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Seduzindo Sr. Cooper

CAP. 1

*Pov. Melanie Mille**r*

Um dia de cada vez Mel, um dia de cada vez.

Fico repetindo essa frase para mim mesma, desde que acordei, é sempre assim, toda segunda-feira, a vontade tremenda de ir até o RH e pedir a maldita conta, mas aí eu lembro que tenho despesas demais para me dar ao luxo disso algum dia acontecer.

Desde que descobri minha doença, diabetes tipo 1, custos elevados e cuidados específicos é que me restam, obviamente não ganho suficiente para tudo isso, o pouco que consigo é para manter os cuidados básicos e por enquanto está dando certo, pelo menos me mantém viva.

Atravesso pela multidão no metro, segurando minha bolsa com firmeza a minha frente, antes que algum engraçadinho tente novamente me roubar, assim que consigo por sorte sair intacta, respiro fundo ao ar livre na rua e de imediato avisto o prédio da Cooper's, deve ser o maior do bairro, treze andares, vidros por toda parte, encaro o último andar onde o poderoso Diabo solta todo o seu fogo, meu corpo estremece só de pensar em encara-lo por mais uma semana, meu chefe, Senhor Martin Cooper.

Caminho até a empresa que é do outro lado da saída do metro onde Carolina Bishop me espera na porta com dois milagrosos copos de café, pelo bom Deus ela sempre tem a capacidade de fazer isso, já que eu nunca consigo.

— Bom dia princesa - diz sorrindo enquanto me entrega um dos copos com o emblema "sem açúcar" estampado no mesmo — você parece acabada — diz segurando a porta para que eu entre e ela vem atrás logo em seguida.

— Bom dia — resmungo e tomo um grande gole do café entrando no elevador vazio atrás dela —é porque eu estou, eu odeio esse emprego, odeio acordar cedo, odeio ter sido presenteada com diabetes, odeio meu chefe ranzinza — suspiro tomando outro gole do café e olho para ela que sorri enquanto espera o meu desabafo — são muitas coisas para se odiar.

— Então porque não pede a conta? — Carolina responde apertando o botão do último andar e me encara querendo segurar a risada.

Eu a encaro, seu sorriso desaparecendo aos poucos, ela sabe muito bem porque eu não meti o pé dessa empresa ainda.

— Engraçadinha! — resmungo tomando outro gole do meu café.

— E aí, qual vai ser a aposta dessa semana? — diz mudando de assunto.

Eu e Carolina nos conhecemos a algum tempo, e sempre que possível brincávamos de apostar, era sempre algo idiota, tal como quando saímos "aposto que você beija aquele homem", brincadeira infantil, eu sei, normalmente era alguém muito feio, nunca havia realmente uma recompensa, era só apostar por apostar, por mera brincadeira, para nos distrairmos e darmos muita, muita risada.

Com o tempo as coisas foram ficando mais legais, passamos a fazer isso uma vez por mês, como se fosse uma rotina, cada vez mais difíceis, era como se fosse nosso hobby, mas ultimamente estamos a nisso quase toda semana, desafios e apostas semanais, o que fazem nossa semana ser mais divertida, pelo menos para mim.

A aposta da semana passada foi de Carolina, uma coisa muito idiota, diga-se de passagem, eu não tenho muita criatividade para essas coisas, quanto mais fazemos, mais difícil está sendo arranjar desafios diferentes.

— Você já pensou em algo? Porque eu não tenho ideia — respondo quando o elevador para no nosso andar, descemos juntas e paramos no meio do corredor onde nossas vidas se separam, drasticamente, eu vou para o

inferno e ela para o céu.

— Hmmmm, posso pensar em algo até o final do dia — diz sorrindo e levanta o copo de café para mim, eu encosto meu copo ao dela como um brinde, um ato singelo que fazemos todas as manhãs - boa sorte com o Diabo, te vejo na hora do almoço.

— Até.

