MONTANHA FYWER - PROPRIEDADE DO CLÃ HARUNO
A menina, com longas mechas de cabelo roxo-escuro que se estendiam até suas costas, estava sentada debaixo de uma imponente árvore de cerejeira. Suas folhas, ainda em sua plena exuberância, criavam uma cortina suave de flores rosas que se misturavam ao vento da tarde. A brisa delicada fazia com que as pétalas das flores caíssem lentamente, flutuando como pequenos flocos de neve, até repousarem na superfície tranquila de um lago cristalino à sua frente.
O lago, com sua água tão límpida que refletia o céu de um dourado suave, parecia um espelho perfeito para o pôr do sol que lentamente se esvaía no horizonte. O brilho alaranjado e dourado do sol se derramava por entre os ramos da árvore, tingindo as pétalas que caíam com um toque de cor quente, como se cada uma delas fosse uma pintura viva. O som do vento, junto ao suave movimento das águas, criava uma melodia serena, típica daquele fim de tarde, onde a paz parecia ininterrupta.
Apesar da paisagem deslumbrante ao redor, a garota, com a cabeça entre os joelhos, não prestava atenção a nada disso. O ambiente ao seu redor estava imerso em uma calma que contrastava com o turbilhão de pensamentos que a atormentavam. A beleza do lugar parecia distante para ela, como se sua mente estivesse em outro lugar, afastada da paz que a natureza oferecia. Mesmo com a leveza do momento, algo dentro dela se recusava a se entregar ao simples prazer da contemplação. A tristeza ou a dor que a consumia era mais forte do que a magia do cenário ao seu redor.
Naquele momento ela sabia toda a verdade por detrás de seu nascimento, toda a história de seu clã e tudo o que eles passaram.
Haruno Sakura, era a única pessoa que restava do Clã Haruno, a última flor da Cerejeira.
Ela não queria acreditar na história que o Terceiro Hokage, Sarutobi Hiruzen, líder de toda a Aldeia da Folha, tinha lhe contado, sobre terem armado para seu clã ser exterminado na Segunda Guerra Mundial Ninja, sobre o assassinato de seus pais na noite de seu nascimento, ela apenas chorava, por ter que suportar um pesado fardo, alguém queria a exterminação de seu clã e assim que descobrisse que ela tinha sobrevivido com certeza iria atrás de sua cabeça.
A Segunda Guerra Mundial Ninja ocorreu por causa de uma decadência do poder nacional. O reinado dos Cinco Grandes Países estava acabando. Pela fronteiras, conflitos com nações menores ocorreram todo o tempo. A guerra prolongada espalhou-se gradualmente a grandes distâncias e extensões. Essa guerra tornou-se numa disputa sem precedentes de atrito, atormentando todas as nações com uma diminuição no potencial bélico.
- Sakura... Eu sei que é difícil... Mas você não deve se deixar abater, está viva, seu clã é você! - Hokage disse, a menina que chorava agachada com o rosto entre os joelhos.
O Hokage vestia um manto branco que ia até seus pés cobrindo todo o corpo, um chapéu triangular que cobria um pouco os olhos e tinha um dos três lados vermelho, o símbolo da vila da folha no chapéu estava no tom branco na parte vermelha e um cachimbo na boca.
- Velho-Sama...eu quero ficar aqui... sozinha...eu quero treinar e ser uma ninja muito poderosa... ser conhecida em todas as nações.... assim... assim ninguém poderia me reprimir ao ponto de querer minha vida - engolindo o choro e os soluços, olhando para o Hokage que estava ao seu lado a pequena garotinha agora tinha um vislumbre de determinação brilhando em seus olhos.
Suas íris verde-escuro quase pretos davam destaque em sua pele branca, seus olhos estavam vermelhos, possivelmente iam inchar mas ainda sim era possível ver a determinação passando no olhar dela quando disse aquelas palavras, ela fazia de tudo para se manter firme e não deixar mais as lágrimas rolarem, tinha tomado uma decisão e agora iria até o fim.
- Tem certeza? quer ficar aqui? - perguntou apenas para ter a certeza. Era bom que ela permanecesse afastada da vila principal para a segurança dela - Treinar sozinha é muito difícil, seguindo mais para a direita, ao final de suas terras é a propriedade do Clã Uchiha, lá vive um jovem que tem aparentemente sua idade podemos verificar se é possível treinarem juntos...
- Não... Eu não quero treinar com ele, eu não conheço ele, não confio nele! - O suspiro apressando, mãos trêmulas ajeitando os fios de cabelo que caia em seus olhos dava a certeza que ela não conseguiria se habituar a ter contatos com muitos desconhecidos tão rapidamente.
- Já que é assim, irei mandar uma ninja que detém minha mais pura confiança, a caçadora AMBU, que me ajudou a cuidar de você quando era recém nascida, para ficar responsável por trazer equipamentos, alimentos, roupas e ajudar em seu treinamento. Daqui à Cinco anos, nesse mesmo dia, me procure, você irá fazer o teste comigo, se passar sua vida de ninja se inicia - Depois que obteve o consentimento de Sakura, o Hokage se virou para sair da montanha Fywer.
Aquela montanha é um terreno relativamente grande, segundo maior território da aldeia da Folha, tinha fronteira com o território do Clã Uchiha, agora não passava de local onde a entrada era proibida, uma terra com uma única dona.
Sakura preferiu ficar na montanha, ela estava na aldeia da Folha, longe da civilização mas era uma habitante da aldeia.
- Se é mais para a direita, então o terreno do Clã Uchiha que o Velho-Sama falou deve ficar bem mais próximo a civilização da vila - Esse pensamento logo foi dispensado por ela pois seu foco agora era outro.
Desde pequena foi criada por um conjunto de ninjas que cuidam dos órfãs da vila, quando completou seis anos ela veio morar em uma pequena casa na montanha Fywer, há um ano, o Hokage à visitava pelo menos uma vez por semana com mantimentos ou roupas.
- Minha mãe, como ela se chamava mesmo? - Perguntou para o senhor que já estava um pouco longe.
- Haruno Mebuki, ela era uma ninja muito talentosa - de onde estava e voltou a caminhar saindo da montanha Fywer.
Sakura adentrou a varanda da pequena casa e tornou a abaixar a cabeça e colocá-la entre seus joelhos, voltando a chorar.
- Porquê você chora tanto? - uma voz suave disse próximo de Sakura.
- Quem? - Levantou a cabeça olhando ao redor, ainda trêmula, ela então viu uma mulher de longos cabelos rosas e olhos verdes bem claros, um vestido roxo e um sorriso simpático no rosto.
- Você é uma Haruno? - a voz disse avaliando Sakura que estava sentada. Tendo ganhado o silêncio como resposta - Eu sou uma Haruno também!
- Quem é você? - O sobressalto não ocultou sua reação ao ouvir o nome de seu Clã sendo pronunciado, logo após saber a verdade, aparece uma mulher que não era enviada do Hokage, temendo por sua vida, ela estava pronta para correr.
- Iziki, Haruno Iziki, você deve ser do meu clã, porém ainda não despertou seus poderes.
As suspeitas da jovem criança só se aliviaram após olhar mais atentamente para aquela mulher, percebendo que a pele dela era muito clara, quase transparente, era apenas um espírito, uma fracção da consciência de uma pessoa que um dia tenha sido muito poderosa.
- Devo está ficando louca
- Seu nome?
- Sakura, Haruno Sakura - Um pouco receosa que alguém possa ter ouvido.
Haruno Iziki era uma figura muito conhecido na vila da Folha e em todas as cincos nações, pois a mesma, foi a primeira mulher a despertar o olho da Cerejeira e controlar com maestria, ela era a ancestral que ajudava as mulheres do clã a controlar seu poder, porém Sakura não sabia disso pois o Hokage não havia lhe contado nada.
- Pequena Sakura, o que aconteceu com nosso clã, não vejo mais uma ninja com nossa habilidade sanguínea há uns anos? - perante o questionamento, Sakura apenas abaixou a cabeça não olhando para o espirito na sua frente.
- Nosso clã foi completamente exterminado na segunda grande guerra ninja, conspiraram contra nós e a única sobrevivente foi minha mãe que estava em uma missão em outra vila, meus pais foram assassinados há oito anos e eu sou a última pessoa viva do clã - A voz cada vez mais trêmula foi falhando mais e mais até que só se ouvia os barulhos do choro contido.
- Você é filha única? - Suavemente abordando a garota que tentava de forma falha a para o choro. Ganhando como resposta um pequeno aceno em confirmação - Pequena Sakura, eu entendo a sua dor, mas você não deve se deixar levar por desejos de vingança, procure ser uma grande ninja e depois restaurar nosso Clã.
Sakura ficou calada, ela parou de chorar enquanto Iziki falava.
- Quantos anos você tem pequena Sakura? - A voz doce e calma de Iziki trazia o sentimento de segurança para a pequena garota
- Sete anos! - Olhando-a com um olhar determinado.
- Sete anos!! é muito jovem para começar, suas ancestrais ou mesmo eu começamos o treinamento com doze anos!! Você sabe que tem a habilidade sanguínea do nosso Clã, correto?
- Qualquer pessoa do Clã teria, não? - Ela já tinha lido alguns livros que o Hokage trazia e um deles falou sobre Habilidades únicas dos clãs, ou seja, as habilidades sanguíneas.
- Não, no caso do nosso clã, apenas os primogênitos e apenas se fossem mulheres herdam nossa habilidade, já que a mesma quebra um tabu muito grande no mundo ninja - A explicação apenas a deixou mais confusa.
- Tabu?
- Pequena Sakura, nossa habilidade, permite controlarmos Terra, Fogo, Ar, Água, Raio, mesmo que outros ninjas consigam usar todos elementos, nossa habilidade é superior em controle e uso de chakra.
- Iziki-san eu conseguia fazer isso? controlar todos esses elementos? - O sorriso brilhante apareceu no rosto de Sakura.
- Pequena Sakura, no auge do controle de nossa habilidade, misturar vários elementos e criar um novo é algo fácil que outros ninjas não podem fazer.
- Iziki-san me ajude a treinar, por favor - pedindo com as mãos juntas.
- Pequena Sakura, posso lhe ensinar alguns dos meus jutsus ou explicar a teoria, mas você tem que aprender primeiro a controlar o chakra, além de tudo você deveria aprender o básico do Taijutsu e nisso eu não posso ajudar, afinal isso é apenas uma fracção de minha consciência
O entardecer já tinha passado e a escuridão da noite estava cada vez mais profunda, conforme as duas estavam conversando, Sakura clareou minimamente o local, era orientada a não destacar sua posição. O vento vinha forte balançando as árvores.
Um barulho próximo deixou a garota alerta, detrás de uma árvore, a fisionomia de uma mulher foi vista, cabelos tão pretos como a noite, quase sendo impossíveis de vê na pouca claridade que o local fornecia, presos em um rabo de cavalo, uma máscara prateada que cobria todo o rosto, roupas pretas confeccionadas com vários acessórios ninjas.
- Você é Sakura, vim a mando do Hokage-Sama, meu nome é Zashi Marattoi - a voz ecoou de forma fria e contida.
Olhando para a mulher, admirando-a, concordando com a cabeça, a princípio estranhou, afinal nunca tinha visto aquela máscara ANBU, as outras ninjas tinham as máscaras brancas com detalhes entre azul, preto e vermelho.
Zashi não queira está ali, não novamente, quando aconteceu o assassinato de Mebuki, foi ao acaso que ela se encontrou com ela enquanto fugia com uma criança recém-nascida nos braços e naquela floresta fria e escura, ela atendeu por impulso ao último pedido da Haruno.
"Por favor.... cuide de.... Sakura... ela tem que sobreviver..."
