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De Volta Para O Amor

Capítulo 1

A noite em Natal estava vibrante. O Carnatal tomava conta das ruas, e a multidão, embalada pela energia contagiante do trio elétrico de Ivete Sangalo, se movia como um grande mar humano. O som da música pulsava no ar, e cada nota parecia empurrar o calor da festa para cima. Ali está Arthur, que caminhava entre os foliões, carregando um cooler de cervejas. Vendendo cervejas no meio da festa, ele enxugava o suor da testa e sorria para as pessoas que o cercavam. A noite estava cheia de sons, de vozes e gargalhadas, mas, de repente, uma voz sobressaiu sobre todas as outras. Era uma voz que ele reconheceria em qualquer lugar.

— Arthur! — Hellen surgiu no meio da multidão, ofegante, empurrando os foliões com delicadeza para se aproximar dele. — Eu preciso muito falar com você. É urgente!

— O que você está fazendo aqui, amor? — perguntou Arthur, ao sentir o toque dela, virou-se imediatamente, surpreso e preocupado.

— Eu não sei como isso aconteceu, Arthur. — Hellen segurava um pedaço de papel amassado na mão, seus dedos apertando-o como se ele pudesse desaparecer a qualquer instante. Ela hesitou por um momento, olhando para Arthur com os olhos marejados, antes de finalmente soltar a verdade que carregava com tanto medo. — Eu estou grávida

Aquelas palavras caíram como uma bomba no mundo de Arthur. Por um instante, o barulho da festa ao redor desapareceu. Apenas o som distante da melodia de "Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim" permeava o ar, tornando o momento ainda mais surreal. O rosto de Hellen estava sério, mas Arthur, ao processar a notícia, foi tomado por uma felicidade avassaladora. Seus olhos se arregalaram e, num impulso quase infantil, ele começou a pular de alegria, gritando como se o próprio céu tivesse ouvido a novidade.

— Eu te amo, eu te amo! — Ele jogou os braços para cima, rindo, completamente tomado pela euforia. — Eu vou ser pai! — bradou para a noite estrelada de Natal.

Num movimento rápido, Arthur puxou Hellen para um abraço apertado, e os dois se beijaram no meio daquela multidão como se não houvesse mais ninguém ao redor. O beijo foi longo, carregado de emoção, e os corpos dos dois pareciam se fundir naquele momento único, embalados pela música de Ivete, que preenchia o ar de forma quase cinematográfica. Mas quando o beijo finalmente terminou, Hellen deu um passo para trás, e seu rosto, que antes estava radiante, agora era marcado pela preocupação.

— Estou com medo, Arthur — confessou. — Nem sei como meu pai vai reagir quando souber disso.

— Nós vamos passar por isso juntos. Amanhã de manhã, vou à casa do seu pai e vou pedir você em casamento — Arthur sentiu a gravidade da situação se aproximando como uma sombra sobre eles, mas não hesitou. Pegou o papel que ela lhe entregou, sem olhar, e o guardou no bolso da frente.

— Não precisa... — Hellen hesitou, seus lábios tremendo ao tentar argumentar. — Além de trabalhar de pedreiro, você está aqui no Carnatal vendendo cerveja...

— Eu não quero saber! — Arthur a interrompeu, sorrindo com o mesmo entusiasmo de antes. — Eu vou! Eu te amo e quero casar com você.

Os dois se abraçaram como se fossem a única coisa que importava naquele momento. Ao redor, a multidão continuava a festa, mas para eles, o mundo tinha parado. Estavam juntos. E isso era o que bastava. Quando o primeiro raio de sol rompeu o horizonte, trazendo a luz do amanhecer sobre as dunas.

...(...)...

A manhã surgia em tons dourados sobre o bairro silencioso. O sol já brilhava sobre a cidade, mas dentro da casa, a atmosfera era densa como se o ar estivesse carregado de tempestade. Arthur e Hellen atravessaram a porta da sala em silêncio, os corações batendo forte, conscientes do peso da tarefa que os aguardava. Mariano, seu pai, estava sentado no sofá, como uma estátua, seus olhos penetrantes fixos nos dois. Em suas mãos, um copo de café esfumaçava, aquecendo a manhã fria. Hellen hesitou, mas Arthur, determinado, caminhou em direção ao homem rígido que tinha diante de si. Ele endireitou os ombros, sentindo o nervosismo pulsar em suas veias, mas não desviou o olhar.

— É com muito respeito que eu venho falar com o senhor — começou Arthur, sua voz firme, porém cautelosa. — Quero pedir a mão da sua filha em casamento.

O silêncio que se seguiu era ensurdecedor. Mariano, ainda sem dizer uma palavra, manteve os olhos fixos em Arthur. Seus traços não mostravam emoção alguma. Ele se levantou lentamente, seus movimentos calculados, e antes que alguém pudesse reagir, num gesto abrupto e violento, ele jogou o café quente diretamente sobre Arthur. O líquido escaldante atingiu o peito de Arthur, e ele deu um salto para trás, ofegante de dor.

— Ai! Tá quente! — gritou Arthur, esfregando a camisa molhada na tentativa inútil de amenizar a queimadura.

Mas antes que a dor pudesse se acalmar, algo ainda pior aconteceu. Com o movimento brusco, o papel que Hellen havia lhe dado na noite anterior escorregou de seu bolso, caindo ao chão com um som quase imperceptível. Arthur congelou por um segundo. Mariano, sem hesitar, abaixou-se para pegá-lo. Ao ler as palavras escritas no papel, o rosto de Mariano transformou-se de mera indiferença em uma raiva feroz.

— Então é por isso que você quer casar com minha filha? — ele rugiu, levantando a voz e erguendo o papel com desdém. — Você engravidou ela, não foi?

— Eu sou apaixonado por sua filha, — respondeu Arthur, com os olhos firmes, sentiu seu corpo enrijecer, sua voz mantendo-se firme, apesar da tensão crescente. — Quero me casar com ela porque a amo, não por obrigação.

A porta que levava à cozinha se abriu, revelando Clotilde, a mãe de Hellen, que se aproximou da cena atraída pela confusão. Seu olhar ia de Mariano para Arthur, e de Arthur para Hellen, sem entender o que acontecia.

— O que está acontecendo aqui? — ela perguntou, confusa.

Mariano voltou seu olhar raivoso para a esposa, como se as palavras fossem veneno a escapar de sua boca.

— O que está acontecendo é que a sua filha... — ele pausou, segurando as palavras, como se estivesse prestes a cuspir fogo. — ...a sua filha está grávida desse marginal!

Clotilde arregalou os olhos, surpresa, sem saber o que dizer. Antes que pudesse reagir, Hellen deu um passo à frente, sua voz embargada pelas lágrimas que agora se formavam em seus olhos.

— Mãe, pai, eu amo o Arthur! — Hellen implorou, a dor clara em sua voz. — Ele vai assumir esse filho, nós vamos enfrentar isso juntos.

Mas Mariano não estava mais em condições de ouvir. Seus olhos estavam cheios de fúria, e sem qualquer aviso, ele avançou sobre Hellen, o braço ergueu-se como um raio, e o tapa que atingiu o rosto dela ecoou pela sala. A força da agressão fez com que Hellen quase perdesse o equilíbrio, mas a dor maior não estava no físico. O olhar de choque e traição em seus olhos era evidente.

— Você não é mais minha filha! — gritou Mariano, agarrando os cabelos de Hellen com brutalidade. Ele a arrastou pela sala com violência, o coração de Arthur se partindo ao ver a mulher que amava sendo maltratada de forma tão cruel.

Arthur tentou correr para intervir, seus braços já prontos para puxar Hellen de volta, mas Clotilde, desesperada, o segurou com força.

— Mariano, para com isso! — implorou Clotilde, sua voz tremendo enquanto as lágrimas já corriam por seu rosto.

