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Atraida Para O Filho Do Alfa

Capítulo 1 - Martha

- Então\, única herdeira\, certo?

Limitei a resposta com um sorriso tímido, não estava nem um pouco a vontade com aquele homem do outro lado da mesa me olhando.

- Desculpe\, pode ao menos me dizer o que eu herdei?

- Um restaurante – o advogado mais jovem levantou os óculos e leu o documento com muita atenção – Rotisserie Mamma Terra.

- Pensei que tinha dito Restaurante.

- Tem espaço para consumo – ele deu de ombros.

Eu conhecia a minha sorte tão bem quando minha noção de realidade, heranças repentinas não eram como nos filmes, nada de fortunas grandiosas, apenas casas velhas e dívidas. Eu gostaria de simplesmente recusar e voltar ao meu trabalho na Starbucks do outro lado da rua.

- Se puder assinar aqui\, eu já lhe entrego as chaves.

- Simples assim?

- A menos que queira contratar uma vistoria com o escritório.

Dei uma breve olhada em volta, eu não teria como pagar nem a água que tomei na recepção.

- Não\, só achei que teria alguma taxa.

- Nossos honorários já foram quitados pelo seguro funerário\, agora – ele bateu com o fundo da caneta no papel – aqui.

Risquei logo acima do nome. Marta Collins

Eu não tinha a mínima intenção de gerenciar uma rotisserie em uma cidade do interior para onde minha mãe nunca quis voltar, um espaço para consumo que pertencia a meu recém falecido avó, qual eu não conheci.

Voltei para meu posto arrastando os pés, alguns frappuccinos depois, eu ainda podia sentir aquele molho de chaves esquentando dentro do bolso do avental, como se fosse possível.

Sabia que precisava esquecer, mas meus pensamentos não obedeciam, não era só impressão, estava mesmo esquentando na altura do meu quadril, peguei as chaves do bolso e joguei sobre o balcão, a mão latejando pela queimadura.

O metal estava avermelhado, enrolei a mão no pano úmido a minha frente, me sentindo como em um daqueles relatos sobre fantasmas.

- Você tá bem? – uma das funcionárias novas me perguntou parecendo realmente assustada.

- Estou\, só um pouco cansada.

- Menina\, seu avó acabou de falecer\, vai pra casa\, a gente fecha aqui.

Era até pecado recusar uma oferta tão solicita, tirei o avental sem perder tempo e dei a volta no balcão.

- Suas chaves – minha colega jogou o objeto na minha direção e o peguei no ar\, não estava mais quente.

Eu devia estar ficando louca.

Estacionei meu anglia marrom em frente ao prédio de apartamentos em que eu morava no centro, o lugar mais parecia um albergue. Subi as escadas até o quarto andar, abri a porta e liguei o interruptor, sem luz outra vez.

Mas era tão dispensável com a luz da lua prateada invadindo a casa toda, me atraindo para o vidro da sala de estar, calmamente caminhei até ela como uma marcha nupcial, acima dos prédios, o brilho intenso quase me cegava, era como olhar para o Sol.

Senti o calor atravessando a bolsa, minha roupa e aquecendo minha cintura.

- Que porra está acontecendo?

Abri a bolsa e peguei as chaves usando uma presilha de cabelo e a arremessei pela janela, na esperança que ela não me incomodasse mais, como se me livrando das chaves também me livrava da Rotisseria, mas assim que deitei a cabeça no travesseiro, só conseguia pensar naquela cidadezinha nojenta.

Isso não terminou no dia seguinte e nem no outro, na verdade, perdi as contas de quantos dias de trabalho eu perdi e o tempo que passou até que eu cedesse aquela loucura toda.

Mas a cada novo dia, mais eu era assombrada por aquela ideia de buscar saber mais sobre minhas origens que minha mãe lutou tanto para esconder.

