#Aviso: esta obra contém cenas de tortura, violência e estupro... não abandonem a leitura e prometo fazer essa jornada valer a pena!#
A parte que descreve os pensamentos do psicopata não pertencem, obviamente, ao que a protagonista relata em sua biografia!
Ana Brenda
Há quem diga que para encontrar a felicidade precisamos passar por muita dor, até compreendermos o real sentido da vida. Dizem que eu deveria lamentar tudo o que aconteceu no meu passado, tentar passar uma borracha e seguir em frente sem olhar para trás... mas eu discordo e estou aqui para dividir com vocês, uma bela história escrita com a ajuda de todos que participaram dela.
[...]
Em março de 1994.
Eloá era uma jovem sonhadora e muito bela, havia viajado para os Estados Unidos para tentar uma vida melhor trabalhando como garçonete em um fastfood bem no centro de Dallas.
Sempre foi muito comunicativa e logo fez amizade com Any, uma de suas colegas de trabalho e elas passaram a sair juntas e até dividiam o aluguel de um pequeno quarto. Ambas tinham uma história de luta parecida e isso as uniu ainda mais.
Eloá era uma jovem brasileira, cheia de sonhos e ambições. Sonhava em mudar de vida e ajudar sua família que vivia no nordeste do país e passavam por muitas dificuldades...ela havia deixado para trás toda aquela realidade e seis irmãos famintos.
— Eu estive pensando e o que acha de sairmos hoje apenas para dar uma volta e aproveitar nossa noite de folga? — Perguntou Any, enquanto terminava de limpar o balcão.
— Não sei amiga, acho que prefiro descansar. — Suspiro de ansiedade e cansaço. —E você sabe que eu não posso ficar passeando por aí, vai que me descobrem ilegal no país e me deportam, antes de eu poder mandar uma quantia boa para casa tirar meus irmãos daquela situação.
— Eloá você precisa sair dessa toca, anda vem comigo? Tenho certeza que nada vai sair errado é apenas um passeio inocente e que mal pode haver nisso?
A insistência de Any acabou vencendo a resistência da amiga.
— Está bem! — Eloá confirmou e Any ficou muito feliz.
As duas terminam o expediente daquele dia, vão para casa e se arrumam. Pedem um Uber e vão para um badalado clube, tudo era iluminado e belo naquele lugar. Eloá e Any aproveitaram e dançaram muito, mesmo estando naquele país famoso pela agitada vida noturna, nenhuma delas tinha ainda desfrutado de um pouco de lazer...
Eloá dançava com um copo nas mãos, girava sensualmente na pista...até que alguém a abordou de repente.
— Boa noite.
— Boa noite!
Ele era um jovem e belo rapaz chamado Fernando, ele aparentava ter entre vinte e cinco ou trinta anos, um sexy par de olhos verdes que fizeram Eloá se encantar por ele à primeira vista. Ele se encantou por ele e passaram a conversar durante muito tempo, dançaram juntos, sorriram e ele se ofereceu para deixar as duas em casa. Eloá não queria concordar de jeito nenhum apesar de ter gostado muito dele, mas acabou cedendo depois de muita conversa e de compreender que ele não tinha más intenções.
Assim que chegaram no pequeno quarto que dividiam, Any logo entrou para deixar que o casal se despedisse melhor.
— Eu adorei conhecer vocês. — Corrigiu de repente. — Conhecer você!
— Eu também gostei muito Fernando.
— Será que eu posso vir te ver, um outro dia desses?
Eloá ficou nervosa com aquele pedido, mas concordou.
— Claro que pode e muito obrigada por nos trazer em casa!
Fernando beijou a mão da jovem, eles se olharam bem dentro dos olhos e ali parecia estar nascendo um grande amor. A garota entrou em casa vibrando de alegria, mas tentou não demonstrar tanta euforia e ser motivo de piada para a amiga... naquela noite ela mal pode dormir pensando nele e aquele sentimento era recíproco.
Os dias passaram e Eloá e Fernando passaram a se encontrar com mais frequência, ele relutava em dizer a ela sua origem, pois temia que isso a assustasse e afastasse dele... sempre que uma garota descobria quem ele era, o amor se tornava ambição ou simplesmente acabava. Mesmo assim, eles acabaram cedendo ao que ambos queriam de todo o seu coração.