Até hoje ela se lembra quando pegou o bebê em seus braços e saiu rapidamente da floresta, ao se encontrar com o Hokage, o mesmo havia pedido para ela criar Sakura por um tempo até ter idade para ser cuidado pelos outros ANBU, por esse motivo ela não pode participar de várias missões e agora anos depois a mesma história de repete.
- Ótimo! Zashi você poderia ajudar a pequena Sakura no seu treinamento?
Zashi concordou acenando suavemente com cabeça, por trás da máscara ela estava tão surpresa que sua boca estava aberta, ela simplesmente conheceu uma lenda, Iziki Haruno a mulher dos livros, conhecida em todas as nações, apesar de não ter nenhuma escultura de Iziki, suas características eram bem detalhada nos livros, permitindo qualquer um reconhece-la.
Zashi recebeu novamente a mesma missão pelo Hokage, ela teria que ficar cuidando de Sakura por cinco anos, por causa dessa missão ela teria que sair temporariamente da ANBU, só poderia voltar as missões quando passasse o período, novamente ela não tinha gostado da ideia, porém as ordens do Hokage valiam sua vida e ela não tinha outra escolha além de obedecer e realizar com a maior perfeição possível, porém, depois de conhecer a Iziki ela abrandou esses pensamentos negativos, e agradeceu mentalmente o Hokage por ter escolhido ela novamente.
Não tendo marido, nem filhos, sua vida era dedicada às ordens do Hokage, teve uma paixão por um ex-membro da ANBU na adolescência, mas nada que lhe impedia de seguir sua carreira ninja.
- Que cheiro é esse? Está vindo da direita, é lá onde fica aquele clã uchiha que o Hokage falou - assustada Sakura se encolhia ao perceber o forte cheiro de ferro, algo estava acontecendo naquela direção.
- Droga!! - Apressando-se como se já soubesse o que estava acontecendo Zashi se preparava para parti.
- O que está acontecendo?
- Se esconda, apague as luzes e fique em silêncio, eu volto logo! - Zashi rapidamente se movia em direção ao fim das terras dos Harunos.
- VOCÊ VAI ME LARGAR? - o grito amedrontado e desesperado de Sakura parou Zashi por um breve momento.
- Eu fico fazendo companhia a ela, vá sem preocupação
- Volto logo, Sakura, faça o que mandei e não faça barulho - o corpo paralisado da garota não se moveu - AGORA!!
Sakura rapidamente entrou e apagou as luzes e se escondeu entre dois móveis com Iziki lhe fazendo companhia.
Zashi voltou muito tarde naquela noite, e depois daquela noite, ela nunca mais saiu deixando Sakura naquele estado, sempre que precisava sair, ela avisava com bastante antecedência e instruía a menina de como proceder sem ela lá.
Com passar do tempo um pequeno laço familiar foi sendo formado, apesar de todo carinho, ela nunca pegava leve com Sakura.
Iziki devido a sua vasta experiência era a responsável por toda a parte teórica, a melhor professora que poderia ter para aprender sobre o mundo ninja.
Quando Sakura não estava treinando, estava lendo alguns livros que Zashi lhe trazia e isso acabou mudando bastante a mentalidade da garota. Os dias passaram rapidamente.
A brisa da tarde agitava levemente as folhas secas que cobriam os galhos retorcidos das árvores do velho bosque. Em uma delas, quase no topo, sentada de maneira relaxada, estava Sakura. Seus longos cabelos roxos presos em um rabo de cavalo balançavam suavemente com o vento, uma mania que pegara de Zashi - evitar o incômodo das mechas soltas durante os treinos havia se tornado quase um mantra.
Vestia uma blusa branca sem mangas, simples, mas marcada por um símbolo especial: um círculo com cinco inscrições distintas em seu ombro direito. A marca de seu clã, o despertar do sangue Haruno. Um despertar que ainda era incompleto - o selo estava ali, visível, pulsante, mas imóvel. Uma promessa não cumprida. Se falhasse em manifestá-lo por completo, essa marca permaneceria em sua pele para sempre... um lembrete silencioso de algo que tentou, mas não alcançou.
Com os olhos atentos, lia um antigo livro entregue por Zashi. A história falava de um tempo sombrio, de um demônio ancestral - uma raposa de nove caudas, cujo simples balançar de uma de suas caudas podia destruir montanhas e erguer tsunamis. O texto descrevia com reverência um herói: o Quarto Hokage, Minato Namikaze, o homem que selou o monstro ao custo da própria vida.
De repente, um estalo seco entre os galhos próximos a fez levantar os olhos.
- Pequena Sakura... infelizmente, eu não posso mais ficar nesse mundo... - disse uma voz conhecida, rouca, mas doce.
A jovem olhou na direção do som e arregalou os olhos.
- Iziki-sama! - exclamou, pulando da árvore com agilidade. O livro caiu no chão, esquecido.
A figura de Iziki, embora translúcida e pálida, aproximava-se lentamente. Sua presença parecia flutuar entre o físico e o espiritual. O tempo cobrava sua dívida.
- Minha consciência está enfraquecendo - continuou Iziki, com um sorriso triste no rosto. - Ficarei adormecida por 15, talvez 20 anos... Mas você não estará sozinha. Zashi cuidará de ti, e quando eu despertar... quero treinar seus filhos.
Sakura baixou o olhar, mordendo os lábios. Um nó se formou em sua garganta. Uma lágrima teimosa escapou, mas ela a enxugou com um rápido movimento do dedo indicador. Não podia parecer fraca.
- Obrigada por tudo, Iziki-sama. Sua presença me deu força. Esse é apenas o começo da minha jornada, mas você... você me ajudou a dar o primeiro passo.
Iziki se aproximou ainda mais, sua expressão entre o carinho e a severidade.
- Não se descuide. Você tem potencial. Treine duro. Lembre-se: quero outro Haruno para moldar com minhas próprias mãos.
Sakura sorriu, forçando firmeza.
- O clã Haruno não será restaurado...
Iziki franziu o cenho, surpresa.
- Como não?
- Vou me casar com outro clã - respondeu, firme. - O nome Haruno será apagado, mas nosso sangue seguirá... longe das armadilhas do nome. Quero garantir que ele sobreviva, mesmo que como uma semente anônima.
Iziki hesitou, tentando responder, mas sua imagem começou a se dissipar. Suas últimas palavras se apagaram no ar como um eco interrompido. No lugar onde estivera, pétalas de cerejeira flutuaram por um instante antes de serem levadas pelo vento.
Sakura permaneceu imóvel por alguns segundos, respirando fundo. Em seguida, pegou o livro do chão, limpou a capa com a palma da mão e sentou-se no solo, agora mais silencioso. Voltou à leitura, com o coração mais pesado. Quando terminou, meia hora depois, levantou-se e caminhou para sua casa - uma pequena construção de madeira, acolhedora, onde o cheiro de comida fresca já invadia o ar.
Zashi, uma mulher de presença marcante e olhar firme, estava servindo a refeição.
- Sakura, se passar no teste, volto a fazer missões de longo prazo para a ANBU - disse ela, colocando um prato na mesa.
- Certo, Za-chan - respondeu Sakura, jogando-se preguiçosamente sobre a cadeira, parecendo uma criança por um segundo.
- Vai fazer o teste do Hokage agora? - indagou Zashi, olhando de lado, preocupada.
- Amanhã serei uma Genin - declarou com um sorriso cheio de arroz nos dentes. - Estou mais perto do meu objetivo... e a comida está maravilhosa!
- Já te falei para não falar de boca cheia. Cadê a educação?
- Desculpa, Za-chan... - murmurou, ainda mastigando.
- E Iziki-sama? Ela já voltou ao descanso?
- Sim. Ela me ensinou muitas coisas importantes... até alguns jutsus.
Zashi cruzou os braços, séria.
- Ela quer que você restaure o clã, não é?
Sakura se levantou, levando o prato até a pia e o deixando ali. Respirou fundo, sem olhar para trás.
- Eu... não quero isso.
Zashi arqueou uma sobrancelha, gesto que bastou para a garota suspirar e voltar para lavar o prato direito.
- Eu vou me casar com outro clã. O nome Haruno desaparecerá, mas o sangue continuará. Melhor do que arriscar que tudo seja destruído novamente.
Terminando de limpar o prato, Sakura seguiu até a porta.
- Boa sorte, Sakura.
Zashi observou a garota desaparecer entre as sombras da noite. Cruzou os braços, apoiando-se no batente da porta. Seus pensamentos giravam em silêncio.
"Esses dois anos vivendo comigo e com Iziki fizeram dela mais do que uma criança... Sakura desenvolveu uma mente estratégica, quase fria. Às vezes age como uma garota inocente, mas por trás disso há um plano. Casar-se com outro clã pode ser uma boa jogada... mas carrega riscos. Terei que orientá-la sobre isso antes que seja tarde demais."
~ Vila Oculta da Folha - Sala do Hokage ~
O sol do meio da manhã atravessava as largas janelas da torre do Hokage, lançando feixes dourados sobre os móveis antigos e bem-cuidados. A sala exalava respeito e poder: paredes cobertas por estandartes do símbolo da Folha, pergaminhos empilhados em estantes, e no centro, a grande mesa de madeira esculpida, onde se sentava a figura mais respeitada da vila.
Foi por uma dessas janelas que Sakura entrou, com um salto gracioso. A brisa entrou junto com ela, bagunçando os papéis e fazendo o Hokage erguer uma sobrancelha com leve divertimento.
- Velho-sama,- disse ela, pousando com leveza no parapeito e balançando as pernas com certa irreverência. - Cheguei.
O Hokage, homem de meia-idade com cabelos grisalhos e olhar experiente, ergueu os olhos da papelada. Por um momento, apenas a observou - não com severidade, mas com um carinho contido.
- Você cresceu - murmurou, cruzando os braços. - Me sinto como um pai que passou anos fora e ao voltar encontra a filha quase adulta.
Sakura sorriu com um brilho malicioso nos olhos.
- Vamos fazer logo o teste. Quero mostrar minha bandana pra Za-chan antes que ela pense que fui reprovada só pra poder comer mais do ramen dela.
O Hokage soltou uma risada baixa, sacudindo a cabeça.
- Está pronta para ser testada?
- Sempre estive.
Ele se recostou na cadeira, estreitando os olhos.
- Já que foi treinada por Zashi... - disse com um certo pesar, puxando a manga do manto - ...vou dificultar um pouco as coisas. Faça três jutsus de clonagem. Transforme-os em pessoas diferentes e mantenha as formas por, digamos, o tempo que eu achar necessário.
Apesar da seriedade, o Hokage já havia decidido. Os relatórios enviados por Zashi eram precisos demais para dúvidas. Treinada por uma ANBU por cinco anos, Sakura já estava acima da média - mas ele precisava ver com os próprios olhos.
Sakura não hesitou. Com um estalar de dedos e um olhar afiado, começou a formar os selos com mãos rápidas como relâmpagos.
- Bunshin no Jutsu!
Três clones surgiram ao seu lado em uma nuvem de fumaça. Ela respirou fundo, fechou a mão direita e ergueu dois dedos. A transformação começou a brilhar, moldando chakra com precisão. Em poucos segundos, os três clones assumiram formas humanas distintas: o próprio Hokage, Zashi- com sua expressão tranquila porém vigilante - e, curiosamente, uma cópia dela mesma.
O verdadeiro Hokage observou em silêncio, apoiando o queixo em uma das mãos. Era um bom sinal que ela conseguisse manter as formas tão estáveis. Os clones não oscilavam, e nem apresentavam falhas comuns de molde.
Dez minutos se passaram, e Sakura apenas respirava lentamente, com concentração leve, quase natural.
- Já se passaram dez minutos. É o suficiente. - disse o Hokage, satisfeito.
Sakura estalou os dedos e, com um leve sopro, desfez os clones em névoa.
- Pronto.
- Você sabe... - disse ele, se inclinando para abrir uma gaveta - ...que precisa evitar mencionar o nome do seu clã. Para sua própria segurança.
