♦️História contém cenas de violência e sexo, não recomendado pra menores de 16 anos. É de sua inteira responsabilidade se for menor da idade recomendada.♦️
🐺História não revisada, contém erros ortográficos e dês de já peço desculpas por ainda não ter revisado. Breve será revisada e terá algumas alterações.🦇
🧚 Divirta-se e uma ótima leitura. 🧚
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A floresta dormia inquieta sob o manto de uma noite que não era como as outras. Havia algo de errado no ar. A lua cheia tingia o céu com um tom rubro profundo, como se sangrasse silenciosamente sobre as copas das árvores, e os ventos — uivantes, cortantes — dançavam como espectros pelas sombras, fazendo as folhas sussurrarem segredos esquecidos.
Entre galhos retorcidos e raízes traidoras, uma jovem mulher corria. A capa vermelha que vestia se agitava como fogo sob a luz da lua, e em seus braços ela apertava contra o peito um recém-nascido, envolto em panos gastos. Seus olhos, marejados, reluziam mais por desespero do que pela claridade do luar.
Cada passo era um risco. Cada respiração, um lamento. A floresta, tão vasta e escura, parecia fechar-se ao seu redor — como se até os animais silenciassem diante do que estava por acontecer.
— Não deixem ela escapar! — bradou uma voz feminina ao longe, carregada de ódio e comando.
O coração da mulher acelerou ainda mais. Aquelas palavras não eram apenas uma ameaça. Eram uma sentença.
Ela se enfiou entre os troncos, desviando dos arbustos, até encontrar o que parecia ser uma toca cavada por algum animal — oculta entre raízes e folhas. Ajoelhou-se, tremendo, e olhou para a criança em seus braços. Suas mãos, trêmulas e feridas, envolveram o rostinho adormecido com ternura.
— Eu preciso te proteger... — sussurrou, a voz embargada. — Me perdoe por te deixar, meu amor. Este colar te livrará do mal.
Ela tirou de si um cordão antigo com um pingente opaco — um símbolo ancestral, de poder oculto — e o amarrou com cuidado ao redor do bracinho da criança. Depositou um beijo demorado na testa do bebê e, com o coração dilacerado, o cobriu com folhas e galhos, camuflando-o da visão dos que a perseguiam.
Levantou-se, levando apenas os panos, como se ainda os segurasse com o filho nos braços, e correu mais uma vez — não para fugir, mas para atrair os inimigos para longe.
— Ali! Ela está ali! Rápido, tragam o bebê! A lua está quase em seu zênite! — gritou a voz da anciã entre os troncos.
A jovem se aproximou da beira de um penhasco. O abismo diante dela era profundo, escuro, inalcançável. Atrás, sombras femininas emergiam da mata — suas irmãs. Vestiam-se em tons escuros, olhos brilhando como os da lua rubra acima.
Ela se virou. O rosto pálido agora era feito de pedra.
— Eu prefiro morrer a entregar minha filha a vocês!
— Lúcia, me dê a criança. Ainda há tempo. — disse a mais velha, estendendo o braço em direção aos panos vazios.
— Fique longe de mim! Eu nunca a darei a vocês!
Por um breve segundo, o tempo parou. O vento cessou. Até a floresta pareceu prender a respiração.
Então, sem hesitar, Lúcia se jogou do penhasco. Seu grito foi levado pelo vento, desaparecendo na escuridão.
Horas depois, pouco antes do amanhecer, o choro do bebê rompeu o silêncio da floresta como uma lâmina. Era um som frágil, mas carregado de vida. Uma mulher, de aparência simples mas olhos atentos, caminhava pela trilha próxima quando o escutou.
Seguindo o som, encontrou a criança — viva, protegida, envolta pelas folhas como uma oferenda esquecida. Seus olhos se estreitaram. Ela hesitou por um instante. Então a pegou nos braços com delicadeza.
A levou para casa e a alimentou, mas seu semblante permanecia indecifrável. Ela sabia que não podia ficar com aquela menina. Seus próprios segredos não permitiriam.
Assim, antes que o dia nascesse por completo, a mulher caminhou até a cidadezinha vizinha — MistFalls, um lugar escondido entre colinas e lendas antigas — e deixou a criança adormecida à porta de uma casa modesta. Tocou a campainha e desapareceu como sombra na névoa.
Naquela manhã, quando o casal da casa abriu a porta, não encontrou apenas uma criança.
Encontrou um destino.
🖤 1° Capítulo : Despedidas frias🖤
Dezesseis anos depois...
Mudar de cidade estava no topo da minha lista de piores ideias da humanidade — junto com salto agulha no asfalto e filmes de terror baseados em fatos reais. Mas ali estava eu, cercada por um mar de caixas, fitas adesivas e uma irritação latente que crescia como erva daninha no peito.
Meu quarto, que até poucos dias era meu santuário, agora parecia um campo de guerra pós-evacuação. As paredes vazias ecoavam o som das minhas próprias queixas e o cheiro de papelão seco já me enjoava.
— Mãe! Cadê minha bota branca? — gritei, empurrando uma pilha de caixas com o pé. A angústia na voz era real.