Mas Mariano estava cego pela ira. Ele empurrou Hellen porta afora, jogando-a no chão com um movimento brutal, como se estivesse jogando fora um fardo indesejado. A jovem caiu de joelhos, soluçando de dor e desespero. O grito dela perfurou o silêncio da manhã.

— Vai embora daqui!

A porta bateu com um estrondo, trancada por dentro. Hellen ficou do lado de fora, sozinha, aos prantos. Clotilde tentou seguir a filha, mas Mariano a empurrou para longe, trancando a porta e aprisionando Clotilde dentro da casa com ele. Por trás da porta, os soluços de Hellen ecoavam na rua vazia, como se fossem o único som no mundo. Arthur ajoelhou-se ao lado dela, abraçando-a com todo o carinho que tinha.

— Nós vamos passar por isso, Hellen, — Arthur sussurrou no ouvido dela, enquanto a apertava contra seu peito. — Eu prometo. Vem comigo agora —, sua voz suave, quase como um sussurro, mas cheia de firmeza. — Vamos sair daqui.

Hellen, ainda atordoada com tudo que aconteceu, ergue os olhos tristes para a casa que um dia foi o seu lar, e então ela finalmente toma uma decisão. Lentamente, segura a mão dele, deixando-se ser erguida. Os dois caminham de mãos dadas pela calçada, cada passo afastando-os da casa, mas aproximando-os de um novo começo. Arthur a guia com ternura, seu coração pesado pelo que acabaram de enfrentar, mas determinado a construir um futuro ao lado da mulher que ama.

— Vai ficar tudo bem, — ele murmura, enquanto seguem em direção à rodoviária.

Enquanto isso. A luz entra pela grande janela do luxuoso quarto de Albert Banksy, espalhando-se sobre a cama impecavelmente arrumada. Albert, um homem jovem e atlético, está se preparando para tomar uma ducha. Ele retira a camisa casualmente, revelando o físico bem trabalhado, e coloca uma toalha ao redor da cintura, se movendo com tranquilidade... De repente, o som do celular toca, quebrando o silêncio do quarto. O aparelho vibra em cima da cama, e Albert, ainda um pouco distraído, olha para o visor. Seus olhos se arregalam ao ver o nome no identificador de chamadas. Um sorriso se abre em seu rosto.

— Alô? — ele atende, a voz cheia de surpresa.

A voz do outro lado é familiar, mas há algo diferente, algo que Albert não ouvia há tempos.

— Ei, sou eu, Arthur, — a voz de Arthur soa, trazendo um misto de nostalgia e surpresa.

— Meu irmão! — Albert ri, cheio de entusiasmo. — Há quanto tempo! Que bom ouvir a sua voz!

— É ótimo falar com você também, — responde Arthur, sua voz carregada de emoções que só um irmão poderia entender. — Mas escuta, estou voltando para o Rio de Janeiro.

— Sério? Que notícia boa! A mãe vai ficar muito feliz!

— Eu sei... estou morrendo de saudades dela. Logo, logo, estarei aí. Agora eu preciso ir, tenho que comprar as passagens.

— Mas como você está? Como vai vir?

Houve um breve silêncio antes de Arthur responder de forma enigmática.

— A única coisa que posso dizer agora é que vocês terão uma surpresa. Estou indo com a mulher da minha vida.

O mistério nas palavras de Arthur deixa Albert intrigado. Ele tenta fazer mais perguntas, mas a ligação é encerrada abruptamente. Albert olha para o telefone, frustrado.

— Alô? Alô?

O tom de linha cortada ecoa na sala. Albert abaixa o celular lentamente, seu olhar ficando pensativo. Por alguns segundos, Albert permanece parado, refletindo sobre o que acabou de ouvir. Depois, ele se dirige ao banheiro, determinado a continuar sua rotina, mas agora com uma nova expectativa em sua mente... O vapor da água quente já envolve o banheiro espaçoso, criando uma névoa suave ao redor. Albert, debaixo do chuveiro, sente o calor relaxante da água escorrendo por seu corpo. Ele fecha os olhos por um momento, deixando-se levar pelo barulho da água e pela tranquilidade do momento. Sem que ele perceba, a porta do banheiro se abre silenciosamente.

Alessandra, sua noiva, entra devagar. Seu olhar fixo em Albert, ela observa o marido debaixo da água, seus olhos brilhando com uma mistura de carinho e desejo. Ela começa a tirar a roupa, sem fazer qualquer barulho, e, em poucos segundos, junta-se a ele no chuveiro. A surpresa se estampa no rosto de Albert ao perceber a presença de Alessandra. Ele abre um sorriso divertido, incapaz de conter a leve risada que surge ao ver o gesto inesperado da esposa.

— Sabia que você é maluca, né? — ele diz, ainda rindo, enquanto os dois se aproximam sob a água.

— Sim, sou maluca... por você, — responde Alessandra sorrindo de volta, com um brilho travesso nos olhos.

A distância entre eles se desfaz quando seus lábios se encontram, iniciando um beijo que começa suave, mas logo se intensifica com a paixão crescente. A água do chuveiro continua a correr, escorrendo sobre eles, enquanto o calor entre os dois aumenta. As mãos de Albert deslizam pelos ombros de Alessandra, e ela o envolve com os braços, puxando-o para mais perto.

No Rio de Janeiro, a luz do sol da tarde entrava pela enorme janela da sala de estar, iluminando os detalhes refinados do apartamento de Pilar, onde cada canto exalava sofisticação e poder. Ela, impecavelmente vestida em um elegante vestido de seda azul, estava de pé ao lado do carrinho de bebidas, mexendo um martíni com tranquilidade calculada. Com um olhar distante e um toque de sarcasmo em seu sorriso, levou a taça aos lábios, saboreando cada gole como se o gosto pudesse dissipar suas preocupações. A porta rangeu ao se abrir. Carlos, seu marido, entrou sem alarde. A tensão em seus ombros curvados e a expressão de quem carregava o peso do mundo passaram despercebidas por Pilar, que não tirava os olhos do líquido em sua taça.

— Ainda bem que você chegou — ela comentou com uma acidez quase disfarçada, quebrando o silêncio. — Sumiu por meses nessa viagem.

— Nossa filha... — sua voz estava rouca, quase sufocada pelo nervosismo — Alessandra ainda está de casamento marcado com o Albert?

— Para de me sacudir como se eu fosse uma garrafa de champanhe! — esbravejou, tentando manter o controle da situação. Respirou fundo, recobrando a compostura. — Sim, Alessandra ainda está de casamento marcado com Albert.

Carlos afrouxou os ombros e deixou escapar um suspiro que parecia carregar anos de angústia acumulada. Por um breve momento, ele pareceu aliviado, mas Pilar percebeu algo estranho, uma sombra por trás de sua expressão.

— Isso é bom... muito bom... Alessandra casar com Albert — ele disse, como se repetisse uma sentença para si mesmo, tentando acreditar nas palavras.

— O que está acontecendo, Carlos? — Sua voz agora era séria, exigindo respostas. — O que você não está me contando?

— Minha querida... é melhor você se sentar — ele finalmente disse, com a voz embargada.

— Eu estou muito bem de pé, Carlos! — ela gritou, impaciente, perdendo o controle que sempre prezava. — Fala logo! Desembucha!

— Nós estamos falidos. — Carlos respirou fundo, o ar parecia mais denso à medida que ele se preparava para a verdade que estava prestes a soltar. O peso de suas palavras já podia ser sentido antes mesmo de serem ditas. — Não temos mais um centavo. Somos pobres agora.

O mundo de Pilar desabou em um segundo. Tudo ao seu redor, os luxos, o brilho, a vida que construíra com tanto esforço, se desmanchava no ar. O rosto dela empalideceu, sua boca se abriu para gritar, mas antes que qualquer som pudesse escapar, seus olhos se reviraram. Com um grito alto, desesperado, ela desabou no chão, desmaiada. Carlos ficou parado, olhando para o corpo inerte de sua esposa, enquanto o eco do grito dela ainda reverberava pelas paredes da sala.