Respondo sorrindo enquanto ela se afasta, cantarolando e indo para o seu canto feliz ao lado do filho do chefe.

Evan Cooper, a cara do seu pai, literalmente, o que diferencia é Evan ser novo e super simpático, pelo menos aqui na empresa, Carolina teve a sorte de ter ficado com o cargo de assistente dele, enquanto eu, fico com o carrasco do pai, Martin Cooper.

Respiro fundo reunindo forças do além para poder ir até minha mesa, desejando mentalmente que os Deuses me abençoem e o Senhor Cooper milagrosamente esteja de bom humor, eu mereço uma segunda de flores e corações ao invés de reclamações e xingametos.

Sigo pelo corredor extenso até avistar a minha mesa ao fundo, bem ao lado da sala do Diabo, olho rapidamente para a sala dele que está vazia, por Deus cheguei antes que ele.

Suspiro aliviada jogando o copo de café vazio no lixo, dou a volta em minha mesa e começo a colocar minha bolsa no armário.

— Atrasada Miller — a voz grossa que eu tão bem conheço soa, respiro fundo e reviro os olhos antes de me virar para ele.

Senhor Cooper está parado na frente da minha mesa, com seu habitual terno preto no mesmo tom da camisa e gravata, ele segura sua pasta em uma das mãos enquanto a outra está no bolso, seus olhos claros me fitando cautelosamente, ele está carrancudo, por Deus eu só pedi uma segunda! Uma! O cabelo com alguns fios brancos perfeitamente penteados para trás, a barba rala também com alguns fios brancos está maior do que de costume.

Antes de responde-lo confiro as horas no relógio do meu pulso 07:45, meu horário é a partir das 08:00 então tecnicamente não estou atrasada, mas sim adiantada, eu poderia explicar isso para ele e comprar uma briga e talvez ganhar uma carranca e xingamentos a mais o dia todo, então decido deixar isso para lá, apenas dou um sorriso amarelo e o comprimento.

— Bom dia Senhor.

Ele me encara perfeitamente ciente do meu sarcasmo em olhar o relógio e responde-lo com o bom dia ao invés de retrucar, seu rosto completamente sério, nem um sorriso, nada, é impecável, me deixa desconfortável.

— Cinco minutos e vamos repassar a agenda — diz e se adentra a sua sala me deixando aqui completamente irritada com o seu jeito mandão e sem noção.

— Claro Senhor de todo o inferno — resmungo baixo para que ele não me escute enquanto termino de arrumar minhas coisas.

Ligo o computador e pego a agenda dele antes que berre peloescritório e sigo para sua sala segurando a mesma contra o peito, um bloco de anotações, alguns documentos que ele precisa assinar e minha caneta, entro na sala que está aberta apenas dando três batidas leves na porta como faço geralmente.

Ele, como de costume, olha para mim por cima dos óculos que usa para leitura, tirando toda a sua atenção dos inúmeros papéis, indica a cadeira a sua frente sem expressar nada, nem um suspiro, um sorriso, uma outra carranca, absolutamente nada.

É tão difícil decifra-lo, ele nunca fica feliz?

Sento-me em sua frente e coloco as coisas no canto da mesa devagar, da última vez que eu derrubei alguma coisa dessa bagunça de mesa fui obrigada a aguentar ele na minha cabeça por quase a semana toda.

— Já acabou Miller?  — Pergunta testando a minha pouca paciência.

Encaro ele sentindo meu rosto começando a pegar fogo, não de vergonha, longe disso, mas de raiva, como esse homem pode me tirar do sério assim, com poucas palavras e tão cedo?

Respiro fundo tentando me controlar para não jogar a agenda no meio da sua fuça, na minha cabeça ela já estourou seu nariz enquanto eu saí da sala rindo, mas na real, estou aqui com a agenda aberta sob a mesa revisando com ele as reuniões.

