Olá, eu sou a autora, pode me chamar de Eva.
Deixa eu falar uma coisinha com vocês, rapidinho.
Um dia desses eu estava procurando uma história legal de morro para ler em outra plataforma e desisti depois das primeiras quatro que apareceram, isso porque todas elas traziam personagens brancos, do olho claro e totalmente padrão.
Eu não sei você, mas eu gosto de ler livros que façam eu me identificar com as personagens e acreditar que poderia ser eu.
E eu não tenho a barriga lisa, peito durinho e bumbum empinado, como sei que muitas das minhas leitoras também não. E somos perfeitas assim.
Então.
Esse livro é dedicado a todas nós que nunca seríamos as princesas de um conto de fadas. Seja pela aparência, pela personalidade ou por não abaixar a cabeça pra um homem babaca.
Não deixe de comentar coisas legais nos capítulos, e se tiver críticas, sejam gentis, isso me incentiva e me anima a trazer mais capítulos para vocês. Lembrando que essa história é para maiores de dezoito anos.
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Beijos e até logo
Bianca
Sempre acreditei no príncipe encantado que aparece para nos tirar de uma rotina monótona no alto de uma torre, ainda que essa torre seja um prédio de luxo no centro se São Paulo onde moro com meu marido.
Há um penhasco gigantesco entre ser uma donzela em perigo e uma mulher negra de trinta e cinco anos. Normalmente mulheres como eu se recolhem a papéis figurantes como a moça varrendo o chão de terra sem propósito algum enquanto a princesa passa cantando.
- Bianca?
Viro para o homem no meio da sala, está calor, mas Dante insiste em sair com a camisa longa abotoada nos pulsos e calça social. Não adianta insistir com ele, mesmo a reunião sendo no nosso prédio com nossos vizinhos de sempre.
- Só mais uma página para encerrar o capítulo – viro a folha e lá está\, meia página escrita.
- Não quero chegar tarde\, você lê quando voltar.
Ele passa pela porta com passos firmes, não me dando escolha se não o seguir, mas ainda estou com o livro na mão, andando devagar enquanto devoro as últimas linhas.
Não acredito que ele morreu, que autora péssima.
Deixo o livro no aparador no instante em que ouço o elevador chegar e corro para Dante que mantém a porta aberta.
- Sabe que não precisava ir\, eles pedem a presença de só um morador por apartamento.
- Eu sei\, mas gosto de saber o que está acontecendo no prédio.
Paro e espero que ele aperte o andar do salão de festas, no térreo 1.
- Um dia\, vou apertar esse botão – Dante aponta para a cobertura.
- Eu gosto do nosso apartamento.
- Você pensa pequeno\, Bianca. Se tivesse mais dedicação teríamos duas escolas e não uma.
- Uma já dá trabalho demais.
Eu rio, mas ele está sério. Não me lembro quando paramos de nos divertir na presença um do outro, mas faz bastante tempo.
O elevador para e Dante me deixa descer primeiro, o salão está mais cheio que nas outras reuniões de condomínio e avisto a família Ferraz de longe, meu olhar percorre o corpo de Melissa, com tudo no lugar certo e sinto meu estômago revirar. De repente quero dar as costas e ir embora.
Não. Eu preciso ficar, mostrar que ele é meu marido e eu estou bem aqui.
Dante apoia a mão na minha lombar, me forçando para frente enquanto sorrio para as pessoas. Percebo outro rosto, esse não sorri.
- Bianca.
- Olá\, Dona Eulália. Como vai?
- Péssima\, seu cachorro latiu a noite toda de novo.
- Eu já disse\, eu não tenho cachorro.
- Estou louca então? – eu não queria dizer – eu ouvi\, bem em cima do meu quarto\, a noite inteirinha.
- Tenho certeza de que barulho vai entrar em pauta na reunião de hoje\, o dono do cachorro deve se manifestar.
Me dou conta que não sinto mais a mão de Dante, ao olhar em volta o vejo na mesa, arrumando os panfletos inúteis que Melissa insiste em imprimir, para gastar dinheiro desnecessário do condomínio.
- O cachorro é seu\, sei disso\, fica aí se fazendo de sonsa.
- Com licença\, Dona Eulália.
A deixo falando sozinha, não adianta discutir. Atravesso o salão. Sempre fiquei desconfortável ao cruzar uma sala cheia de gente, como se ficar em evidência fosse errado para mim.
