Chego em casa exausta,deito no sofá velho e rasgado,respiro fundo,e sinto um minuto de alívio ao saber que Abner não está em casa,sei exatamente onde ele está,mas com certeza não quero nem saber a que horas ele chegará.

Desisti de advinhar,no momento em que isso deixou de ser uma coisa preocupante.

Me levanto e vou para o banho,lavo toda a gordura e suor do meu corpo magro,meus cabelos estão desapontados e sem vida,minhas unhas estão curtas e sujas,por lavar as chapas e panelas da lanchonete,eu queria poder trocar de trabalho,mas infelizmente não tenho com quem contar,todo o dinheiro que Abner ganha, é para a beberrice dele.

Estive muitos anos implorando para que ele parasse,algo que não aconteceu,em vez disso ele me deixou com um hematoma no queixo,que nem maquiagem cobria,se bem que, com o valor pago só poderia ser uma marca bem inferior,daquelas que craquelam ao menor esforço.

Me troco e deito com minha pequena,ela tem 3 anos,e vive assustada,Abner,diz que ela tem algum problema psicológico porque não para de chorar,eu já acho que o problema seja ele.

Adormeço,e acordo ao amanhecer,sinto o calor do sol em minhas costas,me levanto,faço café,arrumo a marmita de Abner,mesmo não tendo certeza de que ele irá hoje.

Dou banho na pequena Melanie,café da manhã e a troco para a escolinha.

A melhor coisa que eu poderia ter feito por ela,foi matricula -la em um colégio,ela se desenvolve bastante.

Tomo um banho,me troco,penteio o meu cabelo em um rabo de cavalo,e me olho no espelho.

Estou muito magra,minhas calças estão horríveis,meus olhos grandes demais para meu rosto,não reconheço a pessoa que me encara,passo meu desodorante e meu perfume barato e saio do banheiro,quando dou de cara com Abner.....

Onde você pensa que vai assim Magnólia?

Assim como Abner?

Toda arrumada, perfumada...

Trabalhar,já são 07:45 da manhã,você simplesmente apagou dentro do carro,após uma noite toda bebendo!

Não foi a noite toda Nono

Eu simplesmente odiava ser chamada por esse apelido,no começo era algo carinhoso,mas com o passar dos anos,isso me dava frio na espinha.

Ok,Abner,eu preciso levar a Mel para a aula,e preciso chegar ao trabalho em menos de 35 minutos,então,tem café pronto,sua marmita está feita,e eu atrasada.

Passo ao lado dele,que me puxa pelo braço e me prensa na parede desbotada da nossa velha casa.

Deixa a Mel em casa hoje,vamos dormir,amanhã você vai trabalhar,mas hoje,quero ter esse corpo....

Não! Eu preciso trabalhar Abner,estamos quase sem comida,nossa filha precisa de leite,e eu já faltei semana passada pra levá-la ao médico!

Abner fecha a cara,leva a mão ao meu pescoço,aperta e diz:

Se eu apenas desfiar,que você está me traindo,eu mato você! Mato nossa filha primeiro e depois mato você.

Me solta Abner,eu não estou fazendo nada disso,apenas sustentando nossa família.

Eu sei,só queria ter certeza disso, responde ele sorrindo,aquele cheiro de álcool me embrulha o estômago,ele me solta e eu saio apressada,pego a mochila de Mel,minha bolsa e saio em disparada.

Entro no carro,e tomo meu caminho,olho pelo espelho e vejo meu pescoço marcado e vermelho,pego um lenço no banco de trás e faço uma amarração,ainda bem que combina com meu uniforme.

Deixo Mel no colégio e vou ao trabalho.

Mag oieeeee,grita Selma,minha melhor amiga da vida toda.

Magnólia!Não! Eu não acredito nisso!Diz ela puxando meu lenço e vendo as marcas no meu pescoço.......

Mag!Larga o Abner amiga! Vem morar comigo e com o Marcos.

Sel,eu...Eu...não posso!

