O que é certo ou errado? Quem é capaz de controlar os sentimentos? Será que gostar de uma garota é algo tão horrível assim? Essas são as perguntas que eu faço enquanto escrevo no meu diário. Sinto uma sensação horrível, como se estivesse cometendo o maior crime do mundo.
Conheço Manuela desde o jardim de infância. Somos inseparáveis e sempre estamos juntas. Às vezes, dormimos uma na casa da outra. Talvez eu tenha me apegado demais a ela. Sempre me senti sozinha. Moro em uma casa grande com piscina e tenho tudo que alguém pode querer, menos carinho sincero. Minha mãe me abandonou quando eu tinha oito anos e, desde então, meu pai se tornou ausente, viajando a trabalho a maior parte do tempo.
Às vezes, imagino o que ele diria se soubesse dos meus sentimentos por minha melhor amiga. Ele certamente ficaria indignado. Penso em contar para a Manu, mas tenho certeza de que ela se afastaria de mim. Ela tem namorado e é apaixonada por ele, apesar de tudo que ele faz com ela.
Termino de escrever no meu diário e vou dormir, esperando que isso seja apenas uma fase e que logo eu possa ser uma garota "normal". Com esses pensamentos, adormeço.
Acordo com o toque do meu telefone. Assustada, acendo a luz do abajur para localizar o celular. Ao encontrar o telefone, atendo a chamada.
— Alô — digo, atendendo o telefone.
— Oi, Kim, desculpa te ligar a essa hora. — Ao escutar essa voz, meu coração acelera. Não só porque é a voz da Manuela, mas também porque sei que ela está triste.
— O que houve? — pergunto.
— Você pode vir me buscar? Eu sei que está tarde, mas só posso pedir a sua ajuda. — diz ela.
Certamente ela brigou novamente com o Lucas. Ele é um completo idiota que sempre arruma qualquer pretexto para ficar "solteiro" no fim de semana e, durante a semana, volta a namorar com a Manu. Verifico o horário e já são três da manhã. Está chovendo, mas eu não poderia deixá-la sozinha.
— Onde você está? — pergunto.
— Estou na esquina da casa do Lucas — ela diz.
— Já estou indo — respondo.
— Obrigada — agradece ela.
Levanto-me, visto um conjunto de moletom, pego a chave do carro e saio pela porta dos fundos. Está realmente chovendo muito. Agradeço por não ter muito movimento nas ruas. Dirijo com cuidado e, cerca de quarenta minutos depois, estaciono perto da calçada onde ela está. Ela está completamente molhada pela chuva. Ela entra no meu carro, tremendo de frio.
Tiro minha blusa de frio e entrego a ela.
— Toma — digo, entregando a blusa.
— Obrigada — diz ela, sem graça.
Viro-me em direção à janela para não ter que olhar para ela enquanto troca de blusa.
— Para onde vamos? — pergunto.
Ela começa a brincar com os dedos. Ela sempre faz isso quando está nervosa ou com vergonha.
— Quer ficar lá em casa? — pergunto.
— Posso? — ela pergunta, surpresa. Não entendo por que ela está surpresa.
— Você é a minha melhor amiga. Claro que pode ficar lá em casa — digo, e ela desvia o olhar.
Há algo errado. Sabe quando você tem a sensação de que algo está muito errado e que você sabe que vai te magoar? Estou sentindo exatamente isso. Assim que estaciono o carro, entramos pela porta dos fundos e a levo direto para o meu quarto. Pego uma roupa limpa e entrego a ela.
— Pode tomar um banho se quiser — digo, e ela me olha de um jeito indecifrável.
— Obrigada por tudo — ela diz, indo em direção ao banheiro.
Pego o meu diário que estava em cima da cama e o guardo dentro do guarda-roupa. Vou até a cozinha, preparo um chocolate quente para ela e levo para o quarto. Ela está terminando de secar o cabelo.
— Fiz para você — digo, entregando a caneca para ela.
— Obrigada e desculpa por estar te incomodando — ela diz, pegando a caneca e se sentando na minha cama.
Ela toma um pouco do chocolate quente e fica refletindo por um tempo.
