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Desencontro

1. Quando o cristal se quebra

Um salão de festas enorme havia sido luxuosamente decorado para aquele evento que ela não queria. Por diversas vezes ela disse ao pai que não queria aquilo, que achava um desperdício de tempo e dinheiro e que seria melhor ele lhe dar alguma arma personalizada ou um veículo de última geração como o irmão dela havia ganhado.

Ela usava um longo vestido de festa rose com um belo bordado de pedras. Em sua cabeça repousava uma coroa, que ela poderia ver que se tratava de ouro branco com diamantes. Aquele foi o presente de seu pai. A cada convidado que chegava ela recebia presentes mais caros e luxuosos, mas não era aquilo que lhe enchia os olhos. Karol sempre se considerou diferente das outras garotas, porque ela sempre quis roupas confortáveis, carros e armas, seus melhores momentos eram nos treinamentos de lutas e armas.

Um suspiro involuntário saiu de seus lábios, ela estava muito entediada ali mas tinha que fingir que estava tudo bem ou teria que ouvir mais um sermão do pai sobre como se comportar como uma dama:

-Karol.

A jovem sorriu ao escutar a voz que tanto lhe acalmava:

-Seth. - Os olhos brilharam assim que pode encontrar os dele. - Que bom que veio!

-Bem, eu fui convidado, e como é para você, eu fiz o esforço. - O jovem de cabelos prateados tinha um leve sorriso. - E também…eu tenho algo para te dar, mas é muito simples, espero que goste.

Seth tirou uma pequena caixa do bolso da calça preta social e estendeu a direção da aniversariante que pegou o objeto encantada:

-Posso abrir?

-Claro.

Karol abriu a pequena caixa e encontrou um pingente dourado em forma de asas com uma pequena pedra verde no meio. Era fino e delicado:

-Eu não posso lhe dar a liberdade que você quer, não ainda, mas prometo ficar forte o suficiente para que você não tenha que se preocupar com isso.

-Obrigada Seth.

-Karol. - O jovem loiro que vestia um fraque branco se aproximou. - Nosso pai esta te chamando. - Olá Seth, espero que goste da festa.

-A festa esta encantadora, assim como a aniversariante. - Seth respondeu cortês.

-Fico feliz em saber disso. Logo a devolvo, nosso pai só quer apresentá - la a alguns convidados.

-Fico no aguardo. - Seth fez um breve cumprimento com a cabeça e se afastou.

-A quem o nosso pai quer me apresentar? Ele nunca fez isso antes. - Karol perguntou seguindo o irmão com um braço entrelaçado ao dele.

-São os donos daquela farmacêutica famosa que esta crescendo no mercado. - Ritchie respondeu.

-Isso me soa mais estranho ainda.

Os irmãos entraram em uma sala reservada onde o pai deles conversava próximo a um casal. Um homem de meia idade de cabelos castanhos claros, quase loiros, usando um impecável terno cinza claro e uma mulher de cabelos ruivos, que usava um belo vestido verde esmeralda. Se via de longe o quão refinado eles eram. Ao perceber a presença dos filhos, o homem loiro se aproximou com um enorme sorriso:

-Senhores, esses são os meus filhos, o Ritchie, vocês já o conhecem. Agora, essa é a minha princesa: Karol.

-Oh, minha deusa, ela é muito parecida com a falecida mãe. - A mulher falou ao se aproximar de Karol. - Você é muito linda Karol.

-Muito obrigada, senhora…

-Wesker, Virginia Wesker. E aquele é meu marido, Albert Wesker.

-É uma honra conhecê - los. Já ouvi falar muito de vocês.

-Espero que bem. - Virginia estava encantada pela jovem. - Ah também o meu filho, ele se ausentou por alguns instantes mas deve estar voltando.

-Perdão pela ausência, senhor Seifer. - Um jovem com cabelos acobreados como o de Virginia surgiu na entrada do recinto.

-Tudo bem Nicolas, você chegou na hora certa. - O senhor Seifer observou o recém chegado. - Essa aqui é a minha filha Karol, ela que será sua futura esposa.

Karol sentiu o chão sobre os seus pés se abrir. Esposa? Ela tinha ouvido certo? Aquele homem que tinha matado a sua mãe, estava a oferecendo para outra pessoa como um objeto? Não, não podia ser. Ela não acreditava que seu pai iria tão baixo:

-Nossa, ela é tão linda quanto o senhor informou. - Nicolas se aproximou de Karol e lhe estendeu uma mão. - Estou encantado em conhecer a minha futura esposa.

Karol observou o rapaz a sua frente e o cumprimentou cordialmente, afinal, se não o fizesse quando chegasse em casa seu pai poderia castigá-la. Ela sabia da existência de Nicolas, ele era o rival direto de Ritchie e o irmão sempre contou o quanto o rapaz a frente dela era uma pessoa difícil de se lidar, sem falar da fama ruim que ele possuía. A imagem perfeita dele era apenas para quem não o conhecia de verdade:

-É um prazer conhecê - lo. - Rapidamente ele tirou a mão de dentre a dele. - Bem, eu devo voltar para o salão, ainda há convidados com quem não tive a chance de conversar.

-Nesse caso, eu posso acompanhá - la?

-Não vejo o porque não.

Ela voltou para o salão em silêncio. Não queria aquele cara nojento perto de si, por isso no resto daquela noite, ela passou dançando com diversos convidados. Como estava dando atenção a diversos conhecidos do pai, ele não iria reclamar e ela teria a segurança necessária para ficar longe dos olhos de Nicolas.

De repente, Seth se aproximou com um olhar que ela conhecia bem. Os dois passaram muito tempo treinando juntos, então ela poderia dizer que ela e o soldado se conheciam muito bem. Ele a convidou para uma dança e pela primeira vez naquela noite ela se sentiu relaxada:

-Obrigada por vir dançar comigo. - Karol agradeceu.

-Não é só por isso. - Os olhos de Seth varriam todo o espaço a cada passo da dança. - O corpo de uma funcionária foi encontrado na saída de emergência.

-Como assim? - Karol ia parar a dança, mas Seth continuou a guiando.

-Continue dançando. - Seth pediu. - A pessoa que cometeu o assassinato não disfarçou o que fez, não teve cuidado algum. - Ele suspirou. - Fique onde os meus olhos possam te ver.

