Tessália
O dia amanheceu lindo, ensolarado do jeito que eu gostava, eu amava a luz do sol que parecia alegrar o dia. Mas eu também amava a chuva pois ela dava vida às plantas e deixava suas folhas e flores lindas.
Sim eu era um poço de contradição, ao mesmo tempo que eu amava a chuva eu odiava tempestades, tinha medo do quão poderosa ela parecia e do quão pequena eu me tornava diante dela.
Sentindo o lençol da cama frio ao meu lado eu suspirei, Christian já havia levantado. Eu e ele namorávamos há pelo menos dois anos, eu o conheci em um dos encontros de trabalho da minha amiga Sophia.
Além de melhor amiga ela é parceira de apartamento, nós dividimos um apartamento juntas desde o nosso primeiro ano de faculdade quando nos conhecemos em meu pior momento da minha vida.
Fui ao meu banheiro, lavei o rosto e sorri mais uma vez diante do espelho, não era o emprego que eu queria, muito menos os dos meus sonhos, mas iria segurar as pontas por um instante e Deus sabe o quanto eu estava precisando.
Caminhei em direção a cozinha e estranhei quando encontrei Chris e Minha amiga conversando aos sussurros enquanto ela chacoalha a mamadeira da Camille, filha da minha amiga que tem apenas seis meses.
Desde quando ela apareceu grávida me fez jurar que eu não a pressionaria sobre o Pai de Camille, e eu amava a minha amiga e claro jurei e inclusive disse que a ajudaria sempre que precisasse.
– Bom dia – anunciei a minha presença, Chris se afastou imediatamente dela e foi até a pia onde largou sua xícara de café.
– Bom dia pra quem? – Indagou Chris de modo grosseiro, o sorriso que anteriormente estava em meu rosto foi se desfazendo pouco a pouco, eu sabia que não demoraria e voltaríamos no mesmo assunto, mas eu achei que não era tão cedo.
– Poxa Chris fica feliz por mim eu arrumei um emprego depois de me formar – eu disse indo em sua direção, mas ele se afastou, olhei para a minha amiga envergonhada, eu sentia vergonha de mim mesmo quando ele me tratava assim na frente dela, o que de um tempo para cá vem se tornando recorrente.
– Não me chama de Chris – ele disse e mais parecia um rosnado – por que você não vai atrás da sua vó? – ele gritou e eu me assustei recuando alguns passos, por um instante fiquei com medo de que fosse me bater – mas não, ao invés disso prefere se humilhar e me humilhar limpando merda do filho dos outros, o que os meus amigos vão pensar? Como vou apresentar você para eles? O que eu direi? Essa é a minha namorada que adora limpar merd4 de criança?
– Chris, você e eu não estávamos atrasados para o trabalho? – minha amiga disse me ajudando a acalmá-lo, eles trabalhavam juntos e ele se tornou chefe do departamento na empresa ah uns seis meses e o seu comportamento comigo tem mudado, mas ele e minha amiga se entendiam ambos eram arquitetos, quando ele dormia aqui oferecia uma carona para ela que deixava a pequena Cami comigo e há uma semana passou a frequentar a creche.
Ele apenas concordou e sumiu da cozinha, eu pedi desculpas a minha amiga pela grosseria dele e por ter feito a bebê chorar e fui para o meu quarto onde eu o encontrei, antes de vê-lo eu limpei algumas lagrimas que banhavam o meu rosto.
– Pode me dar uma carona? – eu disse e ele me encarou de um jeito estranho, tão decepcionado que eu senti uma pontada ainda maior em meu coração.
As vezes eu sentia que ele tinha nojo ou pena de mim, não sei dizer ao certo, e quando eu estou prestes a terminar a relação quando vejo que ele não está contente comigo o seu comportamento muda.
Ele foi totalmente contra quando eu disse que recebi uma ligação para ser babá, eu fiz faculdade de literatura o que não ajuda muito a ganhar dinheiro e a conseguir um bom emprego, isso segundo ele. Antes de conhecer o Chris eu amava literatura e parecia está vivendo um sonho, mas agora esse sonho parece perdido. Porém sigo acreditando que uma hora o pensamento dele mude e a gente volte a ser feliz como no começo.