Senhor Cooper apenas me escuta enquanto eu repasso os seus afazeres, que vai de reuniões online a reuniões presenciais, encostado em sua cadeira com o óculos apoiado sob a mesa e as mãos cruzadas sob o seu peito, parece bem relaxado em me ouvir matracando igual uma idiota enquanto ele apenas balança a cabeça concordando.

Em algum lugar eu sinto que ele já sabe tudo isso, só me faz repetir para me infernizar, ele não demonstra, mas por dentro eu acho que deve estar gargalhando da minha cara de idiota.

Repasso as últimas informações e documentos que precisava assinar, já cansada de tanto tagarelar, me mexo desconfortável na cadeira quando uma leve tontura me atinge, disfarçadamente confiro as horas no celular, 08:30, hora do remédio.

— Antes de ir, anote por gentileza na agenda, dia 25 de maio, casamento de Evan — Senhor Cooper pede quando eu já me levanto, ele não olha, seus olhos já estão presos nos papéis novamente.

Evan vai casar? Com quem? Eu nunca o vi com ninguém, e não me lembro de Carolina ter mencionado alguma vez que ele tinha alguma namorada, muito menos noiva, e em tão pouco tempo, só falta dois meses!!

— Evan vai casar? — solto sem querer, fecho os olhos me repreendendo mentalmente por ter sido enxerida e já espero alguma patada, mas é diferente, pelo menos dessa vez.

— Ao que parece sim, o babaca engravidou a namorada, agora decidiu que precisa casar — Senhor Cooper responde, mas sua atenção ainda está presa na sua mesa, quando não respondo ele volta a me olhar,  novamente por cima do óculos —não que isso seja da sua conta.

Ótimo! Estava demorando.

— Me desculpe.

Reviro os olhos quando ele para de me olhar e saiu da sala tentando manter a compostura, fechando a porta atrás de mim e indo direto para minha mesa.

— Boa semana Melanie, que linda segunda-feira! — resmungo baixo ironizando o meu péssimo humor enquanto tomo o remédio.

A manhã pareceu ter demorado um século para passar, eu sinto como se já fosse horário de ir para minha casa e finalmente descansar, mas mal passou do meio período, Senhor Cooper não saiu da sua sala nem por um segundo e milagrosamente não me chamou para nada, todas as suas reuniões agora de manhã eram online, então por Deus um pouco de folga do seu mau humor.

Encaro o relógio no computador 11:59 o minuto mais demorado de toda a minha vida, espero ansiosamente o minuto virar para eu finalmente sair correndo dessa mesa e ir encontrar Carolina na cozinha.

Assim que o relógio vira, abro o Skype e envio uma mensagem ao Senhor Cooper como faço todas as manhãs.

*Melanie Miller** "Vou sair para almoço, o Senhor precisa de alguma coisa antes que eu saia?"*

*Martin Coope**r "Não"*

Reviro os olhos com a mensagem, ele poderia pelo menos algum dia na sua vida me desejar um bom almoço  talvez quem sabe. Nem parece a idade que tem, velho e sem educação.

Levanto rapidamente e pego minha marmita dentro da bolsa, devido a minha ilustre doença minha alimentação é regrada então, nada de comida do refeitório, eu mesmo faço tudo.

CAP. 2

Assim que entro no refeitório avisto Carolina sentada em uma das mesas, no canto, próximo à máquina de refrigerantes, ela já tem uma salada enorme na sua frente, e come como se não estivesse com fome nenhuma, eu sorrio para ela enquanto me sento a sua frente.

— Sabia que Evan vai casar? — pergunto enquanto ajeito as minhas coisas, e ela dá uma garfada na comida, apenas balança a cabeça em um sim me encarando — por que não me contou? Fiquei sabendo hoje!!

— Eu também fiquei sabendo hoje — diz por fim — aliás ele convidou nós duas, os convites estão na minha bolsa — fala como se fosse a coisa mais natural do mundo enquanto eu a encaro.