Porque não? Amiga! Esse cara não merece nem respirar o mesmo ar que você!Olha!Olha oque ele fez com você!

Selma me vira de frente para o espelho e me deparo com um corpo sem vida,um olhar vazio e hematomas no pescoço.

Meus olhos enchem de lágrimas,então ela me abraça e diz :

Amiga,escuta,eu tenho tanto medo por você,eu amo você,desde que sua mãe faleceu,eu tenho sido a sua família,eu sei oque você se tornou,e isso me adoece!Por favor! Larga o Abner!

Nesse momento,Senhor Pedro,entra no hall de funcionários e diz:

Mais demonstração de afeto vindo do Abner, Magnólia?

Não, é que eu...eu...cocei e ficou assim vermelho,então eu vou usar um lenço hoje, respondo envergonhada.

Tô bom,desde que não seja algo fora do tom,vira as costas e sai andando.

Mag,você não deveria guardar suas gorjetas no armário,isso é perigoso.

Prefiro ser roubada ao dar um centavo para o Abner se embebedar.

E oque você está pretendo fazer com isso?

Quero comprar um carro pra mim,ou pelo menos dar uma entradinha,tem dias que eu não posso usar o carro dele,por causa do trabalho,e isso me dificulta muito com a neném.

Entendi,vai dar certo amiga,você vai conseguir!Agora vamos por essas bundinhas magras pra trabalhar! Diz ela sorrindo.

Magra só a minha,a sua não é não hahaha, respondo alegre por estar com quem realmente me ama.

Ela me abraça pelos ombros e diz:

Pois é,e olha que você sempre foi corpuda,lembra no ensino médio.....E começou a contar da vez que um dos namoradinhos dela,elogiou meus quadris,e o quanto ela ficou brava e enciumada....

Trabalhei o dia todo,e quando são 19:40 recebo uma ligação, é de Abner.

Alô?

Magnólia,vem pra casa agora!

Abner,eu estou trabalhando,não posso sair assim,a Mel já jantou?

Esse é o problema,ela já comeu,já dei suco e ela não para de chorar!

Abner!Ela está com sono,apenas deite ela na cama dela e a deixe lá,ela vai se acalmar e vai dormir.

É,mas até dormir,vai ficar chorando na minha cabeça!

Preciso desligar Abner,até mais tarde,e desligo,coloco o celular no silencioso e continuo a trabalhar.

Saio do restaurante,as 00:00 em ponto,me despeço de Selma,entro no carro velho de Abner e vou pra casa.

Quando chego,vejo ele jogado no sofá,apagado,com várias latas de cerveja ao lado,eu entro devagar,olho em volta,vou para o quarto da minha filha e a vejo dormir.

Entro no banho,saio enrolada na toalha,e dou de cara com Abner,parado na porta do quarto com algumas notas de dinheiro na mão,ele está contando-as,olho para o lado e vejo que ele pegou da minha bolsa.

Abner! Não! Esse dinheiro é pra comprar leite e frutas para a Mel!

Cala a boca Magnólia!

Abner! Por favor! É para o alimento da nossa filha!Digo e no mesmo minuto me arrependo.

Abner vira a mão,com toda a força no meu rosto,eu cambaleio e caio sentada,minha bunda dói,eu seguro o rosto,ele vem em minha direção,e me puxa pelos cabelos.

Agora você vai calar a boca,não te perguntei nada,eu quero beber pra esquecer a choradeira que essa menina fez,e você não colabora.

Ele me joga em cima da cama,puxa minha toalha,eu me encolho e ele sorri.

Se bem que,eu posso me esquecer de tudo isso se você me dar uma ajuda.Diz ele subindo em mim, e abrindo o botão da calça.

Não Abner,eu não quero!

Qual a novidade nisso Nono?Você nunca quer,mas advinha,eu mando em tudo isso,em você,na casa,no carro,em tudo!Grita ele em meu ouvido,eu começo a chorar porque sei oque vem pela frente,Abner entra em mim rispidamente,me deixando enojada,ele olha em meus olhos e vê lágrimas,então ele sorri e entra mais rápido,morde meu ombro,e eu sinto a dor invadir meu corpo, enquanto fico imóvel.