Ela assentiu, já se virando para a janela de onde havia entrado.
- Zashi me orientou desde o início. Sei o que está em jogo.
- Fico aliviado. Eu também manterei seu nome longe de qualquer associação com o Clã Haruno. Mas fique atenta... existem pessoas que reconhecem os jutsus de sangue. E aquela marca no seu ombro - ele lançou um olhar direto - não deve ser vista por ninguém. Quando ela desaparece?
Sakura fez uma careta e passou a mão sobre o ombro direito, desconfortável com o peso da pergunta.
- Enquanto meu sangue não despertar completamente, ela vai continuar aí. Meus cabelos também ficam nessa cor... roxo escuro... horrível. E meus olhos... quase pretos. Não sou eu ainda.
Ela olhou para o chão por um instante. "Quero meus cabelos rosa como os de Iziki-sama", pensou, com um aperto no coração.
- Daqui a dois dias, - disse o Hokage, estendendo um estojo e uma bandana recém-lustrada - você deverá se apresentar na academia ninja. Lá, será associada a um professor. Zashi sabe onde é. Aqui está sua bandana... e seu equipamento básico. Se precisar de mais, fale com ela.
Sakura pegou os objetos com cuidado. A bandana... era real. Pesava pouco nas mãos, mas muito no coração. Ela a guardou cuidadosamente dentro da bolsa, sem amarrá-la.
- Não vou colocar agora,- murmurou para si mesma, já caminhando de volta à janela. - Quero mostrar primeiro para a Za-chan.
Com um último aceno ao Hokage, pulou com leveza e desapareceu pela janela, deixando apenas uma brisa agitando os pergaminhos sobre a mesa.
Do lado de fora, o sol estava mais alto, iluminando o caminho estreito entre os prédios da vila. Sakura caminhava com passos leves, mas firmes. Um sorriso discreto surgia em seus lábios enquanto seus dedos tocavam o pano da bandana dentro da bolsa.
"Vou passar na academia amanhã. Quero ver quem mais conseguiu se graduar. Não deve ser tão difícil encontrar o lugar... nem os rostos que cruzarão meu destino."
E assim, o próximo passo da jornada começava - não apenas como uma ninja, mas como a herdeira silenciosa de um clã esquecido, moldada por sombras, treinada por lendas.
~ Alguns minutos depois - Sala do Hokage, Vila da Folha ~
O silêncio da sala foi quebrado de forma abrupta quando a porta foi escancarada com força suficiente para sacudir os pergaminhos sobre a mesa. Dois chūnin entraram ofegantes, suados, como se tivessem corrido da muralha até ali sem parar.
- Hokage-sama! - exclamou o primeiro, com os olhos arregalados de urgência.
- É o Naruto! - completou o segundo, já puxando a bandana para enxugar o suor da testa.
O Hokage soltou um longo suspiro, reclinando-se na cadeira com um cansaço que não vinha apenas da idade.
- O que foi agora? - perguntou, franzindo a testa como quem já esperava o pior.
- Ele... Ele está profanando o Monumento dos Hokages com tinta!
Por um momento, o Hokage fechou os olhos, tentando reunir a paciência.
- De novo, Naruto...? - murmurou, levantando-se lentamente. - Vamos lá ver o que o menino está aprontando desta vez...
~ Do lado de fora - Base do Monumento dos Hokages ~
As cabeças dos antigos líderes da vila estavam entalhadas com reverência nas rochas da montanha - rostos eternos que encaravam a vila como guardiões silenciosos. Mas hoje, aquele símbolo sagrado estava sendo... pintado.
Tinta vermelha, azul e até roxa escorria pelo rosto do Primeiro Hokage, e alguém - ou melhor, um certo alguém - estava pendurado com cordas, balde em uma mão e pincel na outra, completamente despreocupado.
- Hey! PARE DE FAZER ISSO!!! - gritou um dos ninjas abaixo.
- VOCÊ ESTÁ ENVERGONHANDO A VILA, NARUTO! - berrou outro.
- VOCÊ SEMPRE ARRUMA PROBLEMAS! - completou um terceiro, apontando para o caos pintado.
No centro da confusão estava Naruto Uzumaki, garoto de cabelos loiros espetados e olhos azuis que brilhavam com travessura. A corda que o prendia à cintura balançava com seus movimentos. Ele se segurava com uma perna apoiada no rosto do Segundo Hokage, enquanto pintava bigodes coloridos no Terceiro.
- CALEM A BOCA, IDIOTAS!!! - gritou Naruto, devolvendo os insultos sem medo. - Eu sou um artista incompreendido!
Enquanto os ninjas tentavam subir pela estrutura para detê-lo, a multidão aumentava. Crianças riam, adultos murmuravam em choque, e o caos crescia.
Do alto das escadarias, o Hokage chegou ao local, os olhos cerrados na cena diante dele.
- Droga... o que esse moleque tá fazendo agora...?
Ao lado dele, surgiu Iruka Umino, alto, com feições sérias, e a característica cicatriz horizontal no rosto. Seu suspiro foi pesado como uma tempestade contida.
- Hokage-sama, me desculpe por isso...
O velho sorriu, apesar de tudo. Os olhos se suavizaram ao reconhecer o homem.
- Oh! Iruka! - disse com um alívio discreto. - Ainda é você que consegue dobrar aquele menino teimoso.
Iruka assentiu e avançou, a voz grave ecoando firme:
- NARUTO!!! LIMPE ISSO AGORA, SEU IDIOTA!!!
Lá no alto, Naruto travou. O balde quase caiu de sua mão. Seu corpo ficou rígido, os olhos arregalados.
- D-droga! É o Iruka-sensei... - resmungou para si mesmo, já vendo sua liberdade escapar como tinta escorrendo da parede.
~ Algum tempo depois - No topo do monumento \~
Sentado em cima da cabeça do Quarto Hokage, Iruka observava Naruto esfregando um trapo já encharcado de tinta. O menino resmungava a cada esfregada, o rosto franzido em tédio e frustração.
- Eu não vou te deixar sair daí até limpar tudo! - disse Iruka, os braços cruzados, olhos atentos.
Naruto parou por um instante, suando, e olhou para baixo, para a vila que se estendia até onde a vista alcançava. Seus ombros caíram.
- Como se eu ligasse...- murmurou. - Não tem ninguém me esperando mesmo.
As palavras ficaram no ar, pesadas. Iruka sentiu um nó no estômago. A expressão rebelde de Naruto escondia algo mais profundo: solidão.
- Naruto... - disse baixinho, os olhos suavizando-se com tristeza.
- O que é agora...? Pq - Naruto respondeu sem ânimo, mantendo o olhar baixo. Pela primeira vez, sua voz não carregava sarcasmo nem bravata - apenas uma dor mal escondida.
Iruka respirou fundo.
- Bem... - pigarreou, tentando manter o tom casual. - Se você terminar isso direito... eu te levo para comer um ramen no Ichiraku esta noite.
Naruto virou-se com os olhos arregalados, como se alguém tivesse acendido uma chama dentro dele.
- Sério? Ramen mesmo?
- Sim. Um grande. Do tipo que você gosta.
- Então tá! Eu vou trabalhar duro, Sensei! Vai ver só!
Com novo vigor, Naruto passou a esfregar com força, mesmo que a tinta estivesse grudada como se fosse selada com chakra.
Iruka sorriu. Por um instante, aquele menino não era um problema. Era só uma criança querendo ser notada.
~ À noite, no Ichiraku Ramen ~
A aldeia estava banhada por uma luz âmbar suave, projetada pelas lanternas penduradas nos telhados das lojas e casas. As ruas da Vila Oculta da Folha estavam mais silenciosas do que o habitual - apenas alguns passos apressados e risadas discretas quebravam o clima tranquilo daquela noite. No fundo de um beco lateral, entre uma loja de ferramentas ninjas e um antiquário, estava o acolhedor e já conhecido quiosque de lamén Ichiraku.
O aroma do caldo quente misturado ao vapor que escapava das panelas grandes criava um ambiente aconchegante, como um abraço quente após um dia longo demais. A fumaça subia lentamente, misturando-se com o céu estrelado que cobria Konoha como um manto protetor.
Sentado em um dos bancos altos de madeira, Naruto Uzumaki inclinava o corpo sobre o balcão, com os olhos fixos na tigela fumegante à sua frente. Ele já havia comido metade do ramen, mas a mente divagava, pesada com pensamentos que iam além do simples vandalismo do dia.
Ao seu lado, Iruka, com a postura levemente inclinada e os hashis (pauzinhos) equilibrados entre os dedos, fitava o garoto com um misto de cansaço, preocupação... e carinho.
- Por que você fez aquilo com o monumento, Naruto? - Iruka quebrou o silêncio, levando uma porção de macarrão à boca. - Você sabe quem são os Hokages, certo?
Naruto não respondeu de imediato. Seus olhos azuis, normalmente cheios de travessura, estavam fixos no vapor que saía da sopa. Ele parecia pequeno, mais do que de costume, como se o peso do mundo inteiro estivesse em seus ombros.
- Claro que sei,- murmurou, sem encarar Iruka. - Os Hokages são os ninjas mais fortes da vila, não são? Aqueles que protegem todos... aqueles que todo mundo respeita.
- Então por que fazer aquilo? - insistiu Iruka, agora encarando Naruto com intensidade. Seus olhos pediam sinceridade.
Naruto franziu os lábios. Levantou o olhar lentamente, encarando o homem ao seu lado. Sua voz veio firme, embora baixa:
- Se eu me tornar Hokage, Sensei... - seus olhos brilharam, não de lágrimas, mas de fogo. - Eu quero que todos saibam quem eu sou. Eu quero que um dia... ninguém mais me olhe como um peso, um problema... um monstro.
Iruka ficou em silêncio. O hashis pararam no ar. O peso daquelas palavras era como um punhal silencioso no peito. Ele respirou fundo, desviando o olhar por um momento.
Naruto pigarreou e, tentando mudar o clima, forçou um sorriso meio torto:
- Sensei... eu posso usar sua bandana por um tempo? - apontou com o dedão para a testa de Iruka, onde o símbolo de Konoha brilhava à luz do quiosque.
Iruka soltou uma risada baixa, quase surpresa pela pergunta súbita. Tocou a bandana com os dedos e depois balançou a cabeça com firmeza.
- Isso aqui? - apontou para a placa metálica presa ao tecido azul-escuro. - Não, não, Naruto. Isso aqui não é só um enfeite.
Ele se inclinou um pouco mais próximo, o tom mais suave.
- Essa bandana representa algo que você vai precisar conquistar com seu próprio esforço. É o símbolo da sua dedicação, da sua promessa para a vila.
- Quando você se formar, ela será sua - e só sua. - sorriu. - Quem sabe... talvez você consiga a sua... amanhã.*l
Naruto arregalou os olhos. Por um segundo, a esperança brilhou com força neles.
- Sério?! - ele quase pulou do banco. - Você acha que eu consigo mesmo?!
- Se fizer direito, sim. - Iruka deu de ombros. - Mas precisa parar de tentar chamar atenção do jeito errado. Lute para ser reconhecido por quem você é... não pelo que os outros dizem.
Naruto baixou o olhar e sorriu, dessa vez de verdade.
- Entendi, sensei. Obrigado pelo ramen... e pelas palavrasc- falou enquanto ainda mastigava os últimos fios de macarrão.
Do outro lado do balcão, Teuchi, o dono do Ichiraku, apenas sorriu, fingindo não ter ouvido nada. Mas, no fundo, ele torcia por aquele garoto - como tantos outros que já viam, mesmo que ainda bem distante, o brilho de um verdadeiro Hokage crescendo ali.
