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A Garota Do Metrô

Capítulo 1

O sol está raiando, invadindo metade do quarto. Emily dorme sobre a cama, com metade do corpo descoberto. Ela sente um ardor na perna direita, dobrada e desnuda, o que a faz gemer um pouco e franzir os olhos com a luz solar.

Emily - Não acredito que esqueci de fechar as cortinas de novo.

Resmungando, ela se senta na cama, espreguiçando-se e tentando abrir os olhos com desconforto. Ao olhar para o lado, ela vê um bilhete no criado-mudo deixado pelo namorado. Automaticamente, um sorriso bobo surge em seu rosto. Ela pega o bilhete e lê:

"Bom dia, dorminhoca! Antes de mais nada, fui eu que abri as cortinas antes de sair, perdão! Não resisti. Acorde cedo, hoje é o seu dia de formatura e será mágico. Te amo! Assinado: James."

Emily não consegue conter o sorriso e salta da cama, animada. Ela tira a camisola e vai tomar um banho rápido. Depois, veste uma roupa, uma bota cano curto e coloca uma bolsa nos ombros antes de sair do quarto, olhando a hora no relógio. Ela pega as chaves do carro e sai.

Era uma típica rua nos EUA, com muitas árvores e casas de classe média. Havia uma calma que permitia escutar o som das folhas secas sendo levadas pelo vento. Um menino passa de bicicleta entregando jornais e Emily acena para ele antes de correr até o carro, jogando suas coisas no banco do passageiro.

Emily Cooper, 24 anos, era uma brasileira/americana que morava nos EUA. Depois que seu pai morreu, foi criada pela avó paterna no Texas e perdeu contato com a mãe, que voltou para o Brasil. Quando completou 18 anos, Emily decidiu deixar o Texas e seguir seu sonho de estudar fotografia ambiental em uma universidade. Ela morava sozinha em uma confortável casa e namorava James, um policial dedicado ao trabalho e correto, há dois anos.

Ela segue dirigindo para pegar o vestido na costureira, onde foram feitos alguns ajustes. Depois do meio-dia, Emily combina de almoçar no shopping com James, que sempre acaba se atrasando devido ao seu trabalho. Ela estava sentada na praça de alimentação, tomando água e pensativa, quando sentiu um toque no ombro.

James - Desculpe pela demora!

Ela sorri e James puxa uma cadeira, sentando-se perto dela. Ele acaricia o rosto dela, retirando os fios soltos, e diz:

- Você é tão linda!

Emily - Tudo bem, você está perdoado pela demora de quase quarenta minutos.

James - Ah, meu anjo, às vezes eu tento não me atrasar.

Emily - Eu já estou acostumada.

Ela responde com um tom triste, mas James não deixa que ela fique assim. Ele segura seu queixo e a puxa para um beijo calmo e doce. Depois do almoço, eles caminham de mãos dadas até James a puxar para descer as escadas, mas Emily para no topo, sem conseguir descer.

Emily - Não!

Ela aperta a mão dele com força.

James - Você precisa enfrentar seu medo de altura, se não, nunca irá superar isso algum dia.

Ele tenta mover Emily, mas sem sucesso. Ela continuava parada no mesmo lugar.

Emily - Eu disse não!

James - Mas você nem tentou.

Emily estava visivelmente emocionada, com as mãos e pernas trêmulas e o rosto pálido.

James - Tudo bem, meu amor, vamos pegar o elevador!

Ele aperta a mão suada dela e eles caminham até o elevador. James conhece o trauma de Emily com altura, por isso não fala sobre esse assunto. Eles descem para o estacionamento do shopping.

James - Até mais tarde!

Emily - Estou tão nervosa!

James - Não fique, estarei lá com você.

Ela sorri e o abraça forte, trocando beijos por alguns minutos, até que Emily fala:

- Queria tanto que minha avó estivesse viva para participar desta noite comigo.

James sente o rosto dela tombar em seu ombro e lágrimas molhando sua camisa, indicando que ela está chorando.

James - Não fique assim, meu amor. Hoje é o dia que mais um de seus sonhos será realizado. Tenho certeza de que ela estaria muito orgulhosa de você.

Eles se encaram por alguns segundos e se beijam. James abre a porta do carro dela, fazendo-a entrar, e se despedem.

James - Até logo!

Ele acena para a namorada e acompanha o carro se afastar até desaparecer de sua vista. James caminha devagar até onde estacionou sua moto, coloca o capacete, ajusta os retrovisores e se senta nela. Ele fica olhando para o vazio até colocar a mão no bolso e pegar uma caixa preta de veludo.