-Não precisa pedir. - Ela sorriu. - Seth, eu tenho algo sério para te contar.

-Isso tem que ser agora ou pode esperar o nosso treinamento amanhã?

-Eu não sei…

-Venha comigo. - O soldado a encaminhou até a mesa do buffet, que estava vazia no momento. - Conte.

-Meu pai acabou de me arrumar um noivado. Eu não quero me casar,  Seth, eu quero seguir carreira militar.

Assim que fechou a boca, Karol notou uma presença às suas costas e ao se virar encontrou Nicolas, com um sorriso gentil:

-Vejo que esta livre, será que agora eu teria a honra de dançar com a minha noiva?

-Vamos, essa será a minha última dança.

Diferente dos outros homens com quem havia dançado. Nicolas a segurava com força e fazia questão de deixar bem claro que ele a guiava nos passos. A jovem sentiu a mão do ruivo deslizar algumas vezes por sua cintura, como se analisasse o corpo dela e ela sentiu - se incomodada com aquilo. O olhar dele era de pura cobiça. Era nojento demais para ela se manter próximo dele.

Com muita força de vontade, ela suportou até o final da música. E assim que o último acorde soou, ela agradeceu rapidamente e saiu correndo dali. A sua cuidadora percebeu que ela não estava bem e providenciou para que ela fosse retirada do local em segurança.

Já no carro e em segurança com dois seguranças e a cuidadora, ela suspirou aliviada. Já era ruim estar em um evento social cansativo, e aquela ideia do pai dela tinha piorado tudo de vez. A mulher de meia idade que cuidava dela desde que havia nascido, estava com um semblante sério:

-Senhorita Karol, esta tudo bem? - Liz perguntou para a jovem que estava quieta a sua frente.

-Não está. - Karol olhou séria para a cuidadora, que era uma das poucas pessoas em que poderia confiar.

-Quando chegarmos em casa, quero que me conte o que a incomoda. Não é bom que se sinta mal após uma festa tão linda feita pelo seu pai. - A mulher morena, com um vestido azul marinho, completamente fechado, falou carinhosamente.

-Liz, você sabia do plano do meu pai de me casar com o filho da família Wesker?

-Ele me contou hoje pela manhã, senhorita Karol.

-E por que não me contou? - Karol estava perplexa.

-Eu não podia contar, senhorita. - Liz tinha um semblante triste.

Das poucas pessoas que Karol poderia contar na vida, Liz era uma dessas pessoas. A cuidadora sempre a ouvia e era uma pessoa que Karol poderia ter total confiança. Liz havia sido mais mãe de Karol do que a própria mãe biológica, já que a mãe de Karol sofria de depressão e mais ficava isolada do que por perto dos filhos.

A viagem seguiu em silêncio profundo e logo que entraram no quarto de Karol, Liz segurou a moça pelos ombros:

-Karol, o que eu vou te propor é uma loucura, eu sei, mas por favor só me ouça. A família Wesker é muito suja, eles não tem ética e o padrão deles é horrível. Imagino que você tenha ouvido da jovem que foi encontrada morta na saída de emergência, eu vi quem foi e se não acreditar em mim amanhã você pode ter a sua resposta, mas por favor Karol… - Liz começou a chorar. - Você é como uma filha para mim, eu não quero que vá parar nas mãos de um assassino cruel.

-Liz… - Karol observou a cuidadora pasma.

-Eu tinha ido à cozinha e aproveitei para olhar ao redor. - Liz chorava compulsivamente. - Como tudo estava sob controle, eu fui procurar a minha irmã mais nova, o pessoal da cozinha havia me avisado que ela tinha ido tomar um tempo porque não estava se sentindo bem… Logo imaginei que ela tinha ido para fora pela saída de emergência mais próxima, foi então que escutei passos. Eu o vi limpando as mãos no avental dela, ainda com a calça aberta… - A mulher chorou mais.

-Espere Liz, quem fez isso? Quem você viu naquele corredor? - A jovem estava surpresa.

-Foi o senhor Nicolas.

-Não podemos deixar isso impune! Eu vou falar agora com o meu pai! - Karol ia tirando as mãos de Liz dos seus ombros mas essa apertou mais forte.

-Seu pai não vai se importar com a morte de uma simples ajudante de cozinha.

-Mas era a sua irmã e você é importante para mim.

-Você não entende, senhorita… Seu coração é tão puro e inocente, não entende como as pessoas com mais dinheiro tratam os seus empregados. - Liz acariciou o rosto de Karol. - Você é como uma filha para mim e não quero nunca que passe por algo ruim, então por favor senhorita, fuja desse homem, fuja desse casamento o máximo que puder.

-Mas como? - Karol sentia o desespero surgir. - Eu não conheço nada do mundo lá fora e a segurança da cidade é toda controlada pela Companhia Seifer.

-O Senhor Ritchie vai nos ajudar. - Liz tinha um olhar esperançoso. - Por favor senhorita…

Karol sabia que tinha algo errado com a família Wesker, eles eram perfeitos demais, e tudo que era perfeito demais escondia coisas muito podres. Ritchie havia comentado com ela sobre a personalidade ruim de Nicolas, das coisas que o ruivo fazia com os empregados da faculdade que eles frequentavam juntos e o que algumas garotas relataram sobre o que Nicolas faziam com elas. Ela só não imaginava que o herdeiro dos Wesker poderia assassinar alguém como um psicopata.

A jovem segurou as mãos da cuidadora entre as suas:

-Prepare as minhas coisas, eu vou conversar com o Ritchie.

-Sim, senhorita.

Apressada, Karol saiu do quarto e foi para o quarto do irmão, já o encontrando usando roupas casuais, mas o que chamou sua atenção foram as duas armas personalizadas em cima da cama:

-Ah, que bom que veio. - Ritchie encarou a irmã. - Por que diabos já não se trocou?

-Me explique o que vamos fazer primeiro.

-Eu vou te levar para para cidade mais próxima, de lá você vai para o país vizinho. Você vai sair daqui disfarçada como um soldado e vai entrar no transporte como um. Vai ter um segurança da minha confiança te protegendo até a fronteira, de lá, dê seu jeito para desaparecer sem deixar qualquer rastro. Vou tentar convencer de que você foi morta em um atentado, assim o Nicolas não vai te encher a paciência.

-E se o velho não cooperar?

