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Portal Pra Nightmare: Destinados

Prólogo

Você está recebendo uma chamada, por favor abra seu Onitrans.

20:45 transmissão iniciada

Olá, aqui é o comandante Jones com os relatórios da missão Y.

No dia 20 de Janeiro de 2368, exatamente a uns três meses atrás, quando ainda estávamos trabalhando em Asleepcity, a estação espacial SpaceZill-9, estava passando pelo continente europeu, quando detectou um sinal FRB, um pulso de rádio de alta energia transitório, com duração de apenas milissegundos; foi escutado entre a frequência 800 e 1.200 MHz, diferente de tudo o que já havíamos detectado, se tornando a frequência mais profunda já registrada.

Rapidamente foi encaminhado para a empresa onde trabalho, a TellStar Corporation. Desde então muitas pesquisas foram feitas, para tentar descobrir a origem do sinal, mas devido a baixa tecnologia, não pode ser detectado mais de uma vez, o que dificultou o desenvolvimento das pesquisas.

O governo tratou tudo como sigiloso, e tudo o que tinhamos sobre o FRB fora confiscado, por não sermos uma organização governamental; mas felizmente alguns dados sobreviveram. E é aqui que eu entro, eu Igor Jones, comandante da Esiliun 1, juntamente de quatro tripulantes, fui mandado em uma missão secreta e ilegal para investigamos melhor a origem desde sinal, e agora eu estou recrutando você.

Eu sei que muitas coisas aconteceram na academia desde que fizemos os testes para sermos comandantes; eu sei que competimos muito, mas não quero perder a oportunidade de trabalharmos juntos.

E para essa missão

Nós teremos dois objetivos, o principal e o foco da missão, será descobrir a origem do sinal ou apenas tentar ouvi-ló mais uma vez, e para isso fora construído um aparelho especial, o LIS-56

Se funciona de fato? Eu não faço à mínima ideia, mas espero que sim, não é mesmo? Já que foi a Emilly que criou.

Nossa missão começa amanhã a noite, mas ir para o espaço sem permissão é perigoso, e eu não sei o que pode acontecer, mas estou muito animado com a possibilidade de encontrar vida extraterrestre, e espero poder trabalhar com você.

Então...

Nos vemos amanhã?

...20:50 Transmissão encerrada...

...Selecione sim em seu Onitrans para aceitar a missão, ou não, para recusar....

...SIM OU NÃO...

.................................♠️♥️♦️♣️...............................

No dia seguinte

Os ventos sobravam devagar, um clarão invadia o quarto, com raios de sol tímidos, que mal acalentavam alguma coisa.

Você entreabiu os seus olhos, se esticando na cama, tentando mandar embora, toda a preguiça que insistia em prender-lhe naquela superfície acolchoada, tão segura...

mas

Ao perceber, que no relógio, já passavam das oito da manhã, você dera uma pulo, se assustando por estar quase uma hora atrasada; então você correu, tomando um banho de gato, vestiu seu uniforme da equipe de segurança nível S da Tellstar Corporation, bebericando algumas gotas de café, só para afastar o sono, e saiu.

Seu carro já estava pronto na garagem, o modelo corporativo mais avançado, que você adiquirira ao entrar na equipe de segurança, com seus propulsores duas vezes mais potentes que o seu antigo, para que pudesse voar o mais rápido possível, e chegar às missões com antecedência.

Com a sua xícara de café quente em mãos, você adentrou o carro, posicionou a xícara, no guarda copos ao lado, e dera a partida, pronto para iniciar, mais um dia de trabalho, o dia que mudaria para sempre o rumo de sua vida.

A missão Y

A noite chegava depois de um longo dia de inquietação e ansiedade, o momento estava próximo, logo depois que os pássaros cessaram o cantar e tudo que se ouvia era o doce silêncio do caos das ruas de Nova York, tudo já estava preparando para o lançamento, e à revisão da minha nave fora concluída, e só esperávamos os últimos tripulantes aparecerem.

— Comandante o senhor acha que a Emilly vem? — John pergunta.

Ficha técnica

...Nome: Igor Jones 24 anos...

...Branco, baixo, magro, olhos pretos, cabelo na altura das orelhas ondulado....

