Era para ser apenas uma noite.
Uma noite de despedida.
Mas, minha paixão e meu amor por ele me deixou completamente cega. Nós nos entregamos de corpo e alma. Digo nós, porquê era tanto a minha primeira vez, tanto a dele.
Só que, saiu dos nossos controles...
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Três meses antes...
- Lívia, não acredito que você saiu na mão com ela! - bradou meu pai chateado, pela minha primeira convocação escolar.
Sempre fui a filhinha que não dava trabalho, que obedecia aos pais e aos professores. Só que, se você me quiser ver com raiva, me acuse de algo que eu não fiz. Aí eu viro uma onça faminta.
Joana sempre me perseguiu desde do fundamental, mas agora no ensino médio ela investiu pesado. Ficava me cercando e me provocando até me irritar. Só que agora, que ela me acusou de flertar com o professor de história para me dar bem na última prova... Hum. Isso foi o êxtase, a gota da água!
- Sim, pai. Ela veio me difamar e eu não ia ficar quieta. - afirmei, sem nenhum remorso pela minha atitude. Aliás, não me arrependo, se fosse para fazer de novo, faria pior!
- Filha, sempre te ensinei a...
- Resolver tudo com diálogo. Eu sei! - exclamei - Mas com essa palhaça não adianta falar.
Meu pai respirou fundo enquanto assimilava todo ocorrido daquela tarde.
- Meu bem, você não pode se estressar e muito menos ser agredida. - ressaltou - você sabe o que acontece se você perder muito sangue, né? - deduziu, como se eu estivesse esquecido da minha maldita anemia perniciosa.
Eu fechei meus olhos, tentando esquecer um pouco de todo esse inferno e apenas assenti com a cabeça.
Meu pai não gostava de me ver chateada ou triste, por isso evitou continuar com esse assunto.
- Tudo bem, se quiser eu mudo você de escola. - sugeriu, levando sua mão até meu ombro.
Antes de eu falar algo, a diretora entrou com alguns papéis em mão.
- Senhor Jorge, assine aqui. - pediu.
- O que é isso?
- É apenas para o senhor comprovar que veio aqui. As férias escolares começam em dois dias, então ela só vai levar uma advertência no boletim. - disse, já dando sua caneta azul nas mãos dele.
Isso me deixou mal, confesso.
Nunca levei advertência, suspensão ou convocação. Mas, agora que eu cresci, comecei a me impor mais e tratar as pessoas da forma que elas me tratam. E isso é uma parada sinistra irmão, que parada sinistrissima!
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Chegamos em casa e fui direto para o meu quarto para poder respirar um pouco e raciocinar esse dia.
Ela era mesmo uma mal caráter, me viu sentada no refeitório sozinha e se aproximou como quem queria nada. Sempre fui cautelosa e nunca confiei nela, mas hoje, justo hoje, parei para ouvir o que ela tinha para falar.
- Oi Lívia. - ela falou com cinismo.
Eu apenas a olhei de cima a baixo e voltei a comer meu sanduíche.
Mas ela não parou por aí. Essa atribulada sentou do meu lado e falou o seguinte:
- Eu vi o jeito que você e o professor Lorenzo se olharam. - afirmou - o que vocês fazem nas aulas vagas?
Ah não.
Aí eu não aguentei.
Quando já vi estava com a palma da minha mão colada no rosto dela. Ela também, como qualquer pessoa, partiu para cima de mim também. Derrubei ela no chão e me levantei dando um empurrão na mesa e olhando para ela que estava caída lá, no meio do refeitório com todos olhando para nós duas. Ela estava com raiva e não ia deixar barato. Num pulo ela já estava em pé e proferindo vários tapas no meu corpo. Então, obviamente eu não fiquei quieta apanhando dela e comecei a revidar. Fechei minha mão e bati feita um garoto. Cansei de brigar que nem as outras meninas. Dei um murro no ombro dela e outro na barriga.
A briga só parou quando algumas pessoas vieram e afastou nós duas uma da outra.
Joana ficou se contorcendo agoniada com a a dor no corpo, e eu pensando no que eu fiz.
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Já peguei os resultados do exame da Livy, ela recebeu um atestado de dois meses para fazer o uso do medicamento. - Minha mãe disse, entregando os papéis para o meu pai.
Infelizmente, aos doze anos fui diagnosticada com anemia perniciosa, ou seja, tenho falta de ferro no sangue e sou sensível a qualquer perda sanguínea.
Eu olhei para ela e sorri com ironia.
- Esse mês é férias, então esse papel não vale nada.
Minha mãe sentou do meu lado como se quiser falar algo, mas hesitava a todo momento.
Eu percebi isso, eu conhecia a dona Cristina melhor do que ninguém. Embora fosse a filha do meio, fazendo a média entre minha irmã mais velha Suzanne e meu irmão mais novo Vitor, eu era a mais próxima da minha mãe.
- Fala mãe. - falei, tentando transmitir confiança - Sei que a senhora quer falar algo.
Ela respirou fundo e olhou em meus olhos.
- Você vai passar essas férias na casa da sua avó. - avisou.
Meu semblante mudou na hora.
Eu não queria passar as férias lá. Havia praias, hotéis, passeios e outras coisas para aproveitar. E outra, minha avó vai se mudar para cá em três meses, pra que ir para lá?
