...Flashback...
HELENA POV
Eu estava sentindo umas dores e sabia que aquilo não era normal.
— Lena, por favor, me atenda.
A dor só aumentava e comecei sangrar, consegui me arrastar até o banheiro ainda esperando a minha melhor amiga me atender, fechando os olhos e respirando fundo.
— Gabi? Desculpa não atender antes, a fila do mercado estava grande, daqui a pouco...
Helena retornou a ligação e começou a se explicar parando na hora que ouviu o meu grito.
— Gabi? Você está bem? Onde está?
— Doí, Lena.
Falei tentando acalmar a minha respiração.
– Eu sei que não foi algo planejado, mas eu não quero perde-lo.
— Fique calma, eu já estou chegando!
Disse a loira em tom desesperado.
— Eu...
A dor tornou-se aguda e não consegui continuar a falar.
— É como se tivessem arrancando algo de mim, Helena.
Disse sem tentar mais controlar o meu choro.
— Não vou aguentar.
— Gabi, não desliga, pelo amor de Deus, eu já estou chegando, fica na linha e fala comigo.
Disse e pude ouvir o som de carros no fundo.
O som foi ficando cada vez mais longe, a minha visão cada vez mais turva, tentei resistir por mim e para o meu filho, mas eu já sentia que ele não estava mais comigo, pude ouvir a voz da Helena que chegavam como sussurros nos meus ouvidos
Quando acordei estava num lugar, todo branco, sentia um vazio e percebi que estava no hospital.
Helena, que estava sentada na cadeira próxima à cama, quando constatou os meus movimentos, veio imediatamente para meu lado, pude observar o seu rosto inchado e vermelho, já sabia o que tinha acontecido, apenas não queria acreditar.
Uma ruiva de jaleco com sorriso maternal entrou no quarto com sua assistente que verificou tudo enquanto a doutora me preparava para dar uma terrível noticia.
— Olá, Gabriela, pelo visto você está bem melhor!
Falou sorrindo.
— Sou a Dra. Pardo, Alice Pardo.
Não falei nada, apenas acenei com a cabeça e senti que a minha amiga apertava minha mão um pouco forte demais, a Dra. Alice explicou-me o que tinha acontecido e senti o meu mundo cair.
— Foi um aborto espontâneo, sinto muito.
Ela disse sorrindo fraco.
– É algo dentro do normal quando se é jovem, você terá outras chances.
Eu apenas tive vontade de chorar pela perda do meu filho.
— Permita-se receber ajuda, pois só assim você irá facilitar a superação.
A minha amiga apenas me abraçou para me conforta-me, eu fiquei processando tudo na minha mente.
— É muito importante ter um acompanhamento psicológico.
Ela me liberou e me aconselhou a fazer um exame semanas depois, como se não bastasse toda essa tragédia, a notícia que eu não poderia mais ter filhos me derrotou, um exame com resultado positivo que me deixou sem chão.
4 ANOS DEPOIS...
TALES POV
Acordei cedo como de costume, era uma sexta-feira e decidi não ir ao escritório, ter o seu próprio negócio pode ser cansativo, mas lhe traz privilégios como trabalhar o dia que quiser.
Passei no quarto do Samuel e ele dormia tranquilamente, pensei em não levar ele para a creche e ter um dia de pai e filho que há um tempo não temos, devo dizer que esse projeto do William cansou-me, porém, faço questão de trabalhar pessoalmente nele.
Desci as escadas em direção à cozinha, pelo visto teria que preparar o meu próprio café, já que dei folga para a empregada.
— Imbecil.
Falei para mim mesmo imaginando o que eu faria para comer.
O celular tocou e eu pedi mentalmente para que fosse um dos meus irmãos me convidando para tomar café com eles.
— Alô.
Atendi um pouco rude.
— Sr. Tales? Sou eu, Lúcia.
Falou minha secretária do outro lado da linha.
— O que houve? Algum problema?
Perguntei.
— Eu creio que sim, Jackson trocou de projeto com Roberto e a Sra. Rafaela não está contente com a situação.
Falou com a voz receosa.
— Eu tentei falar com ela que os dois arquitetos são ótimos e pessoas preparadas, mas ela exigiu falar com o senhor.
— Não pretendo ir para o escritório hoje, mas resolverei isso. Peço que avise para Roberto e Jackson que me encontrem às 10:00 horas na cafeteria perto da praça.
— Sim, senhor, tenha um Bom Dia!
Disse Lúcia se despedindo.
Olhei o relógio e ainda eram 7:30, comi uma fruta e liguei para a creche, avisando que o Samuel não iria.
Fui para o escritório que tenho em casa e comecei a trabalhar no projeto do Jackson que já estava na parte final, até ouvir um choro vindo da babá eletrônica, me fazendo levantar e correr para o quarto o mais rápido possível.
— Bom dia!
Falei entrando no quarto e me sentando na ponta da cama onde o Samuel se remexia.
— Papai, Samuel tá com fome.
Sorri como um pai babão, com quase quatro anos ele já era muito esperto.
— Vamos tomar banho e eu faço a sua comida, combinado?
