A chuva caía torrencialmente naquela parte da cidade e Letícia contemplava pela janela, aquele bravo fenômeno da natureza. Estava só, mas não se incomodava com os respingos que a molhavam por causa da janela aberta. Tudo que queria, era desfrutar da delícia e do frescor daquele momento. Aprendeu a amar a chuva, quando era pequena e ficava de pé na mureta da varanda da casa de seus pais, protegida pela laje da antiga casa. Observava a chuva caindo através da luz do poste de rua, percebendo através da escuridão da noite.
Um relâmpago riscou o céu.
Ela estava olhando o alto do morro e teve um vislumbre, pela claridade do relâmpago, de uma carroça despencando do alto do morro. O relâmpago parecia ter caído por lá. Será que estava vendo coisas? A escuridão, agora, cobria tudo e para completar, a luz acabou.
Entre o condomínio e o morro, tem uma rua de mão dupla, que facilita a passagem entre bairros, por entre os morros que rodeiam os vários quartéis militares. E depois da rua, era o final do cemitério parque Jardim da Saudade. Quase não se dizia ser um cemitério, pois não tinha lápides. Se uma carroça realmente despencou lá de cima do morro, ninguém notou, talvez só ela.
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— Que temporal da porra, tinha que cair justo hoje? — disse Nico, um jovem mulato, magro e cheio de tatuagens e piercings.
— Para de reclamá e me ajuda, a carroça podemo pegá amanhã, mas a carga tem que sê agora. — disse Jairo, que era mais velho e tio de Nico. O "coveiro" do Dono ou morro.
Nico ajudava seu tio em troca de uns trocados, mas não gostava de se envolver naquilo. Era um rapaz forte, mas apesar de sempre ser requisitado para esses serviços, estava se preparando para fazer o vestibular e não queria ser qualquer coisa não, queria estudar medicina para ser doutor.
Os dois desceram, escorregando pelo mato e se apoiando nas trilhas de bois e vacas que costumavam pastar naquele lado do morro. Chegaram na carga e o tio verificou se estava bem amarrado e chamou Nico:
— Segura a ponta de lá, que seguro a daqui e vamo seguí em frente.
— Vai ser punk, quero ganhar em dobro, hoje.
— Vai sonhano, a chuva não vai me dá gorjeta, por causa de que, eu tem que dá algo mais pra você?
— Que servicinho do caralho! Vê se não me chama mais pra essa porra, mesmo precisando da grana, é muito pouco pra tanta insalubridade.
— Aeeeee, sobrinho, tá aprendendo a falá difícil é?
— É o salário do posto, eles pagam essa tal insalubridade.
— Deve ser pro causo do posto explodi ou pegá fogo e você ir junto – falou o tio, dando risada e precisou parar pois desequilibrou.
Chegaram em seu destino, depois da longa hora, escorregaram e caíram várias vezes e Nico estava para lá de aborrecido. Teria que levantar cedo no dia seguinte e duvidava muito que conseguiria descansar. Ouvira dizer que outra carga estava chegando e era muito perigoso. Se a polícia descobrisse, seria tiroteio na certa e se não, eram tiros ou fogos de artifício, para avisar.
De qualquer forma, eles esperavam poder tomar um banho quente quando voltassem, o que estava difícil de ter, porque a luz não voltou no morro, só do outro lado. Precisaram andar uma boa distância e demoraram muito mais do que o normal, tudo por causa daquela chuva que Letícia gostava tanto.
Voltaram para casa, chegando de madrugada e deram graças a Deus, pela energia ter voltado, mas mesmo assim, Nico tomou banho gelado mesmo. Deixou seu tio ir tomar banho primeiro e para não demorar muito a deitar e dormir, tomou banho de balde com a água do tanque mesmo. Terminou de tirar toda a lama do corpo e se ensaboou com sabão em pedra, secou-se e finalmente pode deitar e dormir.
Era o que pensava, pois não contava com a safada da sua prima se enfiando debaixo dos lençóis com ele e estava nua.