-Ele não vai cooperar mesmo, mas não se preocupe com isso, eu vou dando o meu jeito por aqui. Agora Karol. - Ritchie se aproximou da irmã e segurou suas mãos. - Isso é para sua segurança. O que ele fez hoje foi só um aviso do que ele pretende fazer com você, então aproveite esse tempo para ficar muito forte.

-Eu prometo ficar.

2. A coroa manchada de sangue

Nicolas ainda se lembrava da primeira vez que tinha matado. Ele tinha 10 anos de idade e estava brincando com o filho de um empregado que sempre aparecia no jardim quando ele estava no intervalo das aulas de piano. Naquele dia ele estava irritado por não ter conseguido a atenção do pai durante a sua apresentação de uma peça de piano que ele havia ensaiado por dias, e quanto a sua mãe? Provavelmente estava em algum hotel com algum amante.

Mesmo ele sendo jovem, ele sabia o quanto a mãe era uma depravada e o pai só vivia para suas pesquisas duvidosas. O filho dos empregados se considerava amigo dele, coisa que ele nunca seria, afinal ele fazia parte da elite do mundo dos negócios. O pequeno infeliz acabou quebrando uma réplica de um avião que Nicolas havia ganhado do pai.

O jovem Wesker empurrou o garoto no chão próximo a piscina. O som da cabeça do garoto batendo no chão foi único, mas era uma quina de um degrau e logo o sangue começou a escorrer para a água. O garoto achou tão bonito o sangue escorrendo pela água que ficou por ali até a velocidade do líquido diminuir.

Ele ouviu um grito de desespero vindo da sua cuidadora e logo ele foi cercado por empregados e retirado dali. Culpa era algo que ele não sentiu, na verdade ele sentiu um prazer enorme em ver aquele líquido escorrendo pelo piso até alcançar a água cristalina da piscina. Horas depois ele ficou sabendo que o garoto havia morrido, mas que ele não precisava se preocupar, que aquilo tinha sido apenas um acidente e que tudo ficaria bem.

Até então, ele sempre era a vítima. Cercado de cuidados e mimos. Toda a atenção era apenas para ele, até o fatídico dia em que Ritchie Seifer foi transferido para mesma escola e sala em que ele estudava. O Seifer tinha carisma e era eloquente durante as conversas, além de ser bonito e ter um jeito cavalheiresco. A turma e professores que tanto o adoravam passaram a dividir a atenção entre ele e Ritchie, o que despertou ódio e inveja no Wesker.

Mas a gota d’água foi quando a menina mais popular da escola o trocou por Ritchie no baile daquele ano. Eles foram os vencedores como rei e rainha, enquanto ele teve que se contentar com o segundo lugar ao lado de uma garota não tão popular quanto a outra. Naquela noite ele convidou a sua companheira para vir até a casa dele, a jovem claramente apaixonada aceitou e ele pode se aproveitar dela de todas as formas possiveis. Como ela era influente e próxima da atual namorada do Seifer, ele aproveitou para descobrir as fraquezas do loiro, foi então que ele descobriu sobre Karol.

A Seifer mais jovem não estudava fora, recebia sua educação toda dentro da compainha do pai. O que era um tanto estranho, mas visto que era a única filha do presidente, era normal ter todo um cuidado ao redor dela. Havia rumores que ela tinha a saúde frágil e que poderia ter uma aparência desagradável.  Foi então que ele começou a arquitetar uma maneira de encontrar essa garota e sequestrá - la.

Que vingança melhor contra aquele que tinha roubado o seu lugar do que deflorar e torturar a irmãzinha querida dele? Com esse plano em mente, ele contratou pessoas e arrumou tudo para que ele pudesse acabar com a alegria do Seifer. Tudo ocorreria em um lançamento de um empreendimento novo da sua família, ali ninguém desconfiaria dele.

Na noite da festa ele estava mais paciente que o normal, ele tinha a certeza de que aquele seria o dia da sua grande vitória sobre Ritchie Seifer. Nicolas havia escolhido usar um um conjunto de gala com terno e calça dourados e uma camisa social preta embaixo do terno. Optou por não usar gravata, queria estar bem bonito e chamativo para atrair a sua vítima. Não que ele não confiasse em sua beleza, herdada de sua mãe, mas se ele pudesse estar mais belo, ele o faria.

Era a primeira vez que ele colocaria os olhos em Karol, e mesmo se ela fosse tão horrível quanto diziam, ele ainda assim a atacaria. O local da cerimônia de lançamento do empreendimento seria no espaço de eventos de um grande shopping. Por ser um empreendimento voltado mais para o público popular, foi escolhida uma decoração mais simples e voltada para o corporativo.

As mesas estavam espalhadas em frente a um pequeno palco, havia umas quatro mesas para o buffet com diversos tipos de comida e dois bares com atendentes especializados. A música era bem suave para trazer leveza e dar espaço para que os presentes pudessem conversar sobre seus negócios corporativos.

Muitos convidados haviam trazido suas famílias. Sua mãe tinha se preocupado em criar um espaço para crianças menores para agradar as demais mães. E ao fim da apresentação do empreendimento teria uma festa com uma banda famosa e no fim um DJ encerraria a noite. Nicolas andava entre os convidados distribuindo sorrisos, acenos e elogios. Sempre foi assim naquele mundo. Até que, como um imã atrai o ferro, sua atenção foi atraída para a entrada e lá estava os Seifer.

Ritchie estava ao lado do pai, como sempre impecável, mas o que o surpreendeu estava a um passo atrás de Ritchie: uma jovem com longos cabelos loiros, a pele alva praticamente coberta por um belo vestido rosa claro. Os olhos dela eram azuis como os de Ritchie, mas transmitiam uma doçura e serenidade enorme. A maquiagem e os acessórios que ela usava eram bem leves. Era como se um anjo tivesse passado pela porta e ele sentiu uma surpresa enorme tomar conta do seu ser. Seria possível que aquela fosse a Karol?

De repente um aglomerado se formou ao redor dos Seifer. Era incrível como até em uma festa da família dele, eles perdiam o protagonismo para aquela família maldita. Ele ouviu passos e logo seu pai surgiu ao seu lado:

-Vamos cumprimentar os Seifer. - Albert ordenou.

-Pai, quem é aquela garota?

-Aquela é a filha mais nova.

-Eu a quero.