...Cargo: Comandante e técnico de inteligência artificial da TellStar....

..."Viciado na palavra incrível"...

John é o vice comandante, meu braço direto aqui na Esiliun 1, mas não se deixe enganar pela cara de mal humorado dele, apesar de ser mais velho, quando se trata de contar piadas sem graça John é o melhor.

Ficha técnica

...Nome: John Pepermen, 35 anos...

...Alto, negro, atlético, olhos castanhos, e cabelo preto cortado....

...Cargo: Vice Comandante e engenheiro  químico...

...    "Adora contar piadas sem graça"...

Após uns minutos esperando, Emilly e Vivian chegaram.

— Que bom que veio Emilly! — Digo me virando para ela.

— Sem conversa fiada Jones! Quer dizer, Comandante Jones.

Ela diz se dirigindo a seu lugar na nave.

Ficha técnica

...Nome: Emilly Willians, 29 anos...

...Baixa, branca, cabelo preto e azul longo e liso e olhos azuis....

...Cargo: Piloto 1 e Cientista chefe da TellStar....

..."Rebelde anti governo"...

— Não liga para ela Comandante! —Vivian tenta se desculpar.

Ficha técnica

...Nome: Vivian Scott, 28 anos...

...Morena, alta, ruiva, cabelo cacheado, olhos verdes....

...Cargo: Piloto 2 e segurança da TellStar nível S "Mais durona do que parece"...

Emilly faz o estilo bad girl revoltada com o governo, e apesar de tentarem disfarçar, todos sabem que elas se pegam nos intervalos de serviço.

E o(a) último(a) a chegar

...Nome: Seu nome, idade...

...Cargo: Segurança nível S da Tellstar...

..."Sempre atrasada(o)"...

Com todos prontos, e nossas pilotos já preparadas, o lançamento clandestino não tão escondido assim, fora iniciado sem maiores problemas, depois de um tempo, já havíamos atingido a estratosfera a 50km, logo viriam a mesosfera, e por fim a termosfera onde era nosso limite, levaram cerca de oitenta e cinco minutos para chegarmos lá.

O espaço estava exatamente do mesmo jeito, exuberante e silencioso, permanecemos numa altitude de 450km, cerca de 50 km acima da SpaceZill-9. As complicações viriam agora, não tínhamos a menor ideia de onde começar a procurar, e nem quanto tempo essa expedição duraria.

Mesmo com a velocidade do som, não há como saber a distância percorrida por esse sinal, antes de ser captado pela estação espacial. Por isso a uma grande chance dessa missão ser inútil, mas ainda sim, não vamos desistir, pois desmascarar o governo fora o único motivo da maioria dessa tripulação ter aceitado a missão.

Indiretas à parte, seguimos reto analisando, todo o espaço a nosso redor, o Lis-56 não capitava nada além de ruídos, e chegamos a pensar que de fato ele não funcionava.

— É Emilly parece que a sua geringonsa não funciona! — Brincou John

— Doutora Emilly para você mestrado!

E assim seguiu a viagem, por um longo tempo, minha tripulação discutia quem tinha o maior nível intelectual, sem prestarem atenção ao redor. Até o radar começar a apitar.

— Comandante foi detectada a presença de um corpo celeste vindo em alta velocidade em nossa direção. — Grita Emilly.

— Comandante vamos bater!  —Vivian se assusta.

— Mantenham a calma! Deve ser algum detrito! Virar 10˚graus à Oeste.

— Comandante...

Não houve tempo de concluir a manobra evasiva, o cometa colidiu com nossa nave bem nas cabines reservas de oxigênio.

BIII BIIII BIII BII BII BIII BIII BIII

FALHA NO MOTOR UM...

CABINE DE OXIGÊNIO COMPROMETIDA...

ENERGIA EM 40%

É ACONSELHÁVEL REDIRECIONAR ENERGIA DESLIGADO PARTES OBSOLETAS DA NAVE.

— Comandante, a nave foi gravemente danificada, estamos perdendo energia. — Emilly relata

— Nível do oxigênio reserva em 60% e caindo. — Viviam sobrepõe

— O que vamos fazer comandante? Não temos energia nem combustível para voltarmos. — John grita

Eu entrei em choque, Lil a inteligência artificial da nave não parava de dar avisos, e todos estavam falando ao mesmo tempo, minha primeira missão como comandante se mostrou um fracasso, o que eu faço? O que eu faço?