— Vasa daqui, Shirley! Tô morrendo de sono, cai fora.
— Puxa, Nico! Tô prontinha pra você… — miou a cadela, como ele a chamava.
— Se você não sair, vou te dar um chute.
— Duvido… — a voz de gatinha manhosa, o irritava mais ainda.
Ele puxou o lençol por sobre seu corpo, que também estava nu e empurrou ela pra fora da cama de solteiro, com os dois pés. O tombo só não foi grande, por que a cama era baixa, mas ela deu um gritinho e gemeu.
— Puxa, Nico…eu cheia de amor pra dar e você me trata desse jeito.
— Pode ir se fuder com esse amor, em outra freguesia, tchau. — ficou de bruços, de cara virada para a parede e quase imediatamente dormiu.
Shirley saiu do quarto vestindo uma camisola fina e topou com seu pai, que lhe tacou logo a mão na cara.
— Para de sê oferecida, sua moleca, para de perturbar teu primo, vá pro seu quarto.
Ela nem falou nada, com a mão no rosto, marchou em direção ao seu quarto e bateu a porta, assustando Nico, mas não o tirando do sono pesado que já estava.
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Do outro lado do morro, Letícia já estava dormindo. Sua mãe chegou do trabalho, depois de um plantão de 24 horas no pronto socorro do hospital, estava exausta e molhada. Tomou um banho, comeu a sopa que Letícia fez e foi dormir o sono dos justos. Amava muito sua filha, pois eram só as duas, depois do acidente que vitimou o marido e o filho mais velho, em uma patrulha na cidade. Os dois eram polícias e estavam saindo do serviço, quando tudo aconteceu.
Ossos do ofício, diziam.
Mas só quem passa é quem sabe o sofrimento que é para a família de um policial, no caso dela, dois. Pai e filho. Agora era só mãe e filha. Uma enfermeira e a outra, professora, estudando para o vestibular, queria ser médica. Uma profissão inglória, mas era o que Letícia queria, fazer o quê? Trabalhar para que ela não se sacrificasse tanto. O emprego na escolinha primária da vizinhança, cobria só os gastos pessoais dela e o cursinho.
Estavam agora dormindo, pelo menos, no dia seguinte, poderiam dormir até mais tarde, se o filho do vizinho de cima não começasse a gritar e pular pelo apartamento desde cedo.
No dia seguinte a tempestade, Nico levantou cedo e foi para o posto de gasolina, que fica no hipermercado, colado ao morro, só que fora da comunidade. Esse hipermercado, fica de frente para a avenida principal, que tem duas pistas largas, com um canteiro no meio. De frente para ele, está a delegacia de polícia. É ela que vigia o morro, mas não dá uma dentro há um bom tempo.
Nico aproveita os minutos que ainda tem, para observar o movimento do inicio da manhã. De frente para a rua, do seu lado esquerdo, era a comunidade, ninguém dizia que era perigoso ou que havia um grande comércio de drogas ali, pois seguindo a rua, de um lado e do outro, haviam lojas. Um comércio abundante, com padarias, farmácias, lojas de ferragens e utensílios domésticos, móveis, brechós, igrejas, auto escola, ou seja, tinha de tudo.
Mas de uns anos para cá, ali virou zona de risco por causa do Dono, um rapaz sem alma ou coração, que adora ver sangue. Com ele era assim, bastava tremer, que os dardos zuniam de sua mão, fazendo seus homens de alvo. Nico olhou para o outro lado e pensou que a diferença era nítida. Pois dali em diante, depois do hiper, era a área militar.
A apenas 500 metros, tinha o batalhão da Polícia Militar, logo em seguida, o quartel da aeronáutica com seu centro de desportos, hospital, escola de preparação de soldados e a base militar, com as pistas de pouso e decolagem, torre de comando e hangar. Por trás desse espaço enorme, era o quartel do exército, com a brigada de paraquedistas e fuzileiros. Se estendia por muito mais distante, até o Gericinó, onde ficam guardados os armamentos, ou seja, todo material bélico dos militares.