— Perto da caixa marcada 'escritório' ou ‘roupas da Sophie’. Leia as caixas, filha. Elas têm nome.
Dei uma risada seca, sem humor. Apoiei as mãos nos quadris e encarei as dezenas de etiquetas mal escritas.
— Super útil, mãe. Obrigada mesmo.
Me abaixei, remexendo com pressa, arrancando fitas com os dentes e empurrando as abas das caixas como se estivessem me desafiando. Quando finalmente encontrei a bota, sentei na beirada da cama e a calcei com força, como se estivesse calçando um pedaço de mim que ainda resistia a tudo isso.
— Anda logo, Sophie! Vai se atrasar pra escola! — a voz da minha mãe ecoou da escada.
— É meu último dia, qual o drama? — respondi alto, sem esconder a exaustão.
Ela surgiu na porta com os braços cruzados e aquele olhar de julgamento que só mães sabem fazer tão bem. Encarei-a de volta com o que restava da minha dignidade adolescente.
— Só porque vamos embora, não significa que você precise sair pisando duro por aí. Seus amigos vão querer se despedir. E você vai se arrepender se não for.
Fechei o zíper da bota devagar, olhando pra ela por baixo dos cílios.
— Você sabe que eu amo Los Angeles, mãe. Tudo que eu sou... tá aqui.
Ela suspirou, mas manteve o tom firme.
— E nós já conversamos sobre isso. Você sabe o porquê da mudança. Agora anda, ainda tenho o que resolver.
Revirei os olhos com vontade, pegando a mochila largada no chão.
— Já tô indo. Relaxe.
Saí do quarto com passos pesados, me despedindo em silêncio de tudo aquilo que conhecia tão bem.
☆゚.・。゚☆゚.・。゚
No carro, o silêncio nos acompanhou por alguns quarteirões. Eu mantinha o olhar colado na janela, observando os prédios e postes passarem como se estivesse tentando absorver cada detalhe e embalar numa caixinha dentro de mim.
Até que minha mãe quebrou o silêncio.
— Já pensou no que quer de presente de aniversário?
Suspirei, apoiando a cabeça no vidro gelado.
— Ainda faltam dois meses, mãe. Mas... — meus lábios se curvaram num meio sorriso enquanto uma ideia brotava — ...se for pra morar no fim do mundo, acho que mereço algo justo. Tipo... um carro.
Ela virou o rosto em minha direção com um arqueamento de sobrancelha clássico.
— Um carro? Não perde a chance, né?
— Pensa bem: autonomia, independência, você menos estressada porque não precisa me levar e buscar o tempo todo. Ganha todo mundo.
Ela riu, uma daquelas risadas breves e cansadas.
— Assim que a gente se instalar, vamos a uma concessionária. Mas só pra olhar.
Soltei um gritinho contido, me inclinando até ela com os olhos brilhando.
— Promete?
— Não é todo dia que minha filha faz dezesseis anos. — sorriu, estacionando em frente à escola.
Beijei seu rosto num impulso e desci do carro sem olhar pra trás.
— Você é a melhor, mãe. Mesmo.
— Teus amigos estão ali. Vai lá. E juízo, hein? Eu volto só à noite.
— Juízo é meu sobrenome. — brinquei, jogando o cabelo pro lado antes de caminhar em direção à entrada do colégio.
E ali estava eu, atravessando os portões pela última vez. A estrutura familiar me recebeu com um misto de acolhimento e melancolia. O cheiro da quadra, as vozes conhecidas, as risadas ecoando nos corredores. Doía mais do que eu imaginava.
— Sophie! Sua mãe desistiu? — Bruck apareceu do nada, empurrando a mochila no ombro com o habitual sarcasmo nos olhos.
Dei um sorriso torto.
— Ela diz que a cidade inteira lembra meu pai. Então, não. É definitivo.
— Isso não é desculpa pra te jogar no mato. — disse Riley, surgindo do meu lado e entrelaçando seu braço no meu. Seu perfume floral me deu uma pontada no peito.
— Ela acha que é o melhor pra nós duas. E eu... bom, tô tentando engolir isso sem parecer tão amarga.
— Então é oficial. Vamos perder você. — Riley suspirou, encostando a cabeça no meu ombro.
— Meu irmão vai surtar quando souber que a musa dele tá indo embora. — Bruck balançou a cabeça, já prevendo o drama.
— Já falei que o Saimon não tem chance. Ele é tipo... você. Eca.
— Ofensivo. Somos gêmeos, mas não clones. — ela fez uma careta ofendida.
— Pelo amor, gente. Gêmeos idênticos de sexos diferentes nem existem. — cortou Riley, com aquele tom de enciclopédia ambulante.
O sinal soou alto demais, quase como um aviso de que o tempo estava acabando. Entramos pela última vez juntas.
— Vamos pra sua casa depois da aula? — perguntou Riley.
— Claro. É nosso último dia juntas. Vamos aproveitar.
