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Um Filho Para O Chaebol (ABO)

Prólogo

   O silêncio no local transformava o som dos passos em algo ensurdecedor. As solas dos sapatos se arrastando pelo chão pareciam perfurar os tímpanos machucados de Dae. Respirando com dificuldade, o mais velho tratou de erguer seus olhos, tentando visualizar onde estava e se encontrando perdido por alguns momentos.

     Sua cabeça latejava dolorida, assim como todo o seu corpo. Tentou se mover, mas notou que seus braços estavam amarrados de maneira brusca atrás de seu corpo. Dae estava aturdido, mas isto não impediu que o desespero atravessasse seu corpo. O mais velho então tentou abrir a boca para chamar por alguém.

     Ele ouvia os passos, sabia que não estava sozinho, mas sem a visão de um de seus olhos e com o outro embaçado, ele não conseguia ver muita coisa. Principalmente se considerasse que onde estava também se encontrava escuro.

     Dae tentou pedir ajuda, mas oque obteve foi uma tosse seca e dolorida escapando de si. O mais velho também sentiu algo inundar sua boca no processo, e o gosto ferroso que a inundou deixou claro que o líquido era sangue.

— Parece que finalmente acordou senhor Kim. - uma voz firme, grave e fria ecoou pelo lugar em um tom dominante que enviou calafrios pela espinha de Dae. Seu coração então, que já batia nervosamente contra seu peito, entrou em um estado frenético de medo.

     Ele finalmente havia se lembrado onde estava. E sua boca já seca, se tornou ainda mais.

     Dae Kim ouviu novamente o som dos passos ecoarem, só que agora mais rápidos e se direcionando para si. Seu corpo tremeu e ele sufocou um grito de dor quando seus cabelos foram puxados para trás e um líquido foi jogado em seu rosto: álcool.

     A bebida ácida adentrou os cortes em sua face e machucados, escorrendo por seu pescoço e cobrindo outras partes de seu corpo. Dae tentou se soltar do aperto do homem, mas o que obteve como resposta, foi um soco forte contra a sua face, o qual o derrubou com tudo. Fazendo-o se chocar com força contra o piso gélido do galpão.

     Ouviu alguns murmúrios, mas os ignorou conforme tentava se voltar para o verdadeiro problema de toda aquela situação: Jihoon Hyun.

     Dae Kim sabia que não traria nada bom mecher com o herdeiro do conglomerado Hyun, assim como também sabia que se envolver com chaebol's não era nada sensato se se fazer. Mas ainda assim, quando a oportunidade apareceu, ele não pensou duas vezes antes de tentar obter alguma coisa através dela.

     Ele engole em seco.

     Morreria ali? Provavelmente.

     Dae tentou ajeitar novamente sua postura, voltando ao estado ajoelhado que se encontrava à momentos atrás. Lágrimas estúpidas escorriam por sua face conforme ele tentava enxergar com claridade o Hyun sentado casualmente sobre uma cadeira simples no meio do galpão. Muito provavelmente passou um tempo esperando para que ele acordasse.

     Kim respira fundo. Ele não conseguia distinguir sequer a forma do corpo do homem, mas sabia claramente que a maneira em que o olhava não era nenhum pouco acolhedora. E quando Hyun se levantou, Dae soube exatamente que aquele era seu fim. Um suspiro escapou do homem com uma presença absurdamente dominante, e apenas este ato foi capaz de fazer o corpo do mais velho voltar a tremer como um louco.

     Dae Kim sabia que era um estúpido, mas aquela situação havia sido o ápice de sua burrice...

Ele tentou desesperadamente se levantar quando notou que o alfa em questão sinalizou algo para o homem ao seu lado a medida que se afastava de si, e Kim soube instantâneamente de que tipo de sinal se tratava quando mãos apertaram seus ombros e o empurraram com força, o forçando a se ajoelhar novamente contra o chão em um ato brusco.

     Desespero escorreu para seu âmago conforme sons de passos de um lado para o outro começaram a encher o galpão. Duas pessoas o seguravam conforme as outras se preocupam, som se sacos ecoou por seu ouvidos.

     Dae sabia que cobriam o chão para que seu sangue não se espalhasse sobre o mesmo, e o desespero voltou a culminar em seu ser quando aqueles que o seguravam o mandaram se levantar.

