Final de tarde em Paris, o tempo estava nublado e, como sempre, com um requinte de melancolia no ar. A mesma cafeteria de sempre e o mesmo lugar de sempre. Júlia tomava seu chocolate quente com biscoitos enquanto olhava o movimento da rua pela janela de vidro. Folheava uma revista de moda e fazia algumas anotações em uma agenda. Entretanto, como não era incomum, seus olhares foram atraídos por um homem de casaco pesado que a encarava com interesse.
Ela apenas sorriu de lábios fechados e trocou flertes interessados, talvez para uma noitada, quem sabe?
Júlia Linhares, 26 anos, era uma brasileira que morava há cerca de dez anos em Paris, França. Trabalhava como estilista de moda e era um pouco, digamos, vida louca. Vivia sem planos futuros, tudo era movido pelo presente e tinha um gosto peculiar pela cor preta, o que explicava suas vestimentas.
- Com licença!
O homem elegante se aproximou.
Júlia - Oi, pode sentar, esse lugar está vazio.
Homem - Obrigado!
Ele puxou a cadeira e sentou-se, e chamou a garçonete com um aceno de mão. Já estavam prontos para iniciar uma conversa, quando Júlia recebeu uma ligação.
Júlia 📱- Alô... O quê?
A ligação foi o suficiente para deixá-la um tanto quanto nervosa, sem saber como lidar com o que tinha acabado de escutar. Com uma expressão chocada, finalizou a ligação e guardou o celular dentro da bolsa, junto com a revista e a agenda.
Júlia - Desculpe-me, preciso ir!
Ela levantou-se rapidamente e saiu do local, deixando o homem frustrado por não ter conseguido uma sequer pequena atenção. Júlia parou um táxi no meio da rua e foi para casa. Ao chegar em seu apartamento, tirou o casaco e jogou-o em cima do sofá. Pegou o celular e retornou a ligação bastante aflita.
Júlia 📱- Oi, você tem certeza de que a pessoa que mencionou é a Sílvia Noronha? Isso não pode ser possível, como conseguiu meu número? Ok, mas ela quer minha presença? eu... bem...
Ela ficou andando de um lado para o outro sem saber o que responder, algo dentro dela não queria voltar ao Brasil, entretanto não teria escolha. Sua melhor amiga estava muito doente e exigia sua presença.
A princípio, Júlia não queria e tentou achar uma desculpa para recusar o pedido, afinal elas foram grandes amigas quando eram adolescentes. Depois que ela foi morar em Paris, perderam o contato de vez, mas saber que Sílvia estava muito doente a derrubou, trazendo de volta todas as lembranças boas vividas numa época que parecia intocável.
Lembranças da Júlia...
As duas adolescentes caminhavam lentamente em direção ao parque de diversões que havia acabado de chegar na cidade do Mato Grosso. Hoje era a estreia e todos estavam animados para essa atração.
Sílvia - Amiga, você virá ao meu aniversário de dezessete anos, né?
Júlia - Ah, não sei não! Lembra que estou de castigo por ter pintado o chão da escola?
Sílvia - Por que você fez aquela palhaçada?
Júlia - Reivindicações dos direitos dos alunos, minha querida.
Sílvia - Ok, mas não era melhor ter feito uma faixa com uma mensagem?
Júlia - Não tenho dinheiro para isso!
Sílvia - Você é muito louca, nunca aprende, sempre está metida em encrencas.
A menina sai saltitante na frente, abrindo os braços, sorrindo e olhando para aquele céu de noite estrelada. Ela vira novamente para a amiga.
Júlia - Por isso, você é minha amiga! Pense bem, se não fosse você, meu pai já teria me enviado para o espaço sem passagem de volta.
As duas sorriem.
Sílvia - Não vejo a hora de ter minha independência, falta só mais um ano e terei dezoito anos.
Júlia - Que pressa!
Sílvia - Quero ser veterinária e casar cedo, quero ter dois filhos, meu sonho.
Júlia faz uma cara espantada e uma careta.