A tarde passou como um filme rápido, daqueles que a gente quer pausar só pra guardar melhor as cenas. Dançamos, rimos, revivemos lembranças, falamos dos garotos que amamos e dos que odiamos. E quando minha mãe chegou, parecia que tudo estava prestes a desabar de novo.
— Oi, meninas. — disse ela ao entrar, tentando soar casual apesar da exaustão.
— Oi, senhora Histon! — Bruck, sempre educada, fez um aceno respeitoso.
— Vão ficar pro jantar? Vou fazer pato.
— Obrigada, mas minha mãe tá me esperando. — disse Bruck, com um sorrisinho triste.
— E eu tenho estudo com meu pai. — murmurou Riley, enquanto calçava o tênis.
Fui com elas até a porta. A despedida pesou nos ombros.
— Eu vou sentir tanto a sua falta. — Riley me abraçou apertado, e por um momento me permiti fechar os olhos e segurar aquilo com força.
— Não sei o que será de Bruck Daltom sem sua melhor amiga! — disse ela, teatral como sempre.
— Chamada de vídeo existe, tá? Eu vou ligar sempre. Prometo.
— Promessa de irmãs? — elas estenderam os mindinhos.
— De irmãs. Pra sempre.
Nos abraçamos de novo. As lágrimas que não caíram ficaram engasgadas no fundo da garganta.
☆゚.・。゚☆゚.・。゚
No dia seguinte, o caminhão da mudança chegou ainda antes do sol se mostrar. Em poucas horas estávamos no aeroporto. E dez horas depois, pousamos em MistFalls.
A cidade parecia saída de um livro antigo: montanhas, floresta fechada, o céu eternamente cinza e uma névoa que não se dissipava nem ao meio-dia. Era bonita. Misteriosa. E estranha.
Minha mãe estacionou diante de uma casa amarela de dois andares.
— Preparada pra conhecer sua nova casa, não tão nova? — perguntou, desligando o motor.
Cruzei os braços, observando a fachada.
— Empolgadíssima.
Ela lançou um olhar de repreensão e eu apenas dei de ombros. Desci do carro pisando firme.
A casa era aconchegante. A sala tinha uma lareira antiga e a cozinha era toda aberta, conectada à sala de jantar. O tipo de lugar que grita “rotina pacata”.
— Pode escolher seu quarto. Mas aposto que vai querer o que tem banheiro.
— Mãe... isso nem é escolha. É direito.
Subi de dois em dois degraus. Escolhi o menor quarto — uma suíte com janela para a floresta. Silenciosa. Com cara de segredo.
— Esse aqui. É a minha cara.
— Comprei móveis combinando. Madeira escura e cama branca. Nada de rosa.
— Você me conhece como ninguém. Te amo.
Antes que ela pudesse responder, a campainha tocou.
— Quem será? — perguntei, franzindo o cenho.
— Provavelmente os vizinhos. Seja simpática. Aqui é assim.
Descemos. Ao abrir a porta, uma mulher morena, de olhos cor de mel e sorriso exagerado abraçou minha mãe como se tivessem voltado de outra vida.
— Tábata? — minha mãe riu. — Meu Deus! Quanto tempo!
As duas riram e se abraçaram mais uma vez.
— Essa é a Sophie.
— Nossa, como ela tá grande. E linda. — Tábata apertou minha bochecha. Eu engoli o incômodo e forcei um sorriso educado.
— Prazer.
— Vão jantar lá em casa. Já que acabaram de chegar, vai ser bom pôr a conversa em dia.
Seguimos até a casa dela. E assim que entrei, algo me fez parar.
Velas. Pedras. Incensos. Amuletos. Tudo meticulosamente posicionado.
A casa tinha cheiro de mistério. E eu senti... algo. Como se o ar fosse mais denso.
— Sophie, essa é a Sarah h .
Ela era linda. Pele bronzeada, olhos puxados, um sorriso suave.
— Oi, Sarah h . É bom te conhecer.
— Idem. Eu praticamente não tenho amigos por aqui. Você chegou em boa hora.
— Onde você estuda?
Ela riu, como se a pergunta fosse inocente demais.
— Aqui só tem uma escola. Amanhã a gente se encontra lá.
— Ótimo. Nada como ser a garota nova no meio do semestre. Que legal.
Rimos. E por um instante, me senti menos sozinha.
Depois do jantar, sentamos na varanda. Sarah h me contou histórias da cidade, dos moradores... algumas bizarras. Outras, curiosas.
Mas uma coisa ficou clara: MistFalls escondia mais do que árvores e neblina.
E eu estava prestes a descobrir isso.
Acordei com o som do despertador ecoando como um alarme de incêndio na minha cabeça. O céu ainda estava encoberto por uma névoa fina, típica de MistFalls, e o frio cortava o ar como pequenas agulhas. Me arrastei até o banheiro, tomei uma ducha rápida e vesti o que me fazia sentir ao menos um pouco como eu mesma: jeans rasgado, blusa roxa de manga comprida, jaqueta de couro surrada, bota até os joelhos. Passei um batom marrom — era o suficiente para me sentir pronta para enfrentar o mundo, ou pelo menos fingir que estava.