Ali também tinha o campo de treino para tiros, tanto de armas pesadas, como as mais simples. Por trás daquele bairro, do lado contrário aos quartéis, ficava uma cadeia de montanhas, que fazem fundo ao bairro. Era de se acreditar que tudo isso seria o bastante para proteção do bairro e da comunidade, mas não era assim que acontecia. Talvez você se pergunte o por quê disso e a resposta está ali com Nico.
— E aí, rapaz, tudo em cima?
— Tudo, parça…
Nico ficou de frente ao policial, tendo o cuidado de que ninguém o visse pelas costas e que o corpo do policial o protegesse pela frente, então tirou a mão de dentro do bolso do casaco, segurando um pacote muito bem embrulhado e fingindo cumprimentar o policial, passou o pacote para o outro.
— Valeu, fera. Bom trabalho.
— Só mais uma coisa, a próxima não será mais eu. Vô nessa. — Saiu andando com molejo de malandro em direção ao posto de gasolina, que já ia abrir.
— Bom dia galera, é nós na área, aí!
— Bora trabalhá, cambada! — respondeu o gerente.
Assim começou o dia de Nico, que mal tinha dormido e estava moído, por causa de tanta queda na lama.
**
Enquanto isso, Letícia dormia. Só acordou depois das nove, com o cheirinho de café recém coado pela sua mãe. Arrumou-se depois de um bom banho pra despertar e foi tomar o café.
— Bom dia, mãe. Benção?
— Deus te abençoe, querida. O dia está pra lá de bom. É sempre assim, depois de uma tempestade..
— É verdade, parece que a chuva limpa tudo e intensifica as cores. O ar mais limpo, fica mais respirável e é muito bom.
Ela foi até a janela, experimentar o que acabou de falar e olhou para o morro e percebeu algo.
— Então, aconteceu mesmo?
— O que é, filha?
— Ontem, no meio da tempestade, caiu um raio lá em cima do morro— apontou para o alto do morro —, pensei ter visto uma carroça virando e despencando. Achei que era imaginação, mas lá está a carroça.
Alguns homens, não dava para ver bem de tão longe, estavam desvirando-a e ao invés de subirem, desceram e passaram no espaço entre o morro e o cemitério. Não dava mais para ver, mas ela ficou impressionada por aquela carroça estar lá em cima do morro, no dia anterior.
— Como podem ter chegado lá em cima do morro, com aquela carroça?
— Subiram pelo outro lado. Esqueceu que lá tem uma comunidade? Tem várias ruas e caminhos que facilitam chegar no topo. — falou a mãe.
Ela ficou mais um tempo ali, tomando café e comendo seu pão com queijo.
— O pão da padaria nova é gostoso, dá vontade de comer mais.
— Foi por isso que não comprei muito. — respondeu sua mãe, rindo.
Passou o restante da manhã verificando o material das aulas e saiu para trabalhar depois do almoço. Ao se aproximar da escolinha, que ficava próxima do condomínio, encontrou com outra professora e comentaram sobre a tempestade e Letícia comentou sobre a carroça. A colega parou onde estava e olhando para o morro, apontou e daquele lugar específico, dava para ver parte de um caminho de terra, como uma rua, no topo do morro.
Leticia ficou examinando aquele caminho que parecia seguir por toda a extensão do morro e ficou abismada por nunca ter notado.
— Como fizeram aquele caminho sem ninguém notar?
— É que ninguém fica vigiando o morro pra ver o que acontece nele, sua tonta.
— Não precisa me xingar. Pra que será que serve e pra onde será que vai?
— Tu é curiosa, heim. Dizem que uma carroça, vira e mexe, passa por lá, levando corpos de gente assassinada pelo Dono do morro. — contou séria, a colega.
— Cruz credo…— disse Letícia, fazendo o sinal da cruz.
Chegaram à escola e Letícia deixou o assunto de lado, mas sua curiosidade era muita. Havia pouco tempo que moravam ali, sua mãe comprou o apartamento por achar aquela área mais segura, mas depois de ouvir aquela história, parecia não ser tao segura assim.