Albert sorriu e colocou uma mão sobre o ombro do filho:

-Você tem bons olhos, Nicolas. Se conseguirmos firmar um compromisso entre você e ela, o valor das nossas empresas vai aumentar muito e tenho certeza que o senhor Seifer compartilha da mesma opinião que eu.

-Isso quer dizer… - Nicolas observou o pai surpreso.

-Vou conversar com ele agora e lhe propor essa aliança, até o fim da noite eu lhe dou uma resposta.

-Obrigado pai. - Nicolas sorriu animado com a ideia que lhe foi exposta.

Nicolas viu o pai se afastar e ir na direção dos recém chegados. Ele queria ir junto mas era como se algo impedisse ele de segui-lo. Por alguns segundos ele pode ver Karol novamente em meio ao aglomerado, e ela tinha um doce sorriso nos lábios. Seu coração disparou com aquela imagem. Ela ajeitou uma mecha do cabelo atrás da orelha e por uma fração de segundos os olhares se cruzaram e o ruivo poderia jurar que ela sorriu para ele.

Seu rosto começou a esquentar assim como todo o seu corpo. Ele sentiu - se sufocado e resolveu sair do local para tomar um pouco de ar, quando saiu para o estacionamento pode ver a sua suposta namorada. A garota de cabelos castanhos se aproximou animada ao vê- lo:

-Nick, achei que estava lá dentro. - A jovem o abraçou.

-Eu vim te procurar. - Nicolas mentiu. - estava demorando a chegar.

-Desculpe, acabei me atrasando por causa do salão. Mas agora estou aqui.

-Eu sei que acabou de chegar, mas e se nós… - Nicolas deslizou as mãos pelas laterais do corpo da namorada.

-Hum…mas eu acabei de me arrumar… - A moça falou dengosa.

-Prometo que vou tomar cuidado para não estragar o seu cabelo e nem a sua maquiagem. - Ele acariciou os cabelos dela. - O que acha de clarear seus cabelos? Acho que você ficaria incrível loira.

-Você acha?

-Tenho certeza.

Depois daquela breve conversa, ele levou a namorada para um hotel ali próximo onde passou algumas horas com ela. Quando voltou para festa, ele sentia - se revigorado. Afinal, nada melhor que sexo para acalmar seus instintos. Assim que entrou no local ele percebeu que a apresentação do empreendimento havia terminado e agora a banda já tocava no palco. Assim que contasse ao pai o que estava fazendo ele tinha certeza que o mesmo não o reprovaria. Ele observou tudo ao redor à procura dos Seifer mas não os encontrou.

Logo ele avistou o pai e se aproximou curioso. Ao perceber a presença do filho, Albert dispensou o grupo com quem conversava e se aproximou do jovem com um sorriso:

-Onde estava?

-Me aliviando com aquela garota de sempre. - Nicolas respondeu. - Onde estão os Seifer?

-Já fora embora, mas fique tranquilo. O senhor Seifer aceitou sem problemas o nosso acordo. Como hoje não foi possivel, você será apresentado formalmente a Karol daqui a dois meses, no aniversário dela.

-Isso é sensacional! Obrigada Pai! - O ruivo abraçou o pai e se afastou alegre, indo comemorar a sua vitória.

Ele havia ficado tão feliz com a notícia que tinha se esquecido do seu plano inicial. Na manhã seguinte, o Wesker acordou com o som do toque do telefone na cabeceira da sua cama. Sem paciência, ele se levantou e atendeu:

-Diga.

-Senhor, estou ligando para informar sobre o seu pedido especial.

-Oh! - Nicolas sentou na cama. - Me diga como foi.

-Infelizmente perdemos o contato com todos os nossos homens. Aparentemente um dos seguranças era um soldado de elite.

-Droga, esqueci desse detalhe. Procure os homens e os elimine, não quero nenhuma evidencia sobre isso.

-Sim senhor!

O ruivo colocou o fone no lugar de origem e deitou novamente na cama. O plano dele havia falhado porque ele havia esquecido que além de uma compainha elétrica, a Seifer também era uma empresa de armamento e claro que tinha seu próprio exército, o poder deles era uma coisa incalculável. Mas agora ele estava tranquilo, já que ele estava de compromisso firmado com o pai dela.

Para manter a aparência, ele resolveu se comportar mais, afinal, ele tinha que conquistar a confiança do pai e do infeliz do irmão dela. Alguns dias haviam se passado e no momento ele estava deitado na cama enquanto via sua namorada Mary cavalgar em cima de si. Aquela coitada fazia qualquer coisa para agradá - lo, inclusive manter o namoro deles em sigilo a pedido dele. Ela havia pintado os cabelos de loiro como ele havia pedido e até mesmo a redução nos seios que ele havia cogitado, ela havia feito. Não era Karol, e estava longe de ser, mas o ruivo se divertia transformando aquela pobre garota em sua boneca de luxo.

Com destreza, ele inverteu as posições e a estocou com força até se sentir satisfeito. Como sempre fazia, ele marcou o corpo dela com mordidas e chupões. A pele avermelhada lhe dava um prazer enorme e como Mary era extremamente obediente, deixava ele fazer o que quisesse com ela. De repente ela saiu dos braços dele, o que o ruivo estranhou:

-Algo errado?

-Tenho algo sério para conversar com você. - A jovem pegou um roupão e se vestiu.

-Conte enquanto eu deixo as minhas marcas em você. Venha, volte para cama. - Ele estendeu a mão na direção dela.

-Isso é sério Nick. - Mary estava com um semblante sério. - Eu estou grávida.

Nicolas sentiu como se um raio atravessasse o seu corpo. Logo agora que as coisas estavam indo bem essa vadia tinha mesmo que engravidar? Não, ele não poderia permitir isso de forma alguma:

-Quando descobriu? - O ruivo perguntou direto.

-Ontem.

-Contou para alguém?

-Apenas para Beca.

O ruivo se levantou e controlou todo o ódio que surgia dentro de si. Aquela vadia tinha que contar logo para a namorada do Ritchie? É claro que a essa altura, Ritchie já sabia da história e aquilo poderia prejudicar o seu noivado:

-Mary, você pediu a Beca para ficar de bico fechado?

-Claro né, não somos loucas de sair espalhando esse tipo de coisa. - Mary falou visivelmente ofendida.

-Certo, eu vou te ajudar com tudo. Pode ficar tranquila.

