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Não Nasci Para Ser Vilã

Céu ou inferno?

Faz algum tempo que estou viciada na trilogia lua de sangue, hoje na volta para casa comprei o terceiro volume de saga. Cheguei em casa, colocou a comida para esquentar e já comecei a ler na mesa mesmo assim esperando esquentar. Eu não posso dormir tarde hoje, amanhã preciso sair às sete para apresentar meu trabalho final do curso. Bem, mas uma página a mais não vai matar, né?

Eu caí novamente no meu golpe do "só mais uma página. Não sei nem que horas dormi. Acordei confusa, peguei o celular para olhar a hora. Me desesperei. Eram sete horas. Eu já deveria estar saindo. Levantei, apenas troquei de roupa e prendi meu cabelo. Não tinha tempo para mais nada. Tentei pedir um Uber, mas não consegui nenhum carro. Corri alguma quadras, não morava tão longe da universidade, estava na esperança de chegar no horário.

Aliás, esqueci de me apresentar, me chamo Heloise, tenho 24 anos e estou terminando medicina. Sim, essa garota que está correndo desesperada pelas ruas, sem tomar banho e com os cabelos parecendo um ninho de passarinho, está prestes a se tornar uma médica. Também não acredito. Pelo menos, essa era a ideia, mas para isso eu preciso chegar na faculdade a tempo.

Já podia ver a universidade, o sinal estava amarelo para atravessar na faixa. Se eu correr com toda certeza dará tempo. Sem pensar muito sobre isso, corri na faixa, quando já estava passando da metade, senti o livro caindo da minha bolsa, acabei me agachando para pegar.

Tudo aconteceu tão rápido, ao mesmo tempo parecia em câmera lenta. Ouvi o som das buzinas, o freio do carro, senti meu corpo voando, o cenário passando por mim, por último, um grande impacto no chão. Não demorou muito, várias pessoas ficaram ao meu redor. Uma delas tentava falar comigo, mas eu não conseguia entender o que dizia e muitos menos dizer nada.

Acho que estou morrendo, casa vez os barulhos estão ficando mais baixos, meu cor mais dormente. No fim, não consegui chegar a tempo, na verdade, nem cheguei. Também não me tornei médica. Ao menos, terminei de ler a última edição da lua de sangue, mesmo que o final tenha sido tão ruim para a vilã, tão injustiçada. Se eu tivesse no lugar dela, teria feito tudo diferente.

Onde eu estou? Tudo é tão claro. Quase não consigo enxergar. Será que aqui é o céu? Não sei se eu merecia vir ao céu. Pelo menos é um lugar mais calmo, eu imaginava o inferno tipo uma micareta, muito barulho, gente por todo canto, muita putaria e todo mundo suado. Talvez eu tenha vindo para o céu mesmo.

— Heloise! — Ouvi uma voz longe. Ela ecoava por todo lugar. Era um pouco assustador.

— É Deus? Ou o chifrudo? Se for o chifrudo, nem conheço essa tal de Heloise. — Não estava brincando, Deus era onisciente, o capiroto não, vou dar bobeira de entregar minha identidade de mão beijada não. Ouvi uma risada.

— A partir de agora, você não se chamada mais Heloise. Será Luna. Estou ansiosa para saber como você pretende mudar um destino já escrito. Estarei assistindo ansiosa os seus resultados. — A voz parecia um pouco feminina, mas parecia cada vez mais longe.

— Eu não entendi... — Respondi olhando ao redor buscando alguém, mas não havia nada. Era apenas um enorme espaço branco e brilhoso. Se isso for o céu, parece um pouco tedioso.

Senti um buraco se abrindo abaixo de mim, quando me dei conta já estava caindo lentamente em algo que mais parecia um túnel. Ao redor parecia que minha vida estava passando pelos meus olhos, via imagens recortadas da infância, da adolescência. Parecia uma recordação de como tudo foi difícil. Viver em um orfanato durante toda vida. Estudar dobrado para conseguir bolsas e destaque. Tudo sempre foi difícil. Em minhas melhores lembranças sempre estava lendo um livro. Era assim que eu conseguia fugir da minha dolorosa realidade. Para uma órfã, que nunca teve família ou amigos, os livros eram meus maiores companheiros.

As imagens logos mudaram, agora um bebê aparecia, ele era ruivo, tinha olhos verdes. Logo surgiu uma menina. Estava cercada da família e de amigos. Tinha lembranças sempre sorrindo. Parecia que era a vida de alguém abençoado. Que inveja. Eu queria ter uma vida assim. Repleta de pessoas para amar e ser amada.

