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O Motorista Do Meu Marido

00 - PRÓLOGO

• MESES ATRÁS •

Acordo com o som do meu despertador, vibrando e berrando irritantemente perto do meu ouvido, o que me obriga a esticar um pouco o braço para alcançá-lo e quando não consigo, me ergo para fazê-lo. Essa ação já me faz perder um pouco do sono, mas não o suficiente.

Mesmo que eu ainda queira dormir, preciso levantar. Afinal, o café da manhã do meu esposo não se preparará sozinho. Ele precisa trabalhar.

Calço minhas velhas pantufas e me dirijo ao banheiro, fazendo minhas higienes por ali de forma ágil e rápida. Ao sair deste último cômodo, caminho até a cozinha para dar início ao meu trabalho.

Preparo o café, os ovos, o bacon e organizo algumas torradas. Uma vez que está tudo pronto, já é hora de chamar Juliano.

Tem sido assim desde que nos casamos há três anos atrás. Eu me casei jovem, com vinte e dois anos minha vida estava começando, eu estava meio que "dando os primeiros passos". Tinha sonhos, objetivos, metas. Sonhava em viajar o mundo, explorar lugares que nunca imaginei ir, só admirava por fotos. Queria poder tirar várias selfies, postar em minhas redes sociais, queria beber, fazer amigos, me divertir.

Estudar também.

Mas casar... Isso não estava nos meus planos. Entretanto, a vida me deu uma rasteira, eu caí no chão e agora já não tenho forças para levantar.

Eu me apaixonei pelo Juliano. Me apaixonei de verdade e depois que nos conhecemos, eu perdi a noção das coisas. Perdi todo aquele desejo de aproveitar a minha solteirice, porque, a partir do momento que ele cruzou o meu caminho e eu me vi perdidamente apaixonada, eu só queria estar com ele.

Eu já não conseguia mais ver graça na minha vida sem ele.

Mas tudo deu errado quando nos casamos. Quero dizer, eu já sabia que havia um risco em me casar com um homem muito mais velho, mas não me importava. Eu achava que nada poderia dar errado, porque, afinal, era eu. A possibilidade de dar errado era quase... Nula.

A vida de casada trouxe consigo diversas responsabilidades, as quais eu sofri muito para me adaptar. Primeiro, porque, no início do nosso relacionamento, Juliano demonstrava ser um homem rico, de posses. Eu até já tinha visitado-o em sua casa e constatei que sim, ele era muito rico pois tinha até empregadas, estas que estavam sempre correndo para manter tudo em ordem

Não que eu tivesse me interessado pelo dinheiro dele ou algo assim. Eu me apaixonei de verdade, antes mesmo de saber o que ele fazia. Porém, ao ter ciência de que ele era um homem rico, eu poderia ter fé de que minha vida seria boa. Eu não precisaria trabalhar tanto, e Juliano garantiu que me sustentaria.

Eu não abandonei meus estudos, mas fui obrigada a isso depois do nosso casamento.

Foi aí que ele começou a se mostrar verdadeiramente para mim.

Era ciumento, possessivo... Por isso me obrigou a abandonar a faculdade. E eu amava estudar. Amava mesmo.

Eu não podia manter contato com meus amigos, não podia sair com minhas amigas, nem sequer com minhas primas. Nem as que eram mais próximas à mim.

Sua mudança foi acontecendo ao longo dos anos.

Tudo piorou quando ele perdeu a empresa que tinha. Na verdade, essa mesma já estava falida, mas não sei o que ele fez para a manter funcionando por mais um tempo. Um empréstimo com o banco, provavelmente.

Então chegou o momento de pagar o que devia e como ele não tinha nada, o banco simplesmente tomou a empresa dele e tudo o que ele tinha comprado com o dinheiro emprestado: Carros, jóias, um pequeno imóvel próximo à praia...

As coisas foram desandando e ele demitiu todas as empregadas. Então, sobrou para mim cuidar da casa, preparar a comida, fazer tudo o que as mulheres faziam antes e com a mesma eficiência. Mesmo eu tendo que fazer tudo sozinha, Juliano exigiu que eu "cumprisse com minhas obrigações como esposa".