-Preciso dos remédios para abortar, não quero estragar o meu corpo parindo uma criança.

-Isso é fácil para mim. - Nicolas se aproximou dela e a abraçou. - Independente disso, você ainda vai permanecer comigo?

-Eu não vejo problema. - Mary sorriu.

Depois de deixar Mary em casa, Nicolas voltou para casa às pressas, ele tinha que pedir a ajuda da mãe para resolver esse caso da melhor forma possível, e a melhor forma da família Wesker era eliminar toda e qualquer testemunha. Como Mary havia espalhado para toda a escola que eles haviam se separado, ele estava isento de qualquer responsabilidade do que acontecesse com ela.

Apressado, ele entrou na construção e rapidamente foi até o quarto da mãe, onde bateu na porta e logo uma empregada jovem, visivelmente  corada abriu a porta:

-A minha mãe esta?

-Entre querido! - Virgínia falou de dentro do quarto enquanto ajeitava um robe de seda verde sobre o corpo escultural.

-Mãe, preciso da sua ajuda.

-Tudo para o meu lindo filho. - A mulher ruiva deslizou pelo quarto até se aproximar do filho e lhe acariciar o rosto.

Nicolas sentiu o afago da mãe e lhe segurou a mão que estava em seu rosto:

-Mãe, eu cometi um erro ridículo e peço a sua ajuda.

-Ora meu querido, vindo de você nunca será rídiculo. Mamãe estava indo se banhar, poderia me contar o que aconteceu enquanto faço isso?

-Sem problemas.

Virginia caminhou até o banheiro da suíte onde havia uma enorme banheira com vista para o grande jardim nos fundos da mansão. Com a ajuda da empregada que havia aberto a porta minutos antes, ela se despiu e entrou na água. Nicolas se orgulhava da mãe linda que ele possuia e tinha pena de todos que se apaixonaram por ela. Sua mãe era uma destruidora de corações, as únicas coisas que ela amava era ele e o marido, mas como esse ultimo quase não lhe dava atenção, ela se divertia com quem e com o que queria:

-Pronto querido, conte para mamãe o que aflige esse lindo coração. - A mulher prendeu os longos cabelos acobreados em um coque para não molhar e sentou - se na banheira.

-Minha ex-namorada esta grávida. - Nicolas confessou fingindo estar arrependido.

-Isso é bem simples de resolver, ela vai abortar a criança, mas eu não confio nela, ainda mais quando ela souber que esta noivo da filha do Seifer.

-Essa é a minha preocupação.

-Pode ficar tranquilo que eu providencio tudo para que esse aborto aconteça de uma forma que não vai atrapalhar os seus planos. Sei que se apaixonou pela Karol, e bem, quem não se apaixonaria, aquela moça é muito refinada.

-Ela é uma jóia extremamente rara e eu quero estar a altura dela.

-Você estar, meu príncipe. - Virginia sorriu e acariciou novamente o rosto do filho. - Se depender dos seus pais, o mundo será seu.

-Obrigado mamãe. - Nicolas beijou o rosto da mãe e saiu animado da suíte, foi então que ele viu uma foto de Karol em cima da cama da mãe, pelo jeito ela também estava mexendo seus pauzinhos.

Na imagem, Karol usava um vestido estilo camponesa com tons de branco e azul claro, na cabeça um chapéu branco com um laço azul escuro. Era o retrato da inocencia e pureza, tão diferente daquele maldito irmão mais velho que ela possuia, sem falar do pai que era um canalha. Mesmo ela não sendo culpada da família que possuía, ela pagaria por cada vergonha que ele havia passado desde que Ritchie havia surgido na vida dele.

3. O inicio de um novo começo

Seth sabia que algo estava errado desde que Karol havia o abordado em sua festa. Ele a aguardava com ansiedade na sala de treinamento, que era o único lugar que eles podiam conversar em paz. Porém ela estava muito atrasada, coisa que não ocorria desde que eles passaram a treinar juntos anos antes.

Foi então que um auxiliar da divisão de ciências, que era responsável pela camara,  surgiu apressado com um semblante preocupado:

-Senhor Seth o treinamento de hoje esta suspenso. - O auxiliar avisou.

-Posso saber o por quê? - Seth se levantou do chão segurando as espadas de treino e se aproximou do auxiliar.

-O prédio esta uma loucura, aparentemente a senhorita Karol desapareceu.

-O que? - O soldado estava surpreso.

-O presidente esta enlouquecendo os diretores para descobrir onde ela esta e se por acaso foi sequestrada ou algo do tipo.

-Mas por que não me avisaram nada?

-Aparentemente o senhor Ritchie deu falta dela ontem depois que ela saiu da festa e ontem mesmo ordenou uma busca por ela, mas até agora não encontraram nada, até parece que a senhorita evaporou.

-E onde esta o Ritchie agora?

-Rastreando as rotas até a fronteira. O senhor deve se preparar para ir para a base na fronteira nesse instante. O Diretor Wolf que solicitou.

-Já vou me preparar.

O soldado saiu apressado para a sala de armas onde deixaria as espadas e de lá iria para o vestiário para começar a se arrumar para sair. Karol havia pedido para conversar com ele na noite anterior, como assim ela havia desaparecido? E se tivesse acontecido algo com ela, ele jamais se perdoaria em sua vida, por mais que fosse quase impossível ela ter sido morta por alguém, já que ela conseguia ser melhor que muitos soldados de elite.

Ele se arrumou rapidamente, vestiu todo seu equipamento e se apressou para se apresentar ao diretor que até aquele momento já havia ligado algumas vezes para o seu celular.  Assim que entrou na sala de Wolf, ele pode ver o homem mais velho completamente desesperado, ao que parecia o presidente realmente estava o enlouquecendo:

-Ah que bom que chegou Seth. - O diretor de porte alto e corpulento se aproximou dele. - Temos uma crise para conter mas uma que tem que estar em sigilo.

-Pode me deixar a par da situação, senhor.

-A filha do presidente desapareceu ontem a noite e o presidente esta desesperado atrás dela. Ninguém pode saber que ela desapareceu porque ele firmou o noivado dela com a família Wesker e de forma alguma isso deve vir a público.