Lá fora, o sol alto do meio-dia atravessava os vidros empoeirados do terminal rodoviário de Natal, lançando faixas de luz sobre os poucos viajantes que passavam por ali. Hellen estava sentada sozinha em uma das cadeiras de plástico, o olhar fixo à frente, mas perdido em um turbilhão de pensamentos. Quando Arthur apareceu, sua presença forte e decidida a fez despertar de seus devaneios. Ele se sentou ao lado dela, o olhar firme, mas cheio de algo que Hellen não conseguia decifrar — uma mistura de seriedade e arrependimento.

— O que a gente está fazendo aqui? — ela perguntou com a voz trêmula, ainda visivelmente confusa e frustrada. — E onde você estava? Você demorou muito.

— Primeiro —, Arthur a olhou profundamente, buscando encontrar a resposta certa no meio daquela tempestade emocional. Seu semblante calmo contrastava com o caos que ela sentia. — Eu fui ligar para o meu irmão —, sua voz firme. — Depois, comprei duas passagens para o Rio de Janeiro.

As palavras de Arthur pairaram no ar por um instante, sem encontrar eco em Hellen. Ela abaixou a cabeça, sentindo as lágrimas começarem a correr pelo seu rosto.

— Hellen! —, Arthur se levantou e ficou diante dela, seu corpo projetando uma sombra sobre a cadeira onde Hellen estava encolhida. — Eu não sou pobre como você pensa. Eu sou rico... muito rico. Tenho dinheiro suficiente para tudo neste mundo!

— Por que você mentiu para mim? — Hellen ergueu o rosto entre lágrimas, incrédula, as lágrimas escorrendo por suas bochechas.

— Desculpa... — Arthur respirou fundo, buscando coragem para continuar, sem rodeios, seus olhos não se desviando dos dela. — Porque eu tinha medo de perder você

— E o que você pretende fazer agora? — ela perguntou, ainda sem conseguir entender o próximo passo.

— Vem comigo. — Arthur, decidido, se aproximou ainda mais, inclinando-se levemente para ela, seus olhos refletindo uma determinação inabalável. — Vamos para o Rio de Janeiro. Lá, a gente se casa... e, quem sabe, com o tempo, seu pai vai te aceitar de volta. — Ele fez uma pausa, esperando pela reação dela. — Você vem comigo?

— No momento —, Hellen sentiu o coração apertar em seu peito. — Você é tudo o que eu tenho. Vou para onde você for!

Sem hesitar, ela se jogou nos braços dele, abraçando-o com toda a força que ainda restava em seu corpo. O beijo que se seguiu foi mais do que um simples gesto de amor. De mãos dadas, eles caminharam pelo terminal em direção ao ônibus, prontos para deixar Natal. Quando o ônibus finalmente começou a se mover, Hellen olhou para a janela, vendo a cidade que deixavam para trás se tornar apenas uma lembrança no horizonte.

...(...)...

A estrada estava envolta em escuridão da noite quando o ônibus avançava, iluminado apenas pelos faróis. Dentro do veículo, um murmúrio de conversas e risadas se misturava ao som do motor, Hellen estava encostada no ombro de Arthur, mergulhada em seus pensamentos sobre o futuro. Arthur, com uma expressão relaxada, levantou-se de seu assento, sentindo a leve vibração do ônibus.

— Para onde você vai? — perguntou Hellen, sua voz curiosa quebrando o silêncio ameno do interior.

— Amor, vou ao banheiro. Volto já! — respondeu ele, sorrindo, enquanto começava a caminhar em direção à parte de trás do ônibus.

No entanto, a tranquilidade da viagem foi abruptamente interrompida por um barulho ensurdecedor. Um estrondo violento reverberou por todo o ônibus, o som do pneu estourando ressoou como um sinal de alarme. O motorista, surpreso, tentou controlar o veículo, mas a luta era em vão. O ônibus começou a capotar, a luz dos faróis piscando freneticamente, transformando o interior em um caos de gritos e desespero. As imagens se misturavam em uma sequência de movimento e som. Passageiros, antes despreocupados, agora estavam em pânico, suas vozes elevando-se em um clamor de horror enquanto o ônibus se desmantelava sob a pressão da força centrífuga. O metal se retorcia, o vidro estilhaçando-se, enquanto o ônibus finalmente se inclinava de lado, parando em meio ao silêncio.

Dentro do ônibus, Hellen, que jazia desacordada no chão, um corte profundo na cabeça, o sangue manchando sua pele pálida. A luz ao seu redor começou a escurecer, como se o próprio mundo estivesse perdendo a cor. Arthur, que se encontrava em cima de cacos de vidro, sua cabeça gravemente ferida. O sangue escorria pelo seu rosto, formando uma poça escura ao seu redor. Ele tentou se mover, mas a dor o paralisava, como se o próprio chão tivesse se tornado um peso insuportável.

— Hellen... — sussurrou ele, a voz fraca e tremulante, quase perdida entre os ecos da desgraça que os cercava.

A imagem de Arthur começou a congelar, enquanto a escuridão envolvia tudo ao seu redor. Os sons das sirenes se tornaram mais claros, mas estavam longe, como se chamassem por ajuda que nunca chegaria. Sua visão, antes focada, começou a se apagar. A tela se escureceu completamente, e o capítulo se encerrava...

Capítulo 2

O ônibus estava tombado no barranco, suas laterais amassadas, janelas estilhaçadas, e o cenário ao redor era caótico. O piscar intermitente das sirenes pintava a noite com flashes vermelhos e azuis, enquanto os gritos de pânico e o choro desesperado dos passageiros ecoavam no ar pesado. O cheiro de combustível misturava-se ao da terra úmida e ao sangue, criando um ambiente sufocante. No meio daquele inferno, Hellen estava caída, inconsciente. Um filete de sangue descia de sua testa, manchando seu rosto pálido. Seu corpo estava inerte, perdido entre os destroços e os cacos de vidro. Mais adiante, Arthur tentava se mover, a dor lhe cortando os sentidos como uma lâmina. Ele estava preso entre dois bancos destruídos, seus braços trêmulos, e a cabeça latejava com uma dor insuportável.

— Hellen... — sua voz saiu fraca, um sussurro desesperado.

— Alguém, ajude! Estamos presos aqui! — A voz de um dos passageiros se ergueu acima do barulho, carregada de medo.

Arthur parou, os olhos semicerrados pela dor, tentando manter o foco. Seus músculos falharam, e ele desabou, ofegante. O caos ao redor continuava, implacável... Do lado de fora, algumas pessoas que conseguiram se libertar dos escombros caminhavam trôpegas, suas roupas rasgadas e corpos cobertos de sangue e poeira. As sirenes se aproximavam, mas para os feridos dentro do ônibus, o tempo parecia congelado.

— A ambulância está a caminho? Precisamos de socorro! — gritou outro passageiro, sangrando na lateral da cabeça, sua voz cheia de urgência.

Arthur, sem forças para continuar, fechou os olhos. O som dos gritos e sirenes parecia distante agora, como se um véu pesado estivesse sendo puxado sobre sua mente. O som das sirenes ficou mais intenso quando as primeiras ambulâncias chegaram ao local, acompanhadas por caminhões de bombeiros. Os faróis cortavam a escuridão do barranco, iluminando o cenário de destruição que se estendia pela estrada sinuosa. Equipes de resgate saíam dos veículos, movendo-se com precisão militar enquanto corriam para salvar vidas.

— Precisamos de mais macas! Vamos organizar os feridos por gravidade! — gritou um bombeiro, sua voz firme cortando o caos.