Claro que eu sabia que contratempos aconteceriam, mas nunca imaginei que morreria assim. Quando nosso oxigênio acabar, morreremos em quinze segundos ou menos. Não há o que fazer.

— Me desculpem! Não há mais o que fazer, poupem oxigênio e redirecionem energia...

Todos se olharam, sentei em minha cadeira, e fiquei encarando a imensidão, nada vinha a minha cabeça, eu não deixaria nada para trás, ninguém se lembraria de mim, quando se está morrendo, a emoção toma conta, e as lágrimas são inevitáveis.

Um silêncio estarrecedor pairava pela nave, Emilly e Vivian se despediram, você e John encaravam a fotografia da suas famílias a cinco minutos, e eu, bom, não havia nada para eu fazer, a não ser me recriminar por ter tantado, eu nunca deveria ter feito o teste para comandante, deveria ter escutado Emilly, sou apenas um técnico, não comandante.

— Comandante! — Emilly chama atenção — Eu quero me desculpar! Por não ter te apoiado quando fizemos o exame para comandante. Me desculpa, eu fiquei com inveja, porquê eu deveria ter sido comandante. Mas você foi o melhor da turma e não existe ninguém mais preparado que você. Não foi culpa sua.

Sabe aquele alívio de ter tirado um elefante das suas costas, pois era exatamente essa sensação que me tomava agora, as coisas com Emilly tem sido tão estranhas desde o exame. Não consigo conter minha felicidade, e lágrimas escorrem mais uma vez.

— Não se preocupe com isso! Já passou.

Ah! Pai, você trabalhou sua vida toda até o último segundo, para que eu pudesse realizar meu sonho de entrar na TellStar, e agora eu sou comandante. Pai você está orgulhoso de mim?

— Me desculpa pai, eu te desapontei! — Digo a fechar os olhos — Logo estaremos juntos!

— Comandante! Foi um prazer voar com o senhor. — Todos dizem juntos.

Todos fecham os olhos em sincronia.

Meu corpo estava leve, como se estivesse anestesiado, e depois nada.

 ...............................♣️♦️♥️♠️.................................

Meus olhos entreabriam, se deparavam com uma sala branca, com luzes azuis e fria, minha visão turva tentava focar em qualquer ponto, o excesso de iluminação doía. Ao virar minha cabeça com certa dificuldade, consigo ver uma criatura, e isso me fez levantar com brutalidade.

— Ei! Ei! Ei! Calma. Você está seguro, procure descansar agora — A criatura diz.

— V-v-você, você fala, f-ala, minha língua! — Digo assustado.

— Agora eu falo, escaniei essa coisa rosa engraçada que você tem dentro da cabeça

— V-você o que? — Me exaltei.

— Calma! Eu não tirei nada importante, apenas escaniei seus conhecimentos e os coloquei em mim. Por isso nós estamos conversando.

— E-e-e isso é seguro?

— Totalmente seguro, você estava sedado para poupar suas funções corporais. Se estivesse acordado sentiria uma dor agonizante — Ele sorri

— Seguro... Você já fez isso antes?

— Milhares de vezes. Não se preocupe, apenas descanse.

Ele passava à maior confiança, à criatura estranha de aparência pálida, com pele que parecia elástica e seus olhos brancos que não possuem íris alguma, como se fossem cegos, mas não era o caso, tinha orelhas pontudas, e antenas interligadas que se iluminavam conforme eles falavam, e uma coisa, que percorria seus braços, peitoral, costas, se ligava no pescoço e terminava na nuca. Eram como fios de led azuis, mas feitos de um material que eu não conhecia. Logo se dirigiu a porta com intenção de sair dali mas.

— Espera! Minha tripulação, onde eles estão? — Interrompo

— Seus amigos humanos estão na outra sala. Me diga, quantas variedades de humanos com cores diferente existem na terra? E vocês são todos moles? Ou a textura muda de acordo com as raças?

Ele me faz várias perguntas engraçadas, mas totalmente compreensíveis, era algo novo para ambos os lados. Me levantei em busca da minha tripulação e me deparo com uma situação engraçada.