O que Emily não sabia era que o atraso dele não foi por causa do trabalho dessa vez, mas sim porque ele estava escolhendo um anel de noivado para ela. Hoje à noite, James planejava pedir sua mão em casamento e estava tão nervoso quanto ela com a formatura.

James - Não é possível que eu esteja assim, costumo enfrentar os bandidos mais perigosos. (risos)

Ele balança a cabeça, tentando afastar a ansiedade, e coloca a caixa de volta no bolso, ligando a moto e saindo do shopping. O dia voou e a noite está chegando com um clima enigmático. Emily está se arrumando em casa para a formatura da turma de fotografia. Algo a deixa inquieta e o coração apertado.

No começo, Emily achava que era só ansiedade, mas acabou percebendo que não era a formatura que estava deixando ela assim. Sem saber o motivo da angústia, decide ligar para o namorado.

James 📱 - Oi, amor!

Emily 📱 - Você já está vindo?

James 📱- Sim, estou saindo agora. Vou passar em casa para tomar banho e me arrumar.

Ele percebe pela voz dela que ela está inquieta.

James 📱- Vou me apressar aqui, sua ansiosa!

Isso desarma a tensão dela, e os dois riem descontraídos.

Emily 📱- Você é um bobo, não demore desta vez!

Ela encerra a ligação mais tranquila e sorridente, coloca uma música para tocar, a fazendo mexer o corpo de alegria, e faz uma maquiagem simples sem exageros.

Emily era o tipo de pessoa que tinha um gosto bastante peculiar para música, então quando achava a canção certa, gerava uma boa sensação de bem estar nela.

Capítulo 2

James estava saindo do departamento de polícia por volta das 17:40 da tarde, em direção a sua moto com o capacete na mão. Uma voz abafada pelo vento grita o seu nome e ele olha para trás fitando seu amigo apressando os passos para acompanhá-lo.

- Vamos tomar uma cerveja no bar do Joe?

James - Não vai dá cara, hoje é a formatura da minha namorada e eu não posso me atrasar.

- Qual é James\, hoje é meu aniversário\, é só uma cervejinha\, eu prometo!

James olha a hora no relógio em seu pulso e fica bastante confuso, não queria dizer não para o amigo, ao mesmo tempo não queria se atrasar mais um vez e chatear a namorada. Mas ele viu que se passasse somente quinze minutos no bar e bebesse com o amigo não iria afetar o horário marcado.

James - Ok Tony! Te dou quinze minutos, começando a contar agora.

Tony - (risos) Vinte!

Ambos sorriem e cada um sobe em suas respectivas motos a caminho do bar do Joe. Chegando lá, eles entram no local e sentam nas banquetas próximas ao balcão.

Joe - E aí? O mesmo de sempre rapazes?

Tony - Sim, é uma saideira, pois estamos de passagem.

Joe - É pra já!

Tony olha para o amigo que não estava nem um pingo interessado com o que acontecia ao seu redor. Observando que James segurava uma caixinha preta e a olhava fixamente.

Tony - Tudo bem, irmão?

Perguntou-lhe dando umas batidinhas nas costas para chamar sua atenção desinteressada.

James - Sim, eu só estou pensando…

Ele simplesmente não completa a frase e abre a caixinha aveludada mostrando ao amigo do que se tratava sua falta de atenção.

Tony - Sério? Vai pedi-la em casamento?

James sorri com a expressão surpresa do amigo, que mais parecia decepcionado por perder seu parceiro de farra de vez.

James - Sim, eu a amo muito!

Tony - Quer saber? Você está certo, encontrou uma mulher linda e legal. Digamos que você é um filho de uma mãe sortudo.

Ambos sorriem com o comentário e tomam o chope, Tony vira todo o copo ingerindo de uma vez só, e finaliza batendo o copo de vidro grosso no balcão.

- Bem\, já vou indo\, Joe\, quanto eu devo?

James - Pode ir cara, eu pago!

Tony - Valeu irmão, boa sorte lá!

Ambos sorriram e se despediram um do outro. James toma o restante da cerveja e tira uma nota colocando em baixo do copo e se levanta para ir embora. Olha para trás e ver começar uma discussão no fundo do bar com dois homens, com vozes alteradas, empurrões, socos e palavrões.

Joe - Que droga, de novo não! Esse bad boy desgraçado vai acabar com meu bar.

James - Deixa comigo!

Ele se encaminha para o meio do tumulto em passos largos e tenta separar a briga, mas acaba levando um empurrão caindo por cima da mesa em cheio.

Bad boy - Não se mete, cara!

James - Parou!

Ele grita mais algumas vezes e dá um soco no valentão que acaba tombando para trás e quebrando o nariz.

James - Eu disse parou, porra!

Ele saca sua arma de fogo apontando para os arruaceiros, tira o distintivo de polícia o mostrando.

