Vovô Gil' como está a minha avó? Perguntou a menina ao médico do pequeno hospital.
O médico olhou para a menina que hoje estava completando 15 anos, sentada ali nervosa e cheia de ansiedade com os olhos vermelhos esperando que ele lhe dissesse a situação de seu único parente.
Há quinze anos ele já trabalhava nesse pequeno hospital aqui no condado de Suhoi, uma pequena cidade no interior, Dona Julieta entrou com uma expressão idêntica à da menina nesse momento.
Carregando um bebê recém-nascido nos braços, ainda sujo de sangue do parto, a pequena estava roxa e quase congelada. Era inverno, a temperatura era baixa e já estava começando a nevar.
Julieta foi buscar lenha quando encontrou a pequena Ângela em baixo de uma árvore enrolada em pano fino e aparentemente morta.
Em desespero ela pegou a criança e correu para o hospital.
Vovô Gil, vovô ' vovô...Ângela estava chamando o médico distraído.
Menina eu a conheço desde o dia em que você nasceu' sei que Julieta é a sua parente mais próxima e não vou mentir para você. Disse o médico
O caso da sua avó é grave, aconselho pegar todas as economias que tiverem e ir para a Capital para tratamento e exames. Não tenho certeza sobre a sua doença.
Mas dada a condição do seu corpo' ela não vai durar mais 3 anos se não for feito um diagnóstico e tratamento correto.
Ela vai ficar aqui por enquanto
Ângela voltou a enfermeira' olhando para a avó ela sentiu uma dor intensa no seu coração.
A pessoa deitada ali era a mais importante para ela, desde tenra idade ela soube que não era sua parente de sangue e como foi encontrada, salva e amada por sua avó.
Ela lhe devia a vida
Mas agora ela se sentia impotente.
Ela saiu da enfermaria e foi até a casa onde moravam.
Chegando em frente, abriu o pequeno portão e entrou A sua casa não era grande, tinha uma cozinha com um fogão a lenha, uma mesa com dois banquinhos, e alguns caixotes onde deveria ser um armário.
O único quarto da casa tinha duas camas e um guarda roupas e só.
O banheiro ficava do lado de fora.
Na frente da casa tinha uma pequena horta.
Ela foi até o quarto e retirou das suas economias algum dinheiro.
Foi até a venda do seu Zu e comprou um peito de galinha, dois ovos, e alguns temperos.
Voltou para casa e fez uma canja para levar para a avó. Com os ovos ela deixaria para fazer um caldo com o restante do arroz com cebolinhas para a avó tomar no dia seguinte.
Depois de tudo pronto ela pegou o único pedaço de pão que sobrou e um copo de água e comeu.
Colocou a canja em uma trouxa pois a panela estava quente, e numa sacola duas tigelas e colheres voltou ao hospital Também pegou o cobertor mais quente da casa e roupas limpas para sua avó.
Quando chegou a sua avó já havia acordado.
Após ajudá-la a sentar encheu uma tigela com canja e a alimentou devagar.
O vovô Gil passou para ver como estava e também foi servido com uma tigela grande de canja, a qual ele comeu com gosto.
Ela cobriu a avó e voltou para a casa.
Estava tão cansada que deitou e adormeceu.
De madrugada ela levantou se lavou com água fria mesmo e seguiu até a casa do prefeito.
O prefeito era uma um pouco tolo, mas tinha um bom coração.
Ângela trabalhava ali duas vezes por semana e ganhava cinco dólares para ajudar em sua terra por 3h.
Em outras casas ela lavava roupas, cuidava das crianças, dava aulas de reforço', bordava, costurava, até carregava blocos e ajudava na construção de alguma casa ou qualquer obra na cidade. Todos a conheciam e gostava muito dela.
Mas Ângela tinha um defeito grave, a sua personalidade era muito forte e direta assim como os seus punhos.
Ela nunca gostou de conversar muito, não que ela fosse fria, mas preferia ser ouvinte do que falar muito.
Todos sabiam quando ela começasse a "conversar "nfelizmente para a outra parte a surra era inevitável.
Quando as crianças davam trabalho para os pais, O ensinamento que recebiam era assim: Você fica aprontando, vou pedir a Ângela para lhe ensinar uma lição, é isso que você quer?
Tão rápido quanto um piscar de olhos a mudança de comportamento dessas crianças era muito evidente.
Mas os vizinhos sabiam que estavam somente assustando as crianças' Ângela jamais faria isso mesmo se eles pagassem.
Cinco anos atrás ela e a sua avó estavam voltando da feira onde vendiam as suas peças artesanais' com algumas vizinhas e crianças, quando de repente a sua avó desmaiou.
Durante esse período as visitas ao hospital tornou-se frequente.
A sua doença foi muito repentina' nenhuma delas estava preparada para isso' ainda mais por sua avó ainda ser muito jovem hoje com a idade de 50 anos.
O vovô Gil desconfia que seja alguma doença relacionada ao coração e ao sistema imunológico da avó.
