Deitada numa calçada fria no centro de Samara, na Rússia, Emily Alves sentia muita dor na sua barriga, ela está grávida de 8 meses e acabara de sofrer um grande acidente de carro na companhia do seu marido, Juan.
“Eu te amo muito minha princesa” essas palavras ecoavam na mente de Emily, elas foram ditas pelo amor de sua vida segundos antes dele partir, por não suportar os ferimentos ele morreu ainda no local, deixando Emily totalmente desesperada.
—Calma senhora, uma ambulância já está a caminho-disse um homem cujo rosto era jovem, mas a voz era bem grossa e imponente, ele era apenas um transeunte que parou para verificar o que havia acontecido.
—Eu preciso de ajuda-disse ela utilizando a sua língua materna, o português do Brasil e com isso o jovem não entendeu nada, mas ficou ali, segurando a mão dela, tentando lhe transmitir forças, mas ele mesmo se sentia meio perdido, uma mulher grávida e agora viúva, jogada numa calçada qualquer e sangrando como um bichinho ferido, comoveria até mesmo pessoas desprovidas de empatia.
Emily e Juan são brasileiros, ambos vieram para a Rússia por conta de uma promessa de emprego, mas era tudo mentira e desde então eles vivem de forma ilegal no país, trabalhando como vendedores ambulantes e já estavam juntando dinheiro para voltarem para casa, mas agora nada faz sentido e tudo que Emily quer é morrer junto com o marido.
Mesmo com tanta dor por todo o seu corpo e já sentindo um líquido quente escorrer pelas suas pernas, Emily deu uma olhada ao seu redor, ali, no local do acidente, havia muitas pessoas curiosas andando de um lado para o outro, mas a maioria fingia não vê-la.
Ao longe Emily viu uma ambulância sair em disparada, eles socorreram apenas o outro casal, talvez devido aos status, já que o carro deles era de luxo e o de Emily parecia ter sido tirado do ferro-velho e talvez fosse.
Emily e Juan trabalharam o dia inteiro e já estavam voltando para casa, cansados, porém felizes devido a aproximação do nascimento do primeiro filho do casal, mas do nada surgiu um carro em alta velocidade e colidiu com o veículo onde estavam Juan e Emily que foram arremessados para fora do veículo, Emily caiu na calçada, batendo com força a sua barriga no chão, lhe causando muitas dores, já Juan caiu no meio da rua e acabou sendo atropelado, ele estava muito ferido, mas ainda conseguiu se arrastar até Emily e antes de dar o último suspiro ele disse que a amava e aquilo mexeu muito com Emily.
Eles viviam juntos há 3 anos, não tinham papéis que comprovassem a união dos dois, mas tinha amor, cuidado e respeito mútuo e com isso eles eram bem mais que um casal, eram também grandes amigos e por isso Emily sentia que acabara de perder a sua alma, ela nunca irá esquecê-lo.
Emily deu um sorriso amargo, fechou os olhos e clamou a Deus pela vida do seu filho, nessa hora ela parou de segurar o choro e simplesmente deixou que as lágrimas caíssem sem parar, ela olhou para o seu marido, deitado no chão e coberto com lençol branco e chorou ainda mais, ela agora está sozinha, sem família e sem esperanças no futuro.
Talvez a dor na barriga ou o cansaço por trabalhar o dia inteiro fez Emily simplesmente apagar, o homem ao seu lado não sabia se ela estava morta ou não, mas pôs-se a gritar pedindo ajuda, no entanto não adiantou, então ele ficou ali aguardando a ambulância e só depois de ver aquela pobre mulher ser levada para o hospital foi que ele seguiu o seu caminho.
...
O cheiro de desinfetante invadiu as narinas de Emily, ela abriu os olhos e daí percebeu que já estava no hospital, ela deu uma olhada no ambiente e se sentiu desconfortável, a cabeça dela dói muito e nesse instante ela lembrou-se do acidente e uma enxurrada de emoções invadiu o coração de Emily, ela acariciou a sua barriga procurando o seu filho, mas tudo o que sentia era dor, não só na barriga, como também no coração.
