem Renata, não precisa prolongar tanto a conversa, eu admiro que meu irmão, sendo tão estudado e culto, tenha colocado uma pessoa explosiva para cuidar de um Armstrong, isso não é possível. — provoquei.
— Eu estou aqui, ok? Não precisa falar nada com a senhora Renata sobre minha pessoa, senhor Armstrong, eu posso lhe informar tudo sobre mim mesma.
Ela disse mas calma, acho que ficou com medo de ser demitida.
— Olha, senhor Armstrong, não pode simplesmente chegar acordando o Arthur. Foi uma luta tê-lo feito dormir, já que passou noites acordado, perguntando pelos pais. — disse calmamente. — Ele passou dias sem comer, sem dormir direito, estava totalmente perdido. — concluí.
Prestei atenção em Arthur, que queria a todo custo sair dos braços de Daniel Armstrong. Sob meu olhar, ele o colocou no chão, enquanto Arthur explorava o quarto em busca de seus brinquedos.
— Ok, ok... Não precisamos discutir por isso. — disse sério, enquanto me olhava.
— Pra mim, já deu. Não quero mais discutir com você, Daniel Armstrong, ainda mais na frente de seu sobrinho.
Estávamos discutindo, até que Arthur começou a chorar. Corremos até ele, que havia caído sentado no chão. Fui pega desprevenida pelo movimento súbito, e fui incapaz de me esquivar de Daniel. No momento em que nos abaixamos para pegar Arthur no chão, nossas cabeças bateram uma na outra. O homem parecia ter cabeça feita de pedra, porque nem sequer fez cara feia. Já eu, minha vista ficou logo turva e perdi o equilíbrio. Porém, mãos potentes circularam pela minha cintura. Lentamente, a tontura foi passando. Arthur estava nos braços de Armstrong agora, e eu também estava. Senti minhas pernas fraquejarem.
— Você está bem, Katrina? — perguntou o homem me olhando. — Vou chamar um médico. — acrescentou.
— Tou quase melhorando. — falei, sentindo mais um pouco daquele corpo musculoso, colado ao meu. Arthur aproveitou que eu estava tão perto deles, e deitou sua cabecinha em meu ombro. Peguei ele em meus braços e o acalentei, pois choramingava.
— Me dê ele aqui, vamos verificar sua cabeça. — pediu ele preocupado, enquanto tirava Arthur dos meus braços.
Com ajuda de Armstrong, me sentei em um pequeno sofá que havia no canto do quarto. Renata adentrou o quarto e pegou Arthur dos braços de Daniel.
— Sua cabeça ainda dói bastante? — perguntou, me olhando com aquelas órbitas azuis.
— Só estou com uma pequena ardência. — falei. Me senti irritada por ter perdido a segurança daqueles braços fortes.
— Ficará bem, o Doutor deve estar a caminho.
Me sinto desorientada. Minha têmpora dói como um inferno, mas tentei segurar aquela dor. Alguns segundos mais tarde, o Doutor Ferrari, médico da família, adentrou o quarto, com um sorriso calmo, cumprimentando a todos.
Com cuidado, me examinou e me fez algumas perguntas:
— Você perdeu a consciência? — perguntou o Doutor, lançando a luz nos meus olhos esquerdos.
— Não, Doutor. — Tentei manter meu foco no Doutor, mas era impossível quando se tem um homem tão lindo como Daniel Armstrong em minha frente. O homem alto, de pele quase morena, me deixava desconcertada. Ainda mais quando ele observava o que o Doutor estava fazendo e mordiscava os lábios avermelhados, da cor de um tomate.
— Mas quase perdeu. — Daniel comentou, me fazendo lembrar dos seus braços fortes ao redor de minha cintura. Também me fez sentir novamente o cheiro de seu perfume típico, de homem cafajeste e sedutor. Ao me lembrar disso, minha cabeça começou a latejar no local da batida.
Ainda no momento em que eu estava sendo examinada, minha memória me faz lembrar de Andrei Armstrong. Conheço essa família há muitos anos. Tínhamos uma amizade de infância. Quando Andrei casou-se com sua esposa e ela descobriu que estava esperando um filho, rapidamente Andrei me contratou porque sabia que eu adoro crianças. Eu tinha esse amor por pequenos desde quando cuidava de meus irmãos. Minha mãe saía para beber e usar drogas, e eu, como a irmã mais velha de todos eles, sempre cuidei de cada um. Até o dia em que o conselho tutelar levou meus irmãos embora. Hoje não sei quem são. Eu só escapei porque naquela época consegui fugir para a casa de uma amiga, e fui levando minha vida adiante. Foi aí então que Andrei me contratou, e desde então trabalho e moro com eles.
Andrei, diferente de Daniel, é um homem muito sedutor, carinhoso e amoroso. Sempre dava atenção a Arthur quando estava em casa, e quando estava na empresa, sempre ligava para a mansão para saber como estava a esposa e perguntava o que ela queria, se queria sair, ou o que queria ganhar de presente. Era sempre assim. Já Daniel, é mais sério, gosta de ser sempre o centro das atenções. Dos dois, eu sempre achei Andrei mais simpático e cuidadoso.
Recordo-me quando éramos crianças e eu me machucava na brincadeira, Andrei me pegava em seus braços, me colocava em uma das calçadas e cuidava dos meus ferimentos, e Daniel nem se importava. Sempre foi assim! Hoje vejo que mudou bastante, ou estou enganada.
— A senhorita teve uma concussão leve. — Disse o Doutor. — E deve estar cansada. Recomendo que descanse um pouco.
— Ela descansa na viagem. — comentou Daniel, me fazendo olhar para ele com cara de espanto. Me senti tensa ao ouvir o que ele acabara de falar.
— Sei que está com pressa em retornar para a França, senhor Armstrong, mas acho que deveria esperar mais alguns dias. Arthur tem estado agitado demais por não ter os pais perto, e estando longe, seria muito difícil para ele. Creio que estando aqui, onde os pais lhe deram amor, seria um conforto a mais pra ele. — explicou o Doutor.
Aqueles olhos azuis me encaravam com desaprovação. Daniel me olhava como se eu fosse culpada pelo que o médico pensava, mas aquele olhar intimidador não me fez abaixar a cabeça. Continuei a encará-lo.
— Arthur tem dormido pouco, tem comido pouco, quase sempre tem chorado e tem ficado estressado. Nossa equipe tem feito um trabalho duro para manter seu sobrinho bem. Uma equipe de psicólogos tem conversado com ele, e claro, Katrina tem ajudado bastante. Não acredito que ele consiga viajar por dias. — concluiu.
— Daniel, aqui tem muitos quartos. Você pode se instalar em um desses, descansar um pouco. Amanhã pela manhã, vocês verão como Arthur amanhece, e qualquer coisa, partem sem nenhum problema. — comentou Renata, atraindo a atenção de todos para si. — Além disso, hoje à noite, avisaram que há riscos de uma forte chuva, o que pode dificultar o trânsito. Então, por que se arriscar, né?
— Tudo bem, ficarei essa noite. — disse Daniel. — Mas quero que Arthur fique comigo.
— Sem problema. — todos concordaram, inclusive eu.
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