Seth sentiu seu coração falhar uma batida. Então era isso que Karol queria ter contado a ele e ele simplesmente ignorou a dor dela. O soldado pode imaginar o tamanho da dor da sua namorada. Sim, eles estavam namorado já havia alguns meses escondidos e ele estava fazendo o possível para subir de patente e se tornar importante dentro da companhia só para ter a aprovação do presidente:

-...então você irá para a base na fronteira e lá tente rastrear qualquer sinal de entrada de pessoas que vieram dessa região. Compreendeu bem? - O diretor tinha um olhar desesperado.

-Sim senhor. Vou partir imediatamente e darei relatório de toda a minha investigação.

-Ainda bem que ainda temos você para confiar, Seth. Se conseguir achá - la ganhará uma promoção com toda a certeza.

O jovem de cabelos platinados apenas acenou com a cabeça e saiu do local. Como já tinha preparado tudo para viagem, ele só organizou o grupo com quem ele iria partir e logo estava no veículo que o levaria para a base. Local onde passava mais tempo do que na cidade desde que a guerra havia estourado.

Durante a viagem ele não parava de pensar em onde Karol poderia estar e o que ela poderia estar fazendo. Ele a conhecia, nunca que ela iria se rebelar contra o pai só por um noivado de conveniência, ela era inteligente e esperta o suficiente para sair daquela situação e pelo que sabia a família Wesker era exemplar. O filho deles tinha uma reputação até melhor do que a de Ritchie. Havia algo errado e ele precisava descobrir.

Como a base era na fronteira do país, levava praticamente dois dias para chegar até a base que ficava no porto. Na saída da cidade ele encontrou Ritchie, que parecia tão desesperado quanto o pai e o diretor Wolf. O loiro implorou que ele encontrasse sua irmã, o que preocupou mais o soldado, já que Ritchie sempre foi super protetor com a irmã desde que ela nasceu.

O clima da base da fronteira era árido devido o relevo rochoso e o local mais fresco era perto da costa. Quando mais para dentro do continente, mais o relevo barrava o vento que vinha do mar. Como ele já tinha alguns níveis mais altos de habilidades, sempre recebiam algumas regalias da companhia e ali naquele acampamento, ele tinha uma barraca só dele que ficava estrategicamente afastada do pelotão principal.

Assim que se aproximou ele pode notar os dois soldados na entrada. Sempre que ele passava um tempo fora, sempre ficava alguns guardas ali para vigiar seus pertences. Mas o que ele achou estranho é que havia uma soldado feminina como vigia. O regimento feminino ficava justamente atrás dos aposentos dele para garantir que nenhum engraçadinho fosse perturbar as moças do regimento de snipers de elite que era composto apenas por mulheres.

Logo que ficou à frente dos dois vigias ele falou:

-Até onde sei as soldados do regimento  de snipers não podem ficar aqui, o que ela faz aqui?

-Perdão senhor, um segurança nível 1 que solicitou que ela o aguardasse aqui. - O soldado informou.

-Entendi. Dispensado. - Seth ordenou e o soldado desapareceu rapidamente da sua vista. - Entre. - Ele abriu a porta da barraca e indicou para a soldado entrar.

Assim que ela entrou, logo ela tirou o capacete o surpreendendo:

-Karol?

-Quieto. - Ela colocou um dedo sobre os lábios dele. - Ritchie me ajudou a vir até aqui, mas preciso da sua ajuda para atravessar o continente para pegar o barco do outro lado.

-Espere, o que esta acontecendo? Por que esta aqui como um soldado?

-Eu te falei do meu noivado, acabou que descobri que aquele cara que matou a moça que encontraram morta na saída de incêndio. Ritchie também me contou que aquele cara não é boa coisa e que eu não devo me casar com ele de forma alguma.

-Bem, se o Ritchie que o conhece pediu isso para você e esta tomando todo o cuidado para que você desapareça do radar, quem sou eu para ir contra. Mas se quiser eu posso dar um jeito de matar aquele cara.

-Melhor não, a culpa cairia em você e isso seria problemático.

-Por que seria problemático?

-Seth. - Karol sorriu amargamente. - Porque você é apenas um soldado, não faz parte da elite como ele.

-Isso é uma vantagem, não?

-Não. - Karol acariciou o rosto alvo do rapaz a sua frente. - Essas pessoas podres de ricas não sabem o significado da palavra ética. - Ela suspirou. - Não posso te envolver nessa sujeira, a única coisa que posso te pedir é para cada dia ficar mais forte. Tão forte que todos irão temer a sua existência.

-Se é isso que deseja, eu o farei. - Seth pegou a mão dela e beijou.

-Eu tenho que voltar para o meu posto.

-Não precisa, eu estou aqui agora. Vou te ajudar com o transporte, sei que consegue se proteger durante o percurso. Agora só preciso ver quanto eu tenho de dinheiro para poder te dar para manter as despesas da viagem.

-Não se preocupe com isso, eu trouxe um pouco comigo e também aquela coroa que meu pai me deu de aniversário, só que preciso de um artesão para poder desmontá-la para que eu possa vender as partes aos poucos para me manter.

-Posso conseguir o contato de um para você. Já escolheu onde vai ficar?

-Primeiro vou procurar um local onde posso fazer algumas plásticas, mudar a minha aparência é essencial. - A jovem suspirou novamente. - Nunca pensei que teria que fazer isso na minha vida, não sei nem como eu poderia ficar.

-Eu também não gostaria que mudasse, eu te acho perfeita dessa maneira.

-Por que eu não nasci em uma família comum? Eu só queria ter um pouco de liberdade.

Seth se aproximou dela e a abraçou:

-Agora você esta livre.

Karol aproveitou o abraço para iniciar um leve beijo. Parecia uma vida que eles não tinham aquele tipo de interação. Tantas coisas haviam acontecido nas ultimas horas que parecia que uma vida toda havia passado. Mas agora nada mais importava, ela não era mais uma Seifer, ela era apenas uma garota comum nos braços do homem que amava.

Seth sentia seu corpo esquentar, seu coração estava disparado e parecia que o mundo lá fora não existia mais. Karol agora era uma fugitiva, sua missão era encontrá - la e levá - la de volta para casa, mas ele jamais faria isso, ainda mais agora que ele teria a chance de estar com ela para sempre. O soldado queria torná - la, mas ainda era muito cedo para eles terem aquele tipo de contato, se ele havia esperado até aquele momento, ele esperaria um pouco mais.

