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Entre Bruxos E Vampiros: A Herege, Livro 1

01.

800 anos atrás.

As bruxas viviam entre os humanos e não escondiam seus poderes, um clã inteiro de mulheres que podiam se relacionar com qualquer pessoa sem compromisso.

Era noite de lua cheia quando eles chegaram, um clã inteiro formado por homens, que buscavam subjugar as bruxas, usam elas para lhe darem filhos poderosos e assim deixar o clã mais forte, esse clã era conhecido como Snazan.

Isolados dos demais humanos, aquele clã de bruxas alegres, que faziam a natureza sorrir com suas danças e as flores se abrirem com seus encantos cresceu da maneira que os Snazan queriam e com isso veio as crianças, muitas crianças. Todas as crianças nascidas meninas ao completar a idade de dez anos eram submetidas a um teste para saber se tinham magia própria, e se conseguiam assim controlar os elementos à sua volta. Os meninos por sua vez já eram separados automaticamente de suas mães após o nascimento e estes eram criados sem o amor materno. Com a chegada deles, as bruxas perceberam que os espíritos da natureza as tinham deixado e tudo se tornou mais sombrio. Um tipo de magia também foi trazida com eles, mas era uma magia diferente.

A criança podia nascer tendo magia própria, ou então nascia apenas para sugar a magia de algo ou alguém, o que eles chamam de sifão e o destino dos sifões era algo triste. Quando a criança era um sifão, a mesma era sacrificada na lua cheia e seu poder era passado ao líder dos Snazan, não tinha muito o que ser feito.

A líder das bruxas conhecida como Emma Zartovick, tinha uma filha e a mesma era a única bruxa a ter contato com os espíritos da natureza mesmo que esse contato fosse mínimo. Conhecida como a mais bela jovem da aldeia, Freya despertou a atenção do líder Snazan, e assim ele a engravidou. Porém não ficou contente com tal gravidez, pois logo que a criança nascesse outro poderia tomá-la para si, com isso ele a tomou por esposa. Dessa união vieram três crianças, sendo o primeiro um filho homem e mais duas meninas, Arianna e Grace. Freya se apegou às suas filhas de tal maneira que quando percebeu que Arianna era um sifão, a mesma tratou de aprender tudo que podia, enfeitiçando tudo o que jovem pudesse tocar no futuro, para que ela nunca fosse sacrificada. Grace por sua vez cresceu buscando a aprovação de seu pai, e por sua vez se espelhou no mesmo, toda a crueldade que ele tinha e demonstrava, Grace demostrava o dobro.

O dia do teste havia chegado, Arianna tinha completado dez anos, a apreensão de sua mãe era evidente, o medo de ter sua filha sacrificada era maior que qualquer coisa, sendo assim ela pediu ajuda aos espíritos. Não teve uma resposta bem clara como deveria e queria, a única coisa que ouviu foi um profecia dos lábios de sua mãe Emma.

— Nasceu a garota que irá libertar vocês, no final ela escolherá se caminha em direção a luz ou se entrega às trevas. Tudo depende dela. —

Quando tudo terminou, Arianna entrou saltitando dentro da tenda, acompanhada de sua irmã e seu Pai que estava com um semblante desconfiado. Pois no nascimento de Arianna foi dito que mais um sifão chegava a luz, e ali perante ele tinha duas bruxinhas completas.

Os anos se passaram e agora Arianna com seus dezoito anos, havia se tornado uma bela jovem. As crianças sifões tinham parado de nascer e com isso o sacrifício tinha diminuído, as mulheres estavam mais fortes e com isso algumas regras tinham mudado na aldeia, eles podiam sair e caminhar entre os humanos sem é claro mostrar quem eram. Naquela época do ano as flores estavam perto de desabrochar quando um família chegou ao vilarejo humano, os mesmos eram lindos, pele clara, cabelos dourados estava nítido que não eram daquela região. Foi nesse momento de admiração que os olhos de Arianna se encontraram com os olhos de Jonathan, que até então era um verdadeiro desconhecido. Seu coração batia mais rápido que o normal, ela ficou sem palavras quando sua irmã mais velha Grace veio puxá-la para ir embora, tinha algo naquele homem que a atraía.