- Não, mãe! - bradei - Não vou para lá não.
Ela continuou com seus olhos castanhos fixos aos meus, e prosseguiu convicta.
- Lívia, isso já está decidido. Você precisa de um tempo para relaxar...
- Um tempo? - interrompi indignada - relaxar lá no meio do interior? - indaguei
Minha mãe suspirou alto se colocando de pé e me sobreolhando.
- Lívia. Ponto final.
E em seguida ela saiu me deixando sozinha com meu pai, que não falava nada. Fiquei sem reação.
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Mais tarde, enquanto estava deitada, minha mãe entrou no quarto para me entregar a vitamina de cálcio. Eu achava que a conversa de mais cedo tinha sido apenas um blefe, mas minha mãe fez questão de deixar claro o contrário.
- Você vai amanhã de manhã.
Eu quase cuspi o comprimido para fora quando ouvi essa informação.
- mãe...
- Chega! - ordenou, impaciente - A Suzy vai, então relaxa. Você age como se passar um tempo com sua avó fosse uma tortura.
Mas o problema não era minha avó.
Eu não queria ir para lá pelo simples motivo do lugar não ser tão... popular.
Era muito entendiante passar as férias no interior em uma cidade pequena num lugar afastado.
Mas realmente, minha atitude a respeito dessa decisão, fazia parecer que era algo relacionado contra minha avó.
Então, eu assimilei tudo e concordei balançando a cabeça.
- Tá bom, mas... só uma semana, né? - deduzi
- As férias todas.
- Mãe...
- Caso encerrado - disse, se retirando do quarto.
Eu respirei fundo e me deitei de novo.
Que droga!
Não queria ir, mas esse não é o pior lugar do mundo. Séria pior se eu passasse no hospital fazendo tratamento.
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Quando acordei pela manhã, nem cogitei me levantar da cama para que minha mãe não mandasse eu ir, mas foi em vão.
Ela entrou no quarto e começou organizar minha mala e de Suzy.
Logo depois, ela me acordou e mandou eu me arrumar, pois logo minha tia viria nos buscar.
E como eu não queria discutir...
Filha, vai ser só o tempo de você se adaptar com o medicamento - ressaltou - você ficar aqui, nesse lugar agitado vai só te atrapalhar.
Eu sabia que ela não confiava em mim. Houve um dia das minhas férias do ano retrasado, em que sair escondido para uma festa com uma colega e acabei bebendo muito vinho tinto, até demais, e fiquei bêbada e passei mal. Desde então, a minha mãe sempre ficou com um olho aberto e o outro mais ainda.
Mas, eu não queria ouvir mais nada.
Já estava sendo obrigada mesmo a ir.
- Tá bom, mãe. - Eu disse, caminhando até a porta juntamente com Suzy.
Podia-se perceber a aflição de minha mãe. Dava para ver que ela não queria que eu fosse tanto quanto eu.
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Alguns minutos depois minha tia chegou com o carro e partimos para casa da minha avó.
- Tchau, filha. Se cuida. - meu pai se aproximou me dando um forte abraço confortante.
Eu o abracei bem apertado, desejando muito que ele impedisse-me de ir.
Minha mãe logo se aproximou e me deu um beijo na testa e segurou nas minhas mãos.
- É só um mês, relaxa.
Depois de um tempinho se despedindo de mim e de Suzy, meus pais se afastaram e eu e minha irmã entramos no carro e seguimos a viagem.
Ainda não estava acreditando que meus pais planejaram isso com minha avó, sem nem sequer me falar nada.
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A viagem durou cerca de cinco horas e meia, e nós chegamos até o sítio.
Minha avó estava bem animada com a nossa ida até lá. Eu não estava tão empolgada, mas pela minha avó fiz questão de esconder isso.
A casa era razoável grande, tinha três quartos, a sala era grande tanto quanto a cozinha e o quintal cheio de grama verde era imenso. A casa em si era espaçosa e bonita, só que era muito afastado, não tinha nenhum comércio por perto a não ser um mercadinho que era cerca de dez minutos de distância andando. Havia também duas casas que eram um pouco próximas.
Eu cumprimentei minha avó com um beijo num rosto e um abraço bem apertado.
— Você está enorme. — ela exclamou contente, com um olhar radiante e um sorriso puro e açucarado.
Eu abri um sorriso genuíno e a abracei mais ainda.
— Estava com saudades da senhora.
— Eu também, meu amor. — ela ressaltou.
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Subi ao quarto de hóspedes onde eu e a minha irmã mais velha dormiria. Peguei a minha mala, coloquei em cima da cama e tirei as minhas roupas para guarda no armário.
Suspirei alto enquanto dobrava a minha camiseta e parei por alguns instantes para tentar descansar a minha mente.
Arrumar um emprego não seria uma ideia ruim.
Ou começar fazer um curso.
Eu precisava de alguma responsabilidade para preencher a minha cabeça. Algo para fazer eu sentir-me madura e responsável.
Então me levantei e peguei o meu celular para pesquisar vagas de emprego, obviamente, na cidade onde eu realmente moro.
5 vagas de jovem aprendiz disponível numa farmácia e numa cafetaria.
Seria uma boa
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