— Por que você está tão triste Eloá? A uns dias te percebo distante e não tem mais feito seu trabalho como deveria, até tenho passado verificando o que você tem deixado de fazer para que não se complique com o chefe.
— É que eu fiz algo que não deveria!
— O que você fez? — Any perguntou aflita e fechando a porta do depósito para evitar que as ouvissem.
— Me entreguei ao Fernando e já a um mês fazemos amor o tempo todo, minha menstruação não vem desde então.
— Meu Deus amiga...
Eloá deixou escapar algumas lágrimas.
— Agora já não dá para voltar atrás e se eu estiver mesmo esperando um filho, terei que mudar os meus planos para me dedicar a ele. Parar de pensar um pouco na família que deixei para trás ao vir aqui!
Any a abraça.
— Com certeza tudo será mais difícil, mas eu vou te ajudar e vamos dar conta!
Dois meses depois, Eloá confirmou a gravidez por meio de um exame de sangue e revelou a Fernando e ele prometeu se responsabilizar por ela e pela criança.
— Não chore princesa, eu sei que o que fizemos parece ter colocado um fim ao seu sonho, mas fique sabendo que não! Eu vou te dar uma vida maravilhosa junto ao nosso filho e esteja certa disso Eloá!
Em uma noite de sábado, ele resolveu apresenta-la para sua família, sentia que não seria uma missão fácil, mas que ele estava disposto a enfrentar.
Ele a buscou em casa, elogiou sua beleza e ela entrou no carro dele.
— Olhe para mim amor, não quero se sinta intimidada nós estamos juntos... sempre!
— Está bem! — Eloá respondeu e eles seguiram para lá.
Entraram naquela enorme mansão, ela ficou assustada ao ver como aquele lugar era luxuoso. Um casal elegante, os esperava já sentados à mesa de jantar.
Loren se aproximou, como mãe de um herdeiro como Fernando ela não poderia aceitar qualquer uma como nora.
— Então ela é moça com quem pretende se casar filho?
Não era uma pergunta em tom amistoso, os olhares sobre aquela humilde moça eram julgadores e ela se sentiu muito mal.
— Pretendemos nos casar em breve! — Fernando respondeu, abraçando Eloá pela cintura e isso enfurecer ainda mais os seus pais.
— Como se casar? Mal conhece essa mulher e já quer se unir em matrimônio, ficou maluco? — Joe elevou sua voz, mas Fernando jamais desistiu daquilo que acredita.
— Não tenho dúvidas do que vou fazer papai e mamãe, sou um homem e minha decisão já está tomada!
— Se você se casar com essa pobretona, juro por Deus que te deserdo! — Loren se enfureceu.
Eloá ficou com muita vergonha de ter causado uma briga entre pais e filho, puxou Fernando pelo braço para que a levasse embora.
— Acho que é melhor eu ir para casa.
Ele se recusou a recuar e dar razão aos pais, Eloá saiu correndo para fora daquela casa, Fernando a seguiu, mas não antes de dizer o que seu coração pedia.
— Faça isso mamãe, já é mesmo hora de caminhar com minhas próprias pernas e saber o valor da palavra trabalho.
Ele a seguiu e uma forte chuva caia naquela noite, Eloá caminhou pela rua sem se importar com mais nada depois do que havia escutado. Por mais que já tivesse passado por situações humilhantes aquela foi a mais dolorosa de todas, pois atingiu justamente os sentimentos dela por aquele belo rapaz.
— Por favor amor, não leve à risca o que minha mãe e meu pai disseram. Não me importo com o que pensam sobre o que eu decido para a minha vida!
— O que mais machuca o meu coração é saber que eles estão certos, somos de níveis diferentes e não você não devia ter escondido isso de mim!
—Tive medo que se afastasse da forma como está fazendo agora.
— Volte para casa! — Ela gritou.
— Está abrindo mão do nosso amor, por que eu sou rico?
Ela negou com a cabeça.
— Cedo ou tarde essa diferença entre nós irá pesar e você vai me deixar. Não tenho estudo e apenas iria te envergonhar na frente de todos!
