"Bianca
Estou em um galpão velho, as únicas luzes aqui são as naturais que entram pela janela acima.
Sinto o meu corpo todo molhado; olho ao redor e vejo vários cortes por todo o meu corpo, estou a usar roupas feitas do meu próprio sangue que cobre totalmente todo o espaço em que eu estou.
Estou presa em uma cama; minhas mãos e pés estão amarrados com cordas e meu corpo já está todo dolorido das pancadas que já levei.
E eles não param.
A cada cinco minutos, um deles vem e me dá uma chicotada ou belisca com o alicate.
Estou aqui nesse sofrimento há pelo menos 3 dias, conto pela quantidade de vezes que a luz do dia claro se torna escura.
Aos poucos, começo a sentir que meu corpo já sofreu tantos danos que as dores são o que menos importa; o mais importante agora é sair viva desse lugar.
Meu corpo entrou em analgesia induzida, meu cérebro parou de mandar sinais de dor.
É como se eu já estivesse morta; só falta meu coração parar de bater e eu fechar meus olhos.
— Vamos cortar alguma parte do corpo dela, vamos mandar empalhar para guardar de recordação?
— Você está maluca? Precisamos acabar com ela, não podemos deixar nenhuma prova de que ela esteve aqui conosco.
— Eu gostaria de ter um pedacinho dela, para me lembrar da amiga burra que eu tive.
Ela começa a gargalhar, e eu sou obrigada a ouvi-los falando de mim como se eu não estivesse aqui.
— Então, vamos desfigurar o rosto dela, fazer alguns cortes para que ninguém a reconheça.
— O corpo dela será queimado, Ingrid. Para que perder tempo com cortes?
— Ah, Caleb, só alguns para diversão. Pare de ser chato.
Ela para bem na minha frente, mostra a faca que vai usar para desfigurar meu rosto e fica brincando com ela, trocando-a de mão para mão, rindo como uma psicopata.
Olho para ela, o desgosto me consome, aquela dor no peito de saber que fiz tudo por ela e olhe como ela retribui.
— Não me olhe desse jeito, Biazinha. Não estou fazendo isso sozinha; estou aqui com seu cunhado, que também já fez muitos 'dodóis' em você.
Ingrid era minha melhor amiga desde pequena; estudamos na mesma escola. Mesmo meus pais sendo ricos e a mãe dela sendo mãe solteira e faxineira na escola, eu sempre estive ao lado dela.
Minha família a acolheu, ajudou muito ela e a mãe, e eu entreguei meu coração a ela.
Pelo meu lado, éramos as melhores amigas.
Não sei quando ela mudou de repente. Uma hora ela era minha irmã, agora está aqui ajudando meu cunhado a me matar.
— Caleb, dentes não queimam no fogo, né?
— Não, Ingrid. Não queimam. Teremos que arrancá-los assim que o corpo estiver frio.
— Então, por que não arrancamos agora?
Fecho meus olhos; não posso acreditar que ela vai fazer isso comigo. O que fiz para ela me tratar assim?
Sinto ela tocando meus lábios; viro o rosto para o lado para que ela não possa acessar minha boca.
Mas sinto meu rosto queimar quando olho para ela; a ponta da faca está manchada e na ponta há uma gota de sangue.
Ela aperta minhas bochechas para tentar me fazer abrir a boca, e estou tão fraca que não consigo mantê-la fechada por muito tempo.
— Ingrid, é melhor deixar isso para depois. Estou esperando as ordens do chefe para dar um fim a essa história. Não aguento mais ficar aqui, ela já está fedendo, você está fedendo e eu odeio cheiros ruins.
Meu cunhado Caleb, irmão gêmeo do meu marido Carlos Heitor, foi ele quem me trouxe para esse fim de mundo com Ingrid.
— Ok, então vamos brincar um pouco com ela.
Sinto alívio ao vê-la se afastar, e fecho os olhos.
Abro-os ao sentir coisas andando pelo meu corpo; ela soltou uma ratazana com seus filhotes em cima de mim.
Ela só faz isso porque sabe que eu tenho medo de ratos.
Começo a chorar desesperadamente, me debato na mesa e faço essas criaturas nojentas saírem de cima de mim.
Recebo um soco na barriga, perto do estômago, o que me deixa sem ar por alguns segundos.
— Por que você está fazendo isso comigo Ingrid? Eu nunca fui mal com você, porque está me rasgando toda?— falo com dificuldade.