Já sentindo um frio estranho percorrer o seu corpo, Emily pôs-se a chorar, se ela perder essa criança definitivamente a sua vida perderá o sentido.
Emily é órfã de mãe e o seu pai sumiu do mundo quando ela tinha 3 anos, no Brasil, Emily tem apenas uma tia distante e elas não se dão bem, então não faz sentido voltar sozinha.
Nesse momento entrou uma enfermeira trazendo uma bandeja contendo algumas comprimidos e uma injeção.
—Aonde está o meu filho?-perguntou Emily enquanto tentava se levantar.
—Não se esforce, você perdeu muito sangue-disse a mulher enquanto entregava os comprimidos a Emily.
—Eu só preciso saber se o meu filho está bem-argumentou ela já com uma voz embargada.
A enfermeira fingiu não ouvir as palavras da jovem pálida a sua frente.
—Por que me ignora desse jeito? Eu agora estou sozinha nesse país e só tenho o meu filho, por favor, me deixe ver o meu filho, eu preciso vê-lo-disse Emily em prantos.
—Eu sinto muito senhora Emily, mas a criança não sobreviveu-disse ela e daí se aproximou ainda mais de Emily e deu-lhe uma injeção no braço direito, antes que ela pudesse digerir aquela informação Emily dormiu profundamente.
Emily Alves, brasileira, 23 anos
Enquanto Emily tem a sua dor camuflada por um sono profundo, Jackson Salvatore está agoniado, andando de um lado para outro no corredor da maternidade.
Ele é o chefe de um dos Quartéis mais perigosos da Rússia, um assassino cruel e calculista, mas estando naquela situação ele se sentiu como uma criança que acabara de se machucar, mas não pode soltar uma única lágrima, pois isso seria demonstrar fraqueza.
—Eu acho bom alguém vim me dizer o que está acontecendo com a minha mulher-gritou ele com arrogância.
A mulher de Jackson está na sala de parto, mas isso já faz duas horas e nada de notícias. Eles estavam a caminho da maternidade, ele dirigia em alta velocidade por conta dos gritos de dor que ecoavam no veículo, ele queria que o amor da sua vida parasse de sofrer, mas acabaram se envolvendo em um acidente, dificultando ainda mais a situação de Renê.
—Senhor, por favor me acompanhe até a enfermaria-disse uma jovem enfermeira e daí deu alguns passos para trás por conta do olhar assassino de Jackson.
Ele sofreu apenas ferimentos leves, um pequeno machucado aqui, outro ali e por isso ele desconsiderou as palavras da mulher.
Nesse momento os seus seguranças chegaram ao local, um deles se aproximou e logo falou:
—Senhor Jackson, eu mandei verificar o seu veículo e infelizmente ficou comprovado que alguém sabotou o veículo, os freios foram cortados propositadamente, já estamos tentando pegar o culpado-disse Will, o chefe dos seguranças, o semblante complicado de Jackson Salvatore deixou todos muito apreensivos, mas Will não se afastou e ficou ali olhando para o seu chefe aguardando uma resposta.
Muito irritado, Jackson soltou um longo suspiro e disse:
—Lembro-me perfeitamente de que eu mandei levarem todos os carros para um check-up, por que não fizeram o que eu pedi?-perguntou Jackson com uma voz bastante alterada, já se aproximando ainda mais dele, Will até tentou dar uns passos para trás, mas logo o seu corpo encontrou a parede e ele só pôde enfrentar o mal humor do chefe.
Jackson sempre foi um homem cruel, matou pela primeira vez aos 17 anos e acabou pegando gosto pela coisa, mas ele realmente ama Renê e descobrir que todo o seu infortúnio tem um culpado o deixou bastante irritado e com sede de vingança.
Will, tentando manter a calma, temperou a garganta e disse:
—Fizemos conforme as suas ordens e com o profissional de sempre, eu realmente não sei como isso aconteceu-disse ele enquanto tentava desesperadamente manter a compostura, ele está prestes a chorar de desespero, Will é mau, mas Jackson bem pior e com certeza o tempo vai fechar por aqui.