~ Casa de Sakura - Noite ~
A brisa noturna soprava suave pelas folhas da grande árvore no quintal. As estrelas cintilavam em um céu limpo, onde a lua crescente parecia vigiar em silêncio as inquietações da jovem que ali se encontrava.
Sakura estava sentada em um dos galhos mais grossos da árvore, com os pés balançando lentamente no ar. Pela primeira vez em muito tempo, seu longo cabelo roxo caía solto sobre os ombros, dançando com o vento. Era raro vê-la assim - normalmente, o prendia com firmeza, como Zashi lhe ensinara, para manter os olhos livres durante os treinos.
Mas agora, sob o céu tranquilo, ela permitia-se um momento de vulnerabilidade.
"Quando esse cabelo vai assumir suas características Haruno?" - pensava, lançando um olhar distante para o luar. - "Quero meus cabelos rosa e longos... como os da Iziki-Sama. Quero parecer com ela. Quero... ser reconhecida como uma verdadeira Haruno."
Os pensamentos foram interrompidos por passos suaves no chão de terra. Ela reconheceria aquele andar em qualquer lugar.
- Você passou? - perguntou Zashi, com a voz baixa, quase maternal, ao erguer os olhos e encontrar a garota sentada entre os galhos.
Sakura sorriu antes mesmo de responder. Com um salto ágil e silencioso, aterrissou suavemente no chão. A jovem puxou a pequena bolsa presa à cintura e, com um brilho orgulhoso nos olhos, ergueu a bandana da Vila Oculta da Folha.
- Za-chan, você ainda duvidava? - provocou com um sorriso vitorioso, os olhos verdes reluzindo à luz prateada da lua.
Zashi não respondeu de imediato. Apenas se aproximou e bagunçou os cabelos da menina com uma risada leve.
- Isso! Essa é minha garota!- exclamou, com uma energia alegre que escondia a emoção silenciosa por trás dos olhos. Ver Sakura dar mais esse passo a enchia de orgulho... e de medo também.
Sakura sorriu, mas seus olhos não conseguiram esconder um certo peso que se instalava devagar.
- Za-chan... amanhã você vai sair para aquelas missões longas, não vai? - perguntou enquanto caminhava na frente, entrando na casa de madeira aconchegante onde moravam.
Zashi fechou a porta atrás de si, observando Sakura tirar as sandálias e caminhar até o centro da sala. Ela percebeu, no modo como os ombros da garota estavam tensos, no modo como ela evitava contato visual... algo a estava incomodando.
- Sakura, - chamou suavemente, a voz firme, mas acolhedora - o que está te afligindo?
Sakura parou. Ficou em silêncio por alguns instantes, e então soltou um suspiro longo, como se estivesse tentando colocar o coração para fora.
- Eu estou receosa... - confessou. - De acabar sendo associada ao Clã. Ao nome Haruno.
Zashi a observou por um momento. Então se aproximou com calma e colocou as mãos nos ombros da menina, apertando-os com leveza, mas com firmeza suficiente para que ela sentisse o apoio.
- Você não está sozinha, pequena. - disse, com um meio sorriso que tentava transmitir segurança. - Eu estou aqui. Esqueceu?
Sakura finalmente levantou os olhos. Aquelas palavras tinham o poder de acalmar a tempestade que havia dentro dela.
- Tem razão... - murmurou. - Não devia me preocupar tanto. Za-chan é a melhor.
Zashi riu suavemente, esfregando o cabelo da garota como gesto brincalhão.
- Só não esquece disso quando estiver andando por aí se achando demais com essa bandana na testa.- provocou.
- Nem vou colocar ainda. Quero que a primeira pessoa que me veja com ela seja você. - Sakura respondeu, e dessa vez seu sorriso era mais leve.
~ No outro dia - Academia Ninja da Vila da Folha ~
A manhã estava viva e barulhenta na vila, especialmente nos arredores da Academia Ninja. O som de jovens vozes e passos apressados preenchia os corredores e pátios. O sol brilhava forte, refletindo no telhado de cerâmica vermelha da escola, enquanto os aprendizes se reuniam em fila, uniformizados, ansiosos, nervosos - e alguns, confiantes demais.
A sala de testes estava iluminada por janelas largas, e no centro, o professor Iruka observava seus alunos com atenção. Ao lado dele, outro chunin - Mizuki - mantinha os braços cruzados, encarando todos com um semblante indiferente.
Iruka respirou fundo e falou com sua voz firme, mas encorajadora:
- Agora, para o exame de graduação, cada um de vocês fará o Jutsu de Clonagem. Quando eu chamar seus nomes, venham comigo para a próxima sala e executem a técnica. - deu um leve sorriso, tentando amenizar a tensão no ambiente. - Lembrem-se: concentrem o chakra e mantenham a mente focada.
Ele começou a chamar os nomes.
Sons de cadeiras arrastando e passos apressados se misturavam ao murmúrio ansioso dos que ainda aguardavam.
No fundo da sala, sentado em silêncio com os punhos cerrados sobre os joelhos, estava Naruto. Seus olhos azuis se moviam inquietos entre os colegas. O suor já se acumulava em sua testa, e ele engolia em seco a cada nome que era anunciado antes do seu.
"Droga... justo essa técnica... tinha que ser logo essa..." - pensou, mordendo o lábio inferior.
Então veio:
- Naruto Uzumaki.
O mundo pareceu congelar por um instante. Vários alunos o encararam, alguns rindo baixo, outros apenas curiosos. Naruto se levantou devagar, o peito estufado numa falsa confiança.
- Eu vou conseguir! - disse para si mesmo, caminhando até a sala de avaliação com passos firmes, embora seus olhos denunciavam o medo que borbulhava por dentro.
Na sala, Iruka o observava com atenção, Mizuki com impaciência.
- Quando estiver pronto, Naruto - disse Iruka.
Naruto respirou fundo, fechou os olhos por um segundo e começou a formar os selos com as mãos. Concentrou seu chakra com força, quase demais.
- Bunshin no Jutsu! - gritou com determinação.
Uma nuvem de fumaça envolveu o garoto, mas o resultado foi desastroso.
Ao lado dele, um clone surgiu - ou ao menos algo que tentava ser um clone. Estava pálido, meio desmaiado, os olhos tortos e o corpo torto como se estivesse prestes a desabar. Em segundos, a figura vacilou e desapareceu com um sopro de vento.
Naruto encarou a fumaça sumindo, os olhos arregalados, o peito vazio.
- Reprovado - disse Iruka com frieza, sem nem hesitar.
- Iruka-sensei- Mizuki protestou, a voz pesada de antecipação. - Essa é a terceira tentativa de Naruto.
- Eu sei que ele tem vontade, mas os outros alunos conseguiram fazer pelo menos três clones... e o dele mal se sustentou.
Naruto abriu um sorriso esperançoso por um breve segundo, olhando para Iruka - talvez, só talvez, ele fosse deixá-lo passar. Mas o olhar de Iruka era firme. Mesmo com dor no coração, ele balançou a cabeça em negação.
O sorriso desapareceu.
Naruto virou o rosto antes que as lágrimas fossem visíveis. Saiu da sala em silêncio, como um fantasma apagado por dentro.
~ Mais tarde, nos jardins da Academia ~
Os recém-formados genins estavam todos reunidos em volta de Iruka, recebendo suas bandanas com orgulho. Risos, abraços, comemorações. Alguns já imaginavam que time seriam designados, outros apenas estavam felizes por finalmente conseguirem.
E afastado, sob a sombra de uma árvore, Naruto balançava-se lentamente num velho balanço de corda, pendurado em um galho da arvore. O vento balançava seu cabelo loiro bagunçado. O olhar dele estava vazio, afundado em tristeza. Seus pés raspavam o chão poeirento sem entusiasmo.
De repente, algumas vozes surgiram próximas.
- Ei, olha ali... é ele.
- Sim, aquele é "o" garoto.
- O único que falhou no exame.
Naruto não precisava ouvir mais. As palavras doíam, mesmo que ele já esperasse. Mas o que mais doía era o tom - desprezo, desdém, como se ele não fosse nada.
- Bom, ainda bem, né? Assim ele não pode virar um ninja.
Naruto apertou o punho. Saltou do balanço e saiu correndo, ignorando tudo e todos.
Mas nem todos haviam ignorado a conversa.
Sakura, que havia acabado de sair da sala com a bandana recém-amarrada ao braço, caminhava com passos firmes. Seus olhos brilhavam de indignação.
- Por que não? - perguntou ela, encarando um dos adultos que cochichava ao fundo.
O homem a olhou como se ela fosse uma criança intrometida. E era. Mas Sakura não recuou.
- Você não entenderia, criança. - disse friamente, antes de se virar e ir embora.
Sakura ficou ali por um tempo, observando o vazio deixado por Naruto.
- Só porque não conseguem vê valor nele... não significa que ele não vale nada - murmurou para si, com um aperto no coração.
~ Fim de Tarde - Academia Ninja ~
A luz dourada do entardecer se derramava sobre os telhados da Aldeia da Folha, tingindo as sombras de laranja suave. O burburinho da multidão de pais e alunos, que minutos antes enchiam o pátio da academia com gritos e risos, agora se dissipava lentamente. Os recém-formados genins deixavam o local com suas bandanas brilhando nos braços, testas ou pescoços, alguns orgulhosos demais, outros ainda em choque pela conquista.
E então, entre os instrutores que ainda observavam os arredores, uma figura se aproximou - seus passos calmos, a expressão grave. Era o Terceiro Hokage, Hiruzen, com seu manto esvoaçante e o olhar sempre atento.
- Iruka, - chamou com serenidade.
O professor ergueu os olhos, como quem já esperava uma repreensão.
- Sim, Hokage-sama. - se aproximou imediatamente.
O Hokage fez um gesto sutil com a mão, indicando para que caminhassem juntos. Eles se afastaram um pouco, para a sombra de uma árvore próxima, longe dos ouvidos curiosos.
- Iruka, - repetiu o velho ninja, em tom mais pessoal.
Iruka endireitou-se, os ombros tensos. Esperava uma crítica velada, talvez por ter sido duro com Naruto.
- Estou ouvindo, senhor.
O Hokage fitou o horizonte, onde os últimos raios de sol tocavam os rostos esculpidos dos Hokages nas montanhas.
- Você sabe... o Naruto é muito parecido com você, sabia?
Iruka piscou, confuso.
- Comigo...?
- Sim, - continuou Hiruzen, com um sorriso cansado no rosto. - Sozinho. Impulsivo. Fazendo confusão para ser visto... Mas com uma força dentro dele que ainda nem ele mesmo entende. Pense nisso.
O professor ficou em silêncio. O Hokage tocou seu ombro com gentileza e então se afastou, sumindo pelas sombras da aldeia, deixando Iruka sozinho com seus pensamentos.
~ Em Outro Lugar da Vila - Bairro Residencial ~
As luzes começavam a acender nas casas, e os telhados da Vila da Folha assumiam uma tonalidade dourada sob o céu de fim de tarde. Nas ruas mais calmas, com poucos transeuntes, Naruto andava devagar, chutando uma pedrinha à frente, cabeça baixa, mãos nos bolsos do moletom. Seus passos ecoavam um desânimo que doía até no chão.
- Naruto. - chamou uma voz familiar.
Ele parou e ergueu os olhos devagar. Era Mizuki, seu professor auxiliar.
- Mizuki-sensei? - a surpresa fez seus olhos se abrirem um pouco mais.
- Posso conversar com você um instante?
- Claro...- respondeu com a voz apagada.
Mizuki sorriu com gentileza e gesticulou para que o seguisse. Os dois caminharam até o pequeno prédio onde Naruto morava. Subiram os degraus em silêncio, e logo estavam sentados na varanda do apartamento bagunçado do garoto. O vento soprava levemente, bagunçando os cabelos loiros de Naruto.
Lá embaixo, as ruas iam ficando mais vazias.