Os três saíram e eu fui me arrumar, o que ele queria que eu fizesse era impossível, eu nunca poderia ir atrás da mulher que antes eu acreditava ser a minha vó, infelizmente não é, eu queria que fosse, não pelo dinheiro, mas para só então ter alguém que eu possa chamar de família.
Eu queria que o meu namorado aceitasse o meu novo emprego, queria que ele olhasse em meus olhos e falasse que estava orgulhoso de mim, não era em uma revista ou em uma escola, mas eu só esperava que a criança que eu cuidaria já tivesse na fase de ensino, eu só concordei com o emprego visto que as contas estavam chegando e não me deram nenhuma informação.
A casa era linda, moderna, e de muito bom gosto, enorme, eu chutaria que teria no mínimo uns dez quartos. Estranhei quando o segurança só verificou a minha bolsa e me mandou seguir depois de perguntar onde estava minha mala, eu disse que não havia uma, ele franziu a testa mas não disse nada. Ninguém veio me receber, eu fui entrando e a medida que eu me aproximava eu ouvia gritaria e no fundo um choro alto de bebê.
Eu seguia a passos curtos, e quando eu cheguei no que parecia ser a sala tudo estava um caos, havia um casal brigando ofensas e gritos e um bebê gritando chorando desesperado em um carrinho e quando ele estava perto de cair eu corri para tentar impedir a queda.
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Obra Nova, fico feliz em ter vocês aqui para mais um livro ❤️🎉
Não esqueçam de favoritar 💜🌻
Tessália
Assim que eu me aproximei percebi que o bebê era uma linda menininha, por ter a pele tão branca estava completamente vermelha de tanto chorar.
– Shii, calma, vai ficar tudo bem – eu disse enquanto a acalentava em meus braços, o seu choro era um choro tão desesperado que fazia o meu coração doer, fingi não ouvi a gritaria que nos rodeava e me concentrei só em passar um pouco de conforto a ela – eu estou aqui meu amor.
– O que você esperava? – uma voz estridente gritou histérica, olhei na direção do casal que brigava, ela batia em seu peito enquanto o homem tinha um sorriso cínico – você sabe que todas elas querem você, querem o meu marido e porque você da confiança? Custa me respeitar pelo menos no nosso ciclo de amigos?
– E você me respeitou alguma vez na sua vida Megan? – disse irônico – eu mal sei se essa menina que você quis tanto ter é minha mesmo.
No mesmo instante que disse isso ela o acertou com um tapa em seu rosto, os dois ficaram se encarando como se um fosse atacar quem piscasse primeiro.
- Você me transformou nessa mulher que eu sou hoje e sabe muito bem que Bella é sua filha – disse ela e o homem apenas concordou e quando foi se virar para sair só então o casal notou que a criança estava chorando, ou melhor agora ela apenas soluçava de tanto que já havia chorado.
- quem é você? – ele perguntou e a mulher ao seu lado franziu o cenho
- é a nova babá? – indagou ela e eu apenas concordei
- Que ótimo, uma muda – ele disse – não se preocupe querida, essa você não vai precisar demitir por dormir com o chefe – ele disse e se afastou saindo batendo a porta.
- Onde está, Tildes? – indagou e eu não sabia dizer a quem se referia
- desculpe senhora, eu não conheço – disse e a criança em meu colo queria voltar a chorar
- Por que essa menina está vermelha? – indagou confusa, meu Deus, eu não acredito, será que em meio a confusão não perceberam que a criança estava chorando desesperada e ia caindo? – não importa, procure a Tildes ela é a governanta da casa e vai te informar o que fazer a respeito de Bella.
- tudo bem senhora – acenei e ela me encarou dos pés a cabeça, eu estava com uma bota sem salto, um jeans e uma blusa de manga comprida e com o meu casaco que eu ainda não havia tirado. Ela se aproximou e a pequena bebê se atracou em meu pescoço, como pode ter essa reação a respeito da mãe?
- Fique longe do meu marido – ela disse rosnando praticamente em minha cara, arregalei os olhos e apertei o corpinho do bebê, eu estava com medo, ela era alta e me intimidava com suas unhas de garra apontada para o meu rosto – depois que Bella dormir só use a porta que liga o seu quarto ao dela, nada de andar pelos corredores a noite, eu conheço vocês e sei como agem, não tente passar por cima de mim ou eu passo por cima de você.