James - Vou levar todos em cana se não pararem com essa baderna.

Ele aponta para o bad boy que também estava armado, mas nada poderia fazer, pelo fato de James ser um tira.

Bad boy - Calma cara, já estou saindo!

Disse ele com as mãos levadas para o alto, caminhando lentamente até a porta de saída.

O silêncio predominava no bar e todos se olhavam esquisitos.

Joe - Valeu James, você é o cara!

James - Pois é, contínuo com a fama de apaziguador. (risos)

Ele volta até o balcão, pega o capacete e sai do lugar em direção a moto. O que ele não percebeu foi que o bad boy estava no escuro, o observando atentamente com uma expressão maligna. James liga a moto e sai.

No meio do caminho ele nota que três motos o seguia, com as luzes dos faróis fortes ligados em cima dele. Eles acabam o cercando, dois de um lado e um atrás o fazendo encostar.

Motociclista - Encosta!

Irritado, James encosta no canteiro da estrada e tira o capacete para confrontá-los, entretanto, não deu tempo nem de falar uma palavra. O bad boy saca a arma apontando para James que arregalou os olhos tentando um movimento desesperador. Um disparo ecoa pela rua quase vazia e ele cai para o lado e tudo escurece.

...

Emily estava olhando pela a janela o zero movimento na rua, de vez em quando olhava a hora pelo celular e nada do namorado chegar.

- Ele se atrasou novamente!

Ela funga e solta um suspiro se sentando no sofá e tentando uma ligação sem sucesso.

Emily - Não é possível que irei me atrasar para minha formatura.

Indagou ela se cobrando atitude, então Emily se levanta e coloca o celular na pequena bolsa de festa e pega a chave do carro na mesinha de centro. Abre a porta e pega seu carro se dirigindo para o evento um tanto quanto decepcionada. No meio do trajeto ela recebe uma ligação.

Emily 📱- Olá! Quem é?

Ela freia o carro bruscamente na rua.

Emily 📱- O, o que você disse? Não, não, não...

Perguntou ela com uma voz falha e trêmula, entre o susto e o desespero do momento.

Emily 📱 - Em que hospital ele está?

Ela finaliza a ligação jogando o celular para qualquer lugar no carro e sai em alta velocidade para o hospital. Quinze minutos depois chega e sai do veículo sem ao menos fechar a porta, com vestimentas de festa, praticamente desorientada.

Adentra o hospital sem rumo, queria chegar a qualquer lugar e encontrá-lo bem. Abre mais uma porta e aquela claridade a fez fechar os olhos por conta das paredes brancas a deixando zonza e sem fôlego. Tudo em sua volta rodava, visão fica turva, e lentamente vai perdendo os sentidos até desmaiar.

Em seu subconsciente se passavam flashes da noite tórrida de hoje, como se fossem pedaços de pesadelos que se juntavam como um quebra-cabeça.

Capítulo 3

1 Ano Depois...

O tempo passa tão rápido. Como dizem os antigos, "quem sofre é quem fica". Esta frase se aplica bem ao sentimento doloroso da perda.

O luto é algo bem pessoal para cada pessoa. Aprender a conviver sem aquele ente querido que sempre esteve ao seu lado é como tentar reaprender a respirar sem forçar os pulmões.

Mas a vida continua, mesmo sendo difícil encará-la depois de uma perda tão grande. A pior coisa é receber a notícia da morte de alguém sem aviso prévio. Como acalmar o coração assim?

Emily recebeu uma proposta para trabalhar tirando fotos urbanas e hoje estava de mudança para Nova York. Embora não gostasse deste tipo de fotos, aceitou porque era uma ótima forma de escapar do lugar onde estava.

Ela chega com suas malas no prédio e o porteiro a ajuda a subir. Inicialmente tudo estava arrumado, pois passou meses decorando e montando um pequeno laboratório de revelação e impressão de fotos, que era seu xodó. Emily joga a bolsa no sofá e vai para o quarto com as malas.

Há uma grande sala, cozinha com lavanderia, sala de jantar, três quartos com suítes, sendo um o seu laboratório de fotografia, e uma varanda razoável.

Ela passa quase todo o dia arrumando o closet, só parando para comer um sanduíche de pasta de amendoim com leite.

17h da tarde, um homem aparentemente bonito está na cobertura de um prédio comercial, sentado em sua cadeira de CEO no seu luxuoso escritório, em inércia total. As cores do final da tarde se misturam no céu através das grandes janelas de vidro que refletem em seu rosto pensativo.

Aidan Green, 32 anos, é um empresário do ramo imobiliário bem-sucedido, que enfrenta o fim de um relacionamento conturbado. No entanto, ele trabalha até tarde da noite, às vezes pega o metrô para se sentir como uma pessoa normal, já que em seu meio social está cercado por pessoas interesseiras e fúteis que só visam o dinheiro. Ele tem um hobby peculiar que é desenhar.