— Nunca, jamais! — Ele tirou algo de dentro do bolso. — Veja o que eu escolhi para você hoje na joalheria do shopping.
Era um lindo anel de pedra esmeralda, os olhos de Eloá brilharam ao ver aquela valiosa peça.
— Ele é muito lindo e tem a cor dos seus olhos! — Ela sorriu e ele retribuiu.
— Não se compara a sua beleza.
Os dois se abraçaram e se beijaram embaixo da chuva, ele colocou aquele anel no dedo dela e o beijou selando aquele compromisso que era de almas.
Fernando optou por ainda não confrontar a família, ajudou financeiramente e deu todo o amor e apoio que podia a Eloá nos meses seguintes indo visitá-la periodicamente e cuidando de sua gravidez.
Certo dia, Loren decidiu o seguir, pois percebia a mudança de comportamento do filho que vivia muito mais tempo fora de casa e flagrou Fernando com Eloá em uma loja de artigos de bebê, ficou muda ao notar a barriga saliente da jovem que aparentava estar muito perto do fim da gestação.
Ela amaldiçoou aquela notícia, não queria ser avó do filho de uma mulher qualquer. Entrou em seu carro e chegou em casa aos berros.
— Joe! Joe!
— O que aconteceu Loren, por que os gritos?
— Nosso filho está cometendo uma loucura, continua a cometer um disparate!
— Do que está falando?
— Daquela insignificante garçonete com que saia a uns meses, eles continuam juntos e o que é pior... ela está grávida!
Joe ficou paralisado, mas precisava tentar acalmar a mulher.
— Nada garante que essa criança seja dele.
— Mas e se for? — Questionou.
— Se for do nosso menino, nos livramos dela.
O casal contratou um detetive para seguir os passos de Eloá durante o fim da gestação, iriam separar seu filho dela custe o que custar. Fernando sempre frequentava um haras, adorava cavalgar por horas e costumava levar a futura mãe de seu filho, para vê-lo, pois com a gravidez tão adiantada ela não podia fazer atividades como aquela.
Mas a família dele não estava disposta a ceder, usaram todas as armas possíveis para criar intrigas entre eles e finalmente, Loren havia conseguido fazer com que os dois se separassem usando uma ex-namorada do filho, bastou que Eloá flagrasse uma situação comprometedora entre eles para que tudo acabasse.
Eloá sofreu muito e devolveu aquele anel de esmeralda para ele, Fernando esperou que ela entendesse o quanto estava sendo injusta e pudessem voltar a se amar.
— Por favor, acredite em mim!
— Sinto muito Fernando, mas não posso. — Ela estava muito frágil e emotiva pela gravidez, não usou a razão para tentar compreender que tudo aquilo havia sido uma grande armadilha.
Dois dias depois...
Fernando estava montando um belo cavalo Apaloosa no haras como sempre fazia, sentia falta de Eloá e usava aquele anel de compromisso como pingente em seu colar e sempre que o tocava era como se sentisse os beijos dela outra vez.
O levou até a boca, beijou e seguiu, o cavalo se assustou com uma serpente no chão e ele acabou por cair de mal jeito e todos se desesperaram pedindo socorro, aquele anel de compromisso acabou ficando no lugar da queda ofuscado entre algumas pedras.
Fernando chegou a ser atendido, mas nada podiam fazer, pois aquela queda lhe causou um sério traumatismo craniano.
Foi o que disseram a Eloá naquele grande hospital para onde ele foi levado às pressas, ela chorou sentada naquele banco de espera.
— Você não pode ter nos deixado Fernando... não pode! — Ela clamava alisando a barriga e Loren se aproximou.
— Mas deixou menina, por sua culpa ele se afastou de nós e agora o perdemos, está satisfeita?
— Por favor senhora, não me torture mais... sinto muito pelo seu filho!
Eloá foi impedida pela família dele de ir ao velório, apenas se despediu através de oração e chorava sempre que se lembrava dele e dos momentos lindos que compartilharam. Tinha total certeza de que nunca mais seria capaz de amar novamente.