Os paramédicos trabalhavam freneticamente, examinando os corpos caídos, tentando identificar quem ainda tinha chance de sobreviver. No chão, à beira da estrada, os feridos começavam a se acumular em macas improvisadas, enquanto outros eram atendidos ali mesmo, deitados na calçada, com cortes profundos e membros quebrados. A equipe de bombeiros, com rostos suados e concentrados, usava pinças hidráulicas para cortar as ferragens do ônibus tombado, em um esforço delicado e perigoso para libertar aqueles que ainda estavam presos.

Entre eles, Hellen foi cuidadosamente retirada dos destroços, seus olhos ainda fechados, o rosto sujo de sangue e poeira. Ela foi colocada em uma maca, o corpo inerte, e levada rapidamente para uma ambulância. Seus ferimentos eram graves, mas ela ainda respirava. Arthur, por outro lado, jazia ao lado dos escombros, imóvel. Os paramédicos se ajoelharam ao seu lado, verificando seu pulso, mas o rosto deles carregava a expressão fria da derrota. Ele não mostrava sinais de vida.

Enquanto isso, no alto do barranco, o som familiar de um helicóptero de notícias ecoou no ar. A equipe de uma emissora de TV chegou com rapidez, câmeras em punho, capturando cada detalhe da tragédia que se desenrolava. O repórter, de terno amarrotado pela pressa, começou sua transmissão ao vivo com o semblante sério, os olhos refletindo a gravidade da situação.

— Boa noite. Estamos ao vivo na cena de um grave acidente de ônibus que deixou mais de 25 mortos e 15 feridos. — a voz dele era fria, distante, enquanto o caos continuava atrás dele. — Estamos transmitindo agora no noticiário do LM que as equipes de resgate estão trabalhando duro para salvar os sobreviventes.

A câmera oscilou, capturando as ambulâncias em movimento, bombeiros ainda tentando arrancar os últimos passageiros dos destroços, e os paramédicos correndo de um lado para o outro. Hellen foi carregada para dentro da ambulância, sua respiração fraca e constante, enquanto Arthur continuava deitado, sem sinais de consciência. Os paramédicos ao redor dele já haviam começado os primeiros procedimentos de reanimação, mas o repórter, alheio à tentativa de salvá-lo, prosseguiu com a transmissão.

— Como vocês podem ver agora, alguns dos feridos conseguiram sair do ônibus, enquanto há pessoas inconscientes e algumas pessoas mortas. Nossa equipe acaba de receber a confirmação dos nomes das vítimas fatais, entre elas está Arthur Banksy.

A notícia caiu como uma sentença final, e a imagem se concentrou no rosto devastado de um dos familiares que chegava ao local, as mãos tremendo enquanto recebia a confirmação da morte de seu ente querido. Ao redor, as sirenes e os gritos pareciam diminuir, como se o tempo estivesse se arrastando em câmera lenta. A cena se desfazia lentamente em um borrão de luzes e sons, até que a escuridão tomou conta da tela.

Enquanto isso. A mansão dos Banksy estava mergulhada em um silêncio absoluto, com apenas o sutil farfalhar das cortinas movidas pelo vento noturno quebrando a tranquilidade. No quarto no andar superior, uma mulher dormia profundamente, envolta em lençóis de cetim. Seu rosto, sereno e despreocupado, de repente se contraiu em uma expressão de pavor. Sob suas pálpebras fechadas, os olhos se moviam freneticamente, como se tentassem escapar de algo.

O som de água borbulhando começou a surgir, distante no início, mas rapidamente crescendo, até se tornar ensurdecedor. Ao mesmo tempo, vozes ecoavam, indistintas e estranhas, como se chamassem por ela de um abismo. A mulher que é Cleide, tentava gritar, mas não conseguia. De repente, no meio do pesadelo, a figura de Arthur apareceu, estendendo a mão em sua direção. Ele parecia distante, os braços agitados enquanto tentava alcançá-la, mas a correnteza os separava. O desespero tomou conta de Cleide, o coração batendo forte em seu peito.

— Arthur! Me ajuda! — ela gritava, a voz afogada pelas ondas que a puxavam cada vez mais para o fundo.

Cleide acordou assustada, ofegante como se ainda tentasse escapar do pesadelo. Suas mãos agarravam os lençóis com força, e seu corpo estava coberto de suor frio. Levou alguns segundos para controlar a respiração, o coração martelando em seus ouvidos. Ainda ofegante, ela passou a mão na testa suada, tentando se recompor. O medo ainda estava preso em sua garganta, como um nó.

— Meu Deus! Mas que sonho terrível foi esse? — Cleide sussurrou para si mesma, olhando para as sombras das cortinas que balançavam lentamente. — E por que meu filho Arthur estava nele?

Em seguida, ela se levantou da cama, os pés descalços tocando o chão frio de mármore. Seu corpo ainda tremia levemente, e uma sensação estranha, quase premonitória, a envolvia. Cleide deixou o quarto, o medo no coração ainda mais forte do que antes, como se a sombra do pesadelo estivesse prestes a invadir sua realidade.

O corredor da mansão estava mergulhado em sombras enquanto Cleide caminhava rapidamente em direção à cozinha. Ela entrou na cozinha, iluminada apenas pela luz fraca da lua que atravessava as janelas. Com mãos trêmulas, abriu a geladeira e pegou uma jarra de água. Seus pensamentos eram um redemoinho de medo e confusão, o rosto de Arthur ainda vivo em sua mente. Quando Cleide se virou para a pia, algo mudou. Uma luz branca e intensa preencheu a cozinha de repente, tão forte que ela quase deixou a jarra cair. O brilho era quase insuportável, cegando-a por alguns segundos, até que seus olhos ajustaram-se. E então ela o viu.

Arthur estava ali.

Ele estava de pé, no meio da cozinha, sorrindo. Seu rosto parecia calmo, tranquilo, como se nada do que havia acontecido tivesse qualquer importância. Cleide paralisou. Seu corpo não conseguia se mover, os olhos arregalados pela surpresa e descrença. Ela piscou várias vezes, tentando confirmar se estava acordada ou se ainda estava presa em algum tipo de sonho bizarro.

— Mãe, eu te amo. Já está na hora de eu ir. — a voz de Arthur era suave, familiar, e ressoou profundamente dentro dela.

Cleide sentiu as lágrimas queimando seus olhos. Ela tentou falar, mas por um momento, nenhuma palavra saía. Estava presa entre a alegria de vê-lo e o desespero de perder algo que ela nem sabia que tinha perdido.

— Meu filho, para onde você vai? — ela finalmente conseguiu perguntar, a voz embargada pelo choro que começava a brotar.

Arthur deu alguns passos em direção a ela. O sorriso em seu rosto nunca vacilou, mas à medida que ele se aproximava, um vento frio e sobrenatural invadiu a cozinha. As portas se abriram com estrondos, e as janelas escancararam, deixando o ar gélido invadir o ambiente. O cabelo de Cleide esvoaçava, e ela envolveu os braços ao redor de si mesma, lutando contra o vento e a dor crescente em seu peito.

— Para um lugar onde todos nós vamos quando chega nossa vez! — Arthur respondeu, sua voz ainda calma, como se estivesse apenas aceitando algo inevitável.

— Não vai embora! — Cleide soluçou, as lágrimas correndo livremente por seu rosto. Ela deu um passo à frente, estendendo a mão para tocar o filho, mas ele estava sempre fora de alcance, como uma miragem que se dissipava no ar. — Fica aqui comigo! — ela implorou, a voz falhando em meio ao desespero.

— Não posso. — Arthur parou por um momento. Seus olhos, cheios de amor e compaixão, encontraram os de Cleide. Ele se inclinou para frente e, com um gesto delicado, passou a mão suavemente pelo rosto da mãe, secando uma das lágrimas que desciam por sua bochecha. — Agora eu tenho que seguir o meu caminho. Te amo, Mãe.