— Porque você não merece tudo o que tem. Eu merecia ter nascido na sua posição, ter tudo o que você tem. Mas a vida foi injusta comigo. Nem sequer um pai eu tenho. Então, minha amiga linda, estou sendo injusta com você também. E fica quieta que eu ainda estou só começando.
Ela passa a faca novamente pelo meu rosto, me desfigurando ainda mais. Sinto como se o meu mundo estivesse desmoronando completamente, me pergunto por que eles não me matam logo. Por que ela está fazendo isso comigo se tudo o que ela quer é o meu marido? Era só me matar e ser feliz com ele.
Mas por que me torturar? Me machucar? Não sei onde mais ela pretende cortar em meu corpo; até minhas costas foram alvo de suas brincadeiras perversas.
De repente, ela joga um balde que, inicialmente, pensei que continha água, até sentir meu corpo inteiro queimar e o forte cheiro de vinagre e sangue invadir minhas narinas. Isso está sendo de mais para mim, quero entender onde foi que eu errei, o que eu fiz para eles.
Mas nada, nada passa pela minha cabeça, não me lembro de ter sido uma pessoa ruim com nenhum dos dois.
Sinto que minha vida está desmoronando aqui. Todos que achei que estavam ao meu lado estão me traindo, e aqueles que não estão aqui, não sei se estão me procurando.
Não sei onde está Heitor, não sei onde está meu pai, nem mesmo meus colegas de trabalho.
Vou sair viva daqui e me vingar de cada um deles. Tanto os que me colocaram nessa situação quanto aqueles que não fizeram.
Bianca
Desperto de repente, estou na minha cama, estou suada. Isso foi um sonho? Não posso acreditar. A Ingrid jamais faria isso comigo, e nem o meu cunhado também. Os dois demonstram há muito tempo que são meus amigos. Como pude sonhar assim com eles?
Mas foi tudo tão realista, que parecia que eu realmente estava vivendo aquele momento, eu senti as dores como se fosse real. como isso é possível?
Levanto-me da cama e vou fazer a minha higiene matinal. Depois, desço para tomar café da manhã. Eu e o Heitor estamos noivos, e faltam poucos dias para nós casarmos.
Isso é tudo que eu mais quero, ser sua esposa e viver junto com ele para sempre. Pois para mim, um casamento só é válido quando se amam e ficam velhinhos para sempre.
Chamo-me Bianca da Costa Silva. Tenho 24 anos. Tenho a pele moreno, e os cabelo castanho escuro, tenho um corpo bonito depois das academias que eu comecei para criar corpo, antes era bem magrela, digamos, desnutrida.
Minha mãe morreu em um acidente de carro, e moro com meu pai. Ele é dono de uma empresa de advocacia muito respeitada aqui em São Paulo. Meu pai é promotor, e eu sou advogada de defesa.
Sou uma pessoa amorosa, faço amizades facilmente, converso com todo mundo. Não sou tímida; pelo contrário, eu falo mais do que as pessoas podem suportar.
Sou meiga, amo versos, poesias e um bom livro de romance. Sim, sou do tipo romântica.
Carlos Heitor também trabalha na empresa. Ele é advogado criminalista. Eu e ele já estivemos juntos em um tribunal. Às vezes eu ganho, às vezes ele ganha. Muitas vezes as provas que ele apresenta são tão convincentes que eu desisto de defender o cliente.
Namoramos há 2 anos. Sempre o chamei de Heitor; acho esse nome mais bonito. Este ano, ele me pediu em casamento, e, como uma boba apaixonada, aceitei me casar com ele.
Ele tem romantismo, mas não é sempre. Talvez por ser homem, não curte muito meus momentos melosos. Mas, às vezes, acaba cedendo ao meu romantismo.
A Ingrid e eu somos amigas desde os tempos de escola. Como tínhamos poucos recursos, pedi ao meu pai que pagasse a faculdade dela para que pudéssemos ficar sempre juntas.
Ela se especializou em advocacia familiar, uma escolha dela. Assim, seguimos trabalhando na empresa do meu pai.
Apesar de meu pai sempre ter ajudado a Ingrid, ele não gosta muito dela. Todas as vezes que eu pedia para dormir na casa dela, ele nunca deixava. No entanto, deixava ela dormir comigo em casa. Sempre pensei que fosse ciúmes de pai, que não queria deixar sua filhinha dormir nas casas dos outros. rsrs.
Heitor tem um irmão que tentei apresentar a Ingrid, mas ela é tão chata que não quer sair com ele. Diz que o vê como um irmão e não como um homem. Ela acredita que ainda encontrará o amor da vida dela.