O detetive ainda seguia seus passos conforme o desejo de Loren e o marido, Eloá foi levada ao hospital sentindo as dores do parto. Havia chegado a hora e ela estava emocionada por trazer um pedacinho dele ao mundo, deu à luz a uma linda menina de olhos verdes, assim como o pai e decidiu chamá-la de Cristina...
Apesar de tudo, Eloá estava feliz e aquela criança preenchia seu coração, olhar para ela era como olhar para Fernando de uma forma diferente. Ainda precisava trabalhar e para cuidar da criança, ela e Any trabalhavam em horários diferentes para poder tomar conta da menina.
Certo dia, Any estava cuidando de Cristina que dormia em seu berço e ouviu um barulho no quarto, entrou deixando a bebê na sala. A porta do quarto foi trancada por fora de repente, a jovem se desesperou e começou a gritar... algum tempo depois, arrombaram a porta, Any e Eloá se deram conta de que Cristina havia sido levada do quarto.
Um ano depois...
Eloá jamais se conformou com o rapto de sua pequena filha, encontrar aquela criança movia sua vida, havia perdido o homem que amava e depois, o seu único motivo para viver. Continuava morando no mesmo lugar, pois dentro do seu coração desejava mais do que tudo que alguém a devolvesse.
Bateram na porta de sua casa, o coração dela quase saltou pela boca e suas pernas falharam...
— Como isso é possível?
— Eu voltei para você... — A resposta de Fernando a deixou em prantos.
Os dois se abraçaram e se beijaram, havia muito a dizer.
— Mas me disseram que você estava morto!
— Isso quase aconteceu meu amor, fui mandado para a Rússia depois do acidente e estava em estado muito crítico e com certeza, minha família quis te afastar de mim se aproveitando disso! Passei por uma recuperação lenta e dolorosa.
— Eu sofri muito, muito e você não faz ideia.
— E nosso filho?
Ela começou a chorar desesperadamente e o abraçou.
— Levaram minha bonequinha de mim e já faz um ano que estou morta em vida!
— Claro que foi a minha mãe, não posso acreditar que ela tenha sido capaz de algo tão sórdido.
Ele cerrou os punhos.
— Acha que foi ela que levou nossa pequena?
— Ela seria capaz!
— Então basta implorar a ela que nos diga a verdade de uma vez, agora que você está aqui sei que não vai negar.
— Infelizmente agora isso é impossível, meu amor!
— Por que?
— Minha mãe teve um aneurisma a onze meses atrás e faleceu.
— Maldição, perdoe-me por essa reação Nando, mas nossa filha está perdida por esse mundo passando por tantas coisas que nem podemos imaginar e seu pai, ele pode saber?
— Vamos tentar, faremos de tudo para achar nossa filha e te juro que vou coloca-la nos seus braços de novo, eu te amo muito!
Eles se casaram um tempo depois, Joe não soube dizer com quem a esposa havia tramado aquele sequestro, por que ela era sempre muito discreta quando se tratava de manipular e fazer mal as pessoas. Fernando e Eloá seguiram e seguem juntos nessa busca tão sofrida por trazer de volta sua amada filha, mas conforme os anos vão passando esse sonho parece mais e mais distante...
Aquela inocente criança graças a maldade de sua avó paterna, havia sido mandada para outro país, onde jamais voltaria para os braços da mãe a quem Loren odiou desde o primeiro dia de sua vida ao último.
A bebê recebida por um orfanato daquele país e recebeu o nome de Ana Brenda dado pelas freiras, que logo se apaixonaram por aquela criança linda de olhos verdes.
Ao mesmo tempo, em Dallas...
Guilherme era um garoto bondoso e compreensivo de oito anos de idade, diferente de seu irmão gêmeo Alexandre que tinha um gênio possessivo e dominador.
Ambos brincavam sob a supervisão de sua mãe Pilar e seu pai Thomas, era um domingo ensolarado e estavam em um haras curtindo um passeio em família.
Guilherme correu e se abaixou bem curioso para pegar algo que viu e brilhava entre algumas pedras.
— Olha o que eu encontrei! — O garoto exclamou admirado.
Alexandre observou aquele anel com uma linda pedra verde e logo puxou da mão de seu irmão bruscamente.
— Isso é meu!
— Mas eu encontrei, isso não vale Alexandre!
