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A Escolhida Pelo Meu Lobo

A Convocação

Hoje é o dia de mais uma convocação, o dia que mais evitei em toda a minha vida, preciso expor Luna e o pior é que sei que ela não vai me permitir transformar, conversamos desde os meus treze anos, ela já me ensinou muita coisa, mas nunca me permitiu uma transformação que fosse.

Sempre conversamos muito e foi com sua ajuda e ensinamentos que consegui me manter viva e com a minha dignidade intacta, sem nem contar minha saúde mental, afinal não tenho amigos aqui nesta cidade.

Fui obrigada a deixar academia assim que completei meus dezesseis anos, afinal quem não se transforma na convocação não está apto a continuar aprendendo, pois os próximos ensinamentos são técnicas de guerra e conhecimento dos outros lobos, em outras palavras, tenha sempre conhecimentos sobre seus inimigos.

Não estamos envolvidos em nenhuma guerra e nem fomos recrutados pelos lados que estão em guerra no momento, a qual é o extremo sul contra o extrema norte. O motivo dessa guerra não sei, mas a fama dos lobos do norte é bem sangrenta e brutal.

Desde que fui expulsa todos os anos sou obrigada a comparecer em todas as convocações, meu pai sempre usa isso como desculpa para bater publicamente por ser uma vergonha para a família.

Eles constantemente me cobram por ser a mais fraca da nossa cidade e após meu encontro com a Luna, detalhe esse que eles não sabem, eu me tornei albina igual a ela, meus olhos, cabelo e pele são extremamente brancos.

Essa mudança gerou muitos conflitos e fofocas, afinal ninguém mudava assim de uma hora para outra, porém a única mudança rápida foi meus olhos, que até quando fui dormir eram completamente escuros e quando acordei estavam brancos como a neve.

Durante uma semana fiquei trancada dentro do meu quarto, minha mãe tinha esperança que eles voltassem a escurecer, mas ao depois de uma semana com eles cada vez mais brancos ela não teve como me manter mais presa.

Minha pele já não era muito escura, mas agora sou completamente pálida como se estivesse doente mesmo, essa foi bem gradual assim como meu cabelo, que foi clareando por mechas e quando percebemos estava completamente branco.

Já fui acusada de ser uma bastarda, mas essa acusação acabou caindo por terra, por não existir ninguém com essas características. Mesmo assim meu pai descontou toda a sua raiva pelos boatos nos treinamentos, era assim que ele chamava às vezes que ele me batia até me deixar desmaiada.

Todas essas vezes me encontrei com Luna, que me contava o que acontecia ao meu redor, muitas dessas vezes ela que me levou para a floresta e com sua ajuda encontrei minha caverna, meu refúgio, o lugar que sempre usei para me esconder nos períodos dos cios dos lobos e principalmente dos meus irmãos.

Já passei semanas após os “treinamentos” na caverna na floresta sem conseguir me mexer, o que me ajuda muito são as ervas que encontro e as deixo sempre em um estoque guardadas, sejam secas ou já preparadas em forma de pomada, não sei como reconheço ou para que servem, mas ao tocar ou sentir o cheiro meu corpo se move sozinho.

Foi assim que descobri algumas ervas que por muitas vezes usei em minha família, para os fazer dormir. Isso sempre acontecia nos cios, quando eles não encontravam uma loba para os satisfazer, vinham a minha procura.

Luna foi essencial nesse tempo, ela me mostrou as ervas certas e como preparar para que ninguém percebesse, assim eles dormiam por alguns dias e em suas mentes eles tinham se aliviado, mas nunca me tocaram.

Hoje será a minha última convocação, mas ao invés disso me deixar feliz estou em desespero, afinal se Luna não se mostrar serei intitulada como serva, em outras palavras, servirei apenas para o prazer sexual da minha família ou quem eles quisessem agradar e desta vez eu não conseguiria escapar utilizando chá.

