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Será Que É Amor? | Tom Kaulitz | RESCREVENDO

1.

Clara nunca pensou que um simples “tá bom, eu vou” mudaria tanta coisa.
O sábado parecia igual a todos os outros. Trabalhou o dia inteiro no mercadinho da esquina com a mãe, organizando latas, limpando chão e empacotando compras.
À noite, tudo o que queria era tomar banho, vestir um moletom velho e se jogar no sofá com seu caderno de anotações. Seu maior prazer era escrever.
Quando escrevia, o mundo parava de pesar.
Mas, claro, sua melhor amiga Isabela tinha outros planos.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Você prometeu, Clara!
Gritou Isabela, já pronta, com maquiagem nos olhos e brilho até no cabelo.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Hoje é o show da banda que eu te falei! É em outra cidade, mas já comprei os ingressos e tudo. Vai ser incrível!
Clara suspirou, encostada na porta do quarto, usando ainda o uniforme do mercadinho.
Clara Müller
Clara Müller
Que banda mesmo?
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Tokio Hotel!
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Meu Deus, como assim você ainda não aprendeu esse nome?
Clara Müller
Clara Müller
Isa… eu nunca ouvi uma música deles
Confessou Clara, rindo.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Melhor ainda!
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Assim você vai sem expectativa e se apaixona na hora. Pelo som… ou por um deles
Disse com uma piscadinha.
Clara revirou os olhos.
No fim, ela cedeu. Não porque queria ir, mas porque queria ver a amiga feliz.
Isabela era do tipo que arrastava a gente pela mão e só soltava quando a aventura terminava ou dava muito errado.
A viagem até o local do show foi cheia de música alta e comentários animados da amiga.
Clara, como sempre, manteve-se mais quieta, olhando pela janela, pensando nas histórias que queria escrever, nos personagens que estavam nascendo na mente dela.
Quando chegaram, a multidão no lugar era quase sufocante.
Adolescentes de todas as idades gritando, segurando faixas, usando camisetas com rostos dos meninos da banda. Clara se sentiu deslocada.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Tenta curtir, por favor.
Disse Isabela, empolgada.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Olha que lugar incrível!
Clara só sorriu, tentando se contagiar.
Quando as luzes do palco se apagaram, a gritaria aumentou tanto que ela teve vontade de tapar os ouvidos.
Mas então, os primeiros acordes soaram, e quatro garotos subiram ao palco. Clara olhou com curiosidade.
O vocalista tinha um cabelo bagunçado e muita energia. O baterista parecia concentrado.
O baixista era o mais calmo. E o guitarrista… bom, ele era diferente.
Usava dreads juntamente com um boné é uma faixa, um sorriso meio travesso, e tocava com uma facilidade impressionante.
Devia ter quase a mesma idade dela. Clara não conhecia o nome dele, mas notou que várias garotas gritavam por ele. Algo como “Tom”.
Ela observou por alguns segundos. Era bonito. Tinha algo de despreocupado, uma confiança natural.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Aquele é o Tom.
Sussurrou Isabela, hipnotizada.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Eu casava fácil com ele.
Clara só riu.
Clara Müller
Clara Müller
Ele é só um garoto com um boné. Não vejo nada demais.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Você é impossível.
Respondeu Isabela.
Durante uma música mais lenta, Clara levantou os olhos do chão e encontrou os olhos do guitarrista.
Ele olhava diretamente para a plateia… ou melhor, para ela. Clara teve quase certeza.
Ela desviou o olhar no mesmo instante, sem sorrir, sem se abalar.
Não fazia ideia de quem ele era. E não se importava muito também.
Mas, do palco, Tom notou algo curioso: pela primeira vez, uma garota não parecia impressionada com ele.
E isso ficou na cabeça dele o resto da noite.

2.