— Viu a família que chegou no vilarejo? — A voz fina de Arianna rompia o silêncio enquanto elas caminhavam pela floresta levando consigo duas cestas de frutas.

— Sim eu vi, mas não tenho nenhuma curiosidade em descobrir, e você mocinha também não deveria ter, em breve será seu aniversário e logo estará noiva. A lua cheia de aproxima. — Grace cortava os pensamentos de sua irmã de maneira cirúrgica. Naquela noite mais tarde, Arianna não conseguiu dormir, ela precisava descobrir porque sentir-se atraída por aquele desconhecido, e não iria sossegar enquanto não soubesse.

— Quem é você e porque mexeu tanto comigo?! — Uma brisa gélida percorreu o local, fazendo com que ela fosse até a lareira que estava acesa na sala. Todos dormiam naquele momento, sua mãe e irmã estavam a dormir e quem sabe seu pai também estava, pelo menos foi o que ela pensou.

Embora a noite estivesse fria, ali sentada na lareira, a jovem Zartovick permanecia em silêncio, até que os pelos de sua nuca se arrepiaram e seu olhar atento se voltou à janela onde sentia que alguém a observava nas sombras. No início achou ser coisa de sua cabeça, mas quando se aproximou da janela, pode ver pelo vidro algo se mover rapidamente entre as árvores. Depois disso não pode ver mais nada, ela não queria ficar pensando besteira ou coisas estranhas, agarrando-se em suas próprias vestes ela caminhou em silêncio até o quarto onde deitou-se e logo adormeceu.

Não muito longe da aldeia das bruxas, um humano tinha dado seu último suspiro. Sua morte foi algo tão brutal que ainda sim ninguém tinha reparado ou escutado o mesmo.

— Por favor Mel, se começar a matar muitos deles, logo desconfiaram de nós e teremos que nos mudar de novo. — Uma voz masculina autoritária surgia de trás de uma árvore, encarando a garota loira de olhos verdes debruçada ainda sobre o cadáver e com os lábios sujos de sangue.

— Não seja chato, Albert. Estava com fome e esse aqui achou que poderia tirar proveito da situação. — O tom infantil de sua voz fazia com que logo a pose autoritária do homem fosse embora. Logo em seus lábios era aberto um grande sorriso.

— Onde estão Meredith, Jonathan e o bastardo do Ralf? — Perguntou de forma curiosa e com um salto gracioso se colocou em pé como se fosse uma bailarina, limpando o sangue a escorrer com a ponta do dedo mindinho e lambendo em seguida.

— Eu estou aqui. — Uma Segunda voz era ouvida entre os arbustos, mas desta vez era uma voz feminina. — Agora, Ralf está dentro de casa, ainda de mal humor e Jonathan foi atrás daquela garota que viu na cidade, já sabe que isso não vai acabar bem. — O tom de desgosto tomava conta de seu rosto e naquele momento em meio a escuridão da floresta, onde os três ali presente pareciam ver tudo normalmente a Meredith caminhou em direção a eles. Diferente da outra garota, essa tinha cabelos longos e loiros, olhos verdes e lábios carnudos, a inocência que Mel transbordava em Meredith era totalmente o oposto.

— Eu lido com o mau humor de Ralf, agora vocês duas tomem conta do Jonathan pois se aquela garota for quem eu penso que é, acreditem nosso pai que nos caça, será o menor dos nossos problemas. — Ele fez uma pausa dramática, chamando a atenção delas para si. 

— Existem bruxas por essa região, e não é apenas um Coven... Não quero problemas com os Snazan. — foi nítido que ao falar aquele nome as demais garotas ali ficaram um tanto apreensivas e se encarando.

