É o primeiro dia de Thais trabalhando na casa de stripper. Ela se olha no espelho do camarim e não se reconhece, seus cabelos naturalmente cacheados estavam lisos e a maquiagem pesada com batom vermelho e sombras escuras escondiam o medo que sentia. Ela se levanta da cadeira e abre o roupão que esconde seu corpo, ela observa a lingerie preta rendada, tão desconfortável quanto seus sapatos de salto alto, Thais se sente exposta e envergonhada, nunca na vida havia se mostrado para um homem e agora ela iria dançar usando aquelas peças minúsculas na frente de vários.
Na mesa ao lado ela vê uma máscara preta, ela pega e coloca em seus olhos, ela sente que com aquela máscara é como se não pudessem vê-la, Thais se sente menos desconfortável, ela olha para a gerente da casa pelo reflexo do espelho, Paloma era uma mulher de meia idade, loira, alta e muito bonita que cuidava muito bem de todas as meninas, Paloma sorri e diz aliviada
_ Você se sente melhor usando a máscara? Pode usar! Ficou muito bem em você, destacou seus lábios carnudos.
Thais se sente insegura e não consegue esconder o que sente, suas mãos começam a tremer, ela caminha com dificuldade até a porta onde Paloma está a espera, Thais para em frente de Paloma e diz preocupada
_ Não sei se vou conseguir!
_ Ninguém aqui te conhece! Se você não quiser mais fazer isso, não precisa voltar a fazer, mas se você dançar agora como dançou durante o teste... Vai ser a dançarina mais requisitada da casa!
Elas se abraçam e Thais caminha até o palco principal.
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Em uma mesa afastada, Caio Ribeiro saboreia um copo de whisky.
As meninas, usando apenas calcinha e sutiã, passam por ele com bandejas nas mãos oferecendo bebidas e algumas oferecendo seus serviços extras, ele recusa apenas balançando a cabeça e esboçando em semblante sério. Era visível que ele não gostava de estar ali, os outros homens que o acompanhava estava rindo alto, bebendo e se aproveitando das meninas que passavam por eles, Caio apenas observava a bela morena que dançava no palco principal.
Ele se encantou com seus movimentos, não parecia que ela queria sensualizar, parecia uma bailarina moderna se apoiando em uma barra de pole dance.
Ela rodava, contorcia seu corpo e abria as pernas enquanto se segurava na barra, Caio olhava cada movimento com atenção, olhava os cabelos que de vez em quando cobria seu rosto que já estava coberto por uma máscara preta, seus lábios tingidos de vermelho às vezes mostrava um sorriso tímido ao mesmo tempo sedutor, ele olhava cada detalhe de seus movimentos.
Houve um momento que um homem a chamou, ela foi até ele engatinhando como uma gata arisca, o homem colocou uma nota de cem entre seus seios enquanto falava algo em seu ouvido, Caio observava tudo com atenção, a bela morena apenas sorriu, pegou o dinheiro que com seus dedos longos e devolveu ao homem. Caio se sentiu curioso, o que o homem pediu que a fez devolver o dinheiro?
Neste momento, uma mulher loira de meia idade se aproxima da mesa
_ Boa tarde senhores! Gostaria de saber se existe algo que os senhores gostariam para tornar visita mais agradável!
Caio responde rapidamente
_ Quero uma exclusiva com a moça mascarada!
_ Senhor! Ela não faz programa! Sinto muito!
_ Não quero um programa! Quero que ela dance só pra mim!
Uma semana antes
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Thais sai do seu trabalho na lanchonete a uma da tarde, ela vai até a escola infantil próxima buscar sua sobrinha Laura de cinco anos, o horário de saída é ao meio dia mas ela havia conversado com a direção e explicado que trabalha até a uma da tarde, a diretora da escola, muito atenciosa e sabendo da situação de Thais, deixa que Laura fique até uma da tarde e ainda lhe oferece almoço para que a menina não fique com fome.