—Eu sei o que está acontecendo, o Marcos está ficando velho e nem se quer enxerga mais, então vai lá e mate aquele infeliz-bravejou Jackson com uma voz carregada de raiva, ele hoje poderia lutar de igual para igual com o próprio diabo e com certeza levaria a melhor.
Mesmo discordando das palavras do seu chefe, Will assentiu e daí saiu dali rapidamente, Jackson voltou a andar de um lado para outro naquele estreito corredor, ele estava nervoso e por um momento pensou em invadir a sala de cirurgia.
Ao seu lado havia 2 seguranças lhe olhando com olhares complicados, claro que Jackson não estava confortável com isso e já ia confrontar os homens, mas um médico chegou e falou de repente:
—Boa noite senhor Salvatore, nós tentamos de tudo para salvar o bebê e a mãe, mas infelizmente ela morreu, eu sinto muito-falou o médico com uma voz carregada de pesar, a morte de alguém é sempre algo triste, mas quando se trata de uma jovem de 25 anos, causa ainda mais comoção.
Ouvindo aquelas palavras, Jackson sentiu o seu peito ser cortado em vários pedaços, tantos planos, tantos sonhos, e agora tudo se acabou num passe de mágica, isso dói muito e por um momento Jackson pensou que fosse morrer.
Ele sentiu que acabara de cair num abismo sem fim, está escuro e cada vez mais frio e não há ninguém que possa ajudá-lo a se livrar dessa dor lancinante que se apoderou de seu coração.
Querendo que aquilo fosse apenas um mal entendido, Jackson se aproximou do médico e logo falou com uma voz imponente.
—Péssima hora para brincadeiras, eu quero ver a minha mulher agora, vamos, mostre-me o caminho-disse ele e logo saiu puxando o médico.
Ouvindo aquelas palavras, observando o olhar mortal de Jackson e o comportamento dominador dele, o médico sentiu um medo descomunal percorrer o seu corpo, mas mesmo assim ele reuniu toda a sua coragem e logo falou:
—Eu sinto muito senhor Jackson Salvatore, mas eu não sou homem de brincar com coisa séria, a senhora Renê realmente morreu. Eu vou mandar trazer o seu filho, eu lamento muito pela sua perda-disse o médico e logo saiu feito bala, na verdade ele queria chorar, a morte com certeza passou bem perto dele naquele instante.
Muito chocado com a notícia, Jackson sentou-se numa cadeira qualquer e ficou em silêncio tentando digerir aquela informação.
Renê era esposa de Jackson há 5 anos, eles se amavam e eram felizes, mas ela não queria ter filhos, pois dizia não querer estragar o corpo, mas por amor a Jackson ela aceitou gerar pelo menos uma criança, lembrar disso o fez cair ainda mais fundo.
—Eu a matei, essa criança a matou, eu só quero morrer-ele resmungou para si mesmo enquanto se esforçava para não chorar.
Jackson Salvatore, russo, 33 anos.
De olhar triste e coração vazio, Jackson ficou ali por muito tempo, as pessoas lhe olhavam com pesar e aquilo estava o deixando completamente transtornado, ele não suporta que tenham pena dele e por um momento, Jackson pensou em tirar a sua arma da cintura e matar todos a sua frente e talvez assim ele se sentisse melhor.
Vendo que o chefe estava prestes a explodir, um dos seguranças se aproximou e falou com cautela:
—Senhor Jackson, vá descansar, eu posso resolver tudo sobre a liberação do corpo da senhora Renê e o Ben pode ficar responsável por levar a criança em segurança para casa, o senhor precisa dormir um pouco-as suas palavras foram sinceras, mas ele se arrependeu de ter falado aquelas palavras, pois Jackson lhe olhava com tanta raiva que por um instante o homem teve a impressão de ter visto a sua alma abandonar o seu próprio corpo, era medo da morte.
