"Não entendo como tudo foi acontecer, como cheguei até aqui. Apenas sei que não consigo controlar nada, nem mesmo meus pensamentos. Acabo de perder a mulher que amo por contar o meu segredo, este era o meu medo: perdê-la. Agora estou aqui, chorando na sala da casa que seria nossa, porque ela me deixou quando eu disse a verdade. Ela me chamou de monstro, porque sou um telepata. Não faço as coisas levitarem com o poder da mente, não; induzo ninguém a fazer o que quero... eu leio mentes.
Recentemente, descobri que consigo me comunicar através dela, mas minha noiva achou que isso era demais para ela. Ela acreditou que a manipulei, apenas porque sabia de tudo o que ela pensava, consequentemente, o que ela queria também; mas isso não é verdade. Eu não tenho controle, posso apenas ter usufruído disso, apenas um pouco. Mas não quero ser um... ou eu sou um monstro de verdade?"
Anos antes...
(Sendo Castiel)
Ela caminhou pela escola inteira à minha procura, e, a cada passo que ela dava, eu já sabia. Sabia porque ela não fazia nada por impulso, tudo era pensado. Seu único impulso era a mente que não parava de trabalhar a cada segundo, onde praticamente gritava comigo, mesmo sem abrir a boca para proferir alguma palavra.
"Onde você se meteu, seu moleque?" — ela caminhou por entre as estantes de livros.
"Quando eu puser as mãos em você, sua mãe terá pena... ah, Castiel!"
Lisandra pensava em mil maneiras diferentes de me matar, e eu... eu só sabia que a mente humana é a mais improvável de tudo que acontece; ela é involuntária, mesmo ajudando, maquinando algo diabólico. É pior ainda para todos.
Tinha vontade de espirrar pela poeira daquele lugar, que mais cheirava a mofo do que armazenava a própria poeira.
"Castiel!" — ela pensou.
Parou para pensar onde poderia estar.
"Espera, ele pode estar no banheiro, claro! Ele é muito esperto, ou se acha esperto. Vou tirá-lo de lá agora!"
Saiu pisando duro.
Seus pensamentos se tornaram mais baixos à medida que ela se afastava, e minha segurança aumentava.
— Ufa! — suspirei, passando as costas da mão direita pela testa.
Levantei daquele chão frio da última estante e pus-me a pensar no tamanho da encrenca em que me meti.
"Por que, Castiel? Por que foi aprontar com a coordenadora da escola? Idiota!" quase bati minha testa na estante à frente. Minha burrice afeta até os sentidos!
Saí normalmente da biblioteca, com a intenção de pegar minha bolsa dentro da sala de aula e sair daqui, pois, se aquela louca me pega, ela pode me esganar, como tanto pensou, ou me mandar para detenção por dias a fio.
Para minha sorte, a sala estava vazia, ninguém no corredor suspeitou do que eu estava prestes a fazer.
"O que ele está fazendo?" — uma garota se perguntou.
Ela estava no fundo da sala. Seu pensamento chamou minha atenção, fazendo-me olhar para ela imediatamente.
Automaticamente respondi, sem perceber que ela acharia estranho.
— Não estou me sentindo bem! — respondi.
Ela apenas arqueou uma sobrancelha, me mirando. Sua pele tinha o tom opaco, seus lábios carnudos, nariz afilado, olhos cativantes, sobrancelhas grossas, mas bonitas — eram lindas em seu rosto. Aliás, ele todo.
Seus cabelos castanhos escuros caíam acima dos ombros, num corte repicado, combinando exatamente com o formato de seu rosto — esculpido, suave e bem feminino.
Ela me encarou, esperando que eu fosse embora, e percebi que tinha passado minutos a observando, mesmo tendo memória fotográfica. Ah, é que eu gosto de apreciar as coisas, mas ela não é uma coisa, ela é uma garota. Uma garota muito linda, por sinal.
A deixei como ela se encontrava, e segui caminho até a saída, sempre prestando atenção nos pensamentos de todos, para me certificar se Lisandra não estava me vendo ou se seria informada depois.
