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ENSINA-ME A AMAR

01

...PRÓLOGO...

Tudo seria mais fácil de eu pudesse simplesmente arrumar as minhas coisas e ir embora, como se tudo que eu estivesse vivido fosse apenas uma brincadeira sem graça. Seria tudo mais simples se ela tivesse me deixado em um orfanato.

Tinha apenas quatro meses quando a minha mãe faleceu de "causas naturais", bom, é o que a minha avó Vanusa me contou assim que eu fiz dez anos de idade. Eu era uma garota curiosa e sorridente, então quando na escola a professora chamou a minha mãe de avó, tive que perguntar.

A minha avó amada, é uma alcoólatra. Ela não é uma pessoa ruim, longe disso, mas o problema com a bebida trouxe a maior confusão para as nossas vidas. Minha avó passou a se vender em troca de bebida, pedir dinheiro emprestado a agiotas, traficantes e ao banco.

Apesar das enormes dívidas, ela se vestia de forma glamurosa quando saia toda a noite para trabalhar no clube noturno, o Le Chanson. Minha avó quem sustentava a casa, pagava a minha escola e ainda guardava algumas economias para garantir o meu futuro. Ela só não pagava as próprias dúvidas que cresciam como bola de neve.

— Ei vó. — a chamei  — o que fazem no clube? — ela me encarou e revirou os olhos — estou curiosa, todo mundo sabe menos eu.

— Você não é todo mundo, Verônica. — ela dizia enquanto passava ferro em um vestido de veludo vermelho. — Isso não é conversa para uma garota de 14 anos.

— Me conta, vó. Não quero ter que saber pela boca dos outros. — falei desafiando-a — ou me conta, ou eu pergunto. — ela suspirou pesado.

— Tiramos a calcinha e os homens dão o dinheiro.

Que fácil — pensei.

Após alguns meses, homens começaram a frequentar a nossa casa durante a noite, inclusive uma amiga que ela tinha chamada Carol. Em uma noite de sábado as duas marcaram um encontro para mim onde o homem pagaria para acompanhá-lo em um evento. Elas me arrumaram e eu não parecia apenas uma garota de 14 anos, com um vestido colado preto e uma maquiagem carregada dava a aparência de mais velha.

O carro buzinou na porta da minha casa, sai apressada encontrando um Corolla preto, assim que entrei no carro me deparei com um homem de aproximadamente 45 anos, os cabelos bem cortados e um pouco grisalhos, seus olhos azuis, alto e muito bonito.

— Boa noite, Verônica. — sua voz era grossa e intimidadora — No jantar, não precisa falar nada, ok? — balancei a cabeça e ele ligou o carro — Quantos anos você tem, Verônica? — o meu nome saindo da sua boca era bom de ouvir.

— Eu tenho... Tenho 14, senhor. — ele freou o carro bruscamente.

— Quatorze anos? — me olhou incrédulo — Isso não poderia estar acontecendo, menina.

— É só um jantar, eu preciso de dinheiro.

— E eu preciso da minha liberdade, quer que eu vá preso, garota? — ele passou as mãos no cabelo um pouco nervoso — Isso não é sobre um mísero jantar, querida, isso é uma. — ia dizer algo quando o celular tocou. — Alô... Sim, pai... Já estou indo... — me encarou e eu engoli seco.

— Se quiser pode cancelar tudo isso.

— Eu não posso cancelar, preciso de você para uma coisa, senão estará tudo perdido!

— Algo pior que levar uma adolescente para sair?

— Não tão ruim quanto colocar uma adolescente para se prostituir. — ele disse sem me encarar. — Olha, menina, eu não sei o que te falaram para convencê-la a fazer isso, mas eu preciso saber, isso é algo que você realmente quer para a sua vida?

— Não senhor. — respondo baixinho.

— Você vai me contar exatamente o que aconteceu para que chegasse aqui, tudo bem? vamos deixar isso entre nós e nada de comentar com ninguém. — eu confirmei balançando a cabeça.

— Tudo bem, o que precisa saber?

— Tudo, para começar, onde estão seus pais? você sabia que isso é crime? — concordei — menina, você nitidamente não sabe onde está se metendo, mas posso lhe ajudar.

— Como?

— Te tirar daqui! mas não posso simplesmente te levar, já estão desconfiados de mim. Mas, você vai fazer o seguinte... — ele pausa a fala e me encara fixando os olhos nos meus — você confia em mim?

— Não.

— Nem um pouco?

— É... um pouquinho.

— É o bastante. — ele diz. — Você vai sair dessa cidade e procurar por Ortiz na delegacia da capital, está ouvindo? Ortiz! Pode ser o mais velho ou o mais novo, você irá me achar.

— Ortiz...

— Isso! Sobrenome do meu pai e meus filhos.