Jackson se levantou planejando expressar a sua opinião, mas nesse momento a enfermeira trouxe o bebê, ele já vinha chorando e isso deixou o homem bastante agoniado, a mulher se aproximou de Jackson e disse:
—Esse é o seu filho senhor, ele é saudável, mas está com muita fome e não para de chorar, no entanto ele não quis ninguém e nem mesmo o bico o fez parar de chorar-disse ela praticamente gritando, pois o choro do bebê não permitiu uma conversa um pouco mais civilizada.
Jackson não disse nada, apenas olhava fixamente para aquele pequeno ser nos braços da enfermeira, nada mais fazia sentido, Renê se foi e na cabeça de Jackson, os culpados estavam ali, era ele e também o bebê.
Vendo que o homem não demonstrou interesse de pegar a criança no colo, corajosamente, a enfermeira colocou o bebê nos braços de Jackson e logo saiu dali e foi cuidar dos seus afazeres.
Se sentindo perdido, Jackson soltou um longo suspiro e ficou balançando levemente aquele bebê de um lado para outro, mas isso não fez a criança parar de chorar, nessa hora Jackson desejou que todos tivessem morrido naquele acidente e assim ninguém estaria sofrendo.
Neste instante, Rafaela, irmã de Jackson, chegou no local e o viu ao longe o seu irmão agoniado com o choro do bebê.
—Oh meu irmão querido, eu sinto muito por você, a Renê era uma esposa excelente, eu lamento muito pela sua perda imensurável-disse Rafaela já se aproximou de Jackson e tentando abraçá-lo, mas ele se afastou, virando-se de costas para ela e continua a tentar fazer aquela criança calar a boca.
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Enquanto Jackson tentava entender como as coisas chegaram aquele ponto, brigando mentalmente com Deus por ter sido abandonado num momento tão difícil, Emily estava dormindo profundamente, nesse momento, entrou uma enfermeira e começou a mexer na mangueira de soro conectada a mão dela e com isso Emily acordou, ao ver que era a mesma enfermeira de agora a pouco, Emily lembrou que foi ela quem lhe deu a pior notícia de sua vida, o seu filho está morto.
Lembrar disso fez Emily simplesmente desabar, ela chorava muito e isso deixou a enfermeira com muita pena, ela não disse nada e já estava se preparando para sair do quarto, porém Emily segurou na mão dela e disse:
—Eu quero ver o meu filho, eu tenho direito de vê-lo, apenas me leve até ele-disse Emily e logo se esforçou para se levantar.
A enfermeira apenas assentiue logo a ajudou a se levantar e daí saíram do quarto, Emily caminhava lentamente e a cada passo dado a dor era maior, ela passou por uma cesariana e tudo nela dói muito, mas saber que está indo ver o seu filho sem vida, realmente dói demais.
Teimosamente, Emily tirou a mangueira de soro que estava conectada à ela e jogou para longe de si e continuou a caminhar.
O bebê estava em uma sala reservada, o seu corpinho estava coberto com um lençol branco, tão pequeno e ao mesmo tempo tão grande, aquilo fez Emily chorar ainda mais.
—Melhor não!-disse a enfermeira ao constatar que Emily planejava tirar o lençol e ver o bebê.
Mesmo ouvindo com exatidão as palavras da enfermeira, Emily ignorou por completo e tirou o bendito lençol, revelando um lindo bebezinho, tão pequeno, mas com o seu corpinho repleto de hematomas, mostrando que ele sofreu muito antes de morrer e isso deixou Emily ainda mais abalada, o seu corpo tremia e até mesmo respirar ficou mais difícil.
A enfermeira saiu puxando Emily para fora da sala, a mulher estava irreconhecível, parece não estar mais nesse plano, foi demais para ela ver o seu mais lindo sonho, ali, sem vida, Emily estava com uma expressão triste estampada em seu rosto e os seus olhos parecem sem vida, nesse momento a enfermeira se arrependeu de não ter impedido Emily de ver a criança.
Elas caminhavam lentamente pelo corredor, o plano inicial era voltar para o quarto, mas de repente Emily parou de caminhar, encarou a enfermeira e disse:
—Ouça! O meu bebezinho está me chamando, eu preciso alimentá-lo-disse Emily e logo soltou o braço da enfermeira e caminhou na direção do choro de um bebê.
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