- Naruto, - começou Mizuki, apoiando os braços nos joelhos, olhando ao longe. - Você sabia que Iruka-sensei perdeu os pais muito cedo?
Naruto ergueu os olhos, curioso.
- Sério...?
- Sim. Eles morreram na guerra. - continuou o professor, agora fitando os rostos dos Hokages nas montanhas. - Desde então, ele teve que cuidar de si mesmo, crescer sozinho. Sem ninguém pra buscar ele na escola. Sem parabéns quando tirava boas notas. Sem casa com cheiro de comida pronta. Ele entende como é viver assim.
Naruto ficou em silêncio, apertando as mãos sobre as coxas. O olhar, antes morto, agora parecia querer entender.
- Mas se ele entende, - disse com a voz engasgada, - por que ele sempre pega no meu pé? Por que ele nunca me deixa passar...?
Mizuki virou-se para ele, com um meio sorriso.
- Porque ele acredita em você, Naruto. Ele te vê como um reflexo dele mesmo. E talvez esteja esperando que você seja mais forte do que ele foi. É só que... ele ainda não sabe como dizer isso direito.
Naruto desviou o olhar. O mundo parecia cruel demais para ele, às vezes.
- Mas eu queria ter me graduado... - confessou, a voz fina, baixa, quase infantil.
- Bem... nesse caso, - Mizuki inclinou-se para a frente com um brilho no olhar, - acho que posso te contar um segredo especial.
Naruto arregalou os olhos, imediatamente interessado. Sua tristeza recuava, como se a promessa de algo valioso despertasse uma faísca de esperança.
- Um segredo? - sussurrou, curioso.
- Sim... Existe um pergaminho secreto na vila, guardado com extremo cuidado. Dizem que dentro dele existem técnicas proibidas, técnicas poderosas demais para serem ensinadas normalmente. Mas... se alguém aprender uma delas... talvez possa se tornar um ninja de verdade.
Naruto sentou-se ereto, a mente já correndo a mil por hora.
- Você está falando sério? Onde está esse pergaminho?!
Mizuki sorriu, quase paternal.
- Eu vou te mostrar... Mas tem que ser em segredo. Só você pode saber.
Naruto assentiu, seus olhos brilhando como nunca antes naquele dia.
Era a primeira vez que alguém acreditava que ele podia ser mais do que apenas o garoto problemático da aldeia.
~ Ao decorrer da noite - Torre do Hokage ~
A noite envolvia a Aldeia da Folha em um manto silencioso, mas nem mesmo o véu das estrelas era capaz de esconder a movimentação sorrateira que ocorria perto da residência do Hokage. As janelas da torre estavam semiabertas, e o ar carregava o frescor de um vento tranquilo, típico das madrugadas na vila.
No interior da torre, Hiruzen, se preparava para uma noite de descanso. Retirava lentamente sua armadura, os olhos cansados refletindo a chama bruxuleante da lamparina, quando algo chamou sua atenção - um leve rangido no assoalho.
- O que está fazendo na minha casa a essa hora...? - perguntou com um suspiro, virando-se devagar, sem surpresa, apenas cansaço.
Mas o que veio a seguir foi totalmente inesperado.
- Sexy no Jutsu!!! - gritou uma voz jovem.
E diante do Hokage surgiu uma nuvem de fumaça branca, acompanhada de um estalo mágico. De dentro dela, emergiu a silhueta voluptuosa de uma mulher completamente nua, com cabelos loiros longos e um sorriso provocante. O rosto enrubesceu, os olhos do velho Hokage arregalaram, e antes que pudesse dizer qualquer palavra, um jorro de sangue escapou de suas narinas. Ele tombou no chão como uma árvore abatida.
- Hehe... funcionou. - Naruto sorriu travesso, voltando à sua forma original.
Pouco depois, saiu pela porta dos fundos com um enorme pergaminho selado amarrado às costas. O objeto era quase maior que ele, e seus passos curtos eram atrapalhados pelo peso, mas nada apagava o brilho determinado em seu olhar.
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~ Floresta nos arredores da Vila ~
A lua banhava o bosque em tons de prata, dançando por entre as copas das árvores. Em uma clareira isolada, Sakura respirava ofegante. Seus cabelos, soltos e agitados pelo vento, grudavam na testa úmida de suor. Tentava repetir, incansavelmente, um dos jutsus avançados que vira Iziki-sama realizar. A grama ao redor já estava pisoteada, e marcas de chakra queimavam levemente o solo.
- De novo... - murmurou, levando as mãos aos selos.
Enquanto isso, não muito longe dali, Naruto desabava no chão, exausto. O pergaminho estava aberto diante dele, suas páginas antigas e amareladas tremulando com o vento.
- Jutsu Clone das Sombras...? - murmurou entediado. - Tinha que ser logo essa porcaria... Por que sempre esse jutsu?
Seus olhos percorriam as instruções, mas sua mente já estava ansiosa. Precisava dominar aquilo. Precisava provar seu valor. Mesmo que fosse sozinho.
~ Em outro ponto da vila - Residência de Iruka ~
iruka estava deitado sobre o futon, olhos presos ao teto. As memórias do passado vinham em ondas: o som das explosões, o grito da mãe, o olhar final de seu pai... O vazio da infância sem eles.
Tok, tok, tok.
A batida na porta o trouxe de volta.
- O que foi? - disse, erguendo-se com pressa e abrindo com expressão irritada.
Na porta, Mizuki ofegava, os olhos cheios de urgência.
- Temos que ir até o Hokage! Naruto roubou o pergaminho dos selos proibidos!
O sangue sumiu do rosto de Iruka.
- O quê?!
Os dois correram pelas ruas agora vazias da vila. Quando chegaram à sala do Hokage, o ambiente estava tenso. Diversos ninjas se aglomeravam diante do velho líder, que, de pé, fumava calmamente seu cachimbo.
- Não podemos deixá-lo escapar com esse pergaminho! - rosnou um dos jounins.
- Já se passaram horas desde que ele o pegou, - disse outro. - Precisamos agir agora!
Hiruzen permaneceu pensativo, soprando uma nuvem de fumaça no ar pesado da sala.
- O conteúdo desse pergaminho não é simplesmente perigoso por conter técnicas letais... É perigoso porque mexe com limites morais, sacrifica o corpo, e exige um preço do usuário. E Naruto... ele não saberia disso sozinho.
O Hokage estreitou os olhos.
"Alguém o guiou até lá..."
Sem dizer mais nada, Iruka se afastou silenciosamente dos demais, como se um pressentimento o chamasse. Já Mizuki desviava-se discretamente da reunião, com um sorriso perverso escondido sob a máscara gentil.
"Eu só preciso espalhar a história certa... e depois acabar com ele. Vai parecer que fugiu com o pergaminho..." pensou.
~ Floresta - Pouco tempo depois ~
Naruto estava sentado, encurvado de cansaço, o corpo coberto de terra, galhos e arranhões. Suas roupas estavam rasgadas, as mãos vermelhas de tanto praticar. Mesmo assim, sorria. Era uma expressão cansada, mas feliz.
- Eu te encontrei! - a voz firme de Iruka ecoou pela clareira.
Naruto ergueu os olhos, surpreso.
- Oh! Iruka-sensei! Eu te achei primeiro! - respondeu com empolgação, levantando-se rápido demais, quase tropeçando no pergaminho.
Iruka bufou, cruzando os braços.
- Idiota. Eu que te achei. - Seu olhar, antes severo, suavizou ao ver o estado do garoto. - Você está todo machucado... o que estava fazendo aqui, Naruto?
Naruto sorriu largamente, suando, os olhos faiscando de expectativa.
- Hehe! Eu estava treinando! E adivinha?! Eu aprendi uma técnica incrível! Se eu mostrar pra você... você pode me graduar?
Iruka ficou em silêncio por um instante. O chão ao redor de Naruto estava cheio de pegadas marcadas, folhas rasgadas, suor seco. Ele estava ali fazia horas, sozinho, se esforçando.
- Você treinou até chegar nesse estado...?
- Claro! Eu queria passar, Sensei! Mesmo sozinho... eu tentei.
Iruka sentiu algo apertar dentro do peito. Então percebeu o grande pergaminho pendurado às costas do garoto.
- Onde conseguiu isso?
Naruto olhou para trás, como se só então se lembrasse do objeto.
- Ah! Isso aqui? Mizuki-sensei me contou sobre esse pergaminho! Disse que se eu aprendesse uma técnica dele e mostrasse pra você, eu poderia me formar!
As palavras de Naruto ecoaram como uma bomba na mente de Iruka.
- Mizuki...! - seu rosto escureceu.
As peças começaram a se encaixar. Naruto não era o culpado. Era a isca.
O vento da noite sussurrava entre as copas das árvores, como se pressentisse o caos iminente. A floresta, que horas antes fora apenas um santuário de treino e silêncio, agora era palco de uma verdade amarga prestes a emergir das sombras.
Naruto ainda estava ajoelhado no chão, com o pergaminho selado às costas. Suas roupas estavam rasgadas, cobertas de sujeira e suor, e seus olhos arregalados buscavam sentido na súbita mudança de atmosfera.
De repente, o zunido cortante de ar denunciou o perigo.
- Naruto, cuidado!! - gritou Iruka, lançando-se contra o garoto com todas as forças.
Uma chuva de kunais atravessou o ar. Iruka envolveu Naruto num abraço protetor e girou, levando em seu próprio corpo sete lâminas prateadas. Ele gemeu de dor, mas nenhuma atingira pontos vitais. O sangue escorreu pela camisa ninja, e ele caiu de joelhos ao lado do garoto.
- Fez um bom trabalho encontrando ele, - disse uma voz acima, fria como metal.
Mizuki surgia entre os galhos, as sombras do anoitecer envolvendo seu corpo. Carregava duas enormes shurikens de lâmina dupla nas costas, e um sorriso traiçoeiro manchava seu rosto.
Iruka cravou os olhos nele, a mandíbula tensa de fúria.
- Então era isso... - murmurou, arrancando as kunais cravadas em seu corpo com um gesto seco, lançando-as de volta com precisão. Mizuki desviou com facilidade, sumindo e reaparecendo com um giro ágil entre os galhos.
Nenhum dos dois percebia a presença de uma garota oculta acima deles. Sentada silenciosamente em um galho mais alto, Sakura observava em silêncio. Os olhos semicerrados e a expressão preocupada revelavam que não se tratava apenas de curiosidade - ela vira tudo, desde o ataque inicial de Mizuki.
"Eu estava voltando do treino... e acabei nisso." pensou, puxando lentamente uma kunai da bolsa.
No chão, Naruto tentava se levantar, ainda desorientado.
- O que... o que está acontecendo? - perguntou, cambaleando.
- Naruto, me dê o pergaminho. - Mizuki falava agora com uma falsa suavidade, descendo lentamente até o chão.
Naruto segurou o pergaminho mais firme contra o corpo, como se um instinto dissesse para não confiar. Os olhos dele estavam confusos, começando a entender que fora enganado.
- O quê?! Mas... você disse que eu precisava aprender uma técnica pra me graduar...
Lá de cima, Sakura franziu o cenho com irritação.
- Idiota...- murmurou para si, enquanto seus dedos buscavam um papel em branco para escrever algo rapidamente.
- NARUTO!! NÃO ENTREGUE O PERGAMINHO!! - gritou Iruka, com desespero real em sua voz. - MESMO QUE VOCÊ MORRA, NÃO DÊ A ELE!! AQUELE PERGAMINHO CONTÉM TÉCNICAS PROIBIDAS! MIZUKI ESTÁ TE USANDO!!
As palavras cortaram o ar como as lâminas que haviam atravessado seu corpo. Naruto recuou um passo, tremendo.
Mizuki então se endireitou e seus olhos brilharam com algo mais sombrio.
- Naruto... você não deveria ter esse pergaminho... mas já que chegou até aqui, que tal saber por que ninguém nessa vila gosta de você?