Depois de trabalhar a manhã inteira' ela foi até em casa fez um caldo de ovos com cebolinhas e levou o prato de macarrão com frango desfiado que a esposa do prefeito deu-lhe direto para o hospital.
A avó foi alimentada por ela' o vovô Gil e a enfermeira que cuidava da sua avó serviram-se. Ângela não tinha dinheiro então servia refeições ao médico e enfermeira como pagamento.
Ela voltou para a casa foi até a pequena horta onde havia algumas cenouras e batata doce e os colheu.
A noite ela faria um mingau de arroz e batata doce assada para a avó.
As cenouras eram muito pequenas para qualquer prato assim ela simplesmente comeu.
Enquanto isso, ela foi até as coisas da avó é pegou as cadernetas onde ela e sua avó depositavam todo o dinheiro que podiam.
Tinham um pouco mais de vinte e sete mil dólares' era o suficiente somente para a internação e exames da avó, se fosse preciso uma cirurgia seria complicado.
ÂNGELAAAAA!!!
Gritou alguém no portão enquanto ela ainda estava perdida em seu pensamento.
Ela foi rápida em mandar entrar, pois conhecia a voz' era a tia Zenaide dona do mercado da cidade.
Sorrindo ela foi na direção quando viu muitos rostos conhecidos' alguns com sacolas' outros com bolsinhas pequenas' era uma multidão. Imediatamente Ângela já ficou no seu modo fera', mas para os vizinhos ali eles só viam uma menina muito, mas muito pequena, com o rosto minúsculo e olhos grandes no seu modo de defesa.
Desde que a sua avó adoeceu ela trabalhava em todos os tipos de empregos, dormia pouco, faltava as aulas, mas suas notas eram excelentes. Não aceitava favores ou dinheiro de ninguém, pois dizia que era difícil de pagar. Não que ela fosse orgulhosa ou arrogante', mas tinha medo de não conseguir pagar de volta.
Todos sabiam disso.
Menina a dona Julieta ajudou todos nós e muito mais gente do que você imagina e hoje decidimos retribuir nem que seja com um mínimo para ajudar com o seu tratamento.
Por favor não recuse certo. Disse dona Zenaide
Assim ela deu-lhe um pacote e uma chave de uma pequena residência na periferia da Capital, O prefeito conseguiu internação e os exames com a ajuda do doutor Gil, a sua esposa e filha mandaram uma mala com algumas roupas e necessidades diárias, muita gente contribuiu com centavos ou alguns dólares e alimentos.
O responsável pela estação contribuiu com o pagamento de uma ambulância para transportar a dupla.
O modo fera de Ângela estava nesse momento se foi e ela estava se curvando e agradecendo a todos.
A tarde foi a escola pegar os documentos para transferência e depois ao hospital levar o jantar.
NA MANHÃ SEGUINTE
Muitas pessoas vieram até o hospital se despedir da dupla de avó e neta. Numa ambulância dona Julieta estava deitada na maca com um colchão macio. Uma mala estava ao lado com uma enfermeira da Capital.
Ângela estava com uma sacola na frente sentada ao lado do motorista' que estava chocado com a multidão a sua frente. Era como se eles estivessem se despedindo de uma celebridade.
A viagem era de seis horas, mas como havia uma garoa fina e as estradas estavam escorregadias durou quase oito horas.
Os médicos já estavam aguardando e Ângela só teve que ir acertar a papelada da internação.
Ela colocou a sua mala ao lado e sentou-se na sala de espera.
Após duas horas ela levantou e avisou a enfermeira que iria buscar um café e que já retornava no caso do médico aparecer para poder avisa-lo.
Segurando a sua mala com força, pois sua avó sempre disse haver muitos ladrões na Capital, desceu as escadas até a entrada do hospital.
Numa banca de jornal comprou um mapa e pediu informações sobre o endereço que a tia Zenaide deu-lhe.
Pegou um café para si mesma e um mingau para a avó que com certeza vai estar com fome após todos esses exames.
Ela voltou a sala de espera no terceiro andar e assim que chegou viu o médico chamar por ela.
Na sala em frente ao médico esse não fez rodeios e disse de uma só vez.
A senhora Julieta está com deficiência no sistema imunológico devido uma inflamação no fígado. Por enquanto recomendo o tratamento com medicamentos e internação imediata para acompanhamento' somente assim podemos seguir para o problema principal que é o coração.
Será necessário uma cirurgia para correção de duas válvulas que estão a iimpedindo que o sangue circule normalmente e também corre o risco de morte a qualquer momento.
Você pode pagar a internação para o tratamento por agora' daqui 10 dias podemos fazer a cirurgia.
Ângela saiu em transe da sala' foi até a área de pagamento e pagou doze mil dólares por dez dias e perguntou o valor da cirurgia.
Foi até a enfermaria onde a sua avó estava' tinha mais duas senhoras ali também.
Alimentou a sua avó e como não podia ficar acompanhante a noite decidiu ir para a casa da periferia.
Ângela estava com um jeans claro, um moletom preto com capuz e usando chinelos.
Carregando a sua bagagem ela foi até o ponto de ônibus.