As aulas encerraram às 17 horas e ela correu em casa, tomou um lanche e foi para o cursinho. Não relaxava com as aulas, pois queria muito passar pelas provas da faculdade pública e não era fácil. Poucas vagas e ainda tinha o sistema de cotas. Ainda bem que agora tinha o ENEM. Essas notas contam para entrar na faculdade pública. Como fez nos últimos três anos e se saiu bem, agora que vale como vestibular, acreditava que passaria, mas é melhor prevenir, estudando.
" Pela primeira vez, vou para o ponto de ônibus, com receio por causa da tal Comunidade. Mas não ficava tão perto assim, deve ser depois do hipermercado. É uma boa distância até lá, quando construíram o hiper, dizíamos que era penitência de pobre, pois ficava no alto e tinha que subir uma escadaria, atravessar o estacionamento e depois subir duas rampas. Chegamos lá em cima, exaustos. Mas para quem tem carro, é ótimo.
Chego ao ponto, ainda bem que é bem iluminado e fica em frente ao batalhão da Polícia. Me sinto mais segura. O ônibus chega e não está cheio, encontro logo um lugar para sentar. Percebi um rapaz olhando para mim, logo que entrei, ele estava no fundo do ônibus e não gostei dele me encarando. Descemos no mesmo ponto e fomos para o mesmo lugar. Pelo jeito, ele também tá fazendo cursinho." Pensava Leticia.
Nico viu novamente a branquinha entrando no ônibus, ela parecia tão inocente e desprotegida. Já tinha visto ela no cursinho, mas ela entrava sem olhar ou falar com ninguém. Mas hoje ela parece diferente, parece arisca, como se sentisse medo de algo. Sentiu uma enorme vontade de protegê-la, afinal, ele bem conhecia os perigos desse mundo.
Desceram no mesmo ponto e ele percebeu que ela também estava de olho nele, deve ter percebido seu interesse, mas não havia nada de sentimental, embora ela fosse gatinha. Foi seguindo-a de perto e entraram na mesma sala e ele foi lá para a última fileira e ela sentou-se como sempre, na frente.
Ela não era alta, estava mais para baixa. Era magra sem ser esquelética, tinha cabelos e olhos castanhos. O cabelo por ser curto e bagunçado, dava-lhe um aspecto de moleca e embora não tenha visto muito ela sorrir, quando isso acontecia, a sala se iluminava. Hoje parece que finalmente ela me notou e durante as aulas, olhou para trás duas vezes.
Terminada a aula, seguimos para o ponto de ônibus, que ficava quase em frente ao cursinho. Ela andava rápido e eu a segui, mantendo um pouco a distância para não assustá-la e pegamos o mesmo ônibus. Essa era nossa rotina diária, desde que as aulas do cursinho começaram, mas só hoje ela me notou, o que aconteceu de diferente, para ela me notar e parecer temerosa?
Vi ela descer do ônibus, em um ponto anterior ao batalhão e fiquei prestando atenção para onde ia. Me tranquilizei ao perceber que ela morava em um lugar mais seguro. Desci dois pontos depois e fui subir a penitência para chegar em casa. A penitência é o nome da ladeira que precisamos subir, é uma rua até que larga, a primeira da comunidade, logo depois do hipermercado.
Era de barro, mas alguns moradores se reuniram e jogaram uma água de cimento nela, mas a chuva já levou vários pedaços dela. Mesmo assim, está melhor. Sobe reta e bem íngreme por uns trinta metros e termina em um pequeno platô, do lado direito de quem sobe, tem a parede alta do fundo de uma oficina de troca de pneus e balanceamento de rodas e do lado esquerdo, descendo uns degraus, chega-se ao quintal de várias casas de tijolos aparentes, construídas de qualquer maneira e com várias crianças brincando com uma bola e um cachorro.
Continuando a subida, agora fica bem acidentada e difícil, mas ali tinham casas maiores, embora construídas com diversos materiais. Haviam desde barracos de madeira, até alvenaria. Nico continuou subindo, passando por entre casas até chegar a escada de cimento que levava a sua casa, ou melhor, a casa do seu tio.