Desci com a mochila pendurada em um ombro e o cabelo ainda úmido, escorrendo pelas costas. O cheiro de café fresco e panqueca dourada me guiou até a cozinha. Minha mãe, como sempre, estava me esperando — apressada, controladora, mas tentando manter a leveza.
— Sophie, anda logo. Vai acabar se atrasando.
— Relaxa, ainda dá tempo. — Enfiei um pedaço de panqueca na boca entrando no carro e falei com dificuldade — Não precisa me levar.
— Claro que vou te levar. Você não conhece a cidade e, além disso, o colégio fica no caminho do consultório. E, por favor... — ela bateu de leve nos meus pés esticados no painel do carro — tira isso daí.
Revirei os olhos e me endireitei no banco.
— Mãe... Quando a gente vai ver o carro?
— Talvez amanhã. Preciso terminar de montar meu consultório primeiro. Está tudo uma loucura ainda.
Suspirei exageradamente, dramatizando.
— É só que... não quero parecer uma adolescente mimada sendo deixada na porta da escola pela mãe. Já tenho 16.
— Na sua idade, eu tinha vergonha de usar batom, Sophie. — Ela sorriu e me lançou um olhar nostálgico. — E nem pense em falar de garotos perto da sua avó...
— Tá bom, vovó da geração vitoriana. — Rimos, e no momento seguinte ela estacionou.
Antes que eu abrisse a porta, sua mão segurou minha jaqueta.
— Ei... meu beijo.
Rolei os olhos, mas cedi. Encostei os lábios em sua bochecha com um beijo rápido, como se dissesse "te amo" sem palavras. Desci do carro e encarei o prédio à minha frente.
Mist High School.
Dois andares, fachada pálida, duas pilastras na entrada e um letreiro antigo com o nome. Era um colégio qualquer, mas a sensação de estar sendo observada me deixava tensa. Meus passos eram pesados, e eu evitava cruzar olhares com os alunos espalhados pelo gramado.
Até que ouvi:
— Sophie! Aqui!
Sarah acenava tão efusivamente que parecia uma bandeira vermelha no meio do mar de gente. Atravessei o gramado apressada, torcendo para que ninguém tivesse prestado atenção.
— Oi, Sarah. — Forcei um sorriso.
— Pronta pro seu primeiro dia?
— Se pudesse, me enterrava agora debaixo de um cobertor. — Respirei fundo, jogando a franja pro lado com um sopro nervoso.
— Vai ser tranquilo, você só precisa... — ela gesticulou com as mãos — socializar.
Dei de ombros, tentando parecer mais segura do que me sentia.
— Preciso passar na secretaria, pegar meus horários.
— Fica no fim do corredor à direita. Te vejo mais tarde?
— Com certeza.
Ela subiu as escadas com leveza, enquanto eu segui pelo corredor. Meus olhos se perderam brevemente numa janela embaçada, onde a floresta distante parecia me chamar de volta. E então...
Bati em alguém.
Meus ombros colidiram com um corpo firme, e mãos me seguraram pela cintura, me impedindo de cair. Fui empurrada contra um peito quente e definido, o cheiro de madeira e vento misturado ao perfume amadeirado dele me atingiu em cheio.
— Ai, caramba. — Murmurei, ofegante.
Quando levantei os olhos, me deparei com dois orbes âmbar que brilhavam como ouro líquido sob a luz do corredor. Ele tinha o rosto afiado, o maxilar marcado, cabelos castanhos com reflexos dourados e lábios carnudos. E estava... sorrindo.
— Cuidado por onde anda, novata... — disse ele, voz rouca, como se estivesse se divertindo com o susto — vai acabar machucando esse rostinho lindo.
Sua mão subiu do meu quadril até meu queixo, mantendo meus olhos presos nos dele. Eu deveria dizer algo, responder à altura, mas meu cérebro pareceu congelar por um segundo. O que era aquilo?
— Idiota. — Reagi, empurrando sua mão.
Ele riu, divertido, e passou por mim como se nada tivesse acontecido.
— Eu sou idiota? Você que não presta atenção. — E desapareceu no corredor, deixando o eco da risada.
Bufei, ajeitei a mochila e segui para a secretaria.
Depois de pegar meu horário, fui direto para a aula de biologia. Quando entrei, o professor me apresentou para a turma como a nova aluna de Los Angeles. Todos os olhos se voltaram para mim, e minha vontade foi cavar um buraco no meio do chão. Sorri com um canto da boca e me sentei na bancada vaga.
Minutos depois, a porta se abriu de novo.
O mesmo garoto entrou, com aquele andar despreocupado e confiante. O professor o repreendeu por estar atrasado, chamando-o de “senhor Belmont”. E é claro, ele veio direto para mim.
— Novata, esse é meu lugar. — Seus olhos encontraram os meus com um brilho debochado.
— Que ótimo. — Murmurei entre os dentes. Peguei minhas coisas e me mudei para o lado oposto da bancada.