Após uma apresentação a todos da comunidade sou novamente exposta ao ridículo, afinal com meus vinte e cinco anos não consegui despertar a minha loba. Porém, desta vez minha mãe não conseguiu segurar meu pai, que agora é o atual líder, ele e meus irmãos me bateram com tamanha força que fiquei horas ainda jogada no chão.

Para meus pais, ter uma filha intitulada como serva era a maior vergonha que uma família poderia passar, mas também não me deram a opção de fugir, na mente deles se me batessem com mais força minha loba iria reagir e aparecer.

— Luna…

— Sno, me perdoe, mas eu não posso…

— Eu já entendi e aceitei Luna, mas consegue me levar até o rio? Preciso das ervas e da água para me curar.

Consigo perceber que Luna pondera alguns segundos, mas logo sinto sua energia invadir meu corpo e a passos rápidos vou escondida até o rio para me limpar e procurar as ervas que preciso agora.

Ao chegar no rio, vou sentindo a energia de Luna deixando meu corpo e foi inevitável não cair e resmungar pela dor que sinto por todo o meu corpo, mesmo de roupa entro no rio sentindo os ferimentos arderem.

Cheiro de Sangue

Estamos a semanas longe de casa a procura de inimigos ou aliados. Por onde passamos deixamos nossa marca, afinal não seria tão temido sendo uma pessoa doce e amável. O rastro de sangue gerado pelas mortes brutais nos deixavam orgulhosos e isso compensava qualquer cansaço.

Antes de chegar a uma pequena cidade sinto um forte cheiro de sangue, esta cidade apesar de ser pequena tem grandes lobos que podem me ajudar na guerra contra o Sul, então ter mais alguém aqui os atacando não me agradava em nada.

Brat me olha como sempre vendo mais além da situação, ele desde criança andava atrás de mim absorvendo tudo ao seu redor, já tivemos diversas situações que ele provou ser leal a mim que hoje confio de olhos fechados em suas observações e apontamentos.

Sem falar nada por estar embriagado pelo cheiro daquele sangue, saio em direção a floresta, me aproximo silenciosamente e de longe olho aquele ser minúsculo cair e choramingar de dor, ela tinha sangue por todo o seu corpo, aqueles ferimentos eu conhecia muito bem, afinal meus treinamentos foram todos supervisionados pelo meu pai.

Ser fraco nunca foi uma opção ofertada para mim, a perfeição sim e quando a maldição se fez presente eu a acolhi como um presente, claro que isso me causou alguns contratempos.

Como, por exemplo, ter matado o meu pai, o que me fez assumir a liderança da alcateia, no Norte não nos tratamos como nos outros continentes. Somos “família”, um por todos e todos por um, entre nós claro que existe, alguns conflitos, mas a lei soberana é, mexeu com um, mexeu com todos, isso reforcei na minha liderança e foi muito bem aceito pelos demais.

Escutar o choro daquele ser mexeu comigo, eu queria a pegar no colo e levar embora, como alguém poderia fazer isso? Ela era tão branca…

— Foi uma luta feia — resolvo sair de trás das árvores e a percebo paralisar de medo — Espero que o outro tenha ficado pior — brinco para amenizar um pouco a situação.

— Não foi uma luta — ela me responde calma — Foi uma execução, ou quase, já que ainda estou viva.

— Você realmente tem vários fãs — a vejo revirar os olhos enquanto tenta se lavar para retirar o sangue seco do corpo — Vou te ajudar — me aproximo já entrando na água e indo a sua direção.

— Por quê? — também me fiz essa pergunta enquanto me aproximo, mas a ver engatinhando com dor tentando se afastar me fez rir baixo.

— Seus ferimentos… — paro de falar assim que toco a sua pele, meu lobo logo me grita me pedindo par assumir o controle.

— Minha.

— Não vai tocar nela, não temos tempo para você a matar após se saciar.