— Espera, o senhor é casado?

— Claro. — ele sorri.

No jantar ocorreu tudo como o planejado, ninguém desconfiou de nada, o homem me deixou em casa por volta das 23 horas. Eu fiz aquele trabalho por cinco vezes para conseguir mais dinheiro fugir, mas na sexta vez, deu ruim. Dois caras armados me pegaram dizendo que não poderia trabalhar como acompanhante sem um responsável das ruas. Como eu tenho a língua bastante afiada, acabei de exaltando com os rapazes, eles me espancaram e me deixaram jogada na porta de casa.

A minha avó me culpou e ameaçou me bater ainda mais por ser tão linguaruda, disse que eu iria trabalhar no clube com ela a partir daquele momento. Prendi a respiração ofegante passando a mão sobre os cabelos, tentando pensar no que faria.

— Deus, sei que me ouve, esta é a última oração que faço a ti. Ajude-me, sozinha eu não suportarei mais passar por isto. — Pedi ajoelhada ao lado da minha cama de solteiro.

Quando a minha avó saiu, peguei  o dinheiro que tinha arrecadado com os homens e fugi de trem para São Paulo, para a casa de uma amiga virtual chamada Diana. Conheci Dolores, a mãe de Diana, ela me ouviu e decidiu me ajudar, como era dona de uma escola e eu tinha os documentos, deu um jeito de me matricular e me deixou dormir no mesmo quarto da sua filha, ali cresceu uma grande amizade.

A partir disso, passei a me chamar Monalisa, a menina sorridente, vendedora da concessionária Belinni Veículos.

02

^^^9 anos depois.^^^

É sexta feira, as luzes de Natal enfeitando a cidade fazem o meu peito arder de maneira desconfortável. Com uma mão no volante, cigarro entre os dedos, meus cabelos dançam com o vento enquanto acelero ainda mais. Somente essa brisa dada pelo criador tem a capacidade de me deixar totalmente relaxada, apesar de tudo.

Eu seria uma pessoa completamente sozinha no mundo se não fosse Diana, Nádia e Léo. As meninas são minhas melhores amigas e moramos no mesmo prédio desde que resolvi sair do interior e vir para a capital, estudar e trabalhar. Léo, é meu tudo, e muito do que tenho hoje, eu devo a ele. Até mesmo Nádia, tenho por causa dele.

Léo é meu tudo. Ou pelo menos foi. Nos conhecemos assim que cheguei na capital, quando eu era uma adolescente de dezoito anos, feia, estranha e ingênua. Era impressionável com sorrisos brancos em um rosto bonito, ainda mais se fosse um jogador de futebol extremamente gato e um dos mais cobiçados da cidade. 

Durante quase um ano em que namoramos ou ficamos — ele nunca me pediu em namoro oficialmente — muitas coisas aconteceram. Coisas que não sei se tenho capacidade ou vontade de pensar com mais calma, coisas que me fazem duvidar se quero ser namorada, esposa e mãe dos filhos dele algum dia.

Após mais uma noite rodando a cidade sozinha em busca de algum refúgio para a minha agonia, paro em um bar e decido comprar apenas uma bebida. Desço do altomóvel e caminho em passos largos até o Buritis, meu bar preferido. Pego uma garrafinha de cerveja, pago e me viro para sair de cabeça baixa quando tropeço num mísero pano de chão que deixaram jogado.

Tudo acontece em câmera lenta, ouço o estalar do sino de entrada em seguida sinto braços fortes segurarem em meus ombros evitando que eu caísse de cara no chão.

— Cuidado, morena. — diz me fazendo endireitar a postura. — Com licença. — me solta e sai andando rapidamente.

Sua voz grave penetra em meus ouvidos e minha mente força-me a gravar aquele som. "cuidado, morena". Encaro aquele homem que já se encontra sentado no banco do bar, ele me olha de relance, ele é lindo. Aqueles olhos centilantes e extremamente intensos, chega a ser uma ofensa chamar ele de bonito, o cara é um semideus, beira a perfeição. Ele sorri, e cacete, eu ainda estou aqui parada.

Ele suspende o copo em cumprimento e vira-se bebendo todo o conteúdo rapidamente, depois solta um suspiro forte. Balanço a cabeça de um lado para o outro e saio praticamente correndo dali.

Pela manhã, chego no meu trabalho atrasada, tudo culpa do sumiço do meu "ficante fixo". Sento à mesinha ao lado da mesinha de Nádia e suspiro pesado.

— Nossa, Lisa, que cara péssima é essa? Já sei, foi o Leonardo, né? 

—Ai, amiga, sim... vou nem fingir que não foi. Ele sumiu depois de uma briga sobre filhos..— digo tentando aliviar o peso da culpa — nem sei como a briga chegou nesse ponto... Olha bem pra mim, Nádia, você acha que eu to errada em não querer um filho com ele? Claro que não estou. 