Thais tem 21 anos e vive com sua avó Arlete e sua sobrinha Laura, ela trabalha meio período em uma lanchonete e estuda publicidade e propaganda a noite, a tarde ela cuida da casa, da sobrinha e ajuda sua avó a vender seus artesanatos na internet, não é um negócio rentável mas tem conseguido cobrir parte das despesas da casa, sua avó faz artesanatos com mais seis senhoras e Thais cuida da divulgação, propaganda e venda online. Três vezes por semana ela também treina como bailarina acrobática pela faculdade, foi assim que conseguiu sua bolsa de estudos, ela ensaia desde os 15 anos, começou em um centro cultural com professores voluntários e aos 18 anos conseguiu uma bolsa de estudos, desde que tivesse notas boas e participasse do grupo de bailarinos na faculdade.
Após pegar Laura na escola, as duas caminharam pelas ruas de mãos dadas, Thais percebeu que sua sobrinha estava um pouco triste e resolveu conversar com ela
_ Como foi na escola?
_ Foi legal.
A criança está de cabeça baixa e com um semblante triste
_ Aconteceu alguma coisa?
_ Não! Podemos visitar a mamãe?
_ Agora? Vamos sim!
Laura puxa Thais pela mão na direção contrária, ela sabe bem o caminho que precisa seguir, apesar de ser pequena tem uma inteligência muito grande, as duas caminham em silêncio até chegar no cemitério, Thais observa a menina enquanto ela corre em direção ao túmulo de sua irmã Amanda.
Amanda faleceu aos 23 anos quando deu a luz à Laura, foi um momento difícil pois Thais tinha apenas 16 anos, de repente ela se viu com um bebê, sem a irmã e tendo que cuidar da avó que nunca superou a morte da neta mais velha. As duas foram abandonadas pela mãe quando Thais tinha 3 anos e Amanda 10, seu pai se suicidou em seguida pois não superou a traição da esposa deixando as duas crianças sob os cuidadod da avó materna, Amanda sempre cuidou muito bem de Thais e sempre falava que iria trabalhar muito para que Thais pudesse estudar, se formar e viver uma vida boa, quando Amanda faleceu, Thais prometeu em cima do caixão que iria cuidar da sobrinha como se fosse sua filha e iria realizar o sonho da irmã de conseguir se formar na faculdade.
Laura chega em frente ao túmulo da mãe e olha Thais sorrindo, acena para ela sorrindo e Thais apressa mais o passo para chegar perto da sobrinha, assim que chega perto ela se abaixa e abraça a menina, as duas olham a lápide onde está escrito "Aqui descansa uma irmã, neta, e mãe"
_ Tia! Eu tenho mãe!
_ Claro que tem! Ela tá olhando pra você do céu e cuidando de você!
_ Por que minhas amigas dizem que eu não tenho mãe? Elas disseram que eu não devia cantar no dia das mães!
Thais olha o rosto da menina, e passa a mão em seus cabelos lisos.
_ Olha Laura! Quando a sua mãe foi pro céu, eu prometi que ia cuidar de você como se você fosse minha filha, então eu tenho todo direito de estar pra ver você cantar no dia das mães!
_ Tia! Eu posso te chamar de mãe?
Thais começa a chorar e sorrir ao mesmo tempo
_ Meu amor! Claro que pode. Eu fico muito feliz se você me chamar de mãe!
Laura envolve seus bracinhos em volta do pescoço de Thais e fala baixinho
_ Então eu tenho duas mães! Por que tá chorando mãe?
Thais ri e as lágrimas continuam descendo, ela afasta um pouco o rosto e enxuga suas lágrimas com as mãos
_ Sabe... Quando a gente tá muito feliz, a gente chora, eu tô feliz porque sou sua mãe!
_ Então hoje é um dia feliz! Podemos comer frango frito?
_ Claro!
As duas caminham e vão até um mercado próximo, Thais tem apenas 15 reais na carteira e pede tudo em coxa de frango, o preferido de Laura. Ao chegar no caixa para pagar pelo frango, um homem que estava na fila logo atrás dela a cutuca no ombro.
_ Com licença. Acho que sua irmã está com vontade de comer aquele chocolate, ela está olhando muito.
Thais olha o homem e em seguida olha para a menina que está parada em frente a uma vitrine olhando fixo para uma barra de chocolates, infelizmente Thais não tem mais dinheiro e se entristece ao ver tal cena.