Minha vida se tornou bem mais cansativa. É difícil manter uma casa tão grande organizada da maneira que ele deseja, mas preciso fazer isso.

É horrível, mas não há nada que eu possa fazer. E não tenho a quem recorrer porque meu pai faleceu há cerca de quatro anos em decorrência de um câncer no pulmão. Minha mãe não se importa muito pois me avisou inúmeras vezes, tentou impedir o meu casamento mas eu estava decidida então ela desistiu de mim e não liga se estou sofrendo ou não. A última vez que conversamos, ela jogou diversas vezes na minha cara que "avisou".

Eu estou sozinha.

— Hoje eu vou chegar um pouco mais tarde. — ele avisou, sem me olhar. Enruguei as sobrancelhas e me ajeitei na cadeira em que estou sentada. — Não me espere acordada.

— Por quê? — eu me atrevi a perguntar — O que você tem feito, Juliano? Não é a primeira vez que isso acontece. Estou ficando preocupada! — admiti e ele me olhou, uma expressão que diz muito mais do que se ele abrisse a boca. Ele não quer falar sobre isso.

— Eu estou trabalhando, Melissa. Acha que é fácil manter essa casa? — perguntou, em um tom mais alto — O que é? Não confia em mim agora?

— Não é isso, eu só estava preocupada.

— Não precisa se preocupar comigo! Eu sei bem como me virar. — rebateu, rígido — Enquanto eu estiver no trabalho, não tem porque você se preocupar.

— Tudo bem, Juliano. Você quem sabe. — e ao falar isso me levantei, recolhendo alguns itens que usei para levá-los à pia.

Essas foram as nossas últimas palavras antes que ele saísse.

Mais tarde nesse mesmo dia, eu recebi uma ligação de Juliano. Ele me ligou outras três vezes, mas não ouvi as duas, a última eu não consegui chegar a tempo para atender. Mas atendi na sua quarta tentativa. — Oi, querido! Me desculpe por não atender, eu não ouvi o telefone tocar. — justifiquei e o ouvi suspirar do outro lado da linha.

— Está tudo bem, Melissa. Só liguei para avisar algo.

— Pode dizer.

— Eu acho que vou conseguir organizar melhor a nossa vida. Acabei de fazer algo que vai nos tirar da lama! — seu tom de voz ao comentar sobre isso é animado, como se o que tivesse feito fosse, realmente, algo muito bom para nós dois.

— O que é?

— Eu não posso falar agora, bem. Mas ao chegar em casa, conversaremos melhor. — explicou com paciência, o que eu estranhei, mas não dei muita importância. Juliano é bipolar. — Ok?

— Claro! Estarei no aguardo. — e desliguei.

Precisei voltar a fazer o almoço depois disso. Não tenho costume de fazer nada muito elaborado, mas como meu marido não vai almoçar em casa hoje, farei algo mais simples.

E assim se seguiu o meu dia.

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• PERSONAGENS PRINCIPAIS

(LEMBRANDO QUE ESSAS SÃO APENAS INSPIRAÇÕES. VOCÊS IMAGINAM QUEM QUISEREM!!!)

......ALEXA DEMIE como MELISSA ALMEIDA......

...25 anos...

...FREDERICO DIAZ como JULIANO BITTENCOURT...

...37 anos...

...SIMONE SUSINNA como KYLIAN BERNARDINI...

...30 anos...

🚨 ESSA HISTÓRIA É BASEADA EM FATOS REAIS, MAS ALTEREI ALGUNS ACONTECIMENTOS PARA NÃO COMPROMETER OS ENVOLVIDOS.

🚨 O ENREDO CONTA COM ASSUNTOS QUE PODEM SER CONSIDERADO GATILHOS PARA ALGUNS. RELACIONAMENTO EXTREMAMENTE ABUSIVO É UM DELES. PORTANTO, NÃO LEIA SE NÃO GOSTAR E NÃO SE SENTIR CONFORTÁVEL!

(mas devo lembrar que sempre faço o possível para não descrever tanto essas cenas).