— Não idiota, ela é minha, é a nossa companheira.

— Acredita mesmo nisso?

— Sim, escuta Dods, escuta a loba dela, merda, garoto, você precisa acreditar em mim, precisamos dela.

— Quem fez isso com você? — ela me olhava atenta, sempre que fico conversando com Demon, o nome do meu lobo, meus olhos ficam opacos e parados como se estivesse olhando para o nada.

— Me solta, por favor — sem querer a aperto com mais força, pois minha mente já planejava como iria matar o infeliz que a tocou, mas quando vejo sua lágrima escorrer meu corpo se move sozinho a abraçando forte e uma sensação de alívio, conforto e acolhimento me envolve, ela também sentiu, pois se acomodou em meus braços.

— Como é seu nome? — pergunto a mantendo nos meus braços enquanto jogo água em suas costas e braços, ver o sangue escorrer só fazia o meu ferver e consigo sentir um cheiro que não é dela, agora, sim, tenho alguém para caçar.

— Snohaxa — sua voz é apenas um ruído de tão baixa, ela se controlava para não chorar de dor, isso era nítido em suas expressões e movimentos.

— Snohaxa… — então esse é nome da minha companheira, tinha um gosto doce quando eu pronunciava, mas ainda não consigo entender como a ter ao meu lado irá me ajudar a vencer a guerra.

— Você não é daqui, por que está me ajudando? — bem observadora, mas ainda, sim, imprudente garota.

— Acertou, sou do Norte — novamente ela paralisa, sei que nossa fama nos precede e pelo jeito ela já ouviu falar sobre nós — Não tenha medo, se a quisesse morta já estaria, estou lhe ajudando, pois sei como isso dói.

— Está um pouco longe de casa, o que te traz aqui? — sua pergunta era mais uma súplica, nós dois sabíamos que ela não estava perguntando aquilo e quando nosso olhar se encontrou eu sabia que ela já tinha confirmado em sua mente que eu estava ali para atacar sua cidade.

— Não saia deste rio — a puxo pelas pernas a sentando em meu colo, seu corpo é tão pequeno, frágil e se molda contra o meu de forma surpreendente, mesmo ela se debatendo não conseguiria sair dali, não tinha forças — Não quero te matar, então não volte.

— Preciso voltar, preciso avisar — lhe dou um beijo na testa, nunca demonstrei carinho por ninguém, mas novamente meu corpo se moveu sozinho.

— Não me deixou escolha, então — aperto em seus pontos vitais para que ela durma por um bom tempo, isso irá ajudar a se recuperar enquanto procuro a criatura que irá me divertir, ninguém mandou tocar na minha companheira.

O Ataque

Ter ela ali completamente apagada nos meus braços não foi a melhor sensação, mas realmente era o necessário, eu preciso arrancar a cabeça de quem a tocou dessa forma, pelo jeito não foi apenas uma pessoa, mas essa ela conseguiu retirar sangue desde, então ele será o primeiro.

— Dods, não temos tempo, a loba dela vai logo a acordar, consegui apenas um tempo, pois prometi que levamos elas embora.

— Demon, você fez o quê?

— Não enche, ela é nossa companheira e vamos levar embora.

— Como?

— Arrancamos a cabeça do pai, jogamos ela no ombro e vamos embora, sei lá, você pensa aqui e eu mato.

— Você é incrível — minha fala debochada me resultou um rosnado em troca.

— E você ainda não acredita que ela é nossa companheira, para a esquerda agora.

— Como sabia dessa caverna?

— Luna me disse.

— Luna?

— Quando retornar precisamos daquele xamã.

Demon nunca foi de falar tanto, muito menos empolgado em não matar ninguém, então realmente tem algo nessa garota que o controlou, escuto seu rosnado, em sinal que ele não está gostando, às vezes esqueço que ele consegue ler os meus pensamentos.