A contra gosto, o soldado se afastou dos lábios que tanto amava e encarou os inocentes olhos azuis dela, que naquele momento estavam carregados de luxúria:

-Fique aqui na minha tenda, pela madrugada eu te levarei até uma pessoa da minha confiança que a acompanhará até o porto.

-Seth…

-Karol, depois que atravessar o oceano estará sozinha, acha que consegue se virar?

-Vou ter que me virar de alguma forma e não poderei fazer nada muito formal para não chamar a atenção.

-Sim. Eu não posso segui-la agora, mas dentro de alguns meses eu darei um jeito de te encontrar.

-Não se preocupe tanto. - Ela sorriu.

-Vou preparar as coisas para sua saída, precisa de algo?

-Seth, aqui eu sou um soldado, se continuar me mimando assim todos vão desconfiar.

-Ah droga, é mesmo. Mas não tem como eu não te mimar, afinal você é a minha princesa. - Ele a beijou no rosto.

-Espero nunca deixar de ser.

Naquela noite, ele providenciou tudo para que Karol fosse transportada em segurança. Vê - la dormindo tranquilamente em uma cama de acampamento militar não combinava com ela.  Os cabelos impecáveis estava espalhados pelo travesseiro de má qualidade e ela parecia bem menor dentro da farda de soldado comum, Karol realmente não combinava com aquele tipo de vida. Ele suspirou imaginando o quanto a caminhada dela dali para a frente seria dificil, mas ele faria o possivel para auxilia - la.

Rapidamente ele terminou de realizar os preparativos para a partida dela e com cuidado se juntou a ela na pequena cama. Era a primeira vez que se deitava ao lado dela. Ao sentir a presença de Seth, Karol despertou e se agarrou a ele, que a abraçou carinhosamente e a beijou na testa.

Já havia alguns meses que eles haviam se declarado um para o outro e desde então passaram a se encontrar escondidos nos cantos do prédio da companhia, onde Seth morava e onde ela treinava regularmente. Uma oportunidade como aquela jamais iria surgir novamente. O soldado puxou o rosto dela levemente na sua direção e a beijou. Seth nunca havia amado nada nem ninguém, mas os sentimentos dele para a moça em seus braços não tinha outro nome que não fosse amor. Ele queria que aquele momento durasse por toda a eternidade, que não existisse barreiras sociais, nem preconceito e nem nada que pudesse os separar.

Foi com muito pesar que ele teve que vê - la partir na manhã seguinte. Como tinha muitos contatos, ele providenciou um veículo e um mercenário de sua confiança para acompanhá - la até o porto. Karol sabia lutar muito bem e a segurança dela era o menor dos problemas, mas ele queria manter contato, por isso enviou o mercenário. O soldado sabia que ela não poderia ter nenhum tipo de aparelho eletrônico para comunicação ou seria rastreada. Assim que ela fizesse as cirurgias plásticas para alterar a aparência, ela providenciaria uma nova identidade e assim eles poderiam manter o contato necessário.

Já haviam se passado quatro meses desde que ele colocou Karol naquele transporte e não obteve notícias desde então. Depois de um dia difícil realizando uma infiltração em uma base inimiga, ele recebeu uma carta que foi entregue por uma criança de uma vila próxima da base em que estava. Ele pegou o envelope branco que estava lacrado e observou por alguns instantes.

Como ainda trajava o equipamento de combate, não se preocupou em ser contaminado ou com algum material explosivo, e também havia a verificação de todo o material que entrava no acampamento por uma tecnologia que detectava qualquer coisa que poderia ser prejudicial. Com cuidado ele abriu o envelope que continha um panfleto de uma cafeteria na região litorânea do outro lado do globo. O endereço estava em destaque e no verso havia uma mensagem: Eu te espero.

Um leve sorriso surgiu no rosto do agora nomeado major. Aquele era o sinal de que ela estava viva e agora ele tinha que encontrá - la. Rapidamente ele sacou o celular do bolso da calça e ligou para o superior pedindo alguns dias de folga para resolver algumas pendências, o que foi prontamente atendido, já que ele havia sido excepcional nas últimas missões.

Seth nunca ligou muito para a questão de tempo, mas quando se tratava de Karol, tudo mudava. Ele só queria vê -la, abraçá - la e beijá - la. Queria saber como ela estava nos últimos meses, o que ela havia feito, como estava se virando. A preocupação antes esquecida devido as missões que vinham uma atrás da outra, agora havia chegado com força e estava o sufocando. Quando ele chegou a frente do local indicado no panfleto, sentiu um leve alívio.

As paredes tinham alguns detalhes em relevo, a cor era cinza claro. Uma porta de madeira com vidro e uma grade era a entrada do local e a discreta placa acessa indicava que estava aberto. Assim que entrou, ele pôde observar o interior. Um balcão de atendimento de um lado e algumas mesas vazias do outro.

Um homem jovem, na casa dos vinte e cinco anos, estava sentado no balcão com alguns papéis. Assim que percebeu a presença de Seth, o homem chamou por um nome feminino e logo uma jovem surgiu. Cabelos longos negros e com ondas e olhos castanhos. Para o major, aquela moça tinha algo familiar, mas ele não quis arriscar antes de realmente saber se aquela era Karol, até porque o homem havia a chamado por outro nome.

A jovem, que parecia ter a mesma idade que ele, se aproximou do balcão rapidamente:

-Boa tarde, em que posso ajudar. - Ela sorriu e ele teve certeza de quem era aquela jovem.

-Um café sem açúcar e um donut. - Seth pediu.

-Certo, já esta saindo. Caso queira se acomodar em alguma mesa, eu levo para você.

-Vou esperar na mesa.

Seth escolheu uma mesa e se acomodou ali. O homem que estava no balcão deu algumas instruções para a jovem e logo saiu carregando os papéis. Logo ela surgiu com uma bandeja o servindo:

-Supreendente a sua mudança. - Seth começou a falar.

-Gostou? - Ela se juntou a ele na mesa.

-Só não gostei do nome. - Ele implicou.

-Mesmo? - Karol pegou o crachá escondido na roupa e mostrou para o major, que se engasgou com o café.

-O meu sobrenome?

-Eu tinha que escolher rápido, e foi o primeiro que lembrei.

-Bem, não vejo problema. Deve ter outras pessoas com o mesmo sobrenome que eu. Então, me conte como esta conseguindo se virar.