🚨 PALAVRÕES, LINGUAGEM AGRESSIVA, TRAIÇÃO TAMBÉM ESTÃO CONTANDO. POR FAVOR, SE NÃO GOSTA, NÃO LEIA!!

— QUALQUER DÚVIDA, PONHAM NOS COMENTÁRIOS QUE EU RESPONDO SEMPRE QUE POSSO!

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01 - ATITUDES SUSPEITAS

Juliano chegou em casa animado, como nunca o vi antes. E o pior, trazia consigo uma sacola da Victoria Secrets e quando me viu, sorriu e caminhou com pressa na minha direção, me tomando em um beijo caloroso, ao qual eu quase não pude acompanhar por causa da sua rapidez e pressa. — Espere... O que está acontecendo? — perguntei confusa, apoiando minhas mãos em seu peito, o observando no fundo dos olhos, estranhando ao percebê-los brilhando de uma maneira diferente.

— Consegui uma boa quantia para colocar nossas vidas nos trilhos novamente, amor. — respondeu, olhando diretamente para os meus lábios — Você sabe... Vou ressuscitar a minha empresa, e finalmente vamos ficar ricos de novo.

— Ah, que bom... — falei, forçando um sorriso — Mas como você conseguiu esse dinheiro?

— Um trampo novo, coisa minha! — enruguei as sobrancelhas — Eu consegui um novo emprego, aquele outro não me pagava muito bem. Roberto era um chefe de merda. — ele revirou os olhos, e logo depois empurrou na minha direção a sacola — Vá tomar um banho e vista isso. Quero ver você vestida nela. — de repente, seu olhar se tornou escuro, malicioso.

Engoli a seco.

Me preocupa esse "emprego" novo que Juliano afirma ter arranjado. Sempre soube que ele não tem noção do perigo, ele se envolve em qualquer merda pra conseguir se reerguer na vida. Meu marido, infelizmente, é do tipo de pessoa que faz qualquer coisa para se promover, mesmo que isso signifique que pessoas vão se machucar ou se dar mal por isso.

Juliano é extremamente ambicioso e... Ganancioso.

E eu não estava errada. Depois daquele dia, ele começou a agir estranho. Pessoas estranhas começaram a vir para a nossa casa, reuniões sem sentido são feitas e por horas eles ficam trancados no escritório dele, e ao saírem, preciso limpar tudo e lidar com o cheiro horrível de m̶a̶c̶o̶n̶h̶a̶, bebidas e outros tipos de droga. Tudo misturado, o que me causa náuseas, mas não é como se eu tivesse alguma escolha.

Chegou um dia em que Juliano me fez um pedido inusitado: — Quero que faça almoço para seis hoje. — ele meio que ordenou ao chegar perto de mim. Eu estava espanando os móveis na sala, algumas plantas que precisam de cuidados especiais.

— Oi?

— É isso o que você ouviu, Melissa. Faça um almoço para seis, alguns sócios irão almoçar aqui hoje. — ele ordenou, rígido — E vê se faz algo que preste. Na semana passada, ainda consegui sentir o gosto de queimado no feijão. Vê se para de ser irresponsável! — ele simplesmente me mandou essa e saiu sem falar mais nada, me deixando ali, boquiaberta com tamanha ingratidão.

Mas eu precisei fazer a comida. E foi exatamente o que fiz. Não temos um cardápio muito diversificado, mas fui ao mercado e comprei algo para fazer bife acebolado com arroz branco e feijão tradicional.

Talvez essas pessoas não saibam nem o que é isso, talvez nem tenham comido. Com o pouco que pude saber sobre eles, tenho o palpite de que não sejam daqui. O sotaque pesado e a língua carregada ao dizer palavras simples dizem muito sobre isso.

Mas isso não me diz respeito e eu não perguntei nada sobre com Juliano.

Ao terminar o almoço, organizei a mesa e optei por tomar um banho para estar apresentável quando os "sócios" do meu marido chegarem.

Vesti um simples vestido solto, com uma estampa florida delicada e pus saltos igualmente simples no pé. Amarrei meu cabelo em um rabo-de-cavalo alto e fiz uma leve maquiagem.