Tentei ignorá-lo, mas era difícil não notar os traços perfeitos do rosto dele. Durante o exercício em dupla, me limitei a escrever em silêncio, até que ele resolveu falar:
— Eu também prefiro trabalhar sozinho. Mas ordens são ordens.
— Ótimo. Só que antes de começarmos... você me deve um pedido de desculpas. — Cruzei os braços, encarando-o.
Ele riu, balançando a cabeça.
— Você é insistente, garota. Tá bom... me desculpe por não olhar por onde ando e trombar na princesa de Los Angeles.
— Pior desculpa do mundo.
— Mas foi a melhor que vai ter. — Seus olhos brilharam, e aquela maldita covinha apareceu.
Quando terminamos a atividade, saí da sala o mais rápido possível. Sarah me encontrou no corredor.
— Sophie, por que você tá vermelha desse jeito?
— Um tal de Trevor Belmont. — Bufei. — Idiota, convencido... e, infelizmente, lindo.
Ela soltou uma gargalhada.
— Sério? O Trevor? Capitão do time de futebol americano? Você acabou de tropeçar no cara mais desejado da escola.
— Desejado? Aquele troglodita?
— Ele é fechado, meio anti-social, mas... é Trevor. — Sarah suspirou, rindo. — Você vai ver.
O resto do dia foi um borrão. No refeitório, sentei com o grupo da Sarah, mas mal toquei na comida. Senti seu olhar antes mesmo de encontrá-lo: Trevor me observava do canto da sala, com um sorriso provocador. Meus olhos encontraram os dele por um segundo, e desviei no instante seguinte, levantando apressada.
Na aula de educação física, sem uniforme, fui dispensada pelo professor e sentei nas arquibancadas. Mal comecei a revisar meus cadernos quando ouvi sua voz ao meu lado.
— Até que você é esperta, marrenta.
Fechei os olhos por um segundo, tentando me controlar.
— O que foi agora?
— Só vim ver o desempenho dos meus jogadores.
— Não deveria dar o exemplo? Você é o capitão.
— Andou perguntando sobre mim? — ele sorriu, presunçoso.
— Nem nos seus sonhos, Trevor. Foi a Sarah quem comentou.
— Gosta de onde está sentada?
— A arquibancada é enorme. Sente em outro lugar. — Continuei escrevendo.
— Mas gosto da vista daqui. — Seu olhar desceu pelo meu corpo, descarado.
Revirei os olhos e o ignorei. Quando a aula acabou, peguei minhas coisas e fui embora a pé. Caminhava pela calçada quando ouvi o ronco de um motor. Um Rolls-Royce preto diminuiu a velocidade ao meu lado.
— Vai a pé? — Trevor apoiou o braço na porta do carro.
— Sim. Algum problema?
— Entra aí, eu te deixo em casa.
— Nem morta. — Cruzei os braços.
— Se não entrar, eu te coloco à força. — Meus olhos cravaram nos dele, desafiando.
— Tenta, e você perde os dedos.
Ele riu, sem se intimidar. Bufei e entrei.
— Satisfeito?
— Você é teimosa... onde mora?
— Criviler, número 23.
— Eu sei onde é. — E arrancou com o carro.
Ficamos em silêncio. Observei seus traços de relance: o cabelo bagunçado pelo vento, os óculos escuros, a expressão relaxada. Ele percebeu meu olhar.
— Algum problema?
— Hã? Não... nada.
— Você não para de me olhar, Sophie.
— Está se achando demais. — Olhei pela janela, sem conter o sorriso tímido.
Ele riu, com aquela maldita covinha de novo.
Quando o carro parou, abri a porta depressa.
— Obrigada pela carona.
— Até amanhã, marrenta. — Ele piscou.
— É Sophie. — Bati a porta.
O observei se afastar. Meu coração ainda estava acelerado. E pela primeira vez desde que cheguei... MistFalls não parecia tão ruim assim.
Na manhã seguinte, o colégio estava tão barulhento quanto um formigueiro em chamas. Encontrei um canto mais vazio no refeitório e sentei com minha bandeja, empurrando os ovos mexidos de um lado para o outro com o garfo. Não sentia fome — talvez fosse o peso de estar em uma cidade nova, ou talvez fosse o fato de ter dormido pensando demais em um certo par de olhos âmbar que não me saíam da cabeça.
Sarah surgiu do nada, como sempre com aquele ar animado e perceptivo demais pro meu gosto. Sentou-se do meu lado como quem estava prestes a abrir um interrogatório.
— Ontem você foi embora sem me esperar... — disse ela, e notei o sorrisinho contido dançando nos cantos dos seus lábios.
Evitei seu olhar, continuando a empurrar os ovos.
— Fui andando. Estava com pressa.
— Sério, Sophie? Porque o que eu vi foi um certo moreno de olhos claros te acompanhando de carro até a sua casa. Mas né... posso ter me enganado. — Ela mordeu o lábio inferior, divertida.
Soltei um suspiro cansado.
— Ok... Ele insistiu em me levar. Mas não quero que isso se torne um hábito. Ele adora me provocar. Irritante é pouco.