As palavras dele fizeram Sakura se congelar. Ela se lembrava da senhora na feira mais cedo, recusando-se a olhar Naruto nos olhos. Na hora, não entendeu... agora, algo pulsava em seu peito.
- NÃO FAÇA ISSO! - gritou Iruka, mas Mizuki já avançava com sua língua afiada.
- Há doze anos, a Raposa Demônio atacou a vila, você sabe disso. Mas o que não sabe é que... ela foi selada dentro de um recém-nascido. E essa criança... foi você. - seus olhos fixos em Naruto, como um caçador cravando a lança na presa.
O mundo de Naruto começou a girar. Ele caiu de joelhos novamente, o rosto em choque, a boca entreaberta.
- O que...? - murmurou, o corpo paralisado.
- Ninguém pode falar sobre isso, é uma regra da vila. Mas essa regra não serve pra você. Por isso te olham com ódio. Por isso te evitam. Até Iruka te odeia. - Mizuki retirou uma das grandes shurikens das costas, erguendo-a acima do ombro. - Você é o demônio que destruiu tudo!
- O quê!! - Sakura estava surpresa, porque ela também não conhecia essa regra, O Hokage e Zashi não haviam falado nada e ela mal saiu da montanha dos Harunos nesses últimos cinco anos
- "Besteira..." - pensou Sakura - "Ele é só um garoto..."
Ela terminou de escrever rapidamente, prendeu o bilhete numa kunai e esperou o momento certo de jogar.
- Ninguém nunca vai aceitar você!! - Mizuki bradou em êxtase, lançando a enorme shuriken contra o garoto.
- NARUTOOO!! - gritou Iruka.
Sem hesitar, mesmo ferido e ofegante, Iruka pulou na frente da lâmina, tomando o golpe nas costas. O impacto o jogou no chão, fazendo sangue espirrar na grama.
Naruto se ergueu aos tropeços, os olhos arregalados.
- Por quê...? - perguntou com a voz trêmula. - Por que me protege...?
Iruka, tossindo sangue, sorriu com tristeza.
- Porque eu sei como é ser sozinho... se eu tivesse feito meu trabalho direito... talvez você não tivesse sofrido tanto... - As palavras saíam entrecortadas de dor, mas carregadas de sinceridade.
Naruto, em choque, recuou, depois virou-se e correu. Correu para longe da clareira, das palavras, da dor. As árvores engoliram sua figura num piscar de olhos.
- NARUTOO!! - gritou Iruka, mas sua voz se perdeu entre os galhos.
Mizuki riu.
- Heh... heh... Ele não vai voltar, Iruka. Naruto é como eu. Ele vai usar esse pergaminho pra se vingar da vila. Você viu os olhos dele... eram olhos de um demônio.
Então Mizuki partiu correndo atrás do garoto, deixando Iruka ferido e a floresta cheia de ecos que doíam mais do que qualquer ferida.
Sakura continuou a seguindo a trilha do garoto.
A floresta estava tomada por um silêncio tenso, interrompido apenas pelo farfalhar leve das folhas sob o sopro do vento noturno. A brisa carregava o cheiro metálico do sangue e o som abafado de respirações apressadas. Iruka corria entre os galhos altos das árvores, os olhos atentos, o coração disparado.
- Mizuki contou para ele... e agora Naruto está sentindo um medo que nunca sentiu antes... - murmurava consigo mesmo, a voz baixa quase engolida pela noite. - As chances do selo se romper são de uma em um milhão... mas se isso acontecer...
Ele apertou os dentes, acelerando o ritmo.
De repente, entre os troncos emaranhados, Iruka o avistou.
- Encontrei! - gritou, saltando de galho em galho. - Naruto! Depressa, me passe o pergaminho! Mizuki está atrás dele!
Naruto se virou. Seus olhos, antes infantis e vibrantes, agora estavam turvos de confusão. Em um movimento brusco, avançou contra Iruka com um soco certeiro, lançando-o ao chão. Em seguida, sentou-se sob uma árvore, ofegante.
- Por quê? Por que, Naruto? - Iruka ergueu o olhar atônito... e, em um redemoinho de fumaça, sua forma se dissolveu.
Do meio da fumaça, surgiu Mizuki, com um sorriso cínico desenhado nos lábios.
- Como você sabia que não era o Iruka? - zombou.
Uma risada seca ecoou entre as árvores. Outra nuvem de fumaça se ergueu e, do meio dela, surgiu o verdadeiro Iruka, com expressão firme.
- Porque eu sou o Iruka! - respondeu, encarando o traidor.
Mizuki gargalhou, os olhos estreitos de escárnio.
- Você se transformou em quem matou seus pais... só para protegê-lo. Que piada.
Do alto de um galho, entre as sombras, Sakura observava tudo, muda, os olhos fixos. Ao pé de outra árvore, Naruto ouvia, o pergaminho apertado nos braços.
- Eu não entregaria o pergaminho a um idiota como você! - Iruka declarou, cambaleando, sentando-se com esforço. O sangue manchava sua roupa. Ele já sentia os efeitos da hemorragia e do cansaço.
Mizuki se aproximou, olhos brilhando de raiva.
- Você é idiota. Naruto e eu somos iguais!
Naruto estreitou os olhos, confuso.
- Iguais?
- Se ele usar as técnicas daquele pergaminho, poderá fazer qualquer coisa. Mesmo que isso vá contra as regras da vila. Mesmo que destrua tudo. Você acha que ele não vai usar o poder da raposa? Ele é um monstro, igual àquela coisa que selaram nele!
Iruka fechou os olhos por um segundo, inspirou fundo e murmurou:
- Sim...
Naruto congelou. Sua respiração travou, e uma pontada o atravessou por dentro como se Mizuki tivesse perfurado algo mais profundo que a carne.
Droga... até o Iruka-sensei também acha que sou um monstro... - pensou, os punhos cerrados.
Nesse instante, algo cortou o ar e cravou-se no chão, bem ao lado das pernas de Naruto. Uma kunai. Amarrado a ela, um papel.
Naruto desdobrou e leu, os olhos arregalando.
"Eu vou te ajudar."
Olhou ao redor. Nada. Nenhuma presença visível. Mas sentiu. Alguém estava ali. Alguém acreditava nele.
Iruka, mesmo ferido, ergueu a voz, cheia de força:
- A raposa é um monstro. Mas Naruto é diferente. Eu tenho orgulho dele! Ele é um dos meus melhores alunos. Ele é Uzumaki Naruto, um ninja da Folha!
Mizuki rangeu os dentes e arrancou uma das gigantescas shurikens das costas.
- Eu ia te deixar viver por mais tempo, Iruka, mas mudei de ideia. Vou matar você agora mesmo!
A lâmina rodopiou no ar, cortando o vento em direção ao peito de Iruka.
Mas antes que o impacto ocorresse, Naruto surgiu entre os dois, desferindo um poderoso chute que lançou Mizuki para trás. Mesmo assim, a shuriken já havia sido arremessada.
Iruka arregalou os olhos.
- Naruto!!
Ele se preparava para aceitar o destino... Mas, de repente, uma figura feminina surgiu como um raio. Sakura. Ela chutou Iruka para o lado segundos antes da shuriken cravar-se na árvore atrás dele, tão próxima que quase cortou seu manto.
- Desculpe, Iruka-san - disse, a voz firme, fria como gelo.
A jovem se abaixou ao lado do professor, rasgando um pedaço da própria blusa para estancar o sangue.
Naruto largou o pergaminho no chão, os olhos ardendo.
- NÃO TOQUE NO MEU SENSEI!! EU VOU ACABAR COM VOCÊ!
- Sejam racionais, idiotas! Fujam daqui! - rosnou Mizuki, tentando se reerguer. Sakura permanecia calma, sentada ao lado de Iruka.
- Acredite nele, Iruka-san. É tudo que ele precisa agora - disse a garota, mantendo o olhar no menino.
Naruto começou a fazer selos de mão.
- EU VOU DEVOLVER MIL VEZES PIOR!!
- ENTÃO FAÇA, SEU DEMÔNIO!! - vociferou Mizuki, perdendo toda a máscara de civilidade.
- JUTSU: CLONE DAS SOMBRAS!!
O impacto foi avassalador. Dezenas, centenas de clones cercaram Mizuki, um verdadeiro exército.
- O-o que é isso?! - gritou Mizuki, recuando em pânico. - Isso é impossível!
- Venha me pegar, se puder!
Sakura, ainda cuidando de Iruka, observava tudo. Em seu rosto, uma leve surpresa.
- Esse garoto...
Iruka, com dificuldade, ergueu os olhos para Sakura e então viu. No ombro direito da garota, um símbolo. Um círculo com cinco glifos distintos.
- Você... - murmurou, confuso.
Ela percebeu o olhar e o ignorou deliberadamente. Mostrar aquela marca havia sido sua intenção. Se ele reconhecesse, saberia com o que estava lidando. Se não, ela ganhava tempo.
Naruto avançou com todos os clones.
- BOM, ENTÃO... EU VOU COMEÇAR!!
O som das pancadas, gritos e explosões de chakra ecoou pela floresta. Mizuki foi completamente dominado. Quando tudo terminou, jazia no chão, machucado, inconsciente.
Naruto ria, sem graça, coçando a nuca.
- Hehehe... acho que exagerei um pouco.
Iruka, mesmo fraco, conseguiu sorrir.
- Naruto... venha aqui. Tenho algo para te dar.
Naruto se aproximou.
- Feche os olhos.
- Hã? Tá bom...
- Pode abrir.
Naruto abriu os olhos e encontrou em sua testa a bandana com o símbolo da Folha.
- Parabéns, você se graduou. Agora, que tal uma tigela de ramen para comemorar?
Naruto o abraçou com força, lágrimas caindo de seus olhos.
- Sensei... obrigado. Obrigado...
De cima de uma árvore, Sakura observava com um leve sorriso.
- Agora você tem alguém para zelar por você, Naruto. Assim como eu tenho... somos parecidos. Você é odiado por causa da raposa... e eu, por existir. Foi bom te conhecer...
E partiu, pulando entre os galhos, desaparecendo no manto da noite.
~ Frente da Sala do Hokage ~
- Ainda não o acharam?
- Não...
- Droga! Ele já deve estar longe!
- Isso é um desastre!
Um homem apareceu ofegante.
- Não precisam mais procurar... podem parar as buscas.
O sol da manhã se erguia preguiçoso sobre a Vila da Folha, espalhando seus primeiros raios dourados pelas casas de telhado vermelho e pelas ruas movimentadas de Konoha. Logo abaixo da imponente Montanha dos Hokages, onde os rostos esculpidos dos líderes da vila observavam em silêncio o dia nascer, erguia-se a Academia Ninja - um edifício amplo e tradicional, de paredes sólidas e janelas grandes, onde o futuro dos jovens ninjas começava a ser moldado.
Do lado de fora, os pássaros cantavam entre as árvores que cercavam a escola. Lá dentro, os corredores ecoavam os passos apressados dos alunos recém-chegados, alguns sorrindo animados, outros tensos como se cada degrau os aproximasse de um destino incerto.
A sala de aula onde os novos genins haviam sido convocados era ampla, com tetos altos e janelas generosas que deixavam a luz natural iluminar cada canto. O quadro-negro dominava a parede da frente, e logo à sua frente havia um palanque de madeira escura, erguido para que os instrutores pudessem observar toda a turma com autoridade. As mesas, dispostas em fileiras organizadas, acomodavam três alunos cada uma - espaço suficiente para rivalidades, alianças e, às vezes, uma boa cotovelada estratégica.
Naruto estava sentado à extrema direita de uma dessas mesas, balançando a perna de forma impaciente. Seu olhar saltitava de canto a canto da sala, como se quisesse se certificar de que estava mesmo ali. Vestia seu característico agasalho laranja, e a bandana da Vila da Folha brilhava em sua testa como um troféu conquistado com suor e teimosia.