— Amiga, há tempos tenho te falado para você dar um pé nesse traste. 

Ela pisca os olhos castanhos puxadinhos para mim, daquela forma que faz tudo parecer simples. Olho ao redor, suspiro e balanço a cabeça como se concordasse. Nádia é uma mulher de pele clara e alta, seus cabelos são escuros e longos. Leonardo a indicou quando procurei alguém para trabalhar na empresa, precisávamos de uma secretária na minha sala.

Nádia está a quase um ano conosco e mora no mesmo prédio que eu e Diana, isso nos aproximou de uma forma muito rápida, conversamos sobre tudo e todos, saímos para baladas, para o trabalho e para casa juntas constantemente.

Logo que ligo o computador e adentro o meu e-mail pessoal, recebo uma enxurrada de fotos de um endereço desconhecido, mensagens suspeitas sobre o meu passado. A alguns meses comecei a receber emails, ligações e até SMS desconhecidos falando sobre a minha avó, desde o dia em que vim embora, não a procurei mais.

Receber aquelas fotos sempre que trás lembranças.

Os meus dedos clicaram no mouse e a cada foto que passava, mais algumas lembranças voltavam à mente rápido. Em uma delas, tinha uma minha com um vestido preto curto, lembro daquele dia, o meu primeiro encontro.

Aquele homem de olhos intensos que nunca soube o nome ao certo e esqueci até o sobrenome que pediu para que procurasse. Solto uma gargalhada baixa lembrando desse dia mas, logo fecho o rosto quando avisto Leonardo entrando na minha sala. Com seus 1,80, Léo é o típico padrão, pele parda, olhos morrons, musculoso, viciado em academia e baladas noturnas. Por falar nisso, ele está usando um óculos escuro.

— Bom dia, meu amor. — deposita um beijo no meu rosto. — Você vai para essa idiotice de inauguração? — apontou para um convite que até então não tinha visto sobre a minha mesa.

— Talvez. — dou de ombros — irei pensar.

— Hum.. — Ele tira os óculos e encara o computador. — Quem lhe envia essas coisas?

— Não sabia que eu tinha bola de cristal para adivinhar as coisas. 

— Deveria, você nunca me conta sobre as coisas da sua vida — engulo seco — sua vida começou após conhecer Diana, mas antes disso, me conta o que aconteceu.

— Não. — digo.

— Isso é muito suspeito. — aponta para a tela. — Odeio as suas mentiras.

— E eu finjo acreditar nas suas. — Pisco para ele. — Onde estava esses três dias? — ele desvia o olhar.

— Resolvendo umas coisas do time, nada demais. — franzo o cenho. — Não estou mentindo. — Ele balança a cabeça — Eu realmente fui resolver uns problemas pessoais.

— No meio das pernas de outra? — ele negou movimentando a cabeça — porque tem um chupão notório em seu pescoço, Leonardo.

— Não sei do que está falando. — Ele se afastou bruscamente — Você está vendo coisas? 

— Com certeza estou. — Sorri forçado — se me der licença, tenho que trabalhar.

03

Encostada na sacada, fumo meu cigarro tranquilamente enquanto sinto o vento acariciar meu rosto. Eu não sei lidar com esses problemas sentimentais, pior, não sei lidar com traições, até porque, Léo foi o meu primeiro "namorado". Talvez eu não tivesse tanta certeza dos meus sentimentos por ele e quem sabe por este motivo, não conseguia chorar ou me desesperar, só o meu peito que doía, doía muito.

Eu gosto dele, não ao ponto de amar ou estar apaixonada. Mas a companhia dele me fazia bem na maioria das vezes e querendo ou não, fomos amigos antes de tudo começar a acontecer. Léo é importante para mim, tanto como amigo quanto como namorado. Mas eu penso que as vezes deveríamos ter ficado somente na amizade, se eu não tivesse sido não boba de nutrir um interesse quase que obsessivo por ele, nada disso estaria acontecendo.

— Uma ótima ideia você fumar aí fora. — Diana entra no meu quarto mexendo no celular. — Ei, tu não sente nada ao saber que a sua dor de cabeça era chifre, não? — Pergunta depois de um tempinho. — Vocês conversaram?

— Não. — solto a fumaça, pensativa. — Sabe, eu não ligo de gastar palavras discutindo qualquer problema com alguém que eu esteja me relacionando, desde que esses problemas possam ser resolvidos. Mas traição não é algo que possa ser resolvido com uma conversa, sinto como se tivesse perdido o meu tempo, e eu odeio gastar tempo a toa. — dou de ombros.