Sílvia - O que foi?
Júlia - Sua meta para o futuro é essa? Casar cedo?
Sílvia - Sim, ué!
Júlia - Nunca irei casar, não quero filhos!
Sílvia - Porque você tem que ser tão estranha, heim?
Júlia - Adoro ser diferente, sempre vou usar preto, minha vida toda!
Sílvia - Porquê?
Júlia - Porque eu amo essa cor, se parece comigo, uma garota meio sombria.
De longe elas avistam as luzes do parque se sobressaindo da noite, Júlia como sempre arteira começa a provocar a amiga.
Júlia - Vamos apostar uma corrida, quem chegar por último paga os ingressos dos brinquedos. 3... 2... 1... e já!
Ela é muito competitiva e leva tudo a sério, correu em disparada na frente deixando a amiga sem fôlego tentando acompanhá-la. alguns minutos depois Júlia chegou de frente ao parque e ficou pulando de felicidade.
- Ganhei, uhuuuuuu...
Sílvia chegava no topo daquela subida quase que desmaiando de tão exausta que ficou, com um palmo de língua para fora.
- Eu... te... mato...
Júlia - Qual é amiga, eu venci!
A menina pega no braço da amiga e entram no parque de diversão.
Era notável que Sílvia chamava bastante atenção dos rapazes, Júlia nem ligava, adorava ser invisível para os meninos. Usava óculos de grau, aparelho nos dentes, e tinha um corpo magro sem curvas.
Júlia - Vamos jogar o tira ao alvo?
Ela puxou a amiga para brincar nos jogos que tinham direito de ganhar prêmios. Por falta de habilidades não conseguiram nada.
Júlia - Merda!
Sílvia - Aff, olha a língua!
Júlia - Careta!
Sílvia - Olha, é minha prima!
Elas acenam para um grupo de meninas.
Júlia - Vou ao banheiro!
Sílvia - Vou conversar com as meninas, te espero lá.
Júlia - Tá bom, volto já!
Ela dá a volta por quase todo o parque tentando achar um banheiro, acaba batendo de frente com uma cigana.
- Olá jovem.
A cigana pega na mão de Júlia.
Quer saber o que o futuro tem para você?
Júlia - Não, obrigada. Quero saber onde fica o banheiro.
Cigana - Apenas cinco reais.
Júlia - Não acredito nessas coisas, tia.
Cigana - Mesmo?
Perguntou ela ironicamente com um tom de desafio, e Júlia não gostava de ser desafiada.
Cigana - Está com medo?
A garota deu uma gargalhada alta e estendeu a mão.
Júlia - Leia logo isso!
Cigana - Cinco reais...
Ela revira os olhos e tira umas moedas do bolso, entregando-as para a mulher, que fica com uma cara de tacho.
Cigana - Só isso?
Júlia - Prefere em chicletes?
A menina franziu o cenho já tirando umas gomas de mascar.
Cigana - Não, não, não... cortesia da casa.
A mulher abre a mão de Júlia e sorri, passando os dedos nas linhas.
Cigana - Tem medo do amor? Vejo aqui que irá encontrar seu verdadeiro amor hoje, porém vai deixar escapar.
Irritada, Júlia tira a mão.
Júlia - Muito clichê. Isso pode acontecer com qualquer um. Por que não adivinha onde fica o banheiro, já que é dele que estou precisando? Tchau...
A menina sai correndo e a mulher fica balançando a cabeça negativamente enquanto a observa sumir na multidão. Finalmente, chega ao banheiro, mas tinha que pagar dois reais para usar.
Júlia - Que absurdo! Preciso usar.
Homem - Tu é cega?
Perguntou ele, apontando para a placa.
Homem - Duas pratas!
Júlia - Eu te pago depois, eu prometo!
Suplicou com as mãos entre as pernas, segurando para não fazer xixi ali mesmo.
- Eu pago!
Um rapaz se aproxima, entregando os dois reais. O homem libera a passagem dela, e Júlia corre desesperada entrando numa cabine. Pouco tempo depois, sai aliviada e agradece.