Caminhei normalmente até minha casa, já que não ficava muito longe da escola. Teria que inventar algo bom para minha mãe, ou apenas dizer que não me sentia bem, por isso ficaria no quarto estudando Biologia?
Assim que pus os pés dentro de casa, minha mãe, que estava sentada no sofá da sala de estar, virou a cabeça na minha direção, o que me assustou com a possibilidade de que ela poderia ter feito como uma coruja e virado 180°.
— O que faz aqui a esta hora? — ela perguntou, me analisando.
Minha mãe era uma mulher conservadora, eu diria. Suas características eram muito semelhantes às minhas. Uma mulher com cabelos pretos, bem lisos — um liso fino e longo... rosto meio oval, olhos compridos e brilhantes, apesar de serem negros como a noite, nariz fino, lábios finos e sobrancelha igualmente estreita.
A senhora Catarina era considerada uma mulher alta, com um metro e setenta de altura, um corpo esbelto, sempre usando roupas comportadas.
Ela me mirou séria, ainda esperando minha resposta.
— O professor de Economia não compareceu à escola, então voltei cedo para estudar Biologia! — menti calmamente.
Dona Catarina apenas balbuciou para demonstrar que acreditava.
"Por que o senhor Mackai não deu minha folga ainda?" — pensou, nada preocupada comigo.
Então subi as escadas, disposto a sustentar a minha pequena mentira. Como será que Lisandra está a esta hora, recebendo a notícia de que salvei minha própria pele vindo para casa? Sorri com o pensamento.
Joguei minha mochila preta na cadeira em frente ao computador, encostei a porta e retirei aquela camisa chata da escola — uma branca, de mangas longas, com um pequeno emblema da escola no bolso esquerdo: uma espécie de águia branca com outras coisas ao seu redor. Retirei a calça de malha preta assim que tirei o tênis branco. Me dirigi ao banheiro apenas com minha cueca box preta e minha toalha branca sobre o ombro.
A ducha estava das melhores, o que me fez demorar mais do que o previsto no banho. Amarrei a toalha na cintura e saí do banheiro... vesti uma bermuda de algodão e peguei o livro de Biologia na estante com mais alguns exemplares, ao lado de um pôster da série Teen Wolf, uma das minhas preferidas na época em que fez sucesso. Hoje em dia, qualquer uma está valendo.
Não estava fazendo frio hoje, então era só relaxar neste dia de sol, no Canadá, mais precisamente em Toronto — a maior cidade do país.
Localizada às margens do Lago Ontário. Famosa pela sua vida noturna agitada, boas atrações turísticas e incríveis restaurantes. Tudo é incrível.
Antes de começar a leitura, fui interrompido pelo som do meu celular, ainda na bolsa.
Assim que o peguei, já neguei com a cabeça, vendo a imagem que surgiu no visor: era Iago, meu melhor amigo.
— Oi, mano, escapou da detenção, hein?! — Iago sorriu do outro lado da linha.
— Como escapei? — apenas fui direto.
— Lisandra ia te matar se o professor de Economia não tivesse faltado. Como sabia? — Iago pergunta, sabendo do meu dom. Aliás, ele é o único que sabe.
— Foi sorte, cara! — falei aliviado.
— Você é sortudo mesmo, hein...! — diz ele.
— Obrigado por me avisar! — agradeço, mais leve.
— Mas tá sabendo que ela vai te marcar, não é? Por que foi pintar os pelos da Amora de verde? — ele tenta segurar o riso, assim que pergunta pela gata da coordenadora.
— Foi uma brincadeira. Não era pra gata estar na sala dela quando eu ia pichar a mesa dela. Queria ver se ela namorava com o diretor em uma mesa pichada. — sorrio.
— É... a Amora te salvou da detenção também. Vamos jogar baseball no Blue Jays Baseball Club? — Iago estava ansioso para nos pôr em encrenca.
— Deixa para a próxima, disse para minha mãe que ia estudar Biologia. Estou péssimo na matéria. — me esquivo.
— Tá bom, então até amanhã, e não esquece da festa na casa do Jônatas! — faz questão de recordar da festa para a qual fomos convidados há semanas. Não somos nerds, nem populares — somos do meio. E Jônatas, ele é dos populares, então temos que ir.
