A agente especial Sylvia Cariús sentia-se trêmula em seu primeiro dia na Mega Star Talentos & Entretenimento LDTA. Não tinha muito talento para atuar, no entanto, fizera algumas aulas de interpretação durante seu curso para entrar na academia policial. Isso ajudaria, certamente.
Desde que voltou para o Brasil tem mantido bem seu disfarce, se fazendo passar por sua irmã, Alana Cariús. Não demoraria muito até começar a descobrir toda verdade sobre o que acontecera com ela.
Alana Cariús havia sido assassinada, Sylvia tinha certeza, por isso não acreditava em nada que aqueles tabloides mentirosos diziam. Precisava de provas e iria encontrá-las. Sua jornada rumo à verdade estava apenas começando.
Não descansaria até vingar sua irmã. Nada era mais simportante do que isso.
Tudo estava saindo como combinado, e todos já estavam convencidos de que ela era Alana. Eram praticamente idênticas. Lembrar da irmã fez seu coração pesar de saudade. Ainda não acreditava que ela tinha morrido tão jovem.
Quem fez isso pagaria com a própria vida.
O diretor Maurício Soares entrou no estúdio de gravação. Ele era um homem alto e magro, de cabelos lisos e tinha uma elegância no modo de andar, do tipo acostumado a ter suas ordens obedecidas sem questionamentos. Soares segurava uma taça em sua mão. Fez sinal para que o cameraman ligasse a câmera e se preparasse para gravação. Começariam em instantes.
Sylvia concentrou-se no que tinha que fazer e mudou sua postura.
Agora não sou mais uma agente do serviço secreto, sou Alana Cariús, uma atriz ansiosa para brilhar. Só preciso agir de um jeito engraçado e tímido como minha irmã. Acho que não será difícil.
— Sou o diretor Maurício Soares, seja bem vinda, Alana — disse ele parando de frente para ela — Antes de qualquer coisa já vou lhe dizer como trabalho. É simples: se quiser ser uma atriz de sucesso em minha agência, basta fazer o que eu mandar. Não me desobedeça, saiba seu lugar e seu serei gentil com você. Acha que pode fazer isso?
— Claro, diretor Soares, farei o que me pedir. — ela ainda tremia ansiosa.
— Ótimo! — disse ele satisfeito enquanto agitava a bebida em sua taça — Pode me chamar de Maurício, apenas. Espero que tenha lido o script e se preparado para esse momento. Vou contracenar com você.
Do outro lado, o cameramen faz um sinal dizendo que tudo já está pronto.
— Onde está Erick? Achei que meu teste seria com ele.
— Ele não virá agora — respondeu Soares — Isso faz diferença?
Droga! Achei que ia passar a cena com Erick, o ex-namorado de minha irmã. Precisava fazer algumas perguntas a ele. Preciso disfarçar antes que o diretor perceba meu descontentamento.
- Hahahaha... — Alana começou inesperadamente. O diretor Soares e o cameraman trocam um olhar curioso, sem entender o que estava acontecendo. Talvez fosse a ansiedade liberando a boba sem noção que havia dentro dela. Acontecia com algumas atrizes, era uma forma de aliviar a tensão.
Erick Fernandes havia dito ao diretor que ela não batia muito bem da cabeça.
— Acho que ela está ficando louca! — disse Soares ainda perdido. Alana se debatia em gargalhadas feito uma criança.
Ela finalmente parou.
O homem por trás da câmera ajustou o aparelho.
— Teremos um resultado excelente, diretor Maurício. Ela enquadra bem nesse ângulo — falou o cameramen parecendo empolgado — Nunca gravei uma mulher verdadeiramente louca antes. Isso vai ser legal!
Levantando-se do sofá, Alana Cariús caminhou feito uma modelo desfilando e parou em frente à câmera. Ela estava muito bonita, usando seu vestido branco, os cabelos bem penteados descendo sobre os ombros. Quase se convenceu de que de fato era a irmã.
— Sou muito grata a vocês por terem me dado essa oportunidade. Poderia me dar um pouco de seu champanhe, diretor Maurício?