- Hã?! Naruto?! O que diabos você tá fazendo aqui? - perguntou um jovem, a surpresa marcada em cada ruga de sua testa.
Outro garoto, mais alto e com o tom de voz sempre meio arrogante, se aproximou com os braços cruzados e uma sobrancelha erguida.
- Só quem passou no teste devia estar aqui. Não lembra que você foi reprovado?
Naruto inflou o peito com orgulho e apontou com o polegar para a própria testa, exibindo com gosto o símbolo da Folha.
- Ei, ei! Não tão vendo minha bandana, não?
Os dois colegas congelaram por um segundo, então explodiram em uníssono:
- O QUÊÊÊÊÊ?!
No meio da confusão, uma voz suave, porém firme, soou logo atrás deles.
- Dá licença? Pode me deixar passar?
Os dois rapazes se viraram ao mesmo tempo, meio irritados, mas congelaram ao ver quem era.
Sakura avançava pelo corredor da sala com a postura de quem sabia exatamente onde queria se sentar. Seu cabelo, agora num roxo vibrante, estava preso num rabo de cavalo alto. Usava uma blusa vermelha justa, de mangas curtas, e uma calça bege que se ajustava às pernas até a altura das canelas. A bandana da vila estava amarrada com charme ao redor do pescoço, como um lenço elegante.
Naruto a encarou como se ela estivesse brilhando sob a luz do sol.
"Será que ela vai sentar do meu lado...?" - pensou, o coração disparando dentro do peito.
- Naruto! Parabéns por ter passado no exame! - disse Sakura, sorrindo de verdade.
- Hã? O-obrigado! - gaguejou Naruto, levantando-se num pulo atrapalhado para abrir espaço ao lado.
Sakura passou por ele com naturalidade e se sentou entre Naruto e o outro garoto. Cruzou as pernas com leveza e começou a observar o restante da turma. Seus olhos analisavam os rostos um a um com atenção. Em um canto da sala, notou uma menina de cabelos curtos e rosto muito vermelho, que parecia espiar Naruto sempre que ele não estava olhando. Em outra fileira, algumas garotas cochichavam entre si com cara de poucos amigos, lançando olhares acusadores na direção dela.
Sakura arqueou uma sobrancelha, curiosa. Uma delas comentou em tom abafado:
- Não acredito que ela sentou ali... tão perto do Sasuke...
Sakura desviou o olhar instintivamente e, pelo canto dos olhos, viu Sasuke Uchiha sentado ao seu lado, de braços cruzados e expressão fria. Ele nem havia notado sua presença - ou se notou, fingiu muito bem.
Naruto, por outro lado, sorria de orelha a orelha, ainda maravilhado com a proximidade de Sakura. Ele olhou para o lado, tentando puxar assunto.
- E aí, Sakura... você também tá animada com o primeiro dia como genin?
- Um pouco. - respondeu ela, ainda distraída com os olhares ao redor.
O burburinho de conversas abafadas se espalhava como fumaça pelo ar, mas um novo foco de atenção logo tomaria conta de todos ali.
Sakura, recém-chegada à turma, ainda avaliava o ambiente ao seu redor. Os olhos atentos percorriam cada canto da sala - estudantes agitados, cochichos suspeitos, e claro, a atenção excessiva que algumas garotas davam a um certo garoto de cabelos negros ao seu lado. Um grupo, reunido três fileiras à frente, falava em sussurros mal disfarçados enquanto lançava olhares enviesados em sua direção.
"Bando de idiotas... Ao invés de estarem treinando, estão mais interessadas em garotos," pensou Sakura, cruzando os braços e recostando-se na cadeira com um ar de desprezo. "É por isso que provavelmente mal conseguem fazer um jutsu básico."
Nesse instante, a figura de uma garota de cabelos longos e alaranjados surgiu diante de sua mesa com passos firmes e expressão incendiada. Os olhos fulminantes miravam Sakura como lâminas prestes a cortar. Era Su Mei - conhecida entre os alunos por seu temperamento explosivo e obsessão quase fanática por Sasuke Uchiha.
- Você não pode sentar aí! - vociferou Su Mei, com o rosto vermelho de raiva e os punhos cerrados, encarando Sakura como se estivesse diante de uma ameaça.
O silêncio caiu sobre a sala como uma tempestade inesperada. Conversas cessaram, cadeiras rangeram ao girar, e dezenas de olhos se voltaram para a tensão que se formava ali. Su Mei era bem conhecida. Sakura, no entanto, era um rosto novo. Ninguém sabia de onde havia surgido.
- Quem é aquela garota? - sussurrou alguém no fundo da sala.
- Ela nem estudava aqui...
- Será que é parente de alguém importante?
Sakura ergueu uma sobrancelha, sem se abalar pela plateia repentina. Olhou Su Mei de cima a baixo, depois lançou um olhar de esguelha para uma garota de cabelo curto que, tímida, apertava as mãos sobre o colo e desviava os olhos. A reação dela não passou despercebida.
- E por que não? - disse Sakura, com um sorriso de desdém nos lábios. - Não me diga que você... gosta do Naruto?
- O QUEEE??? - Naruto berrou surpreso
A garota de cabelo curto engoliu seco, e Su Mei pareceu explodir por dentro.
- Sua idiota! - gritou Su Mei, batendo o pé no chão como uma criança contrariada. - Você não pode sentar ao lado do Sasuke-kun!
Sakura piscou devagar, fingindo surpresa.
- Ah... Sasuke? - levou um dedo ao queixo como quem tentava se lembrar de algo distante. - Mas quem diabos é Sasuke?
A sala pareceu congelar no tempo. Cada olhar estava sobre ela. Todos, exceto o garoto sentado ao lado - de cabelo negro espetado, olhar sombrio e a frieza típica dos Uchihas. Ele não se moveu. Nem mesmo reagiu. Parecia alheio ao caos que se instalava ao seu lado.
Sasuke Uchiha vestia a tradicional camisa azul-marinho de gola alta com o símbolo do clã às costas. Os aquecedores brancos em seus braços contrastavam com sua pele pálida, e os olhos ônix encaravam o vazio, como se nada ali fosse digno de sua atenção.
- Como você não conhece o Sasuke-kun?! - Su Mei quase gritou, sem acreditar.
- Isso não te interessa - disse Sakura com frieza, sem sequer lhe lançar um segundo olhar.
- Vocês são insuportáveis! - resmungou o garoto ao lado de Sakura com um tom cortante, finalmente se manifestando.
"É o quê?!" - Sakura pensou, olhando de canto, curiosa. Mas o garoto manteve o rosto virado para a frente, como se já estivesse entediado demais para aquela cena.
- Você ouviu! Você não é qualificada pra sentar ao lado do Sasuke-kun! - insistiu Su Mei, com ar de superioridade. - Esse lugar é sagrado!
E então começaram os coros.
- Quem é essa coisa roxa?
- Nunca vi ela antes!
- Só o Naruto conhece ela!
- Deve ser mais uma fracassada!
Sakura suspirou, fechando os olhos brevemente. Quando os abriu, estava com um sorriso debochado no rosto.
- Se quer tanto sentar aqui, por que não vem me tirar? - provocou, apoiando o cotovelo na mesa e descansando o queixo na mão, como se convidasse Su Mei para uma brincadeira.
Do outro lado, Sasuke enfim lançou um olhar disfarçado para a garota ao seu lado. "Quem é essa?" - pensou. - Não me lembro dela em nenhuma das turmas anteriores...
Su Mei perdeu o controle. Soltou um grito de raiva e avançou com os braços erguidos, pronta para puxar os cabelos de Sakura. Mas antes que completasse o movimento, um soco certeiro a atingiu no rosto, lançando-a para trás. A sala engasgou em choque.
Su Mei caiu no chão, gemendo, enquanto Sakura voltava a se sentar calmamente, ajeitando a bandana no pescoço.
- Como foi que virou essa bagunça...? - murmurou, encarando o teto como se pedisse paciência aos céus.
Depois, virou-se para Su Mei, ainda no chão, e falou alto o suficiente para todos ouvirem:
- Se você passasse mais tempo treinando e menos tempo correndo atrás de um tal de Sasuke, talvez tivesse qualificações pra tentar me tirar daqui.
Olhou então para as outras garotas do grupinho, agora silenciosas e assustadas, e completou com um sorriso afiado como kunai:
- Alguém mais quer tentar me tirar?
Ninguém respondeu.
Naruto olhava para Sakura como se estivesse vendo uma tempestade elegante - perigosa, imprevisível, e completamente fascinante.
E Sasuke, pela primeira vez naquele dia... sorriu.
Naruto, com seus cabelos loiros espetados e olhos azuis sempre inquietos, observava com desconfiança o garoto sentado ao lado de Sakura. Sasuke. Frio. Silencioso. Misterioso. E ainda assim, cercado por suspiros e olhares sonhadores das garotas da sala.
"O que esse cara tem de tão interessante?" - pensou Naruto, franzindo a testa.
Num impulso repentino, Naruto subiu na cadeira, agachou-se sobre a mesa e, num salto desajeitado, pousou de frente para Sasuke, rosto com rosto, olhos nos olhos. Os dois se encararam como feras prestes a lutar - as testas quase se tocando, faíscas invisíveis cruzando entre os olhares.
- Tsc... Qual o seu problema, idiota? - Sasuke rosnou, sem mover um músculo.
- Quem você pensa que é, todo convencido assim? - Naruto respondeu, com o cenho franzido e os punhos cerrados.
Nesse instante, o garoto que estava sentado à frente de Sasuke virou-se para olhar o que estava acontecendo - sem querer, empurrou Naruto com o cotovelo.
Foi o bastante.
Num piscar de olhos, os rostos colidiram. Os olhos de Naruto e Sasuke se arregalaram.
E então... aconteceu.
Um beijo. Acidental. Breve. Mas absolutamente chocante.
O silêncio foi instantâneo. Os murmúrios cessaram. E então...
- NARUTO, SEU IMBECIL!!! EU VOU TE MATAR!!! - Sasuke berrou, pulando da cadeira e cuspindo desesperadamente no chão.
- AAAH MINHA BOCA TÁ APODRECENDO!!! - Naruto gritou em pânico, esfregando a língua na manga da blusa.
No fundo da sala, Sakura gargalhava alto, sem conseguir se conter. Ela se dobrava sobre a mesa, chorando de rir.
- Narutoooo!!! - gritou uma das garotas.
- Eu ia roubar o primeiro beijo do Sasuke-kun! - lamentou outra, cobrindo o rosto de vergonha.
Várias alunas olharam para Naruto como se estivessem prestes a invocar um jutsu de eliminação em grupo.
Mas antes que a sala explodisse em caos novamente, a porta foi aberta com firmeza.
- SILÊNCIO! - a voz autoritária de Iruka ecoou pelo ambiente.
O homem caminhou com passos decididos até o centro da sala, os olhos sérios e a prancheta em mãos. Seu rosto estava tenso - já imaginando o tamanho da dor de cabeça que aquele grupo lhe causaria.
- Todos nos seus lugares. Agora. - disse, e aos poucos os alunos foram voltando a seus assentos.
Naruto, ainda escovando a língua com a manga da blusa, sentou-se ao lado de Sakura, que ainda abafava risadinhas com a mão sobre a boca.
- Naruto, esse é aquele professor de ontem? Nem parece está machucado - Sakura perguntou em voz baixa, ainda se recompondo.
- Sim! Esse é o Iruka-sensei, - Naruto respondeu, inclinando-se para ela, quase cochichando. - Ele é meio durão, mas legal.
Iruka pigarreou, chamando a atenção novamente.