— Nós duas?

— Sim ué, meu chefe é legal, não é igual ao seu — diz com um enorme sorriso no rosto o que me faz estremecer e revirar os olhos apenas em mencionar o carrasco — falando nisso, como ele está essa manhã?

— Terrível, como sempre, não sei, parece que ele não tem um dia bom sabe? É estranho — resmungo dando uma garfada em minha comida e colocando na boca.

— Você sabe o que dizem, ele já era ruim, depois que a esposa morreu, ficou pior.

— Eu acho que ninguém pode salvar esse homem do mau-humor, já deve ter nascido de cara fechada, milagrosamente Evan não tem nenhum traço do mau-humor do pai, pelo ao contrário, é extrovertido até demais — nós duas damos risadas concordando com a cabeça enquanto continuamos a comer — Mas me diz, já pensou na aposta?

Carolina enfia uma batata frita na boca e fica encarando o nada atrás de mim, ela sempre faz isso, quando está se matando para pensar em algo, sorrio para ela já sabendo que se tem essa concentração toda é porque não pensou em absolutamente nada.

— Ainda não — diz por fim rapidamente e volta a se concentrar em mim — mas podemos pensar em algo, na sexta.

— Na sexta? — pergunto curiosa terminando minha pequena e simples refeição — o que tem sexta?

— Nós vamos à boate nova lembra? Aquela que estamos a meses enrolando para ir.

Faz três meses aproximadamente que ela me enche o saco que quer ir na Desaire, a nova boate que abriu na cidade a algumas quadras da empresa, ouvi dizer muito bem de lá, várias pessoas já nos contaram que gostaram de estar lá, umas delas, Evan Cooper, vive elogiando e estingando Carolina que lá há várias mulheres que ela iria gostar.

— Você só quer ir lá porque Evan está elogiando as mulheres que frequentam esse lugar — Ela sorri maliciosa para mim comendo a última batatinha, eu reviro os olhos e rio baixo — sua safada!

— Fico feliz em saber que é esse tipo de palavras que você vive dizendo na empresa — a voz do Diabo soa atrás de mim.

Carolina fica vermelha igual ao um pimentão, com os olhos arregalados e a boca cheia, mal conseguiu engolir a última batata, seus olhos presos na pessoa atrás de mim.

Sinto meu corpo congelar e o arrepio subir pela minha espinha, ferrada e demitida, esse será meu nome a partir de hoje, mal consigo virar para olhar para a cara dele, que com toda certeza está mais carrancuda que o normal, me viro devagar na cadeira até dar de cara com ele.

Perfeitamente alinhado como sempre, agora sem o terno, apenas com a camisa preta totalmente justa em seu corpo, meus olhos sobem por ele até encontrar os seus que fervem em cima de mim.

— Me desculpe Senhor...

— Não tenho tempo para suas desculpas Miller, esteja pronta em minha sala em cinco minutos — pronta? Para o que exatamente? Como se soubesse ler meus pensamentos ou talvez minha cara de confusão continua — aparentemente o Senhor Polaki gostou demais da minha assistente e exigiu que ela estivesse na reunião de hoje, então seja rápida.

Senhor Cooper esbraveja antes de correr os olhos pelo refeitório onde estão todos totalmente paralisados com a sua presença e encarando ele, posso sentir a tensão emanando pelo seu corpo, seus olhos voltam a me encarar e é como uma onda de choque me atingindo que me faz levantar depressa da cadeira, posso jurar que quase vi um sorriso no canto dos seus lábios, mas seria muita ilusão minha, da mesma maneira que chegou, ele se vai.

Reúno minhas coisas rapidamente sob a mesa sem nem dar tempo de lavar, sussurro para Carolina até mais tarde enquanto ela recobra a consciência e volta a sua cor normal, sorri para mim e acena quando passo pela porta seguindo o senhor de todo inferno que pisa rápido pelo corredor.

