Eu te odeio! Eu grito aos prantos, chorando enquanto corro para meu quarto.
Eu daria tudo para estar em outro lugar, numa vida diferente. Em outra situação. Mas estou pressa a esse monstro.
Todos diziam que ele era mau, mas mau nem é palavra para descreve - lo.
Deito-me na cama abraçando os joelhos, encolhida como em posição fetal.
Esse era o lugar onde queria estar, no ventre da minha mãe. Protegida e bem guardada.
Fico relembrando e perguntando-me como pude chegar a essa situação?
"Anne sua estúpida, eu penso"
Porque fui ser tão ingénua, e confiar e assinar esse contrato. Sim. O contrato que me garantiu a entrada para o inferno.
O meu corpo doía, as costas em brasas o que não me permitia deitar e descansar.
Tomei um banho pensando que melhoraria, mas cada gota de água sobre minhas feridas, as faziam doer ainda mais. Não tanto como ardia o meu coração.
Fecho os olhos e vou para meu lugar de paz.
Vejo o meu lindo esposo, seu sorriso encantador.
Sempre carinhoso e dedicado. Como sou feliz por tê-lo na minha vida.
Ray sempre foi o marido perfeito.
Lembro da sua voz e da sua gargalhada. O seu toque, seu cheiro.... Os meus pensamentos são interrompidos quando sinto o cheiro de mofo que exalava das paredes de madeira daquele quarto pequeno e horroroso. Sem ventilação e com pouca iluminação.
Eu estava presa no porão. No corredor escuro via apenas canos, umidade e mofo.
Nesse quarto havia apenas uma cama de ferro com um colchão sem lençol e uma cômoda velha de madeira com as gavetas caindo. E uma porta que dava acesso ao banheiro. Bem antigo e que parecia ter sido esquecido por anos.
- Sra. Anne? Ouço Maria a me chamar.
- Pode entrar. Falo com a voz rouca, pressa na garganta.
- O Sr. Ferrari pediu para ver como estão as suas costas. diz Maria enquanto se aproxima com uma bandeja de prata com alguns remédios e curativos.
Maria é uma doce senhora que trabalha para o Sr. Ferrari. Ela o conhece desde seu nascimento e sempre trabalhou para seu pais. E ainda continuava a cuidar da casa.
Enzo Ferrari era um herdeiro bilionário de poços de extração de Petróleo. Ele era um homem reservado, que parecia viver escondido, longe de qualquer holoforte, era cheio de rancor e ódio e que só sabia fazer maldades. Era assim que eu o via, homem perverso e controlador.
Enquanto Maria cuidava das minhas costas, eu apenas pensava em como fugiria daquele lugar.
Maria termina e avisa.
- O jantar já está pronto, não demore querida. O patrão odeia esperar. Ela pisca enquanto fecha a porta do quarto.
Abro minha caixa de madeira. Minha caixa das memórias. Presente de minha avó quando eu ainda era criança. E pego uma foto onde estou feliz e sorridente em um passeio ao parque junto com Ray.
- Ah Ray. Queria tanto ter você aqui!
Sei que Ray não pode mais me ouvir. Mas ainda converso com ele. Isso tira um pouco do peso nos meus ombros.
Distraiu-me com os meus pensamentos e como não estou com fome, esqueço de subir para o jantar.
Acabo-me lembrando quando ouço os passos firmes e o som da bengala do Sr. Enzo Ferrari aproximando-se pelo corredor.
Eu odeio esse acessório, pois era com ela que ele acabará de me bater. Sua bengala era de madeira e tinha uma pequena curva na parte da mão. Onde ele usava para puxar a minha perna quando tentava correr.
Por algum motivo que eu ainda não descobri, Sr Ferrari anda com dificuldade. Aparentemente suas pernas são perfeitas, mas ele parece sentir alguma dor ao caminhar.
Antes mesmo que eu pudesse-me mexer, ele abre a porta com tudo.