— Beleza, até lá! — confirmo.
Assim que desligo, volto para a cama. Nada que uma nota A não resolva.
Fui acordado por meu celular vibrando sobre a mesinha. Me sentei na borda da cama, verifiquei o que piscava na tela: "parabéns pra mim!"
— Espera, hoje é meu aniversário de dezessete anos? — conferi a data no visor.
— Ohh! Uma festa no meu aniversário... que sorte! — sorri comigo mesmo.
Aproveitei para tomar minha ducha maravilhosa, e logo depois já estava em frente ao espelho, preso no guarda-roupa, de aproximadamente um metro e meio.
Analisei meus cabelos negros, que sempre deixo caídos dos lados da testa; minhas sobrancelhas meio grossas. Tenho olhos castanhos escuros, tenho um queixo um pouco mais quadrado, e covinhas aparecem próximas dele quando sorrio.
Mantenho meu rosto ainda limpo, sem sombra de barba, apesar de elas já aparecerem de vez em quando.
Uma camiseta e moleton neutros, com chinelos claros e confortáveis. Essa foi minha escolha para relaxar.
Desço para tomar meu café da manhã. A única pessoa que encontro na cozinha é Luíza, minha antiga babá e agora cozinheira da minha mãe.
— Bom dia, Cast! — ela me cumprimenta assim que sento. Beijo seu rosto.
— Bom dia, Luíza! Cadê a mamãe? — pergunto.
— A dona Catarina saiu cedo, foi trabalhar. O senhor Mackai ligou ontem à noite, dizendo que queria ela hoje cedo na empresa.
Minha mãe quase nunca vivencia meus aniversários, já que é sempre a mesma data em que acontecem eventos na empresa da qual ela é secretária do dono, o senhor Mackai — dono de uma grande empresa de marketing e telecomunicação, que trabalha vendendo imagens de empresas de cosméticos e caras em si.
— Como sempre! — resmungo.
— Não fica assim, não, filho. Ela vai trazer presentes como sempre! — Luíza tenta me confortar.
— Eu sei, ela sempre traz! — falo, pondo meu suco no copo.
— Eu tenho um presente agora mesmo. Quer? — pergunta sorridente.
— Claro! É o quê? Bolo? — fico animado.
— Bolo de chocolate! — aparece trazendo um bolo enorme nas mãos.
— Luíza, eu te amo, sabia? — sorrio, me levantando para abraçá-la. Ela apenas sorri, concordando, enquanto corta meu primeiro pedaço.
Antes que ela ponha em meu prato, paro sua mão e devolvo o pedaço sorridente.
— O primeiro pedaço hoje é seu! — ela fica espantada, mais feliz.
— Mas... — antes que ela continuasse, a interrompo.
— Luíza, você foi minha babá por doze anos, trabalha há dezessete anos aqui e merece esse pedaço mais que qualquer um. Afinal, você está aqui agora! — assim que termino, Luíza me abraça emocionada, com seu pedaço na mão esquerda.
Assim que terminei o delicioso bolo de chocolate, fui direto para meu computador, estudar um pouco. Já que quero Finanças, terei que dar duro nas áreas de cálculo.
Minutos depois, o celular anuncia a chegada de uma mensagem de Iago, me lembrando da festa que não irei perder.
Sorri ao lembrar da galera que pode aparecer lá... na minha mente vem a imagem da garota da sala, a linda garota. Pergunto-me se ela vai.
Durante a tarde, Iago resolveu me tirar dos estudos para jogar videogame, como sempre faz quando quer tirar meu foco de alguma coisa.
Olho para o celular em cima da cama, puxo ele para mim, pondo o controle no chão onde estou.
— Cara! Que horas a festa começa? — pergunto, fazendo cara de espanto, deixando Iago em alerta.
— Sete! — Iago responde, desligando a TV rapidamente.
— São cinco e meia! — Iago me empurra, chateado, enquanto apenas rio da cara dele.
— Se me der um susto desses outra vez, eu te mato, cara! — ameaça.