— Não! Banho não!
Falou cruzando os braços.
— Vamos, bebê, você não quer ficar cheiroso igual o seu papai?
Falei levantando e pegando-o no colo e quando estávamos entrando no banheiro, ele agarrou-se mais a minha camisa, como sempre é um problema para ele entrar na banheira e um problema maior ainda fazê-lo sair.
Assim que coloquei na banheira junto com o patinho apelidado por ele de Duque, foi uma festa.
Após muito esforço, consegui tira-lo da banheira, em seguida desci para esquentar a mamadeira dele e deixa-lo na minha cama assistindo desenho enquanto eu me arrumava para encontrar Jackson e Roberto.
Ao sair, notei que a casa do lado ainda estava fechada, é uma casa ótima, e apesar de não ser condomínio fechado, o bairro é um local bem tranquilo servindo mais para famílias com crianças, uma pena não ter ninguém usufruindo dela.
GABRIELA POV
— Eu vou ficar bem!
Falei talvez pela décima vez para a minha amiga.
— Você quer que eu saia mais cedo para te ajudar?
Perguntou Helena.
– É um momento muito importante para nós duas, estou tão empolgada!
— Lena...
Tentei falar, mas fui interrompida.
— Me prometa que não vai me abandonar, eu já sinto saudades.
A rainha do drama começou.
– Até mesmo das bagunças do Snow.
— Pelo amor, Helena, só irei mudar o bairro, não é como se eu fosse sair do país.
Respondi revirando os olhos.
— De qualquer forma, eu te verei diariamente e você poderá me visitar sempre que quiser.
— Certo, talvez eu tenha sido um pouco dramática, agora faça uma boa mudança.
Falou se despedindo.
— Irei te visitar à noite, faça uma comida especial.
Ouvi uma buzina e senti um aperto no peito, ansiedade na certa.
Os rapazes começaram a levar as caixas que demorei uma semana para arrumar, liguei para me certificar que os móveis iriam está lá assim que eu chegasse.
Estranhei o fato do Snow não está fazendo bagunça, chamei-o e não obtive resposta em sinal de latidos, até ouvi um grito vindo do quarto que me fez sair correndo em direção ao mesmo.
Chegando lá, não sabia se dava risada ou ajudava o pobre rapaz com medo do Snow, apesar do tamanho dele, é uma característica é ser dócil.
Coloquei a coleira nele e fui dá uma caminhada por volta do prédio que eu passei bons e maus momentos da minha vida, apesar de ter uma péssima lembrança do que aconteceu naquela casa, lá era o meu lar.
Sentiria falta da Sra. Robbins que sempre preparava tortas e me dava a metade, sentiria falta também do porteiro que sempre segurava a porta do elevador quando eu voltada do mercado, até mesmo da velha rabugenta do andar de baixo que reclamava da bagunça do Snow.
Um dos rapazes foi me chamar para avisar que já estavam de saída, apenas acenei com a cabeça falando que iria logo atrás, dei uma última olhada, respirando fundo, senti algo como se minha vida fosse mudar de agora em diante.
Já achava aquela casa linda, agora ainda mais por saber que era minha, sentei-me na escada que dava para a porta principal olhando ao redor e analisando a vizinhança.
Liguei para o St. Patrick Restaurant avisando que não iria trabalhar, já disse o quão maravilhoso é ser dona do próprio negócio? Entrei e devo admitir que bateu uma tristeza em olhar para as caixas e saber que tenho que arrumar tudo sozinha.
Resolvi deixar para depois e dar uma caminhada para conhecer melhor o local, voltando para casa, pude reparar na casa ao lado, que poderia facilmente ser definida com perfeição, assim como o morador que acabou de estacionar e sair do carro.
Isso está ficando cada vez melhor, fiquei observando o corpo musculoso, o vi abrindo a porta de trás do carro e o meu sorriso se desfez quando vi o mesmo com uma criança pequena nos braços.
Suspirei frustrada e virei continuando a minha briga com a chave e a porta, até ouvir uma voz grossa gritando não, e senti a coleira se apertar na minha mão, quando direcionei o meu olhar para a voz, pude ver que a criança já estava perto do Snow e ele correndo para pegá-la.
Fiquei sem reação apenas olhando aquele pequeno ser bem próximo de mim, apertando a coleira sem saber como o Snow reagiria, mesmo por brincadeira, ele podia machuca-lo.
— Samuel, eu já disse que você não pode sair correndo dessa forma.
Falou o vizinho gostoso que infelizmente tinha uma criança.
— Me perdoe, sou o Tales, e essa é meu filho, Samuel.
Falou direcionado para mim que continuava calada observando.
Senti que ele ficou desconfortável, pois não obteve resposta e tornou a me pedir desculpas, balancei a cabeça e disse um “Tudo bem” em forma de sussurro, olhando para a criança que sorria e acenava para mim, mostrando aqueles dentes pequeninos.
Pedi licença e puxei o Snow para dentro enquanto observava pela lateral da porta, o homem dando uma bronca no menino, e em seguida dando um abraço.
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