“Porcaria, não! Não! Não! Não! Não! Eu não posso morrer aqui!”

     Suas pernas automaticamente passaram a trabalhar chutando para os lados conforme ele gritava coisas sem sentido tentando se soltar. E Jihoon, cansado pelo dia que teve, respirou fundo tentando manter o resto da calma que tinha.

     Seus olhos negros e afiados se voltaram para a cena que se desarrolava em sua frente. Dae Kim tentava desesperadamente se soltar das mãos de seus seguranças conforme xingava até sua décima quarta geração.

— Termine isto rápido Min-suk, deixo o controle da situação em suas mãos. - Jihoon diz tranquilo, recebendo uma confirmação da beta conforme tratou de se retirar daquele lugar imundo.

     Seus passos e de Baek — seu secretário — ecoavam suaves pelo local, completamente em contraste com a situação que ocorria no centro daquele local. Definitivamente Hyun não dormiria bem naquela noite.

     O alfa planejava sair daquele galpão o mais rápido possível após ver o estado do peão que ousou colocar as mãos sobre o dinheiro que não lhe pertencia. Mas não foi isto que aconteceu, já que a voz estridente, aguda e machucada do homem que estava prestes a ser assassinado soou altamente pelo local.

     Jihoon parou repentinamente onde estava, voltando sua visão outra vez para o mais velho. O alfa olhava para o mesmo com um semblante levemente confuso.

“Ele havia mesmo dito aquilo?”

     Hyun não soube ao certo se ele havia escutado bem as palavras pronunciadas pelo velho beta, e sua reação repentina despertou os homens que o acompanhavam de seu torpor, os quais pararam imediatamente oque faziam para dar oportunidade ao Diretor.

— O que disse? - a voz firme de Jihoon ecoou pelo o espaço após breves momentos de silêncio.

     Repentinamente o velho havia dito algo estranhamente interessante, infelizmente Hyun não fora capaz de compreende-las com perfeição pois não prestava atenção. E ele esperou até o mais velho conseguir se recompor para pronuncia-las novamente.

— Meu filho... - Dae Kim inicia com pesar e dificuldade. — Meu filho é um ômega Sr. Hyu- uma risada seca escapando de um dos seguranças interrompe a fala arrastada do beta. O qual comenta algo inapropriado que tira risos dos demais próximos à si.

— Provavelmente gostaria de usar o filho como moeda de troca. -  o secretário ao seu lado diz baixo próximo a si enquanto analisava a situação ao todo.

— Quer trocar de lugar com seu filho Sr. Kim? Gostaria que ele levasse o tiro em seu lugar? - a voz doce de uma alfa do outro lado soou, fazendo outra onda de risadas assolar o local. Hyun suspira enquanto ainda esperava pacientemente pela conclusão de raciocínio do mais velho.

— Continue com o que dizia. - Hyun interrompe a interação agressiva de seu pessoal contra o beta mais velho, o qual trêmulo e com medo, voltou o olhar suavemente para ele antes de voltar a desvia-lo.

“Definitivamente um homem miserável.”

— A muito tempo o Sr. Hyun tem almejado um filho, mas infelizmente tem tido dificuldade com isto, não é? - Baek tentou pronunciar algo, mas a mão de Jihoon que sinalizou para que ele ficasse quieto impediu que as palavras escapassem de sua garganta. — Os boatos de que seus genes entram em conflito com os dos ômegas é preocupante. O Senhor já tentou ter um filho diversas vezes, então, porque não tentar novamente? Talvez... talvez o problema seja a capacidade da pessoa em questão, não? - ele continua gaguejando desajeitado. — Meu filho é um ômega senhor. Bem estruturado, ele é um atleta e estudante excelente, com uma boa resistência e porte físico. Quem sabe o senhor consiga obter o que deseja com ele, não? Tentou tantas vezes, tentar mais uma não faz mal, não é Sr. Hyun? - sua voz trêmula e pesarosa soava estranhamente firme. Seu secretário ao seu lado respirou fundo.

     Sim, aquilo foi a coisa mais sem noção que ele já ouviu. Ele estava tentando lhe vender seu filho, mas ainda assim, havia despertado seu interesse.