Sarah inclinou levemente o rosto, e seus olhos foram para algum ponto atrás de mim. Estreitou os lábios, como quem tenta conter uma risada.
— Então talvez seja bom você controlar sua expressão agora... porque o tal moreno tá olhando fixamente pra você.
— O quê? Onde? — Me ajeitei na cadeira, tentando disfarçar e olhei por cima do ombro, casualmente.
— Não olha! — Ela sussurrou, meio rindo. — Ele está perto da mesa dos veteranos... e está vindo pra cá.
Segurei o garfo mais firme e respirei fundo, comprimindo os lábios.
— Ótimo... porque não pode simplesmente me ignorar?
Não tinha visto Trevor a manhã inteira, e confesso que uma parte de mim pensou — e torceu — para que ele tivesse perdido o interesse. Mas não. Ele estava ali. E vinha com aquele andar preguiçoso, confiante, como se o mundo girasse ao redor dele.
— E aí, Sarah. — Ele sorriu, os olhos escorregando até mim. — Marrenta. — Suas mãos pousaram na mesa como quem marca território.
Meu corpo enrijeceu instantaneamente. Sarah se levantou rápido demais.
— Eu... tenho que ir na biblioteca antes do fim do intervalo. — Olhou pra mim pedindo perdão com os olhos, mas foi tarde demais.
— Sarah, não... — Ela já tinha desaparecido entre as mesas.
Trevor puxou a cadeira ao meu lado e se sentou como se estivéssemos no meio de um encontro.
— O que você quer agora? — soltei, sem esconder o incômodo. — Sério, ou você é burro ou finge muito bem. Dá pra perceber que eu não fui com a sua cara?
Ele sorriu com tanta calma que me irritou ainda mais. Passou a língua pelos dentes e mordeu o canto do lábio inferior.
— Acho que é exatamente por isso que quero falar com você.
— Então você é masoquista? Só pode.
— Gosto da sua sinceridade. Você tem uma ousadia meio rara por aqui. — Ele se inclinou levemente, e sua voz baixou num tom quase sussurrado. — Isso... me excita.
Arregalei os olhos, mas segurei o impulso de empurrá-lo da cadeira.
— Olha, fala logo o que quer e depois me dá paz. Porque você tá ultrapassando o limite entre irritante e insuportável.
Ele riu, como se estivesse se divertindo com meu desprezo.
— Vai ter uma festa hoje à noite... na floresta. Eu vim te convidar.
— Festa na floresta? Isso é algum código para ritual satânico? Porque se for, acho que não sou o tipo de sacrifício que vocês procuram.
Trevor soltou uma risada curta, tombando a cabeça para o lado como se estivesse tentando me decifrar.
— Esqueci que você é da cidade grande. É só uma festa — duas noites antes da lua cheia. Eu e meus amigos fazemos uma fogueira gigante, é uma tradição.
Cruzei os braços, arqueando uma sobrancelha.
— E eu devo me sentir... honrada?
— Digamos que é um ritual de aceitação da novata na cidade. — Ele piscou devagar, os olhos deslizando em mim de novo como se me estudasse.
— Contanto que a virgem do sacrifício não seja eu, tudo certo. — Mal as palavras saíram da minha boca, percebi o que havia dito. Congelada. Idiota.
Ele me olhou, a expressão neutra por alguns segundos. Então... sorriu. Mas dessa vez, sem sarcasmo.
— Então você aceita?
Sua voz saiu mais grave, rouca, como se tentasse me prender ali, no momento.
— Com uma condição... levo a Sarah comigo.
— Feito. — Ele se levantou com um movimento ágil, inclinando-se para beijar meu rosto antes que eu pudesse recuar. — Seis horas. E vista algo mais... leve. — Sorriu, revelando aquelas malditas covinhas.
Fiquei parada, o rosto ainda quente onde ele encostou. Pisquei, tentando colocar os pensamentos em ordem.
— Festa no meio do mato... — murmurei. — E eu solto uma pérola dessas? "Virgem do sacrifício"... sério, Sophie?
Me levantei apressada e saí do refeitório, torcendo para que ninguém tivesse ouvido aquela frase.
Sarah me encontrou no corredor, surgindo do nada e me fazendo saltar de susto.
— E aí? Como foi? — Seus olhos brilhavam.
— Da próxima vez que você me deixar sozinha com aquele ególatra, juro que... — Suspirei. — Sim, ele me chamou pra festa.
— Ele o quê?! — Ela me cutucou com o ombro. — Trevor Belmont te convidou pra A festa?
— Sim... — Gesticulei com os dedos. — "Vista algo leve", fecha aspas. Quase pediu pra eu ir nua. — Sarah gargalhou.
— Sophie, você não entende... só os mais próximos dele vão. É tipo... um convite secreto.
— Festa no mato não me parece lá grande coisa. Imagino só caipiras bêbados ao redor da fogueira cantando com um violão desafinado.
— Ai, sua boba. Não é isso. Trevor mora numa comunidade em reserva natural. É tipo uma vila inteira dentro da floresta. Tem até umas lendas estranhas. Eles se reúnem antes da lua cheia como uma forma de conexão com a natureza ou sei lá... espírito da floresta.