— Quer conversar? — pergunto.
— Estou me tornando uma pessoa infeliz e a culpa é só minha — diz ela, deixando algumas lágrimas caírem.
— O que aconteceu? — pergunto.
Ela desvia o olhar.
— Estou me submetendo a um relacionamento que não me faz bem e só me magoa — diz ela.
— Você brigou com o Lucas? — pergunto.
— Sim, terminamos e dessa vez é em definitivo — ela diz.
Ela parece muito convicta dessa decisão.
— Sinto muito, não gosto de te ver assim — digo, e ela me olha com um olhar triste.
— Descansa, amanhã será um novo dia e as coisas vão se resolver — digo.
— Acho que as coisas não vão se resolver. Não quero viver dessa forma, não preciso de um idiota na minha vida — ela diz.
— O que foi que ele fez? — pergunto.
— Algo imperdoável — ela diz.
Eu a abraço forte. Sinceramente, estou muito contente com esse término.
— Você ficou muito contente com essa notícia, né? — ela me questiona.
— Quero a sua felicidade e lamento tudo que você passou com o Lucas, mas não posso negar que essa notícia me deixa bastante contente — digo, sorrindo.
Ela me olha indignada.
— Sério, você está contente com o meu sofrimento? — ela pergunta.
— Prefiro ver você chorar esta noite porque terminou um namoro ruim do que te ver chorar todos os dias por estar em um relacionamento tóxico e abusivo com alguém que não te merece — digo, sendo sincera.
Ela me abraça forte.
— Obrigada, você sempre sabe o que dizer para me consolar — ela diz.
— É o costume, você só faz besteira — digo, sorrindo, e ela me joga uma almofada.
— Obrigada de verdade — ela diz.
— Vai dormir, você precisa descansar e temos que pensar em como vamos comemorar essa grande notícia — digo, me deitando na cama.
Ela se deita ao meu lado e fica me encarando. Confesso que estou começando a ficar envergonhada.
— No que você está pensando? — ela me questiona.
— Por que você está me encarando? — pergunto.
— Eu te fiz uma pergunta primeiro — ela diz o óbvio.
— Percebi — digo, e ela sorri.
— Boa noite, Kimberley — ela fala e se vira de costas para mim.
Acho que preferia que ela continuasse me encarando, pelo menos assim teria a visão do seu rosto.
— Boa noite, Manu — digo, e me viro para apagar a luz.
No meio do silêncio, adormeço.
"A frase 'O amor tudo suporta' é a que me apego para justificar por que ainda estou com o Lucas. Talvez eu nunca tenha interpretado corretamente o sentido dessa frase; talvez eu tenha romantizado demais a ideia de formarmos um par perfeito. Mas par perfeito não existe. A única coisa que existe são duas pessoas trabalhando juntas para fazer dar certo, e infelizmente esse não era o nosso caso.
— É isso que você quer? — Lucas me perguntou, sua voz carregada de irritação.
Isso me irrita. Ele sempre joga a responsabilidade em cima de mim.
— Não faz sentido insistir numa relação que está destinada ao fracasso. Todos os finais de semana temos a mesma discussão e, para ser sincera, eu não vou continuar remando contra a maré — falei, tentando manter a calma.
— Você tem outro? — ele perguntou com raiva, os olhos estreitados.
Que absurdo. Temos tantos problemas que podem justificar nosso término e ele vem com essa pergunta idiota.
— Não existe ninguém. O problema é entre a gente — respondi, sentindo a frustração aumentar.
— Então é por culpa daquela sua amiga que não gosta de mim — ele disse, desviando o foco.
— Não tem nada a ver com os outros, tem a ver única e exclusivamente com nós dois. Deixamos de ser um casal há muito tempo — falei, tentando ser firme.
— Você está com raiva. Você veio dormir comigo e, como eu disse que amanhã eu tenho compromisso, você ficou chateada e agora está fazendo drama — ele disse, acusador.
Não havia necessidade de continuar discutindo. Saí de lá levando apenas meu celular. Era de madrugada e, para piorar, estava chovendo. Não tinha para quem pedir ajuda, então liguei para a única pessoa que sempre me ajudava.