_ Ela não é minha irmã, é minha filha e hoje não posso comprar, mas amanhã eu recebo meu salário e compro o chocolate pra ela.
_ Mas ela vai ficar com vontade? É tão baratinho!
Thais olha o homem, tão imponente e preocupado com a criança, ela fica brava pois quem ele pensa que é para se meter na vida delas?
_ Senhor! Que parte de "eu não posso comprar" você não entendeu? Acha que gosto de ver minha filha querer algo e não poder comprar?
Thais chama Laura, paga pelo frango e vai embora.
Já na calçada o homem grita pelo nome da Laura, as duas param e olham pra trás, o homem vem correndo, chega perto e se abaixa em frente a criança lhe esticando o chocolate que ela tanto observava. Thais se enfurece mas não pode fazer nada, Laura sorri e pega o doce, mas rapidamente ela devolve e fica seria
_ Minha mãe falou que não devo aceitar doces de estranhos!
_ Então eu vou me apresentar, meu nome é Caio! Agora não sou um estranho!
Laura olha para Thais que acena com a cabeça, então ela volta a sorrir e aceita o doce.
_ Filha, guarda pra depois do jantar.
Thais agradece e o homem vai embora, Thais o observa enquanto ele anda na direção contrária, ela pensa que seria bom se Laura tivesse conhecido o pai dela, que talvez elas não passariam por tanta dificuldade se pudessem contar com mais alguém para ajudar a menina.
Enquanto caminhavam para casa, Laura pulava, falava e sorria, ela era tão pura e inocente, um pequeno chocolate era suficiente para alegrar o seu dia, era uma criança feliz apesar de toda a dificuldade que passavam e Thais era feliz pois tinha o amor de Laura e de sua avó.
Caio Ribeiro, um homem de 30 anos, cuja família é dona de uma empresa que fabrica brinquedos, alto, cabelos lisos e corpo atlético, seu rosto bem desenhado exibe uma barba curta, os olhos claros exibem um semblante de um homem sério que quase não sorri.
Caio trabalha na empresa da família como diretor de vendas e marketing, ele gosta muito do seu trabalho e está sempre tentado novos clientes para seus produtos, seu foco agora é vender seus brinquedos para famílias de baixa renda, o que não foi bem visto pelos outros diretores pois isso poderia aparentar que os produtos não era de qualidade.
Durante uma reunião matinal, Caio defende sua posição
_ Não estou dizendo para associar a imagem da empresa a produtos de baixa qualidade. Quero apenas criar uma segunda linha com brinquedos que possam ser adquiridos por famílias de baixa renda.
O pai de Caio e diretor geral olha fixamente para ele na sala de reunião
_ Caio! vou te dar um voto de confiança. Estamos longe das datas de festas então vai ser difícil mas vamos ver como você se sai. Você pode apresentar os protótipos e tentar vender por encomenda!
_ Mas todo mundo sabe que é mais fácil com produtos já fabricados!
_ Eu aceito porém com essas condições. Você pode fazer o que quiser e contratar algumas pessoas pra te ajudar, mas vai ser nessas condições.
A contragosto, Caio aceita as condições e liga para marcar de se encontrar com seu melhor amigo, Maurício. Maurício é filho da babá que cuidou de Caio desde pequeno, os dois viviam juntos desde criança então são como irmãos, hoje em dia, Maurício tem seu próprio negócio, um mercado pequeno na periferia, Caio quis ajudar para que seu negócio se tornasse maior, mas Maurício quer andar com as próprias pernas.
Já passou da hora do almoço, então os dois combinam de comer algo juntos.
Durante o almoço eles conversaram sobre o que poderiam fazer para se ajudar simultaneamente, uma vez que nenhum dos dois tinham recursos suficientes para colocar o projeto em prática.
_ Caio. Eu vou fazer algumas encomendas mas não serão suficientes, você vai precisar convencer outros comerciantes do bairro e dos bairros vizinhos!
_ Você poderia me ajudar?
_ Eu só posso apresentar alguns comerciantes para você, mas não vai ser fácil convencer eles, se estivéssemos perto do dia das crianças ou do natal seria mais fácil, mas estamos em fevereiro!