— Albert sempre teve um dom para drama... — a voz de Jonathan surgia entre a escuridão enquanto caminhava com o rosto oculto por um capuz.

— Onde estava? — perguntou Melissa ao encarar seu irmão caçula.

— Fui ver aquela garota de hoje cedo, não se preocupem ela não me viu e já aproveitei para conhecer mais o local. — retrucou enquanto olhava para Albert esperando por alguma reprovação.

— E então? — Meredith invadia a conversa antes mesmo de Albert falar algo. Esse apenas se resguardou, mas o olhar lançado à Jhonatan era algo parecido com "depois conversamos sobre isso".

— É um clã de bruxas, todas praticantes. A líder delas é casada com o Líder dos Snazan, então acredito que ela seja a herdeira dos dois clãs. Mas ainda sim não explica o fato de me sentir atraído por ela. — A última parte da conversa ele resmungava em protesto até que Mel se aproximou dele sorrindo de forma angelical.

— Jhon, vai por mim. Você se sente atraído por qualquer pessoa que tenha no meio das pernas algo diferente do que você tem. — antes que ela pudesse retrucar tal acusação, Mel pegava Meredith pelas mãos e corria pela floresta em direção ao povoado humano. Deixando para trás Albert com um semblante preocupado em como iria limpar a bagunça da sua irmã mais nova.

No quesito Família, eles os vampiros mais antigos e talvez os primeiros vampiros do mundo eram unidos, quer dizer podiam ter seus defeitos, suas brigas, mas no fim quando um precisava a família toda estava lá para ajudar. Meredith era a irmã mais velha, seguida de Albert, depois Jonathan, Ralf e a mais nova Melissa, sendo Ralf irmão por parte de mãe, e tendo como pai um lobisomem, o que fazia dele um híbrido. Os demais foram transformados em vampiros, porém ao ver o que sua criação estava fazendo com o equilíbrio da magia, a mãe deles assim como seu pai, também um vampiro, passou a caçá-los. Uma morte rápida traria o equilíbrio de volta, assim diziam os ancestrais.

A lua estava bonita, isso era um fato. Após esconder o corpo frio da vítima de sua irmãzinha Albert se voltou a seu irmão Jonathan, o semblante preocupado como se estivesse procurando palavras para conversar.

— Sabe que não pode se envolver com ela, não sabe? — começou Albert.

— Não consigo explicar pra você o que senti hoje, foi algo surreal e aquilo me assustou. Você e Ralf já se apaixonaram? Não, então não sabem como é Jonathan encostava-se na árvore como se pudesse enxergar a jovem Arianna a sua frente.

— Não, você não está apaixonado. Apenas está usando essa desculpa para ir atrás da moça e infernizar sua vida. — Albert riu com desdém.

Foi nesse momento que Jonathan sacudiu os ombros e encarou o irmão com certo sarcasmo.

— Fiz bem o jovem recém chegado que se apaixona à primeira vista pela linda garota do clã.... Fala sério, sou ótimo nisso... — Nesse momento Albert estava segurando o irmão pelo pescoço, a força empregada naquele golpe fez com que Jhonatan nem pudesse terminar sua frase. Seus olhos se tornaram negros enquanto encarava Albert, as veias negras saltavam sobre sua pele em um tom ameaçador porém Albert não se abalou.

— Estou falando sério. Deixe a jovem em paz. — Quando ele soltou os pescoço de Jonathan apenas lhe deu as costas e saiu caminhando escuridão adentro.

Ainda encostado na árvore ficava um jovem rebelde, que iria fazer totalmente o contrário do que fora pedido, e não iria parar até destruir a vida de alguém.

02.