Eu só consigo alcançá-lo quando para na frente do elevador, chego ao seu lado um tanto quanto nervosa e o coração batendo forte no peito.

— Eu espero que não precise ir te buscar novamente Miller — diz parando na frente do elevador e acionando o botão várias vezes como se fosse adiantar e vir mais rápido.

— É meu horário de almoço — retruco sem saber de onde veio tanta coragem assim, engolindo em seco encarando as portas do elevador que estão imóveis na minha frente.

Sinto o olhar dele em mim, e pelo reflexo das portas posso ver seu rosto virado em minha direção, a irritação dele nesse momento é quase palpável, como um som alto no corredor quieto que me faz pular o elevador chega

ao andar do refeitório, é como uma salvação no meio do caos.

Entro no mesmo rapidamente e evito olhar para ele quando entra logo depois e para minha surpresa se posiciona atrás de mim, quase posso sentir a sua respiração bater no topo da minha cabeça, me mexo desconfortável sob os saltos desejando logo poder sair daqui e é exatamente isso que faço quando chega ao nosso andar, o último, pulo do elevador como se estivesse pegando fogo.

Os passos precisos dele atrás de mim é alto e novamente eu acho que pude escutar uma risada vindo dele, mas me recuso acreditar que seja algo desse tipo.

Chego em minha mesa rapidamente guardando minhas coisas no armário enquanto ele entra na sala e sai em segundos com a pasta na mão e o casaco do terno pendurado no outro braço.

— Se arrume, pegue suas coisas e me encontre no estacionamento — pisco os olhos algumas vezes enquanto o fito, Cooper fica parado me encarando por alguns segundos, pode ser pela minha doença ou pela fome que ainda sinto, mas estou tendo ilusões, principalmente quando ele sorri, é como se eu tivesse tomado outro choque, estou paralisada, nunca vi isso vindo dele, um sorriso por mais que seja breve e singelo, ele existe — seja rápida Miller — é a última coisa que diz antes de virar de costas e sumir pelo corredor.

CAP. 3

Desde que saímos da empresa ele está quieto e mal me olha, seus dedos se movem no celular depressa, quase me perco no tanto de coisas que faz ao mesmo tempo, enquanto digita algo tem outra pessoa no telefone em ligação.

O escritório do Polaki fica em média de meia hora a quarenta minutos de carro, então desde que entrei aqui sei que o caminho seria longo, só não imaginava que seria assim, tão desconfortável, o ar parece denso e o desconforto é quase palpável, não sei o que dizer ou como agir, estar com ele num carro fechado é como andar em ovos, todo cuidado é pouco.

Fico com o celular na mão vasculhando qualquer coisa apenas para me distrair desse clima terrível.

— Por que você traz sua comida? Não gosta da que servimos na empresa? — levanto o olhar do meu celular para ele que está sentado ao meu lado, mas para minha surpresa ele não me olha, seus olhos estão presos em seu telefone, digitando algo depressa, as sobrancelhas enrugadas como se estivesse concentrado no que faz.

Eu nunca contei para ninguém a não ser Carolina sobre minha doença, e para ela ainda foi um caso específico porque me encontrou caída no chão do banheiro da empresa alguns dias depois da nossa contratação, foi assim que nos conhecemos e viramos o que somos hoje, inseparáveis.

Mas de tantas perguntas que ele poderia me fazer, escolhe essa? Sobre meu almoço?

— Eu tenho uma dieta regrada — respondo brevemente tentando não desmerecer a refeição que a empresa oferece, que parece ser ótima, mas eu infelizmente me limito a algumas coisas, volto a atenção ao meu celular que vibra em minha mão, nova mensagem de Carolina.

— E por quê?

Sua pergunta me surpreende, levanto o olhar do telefone antes de abrir a mensagem, agora Senhor Cooper me olhava, curioso, os olhos parecendo mais claros do que hoje de manhã, uma ruguinha se formava entre os olhos, sorriu para ele dando de ombros.