Júlia - Obrigada!
Ele sorri e estende o braço, se apresentando.
- Prazer, me chamo Eduardo!
Júlia o cumprimenta sentindo seu estômago diferente, como se tivesse borboletas. Contudo, dois amigos dele aparecem.
Garoto - Vamos, Eduardo. Você precisa conhecer umas meninas.
Eduardo - Já estou conhecendo.
Ambos olham para a Júlia.
Garoto - Essa daí? Não cara, estou falando das mais bonitas da cidade, não a mais feia.
Júlia - Ah, vão para o inferno seus sem miolos.
Eduardo - Espere, você não quer dar uma volta no parque?
Júlia - Não, prefiro morrer!
O rapaz fica confuso sem entender o comportamento dela. Júlia senta afastada atrás de uma tenda e começa a chorar.
Júlia - Inferno de vida!
Chorou até as lágrimas secarem, e retornou para onde suas amigas estavam. Sílvia ao vê-la corre alegremente em sua direção.
Sílvia - Amiga, venha, você precisa conhecer.
Júlia - Calma, não me puxa!
Sílvia - Acabei de conhecer o amor da minha vida.
Júlia - Ham?
Quando elas se aproximam, lá estava ele, o Eduardo. Júlia engole seco. Ambos se olham e disfarçam.
Fim das lembranças...
(Atualidade)
Júlia - Ok, de volta ao Brasil.
Brasil, Mato Grosso...
Sílvia estava em um quarto de hospital respirando por aparelhos, quase ninguém a pegava acordada devido aos sedativos intensivos que tomava para inibir as dores. Olha para o lado e vê sua mãe cabisbaixa sentada numa poltrona fazendo suas orações em silêncio.
Sílvia - Mamãe?
Odete - Oi, minha filha!
A mulher levanta-se rapidamente.
Sílvia - Quero escrever uma carta.
Ela falava pausadamente, aquele aparelho de oxigênio que ficava na garganta emitia um som esquisito que deixava Odete trêmula toda vez que ouvia.
Odete - Tenho um caderno e uma caneta na minha bolsa, filha.
Chorosa, a mulher pega os objetos pedido pela filha e a entrega.
Odete - Para quem está escrevendo, filha?
Sílvia - Para a Júlia!
Odete - Mas ela já confirmou que vem querida.
Sílvia - Não dará tempo, mamãe! Conheço a Júlia, ela vai demorar.
Ouvir aquelas palavras saindo da boca da filha foi horrível, logo criou um nó na garganta e teve que sair rapidinho do quarto para chorar no corredor. Ao retornar, Sílvia estava arrancando a folha, dobrou o papel e estendeu o braço para a mãe pegar.
Sílvia - Entregue a Júlia, mamãe! Jamais leia.
Odete - Não lerei, minha filha!
Nesse momento a porta do quarto se abre e o marido estava com os dois filhos parados a olhando evitando a todo custo o choro.
Pedro - Mamãe!
O menino corre e abraça a mãe bastante emocionado, Já a pequena Sofia, não quis descer dos braços do pai, ficou chorosa com uma expressão amedrontada.
...
Um ano depois...
O ano se passou tão rápido, que ele mal pôde lembrar de algum dia que não estava deprimido. Depois da morte da esposa, mergulhou completamente no trabalho e nas horas vagas saía para noitada beber. Tentava seguir adiante sua vida, mas o luto conseguia sempre se sobressair de alguma forma, buscava sair com mulheres, mas sempre o encontro acabava antes mesmo de começar, resultando em total decepção.
Eduardo Noronha, 29 anos de idade, Engenheiro agrônomo. Herdeiro de uma fortuna considerável, dono de uma das maiores fazendas da região, além de investir na bolsa, no mercado financeiro. Viúvo de Sílvia Noronha, tem dois filhos: Pedro de oito anos, e Sofía de cinco.
As crianças brincaram a tarde inteira na fazenda, correram nos campos, colheram frutas do pé, andaram a cavalo e deram milho às galinhas, finalizando com um banho no rio.