Maurício olha o relógio e se apressa para voltar ao mercado que é dono, é hora do rapaz que trabalha no caixa ir embora então ele precisa voltar antes das duas da tarde.
Os dois voltam juntos conversando e criando estratégias para convencer os comerciantes locais.
No mercado Maurício conversa com alguns funcionários enquanto Caio o espera, ele pretende se despedir e ir embora mas uma cena chamou sua atenção, uma menina de aproximadamente cinco anos, morena, cabelos lisos e olhos verdes, ela está de mãos dadas com uma moça jovem, morena de cabelos castanhos curtos e cacheados, ele observa com atenção a pequena menina sorridente, por um instante o sorriso da garota o lembrava alguém, a menina sorria e pulava batendo os tênis surrados no chão, era visível que as duas eram muito humildes mas eram felizes.
Enquanto a jovem ia até o caixa, a pequena menina parou em frente a uma vitrine e ficou olhando fixamente uma barra de chocolates, por coincidência era o chocolate preferido de uma antiga namorada que desapareceu misteriosamente, a menina olhava e segurava as alças da mochila balançando o corpinho magro pra frente e pra trás, Caio sentiu pena da menina, ele percebeu que ela queria o doce e não iria pedir para que comprassem para ela.
Quando se deu conta, Caio já estava andando em direção à jovem e tocando em seu ombro
_ Com licença. Acho que sua irmã está com vontade de comer aquele chocolate, ela está olhando muito.
A jovem olha para Caio e em seguida olha para onde está a menina, olha de volta para Caio com uma expressão misturada de tristeza e vergonha.
_ Ela não é minha irmã, é minha filha e hoje não posso comprar, mas amanhã eu recebo meu salário e compro o chocolate pra ela.
Caio nunca poderia imaginar que aquela jovem fosse mãe da menina, parecia irmã mais velha
_ Mas ela vai ficar com vontade? É tão baratinho!
A jovem o olha fixamente, mas dessa vez com uma expressão de raiva
_ Senhor! Que parte de "eu não posso comprar" você não entendeu? Acha que gosto de ver minha filha querer algo e não poder comprar?
Caio se sente péssimo por cobrar de uma mãe que provavelmente não tem dinheiro suficiente.
A jovem paga pelas suas compras e chama a menina em voz alta
_ Laura! Vamos meu anjo.
A garota corre em direção a mãe e segura em sua mão saltitando e balançando o vestido.
Caio se sente culpado por deixar a garota ir embora sem levar o que gostaria então ele pede a um funcionário o doce que a garota tanto olhava, pagou e correu para a calçada, olhou para os lados e as viu caminhando de mãos dadas, ele se lembrou do nome da menina e a chamou em voz alta.
_ Laura!
As duas olharam para Caio e o mesmo correu em sua direção, ele se abaixou em frente a Laura e ofereceu o doce que ela tanto olhava, ela sorri e pega o doce, ele observa suas mãozinhas e seus lindos olhos verdes, mas rapidamente ela devolve e fica seria, sua feição tão familiar o faz ficar hipnotizado pela beleza da pequena.
_ Minha mãe falou que não devo aceitar doces de estranhos!
Caio sorri, era uma menina inteligente.
_ Então eu vou me apresentar, meu nome é Caio! Agora não sou um estranho!
A pequena olha para sua mãe e Caio olha também, ela está séria e apenas acena com a cabeça, então a pequena volta a sorrir e aceita o doce.
_ Filha, guarda pra depois do jantar.
Caio se levanta, ela agradece olhando fixamente em seus olhos, por algum motivo ele se sente intimidado pelo olhar daquela mulher, era visível que ela estava brava por não poder comprar o doce para a filha, ele percebe o desconforto da mãe com aquela situação então ele apenas balança a cabeça e vai embora.
Caio andou alguns passos e virou em direção a Laura, ela pulava e mostrava o doce para sua mãe, que a olhava e sorria caminhando e de vez em quando jogando os cabelos para trás, Caio ficou olhando as duas até virarem a esquina.
Era para crianças como Laura que Caio gostaria de fabricar brinquedos de qualidade com preços mais baixos, era um projeto que não ia lhe dar muito lucro mas ele precisava tentar.
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