Oi, me chamo Catarina, tenho 19 anos. Nasci e cresci no interior do Ceará, em meio à simplicidade da vida e ao carinho de uma mulher forte: minha mãe. Foi ela quem me criou sozinha, com esforço, dignidade e um amor que sempre me protegeu, mesmo nos dias mais difíceis.
Ela nunca gostou de falar sobre o passado. Tudo o que sei é que, quando engravidou de mim, estava trabalhando no Sul do país. Antes mesmo de eu nascer, voltou para o Ceará e decidiu recomeçar ali, longe de tudo — e principalmente longe dele.
Nunca conheci meu pai. E, para ser sincera, também nunca fiz questão. Sempre senti, mesmo sem ouvir, que ele marcou a vida da minha mãe com dor. E se ele a fez sofrer, então não quero nem seu nome. Só o silêncio dela já me diz tudo que preciso saber.
O que eu jamais imaginei... é que o destino me levaria para tão longe da minha pequena cidade. E que, fora daquele mundo que eu conhecia, minha vida mudaria para sempre.
Essa sou eu
Quando eu tinha 16 anos, conheci meu primeiro amor. Ele era um rapaz da minha cidade, desses que fazem a gente sorrir só de olhar. Foi um romance puro, intenso e cheio de planos. Namoramos até meus 18 anos… mas o destino, cruel e silencioso, levou ele embora. Um acidente de moto tirou sua vida — e, por um tempo, também tirou a minha vontade de sonhar. Ainda estou aprendendo a lidar com essa dor. Alguns amores a gente nunca esquece.
Minha mãe, Lurdes, é minha base, minha fortaleza. Mulher guerreira, costureira de mão cheia, sempre me criou sozinha, com dignidade e afeto. Também tenho uma tia muito especial: Maria. Não a vejo há anos, mas nunca perdemos o contato. Ela mora em São Paulo e trabalha como doméstica numa mansão de uma família poderosa. Mesmo longe, sempre foi meu elo com o mundo lá fora.
Depois que meu namorado faleceu, um vazio se instalou em mim, e comecei a sentir que precisava mudar. Sonhava em estudar, crescer, escrever uma nova história. Aqui no interior, tudo era limitado. Eu ajudava minha mãe com os serviços e nas costuras, mas no fundo sabia que havia algo maior me esperando.
E o inesperado aconteceu.
Minha tia me ligou, com a voz animada e cheia de carinho: sua patroa, uma mulher rica e sozinha, havia adotado uma menininha de dois anos. Precisava de uma babá de confiança — e minha tia pensou logo em mim. Como era muito respeitada na casa, a patroa confiou sem hesitar. Em poucos dias, a passagem estava comprada.
Quase explodi de alegria. O coração batia forte só de pensar na nova vida. Claro que doía imaginar a distância da minha mãe, mas ela me apoiava com os olhos brilhando de orgulho. Sabia que aquele era o meu momento.
Durante os dias que antecederam a viagem, costurei minhas próprias roupas. Sempre fui vaidosa — acompanhava as tendências pela internet e fazia igualzinho, no capricho. Quem disse que menina do interior não pode andar na moda?
Enfim, o grande dia chegou.
Despedi-me da minha mãe com lágrimas e promessas de que logo nos veríamos de novo. Peguei o avião com o coração na mão e a alma cheia de esperança. Três horas e meia depois, pisei na tão sonhada São Paulo.
No aeroporto, lá estava ela: tia Maria, com aquele sorriso que me lembrava o da minha mãe. Nos abraçamos forte, com emoção e saudade. Ao lado dela, o motorista da família aguardava para me levar à mansão.
E que mansão! Um verdadeiro palácio, com jardins impecáveis e uma arquitetura de revista. Meus olhos não sabiam para onde olhar. Tia Maria, sendo a mais antiga da casa, tinha um certo prestígio entre os funcionários. Fui apresentada a todos e acolhida com simpatia.
Logo conheci dona Luiza Salvatore. Uma mulher elegante, sofisticada, mas com um olhar doce e acolhedor. A conexão entre nós foi imediata. Depois, conheci a pequena Sofia... Ah, Sofia! Tão delicada, sorridente... um anjinho de bochechas rosadas. Foi amor à primeira vista. Cuidar dela seria mais do que um trabalho — seria um privilégio.
Conversei com dona Luiza, acertamos tudo. O salário era excelente, o contrato estava garantido, e o mais importante: eu poderia ajudar minha mãe como sempre sonhei.
Tia Maria me levou até o quarto onde eu ficaria. Era só meu. Pequeno, mas cheio de charme, com um cantinho que parecia feito sob medida pra mim. Senti que ali, naquela casa imensa, eu teria meu espaço, meu recomeço.
No dia seguinte, começaria minha nova rotina. Recebi meu uniforme: calça branca confortável e camiseta clara. Ao me olhar no espelho, dei risada — sempre tive a cintura fina e o bumbum avantajado (risos), então achei que o uniforme ficou um pouquinho justo. Mas tudo bem… não era hora de reparar defeito. Era hora de agradecer. A vida estava me dando uma nova chance.