Batidas na porta...

Aidan - Entre!

A porta se abre e um homem da mesma idade entra com um sorriso nos lábios.

- Tudo bem, primo?

Aidan - Por que não estaria?

- Porque você anda um pouco abatido ultimamente, só isso!

Aidan - Estou bem, Evan!

Ele gira a cadeira, virando-se para as janelas do escritório e observa o final da tarde.

Evan - Parece que você não vai viajar para a festa da família no final de semana, né?

Aidan - Não!

Evan - Até quando você vai se sentir assim por causa daquela mulher?

Aidan - Não é da sua conta!

Evan - Aquela tal de Sara nunca me convenceu. Não entende que ela está brincando com você? Pois sabe que você é apaixonado.

Aidan - Já acabou?

Evan balança a cabeça, se levanta e se dirige às janelas, ficando em silêncio por alguns minutos, observando o movimento lá embaixo, antes de sair do escritório.

Depois de mais algumas horas de trabalho, Aidan veste seu casaco, pega algumas coisas e sai da sala para ir embora. Não havia mais ninguém no prédio, apenas os seguranças.

Aidan - Boa noite!

Seguranças - Boa noite, senhor!

Todos respondem e Aidan sai em direção ao carro.

Aidan - Vou de metrô hoje novamente!

Ele passa pelo motorista, que acena com a cabeça em confirmação. Era quase rotina Aidan abrir mão de regalias, coisas que para ele eram insignificantes, já que poderia dirigir seu próprio carro ou moto.

Caminhando pela rua, observando a lentidão da noite, nesse horário havia poucas pessoas na fria rua de Nova York. Tudo parecia tão nostálgico e carregado de melancolia, incluindo as gotas de chuva que começaram a cair em seu rosto.

Aidan se apressa descendo as escadarias do metrô, compra o ticket na máquina e entra no vagão de cadeiras solitárias. Haviam três pessoas dessa vez,  cada uma sentada mantendo uma certa distância, perdidas em seus próprios pensamentos. Nada de novidade para ele, até que uma jovem entra correndo, segundos antes da porta se fechar.

Ela estava com o casaco praticamente ensopado da água da chuva, que prontamente o tira apoiando no seu ante-braço e sentando em um assento afastado perto da janela. O trem começa a se movimentar e Aidan não consegue tirar a visão dela.

Era uma moça muito enigmática para ele, tinha uma câmera profissional pendurada no pescoço e em nenhum momento olhava em volta, era como se nada naquela extensão daquele vagão chamasse a sua atenção.

Emily  tira um caderno e uma caneta da sua bolsa marrom e começa a pensar o que iria escrever hoje, fica olhando fixamente para fora da janela por um momento até abaixar a cabeça e começar a escrever:

- "Mais um dia sem você, e o primeiro dia morando oficialmente em Nova York. Não fiz muitas coisas hoje, apenas arrumei meu closet e saí para dar um volta, bati algumas fotos aleatórias e agora estou aqui escrevendo isso. Porque dói tanto a perda? Será que algum dia irei superar? Acredito que estou perdida no passado e não enxergo um resgate para me tirar daqui".

Ela finaliza a última frase e fecha o caderno, ou seria algum tipo de diário? Para Emily, não tinha nome ou definição o que ela fazia, mas isso a deixava  mais calma e controlava seus pensamentos negativos que tentavam colocá-la para baixo.

Emily coloca os fones nos ouvidos para escutar músicas antigas, pois ela achava que combinavam com a noite. Encosta o rosto na janela e fecha os olhos. Aidan continuava a observando, algo nela o chamou atenção, aguçando a sua curiosidade, mas o máximo que conseguia enxergar naquela estranha misteriosa, era um enorme ponto de interrogação.

Ao chegar na sua parada, Emily se apressa e caminha em passos acelerados saindo do metrô. Para em uma pequena lanchonete de cachorro quente para jantar e ficar por lá até a chuva resolver dar uma trégua.

Emily - Ah, preciso urgentemente comprar um guarda-chuva.

Disse ela bufando enquanto olhava as gotas de chuva escorrer pela janela de vidro no local onde estava. Casaco molhado e um frio intenso, hoje definitivamente não saiu como o planejado para o seu primeiro dia em uma das maiores cidades do mundo.

Cansada de esperar, ela coloca a sua câmera dentro da bolsa enrolando no casaco para protegê-la, em seguida sai praticamente correndo atravessando a avenida. Até porque seu apartamento ficava a algumas quadras dali e um pouco de chuva não faria mal para ninguém.

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