— Nada disso interessa, é meu e fim de papo.
Os dois começam a brigar e a se agredir de repente, Pilar corre para separar aquela confusão entre os filhos e isso quase sempre acontecia.
— Meu Deus, mas o que está acontecendo aqui? — Ela questionou irritada.
— Alexandre me tomou uma coisa que achei!
— Guilherme está mentindo...eu vi primeiro!!
— Alexandre sempre quer tudo o que é meu.
— Já chega de confusão, Alexandre pegue o que achou, seja o que for e guarde! Quanto a você Guilherme, pare de implicar com seu irmão por tudo!
Já em casa, Guilherme se sentia sempre preterido e tendo que ceder a todos os caprichos do irmão protegido pela mãe.
Ele estava triste em seu quarto, sempre sofria por sentir que não era o bastante para ela e seu pai Thomas entrou de repente...
— Filho, por que não quis descer para jantar conosco?
Ele se sentou na cama.
— É que eu sinto que a mamãe não me ama do mesmo jeito como ama meu irmão.
— Não diga isso Guilherme, você sabe que amamos os dois igualmente!
— Tudo o que é meu Alexandre quer...e ela dá a ele, até quando as coisas serão desse jeito papai?
— Quando os dois crescerem serão grandes companheiros e vão entender que não precisam tirar nada um do outro! Agora vamos descer para jantar e juntinhos.
Em seu quarto, Alexandre olhava aquele anel e admirava sua beleza.
— Não importa o que pense, irmão tem que entender que eu sempre terei tudo o que eu quiser nesse mundo!
Ana Brenda
Aqui eu começo a contar a vocês, como tudo começou a mudar na minha vida.
Seja forte, não volte atrás... apenas siga em frente!
— Sejam todos bem-vindos ao nosso grupo de apoio. — Ela olhou para cada um de nós. — Alguém gostaria de dividir conosco sua história, Ana Brenda já se sente à vontade para compartilhar?
Eu já estava a meses participando daquele grupo e ouvindo aquelas histórias, relatos tão tristes e trágicos parecidos com tudo o que passei, mas eu ainda não havia conseguido externar tudo o que estava guardado e era como se falar no assunto, me transportasse de volta as mesmas sensações, dores e horrores daqueles meses.
— Desculpe-me, mas ainda não me sinto pronta!
Eu saí daquela sala aos prantos e fui para na igreja, era o meu refúgio. O local onde eu conseguia me lembrar de tudo, sem que a angústia a sufocasse por completo, mas bastaria colocar os meus pés novamente do lado de fora e dor me afogar mais uma vez.
Flashback há aproximadamente 6 anos atrás
Era mais um dia comum, eu fazia faculdade de história no período noturno e já cursava o quarto semestre, estava com vinte anos e já fazia planos de trabalhar no museu da cidade onde eu morava. Era perdidamente apaixonada por história antiga e sonhava em fazer viagens para conhecer o Egito e mergulhar nesse universo que eu tanto amava, sempre amei os filmes como: A múmia e isso me despertou o sonho de conhecer mais sobre esse universo tão misterioso do passado.
Trabalhava durante metade do dia no refeitório da faculdade, para poder pagar o aluguel do quarto que dividia com a minha colega. Eu e Andréia pouco nos víamos e nossas personalidades distintas, também dificultavam um pouco uma relação mais estreita de amizade e troca de segredos.
Por não ter conhecido os meus pais, sempre existiu um vazio grande em meu coração. Sinto falta do colo da minha mãe, de um abraço e da proteção paternal.
[...]
Ana Brenda era calma e muito centrada nos estudos, já Andréia, era acelerada papai e mamãe pagavam a faculdade ela gostava de aventuras amorosas e não se dedicava muito ao curso de Direito e colecionava notas ruins.
— Hoje nem tive tempo de pegar nos livros, passei dia com o Bruno fazendo...você sabe né? — Andréia sorriu para Ana Brenda. — Ou não, você vive de livros e parece que quer morrer virgem!
Ana Brenda joga um travesseiro nela.
— Não seja boba, claro que imagino o que ficaram fazendo, mas vê se toma cuidado. Seus pais ameaçaram te levar de volta para casa se reprovar mais uma vez.