Isso não era uma coisa nova, que surgiu com a herança. Sempre me questionei de onde eu tinha vindo, mas ela sempre mudava de assunto, me obrigando até mesmo a faltar na escola o dia da família. E agora eu finalmente teria a chance de saber mais.

Ainda que as chaves e os pesadelos me assustassem um pouco, eu precisava juntar tudo, abandonar meu emprego, trancar o apartamento e devolver ao locatário para finalmente partir em busca de respostas.

Capítulo 2 - Tyler

O cheiro de sangue era entorpecedor, o som gotejante mais

ainda.

Meu pai limpava uma faca pequena na perna da calça enquanto

esperava o homem loiro amarrado na grade acordar.

- Ainda acha que ele estava mentindo?

Eu não estava questionando a liderança dele, seria idiotice

duvidar do julgamento de um alfa. A minha pergunta foi a titulo de curiosidade.

Um dia eu estaria no lugar dele, tentando tirar informações

de nossos inimigos, ou apenas os fazendo pagar por serem quem são.

- Esses caras são treinados para aguentar a dor, Tyler. Se

eu parar de pressionar, só Deus sabe quando conseguiremos capturar outro.

O homem gemeu e tentou levantar a cabeça, estava acordando.

Meu pai se levantou e caminhou até ele, agarrando o cabelo no topo e levantando

o rosto do homem, tão machucado que abriu apenas um olho.

- Onde está a criança? – o alfa se aproximou lentamente,

falando devagar.

- A mesma pergunta de sempre – o homem debochou – sério,

vocês estão obcecados.

Meu pai rugiu, a raiva dilatando todas as suas veias. Era

lua crescente, ele não poderia se transformar totalmente, mas conseguia esticar

as presas e os pelos longos do rosto, ainda que rugir não fosse natural em

nenhuma força, a força da sua garganta assustava qualquer um.

- Sabemos que a criança nasceu e a lua de sangue está

próxima, ou nos entregam ela, ou matamos um a um, a começar por você, depois

seus irmãos – enquanto falava, o alfa deslizava os dedos peludos sobre a lâmina

da faca – até chegar na doce menininha loira da escola infantil de Gray’s Falls.

Qual é mesmo o nome dela? – a tensão crescia no rosto do homem, uma raiva tão

intensa que arrepiou os pelos da minha nuca, isso não parou o alfa que ficou a

poucos centímetros dele – Emily.

- Seu desgraçado.

O alfa acertou a faca na parte baixa do abdômen do homem, com

certeza havia perfurado o rim, revirei os olhos. Meu pai era impulsivo demais.

- Diga onde está.

- Nenhuma criança nasceu com a marca – o homem rosnou as

palavras.

Meu pai olhou em volta, cada lobo balançou a cabeça

lentamente. Ele se virou e enfiou a faca por diversas vezes no peito do nosso

inimigo. Vi a vida esvaindo pelos cortes.

- Tragam outro, um desses porcos deve saber de alguma coisa.

O alfa saiu, deixando o galpão e a bagunça para que fossem

limpos pelos outros, como um pedaço de trapo velho, o homem foi irado da grade

e jogado no chão enquanto estendiam a lona. Meus olhos pararam, fixos na

tatuagem em seu peito, uma grande borboleta de asas fechadas.

Aquilo me apavorava, o símbolo que me causava tanto medo era

para ele uma dádiva, tanto que morreu por aquela criança.

A profecia era muito simples, falava sobre uma criança que

nasceria da família original de Grey’s Fall e traria com ela a arma para exterminar

cada Licantropo vivo.

Eles enrolaram o homem em uma lona e o carregaram para fora,

olhei no relógio.

- Atrasado, Tyler?

- Está quase amanhecendo, a essa hora a rotisseria já

estaria abrindo. Eu daria tudo por uma torta de limão cremosa.

Capítulo 3 - Tyler

A cada quilometro que eu avançava na estrada, me perguntava

como cheguei a isso. Dirigindo acima do limite de velocidade em uma terça feira

de manhã, depois de ter deixado o trabalho e meu apartamento alugado para dirigir

uma rotisseria quando eu mesma nem sabia direito o que era.