— Ué?! Ainda tem que ir pra sua casa procurar sua roupa de gala, cara! — começo, zoando.
— Olha quem fala! — Iago reclama.
— Ei, mano! — ele senta na minha cama, enquanto organizo o quarto, para ajudar a Luíza.
— Tá lembrando do nosso lance, né?
— Que lance? Tá doido? — provoco, sabendo do que se trata.
— De ler as mentes das gatinhas, cara! — diz, puxando o celular do bolso.
— Você é sujo, cara. Não consegue nada sem trapaça! — reclamo.
— Qual é, cara, sabe que hoje em dia tá difícil de entender as mentes das garotas! — se defende, guardando o celular de novo.
— E quando foi fácil? Nem mesmo lendo as mentes delas se torna fácil. É pior ainda! — falo, separando meu tênis branco preferido.
— Se você não entende, imagine eu, um pobre mortal! — Iago faz drama.
— E eu sou o quê? Imortal? Sobrenatural? Vai nessa! — bufo.
Ele sorri, se levantando da minha cama.
— Até as sete! — Iago se despede.
— Até! — olho ao redor, me perguntando se falta algo, concluindo que apenas falta grana.
— Tudo pronto! — digo, indo me sentar em frente ao computador de novo, desta vez para olhar as minhas redes sociais.
⌚
Hora marcada. Estava novamente em frente ao espelho, vendo se a minha imagem se encaixava com o que pretendia naquela noite.
Vesti uma camisa branca de manga curta, junto a uma calça preta jeans, meu tênis e uma jaqueta jeans, com mangas de algodão, cor cinza.
Escuto a voz de Iago conversando com Luíza na sala. Pego meu celular, carteira e chaves (incluindo a chave de casa) e logo deixo o quarto.
Me disperso de Luíza dando-lhe um beijo no rosto, Iago segue o exemplo antes de me acompanhar.
— Ei! Pra que vai levando a chave da sua moto? Vamos no meu carro! — Iago me relembra.
— Poxa, verdade! — volto correndo para devolver minhas chaves para minha segunda mãe.
— Pronto! — sorrio, assim que entro na sua caminhonete prata.
(...)
A casa do mauricinho ficava bem no centro, um pouco longe devido ao trânsito, então chegamos às exatas oito e trinta. Estava cheio, todas as pessoas estavam se divertindo.
Assim que começo a passar pelos primeiros grupos, já começo a escutar os pensamentos de todos ao mesmo tempo, o que me lembra que devo focar em uma pessoa por vez, para não ouvir tudo e causar um tipo de descarga no meu cérebro.
Foco em um garoto à minha frente, rodeado de garotos, afrodescendente.
"Olha o amigo do Jônatas, acaba de chegar. Tava demorando!" — ele pensa, nos olhando.
Foco em uma loira de olhos verdes um pouco à frente dele, enquanto continuamos nos aproximando da mansão.
"Uau, olha como os dois são lindos. Até queria uma noite com o Cast!" — ela morde o lábio inferior.
"Quê? Ela tem pelo menos quinze anos?" penso, horrorizado.
Tiro o foco dela e ponho em um grupinho de quatro garotas: duas loiras, uma morena e outra pálida, do cabelo negro.
"Meu sonho chegou!" — a loira de vestido verde pensa e logo cochicha para suas amigas, que olham na nossa direção.
— O Iago é lindo! — ela continua.
"Até que ele é bonitinho!" — a morena fala, me olhando.
"Eu pegava!" — a outra loira de olhos claros fala, olhando para Iago.
"Credo, linda, o que vocês veem em homens?" — a mais pálida de cabelos negros pensa, depois de nos olhar e voltar para elas.
"Poxa, cara, ela era até bonita!" penso, derrotado.
Deixo Iago se aproximar e falo baixinho:
— Ali — olho na direção delas.
— A primeira loira te chama de sonho, a segunda quer o mesmo, e a morena provável. Agora, a mais gata... essa pode esquecer. Não gosta do gênero masculino. — digo, vendo ele ser discreto enquanto analisa a situação.
— É, cara. Acho que vou ficar com a loira de lá. — se refere à mais pecaminosa.