- Po.opoporque e.e.eu sairia no corredor a noite? – indaguei assustada e confusa.
- você mora aqui durante a semana, ou achou que foi contratada para não fazer nada? – disse e se afastou sem me dá tempo para questionamentos – vou receber umas amigas, não deixe essa criança chorar.
Ela disse e com isso saiu batendo os saltos, eu fiquei sem saber para onde ir e o que fazer, mas a criança em meu colo voltou a chorar, pela hora provavelmente é fome, mas eu não sei a idade da criança e nem o que toma ou o que pode tomar.
- E agora Tess? No que você se meteu? – resmunguei e foi nesse momento que eu me apaixonei, pois a linda bebê em meus braços me abriu um sorriso encantador, tão pequena e já vive em meio a discursões e sem amor.
- Oh graças a Deus – ouço alguém dizer e me viro de uma vez – eu já estava preocupada que não ouvia gritos e nem choro – disse uma senhora vindo em minha direção – eu sou a Tildes, a governanta da casa, pelo menos agora vou voltar a ser, já levou as suas malas para o quarto?
- mala? – indaguei e a mulher ficou confusa – na entrevista não disseram que eu precisaria morar no emprego
- Eu dobro o seu salário, mas pelo amor de Deus me ajude – disse ela e em seguida ouvimos uma risada escandalosa, provavelmente a senhora Megan estava ao telefone – essa não, festa com as amigas.
- alguma coisa assim – confirmei sobre o que eu ouvi a mulher falando – a senhora pode dizer sobre o que eu tenho que fazer?
- Me diga seu endereço vou pedir para pegar as suas malas – ela disse apontando para um lugar e eu a segui, descobri ser a cozinha.
- senhora, eu ainda não sei se vou poder ficar a noite – eu disse e ela parou de caminhar e me encarou dos pés a cabeça.
- Olha criança – disse após a sua revisão – para você estar aqui provavelmente precisa de dinheiro sabendo que o mercado de emprego está ruim, se sua duvida for por causa de namorado, esqueça – disse fazendo um sinal de tanto faz com as mãos – nessa casa você vai aprender que a vida funciona como novela turca, todo mundo mente, todo mundo trai. Eu te pergunto vai deixar um emprego e um salário excelente como esse por causa de homem? – indagou eu ainda estava assustada com as suas palavras, tanto que nem foi possível responder – isso mesmo que eu pensei, agora vamos ao trabalho.
Ela disse voltando a andar, não vi uma alternativa a não ser segui-la. Mas eu discordava, existia sim amor verdadeiro, eu acreditava na confiança, no felizes para sempre. E essa casa e seus problemas não me fariam mudar de opinião.
Tessália
o dia estava tranquilo, até as amigas da senhora Byron chegar, as mulheres eram tão escandalosas quanto a própria Megan, eu estava esperando a pequena Bella dormir para só então falar com o meu namorado.
Tenho certeza de que Chris ficará chateado, mas como ele tem o apartamento dele e está trabalhando muito, eu preciso do dinheiro espero que ele me entenda, quero juntar dinheiro para o nosso futuro, eu quero me casar, ter uma casa própria, filhos quando chegar a hora.
- Vamos dormir princesa? – disse quando comecei a ninar Bella em meu colo, acariciando os seus ralos cabelos loirinhos como os da mãe, do pai ela não havia puxado nada, se bem que eu não prestei atenção no senhor Damon Byron. ela resmunga em meu colo mais no fim acaba dormindo enquanto eu canto uma canção que a minha mãe cantava para mim. o seu cheirinho de bebê logo me fez lembrar de Cami.
Com cuidado coloquei a bebê em seu berço, o seu quarto é quase o tamanho do apartamento que eu moro com Sophia, eu ainda não tive coragem de ver o quarto em que eu ficarei, talvez dentro da minha mente, eu não vi com medo da resposta negativa de Chris.
Mas como eu posso deixar uma criança indefesa sozinha nessa casa maluca? Onde ela não conhece carinho, amor, onde não tenha ninguém que vá interceder por ela? Não consigo, o meu coração já se apegou a ela, e eu não seria eu se a deixasse.
- O que Foi Tess, eu estou trabalhando agora – Chris disse assim que atendeu o telefone na minha segunda tentativa – ligou para desistir?