— Da para acreditar nisso comandante, alienígenas pálidos. —  John diz totalmente deslumbrado.

Haviam cerca de dez alienígenas em torno dele, como se fosse um tipo de atração, tocando em seu corpo e falando em uma língua estranha.

— Ainda não houve tempo, mas logo seus conhecimentos serão compartilhados com toda nação. — Ele diz aparecendo novamente.

— Qual... qual é o seu nome?

— Me perdoe, me chamo Gleorio. Sou cientista e médico daqui.

— Prazer! Eu sou Igor. Onde nós estamos?

— Estamos em Gnoria-397.

— E onde fica isso? — Pergunto ainda mais confuso.

— Na Galáxia GDAIN-15.

— Misericórdia!

— Calma, não tente entender tudo de uma vez. Venha Igor, eu vou te apresentar aos outros.

Nós seguimos um corredor até sairmos daquele local, minha primeira impressão ao ver o exterior, à paisagem, tudo era extremamente diferente, o planeta era composto de grandes construções super desenvolvidas, e não haviam ruas, nem asfalto, seu meio de locomoção eram eixos hexagonais flutuantes, que acendiam com o toque se movendo até o eixo mais proximo, distribuídos com todo o local, abaixo deles não se via nada, era coberto com uma névoa densa.

— Cuidado! Não vai querer saber o que tem lá embaixo — Ele alerta.

Isso foi assustador, era preciso um certo equilíbrio para andar nos eixos,  e seguimos reto até um tipo de Praça, onde todos estavam reunidos. Seus arredores eram cobertos por plantações gigantescas, uma mais estranha que a outra, e todo o planeta era monocromático, tudo girava em torno do azul, as mais diversas tonalidades.

Assim que chegamos, toda a atenção foi voltada para mim, Emilly e Vivian já estavam lá, e John vinha logo atrás

— Dejak malak tumak, Gnoria dak detak tak huak ak puak — Diz a criatura anciã.

A língua Gnoriana soava engraçada, com Ak no final de todas as palavras e não havia traduções, somente eles entendiam. Eles continuaram falando, e todos estavam alvoroçados com nossa presença.

— Então Gleorio, do que estão falando? — John aparece bem atrás.

— Estão comemorando o fato de termos visitantes de tão longe assim.

E rapidamente todos se alegraram, num frenesi repentino que para nós não havia sentido algum, uma espécie de ruído começou a tocar, mas mal conseguíamos ouvir, talvez fosse uma frequência alta ou baixa de mais para os ouvidos humanos, então Gleorio surge com uma espécie de aparelho auditivo hiper potente, e em questão de segundos, tudo foi ouvido. A tecnologia super avançada deles dava uma surra na nossa.

— Esse é o Grivak-876, vai expandir seus sentidos auditivos — Ele diz entregando o aparelho.

E ao colocar, o som se estabeleceu, era música, uma música estranha e muito alta, idêntica ao sinal que foi escutado pela estação espacial, mas dessa vez fora mais limpo, mais audível, e era incrível, tudo aqui era incrível.

— Comandante é isso! O sinal, é isso — Você grita animada(o)

— Nós encontramos — Sigo com um sorriso.

A felicidade e sensação de missão comprida fora maior que tudo no momento, e todos nós nos abraçamos comemorando em coletivo.

Tudo havia valido a pena, e nos permitimos festejar com os Gnorianos, e por alguns minutos foi perfeito, eu sentia uma paz que nunca havia sentido antes, com a música alta, os alienígenas comemorando conosco e minha tripulação a salvo e feliz, tudo estava indo muito bem até o momento presente, como se estivéssemos realmente em casa.

Mas logo a atenção foi roubada, e gritos estéricos começaram, mas não de medo, de felicidade, uma outra nave adentrara o planeta, uma nave grande e maravilhosa, toda espelhada, como se pudesse se camuflar no ambiente, haviam três propulsores, e era simplesmente magnífica, não havia outra palavra para destaca-lá.

A nave pousou distante de onde estávamos, e logo atrás, vinha guinchada nossa navezinha destruída.