— Se eles acham que vou viver só de leis se enganam, quero curtir agora enquanto jovem e eles vão ter que aceitar e mais, hoje não vou para a aula nem amarrada! — Ela caiu na cama mais uma vez, Ana Brenda negou com a cabeça.
— Triste sou eu quem deveria estar, tenho as cinco aulas e então se for sair, vê se tranca direito essa porta e toma cuidado!
Ana Brenda avisa, enquanto arruma os livros para sair.
— Tá bom Maria "Madalena", boa aula.
Chegando na faculdade, sua grande amiga e confidente Luzía a esperava na sala de aula e as duas se sentavam bem próximas.
— Essa noite eu tive um sonho estranho.
— Estranho como Ana? — Luzía se vira mais para prestar atenção, Ana Brenda parecia triste ao se lembrar.
— Eu estava presa, mas não haviam correntes ou cordas em meu corpo, eu só sentia como se não pudesse sair mesmo se eu quisesse!
— Era uma casa?
— Eu não sei Luzía, eram muitas grades...acordei gritando com Andréia me dando tapas no rosto e rindo do meu desespero.
— Que estranho isso, mas mudando de assunto, amiga você soube o que aconteceu com o professor Luís?
— Não, o que aconteceu? — questionou.
— O coitado teve um AVC a uns dois dias, mas também o coroa fumava feito uma chaminé e bebia igual a um louco, cedo ou tarde conta iria chegar para ele.
— Nossa, coitado e agora o que serão das nossas aulas de História Medieval?
No mesmo instante em Ana se perguntou isso, um homem jovem alto e forte entra na sala de aula, era branco, cabelos escuros, tinha olhos verdes e estava muito bem vestido e nada de aliança!!!!
— Boa noite a todos, infelizmente o professor Luís teve que se ausentar por problemas de saúde, me chamo Alexandre e o substituirei por tempo indeterminado.
As palavras daquele belo e charmoso homem despertaram interesse instantâneo de muitas alunas e Érika não perdeu a chance de jogar um charme mordendo a ponta do lápis e sorrindo insinuante para ele.
— Muitíssimo prazer!
A resposta dela em tom bem incisivo no fundo da sala, era comum, o seu jeito atirado principalmente com os professores bonitos e jovens como ele e nada disso deixou seus colegas surpresos.
Luzía e Ana Brenda sorriem da situação.
Aquele professor não era só um belo homem de uns trinta anos, mas também um verdadeiro poço de inteligência, como dominava as palavras, os conteúdos e usava uma linguagem moderna, que surpreendia a todos e em especial, as mulheres presentes.
Porém, ele não pode ficar alheio a beleza daquela jovem da terceira fila, acima de tudo, era homem e ficou impressionado com aqueles olhos verdes e o sorriso tão espontâneo de Ana Brenda.
— Para nossa próxima aula, eu quero que redijam um texto sobre Lendas Medievais e apresentem para a turma. Assim eu posso conhecer melhor do que os meus alunos são capazes!
Mas aquele pedido não agradou a todos e Luíz logo se posicionou.
— Ah professor, estava indo tudo tão bem...a próxima aula já é na sexta-feira?
— Exatamente mocinha, tempo suficiente para vocês aprontarem o trabalho.
Ele olha para Ana Brenda, sorri e ela retribui.
— Fim da aula!
As duas saem juntas.
— Ana B eu estou em transe ainda, que professor é esse? Um pedaço de mal caminho. Eu não vou faltar as aulas de história Medieval nunca mais.
— Diz Luzía se abanando e sorrindo.
— Você não existe amiga, e o que mais surpreende nele é inteligência, que aula perfeita. Sequer pega nos livros, parece que tudo está ali na sua mente em uma fonte ilimitada de conhecimento.
Luzía revirou os olhos ao notar que a amiga não estava reparando no mesmo que ela.
— Você só pensa em estudo, Deus me livre! Vai dizer também que não percebeu como ele te olhava né?
— Como assim? Ele olhava normal, como olhava para todos e não inventa coisas Luzía.
— Ai Ana Brenda, você não tem mesmo malícia...ele olhava sim e para sua boca e já imagino o que pensava, afinal a imaginação dos homens é muito previsível.