— Eu só gosto de me cuidar — minto, ele ainda mantém o olhar em mim pelo que parece ser uma eternidade e então o meu telefone vibra de novo em minha mão, o silêncio do carro faz a vibração poder ser ouvida, ele desce o olhar para minhas mãos e então volta a olhar para o seu telefone sem dizer mais nada.

Confiro a tela do celular de novo, outra mensagem de Carolina, abro as duas.

(Carolina) - "tudo bem?"

(Carolina) - "me dá um sinal de que está viva, porque na minha cabeça ela já te matou e jogou em uma vala no meio do caminho"

E riu baixo com sua mensagem e respondo rapidamente.

(Melanie) - "Estou bem, ainda viva, não se preocupe"

Garanto para ela antes que mande alguns carros de polícia atrás de nós, pode parecer ridículo, mas Carolina é louca, eu não duvidaria menos que isso dela, nem por um segundo, certa vez ela me fez ficar parada na frente da casa da sua ex namorada por mais de 4 horas em um sábado à noite, apenas para podermos ter certeza de que ela dizia a verdade, que não iria sair porque estava doente, e no fim, a pobre coitada estava realmente ruim.

— Seu namorado não te deixa em paz nem na hora do trabalho? — a voz do Senhor Cooper volta a ser grossa e séria me tirando totalmente do meu devaneio, subo o olhar para ele que está encostado no banco do carro, os braços apoiados sob o colo, as mãos juntas, enquanto me encara completamente carrancudo.

— Eu não tenho namorado — respondo simplesmente e começo a enfiar o celular dentro da bolsa, melhor não cutucar o leão com vara curta, já tomei demais para um dia só.

— Namorada talvez? Bishop?

Sorrio para ele segurando a risada, não seria a primeira vez que confundem nossa amizade com um relacionamento amoroso, mas ele me perguntando isso é realmente engraçado.

— Não, sem namorada também — rio baixo me ajeitando no banco no carro, o clima agora parece um pouco melhor, não tem tanta tensão, e eu acho que é a primeira vez que isso acontece entre nós dois pelo menos — Por que tantas perguntas pessoais?

— Não são tão pessoais — diz simplesmente dando de ombros.

— São sim — respondo firme e rapidamente, Senhor Cooper novamente dá aquele leve sorriso e se mexe desconfortável no carro, eu olho pela janela conferindo quanto tempo ainda falta para chegarmos, escuto ele bufar e volto a olhá-lo que rapidamente diz.

— Querer saber porque leva almoço não é tão pessoal assim Miller — continuo encarando ele que novamente se mexe desconfortável.

— Depende do ponto de vista, é que o Senhor nunca me perguntou nada que não seja relacionado a sua agenda de trabalho, agora me pergunta sobre o almoço, relacionamento e orientação sexual — sorrio para ele tentando parecer descontraída, até porque eu não liguei pelas perguntas.

— Ok, me desculpe, não quis ser invasivo.

— Está tudo bem, eu não ligo em responder — dou de ombros sorrindo e novamente a vibração do meu celular agora na bolsa é ouvida, ele desce o olhar para a bolsa.

— Se não tem um namorado há alguém que está querendo ser — fala subindo o olhar para mim devagar o que me faz queimar.

— Antes fosse — respondo e solto uma risada baixa um pouco nervosa enquanto vasculho a bolsa — é só Carolina querendo garantir que estou viva — deduzo pegando o aparelho dentro da bolsa bagunçada e como esperado uma mensagem dela, mas não era nada de mais, apenas algumas figurinhas engraçadas.

— Porque ela precisaria garantir isso? — pergunta me encarando, seus olhos me fitam diretamente e eu preciso desviar o olhar para poder espantar a vontade de sair correndo da sua frente.

— Porque é Carolina — sorrio sem jeito me esquivando da sua pergunta, vejo quando engole em seco e seus olhos descem para os meus lábios e após parecer uma eternidade volta a me encarar me deixando completamente tonta.