— Você tem algo a perder? — se põe ao meu lado. — se terminar isso que vocês tem, que não é um namoro normal, tenho que lhe dizer...

— Tenho nada. — Sorrio de lado. — logo começo uma faculdade e minha vida finalmente poderá entrar nos trilhos e poderei fazer o que eu quero. Assim posso encontrar um emprego bom, embora tenha onde morar, preciso de um emprego para manter.

— Você traiu ele também? — a encaro estranhando a pergunta — Tem alguém?

— Tenho não. — acendo outro cigarro. — Quem me dera.

— Ei! Era para fumar só um.

— Só hoje. — ergo os ombros. — Preciso relaxar.

— Isso faz mal, caramba. Eu já te aviso tanto.. — Ela toma o meu maço de cigarro. — Atrás da embalagem avisa que...

— É, eu sei. — Pego a caixa de volta. — Cadê Gael? Vai encher o saco dele, vai. — Ela estende o dedo e sai do quarto rindo.

Continuo sentindo a brisa gostosa enquanto penso na minha vida. Em certo momento, uma onda de náusea me atinge como um trem e me inclino sobre o vaso sanitário para esvaziar a alma. Um gosto estranho, metálico ou ácido permanece em minha boca, é difícil de descrever, mas é forte e complicado de se livrar dele, por mais que eu escove os dentes mil vezes.

Estou deitada na cama quando ouço Diana discutir com alguém na sala e seus gritos ecoam por toda a casa. Ao fundo, a voz de Léo mal se sobressai, mas ele diz que está decepcionado comigo e eu não entendo o motivo. Ainda assim, sei que em algum momento terei que enfrentar os medos e assumir as consequências da minha própria aventura. Se houver mesmo um filho de Leo dentro de mim, terei que contar.

Eu preciso conversar com Diana sobre isso. Ela sempre foi muito cuidadosa comigo e me dava inúmeros conselhos — até o de não confiar totalmente em Léo — tudo porque ele mudou comigo desde o dia em que me entreguei a ele. Minha amiga quis colocar na minha cabeça que o jogador só queria aquilo de mim e quando conseguiu, toda a sua obsessão em me levar para cama, acabou. Tivemos a nossa primeira briga por conta dele e nunca havíamos brigado por nada antes, nada.

Nádia entra no meu quarto e se deita ao meu lado, me abraçando.

— A briga foi feia! — Comenta. — A sorte dele é que Gael — o meu cunhado policial — não estava aqui. — Fico em silêncio.— Pode contar comigo. — Ela diz. — Estamos aqui por você, tá? O que está acontecendo?

— Eu... eu... ah, não consigo.

— Reage, Monalisa. Diana daqui a pouco aparece e vai querer saber o que está acontecendo, você sabe como ela é.

— Eu acho que estou grávida. — respondo esperando que ela me desejasse parabéns, mas não foi exatamente o que fez.

— Tá de sacanagem com a minha cara? — Ela ri alto. — Tá brincando, né? — fica séria ao notar que não desminto.

— Não. Por quê?

— Oh Lisa, você dá esse vacilo de engravidar de um babaca como o meu primo, só pode ser piada de mal gosto.

— Desculpa. — balbucio envergonhada — Eu não deveria ter dito sem ter certeza.

— Fica de boa, onde come três, come quatro. — ela sorri.

— Eu nem sei como agradecer. — Minha voz ecoa embargada, estou ficando emotiva demais. — Obrigada amiga, obrigada mesmo!

— Não precisa agradecer, somos uma família!

Família.

Essa palavra a muito tempo não era utilizada em minha vida. A minha família, era a minha avó, sempre foi só eu e ela. Eu tento não demonstrar que sinto nada, mas em um momento, desabo e choro igual uma desgraçada, mesmo dizendo anteriormente que não sentia tanto. Eu sentia pra caramba.

— Monalisa. — Diana entra no meu quarto gritando. — me diz que não é verdade.. — Ela me encara seria e eu dou de ombros. — Não é verdade, né?

— Eu não sei..— digo. — Só me senti mal e pensei que..

— Vai lá fazer o teste. — Me estende três testes — eu espero aqui. — assinto e me levanto indo em direção ao banheiro.

Sinto meu coração bater nas costas e o ar faltar, eu estou extremamente nervosa.

— Sabe fazer né? — Ela grita — xixi no copinho e..

— Eu sei, Diana! — dou risada. — E se der positivo, o que vai ser de mim? — Pergunto colocando a cabeça para fora do banheiro. — Como vou cuidar de uma criança? Eu não cuido nem de mim, Diana!

— Olha, eu só quero que você faça mais rápido para terminar logo com isso, estou agoniada.

— Tá bom, apressada. — Ela deu risada. — Então, vou ver se tem alguma coisa aqui. — passo a mão no meu ventre e faço uma careta.

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