- Sua desobediente. Mandei você subir. Mas para me provocar fica aqui. diz Sr. Enzo com os olhos cheios de raiva.
- O castigo não foi suficiente. Precisa de mais algumas pancadas? Pergunta ele com irônia e olhar malvado.
- Estou sem fome.
- Sua insolente. Se não subir te arrasto pelos cabelos escada acima.
Percebi que ele falava sério. Ele era mesmo maluco. Me levanto e me dirijo pelo corredor. Aquele lugar era triste. Me dava medo e arrepio.
Sigo em direção as escadas, vejo ele seguir para o elevador.
Ele me puxa pelo braço.
- Vem comigo. Diz ele ao meu ouvido.
Entramos no elevador em total silêncio. O clima era tenso.
Sr Enzo está atrás de mim, posso sentir sua respiração em meu pescoço.
Sua mão esquerda segura minha cintura. Sinto o peso de sua mão. Com a outra segura a bengala.
Seu perfume inunda o lugar. Um cheiro amadeirado que combina demais com ele.
Sr Enzo é um homem de 40 anos. Extremamente atraente. É branco, com o corpo definido, barba preta, bem feita. Tinha as sombracelhas grossas e bem desenhadas. Lábios finos mas bem bonitos e olhos escuros. Isso o deixava com um ar natural de mistério.
Ao final do corredor tem um elevador que sai bem ao lado da sala.
A casa era bem diferente daquele maldito porão.
Preciso admitir Sr. Enzo tem bom gosto.
O piso é todo de mármore branco com tons de cinza, possuí colunas redondas por toda a mansão. Todas em mármore igual ao piso. Paredes em Tons de Bege e teto branco.
Uma lareira moderna com grades de ferro e uma escada bem no meio da sala que dá acesso ao segundo andar. A escada tem tapete vermelho, corremão de ferro preto com dourado e madeira escura. Muito chique por sinal.
Um lustre de cristal que dava um charme para a sala com seus sofás em tom de cinza.
Seguimos para a sala de jantar. Com uma mesa de madeira e cadeiras de estofado vermelho. Um espelho enorme e um aparador com uma peça linda de cristal.
Sento ao lado do Sr. Ferrari.
- Como estão suas costas? Maria lhe ajudou? Pergunta ele.
- Eu poderia estar melhor Sr. E sim, Maria é sempre muito gentil. Pelo menos alguém aqui é.
Enzo bate a mão com força na mesa. E se levanta.
- Inferno! Porque você é assim? Fala ele gritando.
- É sério isso? Sério mesmo? Você tem aminésia ou é louco mesmo? Respondo eu.
- Cale a boca! Estou cansado de você me afrontar. Grita ele.
- E o que te faz pensar que eu queria estar aqui? Você me obrigou seu doente. Digo eu gritando.
- Eu? Eu? Eu te salvei sua ingrata. Ou se esqueceu que ia morrer de fome. Não tenho culpa que seu maldito marido te deixou sem nada e cheia de dividas antes de morrer. Também o que esperar de um homem como ele. Diz Enzo em tom de desdem.
Me levanto com o olhar em fúria.
- Não fale assim de Ray. Ao contrário de você ele é homem de verdade. Em nossa lua de mel fizemos amor. Diferente de você que nem tem ereção. Bem que você poderia aprender com ele. Digo com ar de riso.
- Aprender o que? Como falir e obrigar a esposa a virar prostituta? Ele diz me provocando.
- O seu problema é esse? Quer gozar? Bem que me avisaram que eu ia me casar com uma puta. Retrucou ele.
- Desgraçado! Grito ao mesmo tempo que tento dar um tapa no rosto de Enzo, que rapidamente segura meu pulso.
E começa a torcer o meu braço.
- Me solta. Me solta.
- Está me machucando. Peço quase chorando.
Seu olhar era de raiva, mas por algum motivo sinto o desejo em seu olhar e isso faz com que eu também me excite.
Era como uma descarga de energia que invadia meu corpo.
"Que merda Anne, o que é isso. Penso naquele momento e tento não demonstrar que ele me abala.