Os dias se passaram com rapidez que logo virou semanas, e assim com a chegada repentina da família de Vampiros a rotina do clã mágico inteiro mudou; barreiras de proteção haviam sido instaladas ao redor da aldeia, amuletos de proteção contra os intrusos foram utilizado na casa de todos e os homens andavam com um amuleto no pescoço e como Willian Snazan era o único homem a morar junto às bruxas, as mulheres bem como suas filhas estavam proibidas de saírem de casa por ordem de Freya, todo cuidado com os bebedores de sangue era necessário. Ainda assim, tudo aquilo não bastou para deixar a jovem Arianna longe de apuros, com um sorriso doce e fala mansa ela sempre conseguia com que sua mãe se dobrasse a sua vontade o que deixava sua irmã mais velha, Grace, furiosa.

Deitada sob a grama em frente ao jardim que havia feito nos fundos de sua casa, Arianna olhava para o céu admirando as aves que voavam livremente, no fundo ela desejava não viver com tamanho segredo e gostaria de ser livre também. O som de um galho seco se quebrando logo a sua frente fez com a morena se colocasse sentada na grama olhando assustada para a floresta.

— Te assustei? — uma voz masculina era escutada por de trás de uma árvore logo acompanhada da silhueta masculina de Jonathan. Um sorriso surgia em seus lábios enquanto olhava para Arianna ali sentada, se recompondo do susto.

— E porque me assustaria com um homem, surgindo assim do nada no meio da floresta? — ela retrucou enquanto se colocava em pé ajeitando suas vestes.

— Verdade, estava passando aqui perto e senti o cheiro de tulipas. — respondeu Jhonatan ao apontar para as flores no jardim.

— Faz tempo que não vejo tulipas, ainda mais nessas cores... Roxas e Azuis. — conforme falava, movia-se cauteloso em direção a ela, porém logo foi detido pela barreira. A verdade é que ele precisava saber até onde poderia chegar.

Arianna por sua vez parou ao lado das flores enquanto olhava para o homem até então desconhecido.

— Me chamo Jonathan Crawford e você seria? —

— Arianna Zartovick, diria que é um prazer conhecê-lo.... Mas vamos ver não é mesmo. — ela esboçou um sorriso gentil enquanto o olhava com atenção. O som de barulhos vindo de dentro da casa, a fizeram olhar assustada para trás, afinal de contas não poderia estar falando com estranho, quando se virou novamente ele já não estava mais parado à sua frente, o mesmo havia sumido deixando o leve ar de mistério.

— Arianna entre, está quase na hora. — A voz cansada de sua mãe a chamava. Naquela noite todo o clã iria participar do ritual do sacrifício, pois um novo sifão havia chegado a idade de dez anos, e Arianna assistiria pela primeira vez o que acontece com as crianças nascidas sifão assim como ela.

{...}

— Tulipas, é sério? — a voz debochada de Ralf surgia atrás dos ombros de Jhonatan.

— Precisamos mudar nossa rotina, as bruxas tem barreiras em toda a aldeia... Não encontrei nenhuma brecha sequer.... — a voz de Jonathan era um tanto de desapontamento. Ralf sem entender se colocou à sua frente olhando-o fixamente.

— O que você quer com essas bruxas? — Ralf perguntou.

— Nada, por enquanto. — Jonathan naquele momento ficou misterioso.

— Avise a Melissa e Meredith, sem mortes desnecessárias. A barreira das bruxas precisa cair e para isso temos que como família passar por aqui de forma invisível... — O mistério que Jonathan estava fazendo, deixava Ralf irritado e ao mesmo tempo preocupado; nunca tiveram segredos entre irmãos. Naquele momento a voz de Albert ecoava na mente de Ralf sobre o motivo de eles terem ido justamente para aquele lugar no mapa. O seu irmão Jonathan escondia algo.

A família Crawford morava em uma casa de madeira de dois andares, enquanto os irmãos Crawford saiam da floresta em direção a casa deles, na varanda estava a Meredith sentada no beiral e atrás dela se encontrava Albert com uma feição séria.

— Quando você iria nos contar? — a voz de Meredith era grave, estava claro que a mesma tomava a rédeas da situação para que Albert não perdesse a paciência.