- por favor Chris não vamos brigar – pedi e ouvi somente o seu suspiro – eu não sabia que a vaga era para a semana toda.
- é claro que é para a semana Tess, pelo amor de Deus, não acredito que não sabe que as pessoas trabalham de segunda a sexta – debochou e eu me entristeci
- você não entendeu, a vaga é para morar na semana no emprego – confessei e ficou tudo silencio, depois ele gargalhou.
- Tá de brincadeira comigo Tessália? – rosnou e eu estremeci – saia daí e vá para casa
- Eu não posso – neguei encarando a pequena bebê que ressonava baixinho em seu berço – você não vive dizendo que precisamos de dinheiro para nos casarmos?
- Você pode conseguir isso indo falar com a sua vó, reclamar a sua herança – rosnou ele mais uma vez e eu fechei os olhos, porque ele e Sophia não acreditam quando eu digo que eu não tenho direito a nada porque eu não faço parte da família?
- eu não posso Chris – disse e ele falou alguns palavrões e desligou a chamada, limpei algumas lagrimas que deslizaram por meu rosto e me levantei segurando a baba eletrônica fui até a cozinha – senhora Tildes
- Diga – disse ela sem me encarar enquanto anotava alguma coisa em uma agenda.
- Bella está dormindo, a senhora pode ficar com ela enquanto eu vou pegar a minha mala? – pedi e a mulher me deu um olhar mortal e eu me encolhi, em seguida olhou para o relógio e suspirou
- Sebas – gritou e um rapaz apareceu
- sim senhora Tildes – disse ele rapidamente
- Leve a garota e a traga o mais rápido possível – ela disse e estendeu a mão, lhe entreguei a babá eletrônica e ela me puxou – não peça para ninguém da casa fazer o seu trabalho, você é bem paga para isso, todos os funcionários aqui estão ocupados com o próprio trabalho.
- ma.mamais eu não tive culpa senhora – gaguejei e a mulher me soltou, o que aconteceu com a senhora boazinha que me recebeu?
- Eu sei, e só por isso estou deixando você ir – confessou – uma hora, vá.
Sebas foi o mais rápido que podia e eu o mais rápido que eu consegui peguei algumas mudas de roupa, fiz tudo com lagrimas nos olhos, eu estava em um impasse, eu sabia que o bebê não ficaria sem ninguém, mas outra pessoa poderia lhe dar carinho? Lhe trataria com amor? ela é apenas uma bebê de seis meses que merece um mundo recheado de amor e eu pretendia dar isso a ela enquanto eu pudesse.
Por outro lado, estava o meu namorado, eu também não podia deixar que um namoro de quase dois anos se acabasse assim de repente, eu acreditava que a fase em que estamos é só pelo estresse que a nova promoção no trabalho teve, ele queria muito isso e está em estado de experiência, eu devo apoiá-lo e não o estressar mais.
Estou subindo as escadas com uma mala pequena quando sou agarrada pelos braços, um braço quente e grande me prende contra um corpo maior ainda, quando eu olho para cima encontro olhos lindos e escuros, mas tão vazios que me causa um arrepio
- No seu primeiro dia já está se engraçando com os funcionários? – o senhor Damon Byron disse com uma voz grossa baixa e potente, me estremeci por inteira e ele me soltou com calma, mas como sou atrapalhada ia caindo tropeçando na minha própria mala – o seu único dever aqui é cuidar da menina, você está aqui para trabalhar e não se pegar com os meus funcionários, entendeu?
- Si.si. – gaguejei abaixando a cabeça, eu mal conseguia o encarar.
- Fale, sim senhor – exigiu – eu não quero que a mulher que cuide da minha filha seja uma qualquer
-Não diga uma coisa dessas senhor Byron – pedi com a minha voz falha – eu não sou esse tipo de mulher, eu apenas fui pegar a minha mala – eu disse e apontei a mala, o seu olhar recaiu sobre ela e ele a encarou por um momento
- Vá, com a gritaria a menina já acordou – ele disse e se afastou, quando eu me virei encontrei sua esposa no primeiro degrau da escada me encarando lá debaixo, ele passou por ela sem dizer nada, ela apenas me encarou com raiva e virou as costas.
- Por Deus, quem são essas pessoas? Onde eu me meti? – indaguei a mim mesmo lutando contra as lagrimas que se juntaram em meus olhos.
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