De lá surgiu um Gnoriano, nada diferente dos outros aparentemente, mas sua atmosfera era diferente, ele tinha um caminhar rígido, e era incrivelmente bonito, tudo nele combinava, como se ele tivesse sido perfeitamente esculpido por um Deus.

Ele veio em nossa direção, e meu coração disparou, minhas mãos tremiam, e o ar me faltava. Parou bem à frente do Gleorio e falou.

— Oak niak friak eak priorak eak grak lak dyoak, eliak nuak vriak treuak goak ceak aryak.

Sua voz era grossa e suave, combinava perfeitamente com sua fisionomia perfeita. E apesar de ser a primeira vez que o vejo, senti algo estranho, uma familiaridade, sua voz me causou arrepios, como se já fosse conhecida a muito; mesmo sem conhecê-lo. E mesmos não fazendo ideia sobre o que estavam conversando, eu adorei ouvir.

Planeta Gnoria-397

Gliatru, seu nome era Gliatru, irmão mais velho do Gleorio. Um era o completo oposto do outro, Gleorio era cientista e super animado e Gliatru era general do exército e super sério.

Estávamos de volta à sala branca, e Gleorio contava como havíamos chegado lá.

— Gliatru estava em uma missão de reconhecimento, quando viu a nave de vocês! — Ele diz — Então ele os sedou e os trouxe para cá, depois voltou para buscar a nave de vocês, ele estava realmente preocupado.

Apesar de tudo ter dado certo, as notícias não eram boas em relação a nave, estava terrivelmente destruída, e mesmo que estivesse inteira, não teríamos condição alguma de sequer ultrapassar a primeira barreira protetora do planeta.

— Não se preocupe com a nave, iremos conserta-lá para que possas seguir de volta à seu planeta o mais rápido possível — Gleorio garante.

Voltar? Quem liga para isso agora, ninguém em sã consciência pensaria em voltar depois de ter encontrado um planeta super desenvolvido e habitado. Quer dizer, até mesmo os níveis mais elevados de oxigênio daqui se tornam apenas detalhes comparados com o quadro todo.

Detalhe que precisava ser resolvido rapidamente, por enquanto que permanecíamos dentro da sala branca onde os níveis de oxigênio podiam ser ajustados, estávamos seguros, mas dali não passávamos. Imediatamente Gleorio começou a pensar em uma solução para que pudéssemos conhecer o planeta sem maiores complicações.

— Como o corpo de vocês é frágil, e não suporta tanto oxigênio assim, eu pensei em construir um filtro, se baseando no nosso sistema respiratório, que consegue se adaptar a qualquer ambiente. — Ele diz com os olhos brilhando

— Maravilha! E você pode criar isso? — Pergunto incrédulo.

— Claro! É moleza, mas vou precisar de uns fuaks taks para criar quatro desses. Por hora tente não sair muito.

— Fuaks taks?

— Sim, acho que seriam cerca de quatro horas terrestres.

Ele rapidamente saiu correndo animado para construir o tal aparelho, parecia uma criança que acabara de ganhar um brinquedo novo, me deixando sozinho com seu irmão.

O clima não podia estar mais pesado e constrangedor, ambos olhávamos para cantos aleatórios; sem poder dizer uma palavra, até que ele se levanta, e vai até o painel de controle onde Gleorio trabalhava, mexe por uns segundos e pega uma geringonça que parecia uma arma, mas tinha três agulhas na ponta, uma mine tela em cima e um tubo transparente no final, que rapidamente se encheu com um líquido azul brilhante. Depois virou as três agulhas e injetou o líquido nos cabos que percorriam seu corpo, primeiro onde havia três entradas, depois, logo abaixo da boca do estômago, removeu duas das agulhas, e injetou mais uma vez nos outros dois buracos, um de cada lado do peito, com uma entrada só, soltando um gemido baixo de dor.

O líquido percorreu todo o tubo, iluminando toda sua extensão, fazendo seu corpo cair para frente com as mãos apoiadas na mesa, quando finalmente o líquido havia se conectado a seu cérebro ele normalizou.

— Eu odeio essa parte! — Ele diz com a cabeça ainda abaixada.

Então era isso? É isso que o Gleorio fez? Para poder falar minha língua?

— O-o que é isso? — Digo gaguejando.