Aquele foi o último momento. A luz ao redor de Arthur começou a brilhar com mais intensidade, ofuscando toda a cozinha. Ele se afastava lentamente, sua figura tornando-se indistinta, até que não era mais que um feixe de luz branca que subia e se dissipava nas sombras. Cleide, em completo desespero, deixou a jarra de água escorregar de suas mãos. O vidro se chocou contra o chão, explodindo em mil pedaços, mas ela mal ouviu o som. Seus olhos estavam embaçados pelas lágrimas, e sua mente não conseguia processar o que acabara de acontecer.

— O que aconteceu com meu filho? — ela sussurrou, sentindo o peso da perda que acabava de ser confirmado. Arthur estava morto, e agora até sua presença fantasmagórica a havia deixado.

A dor no peito era tão intensa que ela mal conseguia respirar. A cozinha escureceu, as luzes ao redor parecendo se apagar enquanto seu corpo cedia à exaustão. Seus joelhos fraquejaram, e antes que ela pudesse lutar contra o desmaio, caiu no chão, desacordada, cercada pelos cacos de vidro.

Um apartamento estava mergulhado em um silêncio tenso, com exceção do som abafado da respiração pesada de Carlos. Ele estava agachado ao lado de Pilar, abanando-a desesperadamente com uma revista, na esperança de que ela acordasse. Após o que pareceram horas, o som da porta se abrindo preencheu o ambiente, quebrando o silêncio pesado. Alessandra entrou, sorridente, o rosto iluminado por uma felicidade que contrastava com o clima sombrio da sala. Ela carregava várias sacolas de compras, animada com seu dia, sem perceber a tensão no ar.

— Mas o que foi que eu perdi? — Alessandra perguntou, surpresa, ao ver sua mãe no chão e Carlos com a expressão abatida.

— Minha filha. — Carlos levantou a cabeça lentamente, seus olhos carregados de exaustão e frustração. — Isso é hora de você chegar em casa? — ele disparou, sua voz cortante e cheia de reprovação.

— Pai —, Alessandra, ainda alheia à gravidade da situação, deu de ombros e sorriu. — Estava na casa do meu noivo. E depois eu fui ao shopping, fiz umas comprinhas e assisti a um filme... nada demais!

— Parabéns, dona Alessandra! — Carlos, já à beira de explodir, começou a bater palmas de maneira sarcástica, seus movimentos tensos e sua voz gotejando ironia. — Sua mãe está tendo um piripaque e você fazendo compras, né?

A frase cortou o ar, e Alessandra ficou imóvel, a confusão estampada em seu rosto. Ela abriu a boca para retrucar, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, um gemido baixo veio de Pilar. A mulher começou a se mover lentamente, seus olhos piscando enquanto recuperava a consciência. Carlos, agora em pé, observava com um alívio crescente, esperando que ela estivesse bem. Pilar se levantou com dificuldade, o corpo ainda fraco. Seus olhos, no entanto, estavam cheios de uma raiva crescente. Ela olhou diretamente para Carlos, sua voz baixa e cheia de uma fúria controlada.

— O que aconteceu? — ela perguntou, sua expressão firme e exigente.

— Meu bem —, Carlos engoliu em seco, sentindo o peso da pergunta. Ele hesitou por um momento, mas antes que pudesse responder. — Você está melhor? Você passou o dia inteiro apagada!

— Carlos! — Pilar deu mais um passo à frente, sua raiva agora evidente em cada movimento. — Você vai me explicar tim-tim por tim-tim por que estamos falidos?

O impacto da pergunta fez Alessandra congelar no lugar, sua expressão de surpresa se transformando rapidamente em medo. Ela deu alguns passos hesitantes em direção aos pais, as sacolas de compras balançando ao seu lado, quase esquecidas.

— Pelo amor de Deus, tudo que é mais sagrado nessa terra, me fala que isso é mentira! — Alessandra exclamou, sua voz trêmula e cheia de pânico.

Carlos olhou para as duas, o peso do momento tornando cada palavra que ele precisava dizer ainda mais difícil. O olhar em seus olhos era duro, mas também carregado de arrependimento e tristeza. Finalmente, ele soltou a verdade que tanto evitara.

— Eu queria muito que fosse mentira, mas não é. — Carlos fez uma pausa, seu rosto pálido e abatido. — Nós somos pobres agora.

O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Pilar e Alessandra trocaram olhares incrédulos, como se as palavras de Carlos ainda não fizessem sentido. A realidade da situação demorava a se instalar, mas quando o fez, foi como um golpe no estômago. Pilar se jogou nos braços da filha, e as duas começaram a chorar desesperadamente, suas lágrimas compartilhadas pelo peso da perda. A vida luxuosa que elas conheciam estava desaparecendo diante de seus olhos. Carlos, incapaz de se juntar a elas, ficou parado, observando a cena com um olhar angustiado. O rosto das duas mulheres que ele amava estava desfigurado pela dor e pelo desespero. A sala de estar, antes um símbolo de conforto e riqueza, agora parecia pequena e opressiva, cheia de tristeza. Carlos se afastou, deixando Pilar e Alessandra abraçadas em meio ao caos emocional. Ele se aproximou da janela, o olhar perdido no horizonte noturno, enquanto a escuridão lá fora refletia a escuridão que agora pairava sobre sua família.

A luz suave do abajur lançava sombras tênues pelo quarto de Lorena, que estava sentada na cama, imersa em uma pilha de papéis que exigiam sua atenção. A noite avançava lentamente, e o silêncio da casa era quebrado apenas pelo farfalhar das folhas que ela manuseava, até que passos apressados ecoaram pelo corredor. A porta se abriu bruscamente, revelando André, ofegante e visivelmente abalado.

— Mãe, você não vai acreditar no que saiu agora na internet! — ele exclamou, o rosto marcado por uma expressão de urgência que Lorena raramente via no filho.

— Aí, meu filho, pra que essa correria toda? — perguntou ela, que levantou o olhar das folhas, franzindo a testa diante da agitação repentina.

— É porque, mãe —, eu fiquei sabendo agora mesmo de um assunto muito delicado daquela sua amiga rica! —, a voz trêmula.

— Sim, a Cleide. — Lorena franziu ainda mais o cenho, agora deixando os papéis de lado. Seu corpo ficou tenso, e a preocupação começou a se instalar de maneira mais profunda. — O que é que tem ela?

— Mãe, o filho do meio dela, o que foi embora de casa... ele morreu em um acidente de ônibus.

— Meu Deus, o Arthur morreu! — exclamou ela, a voz quase um sussurro. A incredulidade estava estampada em seu rosto, e seus olhos pareciam brilhar com lágrimas contidas.

André, ainda abalado pela notícia, se aproximou e mostrou o celular para Lorena, onde um site de notícias exibia a manchete trágica. Lorena leu rapidamente, seus olhos correndo pelas palavras duras e definitivas, enquanto sua mão subia involuntariamente para cobrir a boca, em um gesto de puro choque.

— Meu Deus, coitada da minha amiga! — ela repetiu, como se estivesse falando consigo mesma, tentando processar a profundidade da perda.

— Mãe, se você for lá na casa da Cleide, eu quero ir com você. Quero estar perto do Felipe. — disse André, a voz suave, tentando oferecer algum tipo de apoio.

— Amanhã a gente resolve isso. — Lorena respirou fundo, ainda lutando para processar a magnitude da notícia. Seu olhar estava distante, perdido em pensamentos. — Agora vai dormir, e não fale nada para o Felipe. — respondeu ela, com uma voz firme, mas baixa, como se precisasse de tempo para digerir tudo antes de enfrentar a realidade.

André acenou com a cabeça, respeitando o pedido da mãe. Ele deu meia-volta, caminhando devagar em direção à porta. Lorena ficou sentada na cama, os olhos fixos em um ponto distante. Sua mente estava cheia de lembranças de Arthur, de sua amizade com Cleide, e agora da dor insuportável que sua amiga estava prestes a enfrentar. As lágrimas que ela tentava segurar finalmente começaram a escorrer silenciosamente por seu rosto enquanto o silêncio da noite voltava a envolver o quarto.