Ele pega a minha mão e coloca sobre sua calça onde sinto seu membro duro como rocha. Pela calça consigo sentir é grande e grosso.
Isso só faz com que eu fique ainda mais desejosa.
Arregalo os olhos, pois não esperava essa reação.
E tento tirar a mão de cima. Mas ele é forte e mal consigo mexer a mão.
Ele me olha nos olhos, com um sorriso malicioso.
- Só porque eu não quero meter meu pau em você. Não quer dizer que eu não seja homem. Só não meto meu pau em qualquer cadela.
Se um dia eu resolver te comer, você vai ter que fazer por merecer. E você não merece nada, além do que já tem.
Enzo me solta, e se senta novamente, retornando a comer.
Fico corada, sem saber o que dizer. E me sento também.
Tento comer alguma coisa, mas nada desce.
Olho para ele. Mas ele permanece jantando.
- O que é Anne? Vai ficar me olhando? Diz ele sem olhar para mim.
- Posso retornar ao meu quarto? Pergunto em tom suave.
- Sim. Responde ainda sem me olhar.
Me levanto, ajeito a cadeira.
- Com licença, boa noite. Falo já indo em direção a escada.
Com mil pensamentos na cabeça, tudo que eu quero é dormir e acordar em outro lugar.
Aqui nesse calabouço fico relembrando o que me fez estar naquele lugar.
Ray era um homem de negócios e gostava de se arriscar em busca de lucros altos.
Viemos de boas famílias, não ricos mas com boas condições.
Ray tinha a mesma idade que eu. Nos conhecemos no cursinho pré vestibular. Começamos a namorar e após terminar a faculdade nos casamos.
Ray trabalhava com o mercado financeiro. Eu uma simples professora nunca havia lecionado. Meus pais faleceram vitimas de um acidente de trânsito. Um rapaz bêbado colidiu de frente com o veículo deles. Foi um choque perder os dois em uma única vez. Eu sou filha única e não tinha mais ninguém. Meus pais também eram filhos únicos então eu não tinha mais nenhum parente.
Após suas mortes Ray é minha única família.
Ray tinha apenas uma irmã caçula e seus pais moravam em outro lado do país. A Sra. Francisco e o Sr. Pedro eram um casal simples que moravam em uma fazenda e viviam da agricultura.
Ray gostava de novidades e de arriscar no mercado financeiro. O que não me deixava confortável. Mas Ray sempre me disse que não precisava me preocupar pois ele sabia seu limite.
Após receber minha herança resolvi ajudar a única escola de nossa cidade. E doei tudo em prol da educação das crianças carentes.
E viviamos apenas do trabalho de Ray.
Em uma tarde a campainha toca.
Ao abrir a porta me deparo com um homem de terno.
- Sra Rossi?
- Sim. Quem é você? Eu pergunto.
- Sou Antônio o oficial de justiça. Vim trazer esse oficio. Assine aqui por favor. Ele diz e eu assino, sem saber o que seria.
O oficial me entrega o envelope e vai embora.
Entro para casa olhando o envelope. Está endereçado para Ray.
Abro o mesmo e me choco com o que vejo.
"Sr Ray Rossi, o Sr tem o prazo de 30 dias para desoculpar o imóvel".
Como assim? Era nossa casa. Ray comprou quando casamos e com a minha herança reformamos. Estava paga.
Espero ansiosa Ray retornar.
Enquanto isso pego o número do processo e vou pesquisar na internet para entender o que estava acontecendo.
E ai começa meu desespero.
Ray fez um emprestimo em um banco em um valor 4 vezes maior que o valor de nosso imóvel. E deu o imóvel como garantia.
Mas como a dívida era alta, a justiça havia bloqueado os nossos carros, nossa poupança, e contas correntes.
Tudo que tinhamos era do reclamante.
Fui olhar o nome do reclamante Enzo Ferrari.
Eu não fazia idéia de quem ele era. Queria apenas entender tudo que estava acontecendo.