— Contar o que? — perguntou de forma debochada Jonathan.

Aquele tom de voz de Jonathan foi o que faltava para que Albert pulasse em seu pescoço. Os humanos brigam de forma simples, um soco no rosto e alguns pontapés e tudo se resolvia, no entanto, os vampiros quando brigavam era algo mais sangrento. Quando Ralf e Meredith pensaram em separar os dois, estava Albert com as mãos dentro do peito de Jonathan segurando seu coração.

— Por Deus vocês dois querem parar?! — gritou Meredith enquanto segurava o braço de Albert para que o mesmo não fizesse nenhum movimento drástico, e Ralf segurava Jhon pelos ombros.

— Seu querido irmão, nos enganou. Ele quis vir para cá pois foi chamado por um estranho, para seduzir e matar a jovem bruxa do clã Zartovick. — Albert cuspia as palavras de forma raivosa enquanto Ralf soltava Jonathan e caminhava em direção a casa.

— Por quem? Jonathan, sabe que não sou conhecido por minha paciência... É melhor contar tudo que sabe, ou irá passar o próximo século enterrado. — Aquela foi a primeira vez em que Ralf o olhava com certo desdém. Quando Albert soltou o coração e tirou a mão de dentro do peito de Jonathan, o sangue respingou no chão e ele caiu sobre os próprios joelhos ao chão, parecia triste, mas apenas por ter sido descoberto.

— O pai dela, Willian Snazan me chamou. Ele desconfia que a filha não deveria estar viva, e me chamou para descobrir, em troca ele me daria um feitiço que criaria objetos a qual eu poderia usar magia novamente... — o som de algo se quebrando fora ensurdecedor e fez com que Albert e Ralf se espantasse, afinal até minutos atrás Meredith estava defendendo o Jonathan e agora a mesma quebrava seu nariz com um soco.

— Como pode? Você sabe melhor que ninguém o que é ser rejeitado, caçado e morto por um pai. Alguém que deveria lhe proteger e amar... E tudo isso pra quê? Para se sentir um bruxo novamente... Ninguém te obrigou a se transformar, você escolheu abrir mão da magia... Você escolheu... — Jonathan começou a rir a fazendo ficar mais furiosa do que nunca.

Toda família tinha problemas, mas os Crawfords eram o próprio problema encarnado. Transformados em vampiros por meio da magia mais sombria que existiu na terra, eles não escolheram viver ou morrer. Muitos já tinham acesso à magia quando seu próprio pai decidiu que os mesmos seriam imortais e com a ajuda de uma poderosa bruxa assim foi entretanto quando o pai deles viram a monstruosa criação e que não conseguia controlá-los decidiu que deveria matá-los. Sendo assim, eles passaram anos fugindo do homem que os criou e nesse meio tempo eles criaram outros iguais a eles, vampiros.

— Não sei porque estão nervosos.... É uma bruxa qualquer, e além do mais não cumpri minha parte do acordo então ele vai agir por conta própria. — protestou Jonathan.

A porta da casa se abriu e por ela passou a irmã mais nova deles, Melissa; seu olhar estava fixo nas expressões de Jhonatan e em seus lábios um sorriso angelical surgia ao se colocar ao lado de Ralf segurando a mão do mesmo.

— Não, ele não vai. Vamos salvá-la, custe o que custar. Não viemos até este vilarejo para matar mais bruxas, já não basta as que nosso pai massacrou apenas por nos esconderem? — Era a primeira vez que Melissa se envolveu na discussão de seus irmãos.

03

Após toda aquela discussão, Jonathan disse que não faria mal nenhum à jovem Arianna, claro que o mesmo estava mentindo. Com o passar dos anos vivendo como vampiro e com seus irmãos, ele aprendeu a esconder suas verdadeiras intenções. Seu plano seria cortejá-la até o momento exato em que pudesse conseguir o que desejava.