Ele estende a mão, entrega a taça com o champanhe para Alana.
— Mas é claro, eu peguei especialmente pra você — disse ele educadamente — Vai ajudá-la a relaxar. Presente de Erick.
Alana pegou a taça da mão de Maurício e bebericou um gole.
— Prometo que me esforçarei o máximo. Seria muita ingratidão com meu ex-namorado se não der o melhor de mim em uma performance maravilhosa — comentou Alana sorrindo — Ele me disse que você era exigente, diretor, e que eu conseguiria corresponder às suas expectativas. Espero que seja verdade.
— Eu também — disse o diretor.
*Oscriptera simples de fazer. O diretor Soares faria o papel de um mafioso que prendera uma agente especial da Interpol. Eles discutiriam e ela sacaria uma arma contra ele. Os diálogos seriam improvisados*.
O teste começou. Luz, câmera, ação!
SOARES — Todo seu esforço contra mim será inútil. Você não pode escapar desse lugar, não importa quantas tentativas faça. Não seja louca e poupe esforços inúteis.
Alana coloca a taça sobre a mesa. A bebida fazia parte da cena, mas ao invés de água como estava escrito, o diretor Maurício optara pelo champanhe que Erick presenteara, causaria mais impacto visual, segundo o Erick lhe dissera.
ALANA — Quem disse a você — ela saca um par de algemas e uma pistola magno 44 debaixo do vestido a aponta na direção de Maurício — que pretendo escapar? Não antes de matar você!
Ela atira e o festim passa rente à cabeça de Soares. Ela joga as algemas no chão e mira na direção dele novamente.
ALANA — Dessa vez não vou errar! Sua vida de crimes termina aqui, agente Soares.
MAURÍCIO — Pare! Não faça isso, sua louca!
Quando ela estava prestes a disparar, o diretor abriu os braços.
— Corta, corta! — disse Soares colocando a mão na frente do rosto, suando por quase levar um tiro de festim no rosto — Não é pra atirar de verdade, tá maluca? Foi por pouco! Onde aprendeu a atirar desse jeito?
— Não sei o que deu em mim, diretor! Me sinto diferente, eufórica, parece que vou explodir!
*Se eu te contasse quem sou, você não acreditaria, seu diretor bobão. *
— Mulheres — ele sai da frente da arma apontada em sua direção — Vamos para a próxima cena. Me dê essa arma, Alana, agora!
No apartamento de Sara Lins, o ator Erick Fernandes vestia-se para sair. Precisava ir à agência do Diretor Soares para saber como foram as coisas com Alana Cariús.
Considerou que talvez o diretor tivesse sucesso em dar um jeito nela e fazê-la desistir dessa coisa de ser atriz.
— Não queria que fosse embora, Erick — disse Sara virando-se na cama para fitá-lo — Fique um pouco mais comigo.
— Não posso, preciso, saber o que está acontecendo.
Ela se levanta e senta na cama. Está usando uma camisola branca de seda.
— Alana acredita que seu papel na série será importante, mas a pobre coitada não sabe que só haverá uma vaga de figurante para ela. A menina é mesmo estupidamente inocente. Na verdade ela nem deveria estar viva.
— Fiz o que fiz para tirá-la do seu caminho, Sara. Quero que você seja a estrela principal. Daremos outro jeito nela, eu prometo.
— Você não acha que ela pode acabar seduzindo o diretor Soares e colocá-lo contra nós?
— Não é o estilo de Alana. Se bem que ela está diferente agora, mais ousada. Não se preocupe com isso. Concentre-se em estudar o roteiro.
Sara segurou na mão de Erick.
— Como está se sentindo com isso? Você quer mesmo vê-la sofrer? Quando ela souber da verdade, não irá perdoá-lo.
— Você é aquela que amo, Sara — disse ele fazendo um carinho no rosto dela — além disso, ela já estava desconfiada de nós antes mesmo de acontecer o incidente no estúdio. Não preciso do perdão de Alana, apenas que desapareça de nossas vidas.
— Você está falando do dia em que ela flagrou nos beijando?