Ray chega em casa, eu o esperava na sala com o documento em mãos.
Ouço ele estacionar o carro e abrir a porta.
- Olá querida. Como foi seu dia? E ele se aproxima para me beijar. Não tinha como beija lo. Eu estava decepcionada, ele havia nos traido. E agora o que iamos fazer? Onde morar? Como sobreviveriamos?
- Ray o que você fez? Pergunto em lágrimas.
Ele me olha intrigado.
- Sobre o que está dizendo querida. Pergunta Ray.
Estico a mão com o papel e falo
- Essa ordem de despejo Ray. Perdemos tudo. O que você fez?
Ray se senta no sofá, com ar de derrota, coloca as mãos na cabeça sem entender. Olha o papel. Corre e pega o celular e liga para alguém.
- Droga ele não atende! Diz com tom de decepção.
- Ray explica-me por favor? Realmente perdemos tudo? Eu pergunto com os olhos cheios de lágrimas.
- Não querida vamos resolver. Eu realmente fiz um empréstimo milionário, pois teria um retorno de 20% ao mês. Foi o que Pablo me garantiu. Por 5 meses seguidos ganhamos 35 mil de lucro por mês. Logo eu teria como pagar o que peguei e ainda ia sobrar. Diz Ray com confiança.
- E os outros meses? Não tivemos lucro? Eu pergunto.
- Sim, o mesmo lucro. Mas eu combinei com Pablo que ao invés dele me pagar, que ele reinvestisse o valor. Com o valor que ganho na corretora eu pago o empréstimo. Mas depois as coisas apertaram e não consegui mais pagar. E pedi que Pablo me pagasse novamente os lucros, mas no contrato tinha uma carência de 20 meses. Eu sabia ter juros, mas logo eu acertaria tudo. Não imaginei que isso aconteceria. Vou resgatar todo o valor e acertar as coisas querida. Amanhã vou ao escritório de Pablo eu tenho o endereço aqui. Vou conversar e explicar tudo, ele vai nos ajudar. Vai ver." Explicou Ray e deu-me um beijo na testa para me acalmar.
Naquela noite não consegui dormir. Cedinho Ray foi até o escritório de Pablo.
Fico apreensiva cerca de 1h depois Ray chega.
O seu semblante diz-me que não tínhamos boas notícias. Ele corre e abraça-me apertado chorando.
- Querida-me perdoe, fiz uma besteira. Caímos num golpe.
- Como assim? Pergunto sem entender o que ele dizia.
- Quando cheguei no tal escritório, o dono do prédio estava lá. E havia mais pessoas procurando o Pablo e todos caíram no golpe. Era tudo falso. O escritório nunca existiu. E o Pablo não existe, não sabemos o verdadeiro nome do golpista. perdoe-me, perdemos tudo. Procurei o nosso advogado e ele disse que provavelmente serei preso. Falou Ray aos prantos.
Eu chorava com ele. Não sabia o que fazer, para aonde ir. A quem pedir ajuda.
Lembrei do tal reclamante um, tal de Sr. Enzo Ferrari. Após tanto pesquisar consegui o seu telefone. A secretária dele quem atendeu.
- Escritório do Sr. Ferrari bom dia!
- Oi! eu gostaria de falar com o Sr. Ferrari.
- Quem gostaria?
- Sou a Anne Rossi. Ele tem uma ação contra a minha família queria-lhe fazer uma proposta de acordo.
- Vou ver se ele pode-lhe atender. Só um momento.
O telefone fica mudo. Demora alguns minutos que pareciam uma eternidade.
- Sra. Rossi?
- Oi!
- O Sr. Ferrari não irá-lhe atender. Disse que o juiz já deu a sentença não há mais nada a ser feito. Tenha um bom dia!
E assim se encerra a ligação.
Como assim? Eu fico abismada. Ele nem me ouviu. Não me permitiu falar. Isso é injusto.
Não vou desistir.
No dia seguinte ligo novamente.
Dessa vez deixo o meu contato com a secretária.