-A coroa esta me rendendo um dinheiro considerável, mas como não podia só aparecer com dinheiro do nada, resolvi arrumar esse trabalho de meio período e agora estudo numa escola normal. Com a documentação consegui forjar uma emancipação, então estou resolvendo as coisas da melhor forma possível. A guerra tem suas vantagens. Aqui eu sou uma refugiada tentando dar um jeito na vida.

-Então por isso os cabelos negros e os olhos castanhos?

-Características orientais fazem bastante sucesso e distraem os adversários.

-Adversários?

-Me diga, quanto tempo vai poder ficar?

-Uns cinco dias.

-Então você vai se divertir comigo. - Karol sorriu. - E ao menos na cafeteria você tem que me chamar de Marin.

-Por mim tudo bem.

-Você não vai poder ficar muito tempo por aqui então pegue isso. - Ela tirou um chaveiro com um coração de resina rosa e entregou para ele. - Eu moro no quarto andar desse prédio. Eu já avisei ao porteiro que chegaria uma visita para mim a qualquer momento, só fale o sobrenome que ele vai liberar a sua entrada.

-Não precisa, eu estou em um hotel.

-Nós passamos quatro meses longe um do outro e você quer mesmo passar mais tempo longe de mim? - Ela brincou.

-Ok, você tem razão. Vou pegar as minhas coisas e vou para sua casa. A que horas você sai?

-Por que esta perguntando isso?

-Então… - Seth ficou vermelho. - Eu gostaria de vir te buscar…tipo, eu ouvi de alguns soldados que quando eles estão em casa, eles buscam as mulheres deles no trabalho.

Um enorme sorriso surgiu no rosto de Karol, que puxou Seth pela camisa e o beijou rapidamente:

-Às dezoito.

-Estarei aqui para te buscar.

Conversaram mais um pouco e depois de uma leve discussão sobre o pagamento do pedido, que ela não queria que ele pagasse, mas que no final acabou aceitando. Ele voltou para o hotel, onde pegou suas coisas, pagou a diária e seguiu para o apartamento de Karol. Como ela havia dito, não foi dificil achar o local, que era bem próximo a suposta escola e da cafeteria.

O prédio tinha a fachada laranja com detalhes em branco e pequenas varandas com grades de metal com arabescos.  A porta da recepção estava encostada e como Karol havia dito, havia um porteiro. Um senhor de idade avançada, com um corpo baixo e calvo, de aparência simpática:

-Bom dia meu jovem, posso te ajudar? - O senhor perguntou.

-A Marin Crescent me pediu para vir para este endereço, ela disse que mora aqui. - Seth respondeu.

-Ah sim, você deve ser o namorado dela. Me surpreende ver o quão jovem você é.

-Ela falou algo de mim?

-Sim. Disse que estava ansiosa para que você voltasse são e salvo. Guerras são difíceis, meu jovem. Já estive lutando algumas vezes para proteger a paz desse local. A propósito, meu nome é Domenico.

-É um prazer conhecê - lo senhor Domenico e obrigado por cuidar da Marin.

-Ela é uma jovem muito doce e educada, será sempre uma boa companheira. Gostaria que meus netos tivessem o juizo que vocês dois tem.

-Ela é mesmo uma jóia rara. - Seth sorriu. - Me perdoe, mas estou um pouco cansado e logo devo ir buscá - la no trabalho, então se me der licença eu vou subir.

-Ah sim, claro. Antes de subir meu jovem, poderia levar a correspondência dela? Não a vi quando chegou da escola pela manhã, então não pude entregar a ela. Claro, se não for um incomodo.

-Incomodo algum. - Ele se aproximou e pegou os dois envelopes que Domenico estendeu na direção dele. - Pode deixar que eu entrego a ela.

-Obrigado meu jovem e tenha um bom descanso.

-Obrigado.

Seth subiu as escadas até o quarto andar. Como era um prédio antigo não tinha elevador. Ele chegou até o andar e se aproximou da porta onde tinha o número 402. Assim que colocou a chave na fechadura para abrir a porta, a porta do vizinho da frente se abriu e um rapaz de longos cabelos castanhos e olhos azuis surgiu animado:

-Marin, até… - O rapaz parou de falar assim que viu Seth. - Quem é você? E o que esta fazendo abrindo o apartamento da Marin?

-Namorado. - Seth respondeu friamente enquanto abria a porta.

-Ah, então você existe mesmo e não era uma desculpa para não ficar comigo. - O rapaz olhou para Seth com desdém. - Já vi que tenho um inimigo a altura.

Um leve sorriso surgiu nos lábios de Seth. Quem aquele idiota achava que era para o desafiar, ainda mais se tratando da sua mulher:

-E eu nem o considero um inimigo. - O major falou e fechou a porta em seguida, deixando o outro pasmo.

Seth suspirou e então pode observar o local. O apartamento era pequeno, o chão era de madeira e as paredes eram brancas. Logo na entrada havia um aparador de madeira clara assim como a estante que ficava na frente do sofá creme. Uma leve cortina cobria a porta da varanda.

Ele caminhou pelo piso impecavelmente limpo e logo encontrou a cozinha e o banheiro, ambos bem decorados com armários brancos e puxadores bronze. No banheiro havia uma banheira antiga com pés de cobre, provavelmente Karol havia escolhido aquele local por ser realmente bem decorado. O major voltou para sala e deixou a correspondência sobre o aparador e seguiu para a única porta que havia ali, sinalizando que havia apenas um quarto na construção.

Uma grande cama de casal com uma cabeceira de tubos de metal preto e detalhes dourados ocupava grande parte do quarto. Havia uma cômoda grande e uma mesa de cabeceira onde um livro repousava ao lado de um abajur. Ver toda aquela acomodação o tranquilizou, mesmo sozinha, Karol estava bem acomodada e aparentemente segura. Vencido pelo cansaço, ele deixou a mala ao lado da porta de entrada, se despiu e se deitou na cama, que ainda tinha o cheiro da dona, o que o ajudou a pegar no sono bem mais rápido.

Ele acordou com o despertador do celular avisando que já era quase o horário de Karol sair do trabalho. Como agora ela era uma civil, ele passou a se empenhar em aprender algumas coisas para poder agradá- la e conviver bem com ela. Sua garota era a única pessoa que tinha no mundo e ele gostaria e muito que ela continuasse ao seu lado por toda sua existência.

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