Grey’s Fall ficava no limite norte do Texas, bem, ela ainda

fica. É quente e tem recorde em ataques de coiote e outros animais, além de um

monte de caipiras que se conhecem.

Minha mãe nunca disse muito sobre o lugar, apenas que se

sentiu aliviada em se mudar para uma cidade grande assim que eu nasci.

Ela era uma boa mãe, tirei os olhos da estrada apenas para me

tranquilizar com a foto de nós duas pendurado no retrovisor, mas foi o

suficiente para um animal, vindo de algum lugar da floresta. Tentei frear, o

carro rodou, batendo a lateral no cão que entrara no caminho e não consegui

controlar, saí da estrada batendo contra uma árvore.

Minha cabeça foi direto para o volante, uma dor aguda

irradiou do lugar, tão forte que vi flashes de outros lugares, como fotos

passando na minha mente feito um filme, algumas eu reconheci, as chaves da

rotisseria, a estrada, meu rosto no espelho. Mas outras eram estranhas e

assustadoras, olhos de lobo, pelo de animal correndo entre as árvores, cinza e

mesclado, a lua cheia, sangue.

Me ajeitei e tirei o cinto, o ardor da marca que ele causou

me fez arrepiar, olhei para trás. O animal no meio da estrada estava imóvel,

exceto pela barriga, subindo e descendo com a respiração pesada.

Precisava agir, peguei o celular no porta copos e saí do

carro, enquanto ligava para a emergência também me aproximava do animal.

- Oi amiguinho. Me desculpe.

- Departamento do xerife – a voz do outro lado da linha

parecia entediada.

- Alô\, eu sofri um acidente na estrad...

- Que tipo de acidente?

- Atropelei um cachorro e...

- Pode me dizer onde está\, vamos retirar o animal assim que

possível.

- Eu passei pela placa de entrada da cidade há uns seis

minutos...

- Vou enviar alguém em breve.

- Você me deixar terminar? Eu atropelei o cão e perdi o

controle, bati em uma árvore. Preciso de um guincho também.

- Quem tá falando?

- Meu nome é Martha Collins.

- Não consegue ligar o carro?  - ela não parava de interromper\, era irritante

e muito antiprofissional.

- Posso ter sofrido uma concussão.

- Espera.

Ouvi uma voz masculina no fundo, não tendi o que disse, mas

alguns segundos depois a atendente voltou com a solução.

- O xerife está a caminho.

- Obrigada – mas antes que eu terminasse a palavra ela já

havia desligado.

- Fique firme cãozinho.

Me senti tão culpada por aquela vida se esvaindo, passei os

dedos no pelo escuro do animal, tão preto como a noite, os olhos castanhos

pareciam implorar por ajuda, não tinha coleira apesar do pelo marcado no

pescoço e estava nitidamente subnutrido.

Voltei ao carro e peguei um pacote de snacks de carne na

sacola do posto de gasolina.

- Consegue comer? – coloquei as tiras de carne aos pedaços

na boca dele, o cão chorou, mas engoliu alguns pedaços – vai ficar tudo bem.

Eu me senti na obrigação de ajuda-lo, durante a infância,

pedi um cachorro em cada Natal e aniversário, sempre recebendo não como

resposta, eu tive gatos, pássaros, hamsters, nunca nenhum cão. O fascínio que

eu tinha nesses animais havia esfriado até aquele momento.

Me assustei com a sirene repentina que o xerife ligou ao se

aproximar, ele parou perto e saiu, se aquele fosse um filme adulto do site com

X, eu estava disposta a atuar.

Nem percebi que continuava agachada, ele se aproximou, a

barba por fazer manchando seu rosto claro parecia áspera de um jeito delicioso.

Ele não sorriu ou mostrou empatia alguma.

- Deixa que eu pego essa coisa.

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