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Uma Nova Vida

Capitulo 1

(Narrado por Isabella)

Eu havia acreditado com todas as minhas forças no amor.

Eu,

De todas as pessoas do mundo que seria destinada a não amar, havia entregado meu coração quando ainda era jovem. Havia depositado toda minha confiança em alguém, e tinha a certeza que o que ele me daria seria o bastante.

Eu estava errada.

Completamente errada.

Era difícil de acreditar o que os últimos dez anos da minha vida teriam significado a ele. Estava vivenciando uma dor tão devastadora dentro das últimas 24 horas, que sentia meus ossos doerem intensamente, como se estivessem querendo rasgar meu corpo. Todo esse tempo foi uma grande mentira, e eu fui tola demais de não enxergar o que estava a minha frente. Uma completa idiota.

Uma onda de dor, revolta, repulsa crescia dentro de mim a cada vez mais que vivia cena em que presenciei, meu estômago estava feito um nó. Embrulhado, enjoado, já não tinha mais forças de sustentar meu corpo, e toda vez que eu pensava sobre isso novamente, ondas intensas de náuseas corriam pelo meu corpo, até não conseguir suportar.

Sai correndo da cama, em direção ao banheiro, me jogando em direção a privada. Abracei, flexionando meu corpo sobre os joelhos, ignorando o quão sujo e repugnante estava todo o banheiro. Sem muito esforço eu coloco tudo pra fora, aquela repulsa sobe novamente me fazendo esvaziar todo o amargo do estômago.

Uma vez, duas, três… Até sentir meus braços ficarem moles, e meu corpo ficar fraco.

A dor que parecia estar concentrada em meu estômago volta em instantes, mesmo sem ter mais nada para botar pra fora. Tento tomar um fôlego, puxando o ar com dificuldade de meus pulmões, tentando me recompor, buscando encontrar forças, não por mim, mas por aquela criança, que está deitada nessa cama de hotel barato cheirando a mofo.

Levanto com dificuldade me segurando nas paredes de azulejo velho e gasto, indo em direção a porta, sustento meu peso sobre ela e olhando para ele, que está dormindo em um sono profundo, como se nada houvesse acontecido hoje. Como se meu mundo todo não tivesse desabado sobre minhas costas, e como se a vida dele ainda que com apenas cinco anos estaria prestes a mudar drasticamente.

Uma lágrima pesada desce sobre minha bochecha involuntariamente. Estaria me segurando para não transbordar em lágrimas, teria que ser forte por ele. Ele é ainda tão pequeno, o que poderia pensar me ver tão devastada desse jeito. O que isso poderia fazer com um ser tão pequeno, que não entende o quanto as pessoas são seres repugnantes e traiçoeiros. Eu só queria poder poupá-lo de tudo isso, da dor.

Ainda fraca e sem forças, deslizo meu corpo pelo batente da porta, me sentando no chão. Retiro meu celular do bolso da calça jeans, e vejo vinte e quatro ligações perdidas dele. Trinta e oito ligações perdidas de Karen, oito ligações perdidas de minha irmã. Meu WhatsApp lotado de mensagens. E eu não teria estruturas suficientes para responder nenhuma delas. Eu não queria ouvir e nem falar com ninguém.

Após o que aconteceu hoje, eu queria sumir, dirigir para longe, por uma estrada que não houvesse fim, somente eu e meu filho. E mais ninguém. Encaro meu celular por mais alguns instantes, em meio a tantas notificações e verifico a hora, são 22:31, desligo meu celular.

Ninguém.

Absolutamente, ninguém. Precisa saber onde estou.

Me levanto apoiando minhas mãos em meus joelhos para dar impulso, e vou até minha bolsa, que está com apenas uma troca de roupa em que consegui pegar para mim antes de sair correndo de casa. Apenas uma camiseta velha, e um shorts jeans surrado. Ainda sim eram melhor do que a roupa em que estava vestida agora que remetiam a sujeira do dia acumulado de serviço, e mediante a tudo que aconteceu a poucas horas atrás.

Tomo um banho demorado, acreditando que ele seria capaz de renovar as minhas forças, que seria capaz de devolver um pouco de minha dignidade. Mas quando vou em direção a pia, e deslizo a mão pelo espelho retirando o embaçado que a ducha de água quente causou, tudo que eu vejo a é uma mulher derrotada. Uma mulher arrasada, ferida, machucada de todas as formas que a vida teria me oferecido como oportunidade. As olheiras, deixavam o castanho de meus olhos quase se apagarem, opacos, em um tom de cinza. Meu lábio inferior estava roxo, das inúmeras vezes em que havia o pressionado com toda força no trajeto, para não chorar na frente de Theo.