Liguei para Kimberley e, como sempre, ela veio me buscar. Ela me levou para sua casa e permitiu que eu dormisse lá. Fiquei envergonhada porque a Kim sempre fez questão de deixar claro que eu merecia alguém melhor. Confesso que muitas vezes imaginei que ela pudesse ter um certo interesse pelo Lucas, por isso insistia tanto que eu terminasse com ele. Se algum dia ela souber que pensei assim, tenho certeza que ela parará de conversar comigo. Nos conhecemos há tanto tempo e temos uma convivência tão legal que me recuso a imaginar que um dia ela possa sair da minha vida.
Uma das coisas que mais gosto na Kimberley é que, apesar de todos os problemas que aparecem no caminho, ela ainda sorri. Não conheço ninguém que suportaria metade das decepções que ela passou. Às vezes sinto que ela guarda um grande segredo e gostaria que confiasse em mim o suficiente para me contar.
Acordei e havia uma roupa e uma escova de dente lacrada em cima da cama para mim. Peguei e fui tomar banho. Assim que terminei de me arrumar, fui à procura da Kim. Passo tanto tempo aqui que já me acostumei com a casa. Fui até a cozinha e a encontrei tomando café da manhã enquanto lia um livro. Ela estava tão concentrada que nem notou minha presença.
— Bom dia — falei em um tom de voz um pouco mais alto. Ela se assustou e eu sorri com a cena.
— Bom dia. Dormiu bem? — ela perguntou e fez sinal para que eu me sentasse.
— Muito bem — respondi, e ela se levantou.
— Prefere café com leite ou suco? — ela perguntou.
— Suco — falei, e ela me serviu.
Peguei um pedaço de bolo que estava na mesa e comi.
— Sua mãe ligou — Kim me disse, com uma expressão levemente preocupada.
Agora estou ferrada. Eu disse à minha mãe que dormiria na casa da Kimberley, uma mentira que acabou se tornando verdade.
— O que ela queria? — perguntei, tentando soar despreocupada.
— Nada demais. Ela só queria confirmar se você realmente estava aqui — ela disse, sugestiva.
— Não é o que você está pensando — falei, e ela sorriu.
— Estou pensando que você tentou enganar sua mãe — Kim disse.
Era exatamente isso. Eu falei que ia passar a noite na casa da Kimberley e acabei passando a madrugada aqui.
— Uma mentira repetida várias vezes se torna uma verdade, e foi isso que aconteceu — argumentei, tentando aliviar a tensão.
— De qualquer forma, sua mãe quer que nós estejamos lá na hora do almoço — ela disse e fechou o livro.
— Posso te pedir um favor? — perguntei, torcendo para que ela dissesse sim.
— Que tipo de favor? — ela questionou.
— Minhas coisas ficaram na casa do Lucas. Tem como você me levar lá? — perguntei, e ela me olhou como se eu fosse fazer uma grande burrice.
— Vai ser rapidinho. Eu só vou pegar minhas coisas e sair de lá — falei, e ela concordou.
— Tá bom, mas se você demorar eu vou te deixar lá sozinha — ela falou.
— Obrigada — disse, abraçando-a.
Fomos até a casa do Lucas, e ela ficou me esperando no carro. Toquei a campainha e uma garota atendeu a porta.
— Bom dia, em que posso te ajudar? — ela perguntou.
— Bom dia. Vim pegar minhas coisas — falei, e ela me olhou assustada.
— Você é a namorada do Lucas? — ela perguntou.
— Não, sou ex-namorada dele e só vim pegar minhas coisas — falei e entrei para pegar minhas coisas.
Lucas saiu do quarto sem camisa e ficou assustado ao me ver.
— Manu, o que você faz aqui? — ele perguntou.
— Só vim pegar minhas coisas — falei, pegando minha bolsa.
— Já estou indo. Divirtam-se — falei, saindo.
— Espera, temos muito o que conversar — Lucas falou.
— Já não temos sobre o que conversar. O diálogo entre nós deixou de existir há muito tempo. Continue fazendo o que sempre fez, mas desta vez não precisa tentar se esconder. Agora você é solteiro e pode levar a vida sem compromisso que tanto deseja — falei, saindo de lá.