— Esse é o Oneo-35, escâner de ondas neurais, eu acho. Ideia do meu irmão, pergunte a ele depois.

— I-incrível.

— Você está bem? — O estranho pergunta — O que aconteceu para estarem daquele jeito?

— Cometa, não deu tempo de desviar.

— Sinto muito pela sua nave, nós vamos consertar! Bom, o Gleorio vai.

— Tudo bem, valeu a pena.

Ele sorriu, e isso me fez sorrir também, o tom grave da sua voz era algo incrível de ouvir, soava como música para mim, poderia ouvi-ló falar por horas, mesmo que fosse em Gnoriano.

— Grr grr! — Emilly chega cortando o clima. — Com licença comandante, podemos conversar?

— Você é o comandante? — Gliatru pergunta.

Apenas aceno com a cabeça e ele sai, sem mais nem menos.

— Comandante, o senhor não perde tempo mesmo em — Ela diz sorrindo

— Do que você está falando?

— Qual é comandante, todo mundo viu os olhares que o senhor deu para o alienígena bonitão ali.

— O que você queria mesmo? —Desconverso.

— Nada! — Ela sorri — Só atrapalhar o clima mesmo, eu vim para cá porquê meus pulmões já estavam começando a doer, a atmosfera desse planeta e um pouco pesada, pedi a Vivian e os outros para não ficarem muito tempo lá fora.

— Bom trabalho! E quanto a isso, não se preocupe, Gleorio já está trabalhando em um jeito de podermos sair sem complicações. Apenas aguente mais umas horas até ele voltar.

— Fantástico! Não vejo a hora de saber tudo sobre esse lugar.

Sua animação era contagiante, eu nunca a vi tão feliz assim, com nada na terra. Nós ficamos conversando por um tempo até Viviam e John entrarem também. Não havia outra coisa para fazer, tínhamos quatro horas até Gleorio retornar, então o que fazer?

Uma hora havia se passado, e todos os outros estavam dormindo como pedras, levantei e segui até uma das imensas janelas de vidro que dava a visão do lado leste do planeta, onde tinham mais construções gigantes, e uma especialmente destacada, feita inteiramente de vidro, seu interior era visível mesmo de longe, coberta por plantações e todo tipo de coisa tecnológica, parecia algum tipo de armazém, onde eles guardavam toda sua tecnologia. E paralisado pela inconformidade da beleza desse planeta, nem percebo quando Gliatru se aproxima.

— Então, você é comandante? — Ele pergunta baixinho.

— Sou sim, por quê?

— Você não é meio baixinho para isso? — Ele sorri

— Talvez! — Sorri de volta.

— Assim que puder sair, quero que veja uma coisa!

— O que? — Pergunto curioso.

— Quando puder sair, você verá!

Ele se foi, mais uma vez, me deixando mais ansioso e curioso do que eu já estava.

— Ah! Qual é. Isso é maldade.

Cada segundo a partir daquela revelação passaram martelando em minha cabeça, o tempo era diferente aqui e parecia que não anoiteceria nunca. Em meu relógio marcava seis horas da manhã na terra, o que significava que eu não havia dormido nada, bom, mais ou menos se contar a parte que eu estava sedado, e havia acabado de entardecer em Gnoria quando Gleorio entra correndo na sala.

— Aqui! Desculpa a demora — Gleorio diz hiperativo.

Gleorio estava com um caixa transparente com quatro daqueles objetos losangulares, com cateters nasais que ele havia acabado de construir.

— Eu chamo de FlO², seu novo sistema de filtração de oxigênio, com regulador de intensidade do fluxo e medidor de qualidade do ar, totalmente recarregável e com modo economia de energia, mas lembre-se menos energia significa menos oxigênio.

— Uau! Você é mesmo incrível, fez até propaganda. 

— Ele é portátil, mas se você quiser posso fixá-lo ao seu corpo para não precisa carregar por aí.

— Jura? Seria muito legal.

— Tudo bem! Deve doer um pouco mas nada de mais.

— Eak iak reteak coak ojuak eliak? — Gliatru diz aparecendo logo em seguida.

— Iak! Igor por favor retire seu uniforme e sente-se na maca.

— Aqui? Agora? — Pergunto envergonhado.