Ao retornarem, a babá arrumou os dois para jantarem com o pai e a avó, dona Odete, sogra de Eduardo já estava sentada à mesa os esperando. Descem os degraus da escada correndo.
Sofia - Vovó... Olha o desenho que eu fiz.
A menina dá a volta à mesa e abraça a avó, que estava sorridente, Pedro senta-se à mesa e revira os olhos achando uma bobeira.
Odete - Que lindo, minha flor!
Sofia - É do rio!
Odete - Uma verdadeira obra de arte.
Pedro - Você está mentindo, esse desenho é horroroso. não dá para saber o que é nada.
Sofia - Não, não é!
Pedro - Você não sabe fazer nada, menina boba!
Sofia - Eu sei, eu sei! Você que é chato.
Odete - Parem, por que vocês são assim, heim?
Pedro - Sou sincero!
Odete - Às vezes sua sinceridade machuca as pessoas, sabia?
Pedro - Ah vó! Cadê o meu pai?
Odete - Foi tomar um banho! Quero aproveitar e falar com vocês.
Pedro - Sobre o quê?
A mulher pigarreia antes de falar, coloca os braços sobre a mesa e suspira profundamente.
Odete - Terei que viajar, meus amores!
Sofia - Vovó, não!
Odete - Sua tia vai dar à luz na próxima semana, então terei que ficar com ela um tempo.
Sofia - Ah não! (Choro)
Pedro - Para de chorar menina, a vovó não vai morrer não, ela vai voltar!
Sofia - Para!
A mulher revira os olhos e pede paciência aos céus. Nesse momento, Eduardo aparece na sala de jantar com um sorriso nos lábios.
Eduardo - Boa noite!
Todos respondem.
Ele puxa a cadeira e senta-se, faz um sinal para a empregada se retirar.
Eduardo - Vamos comer!
Ele olha para a filha que estava limpando as lágrimas.
Eduardo - O que aconteceu dessa vez?
Odete - Contei para eles da minha viagem!
Pedro - E como sempre essa chorona tem que aparecer!
Eduardo amassa os lábios em reprovação.
- Você é muito cruel com a sua irmã, quantas vezes já falei com você, Pedro? Você é o irmão mais velho tem que ajudá-la, não ser assim.
O menino dá de ombros e coloca a comida no prato.
Eduardo - Filha, não precisa chorar, a sua avó irá voltar.
A menina fungava chorando, o que fez a avó se aproximar e colocá-la no braço lhe dando carinho.
Eduardo - Como foi o sábado?
Perguntou olhando para o filho.
Pedro - Bom, fiz várias coisas.
Eduardo - Amanhã poderemos pescar!
Pedro - Não estou afim.
Eduardo solta os talheres no prato emitindo um som de choque com a louça, leva as mãos na cabeça de cansaço.
- Estou tentando, filho!
Odete - Ele sabe, não é Pedro?
O menino fica pensativo uns segundos.
Pedro - Desculpa, papai!
O homem levanta-se da mesa e sobe para o quarto.
Sofia - Tá vendo, o meu pai ficou triste por sua causa.
Odete - Para você também, Sofia!
Sofia - Mas ele...
Odete - Shhh... Vamos jantar em paz!
...
Depois de um tempo no quarto deitado, parado olhando para o nada, Eduardo fita a hora no relógio constatando ser cedo, troca de roupa e sai de casa indo para um bar na cidade, onde costumava beber e conversar com amigos, muitas das vezes até o amanhecer.
Dessa vez decidiu ficar sozinho, estaciona a caminhonete e desce entrando no bar novo da cidade, tinha vários jovens amantes por drinks diferentes. Pediu uma garrafa de vodka e foi para uma mesa mais afastada, observando algumas pessoas jogando sinuca apostado.
Ele levanta-se com o copo e coloca no meio da mesa, pega um taco e desafia os oponentes, que gostaram da afronta, iniciaram a jogada, e para surpresa de todos, Eduardo ganhou todas as partidas.