Engraçado, eu não me senti triste. Na verdade, fiquei aliviada por não estar mais em um relacionamento fracassado e sem respeito. Fui até o carro da Kim, que estava distraída ouvindo música. Aproximei-me e dei leves batidas no vidro, e ela levou um susto. Ri dela.
— Palhaça — ela falou.
— Vamos, Kimberley. Temos um almoço para ir e depois temos que comemorar o fim do meu namoro — falei.
— Pensei que ele ia conseguir te convencer de novo — ela falou.
Então era essa a visão que todos tinham de mim. É decepcionante perceber o tipo de mulher que me tornei em nome de um sentimento que nunca foi recíproco.
— Vou recuperar minha dignidade — falei mais para mim do que para Kimberley.
— Não quis te ofender. Desculpa — ela falou, começando a dirigir.
— Você é a única pessoa que sempre fala a verdade na minha cara, e isso é o que me faz gostar tanto de você — falei, e ela continuou olhando fixamente para a rua.
— Nem sempre somos 100% verdadeiros e sinceros — ela disse, me deixando intrigada.
— Você já mentiu para mim? — perguntei, e ela negou com a cabeça.
— Nunca menti para você. Às vezes só omito os fatos — ela disse, sorrindo.
— E você, já mentiu para mim? — ela questionou.
— Já — falei, sendo sincera. Ela me olhou incrédula e eu agradeci por termos chegado à minha casa.
— Chegamos — falei, saindo rapidamente do carro para que ela não me fizesse mais perguntas.
Eu queria muito saber sobre o que a Manu tinha mentido para mim, mas, infelizmente, já tínhamos chegado na casa dela e, como sempre, ela fugiu do assunto. Fugir do assunto era uma especialidade dela, mas eu não ia deixar isso passar.
— Ainda vamos falar sobre isso. Não pense que eu vou me esquecer tão facilmente — avisei.
— Algum dia falaremos sobre isso — ela disse, sorrindo. — Mas não se preocupe, foram apenas mentiras piedosas.
Mentiras piedosas. Eu nunca entendi de fato o que isso significa. Claro que eu não sou a pessoa mais ética e sincera do mundo, mas nunca me escondi atrás da frase "foram apenas mentiras piedosas".
— Eu acho que mentiras piedosas são apenas desculpas que as pessoas usam para justificar seus atos — comentei, e ela me encarou.
— Você prefere contar uma mentira piedosa ou uma verdade cruel? — perguntou, sem desviar o olhar.
— Não sei... talvez exista uma maneira menos cruel de contar uma verdade — respondi, hesitante, e ela sorriu.
— "Talvez"? — ela insistiu.
— Percebe? Tudo depende das circunstâncias, e às vezes as circunstâncias nos obrigam a mentir — ela disse.
— Então você me contou uma mentira piedosa para que eu não me sentisse mal com uma verdade cruel? — questionei.
— Não, eu menti porque às vezes é mais fácil contar uma mentira do que confessar uma verdade. E você não pode me julgar porque você também está omitindo e escondendo coisas de mim — ela rebateu.
Contra fatos não há argumentos. Ela estava certa, e a discussão estava encerrada, ao menos momentaneamente.
— São duas coisas totalmente diferentes, mas não vejo motivos para continuar falando sobre isso — falei, tentando mudar de assunto.
— Você desistiu rápido demais, e isso só aumenta ainda mais minha curiosidade para descobrir seu segredo — ela disse.
Quem sabe um dia eu possa abrir meu coração e ser sincera com ela, deixando-a saber dos meus sentimentos que há tanto tempo guardo como um grande tesouro. Mas, por ora, minha cabeça está cheia de perguntas que ainda não consigo responder. É inevitável não se preocupar com o que as pessoas vão falar de você, e o que mais me dói é a incerteza de como a Manu reagiria diante de uma confissão dessas. Provavelmente, ela se afastaria de mim. Eu conheço a família dela e sei como ela foi criada. Para os pais dela, um relacionamento homoafetivo é algo abominável.
— Vamos entrar. Sua mãe já deve estar nos esperando — falei, tentando afastar os pensamentos negativos.