— Sim, por favor! — Ele responde apontando para a extensa mesa de ferro no canto da sala.

Eu nunca havia me sentido tão envergonhado antes, se só o Gleorio estivesse aqui estaria tudo bem, mas porquê o Gliatru não sai daqui agora?

Ambos permaneciam esperando que eu fizesse o que ele disse, então segui como uma tartaruga até a maca, Abaixei meu macacão, e tirei minha camiseta o mais devagar que eu pude, sentando de frente para eles; ao me virar para encará-los, ambos estavam com uma expressão surpresa, talvez fosse pelas diversas cicatrizes em meu peitoral e costa, mas essa é uma história para outra ocasião.

Gleorio se aproxima cauteloso, tentando disfarçar os olhares, pega um dos aparelhos, junto com suas ferramentas. Liga o FlO² e o posiciona um pouco abaixo do meu peito, bem na boca do estômago, pega um tipo de chave elétrica e começa a fixar.

— Não se mecha! Eu não quero acertar nenhum órgão importante.

Gliatru não parava de olhar, o que não facilitava em nada. A sensação dos fechos de ferro entrando na minha pele, e se fixando à derme, era algo terrível, essa porra doía mais do que só um pouco, e eram quatro fechos, com duas pontas cada. Eu quase me arrependi de ter pedido isso. Logo após terminar, ele pega uma tela transparente pequena, parecida com nosso Onitrans, digita algo, e em seguida, o escâner começa a administrar um tipo de analgésico, que fizera a dor parar, e a ferida se curar em alguns segundo.

— Incrível!

Eu parecia um papagaio, repetindo incrível para absolutamente tudo nesse planeta.

— Prontinho! agora você já pode sair.

Eu estava realmente feliz, e apesar do incômodo de ter algo grudado em mim, isso era um mero detalhe, que logo eu me acostumaria.

— Como se sente agora? — Gliatru pergunta.

— Eu ainda não sei!

— Vai se acostumar — Ele sorri.

— Impressionante meu irmão! Eu nunca soube que você sabia sorrir.

Gleorio estava realmente impressionado, como se estivesse vendo algo totalmente inusitado, mas Gliatru respondeu com um olhar tão ameaçador que até eu fiquei com medo.

— Não está mais aqui quem falou! Eu só achei estranho, você nunca sorri e nunca vem para cá, e de repente, não saí mais daqui!

Após dizer isso, Gleorio saí correndo gritando por desculpas com apenas um olhar de seu irmão.

— Quando ele sair, eu volto para arrumar os outros — Ele grita de longe.

A relação deles é tão engraçada.

— Não ligue para ele! Quando anoitecer eu venho te buscar.

Apenas concordei e ele saio dando passagem para Gleorio trabalhar em paz.

— Eu ouvi direito comandante? — Vivian diz se aproximando — O SENHOR TEM UM ENCONTRO COM O ALIENÍGENA BONITÃO?

— Não é um encontro, ele só quer me mostrar uma coisa.

— COMANDANTE! — Ela arregala os olhos

— Não! Não é nada disso que você está pensando, sua pervertida.

Ambos sorrimos, mas por dentro eu estava tão nervoso e surpreso quanto ela. Quanto tempo demoraria para anoitecer aqui?

O resto do tempo foi decidindo como cada um queria seus aparelhos, e após saberem de tudo, apenas John quis fixar o seu, Emilly e Vivian optaram por uma pusera fina de pressão que se grudava ao braço, pois elas queriam personalizar as suas. Depois disso, Gleorio surgiu com roupas especiais, dizendo que as noites em Gnoria eram muito frias, e nos entregou um conjunto de camisa e calça, feitos de um nanotecido polimérico de alta densidade, com abertura para não atrapalhar o FlO², e nos proteger das diferenças de temperatura. Agora estávamos totalmente prontos para conhecer o planeta.

Emilly e Vivian foram se vestir em outro lugar, deixando apenas eu e John ali. Começava a anoitecer e eu ainda nem havia colocado a blusa quando Gliatru apareceu, assim como havia dito mais cedo.

— Vamos? — Ele para e olha — Você ainda está assim? — Diz sorrindo.

— Me desculpa, você veio mais cedo do que eu esperava.