Não sei em que momento adormeci, mas quando acordo estava em um quarto totalmente desconhecido. Eu consegui sobreviver aquele acidente? Será que tudo aquilo foi apenas um sonho? Olhando ao redor, aquele cômodo estava repletos de móveis vintages. Se eu sobrevivi, não deveria está em um hospital? Tentei me levantar, mas me senti fraca. Voltei a me sentar. Me virei para o lado das janelas, parecia um enorme jardim, com lindas flores e um chafariz enorme.

— Onde diabos eu vim parar? — perguntei ao notar que nunca tinha sequer vindo em um lugar assim. Não deveria existir algo assim no meio da capital. Será que eu morri? Aqui é o céu?

Eu sou Luna Rubrum?

— Onde diabos eu estou? — Acordei totalmente desnorteada. Em um quarto que nunca vi na minha vida. Quanto mais eu pensava, tentava lembrar, menos fazia sentido.

— Luna! Meu Deus! Você acordou! Vou chamar a todos. — Uma mulher na casa dos seus sessenta anos gritou ao me ver sentado na cama. Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ela sumiu.

Em poucos segundos, o quarto estava lotado de gente. Todos pareciam aliviados e preocupados ao mesmo tempo. E eu sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo. Como todos me conheciam e eu não conhecia ninguém?

— Senhorita Luna, se me der licença, irei te examinar. Você passou muito tempo inconsciente. Quero avaliar se está tudo bem.— Um homem vestido de branco disse, suponho que seja um médico.

— Claro, só tem um probleminha, meu nome é Heloíse, não Luna, acho que está havendo alguma confusão aqui. E quem são vocês mesmo? — Falei percebendo que todos estavam me chamando de Luna.

Ao dizer isso, o silêncio se fez e os sorrisos de alegria se desfizeram, mas por pouco tempo, logo começaram vários cochichos. Será que isso é um sonho? Pesadelo? Bem, isso explica as roupas de época que todos estão usando. Ninguém conseguiria usar um vestido desse no Brasil, em pleno verão, morreria de calor em pouco tempo.

— Senhorita Luna, qual a última coisa que se lembra? — O médico me perguntou, insistindo ainda em me chamar de Luna.

— Que eu estava atrasada para minha apresentação, estava correndo e a última coisa que me lembro foi ver tudo girando e várias pessoas ao meu redor — Expliquei. Quando mais eu falava, mais desespeadas as pessoas ao meu redor ficavam.

— Aí Meu Deus! Minha pobre filha! Será que foi amaldiçoada? — Uma mulher ruiva gritou abraçando um homem alto.

— Querida, mantenha a calma. Vamos esperar que o médico diga o que exatamente está acontecendo. Talvez não seja nada grave — O homem alto, de cabelo preto me olhava preocupado enquanto consolava o que acredito que seja a mulher dele.

— Luna, você sofreu um acidente, caiu de um penhasco. Acredito que a queda tenha sido forte até mesmo para você. Talvez esteja alucinando um pouco ou misturando a realidade com algum sonho que teve enquanto estava dormindo. Também pode ser uma espécie de amnésia. Teremos que avaliar nos próximos dias — O médico disse enquanto escrevia algo em um caderno.

— E o que vamos fazer doutor? — A mulher ruiva gritou.

— Deve ser algo passageiro. O impacto foi grande. Tenho absoluta certeza que logo ela voltará ao normal. Apenas fiquem de olho. Ela deve está misturando as memórias com sonhos. Com o tempo ela deve saber distinguir as verdadeiras memórias dos sonhos. — O médico disse — Aqui está as medicações que ela deve tomar e os horários. Qualquer coisa podem me chamar. E Luna, você ganhou uma segunda chance, segure ela com toda sua força. Não desperdice.

— Certo. — Sorri sem entender exatamente o que tinha acontecido. Eu tenho certeza que não me chamo Luna, meu nome é Heloísa. Estou sonhando, certo?

— Luna, mamãe e papai estão com você, certo? Vamos cuidar muita bem. Vai ficar bem. — A ruiva disse me abraçando forte.

— Você tem o sangue dos lobos mais forte dentro de você, minha querida e única filha. Só precisa de um tempo para mente ficar em ordem. Vou pedir para organizarem uma festa para comemorar sua volta. — O homem gritou saindo por fora animado. Ele disse sangue de lobo?! Que viagem é essa?

— Querido, espera! Ela ainda não está totalmente curada. Não é hora de fazer uma festa. — A ruiva corria desesperada — Carmem, organize um banho para ela. Seus cabelos já estão em um estado caótico. Tomem cuidado com ela.

— Sim, rainha. — A senhorinha que havia visto antes de todos concordou com o comando. Ela acabou de chamar ela de rainha?

— Licença, onde eu estou? — Perguntei tentando compreender do que se tratava tudo aquilo.