   O Vilarejo dos humanos tinha uma taberna a qual não era bem frequentada, quer dizer, lá dentro se encontra apenas os piores estirpes da raça humana. Diferente da vila onde as bruxas moram, todas se reuniam ao redor de uma fogueira, cantavam e contavam histórias sobre seus antepassados, pessoas simples e sem poderes eram bem vindas a se juntar ao redor daquela fogueira, diferente da taberna onde apenas os homens podiam entrar.  E ali dentro ao fundo em uma mesa mal iluminada estava a figura encapuzada de William Snazan levando uma caneca de cerveja aos lábios enquanto olhava furtivamente para a porta de entrada.

— Sua familia será um problema? — A voz grave de Will cortou o ambiente no segundo em que uma segunda figura se juntou a ele na mesa.

— Pode deixar que sei lidar com eles. — Jonathan Crawford apenas estendeu o indicador e logo uma caneca de madeira cheia de cerveja foi trazida à mesa.

— E quanto às barreiras? Sabe que se manter as barreiras de pé não irei  conseguir fazer o que me pediu. —  Ele bebeu a cerveja tentando disfarçar a careta, afinal não era aquela bebida que ele desejava no momento.

Will riu enquanto analisava a feição do vampiro, jogando duas moedas sobre a mesa ele se levantou com um sorriso ladino.

— Não se preocupe, elas irão cair. Apenas trate de fazer a sua parte. — Willi parecia sombrio naquela noite e quando começou a caminhar para longe da mesa a voz de Jonathan ainda se fazia presente.

— Como um pai pode condenar a própria filha para a morte? — Ele apenas virou o pescoço vendo os passos do mais velho cessar, sem virar o rosto para responder Will apenas sibilou as palavras que ele sabia muito bem que seriam ouvidas.

— Ela nasceu com o poder que almejo, logo ela não é a minha filha. — Ele voltou a caminhar passando pela porta e desaparecendo na escuridão, havia um sacrifício para fazer logo que o sol despontasse no céu.

        (...)

      O sacrifício correu como deveria ser, uma menina chorando de puro desespero, gritando por sua mãe, enquanto os anciãos e o líder do clã Snazan iam proferindo palavras de um encantamento antigo sobre uma adaga de prata. Arianna estava na fileira atrás deles, as mulheres não podiam se aproximar do círculo onde os homens estavam, com um capuz cobrindo seu rosto ela deixava uma lágrima escorrer, sentia a dor da criança que gritava com medo, em seu interior a revolta se formava assim como a raiva e o ódio, mas como sua mãe mesma falava: " Arianna minha querida, você é boa demais para deixar sentimentos negativos lhe tomar."

          Uma mão foi colocada em seu ombro a deixando mais tranquila, ela não precisava se virar para saber que era sua mãe, Freya sentia a dor que todas as mulheres do clã que teve seus filhos sacrificados poderia sentir, em silêncio ela agradecia por sua filha ainda estar viva e enquanto ela vivesse ela manteria sua preciosa filha em segurança.  Não demorou muito tempo e os gritos acabaram, quando os olhos de Arianna se voltaram para o círculo a criança estava serena, de olhos fechados e com o punhal cravado em seu coração. Ao fundo uma mulher chorava sendo amparada por outras. Quando tudo terminou, a caminhada para casa começou.

          Arianna caminhava em silêncio, ainda com o rosto oculto pelo capuz, o céu estava limpo e a lua cheia iluminava a floresta.

       — Temos o poder de bilhões de bruxas... E ainda sim nós sujeitamos a isso. —  Sua voz era fraca e rouca, realmente as mulheres do clã Zartovick eram poderosas, a jovem tentava entender como um clã igual a de seu pai podia subjugá-las a ponto de esquecer até dos ancestrais poderosos que naquelas terras viveram. Foi quando a sua mente lhe trouxe a memória de seu pai, usando uma magia estranha nunca vista antes, com ingredientes exóticos como por exemplo, orelha humana, olhos de lobisomem dentre outras coisas.