     Jihoon Hyun era um alfa categoricamente raro, sua posição extra-dominante dificultava diversas coisas, sendo a capacidade de ter filhos uma delas. Embora seu corpo febril fosse indescritívelmente fértil, isso não se refletia aos ômegas que o cercavam. Seus feromônios eram sufocantes, pesados e os alertavam, e o corpo dos mesmos instintivamente rejeitavam o seu e o seu esperma.

     Dae era um filho da puta. Mas estava certo no quesito de que ele podia tentar mais uma vez. Hyun necessitava de um herdeiro, este não era uma discussão, ele precisava de um. E sim, Jihoon tentou diversas vezes tê-los, sendo rejeitado em cada uma das vezes. Mas as palavras do beta lhe atiçaram.

     Talvez ele realmente estivesse indo por um caminho equivocado. Não importava o quão fértil ele era, ainda assim, para uma gravidez e um parto necessitava-se tempo. O qual ele geralmente não dava importância.

     Um suspiro escapa de seus lábios a medida que seus passos o levaram de volta ao mais velho amarrado, machucado e de joelhos no meio do galpão, o qual ergueu o rosto com bruscalidade para enxerga-lo com o mínimo de nitidez.

— Você está praticamente me dizendo que seu filho é capaz de gerar o meu. Compreende isso? - o mais velho engole em seco, concordando levemente depois. E como resposta, uma risada seca e sem emoção escapa de Hyun. — Que bom que pensa assim Sr. Kim, e espero que esteja certo, pois se seu filho não tiver tido o meu em um ano, você definitivamente vai desejar ter morrido aqui. - sua voz soou firme, e acompanhando ela, um calafrio assolou o corpo de Dae Kim.

     Ele estava absurdamente fodido, e como se não bastasse, também havia arrastado seu filho para aquele buraco de merda em meio ao desespero.

     Lágrimas começam a escorrer por sua face com mais avidez conforme outra vez ele ouvia os passos do alfa se afastarem, e aos poucos os apertos em seu corpo serem soltos.

     Sua mente há momentos atrás apenas buscava absurdas alternativas para permanecer vivo, mas agora naquele momento, ele apenas se preocupava se em algum momento, Tae-ho o perdoaria.

Mas no fundo de seu âmago, ele acreditava que não...

Capítulo 1

  Um sorriso deslumbrante abrange os lábios de Tae-ho quando seus passos o levam para fora da área de recepção do aeroporto. Seu celular vibra suave no seu bolso, e quando o pega, uma risada suave escapa de si quando visualiza o nome na tela do mesmo.

— Deixe-me perguntar, quanto está gastando com essa ligação internacional? - suas palavras inglesas carregadas de sotaque eram como músicas para os ouvidos de Alexander.

— Não precisa se preocupar com isso! - o americano do outro lado da linha responde com suavidade e alegria. — Chegou bem?

— Sim, cheguei. Finalmente voltei para casa! - Tae-ho estava alegre, sinalizando para o primeiro táxi que viu quando saiu para o lado de fora do aeroporto. — Fazia muito tempo que eu não vinha para a Coréia, devo ressaltar que senti saudades. Falando nisso, o que você estava fazendo nestes últimos três dias que não o vi? - o coreano pergunta suave, cumprimentando o motorista do táxi conforme aos poucos passava a ajuda-lo a colocar sua mala no porta-malas do carro. Suspirando enquanto organizava o boné sobre seus cabelos em seguida.

— Não foi minha intenção sumir por esses dias, mas infelizmente, um homem como eu nunca nega as necessidades e vontades de uma bela mulher durante o cio! - Tae tentou conter sua risada a medida que entrava no táxi, mas foi impossível devido o tom de voz forçada e ridícula de Alexander do outro lado da linha.

— Ah, faça-me o favor! - Tae-ho diz, dizendo o endereço brevemente para o motorista que rapidamente passou a se direcionar para ele. — Três dias? - a risada do americano do outro lado foi bastante audível. — Esquece, vamos fingir que não ouvi isso. Agora me diga, o que eu vou dizer pra sua mãe quando ela me perguntar o porque você se negou a passar as férias novamente aqui? - o coreano pergunta, observando a paisagem que refletia através da janela do carro com afeição.

     Tae-ho Kim sempre fora um estudante, e um atleta modelo. Apaixonado pela natação e bastante focado nos estudos, com bastante esforço, o rapaz acabou conseguindo uma bolsa de estudos internacional após um torneio estadual ao qual participou.