Mas nada de ter retorno.
No outro dia, ligo novamente. Estou a correr contra o tempo. Não demos mais os 30 dias. Logo seremos despejados.
No dia seguinte ligo outra vez. E isso se repete por 10 dias seguidos e nada dele me atender ou de retornar-me.
Ligo novamente.
- Escritório do Sr. Ferrari, bom dia!
- Oi! aqui é da concessionária vim trazer o carro do Sr. Ferrari que estava em manutenção. Mas não estou a localizar o endereço do escritório. Você pode-me confirmar? Digo a fingir ser outra pessoa.
- Olha vou verificar com o Sr. Ferrari. Só um momento.
- Moça o seu patrão já está bravo com o atraso. Se ele reclamar vou dizer que não aceitou receber o veículo dele. E você vira-se para explicar-lhe então. Bom dia!
- Espera! Se ele já está a esperar faz tempo melhor não irrita - lo mais. É Av. Independência 4000. Por favor, não demore. Ou vai sobrar-me também.
- Pode deixar. E encerro a ligação.
Dou risada por ser uma ótima atriz. Esse Sr. Ferrari deve ser mesmo muito chato. Deve ser aqueles velhos barrigudos e ricos. Infelizes que precisam pagar as mulheres para ter um pouco de amor. Mas ele aguarda-me.
Mesmo procurando por ele na “internet” só achei o telefone do escritório e nada mais.
Sem fotos, sem redes sociais, sem nada. Um verdadeiro fantasma.
No dia seguinte saiu cedinho e vou direto para o escritório desse tal Sr. Ferrari. Não sei muito bem o que vou dizer. E sinceramente não formulei o que vou propor. Mas uma coisa eu sei. Ele vai ouvir.
Chegando ao endereço é um prédio de 2 andares. Com uma enorme porta de vidro.
Entro e já me deparo com a secretária. Noto que atrás dela tem uma porta dupla enorme, uma outra escrita "cozinha" e outra lateral escrito "casa de banho". Ao saber da arrogância e prepotência desse Sr. Imagino que a porta maior é a do seu escrito. A recepção era elegante e simples. Poltronas de couro preto e algumas plantas. Vou até a moça loira que está atrás do balcão de madeira e pela voz reconheço que é a mesma que fala ao telefone.
- Bom dia! Em que posso ajudar? Pergunta a recepcionista.
- Bom dia! Vim falar com o Sr. Enzo Ferrari.Respondo.
- Qual o seu nome, por favor? Ela pergunta.
- Anne! Anne Rossi.
A moça arregala os olhos, com cara de espanto.
- Sra. Rossi. Já havia informado anteriormente, o Sr. Ferrari não vai atender.
Sei que a sua situação é complicada. Mas ele é irredutível. Não adianta insistir.
- Se você sabe, então ajude-me. Digo com a voz embargada.
- Eu gostaria, mas não posso. Por favor, a Sra. precisa ir. Diz ela olhando para a porta grande.
Ele deve ser mesmo péssimo. Olha o olhar dessa pobre moça. Mas fazer o que. Ela precisa trabalhar. Se ela está atenta a porta é porque ele deve estar.
- Tudo bem. Eu precisava tentar. Obrigada.
Faço como se estivesse a ir embora. Mas corro e abra a porta grande com tudo.
- Sr. Ferrari, você precisa ouvir-me. Falo de forma afoita.
- Sra. Rossi, não... Entra a secretária em pânico.
— Sr. Ferrari desculpe. Não consegui impedir ela foi entran...ele interrompe-a.
- Tudo bem Márcia. Pode ir. Feche a porta por favor. Ela retira-se e fecha a porta.
Ele não, nem havia virado a cadeira para olhar para mim.
Eu via apenas o topo da sua cabeça. Ele tinha cabelos pretos.
- Sente - se Sra. Já lhe atendo. Diz ele.
Só então percebo que está ao telefone.
- Sorry! Ok. Thank you. Ele encerra a ligação. E finalmente se vira para me olhar.