— Espera. Como assim "comunidade na floresta"? Que tipo de cidade é essa?
— É MistFalls, lembra? Aqui tudo tem um toque meio... místico.
Suspirei, ajeitando a mochila nas costas.
— Ainda acho que isso tem cara de filme de terror. Mas... ok. Vai que seja legal.
Sarah me abraçou pelo ombro com empolgação.
— Você vai amar! E prometo que não vou te deixar sozinha com o lobisomem arrogante.
Sorri, mesmo contra a minha vontade.
Trevor Belmont podia até me tirar do sério, mas negar que ele mexia com algo em mim... seria mentira.
E essa festa... era o começo de algo que eu ainda não conseguia entender — mas sentia que mudaria tudo.
☆゚.*・。゚☆゚.*・。゚
A tarde já se despedia do céu quando finalizei minha arrumação. Vesti um vestido leve, com mangas soltas que dançavam com a brisa, e calcei uma sandália confortável. Passei um pouco de batom, borrifei meu perfume de jasmim — o mesmo que sempre me trazia lembranças da minha mãe sorrindo — e desci as escadas. Sara me esperava ansiosa na sala.
— Nossa, Sophie, você está linda! — exclamou com entusiasmo.
— Obrigada… ele disse roupas leves, então tentei acertar. Você também está maravilhosa.
Antes que ela pudesse responder, o som de uma buzina ecoou do lado de fora.
— Deve ser ele! — disse Sarah, animada.
— Pontual, não? — murmurei, tentando parecer casual. — Mãe, já estamos indo!
— Juízo, meninas! E, por favor, não se percam na floresta... — avisou minha mãe, meio rindo, meio séria.
Assim que saímos, avistamos Trevor. Ele estava encostado em seu carro, sorrindo para nós. Usava uma bermuda que deixava suas pernas fortes à mostra e uma camisa justa que denunciava o porte atlético. Desviei o olhar depressa, sem sucesso em disfarçar.
— Olá, meninas! Estão lindas! — disse ele com aquele sorriso despreocupado.
— Obrigada, Trevor — respondeu Sarah, já abrindo a porta de trás.
— Pode ir na frente, Sarah — tentei induzi-la, quase implorando.
Trevor me lançou um olhar divertido, inclinando levemente a cabeça.
— Nada disso, amiga. Você é a convidada especial, lembra? — disse Sarah, com um tom sapeca.
Trevor tentou conter o riso enquanto eu entrava no banco da frente, emburrada.
O carro partiu. Durante o trajeto por uma estrada de terra que adentrava a floresta, o céu ganhava tons cada vez mais escuros. O som dos pneus triturando o cascalho e o farfalhar das árvores criavam um clima quase cinematográfico. Após cerca de dez minutos, alcançamos uma clareira iluminada por uma grande fogueira. Jovens conversavam, dançavam e riam ao redor, com carros estacionados de forma desordenada próximos.
— Que maneiro! Sempre quis conhecer a reserva! — Sarah saltou animada, indo na frente.
— Espero que vocês se divirtam — disse Trevor, saindo do carro e me lançando um olhar lateral.
— Espero não morrer hoje — resmunguei, meio brincando.
— Aposto que na sua cidade de pedra não tem festas tão maneiras assim.
— Pra ser sincera, nunca fui muito de festas. Sou... mais reservada. Antissocial talvez.
— É sério isso? — zombou ele. — Realmente, sua cara te entrega.
Dei um tapa leve em seu braço, rindo.
— Vem. Vou te apresentar ao pessoal.
Nos aproximamos de um grupo reunido próximo a um balde cheio de cerveja. Quatro garotos estavam encostados nas árvores. O primeiro tinha cabelos negros como breu, olhos castanhos intensos e porte atlético. Ao lado, um mais baixo, cabelos castanho-escuros curtos e olhos pretos. O terceiro era um pouco mais alto, cabelos castanho-claros estilo surfista. Seus olhos pareciam claros à luz da fogueira, mas não consegui distinguir direito. O último, sentado sobre uma pedra, era moreno, com traços marcantes, olhos amendoados e a mesma estatura do primeiro.
— Galera! — chamou Trevor.
— E aí, cara! — respondeu o menor.
— Achamos que não ia aparecer hoje — comentou o mais velho, de olhos escuros.
— Tive que resolver um negócio na cidade. Essa aqui é a Sophie Histon — disse ele, me apresentando.
— A filha da Gisele? — perguntou um dos garotos medianos.
Trevor lançou um olhar de aviso, como se dissesse “não fala demais”.
— Sophie, esses são Caio, Vitor, Sefe e Robin.
Caio era o surfista. Robin, o mais velho. Sefe parecia o mais novo e Vitor, o de traços marcantes.
— E eu sou Rubi — disse uma garota se aproximando, com olhar afiado. — Muito prazer.
Ela parecia ter nossa idade. Tinha cabelos castanhos longos, pele levemente bronzeada, olhos verdes e um corpo esguio. Seu olhar passeava por mim como quem avalia uma nova peça no tabuleiro.