     Inicialmente foi um grande problema, mas felizmente — ou por intervenção do destino — a família de Alexander, seu amigo de infância, acabou o ajundando financeiramente até que por fim ele se estabelecesse no exterior com seu filho.

     O americano em questão havia sido adotado pela família Kook quando estes foram em uma viagem para os EUA, e ele voltou para sua cidade natal quando obteve ali uma melhor oportunidade de estudos. Coincidentemente Alexander quis se matricular na mesma faculdade em que Tae obteve uma bolsa de estudos, embora tudo isso havia sido mais uma desculpa esfarrapada para que ele pudesse ir embora da Coréia o mais rápido possível.

     Embora Tae-ho nunca soube o verdadeiro motivo que o levou à isso, já que Alexander que amava tanto morar ali, repentinamente desejou sumir daquele lugar.

— Diga à ela que infelizmente o nosso capitão solicitou minha presença por algumas semanas a mais! - o jovem diz após uma risadinha suave. — Ou sei lá, inventa uma desculpa, você sempre foi bom nisso. Lembra quando você sumiu naquela festa de aniversário da Joel, e eu só fui descobrir semanas depois que na verdade você se trancou a noite toda com o Stefan em um dos quartos da casa? Sinceramente, até hoje não acredito como que eu acreditei nas suas palavras quando você me disse que havia tido uma crise alérgica e por isso voltou pra casa mais cedo! - agora foi a vez de Tae-ho rir. Era impossível dele se esquecer de tal deslumbrante acontecimento.

— Você fala como se fosse um santo Alexander!

— Não sou, mas tampouco saio por aí mentindo para meu melhor amigo... - Alex diz em um tom pesaroso, fazendo Tae revirar os olhos com um suspiro divertido. E então, um sorriso suave abrange seus lábios quando ele repentinamente reconhece a rua em que o táxi adentrava. Fazia quase dois anos que ele não colocava os pés ali, mas ainda assim, reconhecia perfeitamente bem a fachada daquelas casas. — Certo, você precisa aproveitar bem a sua curta estadia aí, depois que você se estabelecer me liga. Beijo, te amo! - E com um sorriso no rosto, Tae responde um "eu também" antes de ter a ligação finalizada.

     Alguns momentos depois o taxista estacionou na frente de sua casa, e o rapaz não tardou em sair do carro e pegar sua mala, agradecendo o motorista e rapidamente, tratando de abrir o pequeno portão de ferro na frente.

     Tae-ho observou os degraus da pequena escada que o levava para o nível superior da casa, e depois seus olhos caíram sobre a fachada simples mais organizada. A casa não era grande ou luxuosa, mas o suficiente para que ele e seus pais pudessem ter uma vida confortável.

     Um sorriso suave abrange seus lábios conforme as lembranças de sua infância assolavam sua mente conforme ele tratava de subir os degraus puxando sua mala consigo. Seus passos eram tranquilos, Tae não estava com pressa para reencontrar seus pais, ele sabia que ambos estariam o esperando do outro lado da porta como sempre fizeram. E ele esperava uma bem-vinda alegre como sempre obteve, mas o clima que estava na casa quando ele adentrou não era um dos melhores.

     Esperava um sorriso deslumbrante de sua mãe, mas obteve um lugar silencioso como resposta. Seus olhos vasculharam a entrada da casa procurando algum sinal, era estranho, o ambiente estava frio.

     Tae-ho deixou sua mala e a mochila que levava próximo a porta de entrada. O castanho tirou o boné que usava e jogou os cabelos para trás conforme aos poucos adentrava o ambiente. O jovem nadador chamou por sua mãe e seu pai algumas vezes, não obteve resposta, o que resultou em sua surpresa quando entrou na sala e os observou ali, sentados no sofá um de frente para o outro.

     Sorriu abertamente na intenção de cumprimenta-los, mas rapidamente mudou de atitude quando percebeu os ombros trêmulos e a cabeça baixa de sua mãe, ela chorava silenciosamente.

— Mamãe? - Tae-ho chama docemente, passando a se aproximar e se ajoelhar aos pés da mulher a medida que abraçava seus ombros e a puxava para si. Quando não obteve resposta, seus olhos se voltaram para seu pai, e sua garganta ficou seca quando observou o estado deplorável com o qual ele se encontrava.