Pouco tempo depois, ouvi o som de passos pesados ressoando pelo assoalho, as mesmas vozes conversando entre si com aquele sotaque que me faz duvidar de muitas coisas. — Melissa, estamos com fome! — Juliano gritou de lá de baixo, alto e em bom som, estremecendo paredes e até a mim mesma.

Suspirei irritada, olhando para o meu reflexo no espelho, me perguntando o que fiz para merecer esse castigo.

Desci as escadas com sangue nos olhos, mas não pudia fazer nada para impedir que ele continuasse me destratando. Ao chegar na cozinha, os vi sentados à mesa e quando todos olharam para mim, eu quase caí dura no chão.

Cinco homens bem vestidos, estupidamente belos, as barbas bem aparadas e os cabelos bem penteados. Seus olhares foram diretos e perfurantes em mim, no meu corpo, e sequer esboçaram qualquer reação. Foi só aquele olhar matador e nada mais que isso. — Essa é a minha esposa. Melissa Almeida Bittencourt. — Juliano disse caminhando até mim, passando as mãos por meus ombros e as deslizando até a cintura, onde acariciou ali com suavidade.

— Muy sabroso. — o mais jovem resmungou... Em espanhol. Ele arrancou risadas dos outros e isso fez o meu coração pulsar com mais força no peito.

Juliano riu.

— Bom, querida... É como eu disse. Estamos com fome. — ele disse e eu o olhei brevemente, só assentindo.

Caminhei até a cozinha e comecei a organizar os pratos, os levando de um em um até a mesa, servindo a cada um deles. Logo em seguida, os servi com um vinho caro que Juliano comprou justamente para esse almoço.

Ao ver o olhar satisfeito dos homens, meu marido se sentiu orgulhoso. E eu senti pela forma como ele suspirou, estufando o peito como se tivesse sido ele a passar a manhã inteira organizando esse almoço.

Depois desse dia, tudo ficou ainda mais estranho. Curiosamente, meu marido começou a enriquecer novamente. Mas saía de casa cedo e só voltava pela madrugada e isso se repetiu por meses a fio, e eu estava no escuro, sem saber exatamente o que estava acontecendo.

Mas Juliano não me contava nada.

Ele nunca contava.

Até que, em uma madrugada, acabei o vendo chegar. Estava passando um pouco mal, e decidi tomar um banho. Juliano entrou no banheiro. — Oi? — eu perguntei assustada e meu primeiro instinto foi cobrir meus seios.

Um sorriso sombrio pintou os lábios do meu marido e quando ele cambaleou, eu percebi que está bêbado.

Meu coração estancou no peito.

— Você bebeu, Juliano? — indaguei preocupada, mas ele não respondeu. Só começou a tirar a roupa e quando prestei mais atenção, o percebi excitado. — Ah...

— Cala a boca. — me interrompeu e, sem o meu consentimento, ele se juntou à mim no chuveiro.

Ele tentou me beijar à força, mas não retribuí e só o senti segurar o meu rosto com firmeza, me obrigando a olhar para ele. — Eu quero você... Agora. — simplesmente avisou e eu enruguei as sobrancelhas, negando algumas vezes.

— Mas eu... Amor, eu estou doente.

— Não quero saber. — falou bruto — Vem aqui.

— Não! — resisti, e quando tentei sair do chuveiro, ele não permitiu.

— Melissa, você vai fazer exatamente o que eu quero! Me entendeu? — ele me empurrou contra a parede e prendeu o meu corpo ali, me deixando sem saída. — É esse o seu papel, amor. — e então, me virou contra a parede, de forma que meu rosto ficasse pressionado à ela.

Juliano encostou a sua bochecha no meu rosto e continuou pressionando a minha cabeça ali. — E então, querida? Vai continuar resistindo ao seu marido? — sua língua deslizou pela minha pele e eu fechei os olhos, sentindo vontade de vomitar. — Responda! — ele gritou, pressionando com mais força o meu rosto e, ao agarrar um pouco do meu cabelo, começou a deslizar minha cabeça contra os ladrilhos, me fazendo gemer de dor — Que bom que chegamos a um consenso, meu amor.