...(...)...

O sol da manhã entrava suavemente pelas grandes janelas da mansão dos Banksy, iluminando o ambiente opulento da sala de estar. Felipe descia as escadas lentamente, ainda sentindo o peso do sono em seus ombros, quando um movimento incomum no andar de baixo chamou sua atenção. Ao chegar à sala, ele se deparou com uma cena preocupante: os empregados estavam reunidos em torno de sua mãe, Cleide, abanando-a enquanto ela permanecia desacordada no sofá.

— Mas o que aconteceu? — perguntou Felipe, a preocupação tomando conta de sua voz.

— Hoje de manhã —, uma das empregadas se aproximou dele, com uma expressão séria. — Encontramos a sua mãe desacordada no chão da cozinha.

— Meu Deus —, Felipe arregalou os olhos, surpreso e alarmado. — Eu vou levar ela para o hospital agora mesmo!

No entanto, antes que ele pudesse agir, Cleide começou a se mexer no sofá. Lentamente, abriu os olhos, ainda um pouco desorientada, mas forçou-se a sentar-se. Ela olhou para o filho e balançou a cabeça.

— Não precisa me levar para nenhum canto. Eu já me sinto melhor. — disse, tentando soar firme, mas sua voz estava frágil.

Felipe ainda estava preocupado, mas antes que pudesse insistir, Bruno entrou na sala. Ele mantinha a cabeça baixa, o semblante abatido, como se carregasse o peso do mundo em seus ombros. Ele trocou um olhar silencioso com a empregada.

— Chame o Albert, por favor. — pediu Bruno, sua voz grave e firme.

Cleide, notando o comportamento estranho do marido, franziu a testa, a preocupação crescendo em seu peito.

— Mas o que está acontecendo? — perguntou, aproximando-se de Bruno.

— É melhor você sentar. — Ele a observou por um momento, com olhos pesados de tristeza, incapaz de esconder a dor que começava a transbordar de dentro dele. — Eu tenho uma péssima notícia.

— O que está acontecendo? — Cleide hesitou, seus olhos ansiosos procurando por alguma pista no rosto de Bruno. — Me fala pelo amor de Deus!

— Arthur... — Bruno respirou fundo, suas mãos tremendo levemente enquanto tentava encontrar as palavras certas. Ele olhou para Cleide, o rosto tomado pela dor. — Ele morreu em um acidente de ônibus.

— Não, não, não... meu filho não. — Cleide chorou, seu corpo pareceu enfraquecer instantaneamente, e ela levou as mãos ao rosto, o desespero tomando conta de cada fibra de seu ser.

— O nosso filho se foi para sempre... — Bruno, que até aquele momento tentava manter o controle, também cedeu à dor. As lágrimas escorriam de seus olhos enquanto ele se ajoelhava ao lado de Cleide, compartilhando o luto imensurável que ambos sentiam.

Felipe, que até então estava em estado de choque, finalmente foi vencido pela tristeza. As lágrimas começaram a rolar por seu rosto enquanto ele se aproximava dos pais. Ele os observava se abraçarem, chorando juntos, e o desespero de perder um filho e irmão enchia o ambiente. A imagem parecia congelar no tempo, com a dor dos três transbordando de maneira quase palpável. O ambiente ao redor deles parecia escurecer lentamente, como se o mundo estivesse em luto junto com aquela família. O som dos lamentos de Cleide e Bruno ecoava, carregando a tristeza avassaladora enquanto o capítulo se encerrava...

Capítulo 3

A manhã começara silenciosa na mansão dos Banksy, mas a sala de estar agora era palco de uma dor profunda. Cleide e Bruno estavam abraçados, chorando, a dor e a descrença estampadas em seus rostos. A atmosfera era tão densa que parecia sufocar o ar. O choro abafado preenchia o espaço, enquanto as paredes, cúmplices silenciosas, guardavam o lamento da família. Felipe, aproximou-se com passos hesitantes, as lágrimas escorrendo por seu rosto.

— Pai, por favor... isso não pode ser verdade... o meu irmão não morreu! — Felipe soluçou, a voz trêmula quebrando o silêncio pesado da sala.

Nesse momento, Albert, atraído pela comoção, desceu as escadas com uma expressão de confusão e temor. Ao ver a família reunida em prantos, o coração dele disparou, e o rosto pálido revelava o medo de descobrir o motivo de tanta tristeza.

— Quem... quem morreu? O que está acontecendo? Por que vocês estão chorando? — Albert perguntou, a voz carregada de uma angústia crescente.

— Albert... o seu irmão, o Arthur... ele estava voltando para o Rio de Janeiro de ônibus... — Bruno ergueu os olhos para o filho. O olhar estava perdido, vermelho e molhado. A dor era evidente em cada traço de seu rosto, em cada linha de expressão endurecida pelo sofrimento. Respirou fundo, ele precisou de um momento para se recompor. — O ônibus capotou... e ele... ele não resistiu aos ferimentos.

— Quer um abraço do seu outro irmão? — Felipe murmurou, a voz suave e quebrada pela dor.

— Você sempre será o meu irmão... sempre! — Albert ergueu os olhos para Felipe, o olhar perdido e dolorido. Os dois se abraçaram, compartilhando um momento de conforto na dor, um elo ainda mais forte pelo luto que ambos sentiam.

Cleide, que assistia à cena em silêncio, estava destroçada. Mas, por trás das lágrimas, surgiu uma determinação inquebrável. Virou-se para Bruno e, com a voz firme, apesar da tristeza, expressou seu desejo.

— Eu quero ver o meu filho... agora mesmo! — declarou ela, e a intensidade em sua voz deixou claro que não aceitaria objeções.

— O corpo dele ainda está no hospital... depois vai para o necrotério — explicou Bruno, surpreso com a determinação de Cleide, a voz carregada de pesar.

— Não me importa onde ele está. Eu quero ver o meu filho! — insistiu Cleide, cada palavra impregnada de dor e amor de mãe.

— Tá bom... — Bruno suspirou, derrotado pela força de Cleide. — Vamos agora.

— Albert —, Bruno se aproximou de Albert, com um toque de cuidado e instrução. — Vá para a empresa... fique no meu lugar por enquanto.

Albert assentiu, ainda absorvendo a dor. Cleide, com o rosto molhado de lágrimas, ajeitou-se rapidamente. Felipe e Albert permaneceu sozinhos na mansão, o vazio tomando conta da sala.

Do lado de fora, a porta da mansão dos Banksy se abriu, revelando Bruno e Cleide com os rostos marcados pela dor e pelo cansaço emocional. Cleide segurava a mão de Bruno com força. Em seguida, ele olhou para ela, seus olhos transmitindo uma mistura de pesar e determinação.

— Eu vou dirigir, amor. Não se preocupe — ele disse, a voz baixa e firme, tentando transmitir segurança. — Vamos estar com Arthur em breve.

Cleide não respondeu. Apenas assentiu com a cabeça. Depois entraram no carro em silêncio, Bruno ligou o motor, e o som grave do carro foi a única coisa que quebrou o silêncio profundo que pairava sobre eles. Conforme o carro avançava pelo caminho, Cleide fixou o olhar na estrada, os pensamentos vagueando entre lembranças e a dor da realidade que a aguardava. A mão de Cleide permanecia entrelaçada à de Bruno, mas agora, era ele quem segurava com firmeza, tentando encontrar consolo em meio ao silêncio e ao sofrimento compartilhado.

Dentro da mansão dos Banksy, o silêncio era quase opressor, Felipe e Albert estão sentados na escada, imersos em sua dor. O único som era o choro contido de Albert, cada soluço ecoando pela sala. Albert finalmente ergueu o rosto, os olhos vermelhos e cansados. Sua voz saiu em um sussurro quebrado, quase inaudível, carregada de arrependimento.