E eu estava pronta pra vivê-la.
Meu primeiro dia de trabalho foi melhor do que eu poderia imaginar. Dona Luiza, sempre elegante e gentil, elogiou meu uniforme logo que me viu, dizendo que eu estava linda. Fiquei sem graça, mas aquele gesto logo me deixou à vontade.
Sofia, a menininha de dois anos que eu cuidaria, era um encanto. Bastaram poucas horas para criarmos um laço especial. Brincamos a tarde inteira e, quando a noite chegou, dei banho nela, jantamos juntas, e a deixei aos cuidados de dona Luiza. Apesar de ter um quarto digno de princesa, Sofia ainda dormia com a mãe. E tudo bem — eu já amava cuidar dela, mesmo que fosse só durante o dia.
Organizei as coisas para o dia seguinte com o coração leve. Os dias passaram num piscar de olhos, e, quando percebi, já fazia três meses que eu estava ali. Sofia me amava, e o sentimento era totalmente recíproco. Eu me sentia útil, querida... quase em casa.
Mas tudo mudou de repente.
A rotina tranquila da mansão virou um redemoinho de movimentação com a notícia de que o filho de dona Luiza estava voltando de Nova York. Fernando Salvatore. O nome dele era falado com certo orgulho, mas também com cuidado — como se ele carregasse segredos. Confesso que fiquei nervosa. E se ele fosse arrogante? E se não gostasse do meu jeito simples?
Minha tia, percebendo minha ansiedade, colocou a mão no meu ombro e sorriu:
— Fica tranquila, Catarina. Ele é muito educado. Você vai ver.
Alguns dias depois, ele chegou... e não estava sozinho.
Quando o vi pela primeira vez, fiquei paralisada. Fernando era mais do que bonito. Era magnético. Alto, postura firme, olhar que atravessava a alma. O tipo de homem que entra em um lugar e muda o ar. Ao seu lado, estava Alexandra Lisboa — sua namorada. Uma mulher elegante, mas com um ar arrogante. Era daquelas que não precisavam dizer nada para mostrar que se achavam superiores.
Eu estava com Sofia no colo quando ele se aproximou. Sorriu e pegou a menina nos braços com carinho. Começou a brincar com ela como se fosse a coisa mais natural do mundo. Seu perfume era marcante, envolvente. Ele se apresentou com um sorriso gentil:
— Prazer, Catarina. Eu sou Fernando.
Claro que eu sabia quem ele era. Mas nada — absolutamente nada — me preparou para conhecê-lo ao vivo. Alexandra, por outro lado, nem me olhou. Fingi que não liguei e fui ajudar minha tia na cozinha, com o coração acelerado.
Enquanto trabalhávamos, tia Maria me lançou um olhar e disse:
— Essa tal de Alexandra se acha só porque tem dinheiro. Dona Luiza não é muito fã dela, não. E, se quer saber, acho que Fernando também não.
— Ué, tia... mas eles namoram, né? — perguntei, ainda confusa.
Ela deu uma risadinha:
— Ah, Catarina... esses ricos misturam amor com interesse. É um tal de negócio aqui, sociedade ali... Tudo calculado. Mas quer saber? Desde que Fernando te viu, acho que as coisas vão mudar.
Fiquei sem reação. Ri, meio sem graça. Mas guardei aquelas palavras.
Foto de Fernando
Foto de Alexandra
À noite, enquanto dava banho em Sofia, ela me contou o quanto estava feliz com a volta do irmão. Escovei seus dentinhos e a coloquei para dormir no quarto de dona Luiza. Quando fechei a porta devagar, dei de cara com Fernando. Ele saía do quarto dele, distraído no celular, e acabamos esbarrando.
Meu corpo se chocou contra o dele, e, por um instante, tudo ao redor pareceu silenciar. Ele me segurou pela cintura, firme, para evitar que eu caísse.
— Me desculpa — disse ele, sorrindo de lado, daquele jeito que parece roubar o fôlego.
Saí quase correndo, completamente sem jeito, mas com o coração disparado.
O fim de semana foi tenso. Alexandra, que deveria ter voltado para o Rio, resolveu estender a visita até segunda. Ouvi, sem querer, uma briga entre os dois. Ela falava alto:
— Aquela garota tem cara de piranha! Vai dar em cima de você, quer apostar?
Doeu. Doeu como se tivessem jogado sujo com a minha dignidade. Mas o que me surpreendeu foi a resposta dele:
— Para com isso, Alexandra. Já deu. Suas paranoias estão me sufocando.
Na segunda, ela finalmente foi embora. Respirei aliviada.
Mais tarde, enquanto brincava com Sofia na brinquedoteca, Fernando apareceu. Ele se sentou conosco e participou da brincadeira. Sofia adorava ele. E eu... tentava não tremer cada vez que ele me olhava. Quando tentei sair da sala, ele me chamou:
— Vai pra onde? Não precisa fugir de mim. Eu sou legal... assim como minha mãe.