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02 - O ACIDENTE

Nojo. É tudo o que eu passei a sentir de Juliano. E decepção, mágoa por saber que não há nada que eu possa fazer para mudar a minha situação. Já liguei algumas vezes para minha mãe e me surpreendi quando ela foi compreensiva. Claro que ainda jogou algumas verdades na minha cara, mas me entendeu e garantiu que me apoiaria.

Mas, infelizmente, ela não pode me ajudar no momento. Afinal, ela não tem casa própria. Depois que meu pai morreu, ficamos sem nada e como não conseguiu pagar a hipoteca da nossa casa, ficamos sem ela. Hoje, minha mãe trabalha como merendeira em uma escola pública e o seu salário é quase nada, não teria como ela me ajudar e eu entendo perfeitamente.

Demoraria muito para eu conseguir um emprego. E tenho a impressão de que ela está escondendo algo de mim.

Juliano me garantiu que a ajudaria no que pudesse antes de nos casarmos. Ele até fazia isso enquanto estávamos noivos, mas tudo mudou e agora, já não manda um centavo para a minha mãe. Ela precisou se mudar para o Rio de Janeiro e até hoje não sei onde ela está morando e tenho medo de saber, sinceramente.

Tenho a impressão de que não é em um lugar nada bom.

E eu não gosto de pensar tanto nisso. Porque me sinto impotente, inútil por saber que minha mãe está numa situação precária e que não posso fazer nada. É tão triste.

Já pensei em trazê-la para morar comigo, mas ela prefere a morte a isso e meu marido também não a quer por perto.

Ele não quer ninguém que me ama por perto.

— Droga. — ele resmungou baixinho, encarando a estrada à nossa frente.

Estávamos fazendo algumas compras no supermercado. Juliano insistiu para vir comigo pois é "perigoso" andar sozinha por aí e tenho a impressão de que tem haver com esse novo emprego dele.

Ele acelerou ainda mais o carro e passou a olhar repetidas vezes pelo retrovisor. Fiquei desesperada, então olhei também e me assustei ao perceber que haviam dois carros pretos nos seguindo.

E eu tenho certeza que estavam nos seguindo, pois assim que entramos em uma rua totalmente aleatória e que com certeza não nos levará para a nossa casa, eles vieram bem atrás e Juliano começou a se irritar profundamente. — Bando de filhos da p̶u̶t̶a̶! — gritou alto, batendo diversas vezes no volante.

Arregalei os olhos. — O que está acontecendo? — perguntei na hora do pânico, me esquecendo completamente de que, quando ele está irritado, o melhor é não fazer perguntas.

— Melissa, fica na sua! Só fica na sua, merda! — disse rígido, ainda mais alto, virando uma outra esquina e então entramos numa outra avenida movimentada.

O trânsito de São Paulo a essa hora está um caos. Fiquei ainda mais nervosa ao perceber que estamos numa via de mão dupla, mas Juliano está percorrendo mais a contramão. — Juliano! — eu gritei desesperada, e quando ouvi sons de tiros serem disparados contra nosso carro, senti como se meu coração parasse de bater por um segundo.

Aconteceu tudo muito rápido e, em cerca de segundos, já estávamos rodopiando pela pista. Foi aí que percebi que eles atiraram no pneu do carro. Eu gritei, gritei muito alto e Juliano também, mas já era tarde para manter o controle da direção.

Fomos atingidos na traseira por uma caminhonete. Depois do impacto, quase voamos na direção da outra pista. Batemos em mais alguns carros, mas, por sorte, alguns haviam parado no momento do acidente.

Eu só lembro de bater a cabeça com muita força no para-brisa e uma dor aguda no rosto, seguido de um líquido quente escorrendo pelo meu pescoço.

Fomos socorridos não muito tempo depois. Fiquei sabendo, mais tarde, que fui resgatada inconsciente, mas meu marido estava acordado. Os homens que estavam nos seguindo não nos mataram por um milagre, eu ainda acho que eles pensaram que morreríamos com o acidente.

Virou caso de polícia, mas não deu em nada. Constataram que só estavam tentando nos roubar e eu devo admitir que Juliano ficou extremamente feliz depois de saber que o caso havia sido arquivado. Caso continuasse, ele poderia até ser preso por estar envolvido com o que não se deve.