         Não adiantava ela reclamar, pelo jeito as coisas nunca mudariam.

        (...)

        Os dias seguiram e logo se viraram meses, a família Crawford estava mais presente em tudo que acontecia na vila dos humanos e Jonathan por sua vez se aproximou mais e mais da jovem Zartovick. Quem os visse podia até dizer que eram um casal, pelo menos na cabeça de Arianna eles eram. Sempre sobre a vigilância severa de Albert e Meredith, os dois caminhavam livremente e Jonathan por sua vez até juras de amor fazia para a ruiva.

        As bruxas sob ordem de William haviam removido as barreiras de proteção e até passaram a conviver com os vampiros que ali estavam.

       — Não gosto desse rapaz que se aproximou de nossa filha...  — A voz de Freya soava grave enquanto Will estava sentado na varanda olhando fixamente para um ponto qualquer.

       — Daqui três dias é lua cheia, e nenhuma criança sifão foi revelada…— O homem mudava de assunto enquanto sua esposa se colocava a sua frente com o semblante sério.

       William e Freya, pessoas diferentes com objetivos totalmente diferentes, Freya havia aceitado se casar com ele para que seu clã não sofresse penalidades. Com a chegada do clã Snazan, os ancestrais que tinham ligação com as bruxas se calaram, os espíritos da natureza as tinham a abandonado, a única magia a qual tinham acesso eram as que nasciam em seu sangue, com isso feitiços simples eram fáceis de realizar, no entanto, feitiços de proteção, controle de clima ou até mesmo feitiços de ligações eram mais complicados, pois o clã não estava com força total. Quando Arianna nasceu, sua avó reuniu as seis  anciãs mais poderosas do clã, e revelou o segredo da criança à elas e a forma como deveriam fazer para proteger sua próxima líder. Então contando com  Freya mais sete pessoas sabiam a verdade, então após o nascimento metade da magia do Clã era destinada à jovem Arianna e a outra metade as bruxas usavam como bem entendessem.  Tal segredo nunca foi revelado, e por mais que a Arianna soubesse de fato que é um sifão, ela acreditava apenas que sua mãe drenava de sua própria magia para sustentar a verdade que a Arianna era uma bruxa completa, ou como seu pai chamava: uma bruxa pura.

           — Isso não é bom? Nunca tivemos um sifão aqui até a chegada de vocês.... Se parar de nascer mais, logo terão que partir, não é mesmo?! —  Quando percebeu Freya já havia soltado as palavras, por isso se assustou com o pulo que William deu e se colocou à sua frente, segurando o queixo da mesma com certa brutalidade.

         — Se não te conhecesse diria que deseja se ver longe de seu marido... Estamos casados a muito tempo, não é mesmo querida. —  William sorriu maliciosamente, enquanto depositava um beijo nos lábios de Freya que o olhava com nojo.

— Não pense que me engana, sei que se casou apenas para salvar essas.... Bruxas... —  sua voz saiu com certo desdém.   Freya recuou alguns passos e limpou seus lábios.

— Tem razão, me casei para salvar a minha família. Essas bruxas a qual se refere... Aliás, bruxas essas que geraram  sua geração de homens para os Snazan, a qual o meu filho está. — O céu mostrava um belo  pôr sol quando Freya entrou para casa, suspirando. Sua filha Grace havia retornado segurando uma cesta de frutas nas mãos. Freya depositou um beijo na testa de sua filha e foi para o quarto.

          A união daqueles dois estava condenada, havia muito mais feridas causadas por William, um exemplo era a forma como ele arrancou o recém nascido Benjamin dos braços de Freya duas horas depois do parto, depois disso as constantes brigas e a forma brutal como ele a obrigava ter relações sexuais para assim gerar herdeiros.  Sim, aquele casamento estava condenado, Freya se apegava unicamente ao seu amor por seus filhos.

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