Seria mais agradável e bom,se você não fosse essa pedra de gelo,não demostra nem um pouquinho de reação,só chora,seja amável e eu não precisarei te invadir! Diz ele entrando e saindo.

Eu apenas continuo,a respirar e chorar.

Não tem motivo pra chorar Magnólia,estou fazendo algo bom para nós dois! Diz ele em meu ouvido,como não respondo,ele aperta meu pescoço e me dá três socos seguidos na costela,eu me encolho de tanta dor,e não consigo respirar,então sacudo os pés,ele afrouxa e derrama em mim.

Eu o empurro e saio correndo para o banheiro,e lá,eu vômito tudo oque comi,e choro de soluçar.

Quando saio do banho,ele já não está mais em casa.

Sinto tanto alívio, tanta vontade de sumir,mas não posso,penteio meu cabelo,faço uma mamadeira para Mel e vou para o quarto dela,me deito e adormeço.

Ouço passos e vozes no corredor,e risadas estridentes,percebo que são de mulher,Abner coloca uma música alta demais e acorda mel que resmunga.

- shiiiiiiii,tá tudo bem filha! Vamos brincar de cabaninha.

Deitamos e tento dormir novamente,ouço alguns barulhos no quarto,e pra falar a verdade nem ligo,por mim ele pode dormir com quem quiser,desde que não seja comigo,amanhã preciso retornar ao postinho, novamente com a mesma história,pra poder fazer os exames e tomar pílula do dia seguinte.

Adormeço e acordo com o sol quente no quarto de Mel.

Eu a arrumo,arrumo sua mala e coloco ela sentada no sofá vendo tv.

Vou até o quarto e preciso perguntar a Abner,se posso pegar o carro.

- Abner? Abner!

- Oque você quer Magnólia?Já sei,não quero saber de cobrança sobre ontem a noite,eu dormi com aquela loira peituda sim,você não faz oque é sua obrigação e eu tenho que procurar na rua!

- Eu só queria saber se posso pegar o carro hoje ou você vai precisar?Digo baixinho.

Ele olha em meu rosto e por alguns segundos acho que vejo algo em seu olhar,pena?

- Pode! E vê se esconde isso com maquiagem; Diz ele,virando para a parede.

Saio do quarto e vou ao banheiro,tento esconder com maquiagem todos os roxos,a bofetada que ele me deu pegou em cheio perto da minha boca e está super roxa.

Então,eu simplesmente escondo como da e saio para levar Mel no colégio.

Vou ao postinho e tomo todos os remédios e faço exames,mais uma vez a médica fala da importância em denunciar violência doméstica,e diz que em uma cidade não tão próximo,existe um abrigo para mães que sofrem abusos.

Pego o cartão e guardo no bolso,agradeço e vou trabalhar.

Chegando lá,todo o mesmo de sempre,tive que contar,pulando algumas partes,e Selma me oferece novamente sua gorjeta da semana para eu ir embora, agradeço e a abraço,mas ela simplesmente aperta em cima do meu machucado.

Selma é mais rápida que eu e ergue minha blusa,arregala os olhos e diz:

- Já chega!Pega suas coisas e sua filha e vai embora!

Conto a ala sobre o abrigo,e ela me apoia a seguir em frente,e faz questão de me dar o dinheiro todo dela,fico sem graça mas acabo guardando.

Passo o restante do dia pensando nisso,em como seria bom eu tentar novamente,e dar uma vida boa e tranquila a Melanie.

No final do dia já estou decidida a seguir em frent,recolho todas as notas e coisas do meu armário,e vou para dentro do carro, respiraro fundo e vou lembrando de tudo oque passou.

Entro em casa e está da mesma forma que deixei,e nossa filha está dormindo e nem sinal de Abner.