Sorri, meio tímida, e fiquei. Ele quis saber mais sobre mim, e eu contei um pouco — o suficiente para perceber o quanto sua atenção era genuína. Quando a tarde terminou, Fernando me estendeu a mão para ajudar a levantar. Seus dedos tocaram os meus com suavidade.
Aquele homem mexia comigo de um jeito que eu nunca tinha sentido. Mas eu precisava manter o foco. Ele era meu patrão. E comprometido.
Mesmo assim, era impossível negar: alguma coisa em mim já tinha mudado desde que ele chegou.
Meu nome é Fernando Salvatore. Tenho 31 anos, sou empresário e herdeiro de uma das famílias mais ricas do Brasil. Nossa família é dona de uma multinacional de grande porte, e, por conta disso, passo a maior parte do tempo no exterior. Já estava sentindo muita falta do Brasil, então decidi ficar um tempo por aqui. Assim, poderia curtir mais minha família, especialmente minha irmãzinha, Sofia, que minha mãe, Luiza, adotou recentemente.
Minha namorada, Alexandra, como sempre, veio comigo. Já conversei inúmeras vezes com ela sobre isso, mas ela não larga a vida dela para me acompanhar de forma saudável. Tudo gira em torno de mim, e isso não é algo que eu admiro. Ainda assim, não consigo mudar sua forma de pensar.
Chegar ao Brasil foi uma felicidade. Reencontrar minha família sempre renova minhas energias. Planejei que esses meses fossem de muito trabalho, mas também faria de tudo para aproveitar cada momento com eles. Sempre fui uma pessoa tranquila, mas seria hipócrita se dissesse que nunca escapava da Alexandra. Se não fosse por tudo o que envolve o nosso relacionamento, já teria terminado. Ela quer casar, insiste nisso, mas eu não estou preparado. Não a amo. Tenho consideração, mas amor de verdade, não.
Já faz cinco dias que estou no Brasil. Alexandra foi para o Rio de Janeiro ontem. Antes de ir, ela fez questão de reclamar da babá da Sofia. E, sinceramente, não tiro toda a razão dela. Catarina é linda. Loira natural, corpo perfeito e aqueles olhos... Ontem, enquanto brincávamos com Sofia, me peguei perdido no olhar dela algumas vezes. Espero que ela não tenha notado. Há algo no jeito tímido e delicado dela que me encantou. Confesso que, por um momento, tive uma vontade insana de beijá-la.
Hoje saí para reencontrar alguns amigos e meu primo Rodrigo. Ele é um verdadeiro galinha, mas muito querido por mim. Alexandra o detesta e vive dizendo que ele “arruma mulher” para mim, o que me faz rir. Nosso encontro foi agradável, cheio de risadas e lembranças do passado. Bebi um pouco mais do que deveria, e Rodrigo quis me levar para casa, mas preferi que Seu José, o motorista da família, fosse me buscar.
Cheguei em casa por volta das 23h. Minha mãe já estava dormindo. Ao entrar, percebi que algo estava diferente em mim. Só conseguia pensar na Catarina. Talvez fosse o efeito do álcool, mas a vontade de vê-la era quase insuportável. Caminhei pelo corredor dos quartos dos empregados, sem saber ao certo onde ela dormia. Todos estavam fechados. Já estava voltando quando ouvi um barulho vindo da cozinha.
Para minha sorte, era Catarina. Ela estava tomando água e tomou um susto ao me ver. Usava um vestidinho branco de alcinha que marcava suas curvas de forma delicada. Ela ficou sem graça, pedindo desculpas pela roupa, explicando que já estava se preparando para dormir e achava que ninguém iria à cozinha àquela hora.
Quando ela estava prestes a sair, pedi que ficasse. Inventei que estava com fome e perguntei se poderia preparar algo para mim. Nem estava realmente com fome, mas foi a única desculpa que me veio à cabeça. Ela deve ter sentido o cheiro de bebida em mim, porque ficou ainda mais envergonhada. Vi suas bochechas corarem, o que a deixou ainda mais linda.
Enquanto ela preparava algo simples, fiquei a observá-la. Depois de comer, ela lavava os pratos na pia, e eu continuava ali, fixado nela. Não sabia o que estava acontecendo comigo, mas sentia algo que não podia ignorar. Quando ela disse que precisava se retirar, segurei sua mão.
— Catarina...
Antes que pudesse pensar, a puxei para perto e a beijei. No começo, ela relutou, mas logo retribuiu. Sua pele era macia, seu perfume doce, com um toque de frutas vermelhas. Perdi completamente o controle naquele momento.
Ela se afastou de repente, visivelmente constrangida, e saiu correndo em direção ao quarto. Ainda tentei segui-la, mas, quando ela entrou e fechou a porta, fui tomado pela realidade. O que eu estava fazendo? Voltei para o meu quarto, tomei um banho gelado para tentar me acalmar.
Aquele beijo... não saía da minha cabeça. Catarina mexeu comigo de uma forma que nenhuma outra mulher conseguiu. Demorei a dormir, sentindo um calor que não sabia explicar.
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