O reflexo de tudo que eu conseguia ver em frente ao espelho era um completo desastre.

Nesse momento eu sentia vergonha e ódio de mim mesma.

Mais do que todos os outros que haviam me ferido.

Eu, era a mais culpada de tudo isso me acontecer, era isso que sentia.

Sentia mais uma forte pontada no peito, como se fosse uma faca que estivesse me perfurando e se torcendo por dentro do meu coração. Uma dor devastadora, mais uma delas, que vinham sorrateiramente em intervalos curtos e sem aviso.

Um choro desesperado me interrompe vindo do quarto.

— Mamãããe.

Theo acorda desesperado estranhando o lugar em que está, ele havia dormido ainda no carro, quando cheguei com ele no hotel, e o coloquei sobre a cama. Vou correndo em sua direção, e o aninho com meus braços.

— Estou aqui, anjinho. Mamãe está aqui.

Seus olhos procuram pelos meus, ele se acalma assim que se aconchega em meus braços, e lhe dou um beijo em sua testa.

— Quero voltar pra casa mamãe, não gostei daqui. Onde está o papai?

Suas palavras me devolvem o peso sobre as costas, me trazendo ondas de repulsa novamente. Tento ignorá-las enquanto ele olha pra mim. Lhe dando o sorriso mais enganador de todos, porque por dentro, estou caindo em um abismo.

 — Amanhã anjinho, amanhã.

Prometo que amanhã resolvermos tudo isso, está bem? Agora, vamos dormir.

Ele assente com a cabeça, aconchegando-a novamente em meu peito, e eu suspiro forte para não desabar. Em segundos sua respiração pesada voltam ao ritmo. Me encolho, aninhando ainda mais meu corpo junto ao dele, deixando a sensação boa em que somente ele pode me trazer fundir alguma brecha se quer, de uma coração em que foi mutilado a pouco tempo antes.

Somente ele seria capaz de fazer isso por mim, hoje.

Somente ele poderia me curar com esse seu amor puro e verdadeiro.

E qualquer que seria as consequências do que teria que enfrentar, ficariam para amanhã.

Enquanto isso, poderia fingir que tudo foi um sonho e nada de verdade aconteceu.

Capitulo 2

(Narrado por Isabella)

17 horas antes…

Acordo com o celular vibrando ao meu lado sem parar, minha cabeça está pesada, minha visão turva, me levanto da cama em um pulo ao perceber que era a terceira vez, em que o alarme havia disparado.

— Estou atrasada.

Passo um de minhas mãos pelo ombro de Rafael o sacudindo de leve. Ele se contorce na cama, se virando pra mim, ainda com o olhos cerrados e o cabelo ondulado em uma verdadeira bagunça.

— Rafa, é sério! Já são 5:30. Hoje é sexta, trabalho dobrado no hotel, e ainda tenho a faxina na casa da Patrícia primeiro.

— Já deixou as coisas do Theo separadas para escola? Hoje eu tenho um compromisso, e tenho que levar o carro para arrumar os freios… — Você vai ter que ir de ônibus.

— É por isso mesmo, que estou mega atrasa! Já deixei seu almoço separado no micro-ondas, é só aquecer depois.

Termino de vestir minha calça jeans, depressa, andando em direção ao banheiro escovar meus dentes e pentear o meu cabelo. Rafa, ainda está deitado tentando absorver todas as informações possíveis do dia. Preguiçoso! Penteio meu cabelo em rabo de cavalo alto, hoje o dia vai ser muito corrido, não tenho tempo e preciso de algo prático. Após lavar o rosto, passo um batom nude, e estou pronta.

Vou até o quarto de Theo, ainda está escuro, os raios de sol que surgem começam atravessar pela sua janela devagar. Ele está dormindo em seu sono profundo, agarrado ao seu simba de pelúcia que ele não larga por nada enquanto está dormindo. Vou até ele, e dou um beijo suave em sua testa, para que ele não acorde. Afago as mechas longas de seu cabelo ruivo que está caindo sobre seus olhos, jogando o cabelo para trás.

— Obrigada por existir, filho. Te amo!

Falo baixinho, sem que ele mesmo me escute, encosto a porta do quarto e vou para a cozinha. Rafa, está sentado com um dos cotovelos apoiado na bancada, enquanto meche com a outra mão no celular. Pego minhas coisas e olho para ele, mas ele simplesmente ignora minha presença. Faço uma pausa, do outro lado da bancada aonde minha bolsa está sobre a cadeira, olhando em sua direção.

— Estou indo, vejo você mais tarde.