Assim que entrou pediu ao motorista que informasse a ela a parada mais próxima ao endereço que tinha.
Após pouco mais de uma hora ela desceu e encontrou a casa da dona Zenaide.
Abriu a porta e entrou, olhando para um relógio na parede já passava das oito da noite.
Pegou algum dinheiro, deixou a sua bagagem e desceu a rua em direção a um mercado que viu próximo ao ponto de ônibus onde desceu.
A rua era bem iluminada, havia algumas barracas de lanches na calçada oposta ao mercado, e também algumas bancas que vendiam frutas e verduras frescas.
Sabendo que tudo era mais caro na Capital ela ainda pechinchou sem nenhuma vergonha na hora de comprar frutas ganhou duas laranjas' 1 maçã e uma fatia de melancia extra.
No mercado comprou alguns mantimentos como arroz, feijão, farinha, manteiga, óleo e mais alguns itens assim como produtos de higiene pessoal e para limpeza.
Na volta' assim que entrou o telefone tocou.
Ela atendeu' era a tia Zenaide preocupada, isso a fez sentir calor no seu coração.
Conversaram um pouco, onde explicou a situação da avó e prometeu ligar quase diariamente para informar sobre a situação.
A casa tinha dois quartos, sala, cozinha, banheiro e uma área de serviço com um quintal pequeno nos fundos.
Pegou os produtos de limpeza, limpou a cozinha, guardou as suas compras e colocou uma panela com água para ferver no fogão.
Foi até o segundo andar onde limpou o quarto menor e trocou a roupa de cama pelas suas' guardando a sua bagagem no guarda roupas
Voltando a cozinha a água já estava fervendo.
Apagou o fogo e colocou a carne de porco numa bacia onde despejou a água quente.
Numa panela ela colocou óleo, cebola picada, alho, tomate e em rodelas, refogou durante uns minutos colocou um pouco de água e tampou a panela.
Tirou todaa carne de porco que estava escaldada, desfiou e jogou na panela com o molho e salpicou sal e salsa, mexendo levemente e deixou ferver por um tempo.
Em outra panela ela ferveu um pouco de água fez um macarrão instantâneo para ela.
Apagou o fogo do refogado foi para a sala com o seu macarrão e ligou a TV num canal de notícias.
Já era quase meia noite quando tomou um banho e foi deitar.
No outro dia as 5h da manhã Ângela levantou, escovou os dentes e desceu para fazer o café e o almoço da sua avó.
Fez um macarrão, adicionou o molho de carne de porco desfiada, fez também alguns pães com recheio de legumes que a sua avó adora e uma geleia de maçã e colocou na marmita térmica.
Numa garrafa ela colocou chá com leite para levar.
Tomou um café preto com açúcar e comeu um pãozinho com legumes.
Voltando ao quarto pegou uma camiseta verde claro' um jeans preto, a sua toalha e foi em direção ao banheiro tomar banho.
No quarto já vestida, calçou seus chinelos, pegou o dinheiro restante e contou.
A cirurgia da sua avó custaria 100.000 dólares, fora à internação na UTI , os medicamentos, e mais um monte de cuidados.
Ela tinha cerca de 21.000 ainda com contando com todo o dinheiro que os seus amigos emprestou-lhe.
Faltava ainda uma grande quantia.
Embora ela parecesse estar calma, na verdade, por dentro ela estava em total desespero.
De uma coisa ela tinha certeza, nem que ela tivesse que se vender, ela tinha que salvar a sua avó.
Ângela pegou a sua bolsa e as coisas para a sua avó e seguiu em direção ao hospital.
Sua avó estava acordada e conversando animadamente com as outras duas senhoras na enfermaria quando chegou pode ouvir as risadas e conversas felizes lá dentro, o seu nariz azedou.
Fazia dias que não ouvia a sua avó tão feliz e animada.
Toc! Toc!
Ângela bateu e entrou.
Avó eu trouxe comida deliciosa pra você. Ela disse
Nossa Julieta sua neta é muito filial a você e muito bonita também, disse uma das senhoras.
Eu fiz o suficiente para todos, se as avós não acharem que comida simples é ruim pode provar e ver se gosta. Ângela falou com um sorriso.
Enquanto falava ela abriu um saco com os pãezinhos' colocou chá com leite em copos descartáveis e as serviu.
A sua avó comia feliz enquanto as outras elogiaram muito a culinária da sua neta.
Ângela deixou a marmita ao lado e informou a enfermeira que o almoço era suficiente para as três, a tarde ela voltaria para buscar a lancheira.
A sua avó sempre cansava muito rápido hoje em dia e logo após o café adormeceu.
Ângela saiu do hospital em direção a um mercado pesqueiro que ficava ali próximo.
Ela queria comprar um peixe fresco para fazer um caldo para trazer a noite.
Enquanto andava distraida acabou batendo numa parede de carne' o seu nariz doeu tanto que os seus olhos ficaram cheios de lágrimas.
Porra! Ela xingou alto e entrou em modo fera.
Ela não percebeu o clima estranho e encarou o homem a sua frente com raiva.
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