     Seu pescoço e braços estavam enfaixados, e seu rosto completamente marcado de hematomas e cortes recentes. E como se não fosse o suficiente, os olhos do mais velho se negaram a se encontrar com os seus. Ele estava envergonhado de si mesmo aparentemente. Tae-ho respira fundo, tentando ao menos compreender o que diabos estava acontecendo ali.

— O que aconteceu? - perguntou ainda fitando seu pai. Dae não respondeu, apenas se levantou do sofá e caminhou para a entrada da casa, sinalizando que simplesmente sairia de lá. Tae suspirou já acostumado com as atitudes do pai, não era a primeira vez que ele chegava machucado depois de dever alguém, mas era a primeira vez que sua mãe se encontrava desconsolada.

     Quando o barulho da porta soou pelo espaço silencioso anunciando que Dae havia saído, sua mãe por fim se rendeu ao aperto no peito que sentia.

     Tae apertou a mulher em seus braços quando seu corpo pendeu em direção ao mesmo o abraçando. Sua mãe escondeu o rosto na curva de seu pescoço enquanto o abraçava forte, deixando as lágrimas e o desespero que sentia se esvaziar através delas.

     Seu pai definitivamente havia feito algo deplorável para que sua mãe se encontrasse naquele estado. Tae-ho respira fundo, aninhando sua mãe ainda mais contra si conforme aos poucos, passava a acariciar os cabelos castanhos da mesma a medida que tentava acalma-la.

     Aquele definitivamente seria um longo dia.

Capítulo 2

O humor suave e alegre que Tae-ho sentiu quando colocou os pés dentro de casa, evaporou no momento em que palavras baixas, mas ácidas escaparam os lábios de sua mãe. Tae não sabia ao certo o que sentia com tal situação ou informação, mas chegou a conclusão que a palavra mais certa para definir seria: nada.

     Tae-ho não sentiu nada quando sua mãe disse que seu pai havia feito uma atrocidade. Não sentiu nada quando a mesma disse que o mesmo havia se metido com quem não devia. Não sentiu nada quando ela disse que para resolver um problema ele se meteu em outro, e tampouco sentiu algo quando a mesma disse que seu marido havia lhe oferecido como pagamento da dívida feita.

     Tae não compreendeu exatamente oque ela quis dizer com aquilo, mas supôs imediatamente que isso se resumiria a mais simples e velha prostituição.

     Era estranho, ele sabia, deveria al menos sentir raiva, desgosto ou algo assim, mas ainda estava lá, com o mais belo e extenso nada ardendo em seu peito.

     Sua mãe naquela altura, dormia pesadamente contra seu colchão, a mesma havia caído exausta depois de horas chorando sobre seu colo pedindo perdão. A mulher pedia perdão por ter tornado aquele erro seu pai, era triste, de fato, e Tae gostaria de compartilhar da mesma dor que ela, mas ainda assim, não sentia nada.

“Deveria agradecer meu emocional por ter repentinamente se desligado?”

     Tae-ho não sabia, mas tampouco pensaria muito nisso.

     Levando a garrafa de cerveja que achou na geladeira aos lábios, o jovem observa a casa da frente através da janela da sala, ele estava sentado na beirada da mesma. Seus olhos capturavam cada detalhe da propriedade do vizinho, quase como se ela fosse um obra de arte cara em uma galeria.

     À um bom tempo o sol já havia se retirado do céu permitindo que a lua reinasse em seu lugar, Tae não sabia ao certo que horas eram. mas chutava ser de madrugada. Não sentia sono e tampouco estava cansado, deveria estar, obviamente por conta de toda a agitação e o tempo em que passou dentro de um avião, mas ainda assim estava lá, esperando seu pai chegar. O que não tardou em acontecer.

     A porta da frente foi aberta de forma silenciosa, e passos cuidadosos soaram pelo o espaço silencioso. A única luz ligada, era a de um abajur na sala, o que fez os olhos de seu pai se voltarem instintivamente para ela quando ele adentrou o local, e depois, recaíram sobre Tae-ho que agora, o olhava de forma apática.

     Quando Dae Kim adentrou a sala de sua casa, o mesmo não esperava encontrar seu filho ali o esperando. O mais velho já se sentia um lixo, mas quando o olhar sem emoção de Tae se encontrou com o seu, ele verdadeiramente desejou que tivesse permitido que o matassem naquele galpão à dois dias atrás. Dae se sentia sujo, e ele internamente sabia que aquela sensação não o deixaria tão cedo.