Ele continua com seus olhos fixos no celular, e apenas assente com a cabeça de leve para mim em concordância. Esse seu comportamento me incomoda muito, mas nós não estamos numa “fase” boa no momento, até mesmo ficar discutindo ou se importando demais um com o outro não parece ideal, muito menos começar o dia assim. Suspiro fundo, pego minha bolsa, e quando estou na porta já de saída, ele me chama.

— Você volta que horas?

— Não sei ainda, talvez por volta das 19:30 eu esteja aqui. Se não atrasar no hotel e conseguir pegar o ônibus.

— Ok.

Apenas Ok?

Dou de ombros, e fecho a porta da sala, sem dizer mais nada. Faz onze anos que estamos juntos se for contar com nosso namoro. E estamos vivendo um dos nossos piores momentos desde que estamos casados. Rafael foi meu primeiro namorado de verdade, antes tive alguns “rolos” nada muito sério para ser considerado. Apenas alguns amassos e pegações aconteceram antes dele. Rafael, estudava comigo na mesma escola, temos a mesma idade, sempre tive um grande “crush” por ele. Ele era popular, e chamava atenção de todas as garotas do colégio, e apesar de viver escondida atrás de livros e isoladas de todos, um dia ele me notou.

Ainda me lembro de quando ele veio até mim no final da aula de educação física. Nossas salas estavam participando de um torneio, e estavam competindo a final. Eu detestava qualquer coisa que envolvesse esportes naquela época, gente suada e gritando, correndo feitos idiotas atrás de uma bola.

Total perda de tempo pra mim, preferia ler qualquer livro, em paz!

E era justamente o que estava fazendo nesse dia, atrás das arquibancadas no fundo, apoiando minha cabeça sobre a mochila sussurrada que me acompanhava desde o ensino fundamental, com a cara enfiada em um livro de romance bem sem graça, por sinal. Os gritos das meninas na arquibancada estavam tão estridentes que não fui capaz de perceber quando alguém se aproximava.

Ele se sentou do meu lado, um pouco antes de meu campo de visão, com as pernas cruzadas sobre si, virado de frente para mim. Limpou a garganta o que me fez tirar o foco do livro, abaixando-o até o peito, encontrando meus olhos nos seus. Aqueles olhos azuis, eram impossíveis de não ser notados a quilômetros de distância, quanto mais a poucos centímetros de mim. Engoli em seco, e não pude evitar minha cara de choque quando o vi, o que fez com que ele soltasse um sorriso descontraído em resposta.

— Não quer saber quem ganha?

Sua voz era grave e suave ao mesmo tempo, me deixando desnorteada de ouvir tão próxima assim. E embora eu achasse ele o garoto mais lindo e atraente da escola, ou até o mais lindo que já vi, não iria me atirar pra cima dele igual as outras garotas tinham costume assim que ele se aproximava delas.

— Não me importo! Você não deveria estar jogando?

Continua…

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Oiê Lindezas, como estão?

Conto muito com o apoio de vocês nessa nova aventura que contará a história de Isabella, muita coisa está por vir. Não deixem de interagir comigo aqui nos comentários, e muito bom saber a opinião de vocês.

Curiosidade: Isabella é o nome da minha prima, e é um nome que acho lindo. Rodrigues é meu sobrenome, queria colocar nessa história algo relacionado a mim, e alguns pontos de Isabella serão inspirados em várias mulheres incríveis que conheço.

Estou ansiosa por mais.

Um beijo, Bru.

Capitulo 3

(Narrado por Isabella)

Continuando…

— Não me importo, você não deveria estar jogando? Pergunto a ele.

Gotas de suor percorrem seu rosto, descendo pelo seu pescoço, e passando por sua camiseta larga de time de futebol. Seu cabelo ondulado estava uma verdadeira bagunça, às vezes eu pensava que ele deixava assim de propósito, porque ele ficava ainda mais bonito na minha opinião. Volto a minha atenção para o livro, escondendo meu rosto sobre ele novamente, tentava disfarçar os efeitos que sua proximidade vinha me causando. Ondas em meu peito começavam surgir, e eu sentia minhas bochechas começarem a arder.

— Fui expulso! Graças ao seu companheiro de classe. Mas estamos ganhando, isso já é basta para calar a boca daquele idiota.

Não consigo evitar em sorrir, ainda escondida sobre o livro. Rafael e Lucas sempre disputavam a atenção em tudo, garotas, futebol, quem era o mais bonito, o mais inteligente… Enfim, devia ser exaustivo para eles, se odiarem desde sempre.

— Lucas sendo Lucas, Rafael sendo Rafael, afinal.

E então silêncio, ele não me falou nada de volta. Instantes depois mais gritos das garotas agitando a arquibancada. Nesse momento, eu fiquei confusa se ele já havia ido embora, ou se ainda estava ali, não conseguia vê-lo, teria que desenterrar minha cara do livro para verificar, mas não estava disposta a isso. Então continuei fingindo ler o livro, esperando ficar em silêncio por um bom tempo até criar coragem para verificar novamente.