Rapaz - Cara, como você consegue? (risos)
Perguntou indignado.
Eduardo - Já vou indo!
Ele olhou no relógio e tirou algumas notas do bolso pagando a bebida que consumiu, claro que não tomou a garrafa toda. Tentava se manter sempre o mais sóbrio possível. Quando chegou em casa já estava amanhecendo, subiu direto para seu quarto e capotou de sono na cama, mesmo com canto do galo avisando que o sol já nasceu.
O domingo na fazenda amanheceu ensolarado, o gado pastava da vasta grama verde, os funcionários tiravam alguns cavalos dos estábulos para dar banho e escovar as crinas.
Lógico que Pedro estava cedinho presente nos estábulos, gostava de acompanhar, até ajudava os peões na parte da escovação. De longe se ouvia um barulho de veículo se aproximando levantando poeira e parando de frente o casarão.
Francisco - Parece que chegou visita, patrãozinho.
O menino estica o pescoço para ver na direção.
Pedro - Verdade, vou lá!
O homem sorri e o garoto corre em direção a casa. Uma mulher muito bonita descia do carro, tirando os óculos escuros visualizando toda a extensão do lugar com uma certa curiosidade.
Dona Odete - Antes tarde do que nunca, demorou mas Júlia retornou ao seu país de origem.
Falou do alpendre, sentada na cadeira de balanço de pernas cruzadas.
Júlia - Quanto tempo, dona Odete!
Ela sobe os degraus e as duas se abraçam.
Júlia - Sinto muito pelo o que aconteceu com a Sílvia! Eu não consegui vir logo em seguida quando fiquei sabendo do falecimento dela, eu cancelei as passagens e tudo mais.
Odete - Tudo bem, foi tudo tão rápido que chega a ser muito difícil entender os propósitos da vida.
Júlia - O que ela tinha?
A mulher engole o choro e olha para cima tentando segurar as lágrimas. Pedro acaba respondendo do nada.
- Ela estava com aquela doença!
As duas olham para o menino em pé fitando o chão.
Júlia entendeu perfeitamente, e não se prontificou em perguntar mais nada na frente do menino.
Odete - Esse é o Pedro, filho dela.
Júlia - Tudo bem pestinha?
Júlia fecha o punho e estica o braço o cumprimentando, o menino sorri meio sem jeito.
Pedro - Tudo, você é engraçada!
Júlia - Sou? Bom, devo admitir que sou uma palhaça às vezes.
Odete - Você nunca muda! (risos)
Júlia arqueia as sobrancelhas olhando para a mulher.
- Não me diga que você é filho daquele chato?
Pedro - Ham?
Odete - Menos Júlia, tá!
Nesse momento a Sofia aparece de pijama coçando os olhinhos bocejando, olha para a visita e sorri com o estilo inusitado, roupas pretas e botas. O estilo de mulher que não leva desaforo para casa, inclusive estava sendo admirada pelos funcionários da fazenda.
Júlia - Oi pirralha?
Sofia - Oi... Você é bonita! Parece uma artista de televisão.
Júlia - Obrigada, pelo elogio! Você também é bonita, parece sua mãe.
A menina fica um pouco envergonhada e corre abraçando a avó.
Odete - Crianças, essa era uma grande amiga da mãe de vocês!
Pedro - Legal!
O menino se empolga e senta no sofá rústico da varanda. Era novidade para ele isso, e também gostou bastante do comportamento da Júlia, era bem acessível nas conversas e de fácil entendimento. Começaram um bom papo sobre o passado, ela pôde relatar alguns episódios que ocorreu com as duas, arrancando muitas risadas das crianças e da dona Odete.
Pedro - Sabia que temos uma égua prenha? Ela tá prestes a dar a luz.
Júlia - Sério? Que interessante.
Ela tentava ser a mais gentil possível, apesar de não conseguir esconder que detestava fazenda, isso não pegou ruim. As crianças se divertiram demais com as caras e bocas dela tentando parecer gostar, mesmo eles sabendo que a realidade era outra.