O show tinha acabado. A multidão ainda vibrava, suada, rouca, com sorrisos no rosto e vídeos no celular. Isabela estava eufórica.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Que show foi esse?
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Eu tô tremendo Clara! você viu o Tom?
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Ele olhou para você, eu vi!
Clara apenas deu de ombros, segurando o casaco amarrado na cintura.
Clara Müller
Clara Müller
Acho que ele tava olhando pra multidão inteira, Isa.
Clara Müller
Clara Müller
Imagina quantas meninas gritaram por ele?
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Tá, mas nenhuma fez cara de “tanto faz” como você.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Aposto que você mexeu com ele.
Clara riu e começou a andar.
Elas seguiam com o grupo que saía do local, mas por algum erro na sinalização, acabaram entrando por um corredor lateral.
Nenhum segurança impediu, então seguiram em frente, achando que era a saída normal.
Clara Müller
Clara Müller
Acho que não é por aqui…
Disse Clara, olhando em volta.
O corredor estava mais escuro, com caixas de som encostadas nas paredes e portas de metal meio abertas.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Vamos só ver até onde vai.
Sussurrou Isabela, sorrindo como quem já sabia que estavam fazendo algo proibido.
Logo chegaram a uma área nos fundos, mais silenciosa, onde dava para ouvir risadas, passos apressados e até o som abafado de uma guitarra sendo afinada.
A movimentação parecia de funcionários e músicos. Era claramente a parte dos bastidores.
Clara Müller
Clara Müller
Isa, a gente tem que voltar. Aqui não é pra gente.
Mas antes que conseguissem se virar, uma porta se abriu ao lado delas com força, e alguém quase trombou com Clara.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Ops!
Disse uma voz masculina.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Desculpa, eu não vi você aí.
Clara deu um passo pra trás, assustada.
Era ele.
O garoto do palco. O tal “Tom”.
Agora sem boné e faixa, com os dreads soltos caindo pelos ombros. Suado, com a camiseta larga grudada no corpo e a guitarra pendurada nas costas.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Tá tudo bem?
Ele perguntou, encarando Clara com um sorriso discreto.
Ela assentiu.
Clara Müller
Clara Müller
Sim… eu só… acho que entrei na porta errada.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
A gente se perdeu.
Completou Isabela, tentando disfarçar o nervosismo.
Seus olhos brilhavam como os de uma fã que acabara de encontrar um pôster vivo.
Tom sorriu. Mas não olhou para Isabela. Seus olhos estavam em Clara. De novo.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Você é diferente.
Ele disse, do nada.
Clara franziu a testa.
Clara Müller
Clara Müller
O quê?
Tom kaulitz
Tom kaulitz
No show. Você me olhou…
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Mas não ficou gritando, nem filmando, nem desmaiando.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Foi estranho. E meio interessante.
Ela deu uma risada baixa.
Clara Müller
Clara Müller
Desculpa, eu só… nem sabia seu nome.
Clara Müller
Clara Müller
Ainda não sei, na verdade.
Tom pareceu surpreso.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Sério? Eu sou o guitarrista da banda.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Meu nome é Tom.
Clara Müller
Clara Müller
Prazer, Tom. Eu sou Clara. E essa é Isabela
Disse, apontando para a amiga, que quase desmaiava só de ouvir o nome dele.
Ele estendeu a mão para Clara. Ela hesitou por um segundo, mas apertou.
O toque foi rápido, mas suficiente pra fazer o estômago dela gelar um pouquinho.
Ele era só um garoto. Mas alguma coisa nele parecia… diferente.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Posso te fazer uma pergunta?
Ele disse, ainda olhando só pra ela.
Clara Müller
Clara Müller
Pode.
Respondeu Clara, cruzando os braços.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Por que veio ao show se não sabia quem eu era?
Ela sorriu.
Clara Müller
Clara Müller
Eu vim pela minha amiga.
Clara Müller
Clara Müller
Ela vive dizendo que eu preciso sair da bolha.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
E tá funcionando?
Clara pensou um pouco.
Clara Müller
Clara Müller
Talvez.
Tom deu uma risadinha e pareceu prestes a dizer algo, mas alguém chamou por ele dentro do camarim.
Georg
Georg
Tom! Anda logo, cara!
Ele fez uma careta e olhou pra Clara mais uma vez.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Você vai embora agora?
Clara Müller
Clara Müller
Sim. Já vimos o suficiente, acho.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Que pena.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Talvez a gente se esbarre de novo por aí.
Ela arqueou uma sobrancelha, rindo.
Clara Müller
Clara Müller
Só se você estiver no mercado do meu bairro, comprando miojo.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
Nunca se sabe.
Respondeu ele, piscando um olho antes de sumir pela porta.
Clara ficou parada alguns segundos, sem saber bem o que pensar.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
MEU. DEUS.
Sussurrou Isabela.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Você não tem noção do que acabou de acontecer!
Clara Müller
Clara Müller
Ele só falou comigo.
Disse Clara, tentando fingir indiferença.