- Boa noite\, Melissa – cumprimento gentilmente e percebo o desconforto de Dante – espero que não estejam adiantando os assuntos\, assim vão roubar toda a diversão.
Eu rio, Melissa dá um sorriso forçado tão verdadeiro como uma nota de três reais.
- Com licença\, preciso terminar de arrumar a mesa – ela se afasta e olho atravessado para Dante\, ele suspira.
- Está faltando caneta\, vou pegar na portaria para ajudar a síndica.
- Eu vou com você – me ofereço.
- Não precisa\, fique aqui mantendo os vizinhos ocupados – ele responde ríspido.
Então observo ele saindo na mesma direção que Melissa, meu coração aperta e busco o olhar do marido dela, a fim de perceber se ele também sabe.
Samuel está olhando fixamente para um ponto na mesa e percebo que tem um porta canetas, cheio de canetas, muitas canetas. Tantas, que não precisava contar para saber que daria para todos ali, afinal, só assinávamos o nome depois da reunião e nada mais.
Não fico surpresa quando Dante volta de mãos vazias, eu não olho, mas sei. Me sento de frente para Samuel, estou me perguntando se ele me acha fraca, se pensa que eu sou uma corna idiota que não dou ao meu marido regularmente e por isso ele tem que pegar a mulher dos outros.
Sei que ele não está pensando isso, porque eu não estou pensando essas coisas dele, mas tenho medo de destruir a família linda dele porque não transo mais com meu marido.
A reunião acaba sem que eu preste atenção em nada e assino a lista de presença, passo para Eulália que me olha torto.
Eu não tenho cachorro.
Então espero pacientemente enquanto meu marido conversa com a amante próximo a mesa das comidas. Ela tem que transformar isso em festa enquanto eu só quero ir para meu apartamento e descobrir que a autora ressuscitou o personagem no capítulo seguinte.
Estou exausta, mas sorrio para Samuel quando ele se senta mais perto, um pão recheado de queijo e presunto nas mãos, um homem daquele tamanho certamente comeria uns cem desses. Eu comeria.
Nós olhamos o belo casal a nossa frente e eu suspiro.
- Acho que está acontecendo há um tempo.
- Desculpa\, o que está acontecendo.
Levanto a cabeça na direção da mesa.
- Meu marido e a sua esposa. Ele a chama de síndica.
- E isso prova o que? – ele mantém a voz calma.
- Dante não chama a faxineira de faxineira ou o porteiro de porteiro. Ele sempre diz os nomes\, mas a chama de síndica\, como se quisesse fingir uma distância que não existe.
Ele fica em silêncio, eu não queria ser a pessoa que conta uma traição, mas eu precisava falar e naquele momento, tornar real.
Samuel
A semente estava plantada. Bianca havia plantado em um lugar muito profundo em minha mente.
Eu nunca tinha pensado em uma traição, Melissa sempre dizia o quanto era ocupada e que não sobrava tempo para nada, além disso, sempre achei que eu saberia caso algo assim acontecesse. Minha esposa não estava diferente, ela ainda acordava cedo para preparar o café da manhã e cuidar do nosso filho, cuidava das coisas do condomínio, era a presidente do conselho da escola.
E aí estava, passar muito tempo na escola dava também oportunidade de sentar no diretor.
- Nossa\, eu estou exausta.
Aperto o botão da cobertura no elevador e encosto no fundo. Melissa se vira e olha no espelho para arrumar o cabelo, busco em seu rosto algum indício, como se uma adultera tivesse isso gravado na testa.
- O que está olhando? Se lembrando por que se apaixonou por mim? – ela sorri com os dentes perfeitos.
Me seguro para não perguntar naquele momento, o elevador para e as portas abrem, Melissa caminha na frente, tirando os sapatos na sala e se jogando no sofá.
Eu não consigo acompanhar seus movimentos, ela parece estar um passo a minha frente todo o tempo.
- Chegaram – constata Sônia assim que chega na sala – ele já está dormindo\, ainda precisam de mim? – ela pergunta olhando para mim e depois para minha esposa.
- Não\, você pode ir – Melissa faz um sinal como se enxotasse ela e me incomodo com isso\, mas como sempre eu não falo.