— Não tô a fim de casar hoje. Isso eu deixo pra você! — Iago toca no meu ombro, já me deixando sozinho.
Observo como ele dá em cima da loira, que não demora cinco segundos para já sair com ele. E é claro que a primeira loirinha ficou destruída com a traição da amiga, que, segundo seus pensamentos, já sabia do interesse dela por ele.
É a vida. Continuo minha jornada à procura de algo para beber. No caminho, alguém esbarra em mim sem querer — por sorte, ela não tinha bebida em mãos.
— Desculpe! — ela olha para cima. Era ela, a garota da classe de História.
Como não reconheci antes? Seus lábios carnudos desenharam um sorriso sem mostrar os dentes.
"Por que ele não diz nada? Vai ficar só me olhando como se tivesse perdido algo aqui? Espera, será se tem algo no meu rosto?" — pensa, e logo passa a mão na bochecha discretamente.
— Eu que peço desculpas. Estava distraído, procurando o dono da festa. Sabe onde ele está? — pergunto, mudando de assunto.
Seus olhos castanhos claros, quase vermelhos, se estreitam.
"Claro que sei. Deve estar me traindo como sempre, aquele babaca!" — fica amarga.
"Quê? Ela é namorada do Jônatas? Não achei que gostasse desse tipo! Que rasteira!" penso, frustrado.
— Ele deve estar na cozinha. Por que essa cara? — pergunta, me olhando. Por causa de sua altura, até que se tornava fofa — um pouco baixinha.
— Não, nada! — tento me justificar. Devo ter feito uma cara confusa.
— Obrigado! — vou para o lado, para seguir meu caminho.
"São todos iguais!" — ela pensa, se afastando.
"São vocês que fazem as escolhas erradas!" penso, frustrado.
Assim que ponho os pés na cozinha, noto que é o lugar preferido dos casais. Me aproximo da mesa onde está a garrafa térmica, com algum líquido que certamente é bebida. Pego um dos copos vermelhos de plástico, ponho um pouco do líquido naquele copo e giro nos calcanhares, olhando em volta enquanto bebo um pouco da cerveja — que é a cara do babaca que acabo de encontrar, beijando uma garota desconhecida. Estavam perto da despensa.
"Qual é? O que esse cara acha que tem na cabeça? Uma namorada tão linda... enquanto essa é tão fácil!" finjo apreciar a cerveja enquanto encarava o dono da festa, ainda no mesmo lugar.
Devo ter me demorado demais os encarando, pois ele sentiu e olhou na minha direção.
Ele sorri mostrando todos os dentes para mim. Soltando a garota, vem em minha direção.
— Ei, cara! — me cumprimenta. Retribuo.
— Meus parabéns! — ele me abraça, tomando cuidado para não derramar minha cerveja.
— Obrigado! A festa está ótima. — comento.
Ele se afasta um pouco e responde sincero:
— Ela pode ser toda sua, se quiser. — ele sugere, parecendo convicto.
— Basta mandar ver e se divertir. Aqui tem muitas. — puxa a loira para si.
— Então, você não tem namorada? — pergunto, interessado.
— Não! — ele olha para a loira, que permanece em silêncio.
— Namoro é perda de tempo, Lenon! — Jonatas responde, com um grande sorriso.
— Então vou aproveitar a noite. — sorrio.
— Tem alguma garota que queira tirar da minha lista da noite? — pergunto, tomando mais um gole em seguida.
— Não, cara, pode mandar ver! — responde sem interesse.
Logo volta a tarefa de antes, amassos. Aquilo estava passando dos limites para mim.
"Pensamentos sujos!" faço careta, saindo rapidamente de perto deles.
Não é bom não ter controle dos pensamentos dos outros, ou pelo menos o momento em que quero pará-los. Quando era pequeno, ficava em um estado tão crítico que era chamado de louco. Então percebi que, se fizesse coisas drásticas para abafar os pensamentos alheios, as pessoas iriam embora, levando suas mentes também.
Por fazer essas coisas, sou taxado de rebelde. Dizem que não tenho jeito. Ato de vandalismo era o pior ato cometido. Era necessário: de outra forma, era impossível viver em sã consciência.