— No reino de Ungues, princesa. — Carmem respondeu se aproximando de mim. — Você não se lembra de nada? Nem dos seus pais? Absolutamente de nada?

— Você acabou de me chamar de princesa? — Questionei um pouco apavorada. O único reino que conhecia chamando Ungues era do livro lua de sangue. Ele era totalmente fictícia.

— Sim, princesa. Você não se lembra disso? Você é Luna Rubrum, princesa do reino de Ungues. A nossa maior esperança e orgulho — Carmem explicou me ajudando a levantar.

Luna Rubrum, é a princesa do reino de Ungues, uma loba poderosíssima e mais importante, a vilã do meu livro preferido, Lua de sangue. Eu só posso está sonhando. Devo ter levado a senhora pancada naquele acidente.

— Quantos anos eu tenho? Quais os nomes dos meus pais? Em que ano estamos? — perguntei com um misto de sentimentos. Não sabia o que pensar.

— Princesa, a senhorita tem 17 anos. Sua mãe se chama Samantha e seu pai Clóvis. Creio que estamos em 1700. — Carmem respondeu me deixando surpresa. Que tipo de pessoa sonhava com tantos detalhes? Será que estou impressionada por ter lido o livro ontem? Por isso, estou com esses sonhos.

— Tenho irmãos? — Questionei para confirmar.

— Theodoro e Bernardo, são gêmeos, ambos com 20 anos. — Carmem disse me direcionando ao banheiro, mesmo que tentasse parecer calma, parecia preocupada.

Tudo estava batendo, os nomes, época, o lugar. Tudo. No livro " Lua de sangue ", Luna Rubrum era uma mimada princesa, que tinha toda a sua família aos seus pés, mas no fim, acaba perdendo todos e até a si mesma em nome de uma vingança. O final do livro é uma tragédia, onde Luna acaba morta nas mãos dos seu ex-noivo.

— Senhorita, irei pegar um vestido para senhora. Creio que seu noivo deve está vindo. Você ficou desmaiada por cerca de um mês, ele te visitou todos os dias, se sentindo culpado por não conseguir impedir sua queda. — Carmem explicou. Eu tive uma crise de riso. No livro, Luna realmente se machucava e passava um mês em coma, mas o culpado foi realmente seu noivo, ela o flagra aos beijos com uma de suas amigas de infância. Se enfurece e perde o controle de si, virando uma loba e partindo para cima de sua amiga. — Você está bem, princesa? Podemos deixar para tomar banho depois.

Estávamos na frente do espelho, quando me olhei, não acreditei. Meus cabelos eram longos, ruivos, até a cintura, totalmente encaracolados. Minha pele era branca como a neve e meus olhos pareciam duas esmeralda. Eu paralisei ao me olhar no espelho.

— Eu sou Luna Rubrum? — Perguntei ao ver meu reflexo no espelho. O que está acontecendo aqui? Que tipo de sonho bizarro esse?

Pisando no traidor

Tomei um banho bem demorado. Estava sempre atrasada para alguma coisa, nunca dava tempo para relaxar assim. Faltavam horas no meu dia sempre. Era uma banheira enorme, não sei como, mas a água estava na temperatura ideal e haviam diversas flores na água. Como não relaxar assim? É a vida que todo mundo pediu a Deus.

— Senhorita, você precisa sair. Seu noivo já está chegando, tem que se arrumar para ele. — Carmem disse. Nem nos meus sonhos eu deixo de estar atrasada para algo?

— Acabei de acordar. Não posso rejeitar educadamente encontrar com ele? — perguntei ainda dentro da banheira. Queria curtir um pouco dos mimos desse sonho.

— Claro que não pode. Ele é o príncipe de outro reino. Temos que tratar com respeito. Ainda mais, se tratando do príncipe dos vampiros. É perigoso criar um atrito com eles — Carmem explicou assustada.

— Tudo bem. — Concordei. Era um sonho. Não quero iniciar uma guerra. Vamos aproveitar a paz até eu acordar.

Carmem me colocou em um longo vestido azul marinho. Ele se destacava em mim. Eu me sentia uma princesa, na verdade, naquele momento, eu era uma princesa. Enquanto eu rodava meu vestido na frente do espelho, vi pelo reflexo Eliott entrando. Não tinha dúvidas que era ele. Era exatamente como a descrição do livro, loiro, olhos azuis, com um sorriso lindo e um caráter totalmente questionável.

— Minha querida princesa Luna, vejo que acordou mais radiante que nunca. Está belíssima. — Elliot disse segurando minha mão. O sorriso dele era de quem havia aprontado e estava aliviado que nada havia acontecido comigo. Era tão babaca quanto no livro, mas era lindo. — Te trouxe algumas flores. Fiquei muito triste ao saber que está com amnésia e confusão mental.