— Certo, certo! Me desculpa.

Ele se senta para esperar que eu terminasse de me vestir, e com tudo feito nós saímos.

— Onde nós vamos?

— Você já vai saber.

Gliatru fora em direção a um dos eixos hexagonais que pairavam a sua espera do lado de fora da sala, subiu e falou.

— Você está pronto? — Ele fala estendendo à mão.

Assim que peguei em sua mãos, senti algo estranho, como um choque, e logo imagens invadiram minha mente; cenas nubladas, que em primeira mão, não davam para entender, mas pude ver com clareza, duas pessoas abraçadas, frente a uma janela, em um quarto familiar e aconchegante de madeira. Soltei com rapidez sua mão, e pude ver sua expressão confusa a me encarar.

— O que foi? — Ele estranha minha ação repentina.

— Não! Nada, nada mesmo.

Aquilo me assustou muito, mas tentei disfarçar e logo agarrei novamente sua mão direita; sem nada de novo dessa vez. Logo ele me ajudou a subir, o eixo se iluminou e começou a se mover; era como andar de skate, andar de skate no ar.

— Se segura, nós vamos acelerar!

O impulso da aceleração fez meu corpo desequilibrar e consequentemente se agarrar ao dele, agora grudado em seus braços, me mantenho fixo em seu rosto, ele me olha e então sorri, um sorriso tão meigo que quase faz minhas pernas fraquenjarem. E mesmo não sabendo a distância desse tal local, eu rezava para que ele não chegasse nunca.

Com cerca de oito minutos de viagem, ele começa a descer, e meu frio na barriga só aumentar.

— Não me solte agora, nós vamos atravessar a neblina — Ele diz sério.

E assim foi feito, quando adentramos a neblina, ela era extremamente fria e úmida, e seu comprimento era maior do que o imaginado. Quando atravessamos, revelou seus segredos nunca vistos antes, era como se existisse duas realidades, vivendo em simultâneo num mesmo planeta, separadas apenas por uma camada densa de neblina, e era absolutamente linda.

A penumbra gélida pairava por toda parte, carregada por uma solidão penetrante, com construções abandonadas, plantações mortas e marcas por todo lado.

— Esse é um cenário à muito esquecido, lembranças de um tempo de prisão e sofrimento — Conta com uma voz carregada de tristeza.

— O que aconteceu aqui?

— Não se preocupe com isso agora, eu não te trouxe aqui para contar histórias tristes. Nosso destino está logo à frente. O único lugar desse cemitério de lembranças que ainda se mantém vivo.

Conforme sobrevoávamos aquele lugar, mais nítido ficava às marcas de uma guerra que eu nem me atreveria a imaginar; voávamos em direção a uma luz, que tomava conta de todo o ambiente, conforme nos aproximavam do destino. Ele tinha total razão, era uma floresta viva, em meio a toda essa morte.

Tão linda, tão viva, era simplesmente inimaginável, com plantas bioluminescentes, árvores que não possuíam tronco algum, com suas folhas tão finas e transparentes, flores que pareciam se mexer, e um lago, bem no centro da floresta, um lago roxo bioluminescente, e não, não era algum tipo de microrganismo que causava esse efeito, a água em sua forma mais pura era assim.

— É perfeita! — Falo com os olhos arregalados.

Eu não consegui parar de sorrir, como algo tão maravilhoso pode ficar escondido assim? Mas havia algo de bom nisso, pois só assim o habitat pode sobreviver intacto até hoje.

— Eu posso tocar?

— Claro que pode!

Assim ele desceu, e me ajudou, o solo parecia vivo e era tão gelado, que me fez sorrir ainda mais.

— Eu sabia que ia gostar — Ele diz me encarando — Você fica lindo sorrindo, sabia?

O iluminação natural desse ambiente escuro e abandonado, faz o clima ficar ainda mais perfeito, os reflexos em seus olhos brancos o tornavam ainda mais lindo, e eu me permiti encarar por uns minutos, gravando essa cena em minha mente para sempre.

Para tentar disfarçar a vergonha, caminho em direção ao lago, me abaixando para tocá-lo, a água era tão quentinha e impressionante, ela era.

— Incrível! — Eu disse mais uma vez.

Simplesmente incrível.

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