— Isso!
— O que vai acontecer depois, digo, quando ela descobrir tentou tirar a vida dela?
Erick pensou por um instante antes de responder.
— Não vai acontecer nada — ele respondeu, finalmente — Me livro dela, você assina o contrato, fica famosa e seremos felizes e muito ricos.
Sara Lins sorriu maliciosamente. Gostava de ver o quanto seu amante era determinado em estar com ela.
— Você é um homem sem coração, Erick Fernandes! Acho que só eu posso suportar o que você faz.
— Sabe que faço isso por você, meu amor — ele a toma nos braços — Só apresentei Alana ao diretor Soares porque ele precisava de uma atriz amadora para a figuração. Ele queria alguém de confiança, que eu conhecesse. Em troca, prometeu me deixar escolher a atriz do papel principal. Foi assim que consegui a personagem pra você.
Sara Lins sentiu-se lisonjeada pelo gesto amoroso de Erick, porém, estranhamente diabólica. Além de dormir com o namorado de Alana Cariús e tramar a morte da garota, ainda fazia com que a rival se esforçasse o máximo em sua atuação para um papel que não poderia ter, sem saber que ela, Sara, é quem estava escalada.
Tratou de expulsar essa sensação estranha. Acreditava que o mundo era dos espertos, e pessoas como Alana Cariús infelizmente estavam na parte de baixo dessa pirâmide.
Pensou em pegar seu celular e mandar uma mensagem para Alana, atormentando-a por sua infeliz situação. Mas, desistiu da ideia. Isso seria jogar baixo demais.
Erick pegou o blaser em cima do sofá e o vestiu.
— O diretor Soares me mandou uma mensagem dizendo que Alana perguntou por mim. Acho que quer me ver. Ela se recusa a aceitar o fato que me deve um favor, já que fui eu quem a indicou ao diretor.
— Ela e uma teimosa sem noção! — disse Sara claramente irritada — Devia abandonar essa ideia de ser atriz, não tem a menor chance. Será que nunca vamos conseguir tirar essa mulher do nosso caminho?
— Não precisa ficar brava. Ela nem vai estar lá, eu acho. Maurício me disse que ia criar dificuldades até que ela desistisse do papel. Espere por mim, anjo — disse Erick abrindo a porta. — Volto logo para você!
Quando abriu a porta da agência naquela tarde, Erick Fernandes deu de cara com Alana Cariús, sem perceber que ela estava sentada no sofá das estrelas.
Ela trazia à mão a taça de champanhe que o diretor Soares lhe dera horas antes.
Somente atrizes contratadas para papéis importantes se sentavam naquele lugar para assinar contratos ou beber um café com o diretor. Era como que um ritual artístico, um código sagrado entre a equipe de talentos.
— Lamento, mas preciso ser sincero com você, Alana — disse ele parando perto da porta — Estou cansado de dizer a você que esse negócio de atuar não é sua praia. Por que não tenta outra coisa? Achei que nem estaria mais aqui!
Alana abriu um sorriso esnobe ajeitando os cabelos para destacar sua beleza. Ao ver Erick novamente, voltou a se perguntar o que a irmã tinha visto naquele imbecil.
Ele continuou:
— Então, antes que você me incomode com aquele papo de que esse é seu sonho e blá blá blá, … — quando percebeu onde Alana estava sentada, Erick tomou um choque que o fez cair de joelhos — O que… o que está acontecendo aqui?
Ele pensou: O diretor deve ter feito algum acordo com ela e não me avisou. Alana não deveria estar nessa sala, muito menos nesse sofá. Somente Sara pode se sentar ali.
— Saia já daí, Alana Cariús, sua usurpadora! — gritou Erick avançando nela.
Imediatamente o diretor Soares e o cameramen entram na sala ao perceberem que algo estava errado. Eles seguraram Erick contra a parede.
— O que pensa que está fazendo? — disse o cameramen segurando os braços do ator.
— O que você quer comigo? — protestou Erick perplexo. Ele tropeçou no próprio pé e caiu sentado. Uma dor percorreu toda suas costas.