Chego à empresa e vejo um homem olhando para mim de longe. Seus olhos parecem penetrar minha alma. Mesmo à distância, sinto um arrepio na espinha.
Olho para trás para ter certeza de que ele está olhando para mim. Quando olho para ele novamente, ele simplesmente some.
Me benzo com medo. Deus me livre, só falta ele ser o anjo da morte vindo me buscar.
Entro na empresa, e meu pai já mandou me chamar. Subo até a sua sala e vou direto para o abraço.
— Filha, seu casamento está chegando, e eu quero te dar um presente.
— O que seria, pai?
— Quero te dar o pingente da sua avó e também a passagem para a sua lua de mel. Espero que você seja muito feliz no seu casamento.
— Pode ser para o Nordeste? Quero conhecer alguns lugares como Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais...
— Pode sim. Escolha um desses lugares ou quer visitar todos?
— Vou pensar, rsrs.
Ele me dá o colar com o pingente que era da minha avó e que passou para minha mãe. Quando nasci, ela pediu ao meu pai para me dar quando eu me casasse.
Abraço-o e, como já é hora de trabalhar, vou para a minha sala.
Separo as papeladas, os casos urgentes e os menos urgentes. Até a porta se abrir e revelar o meu amor.
— Oi, amor. Vim te chamar para sairmos hoje. O que acha?
— Vamos para onde, amor?
— Beber e curtir. Quero que passemos um tempo juntos. Faz tempo que não saímos juntos, né?
— Isso porque da última vez você não foi tão carinhoso, e eu fiquei com a minha xaninha machucada.
— Serei carinhoso desta vez, prometo.
Concordo, e como vamos primeiro nos divertir em algum lugar, concordo em sair com ele.
Logo vamos nos casar, e então não precisaremos mais sair escondidos.
Não nos beijamos, e antes que o calor tome conta do meu corpo, ele sai da minha sala e diz para eu esperá-lo na hora da saída.
Abro a pasta e vejo o caso de uma mulher que está lutando para se livrar da culpa de ter matado o marido. Ela alega agressões da parte dele e que agiu em legítima defesa. Já dou início ao processo dela, e marco a data do julgamento.
Saio da minha sala com tudo relacionado ao caso dela.
Chego ao estacionamento e, antes de entrar no carro, vejo o homem parado, olhando para mim novamente.
Entro no carro às pressas, porque agora fiquei com medo de quem ele possa ser.
Dirijo para casa com os olhos dele na minha mente. É como se ele quisesse falar comigo. Será que ele quer?
Faço um retorno e vou até o local onde o vi. Desço, procurando-o por todos os lados.
Sinto meu coração palpitar rápido. Quando me viro, dou de cara com ele.
— O que você quer de mim?
— Eu só quero te ajudar, Bia. Vai ficar tudo bem, ok?
Vou recuando. Não preciso de ajuda de ninguém. Volto correndo para o meu carro e saio dali. Deus é mais, estou fora desse cara maluco.
Bianca
Chego em casa e não olho para ninguém. As palavras daquele homem martelam na minha mente, como se ele ainda estivesse aqui falando comigo.
Tomo um banho e vou me deitar. Preciso esfriar a minha cabeça, preciso dormir, amanhã estará tudo bem.
Deve ser o nervosismo. Estou a dois dias do meu casamento e entrar um homem estranho que me olha de um jeito diferente me deixou assim.
Fecho os meus olhos e logo caio no sono.
— Vamos cortar a língua dela, vai ser melhor assim, sabia? Será uma coisa a menos para queimar dela.
Estou presa a esse sonho mais uma vez? Eu preciso acordar com urgência, sei que a Ingrid não faria isso comigo.
— Não, eu quero ouvi-la chorar, gritar, mandando a gente parar. Se você cortar a minha dela, ela pode morrer antes. E além do mais, não ouviremos a canção da dor. Agora se aquiete, estamos só esperando o sinal para terminar isso aqui.
Ela sobe em cima da cama e começa a pisar na minha mão. A dor que eu sinto é como se tudo isso fosse real, não parece um sonho, parece que eu realmente estou vivendo isso.
Ela aperta forte e seu salto atravessa a minha mão. Eu grito de dor.
— Pare com isso, Ingrid! Você é a minha melhor amiga, por que está fazendo isso comigo?