A música alta da parede de som, perto da piscina, me ajudou a me tornar uma pessoa normal por alguns minutos. Não teria pensamento no mundo que gritaria mais alto que aquilo, então aproveitei.
Me encostei na coluna perto da água, tomando vagarosamente minha bebida. Assim que levantei o olhar, notei uma garota de cabelos castanhos claros, olhos verdes e lábios grossos. Estava dançando perto do som. Ela já havia me notado antes. Parecia que sua dança era para mim, pois sua atenção estava depositada na minha pessoa.
Um olhar lascivo e nada inocente. Ela rebolava para cima e para baixo, destacando sua bunda avantajada. Passava a mão pelo próprio corpo, sempre mantendo contato visual. Se aquilo já tivesse acontecido antes, diria que estava gostando. Mas, na realidade, estava apenas observando até onde ela iria chegar com aquilo.
Ela sorri me chamando assim que a música mudou. Pensei que mais indecente não poderia ficar, mas me enganei... A música tinha a letra pior que a anterior, e ela me esperava para ser seu par.
Balancei a cabeça, negando. Ela não se conformou e começou a rodear a piscina.
"Vamos ver no que isso vai dar!" pensei comigo mesmo.
Ela se aproximou. Em um mísero segundo, achei que tinha me enganado, quando pensei que aquela cena toda era para mim, pois ela seguiu adiante. Mas logo rodou a mesma coluna à qual eu estava recostado, tomando o copo que estava indo em direção à minha boca. Fiquei levemente surpreso com sua audácia. Sorri de canto.
Ela tomou meu último gole, drixou o copo por perto, me olhou com luxúria, puxou minha mão, me guiando. Aquilo era uma estratégia, para que eu olhasse de perto suas curvas perfeitas, seu bumbum empinado dentro daquele projeto de short jeans, e aquela blusa curta, preta, de costas nuas.
Por incrível que parecesse, ela não usava salto. Era quase da minha altura, sendo talvez um metro e sessenta e seis. Usava apenas um tênis branco.
"Agora quero ver se você me escapa, gatinho!" — ela pensou, sorrindo para mim assim que chegou perto do som.
Me limitei a sorri de volta, desafiando aquela garota ousada a ser pior que aquilo. Então, ela pôs minhas mãos em sua cintura fina, encostou seu corpo no meu, começou a passar suas mãos pelo meu abdômen, rebolando o tempo todo.
Apenas fiquei ali, aproveitando sua dança e admirando sua beleza. Mas ela não é para mim, não do jeito que ela está pensando. Entrei no jogo dela, sem retirar minhas palmas do lugar que ela as colocou. Como se lesse minha mente, ela desceu minhas mãos para a sua própria bunda. Levantei a sobrancelha esquerda e sorri com malícia. Ela riu de volta.
— O que está esperando pra ficar comigo? — perguntou, descendo e subindo vez ou outra.
Olhei em volta, para ter certeza se era aquilo mesmo que eu queria. Do outro lado da piscina, avistei ela — a namorada do Jonatas, a mesma garota por quem me interessei por alguns minutos. Ela me encarou, olhando para a garota, que agora tinha se virado para literalmente se esfregar em mim.
Eu sabia exatamente o que queria. Ela havia me mostrado.
"Sou igual a todos, não? Pois bem!" pensei. Direcionando um sorriso cheio de malícia para ela, que estreitou os olhos.
A garota, que até então não sabia o nome, se virou para mim novamente.
— Como se chama? — perguntei perto do seu ouvido, por causa da música alta.
— Solange. E você é o famoso Lenon, eu sei! — ela respondeu, me deixando surpreso.
Lenon era o nome mais usado nessas ocasiões. Não gostava de falar meu segundo nome para quem não tinha interesse ou intimidade.
— Ótimo! — foi tudo que eu disse, enquanto verifiquei se a garota continuava me olhando do outro lado da piscina — o que, não deu outra.
Me voltei para Solange. Colando nossos corpos, dancei com ela no ritmo quente da música — e, claro, para completar, a beijei.
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