     Não suportou olhar para seu fho por muito tempo, rapidamente desviou o olhar, mas o que o deixou ainda mais pesado, fora a voz sem emoção e fria do mesmo, contrastando com a alegre e suave que ele geralmente portava.

— Vamos... - a voz do ômega soou baixa e grave pelo local, e por um momento Dae respirou fundo, fechando os olhos enquanto inutilmente esperava que a relação com seu filho não se arruinasse, embora já houvesse o perdido. — Acho que necessito da sua versão da história.

     Tae-ho diz com o mínimo de interesse possível, sua mãe já havia lhe dito o suficiente, ela havia explicado cada palavra que saiu dos lábios de um dos homens que trouxeram seu pai de volta para casa. Não havia como, do ponto de vista do jovem, fugir desta responsabilidade outorgada a si.

     Ou ele aceitava dar um filho à não sei quem, ou quem acabaria sofrendo as consequências deste ato infame cometido por Dae, também seria o restante de sua família, porque infelizmente, estes eram próximos o suficiente do alvo que era o Kim.

     Tae-ho esperou paciente seu pai começar a falar, parado em pé no meio da sala enquanto olhava incerto para ele. E ele ouviu, ouviu com atenção e cuidado cada uma das palavras pronunciadas por ele.

     Tae escutou atentamente quando o mesmo contou sobre os jogos de azar que participava vez ou outra. Também ouviu quando o meno disse que se embebedou um noite, e apostou até o que não devia para um cobrador famoso na região. Prestou atenção quando o mais velho disse que se encontrava com uma dívida enorme, e que achou uma saída quando um dos amigos mencionou um trabalho estranhamente específico.

     Para sair de um problema, Dae havia se metido em outro...

     Tae-ho tampouco interrompeu seu pai quando o mesmo havia lhe dito que apenas depois descobriu de quem se tratava o pobre infeliz, dono do dinheiro extraviado. E muito menos, fez perguntas do porque repentinamente Dae havia simplesmente mencionando seu nome, e o oferecido como pagamento da dívida quando obteve a oportunidade. Havia sido para livrar seu próprio pescoço, não havia o porque ressaltar isso, todos já sabiam deste fato.

     A voz de Dae era pesarosa, arrastada, fraca, e baixa. Tinha vergonha, e não era para menos. Durante seus relatos, seu filho não o olhou nem sequer por uma vez, o mesmo nem ousou interrompe-lo como ele, de alguma forma, esperava que ele o fizesse.

     Tae-ho simplesmente ficou lá, segurando a cerveja em mãos enquanto olhava pela janela sentada na borda da mesma. O mesmo não fez nem sequer um movimento, parecia estático no lugar, apenas o ouvindo. E quando Dae terminou seus relatos, seu filho ainda ficou lá, parado por brever momentos, absorvendo suas palavras e feitos.

     O mais velho não sabia ao certo que reação esperar de seu filho, mas por um momento, desejou que ele olhasse furiosamente em sua direção, gritasse e o xingasse de tudo quanto podia. Mas o que recebeu, foi ainda pior do que imaginou...

     Um sentimento de decepção, de frieza e um olhar de quem dizia que "eu já esperava isto de alguém como você". Tae-ho se levantou de onde estava sentado, deixando sua cerveja de lado e caminhou em sua direção. Seus olhos apáticos e seu rosto sem expressão, aquela imagem de seu filho completamente decepcionado com sigo havia feito sua garganta trancar.

     Tae-ho o havia rejeitado sem precisar dizer sequer uma palavra. E Dae engoliu dolorosamente em seco quando o mesmo simplesmente, pronunciou pequenas e pesadas palavras conforme passava por si, indo em direção ao seu quarto.

— Você está devendo para mim agora senhor Kim, e espero que se lembre disso. - seus passos pequenos e suaves deixados sob o piso da casa soaram por todo o espaço silencioso.

     E quando a porta do quarto do mesmo se fechou, Dae Kim finalmente permitiu que as lágrimas escorressem abundantemente por seu rosto.

     Ele esperava que um dia seu filho pudesse lhe perdoar, mesmo que esta ideia lhe parecesse impossível.

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