— Eu... não consigo acreditar que ele se foi, Felipe... — murmurou Albert. — Eu deveria ter estado lá para ele.

— Ninguém podia prever isso, Albert... — respondeu Felipe, que observou o irmão, sentindo a mesma dor que parecia crescer a cada segundo, a voz suave mas firme. — Arthur sabia o quanto nós o amávamos.

Ele envolveu os ombros de Albert com o braço, e os dois ficaram ali, em silêncio, compartilhando a dor de maneira muda. Depois de um momento, Felipe respirou fundo, reunindo a força necessária para dizer o que sabia que precisava ser dito.

— Precisamos ser fortes agora, pelo papai, pela mamãe... e por nós.

— Você está certo... — murmurou Albert, limpando as lágrimas com a manga da camisa, assentindo devagar, tentando manter a voz firme. — Mas é tão difícil.

Felipe deu um leve aperto nos ombros do irmão, em um gesto silencioso de apoio, e os dois permaneceram juntos, sentados na escada.

Enquanto isso. O quarto de André estava iluminado pela suave luz da manhã, mas o ambiente era preenchido por uma sensação de urgência. Sentado na beira da cama, ele terminava de calçar os tênis com pressa, os pensamentos já distantes. De repente, a porta do quarto se abriu, revelando sua mãe, Lorena, com uma expressão surpresa ao vê-lo acordado tão cedo.

— Meu filho, para onde você vai tão cedo? — perguntou Lorena, a voz carregada de preocupação.

— Mãe, eu preciso muito ver o Felipe — disse André, que levantou o olhar, respondendo com um suspiro enquanto terminava de se arrumar, a determinação brilhando em seus olhos.

— Meu Deus do céu! A Cleide acabou de perder um filho, e você já quer ir pra lá assim tão cedo? — questionou Lorena, se aproximado, a surpresa se transformando em uma leve reprovação, num tom hesitante, como se temesse feri-lo.

— Ele é meu melhor amigo, mãe. — André suspirou profundamente, terminando de ajeitar os sapatos antes de se levantar. Ele foi até a mãe e segurou suavemente o rosto dela entre as mãos, transmitindo o carinho e a compreensão que sentia. — Ele precisa de mim... eu tenho que estar ao lado dele nesse momento difícil.

— Meu filho. — Lorena o encarou, uma mistura de surpresa e apreensão. — Eu sei que ele é seu melhor amigo, mas tudo tem limite, André...

— Fica calma, mãe. — Ele sorriu levemente, acariciando o rosto da mãe para tranquilizá-la. Em seguida, inclinou-se e deixou um beijo suave em sua bochecha. — Eu volto logo, tá?

Sem dar espaço para mais protestos, André se virou e saiu do quarto. Ela observou o filho partir em silêncio, incapaz de impedir o desejo de apoiá-lo. Em seguida, Lorena sentou-se na beira da cama, o olhar perdido na porta por onde André acabara de sair. As palavras escaparam de seus lábios, um reflexo de seus pensamentos mais profundos.

— Meu filho gosta demais do Felipe...

Os olhos de Lorena estavam levemente marejados. Lentamente, ela se afastou, deixando aquele quarto, imersa em uma mistura de amor, apreensão e intuição.

Na manhã silenciosa do apartamento de Pilar, o aroma do café preenchia o ar, mas a paz do momento era interrompida por uma reclamação impaciente. Pilar examinava o pedaço de pão em suas mãos, franzindo o rosto com desagrado.

— Olha, mas o que é isso? Parece mais um bloco de tijolo, de tão duro! — resmungou, batendo o pão na mesa para provar seu ponto.

— Ai, mami, eu não sei se vou aguentar ser pobre... — disse Alessandra, do outro lado da mesa, suspirou dramaticamente, levando a mão à testa como se fosse desmaiar, com um tom teatral, mas o desdém e a insatisfação eram reais.

— Minha linda e amada filha —, Pilar soltou uma risada baixa e lançou um olhar carinhoso para a filha. Tocou a mão dela com confiança, sua expressão cheia de um otimismo obstinado. — Você nunca vai ser pobre. Porque, depois que casar com o Albert, você será rica! Rica! — declarou Pilar, com a certeza de quem já planejara o futuro.

— Ai mãe! — Alessandra sorriu, mas ergueu o rosto com um ar de ofensa honrada. — Eu vou me casar com o Albert, não é por dinheiro, mas sim por amor — disse, tentando dar um ar romântico à situação.

Antes que Pilar pudesse responder, os passos firmes de Carlos ecoaram pelo apartamento. Ele se aproximou da mesa, e com um movimento brusco, jogou o jornal sobre ela. Pilar e Alessandra o olharam, surpresas.

— O que é isso, Carlos? — perguntou Pilar, franzindo a testa.

— O filho da família Banksy está morto — afirmou Carlos, que se sentou à mesa, sua expressão carregada de seriedade.

As palavras causaram um impacto imediato em Alessandra, que arregalou os olhos, levando a mão à boca em um reflexo de surpresa.

— Ai, meu Deus, qual deles? — perguntou Alessandra, ansiosa.

— O que fugiu de casa... — Carlos, sem tirar os olhos do jornal, continuou calmamente. — Arthur. Ele morreu em um acidente de ônibus.

Alessandra ficou em choque por um instante, antes de se levantar bruscamente da mesa, a preocupação estampada em seu rosto.

— Ai, meu Deus... eu preciso ficar ao lado do meu noivo nessas horas tão difíceis! — disse, já saindo apressada em direção ao quarto para se arrumar.

Carlos acompanhou a cena com um sorriso malicioso, que foi impossível de esconder. Pilar, percebendo a expressão no rosto dele, o observou com uma mistura de indignação e desconforto. Carlos por um instante, capturando o brilho cínico em seus olhos, enquanto Pilar permanecia em silêncio, absorvendo a notícia e a reação peculiar do marido.

O carro de Bruno e Cleide parou na entrada do hospital, suas luzes refletindo o exterior frio e impessoal do prédio. Cleide saiu do carro apressada, os movimentos trêmulos denunciando a angústia que pulsava dentro dela. A bolsa pendia frouxamente em seu braço, quase esquecida, enquanto ela olhava ao redor, como se o ambiente hostil lhe causasse um pavor que jamais imaginara sentir.

— Eu só quero ver o meu filho... — murmurou Cleide, a voz embargada pelo desespero. — Eu preciso ver o Arthur...

— Vamos. Eu estou aqui com você — disse Bruno, sem soltar a mão dela, respirou fundo, tentando reunir a força necessária para enfrentar o que estava por vir.

Eles adentraram o hospital juntos, o som de seus passos ecoando pelos corredores vazios e frios. Cleide, que olhava fixamente para a frente, seus olhos vidrados e marejados. Bruno, ao seu lado, mantinha uma expressão de seriedade profunda. Cada corredor que atravessavam parecia interminável, aumentando a angústia de ambos. Enfermeiros e médicos passavam apressados, mas nenhum deles parecia notar o casal desolado, como se fossem apenas duas sombras se movendo entre a pressa da rotina hospitalar.

Finalmente, chegaram à porta de uma pequena sala no final do corredor. A enfermeira que os guiava parou e, com um gesto silencioso e respeitoso, indicou a entrada. Cleide olhou para Bruno, e por um momento parecia hesitar, como se não soubesse se realmente estava pronta para enfrentar aquela terrível realidade. Ele acenou com a cabeça, incentivando-a, e juntos, cruzaram a porta... Dentro da sala, o corpo de Arthur repousava em uma cama, coberto por um lençol branco que mal escondia a fragilidade daquele momento. Cleide deu alguns passos vacilantes até o corpo, suas mãos tremendo ainda mais. Ela estendeu a mão para tocar o lençol, puxando-o lentamente, até revelar o rosto de Arthur. O choro abafado escapou de sua garganta, e ela levou a mão à boca, incapaz de conter a dor avassaladora.