- Em que posso-lhe ajudar? Diz ele num tom firme.
Meu Deus! Que homem lindo.
Eu aqui pensando que era um velho. deparo-me com esse "deus grego".
Que homem! Charmoso, intrigante, atraente, "sexy", e extremamente sério. Enigmático, lindo. Eu já falei lindo? Sim, lindo demais. Sem falar da elegância e do perfume hipnotizante. Os olhos dele são os mais belos que já vi.
perco-me nos pensamentos, e sem fôlego, meio perdida retorno.
- Sr. Ferrari preciso da sua ajuda. O meu esposo cometeu um erro e vamos perder tudo. Vamos renegociar. Ou outra coisa, ao menos a nossa casa. Senão viveremos na rua.
- Sra. Eu sei da sua situação. Mas não há nada que eu possa fazer. A decisão foi do juiz mesmo com todo o meu poder e dinheiro. Eu não posso muda - la. Sinto muito.
- Essa é a sua resposta. Vai para o inferno, seu egoísta.
Ele fica bravo. Se levanta, se inclina sobre a mesa para se aproximar de mim. Os seus olhos não desviam do meu. O seu rosto tem uma expressão que não sei identificar.
- Sra. Rossi, cuidado com as palavras ou lhe farei engolir uma a uma. Saía da minha sala já terminamos. Antes que eu diga qualquer outra coisa ele dá um grito.
- Márciaaaa!!! Ele grita e ela logo aparece.
- Sim, Sr. Ela diz assustada.
- Acompanhe a Sra. Rossi até a porta.
- Sim! Com licença.
Ela fecha a porta, e acompanha-me até a saída.
Retorno para casa sem saber o que fazer. Talvez o Ray peça desculpa ao seu pai. E ele ajude-nos nessa fase.
Penso em conversar com ele sobre isso.
A noite Ray chega do trabalho. Ah dias não fala nada sobre o assunto. Na verdade, ele não fala sobre assunto nenhum. Está calado, abatido, triste.
Tento conversar, apoiar e ajudar. Mas nada adianta.
Ele não aceitou jantar. Disse que iria dormir. deu-me um abraço apertado e um beijo longo e carinhoso.
- Querida-me perdoe por tudo que fiz. E por tudo que farei. Mas merece ser feliz. Nunca esqueça que eu lhe amo. E quero que seja feliz, muito feliz.
- Também amo-te Ray. Digo enquanto o abraço.
Ele vai se deitar, e eu fico a ler um livro na sala. Sempre tive esse hábito. Mas como estava cansada, acabo a dormir.
Quando vou para cama algumas horas depois, deito-me e abraço o meu Ray.
A sua pele está fria. Eu faço carinho e pergunto.
- Querido quer a coberta? Está gelado. Eu pergunto ao toca - lo
- Querido? Ray não se mexe.
- Ray? Chamo, mas não há resposta. Não há som nenhum. O silêncio encheu o quarto e a minha alma.
Acendo a luz e vejo a pior cena da minha vida.
Ray estava morto.
Ao seu lado um pote vazio de remédios e um bilhete.
..."Durante toda a minha vida fiz escolhas erradas, que me pareciam certas. ...
...A única escolha que eu realmente acertei foi ter você em minha vida. ...
...Mas percebi que essas escolhas fizeram mal a única pessoa importante para mim. E por te amar, vou te deixar livre para ser feliz de novo....
...Perdoe-me! Mas não posso mais viver. ...
...Eu amo-te Anne!"...
Saio do cemitério sem rumo. Faltam poucos dias para que eu seja despejada. Eu não tenho mais família. Não tenho amigos e não sei o que será de mim.
Retorno para casa, que em breve não mais terei. Aos prantos.
Porque eu? Porque tanta trágedia. O que fiz de mal para merecer?
Me questiono, nada faz sentido. Tomo uma taça de vinho como não bebo, me embebedo e acabo dormindo.
Acordo ja é madrugada. E a dor só piora!