Seus dedos longos invadem as páginas de meu livro o arrastando em sua direção com o movimento. Ele retira o livro jogando com indiferença ao meu lado, fazendo com que ele deslize e caia para fora, embaixo da arquibancada. Inevitavelmente meu olhar é direcionado para o seu, que estavam prontos esperando por meu contato visual, com seus olhos fixos em mim.

— Você é bem bonita, um desperdício ficar escondida, aonde não posso te ver.

Fico sem ar, naquele momento minhas bochechas deviam estar da mesma tonalidade em que meu cabelo, sinto elas queimarem ainda mais. Seus dedos deslizam sobre as costas de minha mão direita fazendo um movimento suave em mim, um calafrio me invade percorrendo minha espinha com seu toque. Ele sorriu para mim, o que me fez ficar ainda mais sem reações. Mas logo revidei como podia.

— Não sou seu tipo de garota Rafael, talvez você devesse procurar entre a arquibancada, encontrará muitas para disputar sua atenção.

Retiro sua mão de cima da minha, inclinando meu corpo para ficar sentada, retirando minha mochila que antes me servia de travesseiro, a colocando sobre meu colo. Mas, o que eu menos esperava é que ele se reclinasse seu tronco ainda mais próximo de mim, segurando meu queixo com seus dedos, fazendo um leve pressão e olhando em meus olhos com uma intensidade impossível de se rejeitar.

— Talvez não seja por elas que estou interessado, Isabella.

Meus olhos tremiam diante dos dele, ele estava com um sorriso malicioso direcionado a mim, me fazendo perder total controle que qualquer reação que poderia ter a seguir. Antes mesmo, que pudesse tomar alguma atitude. Ele se levanta, o barulho a nossa volta se intensificava ainda mais, indicando que talvez o jogo houvesse terminado. Ele olha pra longe, parecia estar olhando para o placar na tela, do outro lado da quadra de esportes, dando um sorriso aberto depois.

— Vejo você por aí, Isa.

Antes mesmo que responda, ele corre indo em direção a quadra de esportes novamente. Eu fiquei tão perplexa e sem entender com tudo que havia acontecido a poucos minutos, que automaticamente me levanto para ver onde ele estaria, seguindo meus olhos o procurando entre a multidão.

Olho para o telão no fundo, 4 × 2 para os Blues (time dele) dois, dos gols foram marcados por ele. E logo em seguida desço o olhar entre os garotos eufóricos, e o encontro no meio deles, comemorando. Ele desvia seu olhar no meio daqueles garotos se agarrando, atravessa seu olhar vindo diretamente em mim, piscando e sorrindo descaradamente. Meu coração queria se jogar ladeira abaixo da arquibancada.

Me abaixo rapidamente, e tento lidar com tudo que acabava de acontecer. Ele possivelmente saberia meu nome, mesmo estudando em turmas diferentes, mas ainda era estranho, nós nunca trocamos alguma palavra se quer antes. Eu não fazia parte de sua turma, ele era popular, eu não era nenhuma das garotas que o cercava. Eu ficava sempre escondida de tudo isso.

Aquilo tudo talvez poderia ser parte do seu charme na época, porque ele claramente sabia o quanto ele era bonito (ainda é) para uma mera garota estranha que eu era. E o fato que ele havia dado a entender que havia me notado, talvez interessado em mim, mostrava que ele já me observava antes. E havia passado totalmente despercebido por mim.

Minha mente estava uma bagunça, meu coração estava confuso, bem típico de uma garota de dezessete anos. Foi ali que tudo começou mudar entre nós. Era totalmente improvável.

O popular, e a estranha.

Isso ia contra todas as leis da física.

Mas eramos como ímãs, que mesmo sem querer, eramos atraídos um pelo o outro.

Eu sempre vinha tentando me lembrar, daqueles momentos, e outros. Sentada esperando pelo ônibus, refletindo a que ponto tudo isso havia mudado. Sei que casamento, não é como namoro. Não é como estarmos jovens e apaixonados, sem compromissos, nem problemas ou falta de dinheiro. Entendo que toda aquela sensação, as borboletas em que surgiam no estômago, faziam parte de minha memória, e deveria entender que agora, tudo era diferente.

Mas ainda sim, queria entender o porquê ainda me sinto cada vez mais distante dele, cada vez mais sinto que estou o perdendo, e embora esteja me esforçando tanto para esse casamento dar certo pela minha família, pelo meu filho, me pergunto até quando conseguirei lutar sozinha.

E até quando vale se sacrificar tanto, para que ele perceba tudo isso.

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