— Vamos — ela disse, abrindo a porta da casa e nos levando para dentro.
— MAMÃE! — Manu gritou, chamando a mãe.
Não demorou muito para a governanta da casa aparecer.
— Bom dia, Srta. Manuela. Sua mãe saiu, mas ela disse que não demora a voltar — Marta disse.
— Obrigada, Marta. A Kim e eu vamos subir para o meu quarto. Quando minha mãe chegar, avise, por favor — Manu respondeu de forma irônica.
— Avisarei, com licença — Marta disse, afastando-se. Às vezes, sinto que tenho o dom de ficar invisível.
— Ela me odeia — comentei, quando estávamos subindo.
— Todo mundo gosta de você. O problema é que a Marta é muito focada no serviço — Manu disse, puxando-me para o quarto dela.
Ela abriu a porta e jogou a bolsa na cama, tirou o tênis e se jogou em seguida.
— Fique à vontade — ela falou, e eu me sentei na cama.
— Você está ansiosa para a volta às aulas? — ela perguntou, animada.
Para ser sincera, eu não estava animada. Este seria nosso último ano estudando juntas. Ano que vem, ela estaria em outro país fazendo faculdade e, com certeza, conhecendo novos amigos e tendo muitos amores. Mas, como eu não queria ser a "estraga-prazer" e nem tampouco sei contar "mentira piedosa", usei o bom e velho deboche.
— Estou pulando de entusiasmo — falei, sarcástica.
Ela retrucou na mesma moeda.
— Nem sei porque te fiz uma pergunta tão tola. Percebe-se a quilômetros de distância o seu entusiasmo — ela disse, debochada, e me acertou com uma almofada.
Eu tentei puxar a almofada da mão dela e, não sei como, caímos no chão. Ela caiu por cima de mim e seu rosto ficou a poucos centímetros do meu. Não pude deixar de encarar seus lábios e, por um momento, ficamos nos olhando, até que esse clima estranho foi interrompido por batidas na porta.
Manuela se levantou rapidamente e foi atender a porta. Ela conversava com Marta, enquanto minha mente criava diversos cenários em que essa cena terminava em um beijo.
— Minha mãe chegou — Manu disse, claramente constrangida com a situação.
Para evitar maiores desconfortos, achei melhor sair de lá.
— Vou descer para cumprimentá-la e depois vou embora — falei.
Ela não pediu para que eu ficasse, nem falou nada comigo. Apenas concordou com a cabeça e se retirou do quarto. Fiz o mesmo.
— Bom dia, meninas. Desculpem por ter feito vocês esperarem — a Sra. Isabela falou.
— Bom dia, mamãe — Manu cumprimentou-a com um abraço e um beijo no rosto.
— Bom dia, Sra. Isabela. Não tem porque se desculpar. Na verdade, sou eu que tenho que me desculpar. Aceitei o convite para almoçar, mas houve um imprevisto e meu pai precisa falar comigo com urgência — menti, talvez pela primeira vez, percebendo que mentir pode ser uma excelente solução para alguns problemas.
— Lamento muito por isso. Espero que o imprevisto não seja algo muito sério e que possamos marcar outro almoço qualquer dia desses — ela disse, simpática.
— Qualquer dia desses combinamos. Agora eu realmente preciso ir — falei.
— Vá com Deus e dirija com cuidado — Sra. Isabela respondeu.
— Tchau, Kimberley. Nos vemos no colégio — Manu disse, o que significava que não nos veríamos mais durante o fim de semana.
— Tchau — falei, saindo de lá.
No conforto e na segurança do meu carro, me permiti refletir e analisar toda essa situação com calma. A verdade é que não consigo entender e nem quero tentar compreender nada disso. A única coisa que sei é que não posso mudar o que sinto, assim como sei que não posso obrigar Manu a corresponder meus sentimentos.
Com os pensamentos cada vez mais confusos, voltei para casa com o intuito de almoçar e desabafar com meu único confidente que me ouve sem julgamentos: meu diário, o único que poderia guardar meus segredos. Depois de escrever nele, optei por passar o resto do dia dormindo.
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