- A partir de hoje, vocês são ninjas de verdade... - disse, erguendo a prancheta. - Mas ainda são apenas genin - o nível mais baixo. A parte difícil começa agora. Vocês serão designados a times de três integrantes, sob a tutela de um jounin. Trabalharão em equipe e seguirão as ordens do seu sensei durante as missões.
- Pff... Time de três só vai me atrasar, - pensou Sasuke, cruzando os braços e recostando-se na cadeira com arrogância.
- Droga... isso vai atrapalhar muita coisa, - pensou Sakura, soltando um suspiro contido, desapontada.
- Sakura-chan... e qualquer um menos o Sasuke, - pensou Naruto, torcendo as mãos de ansiedade.
- Tentamos balancear as habilidades de cada time para manter o equilíbrio, - Iruka continuou.
- Vamos ver no que isso vai dar, - Sakura pensou, cruzando os braços sobre a mesa.
Iruka passou os olhos pela lista com um leve franzir de sobrancelhas.
- Time Sete... Uchiha Sasuke, Uzumaki Naruto e... Sakura.
O silêncio voltou. Naruto olhou para o teto como se esperasse ser atingido por um raio. Sakura arregalou os olhos, boquiaberta. Sasuke manteve sua habitual expressão de tédio - apenas um músculo em sua mandíbula pareceu se contrair.
Iruka, por sua vez, hesitou por um instante ao ver o nome de Sakura na lista. "Estranho... nenhum registro anterior... nenhuma aula na academia... e ainda assim foi indicada pela própria Hokage. E aquele símbolo no ombro dela... não dá pra esquecer."
- Iruka-sensei! - Naruto protestou, levantando-se. - Por que um ninja excelente como eu tem que estar no mesmo time que esse... esse iceberg ambulante?
Iruka suspirou.
- As notas do Sasuke são as melhores entre os 27 alunos. Naruto... você foi o último da turma. - disse sem rodeios. - Formamos os grupos assim para balancear os pontos fortes e fracos de cada um, entendeu?
Alguns alunos riram discretamente. Naruto bufou e se jogou de volta na cadeira.
Sasuke olhou por sobre o ombro, com aquele olhar que parecia perfurar a alma.
- Vê se não atrapalha, último dos últimos.
Antes que Naruto explodisse, Sakura interferiu com uma voz serena, mas carregada de intenção:
- Não acho que a classificação na academia defina a verdadeira força de um ninja.
Naruto brilhou como um sol.
- Né, Sakura-chan?! - exclamou, quase subindo de novo na cadeira.
Sasuke olhou de relance para ela, desta vez sem desprezo. Apenas pensativo.
O ar da sala ainda carregava o murmúrio animado dos alunos, misturado à tensão da expectativa. Iruka Sensei, com a prancheta em mãos e expressão séria, continuava a anunciar os nomes com a voz firme que ecoava pelas paredes da Academia.
- Time 8: Inuzuka Kiba, Aburame Shino e Hyuuga Hinata.
Ao ouvir o nome da última integrante, Sakura voltou os olhos para a menina de cabelos escuros e olhos perolados, que parecia encolhida em sua própria timidez. Havia algo em Hinata que a fazia sentir uma estranha e incômoda familiaridade.
"Hyuuga Hinata... então é esse o nome dela," pensou Sakura, encarando-a com o que poderia ser confundido com desconfiança, mas que era, na verdade, um vago sentimento de déjà vu.
- Time 10: Nara Shikamaru, Akimichi Chouji e Yamanaka Ino, - continuou Iruka.
Sakura, já sem muito interesse nas formações dos outros times, examinava distraidamente as unhas. Uma pontinha quebrada no dedo mindinho atrapalhava a simetria perfeita que ela tanto gostava.
"Quando a Za-chan voltar, eu vou treinar com ela" - pensou, com uma expressão vaga e calculista.
Iruka enfim finalizou a chamada.
- Certo... daqui a pouco, os sensei de vocês serão apresentados. Por enquanto, estão liberados.
Um burburinho se espalhou instantaneamente, e os alunos começaram a sair da sala. Lá fora, o sol agora brilhava intensamente sobre o pátio da Academia, e algumas árvores projetavam sombras convidativas.
Sasuke estava encostado casualmente numa das janelas, saboreando um bolinho de arroz, sua postura relaxada contrastando com o ar sempre alerta nos olhos. Mas antes que pudesse terminar o lanche, uma corda surgiu do nada e, num puxão súbito, o arrastou para dentro de uma das salas vazias.
Alguns minutos depois, ele emergiu de volta ao corredor, ajeitando a gola da blusa com o cenho franzido.
- Heh... idiota, - resmungou, claramente irritado.
Em um canto mais afastado, onde o burburinho da escola se tornava apenas um sussurro ao fundo, Sakura estava sentada sozinha num banco sob a sombra de uma árvore. Seus olhos estavam semicerrados, mergulhados em cálculos mentais.
"Se eu fizer dois clones... talvez fique mais fácil de controlar... Mas o problema seria o chakra. Na minha condição atual, só conseguiria manter um por um minuto - e isso esgotaria tudo. Ficaria imóvel por horas..."
Ela suspirou, afastando uma mecha de cabelo do rosto. Mas seu olhar se fixou de repente na direção da floresta. Ali, à sombra de uma árvore mais distante, estava Sasuke, aparentemente observando-a com uma intensidade desconcertante.
O que aquele idiota tanto olha? - pensou Sakura, com um arquejo leve na sobrancelha esquerda.
Sasuke, por sua vez, hesitou por um momento antes de se aproximar. Seus passos eram lentos, como se calculasse cada movimento, e seu olhar... não tinha a frieza que apresentou no início. Era cauteloso. Quase vulnerável.
\- Sakura... - ele disse, parando a poucos passos do banco. - Eu tenho algo pra te perguntar.
Ela ergueu uma sobrancelha, mas permaneceu sentada.
\- O que você acha do Naruto?
A pergunta pareceu deslocada. Mas Sakura não respondeu de imediato. Ela olhou para as próprias mãos, como se ali houvesse a resposta.
\- Naruto é alguém que... foi ignorado por todos. Fizeram ele acreditar que ninguém gostava dele. - Sua voz soava calma, mas carregada de algo profundo. - Mas a verdade é que... quase ninguém realmente o conhece. Ele é bobo, sim. Mas é alguém que eu quero como amigo.
Sasuke sentou-se ao lado dela, absorvendo aquelas palavras em silêncio. Um leve desconforto no estômago o fez contrair a expressão.
Então é por isso que ela me ajudou aquela vez... - pensou ele, levando uma mão discretamente à barriga. Mas a dor aumentou, e ele se levantou abruptamente, saindo em disparada sem dizer mais nada.
Sakura piscou levemente surpresa.
\- Puff... aquele imbecil do Naruto é péssimo em transformação, - murmurou com um sorrisinho sarcástico. Mas, ainda assim... ela havia sido sincera.
Na sala de onde Sasuke havia sido puxado...
- Droga... aquele desgraçado usou um jutsu de transformação pra virar EU?! - rosnava o verdadeiro Sasuke, libertando-se das cordas nos pulsos. - O que ele está tentando fazer, afinal?!
Enquanto isso... no banheiro da escola...
Naruto estava sentado na privada, pálido e suando.
\- Ufa! Quase me destransformei por causa da dor de barriga... Foi por pouco!! - arfou, massageando a barriga com uma das mãos.
Ele olhou em volta e esticou a mão.
\- Cadê o papel?! - berrou, em total desespero. - Não tem papel?! NÃO TEM PAPEL?!
De volta ao banco sob a árvore, Sakura já havia retornado à sua serenidade habitual. Quando viu Sasuke passar novamente, notou imediatamente a diferença no olhar, na postura - aquele era o verdadeiro.
Ela sequer se deu o trabalho de encará-lo.
Sasuke parou ao seu lado.
- Está na hora de encontrar o sensei. Onde está o Naruto?
Sakura sorriu, mas foi um sorriso frio, elegante como uma lâmina embainhada.
- Não sei.
- Como assim, não sabe? - Sasuke franziu o cenho, finalmente olhando diretamente para ela.
- Ué, não sei mesmo. Tá querendo ver ele? Vá procurar. - E se levantou, passando por ele como se fosse invisível.
Sasuke observou ela se afastar por um momento antes de bufar.
- Você é... irritante.
E, apesar disso, começou a caminhar atrás dela.
Corredor da Academia
O piso frio da Academia ecoava os passos apressados de Naruto, que surgia no corredor com uma das mãos apoiada na barriga, aliviado.
- Finalmente... meu estômago se acalmou... - resmungou para si, endireitando a postura. - Será que ela ainda tá lá? - perguntou, mais para o eco do que para alguém em particular, enquanto virava a esquina com uma pontinha de esperança no peito.
Mas assim que dobrou o corredor, deu de cara com uma figura conhecida. O impacto foi quase físico.
Sasuke.
Parado bem no meio do caminho, o olhar frio e desinteressado, como se já esperasse aquele reencontro.
Naruto arregalou os olhos, como se tivesse visto um fantasma.
- O QUÊ?! O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?! - gritou, apontando como se pudesse expulsá-lo com o dedo.
Sasuke nem piscou.
- Ninjas conseguem se desamarrar, último dos últimos. - respondeu num tom impassível, os olhos semicerrados e a voz levemente carregada de desdém. Passou por Naruto como se ele fosse apenas uma parede. Ou menos.
Naruto ficou ali, boquiaberto, piscando rápido, enquanto o som dos passos de Sasuke se afastava.
- Mas como ele... tão rápido... - murmurou, antes de franzir a testa.
Em outro ponto da Vila da Folha - Apartamento de Naruto
O pequeno apartamento de Naruto ficava no último andar de um prédio antigo. As paredes estavam marcadas pelo tempo, e havia um leve cheiro de miojo e desordem no ar. Dentro do cômodo apertado, uma figura peculiar observava tudo em silêncio.
Kakashi Hatake, um ninja alto, vestindo o uniforme padrão de Jounin, estava parado bem no meio da sala. Seus cabelos prateados despontavam em desalinho para o alto, a máscara escondia seu rosto até abaixo dos olhos, e sua bandana cobria o olho esquerdo - um detalhe que parecia mais simbólico do que necessário.
Ele caminhou até a pequena geladeira de Naruto e a abriu. Fez uma careta por trás da máscara ao pegar uma caixa de leite.
- Hmmm... - virou a embalagem e leu a validade. - Esse leite já está vencido.
Fechou a geladeira devagar, olhando ao redor. Pilhas de revistas, roupas jogadas, um pé de sapato num canto, o outro... ninguém sabia.
Atrás dele, a porta do apartamento permanecia aberta. Do lado de fora, o Terceiro Hokage observava em silêncio, com um olhar misto de carinho e preocupação.
- Essa é a casa do Naruto? - Kakashi perguntou, com a voz abafada pela máscara, mas carregando uma leve ironia.
- Sim - respondeu o Hokage, com aquele tom calmo que só os mais sábios dominavam.
Kakashi suspirou.
- Você tem certeza que quer me colocar nesse time?
O Hokage assentiu, olhando para o chão por um breve instante antes de encarar novamente o jounin.
- Naruto é um garoto atrapalhado, impulsivo... mas tem um coração que poucos enxergam. - Seus olhos ficaram mais sérios. - Estou te confiando ele. E não está sozinho. O time também inclui Sasuke Uchiha e Sakura Haruno, ambos de clãs... complicados.
Kakashi desviou o olhar para o interior bagunçado do apartamento. Pensou por um momento antes de responder.
- Vai ser problemático... - murmurou, quase como um presságio.
- Boa sorte, Kakashi - disse o Hokage, com um leve sorriso que não disfarçava a tensão de suas palavras.
Kakashi colocou as mãos nos bolsos, olhou mais uma vez o leite vencido sobre a pia e soltou um longo suspiro por trás da máscara.
- Definitivamente problemático...
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