Ela gargalhou e Ana Brenda pediu que ela mantivesse mais discrição ao falar essas coisas, pois alguém poderia ouvi-las.
— Você é mesmo maluca!
— Nem precisa estudar Aninha, você já está aprovada e com dez.
— Está é muito enganada, isso sim!
As duas saem sorrindo.
Dia seguinte...
Trabalhando no refeitório Ana Brenda limpava algumas mesas desocupadas, quando sentiu um toque delicado em seu antebraço, ela se assusta e se afasta em um reflexo rápido.
— Me desculpe Ana, não queria te assustar.
Ele a olha fixamente.
— Professor Alexandre, eu que peço desculpas, eu não vi que era o senhor — Ela passa a mão ajeitando os cabelos, estava nervosa e sem saber agir perto dele. — Venha comigo, essa mesa aqui já está arrumada!
Diz ela, levando-o até uma mesa limpa.
— Por que não se senta comigo um instante?
Ana Brenda
Com esse convite, era impossível não lembrar do que Luzía havia dito para mim a poucos instantes, porém era só uma conversa amigável e estávamos no campus da faculdade, o que poderia haver de mal nisso?
— Tudo bem!
[...]
Ela se senta e ele em sua frente.
— Eu percebo que a turma de vocês é meio “fechada”. Gostaria de conhecer mais sobre meus alunos, você pode me ajudar?
Ele arqueia a sobrancelha.
— Bom professor, somos como qualquer outra turma de faculdade, mas o que posso dizer é que a maioria é bem esforçada nos estudos...principalmente os bolsistas como eu!
Ele sorriu.
— Então você é bolsista, me fale mais de você...
Ela se incomoda com a pergunta, mas responde sem muita empolgação.
— Não tenho muita história como nosso curso, sou órfã e assim que saí do orfanato, vim morar aqui na república da faculdade. Trabalho aqui, como o senhor já viu e não há muito o que contar.
Ela abaixa o semblante.
— Posso te trazer um café ou outra coisa?
— Um café, por favor Ana Brenda!
Ela sai e volta momentos depois, com o café. Comunica a ele que precisa servir as outras mesas, afinal já tinham mais alunos no local e todos esperando por atendimento.
Alexandre agradece e a observa trabalhar, era linda...tinha um belo corpo, uma voz doce e agradável e já podia imaginar muitas outras coisas com ela.
Já era quarta-feira e só neste dia Ana Brenda conseguiu tempo para aquele fatídico trabalho de Lendas Medievais, estava sentada na frente do computador naquela biblioteca e buscando inspiração. Até que encontra algo que lhe chama atenção, sim será sobre isto que irei escrever, pensou ela.
Na sexta-feira...
Ana Brenda se arrumava para sua aula, quando Andréia chega toda animada, pula na cama e olha a outra para ela através do espelho...
— Garota passa pelo menos um brilho labial nessa boca!
Ana Brenda era vaidosa. mas nunca buscava se destacar demais, ainda mais para ir estudar, achava totalmente desnecessário todos aqueles exageros. Porém, um brilho era algo delicado e sutil, decidiu acatar.
Chegando na faculdade.
— Amiga todo mundo está comentando sobre você e o professor novo. —
Diz Luzía puxando Ana Brenda pelo braço e indo em direção ao banheiro onde sairiam do meio de todos aqueles olhares.
— Como assim, ficaram malucos?
— Estão dizendo que viram vocês juntinhos no refeitório e quase se beijando...
— Isso é mentira, apenas sentei com ele uns instantes e ele me perguntou coisas sobre a nossa turma.
— Eu sei Ana Brenda, claro que não acreditei nessa bobagem, mas ainda acho que ele está afim de você!
— Você e todos esses otários estão enganados, ele é meu professor e eu só mais uma aluna entre tantas. E vamos para sala de aula que não quero que além disso tudo, a gente perca a nota desse trabalho estúpido.
Ana Brenda
Eu sempre cuidei tanto da minha reputação, mas deram um jeito de me envolver em uma história sórdida e absurda como aquela. Pessoas sem amor a própria vida e que passam o tempo todo buscando por erros alheios para se sentirem melhores com os seus próprios.
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