Pego minha carteira e me aproximo do elevador à medida que Sônia corre para ele, apressada para ir embora.
- Não precisa\, seu Ferraz. Vocês já me pagam hora extra – ela para a mão espalmada bem a frente da minha nota de cinquenta.
- Pegue um Uber. Nesse horário não dá pra ficar andando pela rua.
- Ah\, obrigada – ela aceita a nota e seu rosto fica mais vermelho que o habitual.
Assim que ela parte, me viro para dentro do apartamento, dando passos firmes em direção á sala. Melissa esta navegando pelos títulos da Netflix a esmo.
- Quer assistir alguma coisa? Eu estou indecisa.
- Tanto faz\, está tarde. Não acho que vou ficar muito tempo acordado.
Me sento no sofá ao lado dela e Melissa se deita, com a cabeça sobre minhas pernas, da play em uma série que começamos a assistir juntos meses atrás e nem terminamos a primeira temporada.
As palavras de Bianca começam a martelar na minha cabeça com mais força. Estou pensando nela em sua própria sala de jantar, chorando e perguntando ao marido por que ele fez isso, na minha fantasia, ele desmente e diz que a ama, que não tem nada acontecendo entre ele e a síndica e o único motivo para chamar ela assim é porque não lembra seu nome, Melissa é um nome esquecível. Muita gente confunde com Larissa, Raíssa, pode acontecer. Não sei como acaba o episódio, nem como começa o outro, mas no primeiro bocejo de Melissa eu digo que é hora de dormir.
Apesar da minha posição, eu sou um homem simples, escovo os dentes, tiroa roupa e me deito com meu laptop aberto, enquanto ela anda pelo quarto atrás de camisola, cardigan, lingerie confortável, Melissa demora para tirar a maquiagem, hidratar a pele e qualquer outra coisa que ela costuma fazer no banheiro.
É quando ela volta para o quarto que eu percebo, Melissa está carregando o celular de um lado para o outro ao invés de deixar na mesa de cabeceira como uma pessoa normal faria.
Esse é o start.
Não consigo pegar no sono tão cedo, evito pensar na dor de uma traição, não posso dizer com todas as palavras que amo Melissa, eu já amei, estive apaixonado por ela por anos, mal podia esperar para chegar em casa e mergulhar dentro dela, derramando meu prazer dentro na esperança de engravidá-la. Até que recebemos a notícia de que Yuri estava a caminho.
Mas nos últimos anos meu trabalho se tornou tão complexo e necessário que mal fico em casa e na maioria dos dias só chego quando o garoto já foi dormir e minha esposa está cansada demais para um boquete.
Apesar disso não dá para dizer que estamos tendo problemas em nosso casamento. Nos damos bem, viajamos, passeamos, fazemos festas gigantescas de aniversário para nosso filho. O que mais ela quer?
Eu não quero ser o tipo de homem que xereta o celular da esposa, mas já estou com ele na mão, faço o padrão subindo e fechando um quadrado, mas ela mudou, só isso já seria o suficiente para confrontá-la, mas eu preciso ver. Texto outro padrão, um M a partir de baixo, o segundo padrão mais comum e o celular desbloqueia.
Abro o WhatsApp, olho algumas conversas, não encontro nada, o mesmo com o Facebook, Instagram, Messenger. Estou me sentindo um idiota.
Mas é quando eu estou prestes a bloquear a tela e dormir, me sentindo péssimo por desconfiar da minha esposa, que meu dedo paira sobre um app incomum. Telegram.
Bem, eu sei que muita gente usa e serve para um monte de coisa ilícita como pirataria, mas tem uma voz sussurrando no meu ouvido, me pedindo para abrir, de alguma forma, essa voz se parece muito com a da professora do meu filho.
“Bianca, você é uma vaca.”
Abro o app e a primeira conversa tem o nome de Dante e a foto dele também, sentado atrás da mesa em seu escritório, onde eu me sentei e ele sorriu para mim, meses antes, depois de ter nos feito um convite no hall do prédio, de matricular meu filho em sua escola.
Clico na conversa e várias coisas saltam na tela, há vídeos e fotos, não preciso abrir para ver a porra do pau brando de Dante. Ainda não estou pronto para ler as mensagens, mas percebo que há fotos de Melissa também, não sei porque, mas tiro prints e mando para meu email.
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