3.

Já fazia dois dias desde o show. Clara tentava seguir a vida normalmente.
Ajudava a mãe no mercadinho, escrevia quando tinha tempo e ignorava o assunto “Tokio Hotel” sempre que Isabela tocava nele o que era, basicamente, a cada trinta minutos.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Você devia procurar ele nas redes.
Insistia Isabela, enquanto arrumavam prateleiras.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Aposto que ele te notou.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
De verdade.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Quem sabe ele já te mandou mensagem?
Clara bufou.
Clara Müller
Clara Müller
Ele nem sabe meu sobrenome, Isa.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Não precisa.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Você acha que eles não têm gente que acha isso em dois cliques?
Clara não respondeu. Estava mais incomodada do que queria admitir.
Desde o encontro com Tom, havia algo nela que não desligava.
A expressão dele, o jeito como ele falou com ela… Foi diferente.
Não era um papo de fã e ídolo. Era real. E, por isso mesmo, mexia tanto.
Quebra de Tempo […]
Naquela noite, depois de mais um banho e chá morno, ela ligou o computador.
A internet era lenta, fazia aquele barulhinho irritante, mas finalmente carregou.
Abriu seu perfil no Orkut para dar uma olhada nas comunidades de escrita e mensagens de leitores que comentavam suas histórias online.
Entre os recados, havia um de um perfil que ela nunca tinha visto.
O nome era só “T.”, com uma foto de boné preto e um fundo embaçado. A mensagem dizia:
Tom kaulitz
Tom kaulitz
“Oi. É você do show?”
Tom kaulitz
Tom kaulitz
“A Clara que não sabia quem eu era?”
Clara ficou paralisada por uns segundos.
Era ele?
Deve ser uma piada.
Ela clicou no perfil. Não tinha muitas informações, mas havia fotos que pareciam reais.
Algumas com instrumentos, outras em turnês. Só que nada óbvio demais.
Quase como se ele quisesse passar despercebido.
Isabela entrou no quarto sem bater.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Tô com fome.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Tem biscoito?
Perguntou, antes de notar a cara da amiga.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Que foi?
Clara virou o notebook para ela.
Clara Müller
Clara Müller
Lê isso.
Isabela arregalou os olhos.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
É ele. CLARA!
Isabela Garcia
Isabela Garcia
É o TOM.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Ele te achou!
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Como isso aconteceu?
Clara Müller
Clara Müller
Eu não faço ideia.
Clara Müller
Clara Müller
E agora?
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Agora você responde, óbvio!
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Mas com calma.
Isabela Garcia
Isabela Garcia
Seja legal. Seja misteriosa!
Clara respirou fundo. E respondeu:
Clara Müller
Clara Müller
“Oi. Acho que sou eu, sim.”
Clara Müller
Clara Müller
“E você é…?”
A resposta veio em minutos.
Tom kaulitz
Tom kaulitz
“Sou o garoto do boné e dreads.”
Tom kaulitz
Tom kaulitz
“O da guitarra.”
Tom kaulitz
Tom kaulitz
“Aquele que você ignorou.”
Ela mordeu o lábio, segurando um sorriso.
Clara Müller
Clara Müller
“Desculpa por não gritar seu nome.”
Clara Müller
Clara Müller
“Eu não sabia quem você era.”
Clara Müller
Clara Müller
“Ainda não sei muito, na verdade.”
Tom kaulitz
Tom kaulitz
“Isso é ótimo.”
Tom kaulitz
Tom kaulitz
“Todo mundo finge que me conhece.”
Tom kaulitz
Tom kaulitz
“Você não fingiu nada.”
Tom kaulitz
Tom kaulitz
“Gostei disso.”
Naquela noite, Clara ficou horas conversando com ele.
Sobre música, sobre livros, sobre como ela gostava de escrever, sobre o que ele sentia no palco.
Não foi uma conversa de flerte. Foi leve. Divertida. Natural.
Tom parecia mais diferente do que ela imaginava. Mais real.
E Clara, mesmo sem querer, sentiu algo se formando ali.
Uma conexão que não precisava de gritos, nem aplausos. Só palavras.

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