Chegou lá, dando graças a Deus, estaba cansado, ainda por causa do servicinho de ontem. A casa era de alvenaria, uma das primeiras a ser construída naquele lugar, quando não havia quase ninguém e nem tráfico. Foi construída pelo avô dele com as próprias mãos. Tinha uma varanda com mureta e colunas, que ocupava a frente toda da construção. Pena que depois que os avós morreram, nunca mais ela recebeu manutenção, então parecia que ia cair.
Entrou e deu boa noite para seu tio que assistia televisão.
— Foi lá?
— Sim. Seu dinheiro tá aqui. — passou algumas notas para Nico, que não reclamou.
O coitado trabalhava feito burro de carga para aquele Dono, não seria ele a lhe aumentar a carga, mesmo porquê Shirley ja fazia isso pelos dois.
Por falar na "cadela", ela entrou rebolativa, dentro de um shortinho mínimo e com o sutiã pequeno de um biquíni, que não cabia mais nela há muito tempo. Nico nem deu bola, foi até a cozinha ver se tinha comida e havia uma panela com macarrão e ele não se fez de rogado e comeu bem.
— Como tá lá no estudo? — gritou seu tio da sala.
— Tô bem.
— Cê acha que Shirley conségui?
— Nem dá ideia. Ela num precisa agora, espera eu terminar, daí ela vai.
Tinha certeza que aquela galinha só queria fazer cursinho, pra ciscar o terreiro dele. Lavou o prato, colocou no escorredor e foi para o quarto descansar a carcaça, finalmente. Trancou a porta e colocou uma cadeira para ajudar a deter a safada e não ser perturbado. Deitou de costas, olhando para o forro de madeira comido de cupim, mas sem enchergar.
Só conseguia pensar na branquinha e seu rostinho de anjo moleca. Riu sozinho sde si mesmo. Porque cargas d'água estava pensando nela? Seus mundos eram muito diferentes. A começar pela cor, ela era o leite, ele o café; ela morava no plano e ele no ingrime; ela parecia toda certinha e ele era todo torto para poder sobreviver.
— Tô lascado.
Acabou dormindo pelo cansaço.
**
Leticia chegou em casa naquela noite e sua mãe a esperava com o jantar na mesa.
— Puxa mãe, a senhora é demais. Obrigada.
As duas sentaram para comer, feijão, arroz, bife a milanesa, purê de batatas e salada de alface. Leticia comeu com gosto, era sua comida preferida e ficou feliz e satisfeita.
— A senhora é a melhor mãe do mundo! — falou ela com os braços abertos indo abraçar sua mãe.
— Você é minha alegria, filha. Tudo que me restou nessa vida e quero o melhor pra você.
— Vou ser uma grande médica, mãe e você terá muito orgulho de mim.
— Eu tenho certeza que sim.
— Vou tomar um banho, para depois dormir, mas antes, quero lhe contar algo.
Letícia contou tudo que soube através de sua colega e sua mãe deu risada.
— Você acreditou, filha. Isso é fofoca maledicente de quem não tem o que fazer. Não deixe as pessoas te amedrontarem, você é inteligente o suficiente para saber que não se deve acreditar em tudo que se ouve.
Sua mae foi até ela e a abraçou mais uma vez e sentiu que ela se acalmou. Só então Letícia foi tomar seu banho. Enquanto a água caia sobre seu corpo, lembrou o quanto foi tola ao ficar desconfiada daquele rapaz. Ele só estava fazendo o mesmo que ela, indo para o cursinho, se preparando para um futuro melhor.
Tomou uma decisão, se no dia seguinte encontrasse com ele novamente, sorriria. Era o melhor que podia fazer como pedido de desculpa por ter sido tão medrosa e desconfiada. Vê se pode? Acreditar em um coveiro do tráfico, que anda com uma carroça cheia de corpos sobre o topo do morro, indo para um cemitério clandestino, na frente de quem quisesse ver.
Só na minha cabeça mesmo.
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