Como moramos em cidade pequena. Logo todos já estão sabendo sobre o que aconteceu.
Eu não tenho escolha. Preciso trabalhar.
Começo então a procurar um serviço. Aceito fazer até serviço de limpeza. Alguma coisa preciso fazer.
Procuro no mercado, padaria, açougue, na fazenda de gado e até na colheita. Mas ninguém me dá uma oportunidade. Pelo contrário todos comentam e cochicham quando eu passo.
Vejo os olhares.
Povo fofoqueiro e mentiroso. Já não basta tudo que estou vivendo. Ainda tenho que lidar com isso? Não conseguem respeitar a dor do outro?
Retorno para casa depois de andar muito, bater em várias porta e ouvir a mesma coisa... Não!
Descanso, e sofro com a ausencia de Ray. Tudo ali me lembra ele. O cheiro dele, as coisas dele, tudo me leva a Ray. Como queria que ele tivesse sido mais forte.
Choro desconsoladamente, até pegar no sono.
No dia seguinte, me lembro da escola que eu ajudei a reformar e equipar. Como eu ajudei, acredito que eles vão me ajudar agora.
Chego na sala da diretora. Ela ao me ver me dá as condolência e me manda sentar.
- Como posso ajudar Sra Rossi. Ela pergunta.
- Bom estou precisando de um emprego, e queria saber se não posso trabalhar aqui. Pode ser na limpeza ou até mesmo na cozinha.
A moça engole seco. Respira fundo.
- Sra Rossi não temos nenhuma vaga no momento.
Eu olho para o lado no quadro de avisos e esta lá.
"Precisa se de auxiliar de limpeza"
Olho para a moça e digo:
- Não precisa? Ali está escrito outra coisa.
A moça fica sem jeito. Se aproxima e fala
- Sra sua ajuda foi importante para nós. Mas a fama que rola pela cidade é de que seu marido era golpista e prejudicava as pessoas. Então ninguém quer uma esposa de golpista por perto. Sabe como é. Quem com porco anda, farelo come! Ela diz.
- Está me dizendo que sou golpista também? Eu pergunto irritada.
- Não! Eu estou dizendo, o que as pessoas dizem. Nessa cidade e nas cidade vizinhas a Sra não vai conseguir nada. Melhor a Sra se mudar. Se tiver sorte fale com o Sr Roberto o que compra e vende ouro. Como dizem que ele rouba no peso do ouro. Talvez ele não se importe e te ajude.
Mas eu não posso ajudar, desculpe. Ela diz.
Saio sem acreditar no que ouvi. Por isso essa reação desse povo de merda.
Sigo até a loja desse Sr. Roberto.
- Boa tarde!" Falo com um sorriso
- Boa tarde jovem. Deseja vender suas jóias? Ele pergunta.
- Não Sr. Me indicaram falar com o Sr. Estou procurando um trabalho.
Ele me olha de cima a baixo. Seu olhar é malvado. Ele lambe os lábios.
- Bom depende do que você sabe fazer...e se eu vou gostar. Mas eu posso fechar a loja e você me mostra se sabe mesmo fazer. Dizem que viúvas são fogosas. Ele fala com olhar de tarado enquanto alisa seu membro por cima da calça.
Fico muito brava.
- Seu tarado, velho nojento asqueroso.
Nunca eu faria qualquer coisa com você. Seu porco! Saio bufando de raiva.
Pela manhã saio para ir a padaria e vejo as pessoa me medindo. As casadas puxando o marido para se afastar de mim.
Encosto no balcão da padaria para pedir o pão. Sou atendida pelo Dono da padaria, mas sua esposa o puxa e grita.
- Sai daqui sua puta! Está querendo roubar meu marido. Todos nós sabemos que você se vendeu ao Sr. Roberto por 10 notas. Ela diz.
- Como é?? A Sra é louca? É mentira desse velho nojento, desgraçado. Mas não se preocupe, não venho mais aqui. Eu grito, saio da loja cheia de ódio.