E até agora eu não sei o que ele anda fazendo.

Eu quebrei a mão esquerda e acabei cortando o rosto no momento em que a janela que havia do meu lado se partiu em pedaços. O corte foi profundo e rasgou a minha bochecha, deixando, posteriormente, uma cicatriz que me faria lembrar desse fatídico episódio pelo resto da minha vida.

Juliano se ferrou ainda mais, mas ele não se importou com nada disso. Quando acordou, fez algumas ligações e ficou meio preocupado com o que ouviu da pessoa que o atendeu, mas não comentou nada comigo. Na verdade, ele ao menos pareceu se importar com meu estado de saúde, só perguntou se eu estava bem após uma visita de dez segundos no meu quarto e sequer se desculpou por quase me matar.

Eu descobri que, depois do envolvimento do meu marido com essas pessoas, eu virei um alvo e sei que podem me matar a qualquer momento, como se eu tivesse algo haver com o que ele anda fazendo.

Semanas depois, ao voltarmos para casa, precisei cuidar dele mesmo estando com a mão enfaixada e o rosto inchado, dopada de remédios pra dor. Juliano não teve dó de mim e garantiu que estava pior. Ele ainda disse: — Eu passei por isso por sua culpa, porque quero te dar uma boa vida. Foi por isso que você se casou comigo, Melissa. Eu sei. — e eu não pude sequer refutar, pois o mesmo não me deu brecha.

Afinal, ele acha que é o dono da razão.

Nos recuperamos depois de um tempo, mas a cicatriz continuou no meu rosto. Eu já achava horrível e me sentia mal por aquilo, mas não falava nada por estar grata por ter sobrevivido. Até Juliano comentar que, me ver com àquela cicatriz era 'broxante". Ele também passou a não olhar para o meu rosto enquanto fazíamos sexo.

Passamos a não sair muito na rua. Mas ele decidiu contratar seguranças e motoristas para auxiliar na segurança de casa e até na nossa segurança mesmo. Haviam quatro motoristas, estes que faziam, entre si, rodízios. Uns vinham um dia, outros vinham em um outro dia.

Juliano me apresentou todos eles. Só faltou um. E ele me disse que o nome desse último era Kevin. Não me apresentou-o antes pois ele não pôde vir por uma urgência em sua família, mas finalmente nos conhecemos em uma tarde de quarta-feira, quando Juliano sairia para uma outra reunião com seus "sócios" que eu já considerava como capangas.

A essa altura, eu já tinha noção de que o que o meu marido fazia era ilegal e muito, mas muito ruim.

Não que eu já não soubesse antes. Eu só não queria admitir para mim mesma.

— Este não é o seu motorista, mas vou apresentá-los para que você fique sabendo quem é quem. Os seus são o Lucas e o Fernando. — concordei, caminhando com ele até o lado de fora da nossa casa, que era onde o carro nos aguardava.

Juliano vai "trabalhar", mas aceitou me deixar no hospital para que eu possa retirar os pontos do meu rosto (Lucas iria me buscar depois). O corte já está quase cicatrizado, mas ainda preciso colocar remédios e pomadas para acelerar o processo de cicatrização.

Assim que passamos pela porta, eu o vi. O rapaz estava encostado na lateral do carro e tinha os braços cruzados.

Quando eu pus meus olhos nele e o percebi olhar para mim também, eu senti algo em mim estremecer. O rapaz meio que sorriu de lado e se afastou do veículo, passando as mãos pelo seu terno bem passado, acenando respeitosamente para o meu marido. — Boa tarde, senhor. — ele disse, sua voz grossa me causou arrepios, mas tentei imediatamente disfarçar.

— Boa tarde, Kevin. — Juliano respondeu e o homem olhou para mim de novo. — Ainda não pude apresentá-los, mas essa é a minha esposa: Melissa. — o tal Kevin assentiu, fazendo um gesto com a cabeça.

— É um prazer conhecê-la, senhora.

E, a partir desse dia, minha vida – que já estava virada de pernas pro ar – capotou.

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