— É um prazer conhecer vocês — disse, educadamente.
— Eles parecem morder, mas são inofensivos — Trevor riu.
— Até parece! Experimenta nos aborrecer — retrucou Sefe.
— Para de graça, tatu! — Robin lhe deu um tapinha na cabeça.
— Vem, vamos pegar um refri pra você — disse Trevor, pegando minha mão com naturalidade.
— Até mais! — murmurei, lançando um último olhar a Rubi, que parecia me medir em silêncio.
— Eles são idiotas às vezes — comentou ele. — Mas você vai acabar gostando.
— Acredita que deles eu já gostei. Bem diferente de você.
Ele soltou uma gargalhada.
— Então o problema sou eu?
— Quem mandou ser um playboy grosso?
Trevor mordeu o lábio inferior, rindo.
— Nem perto de ser playboy, Histon.
Enquanto passávamos por Sarah, notei que ela estava sentada num tronco conversando animadamente com outra garota.
— Ela é carismática. Eu sou… sei lá. A garota invisível. A solitária.
— Isso eu não posso negar — disse ele, servindo um copo de refrigerante e me entregando. Nossos dedos se tocaram, e o toque leve, mas firme, causou um arrepio involuntário. Nossos olhos se cruzaram. Respirei fundo e desviei.
— Ei, Trevor! — alguém o chamou do outro lado.
— Posso te deixar por alguns minutos?
— Tudo bem, vai lá.
— Volto logo, prometo — disse ele, se afastando.
— Legal... vê se fica na sua, garota — ouvi alguém resmungar ao passar por mim.
Bati as unhas no copo de plástico, tentando ignorar. Caminhei distraída, até me afastar do grupo. Foi quando vi dois pontos de luz no meio da floresta. Algo me puxou. Uma curiosidade sem lógica. Me aproximei.
— Tem alguém aí?
O silêncio era denso. Nenhum som da festa, nem música, nem vozes.
— Que droga, Sophie... — sussurrei. — Tinha que ser curiosa, né?
Foi quando ouvi. Um rosnado. Baixo, mas presente. Gélido.
— Um lobo? Urso? Ai, meu Deus...
Acendi a lanterna do celular e girei devagar.
— Alô? Tem alguém aí?
— Uma garota indefesa assim não devia andar na floresta à noite — disse uma voz masculina surgindo da escuridão.
Dei um salto, o coração acelerado.
— Nossa, você me assustou! Eu... eu só estava na festa e vi algo, acabei me perdendo.
— Você devia voltar. Seus amigos devem estar te esperando.
Tentei ver seu rosto, mas ele permanecia envolto em sombras. Apenas uma silhueta alta, imponente, com olhos... vermelhos?
— Qual seu nome? — arrisquei.
Ele deu um sorriso breve, quase irônico, e deu dois passos para frente, o suficiente para que a luz da lanterna revelasse parte de seu rosto. Pele clara, cabelos castanhos, olhos como pedras de jaspe em brasa.
— Alecxander. Mas pode me chamar de Alec.
— Sophie. Seus olhos são... diferentes.
Ele se afastou um passo.
— É melhor voltar, Sophie. A festa é naquela direção.
Olhei para onde apontou e, quando voltei o olhar para ele... nada. Ele havia sumido. Como se nunca tivesse estado ali.
— Alec? — chamei. Nenhuma resposta. — Ok… hora de voltar.
Caminhei rápido, um arrepio persistente em minha nuca. Pouco depois, cheguei de volta à clareira. As luzes, o barulho, tudo como antes. Mas eu... eu não era mais a mesma.
— Onde você estava, Sophie? Te procurei como uma louca! — Sara surgiu, puxando meu braço.
— Oi? Desculpa, eu...
— Onde você está com a cabeça?
— Nada... deixa pra lá. Cadê o Trevor?
— Não vi mais — respondeu, me puxando. — Vem dançar comigo!
Fui com ela, mesmo ciente de que meus passos desajeitados não combinavam com a música. Trevor se juntou a nós pouco depois. Dançamos. Rimos. Fingimos que tudo estava normal.
Horas depois, ele nos levou para casa. Sarah desceu correndo, agradecendo, e nos deixou sozinhos no carro.
— Espero que tenha se divertido — disse Trevor, apoiando o braço no encosto do meu banco.
— Foi uma boa festa. Obrigada por nos convidar — respondi, tentando disfarçar a inquietação.
— O que foi? — perguntou ele, com um sorriso torto.
— Nada... — murmurei. — Acho melhor eu entrar.
— Até amanhã, Sophie... E, sabe, estive pensando... você é uma garota legal.
— Legal? — arqueei uma sobrancelha.
Ele mordeu o lábio inferior de novo, sorrindo.
— Durma bem.
— Você também.
Desci. Caminhei até a porta, sentindo seu olhar em mim até o último segundo. Quando entrei, respirei fundo e fechei a porta.
Mas não conseguia parar de pensar nos olhos vermelhos de Alec. E na estranha sensação de que... algo naquela cidade me observava — de perto.
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