— Melhor amiga? Hahahahah, parece que a patricinha se esqueceu do que aconteceu antes de ela vir para cá. Não somos nem mesmo colegas, Bianca. E hoje será o seu fim, e tudo o que é seu será meu.
Ela fala com um sorriso maligno nos lábios e torce o salto, que ainda está cravado na minha mão, me fazendo gritar até ficar rouca.
Eu não sei quantas vezes eu ajudei a Ingrid na vida. Várias vezes, as meninas do colégio implicavam com ela, e eu a trouxe para o meu lado, para que ninguém nunca mais mexesse com ela. E como eu era a querida da escola, todos começaram a respeitá-la também.
No dia em que pegaram ela com um menino no banheiro da escola, fazendo uma sacanagem lá, tiraram várias fotos. Eu fiz todos recolherem tudo, juntamos tudo e queimamos no fundo da escola. Deixei claro que esse assunto não voltaria a se repetir, que estaria encerrado ali.
Não entendo, não consigo me lembrar do que aconteceu antes de chegar até aqui. E gostaria de saber para poder pedir desculpas a ela, se eu fiz alguma coisa.
Mas nem ela me fala, e nem eu lembro.
Ela se abaixa, olhando nos meus olhos com um olhar de fúria, de ódio. E eu sinto que fiz algo errado com ela.
Ela sorri e me dá um murro no meu nariz...
Acordo novamente em desespero.
Eu preciso conversar com ela, saber o que eu fiz para estar sonhando com essas coisas.
Depois da minha higiene, ligo para ela e marco de tomarmos café juntas. Ela confirma e marcamos na lanchonete aqui do centro de São Paulo mesmo.
Eu chego primeiro, depois de uns cinco minutos ela chega, com o pescoço marcado de uma chupada.
— Eita, que a noite foi boa, hein?
— Pior que foi, foi incrível, e acho que estou apaixonada.
— Quem é? Eu conheço?
— Claro que não, foi... Um homem de uma balada que eu conheci.
— Uau! Mas eu te chamei aqui para a gente conversar. Faz tempo que não fazemos isso assim, só nós duas.
Ela sorri e pega a xícara, colocando na boca. Começo a perguntar para ela o que ela acha da nossa amizade e ela responde que nunca encontrou uma amiga igual a mim. E que até mesmo morreria por mim se fosse preciso.
Vejo que esses sonhos então são tudo balela, coisa da minha cabeça mesmo.
Saímos de lá, indo direto para a empresa.
E todos aqui estão em festa. Meu pai acabou de receber a ligação. Foi promovido a juiz e ele está tão alegre.
Vou correndo ao encontro dele e o abraço, felicitando-o. Já a Ingrid, nem chega perto dele, mas dá os parabéns de longe.
Depois da comemoração, cada um vai para sua sala. Até porque o trabalho não dá pausa.
Pego um caso de uma mulher que se divorciou do marido e ele não quer pagar a pensão das crianças. Esse caso não é meu e sim da Ingrid.
Me levanto, indo até a sala dela. Quando eu abro a porta, o Heitor está lá.
Nem na minha sala ele foi me cumprimentar. Mas por que ele veio para cá?
— Oi, amor. Eu já ia passar lá para falar com você, só vim verificar um caso com a Ingrid que era urgente.
— Tudo bem. Ingrid, caiu na minha mesa um seu processo de divórcio.
Entrego para ela e ela sorri, pegando da minha mão.
Eu e o Heitor saímos da sala e vamos para a minha.
— Amanhã serei a sua esposa.
— Sim, amanhã rsrs.
Ele me beija, acariciando meu corpo por cima da roupa enquanto eu seguro em seu pescoço.
Ele me levanta, me colocando em cima da minha mesa, aproximando os nossos corpos.
Mas a porta se abre e a Ingrid entra.
— Desculpa, eu só queria dizer que parece que é o seu cliente Heitor, que está querendo dar o fora de pagar a pensão.
— Já conversei com o senhor Marrone, ele diz que só vai pagar a pensão depois do exame de DNA.
— Sim, mas na hora que ele estava com ela na cama, não pensou em DNA. Agora quer só para não pagar?
Heitor parece ficar irritado e fala para ela sair em um tom ríspido. Diz que conversarão com o cliente dele depois.
Ele sorri para mim e diz que amanhã me tornará a mulher dele para sempre. E ninguém poderá nos separar.
Tão fofo ele. Eu o amo tanto, mesmo que às vezes ele seja bom e mau ao mesmo tempo.
Não vejo minha vida sem ele. Ele é tudo que eu tenho de mais precioso na vida.
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