Odete - Vamos entrar? Tomar um delicioso café da manhã de fazenda?
Júlia confirma com a cabeça e entra, as crianças trataram de mostrar todo o casarão para ela se familiarizar com o ambiente, em seguida sentaram à mesa e tomaram café da manhã. Como Eduardo chegou tarde, com o sol já amanhecendo, provavelmente acordaria próximo ao horário do almoço.
Odete - Crianças, vão tomar banho, a Emília ajudará vocês!
Pedro - Você não vai embora agora, né?
Júlia - Não vou mentir, vim só para buscar minha carta. Então...
O menino fica meio triste e olha para a avó.
Odete - Uma carta deixada pela sua mãe, filho!
Júlia - Mas não se preocupe, antes faço questão de me despedir de vocês!
Os dois sorriem e sobe para seus quartos correndo e animados.
Odete - Cuidado, crianças! (risos)
A mulher leva a Júlia até o escritório para que as duas pudessem conversar com mais privacidade.
Odete - Fique à vontade!
Júlia - Obrigada!
Odete - Depois que minha filha faleceu, continuei morando aqui na fazenda dos Noronhas. Ainda bem que eu e o Eduardo sempre nos demos bem, não é todos que aceitariam a ex sogra em sua casa.
Júlia - Mas a situação mudou, ele precisa da senhora!
A mulher sorri.
Odete - Infelizmente terei que viajar por tempo indeterminado.
Júlia - E as crianças?
Odete - Temos vários empregados, vão ser bem cuidados.
Júlia - A senhora continua sendo durona. (risos)
Ambos sorriem...
Odete - Bem, vou direto ao assunto. Eu não sei o que tem nessa carta, porém minha filha escreveu no seu leito de morte, creio que tem algo muito especial escrito. Ela abre um livro antigo e tira o papel dobrado entregando para a garota, que fica visivelmente emocionada ao segurar. Fecha os olhos e sente uma lágrima escorrer pelo seu rosto.
Batidas na porta...
Odete - Entre!
Emília - Senhora, os membros do grupo de doações estão lá fora.
Odete - Ah... Já tinha me esquecido! Mande-os entrar, vou recebê-los na sala de visitas, prepare o chá com biscoitos quentinhos.
Emília - Sim, senhora, com licença!
Júlia guarda a carta dentro da bolsa e se levanta.
- Bem, vou indo!
Odete - Espere, não quer participar comigo da reunião do grupo de doações que ajuda aos animais abandonados?
Júlia deu de ombros e seguiu, afinal teria que se despedir das crianças ainda, então não via problema algum. Por outro lado, Eduardo acordou com uma tremenda dor de cabeça e mal humor
A reunião na sala estava acontecendo, quando Eduardo aparece e dá bom dia para todos, mas antes de se retirar da sala dona Odete se pronuncia.
Odete - Adivinha quem está aqui na fazenda?
Ele para e retorna a visão na mulher.
Odete - A Júlia!
Eduardo - Quem?
Todos os presentes sorriem com a expressão que ele fez, menos a Júlia que se manteve séria.
Eduardo - Você disse, Júlia? Aquela amiga insuportável da Sílvia?
A mulher fica branca de vergonha.
Odete - Ela...
Eduardo - Não suporto aquela garota!
Júlia amassa os lábios e cruza os braços olhando para a dona Odete.
Eduardo - Onde a palito está?
Odete - Palito?
Ela tinha esquecido que esse era o apelido que todos chamavam a Júlia na época que era adolescente, por ser muito magra. Eduardo sorri e olha para as pessoas sentadas no sofá segurando o riso e todo o constrangimento. Fita a bela mulher sentada perto da dona Odete e engole a seco. Realmente ele não a reconheceu até agora.
Odete - Bem, ela...
Júlia - Obrigada por lembrar do apelido de adolescente, não teria um momento melhor para recordar.
Ele olha para Odete e depois para a bela moça incrédulo.
Eduardo - Júlia?
Perguntou espantado com o que via.
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