Depois desse momento estranho, passamos algum tempo sem nos falar, o caminho para o escritório de Polaki é longo, tinha total ciência disso quando entrei nesse carro, mas depois dessa pequena conversa o caminho parece ter ficado mais longo.

Em poucos segundos o clima fica tenso de novo e desconfortável, Senhor Cooper não para de me olhar, seus olhos correm pelo meu corpo todo e eu sinto as maçãs do rosto ficarem vermelhas algumas vezes, desvio o olhar rapidamente quando encontra os meus e um sorriso leve brota em seus lábios de novo, tento me concentrar na paisagem que passa depressa pela janela.

O silêncio dentro do carro é gritante, então criando coragem decido quebrar o clima estranho.

— Sabe, em três anos que trabalhos juntos, eu acho que essa é a primeira conversa civilizada — digo sem olhar para ele, meus olhos fixos pelas árvores que passam depressa ao nosso lado, novamente sinto o olhar dele preso em mim e em seguida uma respiração profunda que finalmente me faz voltar a encará-lo.

— Eu não sou ótimo para conversar — assume me olhando, mas dessa vez é diferente, ele parece leve, não é a mesma pessoa de mais cedo, é como se aquele escritório, aquela empresa o transformasse em outra pessoa a partir do momento que coloca os pés ali.

— Eu pude notar — provoco.

— Não me testa Miller — diz e sorri, um sorriso de verdade dessa vez, amplo, que faz meu peito se encher de alguma coisa estranha.

Senhor Cooper sempre foi bonito, assumo, o seu mau-humor o deixa feio, lógico, mas ele sorrindo é espetacular, sinto as bochechas começarem a queimar de novo e automaticamente estou sorrindo de volta.

— Chegamos Senhor Cooper — motorista diz interrompendo nós dois.

Senhor Cooper me olha como se fosse pela última vez e abre a porta descendo em seguida, eu pego minha bolsa e começo a descer do carro estranhamente encontro sua mão estendida para mim do outro lado, eu encaro seus dedos longos estendidos em minha direção e depois a ele que tem as sobrancelhas quase juntas me fitando em confusão.

— Eu não mordo Miller.

Seguro em sua mão com certa cautela, Martin mantém segura com firmeza em meus dedos pequenos que somem aos seus enquanto a outra mão pega em minha cintura me ajudando a descer do carro como se eu fosse uma idosa, reviro os olhos e suspiro assim que estou em chão firme.

Ser amparada dessa maneira, principalmente por ele foi estranho, até demais, porém é quando ele me solta que me sinto pior, a ausência do seu toque é gritante, me sinto estranha e parece que falta algo em meus dedos.

Rapidamente recolho minha mão e tento não olhar para ele e ser taxada como uma perfeita idiota.

— Vocês chegaram!!! — a voz do Senhor Polaki soa atrás de mim e eu reviro os olhos respirando fundo e encontro os olhos do Senhor Cooper que estão pequenos de novo no rosto, ele não parece feliz pela minha reação.

Senhor Augustus Polaki, dono das empresas Polaki, um homem terrivelmente machista e mulherengo, a última vez que eu o vi, suas palavras comigo foram de querida até gata em segundos, não que eu goste da primeira, mas é abuso.

Eu o tolerei da última vez para não se prejudicada, mas dessa vez, realmente estou por um fio, um pequeno fio.

— Polaki — Senhor Cooper assume a frente estendendo a mão enquanto eu me viro para ele tentando dar o meu melhor sorriso, ele aperta a mão do meu chefe e depois vem até mim para me abraçar, mas relutante dou um passo para trás e estendo a mão.

— Senhor Polaki — digo com firmeza e tirando o sorriso do rosto

— Vamos entrar, estávamos à vossa espera — ele diz e corre os olhos pelo meu corpo, engulo em seco desconfortável.

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