Na caverna estava tudo arrumado, ela realmente gosta daqui e também gosta de ervas, certamente ela vai se dar muito bem com nosso xamã, a deito em uma cama improvisada que tinha ali e pelo cheiro ela já ficou aqui sangrando muitas vezes, isso fez minha irá retornar com tudo.

A deixo deitada ali e vou ao encontro de meu irmão que na minha ausência liderava com perfeição, ele nunca me desrespeitou com palavras ou ações, mesmo quando liderava no meu lugar deixava claro que o líder sou eu.

— Demorou.

— Vamos atacar, mas tem um em específico que quero arrancar a cabeça com as minhas mãos.

— O líder?

— Pelo jeito não, este precisa estar vivo.

— Filha dele, ela é a filha dele — Demon quase gritava tamanho era a sua empolgação, mas neste momento eu sabia que não era pela nossa companheira e sim em matar quem tocou nela.

— Vamos levar a filha dele, então a ordem é forçar ele querer um acordo de paz — olho para todos os lobos já transformados e me transformo também em um enorme lobo negro e mando o recado — Não matem a família do líder, mulheres e crianças, o resto entrou na frente podem se divertir.

Assim partimos para a vila, a nossa frente, não demorou muito o líder se apresentou e com ele meu alvo, como estava esperando era o seu primogênito, ele foi o que mais bateu na minha companheira.

Vou com tudo para cima dele, era impossível ele se mexer, poderia acabar ali, mas que graça teria não é mesmo? Meus lobos mantêm os outros afastados e ali mostro como é que se bate de verdade.

Ele já me suplicava pela morte, quando chego bem próximo a de sua cabeça e vou voltando ao normal parcialmente para conseguir falar sem que os outros escutem.

— Um presente por tocar na minha companheira, espero que aprenda que com um Alfa Supremo não se brinca.

— Sno… — sua voz era apenas um sussurro e senão estivesse muito perto não escutaria.

— Lembrou, agora volte para o inferno — no segundo seguinte já estava na minha forma de lobo novamente e arranco sua cabeça deixando em cima da sua barriga.

As pilhas de corpos, ou parte deles já estavam por todos os lados, isso realmente me alegrava, era a visão mais linda de toda a minha existência, mas aquela albina não saia da minha mente me deixando preocupado.

— Brat.

— Tem uma criatura pequena, a traga para mim — ele me olha confuso — Você saberá quem é.

Assim volto a me divertir com alguns lobos que ainda queriam mostrar que conseguiam lutar, eles até que lutavam muito bem, mas nada se compara ao nosso treinamento.

O cheiro de medo entrava pelas minhas narinas, o desespero de muitos pelas suas próprias vidas me divertia, alguns, o desespero era pelas suas famílias, se estavam protegidas, esses meus homens apenas apagavam, essa era a ordem de sempre.

Não demora muito sinto o cheiro dela, fraco então quer dizer que ela está longe, mas Brat também não está por perto, mando todos pararem, mantendo todos os lobos ainda vivos e acordados presos, era questão de minutos para minha linda companheira ser nossa.

— O que pensa que está fazendo Dods, me deixa matar esse infeliz, ele e suas crias.

— Calmo Demon, preciso dele vivo para levar nossa companheira embora.

— Você não tem noção do que já fizeram com ela.

— Calma, Demon, depois deixo você se divertir com eles, mas agora precisamos aguardar, eu que penso aqui, não é?

Não escuto a sua resposta, ele não tem argumento contra isso, começo a sentir o cheiro da nossa companheira se aproximando, mas ela estava com medo, começo olhar ao redor e vejo que provavelmente foi aqui que ela levou a última surra, então será aqui também que ela será liberta.

— O que você quer? — o líder está ajoelhado a minha frente, faço questão que ele veja seu primogênito lindo com a cabeça arrancada, o medo que exala dele pode ser sentido a distância.

— Você só está vivo com um propósito, mas se continuar falando arranco sua língua fora.

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