— Segure ele com força — disse o diretor Soares inclinando-se sobre Erick.
— Espere um minuto, Maurício. O que aconteceu, por que está fazendo isso comigo? Pensei que fôssemos amigos.
O cameramen segurou o rosto de Erick Fernandes com força e abriu sua boca. Soares pegou a taça de champanhe da mão de Alana e virou o conteúdo na boca de Erick.
Ele quase engasgou tentando colocar pra fora, mas foi obrigado e engolir tudo para não sufocar. O champanhe estava com um gosto estranho. Talvez fosse o gosto da droga que havia colocado na garrafa.
Alana se levantou do sofá e caminhou até onde seu ex-namorado estava caído, detido pelo diretor Maurício Soares e seu assistente.
— Meu querido Erick, você me deu um grande presente e é claro que vou retribuir. Acha mesmo que não sei o que estavam tramando contra mim? Tentou me drogar? Você e sua cachorrinha de estimação, Sara Lins são mesmo patéticos!
Erick arregalou os olhos assustado.
— Como você ousa? — protestou o ator tentando se soltar.
Alana Lins pisou no peito dele com seu salto nº 15. O rosto do rapaz esboçou uma pontada de dor. Sentia-se irritada com a dissimulação de Erick. A imagem de sua irmã falando o nome dele na filmagem do prédio na noite em que ela morreu fazia o sangue de Sylvia ferver de ódio. Sabia que ele era capaz de trair Alana com outra mulher, o que já estava comprovado.
O que não esperava era que fizesse a irmã de idiota, uma pessoa que um dia tanto confiou nele. Alana não merecia o que recebeu, era uma pessoa boa.
Minha irmã sempre falava bem de você, seu verme maldito.
— Está me ameaçando? Eu não faria isso se fosse você… o último homem que me ameaçou desapareceu sem deixar rastro — disse ela, apertando a ponta do salto contra o ombro dele.
— O que tinha nessa bebida que vocês me deram?
— Não sei, me responda você! — disse o diretor Soares — Lembre-se que foi você quem trouxe a garrafa e me pediu para que servisse um pouco para Alana. Ela quase teve um surto depois de tomar aquilo.
— Agora, vamos fazer um teste para você também — disse Alana Cariús com um tom perverso — Prendam ele na parede e liguem a câmera. Vamos ver como ele se sai no papel de traidor — ela deu um tapinha no ombro de Erick — Seus planos maldosos contra mim não deram certo, mas acredite, farei pior com você.
— Alana, o que houve com você? Como se tornou tão má? — indagou Erick sem entender.
Sylvia estava orgulhosa em conseguir interpretar tão bem o papel da irmã. Estava dando certo, nenhum deles sequer desconfiou.
Talvez um dia ganhasse o Oscar que queria: a cabeça desses traidores numa abandeja.
Os dois homens levantaram Erick Fernandes do chão e o colocaram de pé contra a parede. Com cordas, prenderam seus braços para cima e o diretor Soares começou a espancá-lo.
Erick Fernandes não sabia porque Soares estava fazendo isso com ele, já que eram amigos de infância. Cursaram a faculdade de artes juntos e frequentavam a casa um do outro. Alguma coisa Alana havia feito para que ele mudasse de lado.
Os temores de Sara Lins se confirmaram. A ex-namorada era bem mais esperta do que pensavam, mas nunca tinha visto esse seu lado. Alana parecia outra pessoa, estava mais pra uma psicopata do que para a menina doce e gentil que ele conheceu. Pensou que talvez o trauma da traição tivesse mudado sua personalidade.
O cameramem filmava enquanto Erick era esbofeteado contra parede. Sangue começou a escorrer do seu rosto, pingando no carpete azul marinho da sala.
— Espero que esteja gostando do teste — disse Alana com o gosto doce da vingança enchendo sua alma. — Em seu novo papel de traidor, vai apanhar até morrer!
— Me soltem! — gritou desesperado Erick Fernandes. Mas ninguém podia ouvi-lo.
Hoje à noite, ele não jantaria com Sara Lins.
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