— Meu filho... — murmurou, a voz quase irreconhecível pelo sofrimento.

Bruno colocou uma mão em seu ombro, o olhar pesado de tristeza, compartilhando a mesma dor que devastava a esposa. Ele fechou os olhos por um momento, segurando o choro, permitindo-se um breve segundo de fragilidade antes de abraçar Cleide, que desabava ao seu lado.

Enquanto, a luz da manhã entrava suave pelas janelas do apartamento de Pilar, iluminando os detalhes luxuosos e organizados do ambiente. Na mesa do café, ela mexia a colher na xícara de porcelana com uma expressão que misturava tédio e irritação. O silêncio foi interrompido por uma risada seca de Carlos, que se recostava na cadeira com um ar de superioridade quase teatral. Pilar olhou para ele, os olhos apertados e o cenho franzido. Não conseguia acreditar naquilo.

— Você não tem vergonha nessa sua cara, não? — Pilar disparou, inclinando-se um pouco à frente, sem disfarçar a irritação. — Ficar rindo da desgraça dos outros!

— Minha querida, — Carlos riu mais uma vez, agora com um toque de sarcasmo, arrastando as palavras com uma satisfação que fazia Pilar querer lhe atirar a xícara — em breve eu vou ser o presidente da empresa Banksy.

— O quê? — Pilar riu, um riso alto e debochado que ecoou pelo apartamento. Ela jogou o corpo para trás e apontou o dedo bem no rosto de Carlos, zombando da pretensão dele. — E como é que você vai ser presidente da Banksy, se o Bruno nem aguenta olhar pra tua cara? — desafiou ela, entre risadas.

— Digamos que eu tenho um pequeno segredinho do Bruno... — Carlos murmurou, com um tom malicioso e calculado, os olhos fixos nos de Pilar.

A expressão de Pilar mudou de imediato. O riso morreu nos seus lábios e uma sombra de surpresa misturada com apreensão cruzou seu rosto. Carlos, por outro lado, continuou rindo. Em seguida, Carlos ficou em silêncio, seu olhar se transformou. Um sorriso lento e enigmático surgiu em seu rosto, o suficiente para silenciar a risada de Pilar e deixá-la curiosa.

Já no a empresa Banksy, o ambiente era de expectativa contida. Albert entrou pela porta da frente, seus passos pesados ecoando pelo corredor. Ele caminhava devagar, como se cada passo fosse uma luta, e os olhares preocupados dos funcionários o acompanhavam. Ao chegar ao seu escritório, Albert parou por um instante, observando a mesa abarrotada de papéis e documentos que esperavam por sua atenção. Uma batida suave na porta interrompeu seu momento de introspecção. A assistente, com um olhar sério e solidário, entrou no escritório. Ela se manteve à porta, respeitando o espaço do chefe.

— Albert, se precisar de algo, estou aqui para ajudar. Sinto muito pelo seu irmão, — disse ela, a voz suave, mas carregada de empatia.

— Obrigado... preciso de um momento. Pode me deixar sozinho? — ele respondeu, a voz quase um sussurro, carregada de um cansaço que parecia ter se instalado em sua alma.

A assistente acenou com a cabeça, compreendendo a necessidade dele, e saiu, fechando a porta atrás de si com um cuidado quase reverente. Assim que ficou sozinho, Albert finalmente se permitiu desmoronar. Com um gesto brusco, ele colocou a cabeça nas mãos, lutando contra as lágrimas que ameaçavam transbordar. Ali, sentado à mesa que antes era um símbolo de poder e controle, ele se sentiu vulnerável e perdido. Os papéis à sua frente tornaram-se um borrão, e as lembranças invadiram sua mente.

Do outro lado, uma mulher chamada Heloísa estava em seu quarto, a energia da manhã envolvia-a enquanto ela se preparava para sair. Vestida de maneira elegante, com um sorriso empolgado nos lábios, ela se posicionou diante do closet, retirando uma bolsa grande e preta que parecia ser a companhia perfeita para seu dia.

— Tá na hora de eu trabalhar! — exclamou, quase animada, enquanto imaginava as oportunidades que o dia poderia trazer.

No entanto, ao se dirigir para a porta, um som familiar interrompeu seu ímpeto: a televisão. Heloísa hesitou, atraída pela voz da âncora, que apresentava uma reportagem que fez seu coração parar. Ela se aproximou, seus passos se tornando lentos e cautelosos, e sentou-se na beira da cama. Quando as imagens de seu sobrinho Arthur começaram a passar na tela, seu sorriso se desfez, dando lugar a uma expressão de surpresa e tristeza.

— Nossa, meu sobrinho morreu... — murmurou, a realidade do que havia acontecido batendo em sua mente como um martelo. — Minha irmã deve estar arrasada!

A gravidade da situação a atingiu como um tsunami. Heloísa se levantou, seu corpo inquieto, enquanto caminhava de um lado para o outro, o coração pesado de preocupação por Cleide, sua irmã. Após alguns momentos de reflexão, uma decisão firme começou a tomar forma em sua mente.

— Eu tenho que me encontrar com a Cleide... — Heloísa falou, sua voz carregada de determinação. — Ela é minha irmã, precisa do meu apoio!

De repente, Heloísa guardou a bolsa grande e preta de volta no closet, decidindo que as obrigações profissionais poderiam esperar. Rapidamente, ela trocou de roupa. Sem hesitação, Heloísa saiu do apartamento, cada passo em direção à mansão dos Banksy carregado de empatia e a esperança de que sua presença pudesse trazer algum conforto à sua irmã em um momento tão devastador.

O clima no hospital era tenso e pesado quando Bruno e Cleide entraram no consultório do médico, os corações pulsando em um compasso lento, atormentados pela dor da perda. A recepcionista os conduziu pelo corredor, e ao abrir a porta do consultório, o silêncio parecia ecoar em seus ouvidos. Eles se sentaram, e Bruno, com um gesto decidido, tomou a iniciativa.

— Aqui estão os documentos de Arthur. Queremos agilizar o sepultamento, — disse ele, sua voz grave revelando a urgência da situação.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu com o filho de vocês, — falou o médico, ao observar a tristeza estampada no rosto do casal, sentiu a necessidade de oferecer palavras de empatia.

— Eu acabei de ver o meu filho — disse Cleide, segurando as lágrimas que ameaçavam escapar, interrompeu o silêncio com um pedido carregado de emoção.

— Eu sei que está sendo muito difícil para vocês. — O médico hesitou por um momento, e continuou. — Vocês não quer saber sobre a saúde da moça?

— De quem você está falando? — questionou Cleide, que ficou confusa, o olhar se desviando para Bruno, que também parecia perplexo. Ela voltou o olhar para o médico, buscando respostas.

— A mulher que estava com seu filho no ônibus... por sorte, ela sobreviveu e não perdeu o bebê, — revelou o médico, suas palavras cortando a névoa de tristeza com uma inesperada luz de esperança.

Cleide e Bruno trocaram olhares de surpresa e confusão. Cleide sentiu uma onda de emoções percorrer seu corpo. Lentamente, ela se levantou da cadeira, um brilho inesperado começando a surgir em seus olhos, enquanto um sorriso suave começava a tomar conta de seu rosto.

— Meu filho... não se foi completamente. Ainda vai ficar uma parte dele aqui na Terra com a gente! — exclamou Cleide, a emoção pulsando em cada sílaba, como se uma nova vida estivesse sendo infundida em seu coração despedaçado.

A imagem de Cleide, radiante e esperançosa, se destacava em meio à escuridão que a cercava, e, enquanto a cena ao redor começava a escurecer lentamente, a luz de sua revelação iluminou aquele momento sombrio. A cena congelou, capturando a essência da esperança e da renovação, e o capítulo se encerrava...

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