Retorno para casa enquanto ainda tenho uma e nos dias seguintes mal saio da cama.
Penso, penso e não sei como sair dessa situação.
- Ah! Ray porque fez isso? Falo em lágrimas olhando a sua foto na escrivaninha.
Só tem uma chance. Embora todo o meu ser grite para não fazer isso. Não sei como fugir.
Preciso pedir ajuda ao Sr. Ferrari.
Arrumo as minhas malas com roupas e calçados essenciais. Pego itens de higiene, travesseiro e cobertor. Um jogo de xícaras de café de porcelana que era da minha bisavó. E a minha caixa das lembranças.
Bom se o Sr. Ferrari não me ajudar vou ter que morar no carro e viver de esmola.
Essa ideia deixa-me desesperada.
Coloco tudo no carro e sigo para cidade do Sr. Ferrari. Pelo retrovisor vejo essa cidade de pessoas egoístas. Espero não retornar aqui nunca mais.
Sigo pela estrada o escritório do Sr. Ferrari ficava na capital a 100 km da minha casa. Eu ainda tinha o restante da herança dos meus pais, o que era suficiente para recomeçar. Mas minha conta estava bloqueada por conta da ação judicial. Olho para o painel do carro a gasolina era suficiente somente para chegar até lá.
Estaciono próximo à esquina, ao lado do escritório.
- Essa é a minha oportunidade. Falo com confiança enquanto arrumo o cabelo olhando no espelho retrovisor.
Ao chegar na recepção, antes de dizer qualquer coisa a secretária começa a falar:
- Bom dia! Sra. Rossi. O Sr. Ferrari estava-te esperando. Vou avisar que você chegou! Ela diz sorrindo gentilmente.
Faço cara de espanto, do que ela estava falando. Me esperando? Como ele sabia?
- Sr. Ferrari, a Sra. Rossi está aqui.Ela diz ao telefone.
Sim, Sr. Ela responde.
Ela me olha e diz
- Pode entrar. E com a mão aponta em direção da porta enorme.
Eu sigo em direção e antes de abrir. Paro por um instante.
O meu coração queria sair pela boca.
As minhas pernas amolecem, sinto como se fosse desmaiar.
Abro a porta e entro.
— Sr. Ferrari. Bom dia! Falo com a voz presa a garganta.
Ele estava de pé ao lado da mesa em frente ao espelho enquanto arrumava a gravata.
Ele vestia uma camisa branca que deixava o seu corpo perfeito evidente. E o seu perfume me hipnotizava.
- Diga Sra. Rossi. Estou com pressa tenho uma reunião. Ele diz sem nem olhar para mim.
- Bem Sr. Ferrari eu preciso da sua ajuda...
Ele dá uma gargalhada malvada me interrompendo e sua atitude me deixa brava e triste em simultâneo.
- Uma ajuda? Não era a Sra. quem saiu a xingar de nariz empinado? Pergunta com ironia.
Eu quería mesmo xingar, mas realmente precisava de ajuda.
- Será que o Sr. Não teria uma vaga na limpeza, cozinha, qualquer coisa. Na minha cidade não consigo nada. O Sr. sabe, cidade pequena é cheia de fofoca. E todos dizem que sou golpista por conta dos erros do meu esposo. Eu realmente não tenho mais para aonde ir. Digo em lágrimas, com o coração e orgulho ferido.
- Eu não preciso de nenhum funcionário novo. E só trabalho com pessoas de alta confiança.
Eu viro-me de cabeça baixa e vou andando em direção a porta.
- Espere. Não terminei de falar. Diz ele em tom autoritário.
Eu viro-me novamente, o olhando nos olhos.
- Podemos fazer um contrato, eu dou-te o que é básico para qualquer ser humano viver de forma digna, mais uma ajuda mensal em dinheiro. E após 25 anos o contrato se encerra e você receberá um prêmio pelo seu tempo de lealdade. E estará livre para ir e fazer o que desejar.
É isso, ou nada feito! Temos um acordo?
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