— Acho que você não me viu radiante assim, porque estava ocupado olhando para minha amiga. Eu dispenso as flores. Guarde para colocar no meu caixão quando você me matar. — Respondi. Eu sei. Era um sonho, mas sempre quis que Luna desse essa resposta para Elliot.

— Querida Luna, você deve está mesmo com suas memórias confusas. Como eu poderia olhar para alguém além de você? — Elliot sorria para mim. A cara nem ardia.

— Está dizendo que eu me confundiu? Então você não beijou a boca de Beatriz? Quando me viu enlouquecidas de ódio na forma de lobo não me atacou? Me jogando de cima do penhasco para salvar a vida de sua amada? Tudo isso é uma confusão da minha cabeça? — Perguntei e Elliot ficou da dor de papel, seu brilho sumiu totalmente em questão de segundos.

— Luna, nada disso aconteceu. Você apenas está confusa. — Elliot insistiu. Ele não parecia nada com um herói. Seu caráter vibrava como um vilão. Nunca entendi a escolha do autor em escolher ele, o traidor e sem escrúpulos como herói

— Você sabe que eu não vou ficar confusa para sempre, certo? Insisti nessa mentira deslavada só me deixa ainda mais irritada. Porque não admite logo o babaca sem caráter e infiel que você é? Vai querer mesmo enfiar goela a baixinho essa história? Sabe que vou acabar te desmascarando, será ainda pior. — Se ele quer jogar negando, vou continuar enfiando a faca. Ele negará e eu continuarei pressionando.

— Hey! Isso é mesmo necessário? e

Eu sei que errei. Não te ataquei de propósito. Foi uma reação natural. Uma defesa. Não estava protegendo ela e nem queria te ferir. Ao te ver chegando perto, como forma de lobo, foi instintivo. Sabe que uma mordida é fatal para nós lobisomens, certo? — Elliot parece ter pensado bem nessa desculpa.

— Tudo bem. Explicado sua tentativa de homicídio contra a princesa do reino. Agora, sobre a traição? Também esqueceu por alguns minutos que era noivo? Que estava para casar em alguns meses? Ou será que confundiu ela comigo? — Na história, Luna não bate de frente com Elliot, apenas finge que não viu. Prefere até mesmo fingir amnésia. E o maldito noivado segue.

— Foi um deslize, certo? Eu estava um pouco carente, com fome e ela ofereceu seu pescoço. Acabei caindo na tentação, nunca mais vai acontecer. Foi apenas a fraqueza de um homem inocente e faminto. Compreenda, foi apenas por necessidade. Totalmente carnal. Não houve sentimentos. — Elliot sorria novamente. Parecia um político pedindo voto ou um marido ao ser pego com um caso. Era até cômico.

— Se depender de mim, não vai mesmo. Agora, tenho que pedir que o senhor se retire. Eu preciso descansar. Não sei se ficou sabendo, mas eu quase morri de uma queda de um penhasco. Ah! Claro. Você soube. Foi quem me empurrou. — Olhei nos olhos dele. Era irritante saber que alguém tão cruel e dissimulado como ele, se tornaria rei.

— Entendi. Te darei um tempo para digerir tudo que aconteceu. Eu sei que você irá pensar bem. Sabe tudo que está em jogo. Não adianta fazer essa tempestade toda, o fim, você sabe, teremos que nos casar de qualquer forma. Não vale nem mesmo a perda de tempo — Elliot não consegue mesmo manter o personagem de mocinho por muito tempo.

— Sim, sim. Agora pode ir. Não precisa voltar tão cedo. — É só um sonho. Não preciso me preocupar com nada disso.

— Voltarei em uma semana. Espero que já tenha se acalmado. — Elliot me olhava sério. Como se eu fosse a errada da história. Tive uma crise de riso olhando para cara dele.

— Qualquer coisa você me joga novamente do precipício, da próxima vez posso passar mais de um mês quietinha, se você tiver sorte, posso até mesmo dormir para sempre. — Brinquei. Acho que Elliot não gostou da brincadeira. Fez careta e saiu.

— Até parece. Eu não teria essa sorte. Como disse, na fim, eu terei que casar com você por conta do maldito pacto. Então para com todo esse drama. Nada vai mudar. Não dificulte ainda mais a minha vida. — Elliot disse antes de sair irritado porta a fora.

— Está achando que sou a princesa Diana para aceitar a traição calada, apenas acenar e sorrir. Me poupe. Por mim, faço da sua vida um inferno e queimo a porcaria do pacto. Não sou o tipo de pessoa que você quer irritar. — Ameacei. Não importa o quanto eu pense. Ninguém merece ter que se casar com alguém como ele.

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